Quando o amor é pra sempre: A...

Bởi Strange-Boy

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Segundo volume de "Quando o amor é pra sempre", "A história de Gael" conta a história do filho adolescente de... Xem Thêm

[1] prólogo 🏫
[2] o jogo de basquete 🏀
[3] arcata court mall 🏬
[4] suco de laranja🍊
[5] parabéns, Chrissie 🎂
[6] o acordo 📝
[7] o incidente ⚠️
[8] os sobreviventes e o memorial ❤️‍🩹
[9] como um relâmpago ⚡
[10] revelações 📖
[11] sou um furacão 🌪️
[13] entre o bem e o mal 😇😈
[14] se rendendo ao amor? ❤️
[15] contagem regressiva 🕗
[16] o baile de formatura 🕺

[12] o circo 🎪

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Bởi Strange-Boy

No outro dia, acordei com o professor batendo palmas no quarto e pedindo para que todos se levantassem. Mal tinha dormido naquela noite de tanta ansiedade por tudo o que havia acontecido desde que chegamos nesse acampamento. 

Me levantei, entrei na fila pra escovar os dentes junto de Hans e não havia visto Caleb ainda.

— Vai logo, japa. — Hans me disse com uma voz sonolenta. — Quando vai me contar o que houve ontem?

— Aqui não, vê se fica de boca fechada.

— Tá bom, tá bom. — ele bocejou.

De repente, Caleb passou por nós e cruzou olhares comigo por uma fração de segundos, sem dizer nada. Também não disse, aliás, não deu nem tempo de pensar, só de ter um frio estúpido na barriga.

Escovei meus dentes e fui me reunir com o restante da turma no lado de fora, como o professor havia pedido.

— E aí, como foi ficar vinte e quatro horas sem nenhum acesso eletrônico?

— Ué, mas a gente não ficou vinte e quatro horas ainda. — um aluno protestou.

— Não exatamente, mas foi quase isso, vocês entenderam. 

E então, vários alunos relataram as vantagens e desvantagens do experimento, até mesmo Hans. Eu sinceramente não consegui nem mesmo prestar o mínimo de atenção que fosse. Minha mente não parava de pensar em Caleb e o que ia acontecer daqui pra frente. 

— Então já vamos embora? Que sem graça.

— Sim, Jane, nós já vamos embora. — o professor respondeu a aluna.

Aos poucos, todos sentamos nos mesmos assentos de antes do ônibus. Meu coração estava cada vez mais acelerado esperando por Caleb sentar na outra direção como fez na vinda da viagem.

E assim ele fez. 

Se sentou, suspirou, me olhou e sorriu levemente sem nem mesmo exibir os dentes. Tinha uma carinha de sono, algo que me fazia achá-lo extremamente fofo.

Sorri de volta, mas para a minha tristeza Troye chegou.

— Cara, vê se para de ser esquisito e senta lá perto da gente.

— Eu gosto de vir aqui no fundo. — Caleb respondeu.

— Então eu vou aqui com você, chega pra lá. 

Ele fez Caleb chegar para o assento da janela e se sentou na poltrona que ficava do lado do corredor. 

Que ódio. Eu tinha vontade de socar aquela cara estúpida dele e-

— Ah, olha só. — sorriu pra mim sarcasticamente. — é aquela bichinha importada do Japão e o namoradinho estúpido dele. 

Revirei os olhos e encarei Hans.

— Acho que agora é uma ótima hora pra eu te contar aquela história de ontem. — sussurrei.

Ouvi Troye rindo e começou a se distrair conversando com Caleb.

— É, japinha, pode contar, só mantém o volume bem baixo. — ele também falava sussurrando.

— Pode deixar.

Contei tudo o que havia acontecido pra ele, nos mínimos detalhes.

— Cada vez mais percebo o quanto ele tá afim de você. — disse Hans.

— Você cismou com isso, não é? Eu achei que você não suportava ele.

— E não suporto, mas ultimamente tenho notado essas coisas e ele tem ficado menos insuportável.

— Você é de lua.

— Pra sua sorte, eu sou. Já pensou eu ficar implicando com seu namorado pelo resto da vida? Ia ter que escolher ficar com o seu namorado ou com o seu melhor amigo.

— Para de graça! 

Hans riu e eu também. 

Para minha infelicidade, no resto da viagem não pude nem sequer tentar contato com Caleb, já que Troye havia estragado tudo. Eu tinha planos até mesmo de perguntar sobre o MP3 dele e que músicas ele gostava...

Pelo menos me distraí conversando com Hans, especialmente sobre como seria esquisita a vida sem nenhuma eletricidade.

