SENSAÇÃO DE PAZ
Quando acordei, minha cabeça doía como o inferno. Manter meus olhos abertos era uma tarefa árdua, minhas pálpebra pesadas demais. Demorei vários segundos até conseguir me localizar e ver onde eu estava. E de fato eu franzi o cenho em confusão enquanto me sentava na cama onde estava, me perguntando o porquê eu estava ali e não presa. Quer dizer, claro que Aizawa sensei sabia sobre eu estar trabalhando como infiltrada, foi com ele que eu conversei antes de tomar uma decisão, e mesmo que ele não aprovasse, tinha apoiado. O que me deixou um tanto desesperada foi eu ter ido parar ali; aquilo facilmente acabaria com meu disfarce e colocaria em risco a integridade de Hawks, e talvez tenha sido por isso que comecei a surtar.
Senti o ar faltando de meus pulmões enquanto um ataque de pânico ameaçava me derrubar. O medo e a ansiedade me preencheram completamente, e eu levantei e cambaleei. Eu estendi a mão para tocar a maçaneta antes de hesitar. Tudo bem, eu estava desesperada, mas aquilo também podia ser uma decisão precipitada. Precisava colocar na minha mente que Aizawa sensei jamais faria algo para colocar em risco minha vida ou a de qualquer outro super herói. Precisava colocar na minha cabeça que eu estar ali era um plano dele. Caso contrário, eu entraria em um surto ainda maior.
Mas mesmo tentando, toda aquela realidade esmagadora que eu estava vivendo me atingiu em cheio e automaticamente senti vontade de vomitar. Tive tempo apenas para achar o banheiro e me ajoelhar na frente da privada antes de colocar tudo pra fora. Eu tremia, meus olhos estavam cheio de lágrimas e minha mente girava e girava, as lembranças do que eu tinha feito aos meus amigos ameaçando me matar. Eu tinha machucado meus amigos; não tinha perdão para aquilo, eu sabia.
Eu não sabia o que era pior; eu estar vomitando, chorando ou tremendo tanto que me perguntei se não ia acabar desmaiando ali mesmo. Eu só queria que tudo aquilo acabasse, eu só queria que tivesse um fim de uma vez por todas. Eu queria que Shigaraki fosse parado antes de machucar mais pessoas, eu queria saber quais os verdadeiros planos de Ichiro e acabar com cada um deles e eu queria desesperadamente fazer Toya parar. Só queria ver logo o fim de tudo aquilo, mas eu não sabia se teria um final feliz. A cada dia que se passava, eu perdia mais e mais as minhas esperanças de evitar uma guerra com os vilões.
Estava tão nervosa, ansiosa e com vontade de sumir que não notei a aproximação até sentir mãos nos meus cabelos, os puxando para trás com delicadeza. Meu coração deu um salto dentro do peito, e eu nem mesmo precisava me virar para saber quem era que estava ali, agachado do meu lado, me dando apoio naquele momento de merda que eu me encontrava. Eu não precisava de nada para saber quem era, e nem precisava usar meus poderes para saber o que estava sentindo. Eu deveria ter ficado ainda mais desesperada, mas a verdade é que não tinha forças para isso naquele momento. Por isso, apenas me virei o suficiente para fitar os olhos heterocromáticos de Shoto.
-Vocês precisam conversar. - a voz de Aizawa sensei me chamou a atenção e eu vi que ele estava parado na porta, me fitando com seriedade. Ele viu meu olhar de urgência. -Não precisa se preocupar, Atsuko. Você está segura aqui e todas as questões que estão rondando sua mente já foram solucionadas. Precisa descansar agora. Eu volto depois e vamos conversar melhor.
Ele não me deu tempo para protestar, para dizer que os vilões eram ardilosos ou para perguntar o porquê de ele ter chamado logo o Shoto. Aizawa sensei simplesmente deu as costas e saiu, e logo em seguida deixou o quarto que julguei ser o dele, me deixando completamente sozinha com Shoto.
Olhei bem para os olhos dele, aqueles olhos que eu conhecia melhor do que qualquer outra coisa e que eu tinha sentido tanta falta nos últimos dias. Olhei para Shoto, e minha vontade de chorar se tornou ainda maior quando percebi que não havia mágoa, raiva e nem nada ali que não fosse a mais genuína preocupação. Por isso, apenas enterrei o rosto no peito de Shoto e comecei a chorar, deixando tudo o que eu tinha mantido preso durante todos aqueles dias saísse de dentro de mim.