Chegamos na escola pela parte da tarde e descemos do ônibus. 

— Bom, então vou nessa. A gente se fala. — Hans se despediu de mim.

— Até mais, amigo.

— Até.

Fui andando até a saída percebendo que Caleb parecia muito bem ao conversar e rir com seus amigos de sempre, era aparente que ele nunca ia mudar e que eu estava me enfiando cada vez mais em uma enrascada muito, muito ruim.

Chegando em casa, conversei com os meus pais sobre como foi a experiência no acampamento. Às vezes, minha lingua coçava pra contar sobre Caleb e a certa aproximação que havia acontecido entre nós dois, mas a mesmo tempo tinha insegurança pra falar do assunto e acabar ficando tão otimista quanto meus pais ficariam. Num geral, me sentia desconfortável e despreparado pra esse assunto.

No dia seguinte de aula, tudo ocorreu normalmente. Caleb estava muito quieto e nem mesmo falou comigo, mais uma vez. Talvez porque aqueles dois urubus não saíssem de perto dele.

Também, Gael, por que você ficava igual um idiota esperando que Caleb viesse falar algo  sempre?

Na hora da saída, Chrissie veio até mim e Hans.

— Ei, meninos, ei, ei.

— Oi, Chrissie. — eu disse.

— Oi de novo, amor. — Hans deu um beijo na bochecha dela.

— Eu vim contar pro Gael do circo e chamar ele pra ir com a gente.

— Ah não, lá vem ela com esse assunto de novo... — Hans esperneou.

— Que assunto? — perguntei curioso.

— Não ficou sabendo do circo que tá naquela praça da cidade? — Chrissie perguntou. — Chegou ontem, eu acho, e eu quero muito ir. Eu gosto muito de circos.

— Não fiquei sabendo não... Na verdade, eu nunca fui em um circo. — ri.

— O quê!? — Chrissie ficou boquiaberta. — Eu não acredito!

— Ela cismou que quer ir. Isso é coisa pra criança, Chrissie... — Hans resmungou.

— Deixa ela, seu chatão. — empurrei o seu ombro de leve. — Vamos nós três e ponto final. Já está decidido.

— Ai, não... — Hans esfregou os olhos.

— Ai, Gael, vamos sim! Tenho certeza que você vai amar conhecer o circo, vamos essa noite! Por favor!

— Ai não, amor, hoje não.

— Vamos hoje de noite sim. Está perfeito. — concordei.

De noite, ao esperar pelos dois, ouvi a buzina.

— Vai lá filho, divirtam-se. — meu pai Scott falou alto da sala.

— Lembra de tomar cuidado sempre. — meu outro pai completou.

— Pode deixar! Beijo, amo vocês! 

Corri até a porta e a abri.

Dentro do carro do pai de Hans, vi Chrissie com os olhos brilhando e ele meio enfezado no volante, ao lado dela.

— Ai, Hans, qual é. — fechei a porta e saí. — Se anima!

— Estou tentando, é que eu realmente não gosto dessa programação...

— Deixa de ser chato. — bati a porta do carro ao entrar e sentar no banco de trás. — Qualquer momento com a sua namorada deveria valer muito pra você.

— E vale!

— Então para de reclamar!

Chrissie riu e fomos conversando enquanto o carro percorria as ruas calmas nesse horário da noite.

De repente, notei que estávamos passando por uma rua um tanto familiar.

— Eu conheço essa rua. Não passo muito por aqui, mas...

— De onde conhece? — Chrissie perguntou enquanto Hans estava concentrado no volante.

Então meus olhos fixaram naquela casa.

Aquela casa tão simples pela qual Caleb havia entrado pela porta principal naquela noite da festa de aniversário de Chrissie.

A suposta casa do Caleb.

E as luzes estavam acesas.

— O Caleb...

— Ah não, o que tem ele? — Hans resmungou.

— Hans, para de resmungar, encosta o carro por favor.

— Ué, o que houve? — Chrissie perguntou.

— Pra quê, japa? 

— Encosta, por favor! Eu tive uma ideia. 

Hans bufou e encostou o carro na calçada em frente a casa. Tirei o cinto e fui até a porta do carro.

— Dá pra você explicar o que você vai fazer? — Hans perguntou.

— Eu vou chamar o Caleb pra ir com a gente.

— O quê!? Você ficou maluco?

— Por favor, Hans, faz isso por mim. 

— Ah não, Gael, olha-

— Ah, eu tô entendendo o que tá acontecendo aqui... Amor. — Chrissie apoiou sua mão no ombro de Hans. — Seu amigo sempre te apoiou. Continue fazendo isso por ele também, sim?

Hans respirou fundo.

— Se ele estragar o banco ou qualquer coisa, qualquer coisa do carro do meu pai, Gael, eu te juro que-

— Obrigado, amo vocês dois! — saí apressado do carro e bati a porta, correndo até a casa.

Meu coração estava batendo forte e minhas mãos suavam frio.

Engoli seco enquanto tentava me acalmar com uma respiração profunda que não estava dando nenhum resultado, então decidi tocar a campainha logo.

Eu pelo menos deveria parecer calmo, não é? Então tentei ativar o meu modo ator.

A porta abriu lentamente e pela brecha pude ver um senhor magérrimo me encarando com uma expressão confusa. 

Ele era muito parecido com Caleb. Só poderia ser o seu pai.

— Pois não?

— Boa noite. — forcei um sorriso. — O Caleb mora aqui?

— Amigo da escola?

— Sim. — afirmei com a cabeça.

Ele abriu a porta e chegou para o lado.

— Pode entrar, fique à vontade. 

Olhei para trás e Hans me olhava um pouco assustado. Chrissie sorriu pra mim, fazendo um gesto com a mão para eu seguir em frente.

O senhor fechou a porta assim que eu entrei.

— Com licença...

Senti um cheiro muito forte de maconha.

Eu nunca tinha experimentado, mas em algumas festas que eu ia, outras pessoas gostavam e era uma cheiro forte muito específico. Parecia estar vindo de um dos quartos.

— O Caleb tá no quarto dele. — ele soltou um gemido de dor ao sentar na poltrona da sala e se ajeitar para ver televisão. — Pode ir lá.

— Obrigado. — assenti com a cabeça. 

A sala era bem pequena, ficava do lado direito da porta de entrada. Logo do lado esquerdo, havia um quarto com a porta aberta.

Ao caminhar pelo corredor, espiei lá dentro e vi uma mulher sentada e se maquiando em frente a uma penteadeira. 

Ela estava caracterizada de uma forma um tanto peculiar. Usava um espartilho preto e meia calça da mesma cor. Sapatos altos, também pretos. 

— Boa noite, jovem. — ela sorriu pra mim com seu batom vermelho através do reflexo do espelho. — Meu marido não sabe nem receber convidados direito, não é? O quarto do Caleb é o último à direita. Fique à vontade. 

Forcei um sorriso e continuei a seguir em frente. 

Quem era ela? A mãe do Caleb? Ou uma madrasta, talvez? 

O primeiro quarto da direita estava com a porta encostada, mas com uma pequena brecha. Era de lá que estava vindo todo o cheiro forte de maconha. Estava meio escuro, mas deu pra ver um rapaz... transando com uma mulher. Era isso. 

Rapidamente desviei o olhar e foquei em ir até o quarto de Caleb.

Que gente mais esquisita, que lugar estranho. Tinha uma energia pesada, sei lá... 

Será que isso foi mesmo uma boa ideia?

Passei pela pequena cozinha e deduzi que a porta à esquerda era o banheiro, então, fui finalmente para a porta à direita, onde segundo aquela mulher, era o quarto do Caleb.

Respirei fundo e bati na porta.

— Me deixa quieto, por favor. — a voz abafada de Caleb veio lá de dentro.

Sorri ao escutar sua voz.

Mas que merda, Gael. Deixa de ser tão idiota! Se continuar assim... Onde isso vai dar?

Me recompus e girei. Do contrário, Caleb não iria abrir mesmo. Para minha sorte, ela estava aberta e eu consegui entrar.

Lá estava ele, tão focado em assistir um filme que nem mesmo me ouviu entrar. Estava deitado de barriga pra baixo em sua cama com o rosto perto da TV. 

Caleb usava um suéter verde e uma calça de moletom preta.

O seu quarto era pequeno como qualquer outro cômodo da casa. Tinha um guarda roupa de madeira antiga, uma escrivaninha com uma cadeira, um notebook em cima da cama e... Muita, muita bagunça. O quarto estava completamente um desastre. Roupas espalhadas para tudo quanto é lugar, material escolar jogado pela escrivaninha, a mochila de qualquer jeito jogada no chão... Toalhas e meias espalhadas... 

— Oi, Caleb.

Ele virou o rosto e arregalou os olhos ao me ver. E então, se sentou rapidamente na cama.

— Você? O que- O que você tá fazendo aqui?

— Eu tava passando e-

— Como que você entrou? — ele se levantou da cama, ficando de frente comigo.

— Calma. — eu ri. — Bati na porta e acho que o... seu pai? Me deixou entrar.

— Você não deveria estar aqui!

— Caleb, calma. Tá tudo bem.

Ele respirou fundo e passou os dedos pela testa, inevitavelmente bagunçando sua franja.

— O que tá fazendo aqui? — perguntou de uma forma mais calma.

— Se você deixar eu falar...

— Fala.

— Desculpa entrar assim. Estava passando por aqui e como eu sei onde você mora, pensei que poderia ser uma boa ideia te convidar pra sair com a gente.

— "A gente"? — Caleb me olhou curioso.

— Sim. Eu, Hans e Chrissie.

— Eles nunca vão querer sair comigo.

— Tanto vão que estão esperando lá fora.

— Olha... — Caleb riu e me olhou fixamente. — Você não está entendendo o idioma que eu estou falando? Quer que eu fale em outra língua, Gael? Vou dizer de novo. É melhor ficar longe de mim.

— Caleb... — bufei. — Chega desse assunto, por favor. Isso já tá tão chato. Achei que a gente tivesse se entendido naquela noite. 

— Escuta, eu não quero te meter em encrenca.

— É só não fazer isso então! — dei de ombros.

— Mas é o que vai acontecer, inevitavelmente, se você se aproximar de mim.

— Olha...

— Só por favor, se afasta. Já falei que não precisa ter pena de mim.

— Eu não tenho pena, Caleb, que merda! É difícil entender que só gosto da pessoa legal que você é e quero que sejamos amigos?

— Já te falei que isso é impossível.

— Porque eu sou um grande fracassado perdedor e você é o popularzão da escola, claro. 

— Nossas vidas são muito diferentes.

— Se conhecesse a história dos meus pais... — resmunguei.

— Como?

— Nada, eu só estava pensando alto. 

— Por favor, é melhor você ir embora. Você chegou assim do nada, entrou no meu quarto sem mais nem menos... Isso não se faz. Nem mesmo meus amigos da escola vieram aqui em casa! Nunca! 

— Nem o Troye e nem o Corey? — perguntei surpreso.

— Não! Ninguém!

Aquela casa e aquela família eram coisas que Caleb queria esconder de todos e isso era bem visível. 

— Nossa, Caleb... Já pedi desculpas, mas foi por uma boa causa. 

Caleb respirou fundo.

— Pra onde vocês vão? — me perguntou.

— O circo que chegou na cidade.

— Ah, não, não... Circo não.

— O que foi? Tem medo de palhaços? — soltei um riso.

— Antes fosse. 

— O que é então?

— Só não gosto, Gael, que saco! Você faz perguntas demais. Já falei o quanto você é um intrometido?

— Já. — cruzei os braços. 

Ele ficou me olhando em silêncio por algum tempo e então balançou a cabeça.

— Você não vai sair daqui enquanto eu não for com você, não é?

— É. 

Caleb riu. 

— Eu nunca conheci alguém tão... Tão...

— Tão o quê? Pode falar, só não me ofenda.

— Tão... Gael!

— "Tão Gael"? Que merda é essa? 

— É que eu não consigo usar nada além disso pra descrever você, Gael. — ele riu.

Devo ter ficado vermelho de vergonha e também ri. 

— Eu sou tão estranho assim?

— Pode crer... E repito, essa ideia de se tornar popular fazendo amizade comigo não vai dar certo.

— Eu não quero ser popular. Já te disse isso. Não sou nenhum interesseiro.

— Ora, já disse pra você que eu não consigo confiar em ninguém. 

— Pois espero que aprenda. Gosto de você genuinamente. 

— Genuinamente... Que palavra sofisticada. — ele se sentou na cama e sorriu pra mim. 

— Deixa de ser debochado e vamos logo porque o Hans tá esperando até agora com o carro.

— Tá bem. — ele revirou os olhos e tirou um par de tênis de debaixo da cama para calçar. 

Eu mal acreditava. Estava dando certo mesmo. Caleb havia se rendido e íamos sair juntos!

Eu não poderia estar mais realizado e feliz. Tentei disfarçar e conter tamanha alegria.

Parei pra notar o filme que ele estava assistindo. Era algum filme de terror.

— Credo, você assiste isso?

Caleb entreolhou a mim e a TV. 

— O que tem? Qual o problema?

— Eu não consigo. Tenho muito medo.

— Deixa de besteira. Eu amo filmes de terror.

— Acho que puxei o meu pai Scott nisso. — sorri.

— Que estranho você falar assim.

— Assim como?

— "Pai Scott".

— É porque eu tenho dois pais homens, né. Eu tenho que nomeá-los pra identificar cada um.

— E qual o outro pai?

— Ele se chama Harrison, mas eu o chamo de pai Harry.

— Harry? Como Harry Potter?

— Você é potterhead, por acaso?

— Talvez um pouco. — ele deu de ombros e terminou de calçar os tênis. — Só não conta isso pra ninguém, ouviu? Eu não sou nenhum nerd.

— Claro... É o atleta popular da escola que precisa manter a fama e sem fugir das regras, não é mesmo?

— Isso.

— Não foi você quem reclamou comigo que vivia numa peça de teatro? Por que não faz algo pra mudar isso?

— Você diz como se fosse fácil. 

— Não é, mas você tem que começar de algum lugar... Vem, vamos logo.

Me dirigi a porta do quarto e Caleb me puxou pelo braço.

— Por aí não.

— Como assim?

— Eu não quero ter que passar por lá... Por eles.

O que estava acontecendo nessa casa?

Cada vez mais, a cada coisa mais que eu ia descobrindo sobre Caleb, parecia que era um enigma incansável de tão complexo, com tantos misteríos ainda para eu desvendar.

— Hã?

— Não faz mais perguntas, Gael, só vem. Vamos pela janela.

— Tá bom então...

Obedeci e segui Caleb, que pegou o seu fiel canivete em cima da escrivaninha antes de pular a janela do seu quarto. 

— Vem.

Pulei a janela e ele a encostou pelo lado de fora. 

Fomos andando, dando a volta na casa até a entrada, onde Hans estava com o carro.

— Que demora do cacete! Estavam se pegando ou o quê!?

— Cala a boca, Hans! — gritei, vermelho de raiva.

Chrissie estava se acabando de rir.

Mas que ódio do Hans!

Eu não queria me atrever nem a olhar pra Caleb pra ver qual era a sua reação ou expressão. Se estivesse com seus amigos da escola, muito provavelmente estaria gargalhando e zoando horrores, mas aqui, agora, ele optou pelo silêncio. 

Entrei no carro primeiro e ele veio logo depois, fechando a porta.

— Oi, Caleb.— Hans o recebeu de forma seca.

— Oi, Caleb, seja bem vindo! — Chrissie disse, mais simpática.

— Oi. — ele respondeu. 

Hans arrancou com o carro de uma forma um tanto raivosa. Hoje realmente não estava sendo o seu dia. 

Ficou um silêncio chato no carro, consegui puxar algum assunto com Chrissie e Hans, mas Caleb permanecia calado, mexendo no seu celular. 

Ai, Jesus, será que isso realmente tinha sido uma boa ideia? De novo eu me pergunto.

Chegamos na praça e ela estava enfeitada de uma forma muito mágica. As luzes, os balões, a música, as carrocinhas de pipoca, comida, crianças brincando por todo o lado.

Ao saírmos do carro, Hans ajudou a colocar Chrissie em sua cadeira de rodas.

— Obrigada, amor.

— De nada.

— É a primeira vez que eu venho num circo. — olhei pra Caleb. — Você já veio antes?

— Várias vezes, mas isso já faz muito tempo. Como nunca foi a um circo antes?

— Não fui, ué. Minha infância foi um tanto... Conturbada. 

— Bom... Pois agora você veio. — Caleb forçou um sorriso e colocou as mãos nos bolsos da calça. — Está gostando?

— Muito. 

Caleb riu e balançou a cabeça.

— O que foi? — eu perguntei.

— Nada. 

— Aposto que estou parecendo uma criança, não é?

— Um pouco. 

O cheiro de pipoca estava tão intenso que precisei perguntar quanto custava uma na carrocinha logo ao meu lado. Estava até barato, então comprei pra mim e ofereci para os outros três, mas eles já estavam na fila pra comprar também e agradeceram. 

— Vocês que vão perder, eu ia pagar pra todo mundo. 

— Não precisa, seu bobão. — Hans riu.

— Além do mais, eu não ia ficar tão confortável com isso. — Chrissie acrescentou. 

— E você, Caleb? Não vai falar nada?

— Se vocês que são amigos tão próximos dele estão fazendo questão de pagar, imagina eu?

— Imaginei. — Hans deu um sorriso sarcástico.

Então foi a vez de comprarmos nossos ingressos logo na entrada. 

Assim, fomos pra dentro daquela enorme tenda. 

Tudo lá dentro era tão lindo. As listras gigantes variando entre vermelho e branco, as estrelas pintadas no teto, as faixas coloridas, as luzes...

— Ei, para de babar e presta atenção! — Hans me puxou pelo braço e fez com que eu sentasse. — Vamos sentar logo aqui que os lugares tão ótimos.

— Deixa ele, Hans! É a primeira vez que ele vem no circo, esqueceu? — Chrissie disse. — Viu, Gael? Não disse que você ia adorar?

— Você tem razão. É bonito demais mesmo. — sorri pra ela.

Hans ajustou mais a cadeira de Chrissie.

— Assim está bom?

— Tá ótimo, obrigada. — eles trocaram um selinho.

Então, Caleb sentou do meu lado e respirou fundo.

O espetáculo começou, cada apresentação era mais legal que a outra. Em algumas, eles estavam usando hologramas de animais feitos com computação gráfica.

— Quando os animais de verdade vão aparecer? — perguntei.

Hans e Chrissie estavam namorando e cochichando entre si, muito distraidos para prestar atenção em mim.

— Nunca? — Caleb respondeu e sorriu pra mim.

— Por que não? Como assim?

— Olha, sabia que os animais são muito maltratados em circo?

— Sério? Nossa, que horror...

— Felizmente, isso está acabando cada vez mais. Nunca assistiu Dumbo?

— Não... Esse foi um dos filmes que ainda não assisti. Você é bem ligado nos filmes não é?

— Talvez. Gosto muito de filmes. 

Mais um dos segredos de Caleb que eu estava descobrindo... 

— Me sinto péssimo por não saber de uma coisa dessa.

— Tá tudo bem, Gael, isso não te faz nenhum ignorante. Você não precisa saber de tudo. Ninguém tem esse conhecimento todo. Além do mais, você nunca nem tinha vindo em um circo antes pra saber dessas coisas.

— Você tem razão, mas termina de contar. 

— Então... Os animais eram praticamente escravos. Sofriam bastante pra serem treinados de uma forma desumana. Aos poucos, muitas pessoas lutaram para que essa crueldade acabasse. 

— Isso é muito triste. 

— Ainda existem circos que usam de forma até ilegal, mas... Espero que um dia isso acabe de vez. 

— Também espero. 

Olha só o lado sentimental e empático de Caleb se mostrando... Eu jamais achei que presenciaria algo do tipo. 

— Enfim, os hologramas são maneiros, você não acha?

— É sim, eles são muito bonitos. Qualquer coisa é melhor que a crueldade. 

— Uhum. — Caleb continuou comendo a pipoca.

Eu não tinha notado, mas o cheiro diferente de perfume que eu havia sentido desde quando havíamos sentado na arquibancada do circo era dele. Meu Deus, então esse era o seu perfurme? Aquele cheiro estava entranhando em mim a cada minuto que se passava e eu não podia negar o quanto eu amava isso. 

Lógico, vinha de Caleb e eu já automaticamente gostava.

— Sabe, acho que não foi tão ruim vir pra cá hoje.

— É mesmo? — olhei pra ele. 

— Obrigado pelo convite.

— E quando vai acabar com essa baboseira toda de não querer falar comigo e ficar longe?

— Ah. — ele bufou. — Não é baboseira, Gael, eu falo sério. 

— Só não se preocupa tanto, tá bem? Viu como tá sendo legal o rolê de hoje?

— Já te falei que não sou uma boa pessoa, vou acabar chateando você. Muito. Além do mais, o que vão dizer se me virem, ou souberem, que eu estou saíndo com vocês três?

— O grupinho dos esquisitos e dos perdores, mais uma vez, eu já sei...

— Sabe que isso atingiria a minha reputação e-

— Você seria zoado e blá, blá, blá... Algo que acontece comigo sempre. 

— Eu sei que pode ser um teatro, mas foi algo que eu consegui construir pra fugir da minha realidade que é um lixo.

— Caleb, não fala assim.

— Mas é verdade, Gael, você não entende. Nunca poderia entender. Eu sei que eu queria estar no seu lugar e ter a vida que você tem, mas ao mesmo tempo eu também fico feliz por você ter uma vida feliz. De verdade. 

— Você quer desabafar? Sobre qualquer coisa?

— Ainda sendo esse grande babaca e te tratando desse jeito, com receio de você abalar algo tão fútil como a minha reputação, você insiste em querer ser meu amigo e ser legal comigo. — ele riu pra mim. — Eu realmente não mereço isso. 

— Se sabe que a sua reputação é algo tão fútil, por que não se disfaz disso?

— Eu te disse, é a escapatória da minha realidade péssima. 

De repente, acabei me assustando com os barulhos de estalos que estavam acontecendo no espetáculo. 

Caleb riu de mim. 

— Meu irmão também sempre se assustava com esses barulhos.

— Seu irmão? — olhei pra ele.

— Meu irmãozinho, não o idiota do meu irmão mais velho. O meu irmãozinho era tudo o que eu tinha nesse mundo. Com ele eu sentia que a gente podia vencer qualquer coisa, sabe?

— Eu imagino... Não sei ao certo porque sou filho único, infelizmente.

— É... Enfim, éramos eu e ele contra o mundo. Ele amava o circo.

— É mesmo?

— Sim. Trazia ele sempre. Seus olhos ficavam brilhando. Iguais os seus. — ele riu pra mim. — A primeira vez dele no circo foi praticamente igualzinho a você. 

— Caramba. — sorri, meio surpreso.

— Um dia... — o sorriso dele se transformou em uma expressão vazia que fitava o nada. — Busquei ele na escola e estávamos sozinhos em casa. Eu tinha que fazer o jantar, não tive como tomar conta dele direito e então fui chamá-lo pra comer e... E quando eu encontrei ele, ele estava desmaiado, não acordava por nada, eu liguei pra emergência...

Caleb engoliu seco e cerrou os olhos, segurando o choro.

— Nossa, Caleb... — apoiei minha mão em seu braço. 

— Ele só tinha quatro anos. Quatro anos. Morreu porque pegou as drogas do desgraçado do nosso pai. Se isso é um pai. Ele... Ele comeu. Teve uma overdose. Foi horrível.

Eu nunca tinha ouvido uma história tão bizarra e triste como essa em toda a minha vida. Pelo menos não da boca de alguém que estivesse no meu ciclo social.

Dava pra ver o quanto Caleb segurava pra não chorar.

— Nossa, eu... Eu sinto muito. 

— Foi tudo culpa minha.

— Não, jamais.

— Claro que foi. Eu não tava olhando ele, eu...

— Caleb, não. Não tinha como você saber, você tinha que fazer o jantar, eram só vocês dois e... E o seu... Pai.... Ele, ele que foi culpado de deixar isso a alcance dele.

— Não importa. Ainda assim eu vou me culpar pro resto da minha vida.

— Caleb...

O circo agradecia com uma grande banda tocando, havia chegado ao fim.

— Nossa, eu amei! Gostaram, meninos? — Chrissie virou pra nós.

Eu forcei um sorriso e balancei a cabeça positivamente. Levantamos e fomos caminhnado até a entrada.

— Chrissie, você tinha razão, é realmente tudo muito bonito, é bem legal.

— Fico feliz que tenha gostado assim, Gaelzinho. 

— Ei, escuta, se não se importam, queria levar a Chrissie pra tomar um sorvete. Tem algum problema? — Hans perguntou.

— Não mesmo. — Caleb respondeu de prontidão.

— Por mim, sem problemas. Consigo ir até a pé pra casa. — eu respondi.

— Certeza?  Tudo bem mesmo? — Chrissie perguntou.

— Sim. — assegurei. — Podem ir, divirtam-se.

Nos despedimos uns dos outros, com o aperto de mão entre Hans e Caleb sendo muito esquisito e forçado. O climão tinha ficado do início ao fim e parecia que Hans queria fugir disso o mais cedo possível. Eu não o culpava e também não podia negar que gostaria de ficar esse tempo a sós com Caleb.

Mas essa história que ele havia acabado de me contar...

Isso não parava de perturbar a minha mente. 

Pelo o que Caleb teve que passar? Pelo o que ele ainda passava?

Hans foi embora com Chrissie e fiquei ainda sem palavras com Caleb.

— Você consegue ir a pé pra casa mesmo?

— Sim, de boa. 

— Então... Posso te levar em casa?

— Claro. — falei tentando fingir naturalidade, mas por dentro eu transbordava de felicidade e meu coração estava à mil. 

Enquanto caminhávamos pra minha casa, estava pensando em alguma coisa pra falar com Caleb, tentando puxar algum assunto... Então lembrei dos filmes.

— Então você gosta muito de ver filme?

— Sim, os de terror são os meus preferidos. Animações também. 

— É, isso já deu pra perceber pelo o que você falou. 

— E você?

— Ah, eu vejo, mas acho que não ligo tanto assim igual você. 

— Então o que você faz quando está atoa em casa? Não vai ver um filme, série ou algo assim?

— Eu gosto de ficar lendo livros. Muitos.

— Depois eu que sou nerd...

— Talvez nós dois sejamos. — eu ri. 

— Ah, droga... — Caleb resmungou do nada.

— O que foi?

— Acabei de me lembrar daquele seu livro que jogaram no chafariz do shopping aquele dia. 

— Seus amigos são dois grandes idiotas, Caleb.

— Sei disso. Me desculpe por eles. Posso comprar um livro novo pra você? Desse que caiu no chafariz... — ele esfregou a nuca. 

— Não precisa, mas eu agradeço. Chrissie já me deu um novo de presente. No mesmo dia, aliás.

— Sério? — ele soltou um riso. — A Chrissie é bem legal. 

— É mesmo.

— Já o Hans parece não gostar muito de mim, não é?

— É. Não vou mentir.

— Eu entendo, ele tem seus motivos. 

— Você também não gosta dele?

— Não tenho nada contra ele.

— Entendi.

— Hein, Gael.

— O que foi? — olhei pra ele. 

— É muito estranho estar com você. — ele riu.

— Como assim? — ri também, mas de nervoso.

— É que com você parece que eu não tenho medo de ser quem eu sou e nem preciso de filtro pra falar as coisas que eu penso. Você sabe de algumas inseguranças minhas e até mesmo de alguns medos. 

Não pude deixar de sorrir ao ouvir.

— Você não me julga. — ele continuou. — Não me reprime, não me ofende, não me deixa pra baixo e gosta de mim por quem eu realmente sou.

— Olha só... — sorri pra ele. — Tem alguém aprendendo a confiar?

— Ah, vai. Talvez só em você e em mais ninguém. — ele riu e bagunçou o cabelo, meio sem jeito.

Se ele estava se sentindo tímido, imagina eu? Não sabia onde enfiar a cara. 

— Eu te contei até mesmo do meu irmão... Eu nunca tinha contado isso pra amigo nenhum.

— Meu Deus, Caleb... Isso é sério?

— Sim... E concluindo o que eu estava dizendo, por falar nisso... É por isso que eu não gosto muito de circos. Me faz lembrar dele e automaticamente de tudo isso que te contei, então...

— Ai, meu Deus. Nossa. — comecei a perceber que talvez isso do circo realmente não tinha sido uma boa ideia. — E eu fiz você vir ao circo... Caleb, me desculpa.

— Ei, ei, está tudo bem. — ele riu e balançou as mãos, me olhando. — Eu gostei de hoje. Foi legal. Você não tem culpa.

— Jura?

— Juro.

E então, fomos caminhando o resto das ruas com ele me falando sobre seus filmes de terror e animações favoritas, eu sobre os meus livros de romance que ele não parecia nem um pouco interessado, assim como eu também não tinha interesse nenhum de ver os filmes de terror que ele falava sobre. As animações quem sabe um dia?

Mas éramos realmente os extremos opostos... 

Conversamos também sobre nossas partes preferidas do espetáculo do circo.

Queria tanto perguntar sobre aquele canivete que ele levava sempre com ele. Sempre assustado, se sentindo ameaçado e querendo se defender. 

Queria perguntar sobre a mulher misteriosa que passava batom vermelho em frente a penteadeira, sobre o cara que transava com uma garota no quarto fedendo a maconha e o pai esquisito dele. 

E a história das drogas?

Era tanta coisa que eu queria saber... Eu estava tão preocupado com Caleb e com o que ele vivia naquela casa. 

Mas eu não poderia fazer nada disso. Eu estava ganhando a sua confiança e não queria estragar isso tudo. Queria que ele se sentisse bem pra se abrir comigo cada vez mais. Assim, eu poderia ajudá-lo da melhor forma possível.

Quando me dei conta, estávamos em frente a minha casa.

— E é isso. — olhei pra minha casa e depois para Caleb. — Moro aqui. 

— Caramba... — ele analisou minha casa cuidadosamente. — Sua casa é bem bonita.

— Obrigado. A sua também. — sorri. 

Ficou um pouco de silêncio, mas logo decidi quebrá-lo.

— Você vai ficar bem indo pra casa? — perguntei.

— Sim, não é longe. Consigo ir a pé de boa também, não se preocupa.

— Obrigado por me trazer até em casa, Caleb.

— Não foi nada.

— Boa noite. — sorri enquanto comecei a caminhar para a entrada.

— Boa noite, Gael.

Como eu amava ouví-lo falar o meu nome. 

Eu era tão bobo.

Não resisti e fiz algo que não achei que teria coragem de fazer. 

Fui até Caleb e fiquei nas pontas dos pés para conseguir ter altura o suficiente para beijar a sua bochecha. 

Caleb desprendeu os lábios e arregalou os olhos, sem muita reação além disso. Seu rosto começou a ficar vermelho e eu não pude evitar de sorrir.

Porém, nenhuma palavra a mais foi falada. Segui apressadamente até a porta de casa, entrei e deixei de fora uma noite que eu não queria que tivesse acabado nunca.

FIM DO CAPÍTULO.

De novo vou perturbar vocês reforçando que eu quero muitos comentários SIM! Hablem mesmo mores kkkkk


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