Shoto não hesitou antes de envolver os braços ao redor de mim e me abraçar com carinho enquanto eu tremia, beijando de leve o topo da minha cabeça e passando a mão pelas minhas costas em uma tentativa falha de me acalmar. Aquele carinho todo apenas fez eu chorar ainda mais, pois me fez perceber que apesar de tudo o que tentei fazer ele acreditar, Shoto jamais tinha desistido de mim.
Ele sabia; Aizawa sensei não tinha contado nada para Shoto, eu vi isso, mas Shoto soube no instante em que fui embora com Ichiro, que tinha tido minhas memórias sobre ele de volta, que aquilo era um plano meu. Ele sempre soube e jamais desconfiou de mim, nem mesmo por um segundo, mesmo quanto todos ficaram contra mim e tentaram fazer Shoto ficar também. Ver isso em sua mente apenas me fez soluçar e o apertar um pouco mais, desejando nunca mais ter que sair de dentro de seus braços.
-Me perdoa, Shoto. - falei com sinceridade, me afastando dele o suficiente apenas para fitar seus olhos heterocromáticos. Shoto não disse nada, apenas me fitou sem nenhuma expressão. Meus olhos ardiam. -Me perdoa por ter...
-Para. - ele disse, levando as mãos até minhas bochechas e secando as lágrimas que escorriam sem parar. -Para.
Eu fechei os olhos com força. Eu sabia que Shoto só não queria que eu ficasse me culpando, mas era inevitável. Por mais que minhas intenções tivessem sido boas, eu tinha machucado nossos amigos e tinha feito Shoto sofrer. Eu tinha culpa o suficiente dentro de mim mesma.
Não é sua culpa, Atsuko. Ele disse com carinho, mas eu apenas neguei.
-Eu machuquei você. Machuquei o Midoriya e o Katsuki e o Kirishima e o Iida e a Ochako. Não, é culpa minha sim. - falei sentindo um nó se formando na minha garganta. -Você não faz ideia de quantas vezes eu quis desistir.
-Mas você não desistiu. - ele disse e eu apenas o fitei. -Porque é quem você é, Atsuko. Você é boa, não importa o que aquele maldito do seu pai ou o Toya tentem te forçar a fazer.
Eu apenas deixei mais lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas. Não fazia ideia de que precisava tanto ter Shoto do meu lado e sabendo toda a verdade até o ter ali.
Ficamos um tempo em silêncio e eu me permiti abraçar Shoto com toda minha força. Eu chorei nos braços dele enquanto Shoto passava a mão pelo meu cabelo sem dizer nada. Ele sabia que não precisava de palavras para fazer eu me sentir melhor, Shoto me conhecia bem o suficiente para saber do que eu precisava naquele momento. E, quando me acalmei o suficiente, ele me ajudou a levantar.
Eu lavei meu rosto, achei uma escova de dentes novas e tirei o gosto de morte da minha boca. Me olhei no espelho, percebendo o quão na merda eu estava, o quão péssima eu parecia. Tinha um roxo na minha bochecha graças a Katsuki, mas era meu olhar derrotado que mais assustava e que sem sombra de dúvidas era a maior fonte de preocupação de Shoto naquele momento.
-Eu deveria ter te contado. - falei depois de um longo tempo em silêncio. Shoto apenas me olhou sem dizer nada, esperando que eu continuasse. De forma nervosa, entrelacei meus dedos e fiquei brincando com eles, tentando evitar os olhos de Shoto.
Devia ter contado pra você sobre a Comissão ter me colocado como uma infiltrada. Mas não era segura e Ichiro descobriria muito fácil se você soubesse da verdade...
-Eu não tô te julgando, Atsuko. - ele disse baixinho, estendendo a mão e segurando a minha para fazer eu parar de ficar tão nervosa. Eu apenas ergui meu olhar para encontrar com o dele. -Ver você ir embora me machucou. Eu fiquei com raiva. Mas depois, eu entendi.
Você nunca faria isso comigo. Nem com suas memórias sobre nós e nem sem elas.
Mais uma vez, senti meus olhos se encherem de lágrimas. Nunca achei que Shoto me perdoaria por tudo o que tinha acontecido, mesmo que eu só tivesse tentando salvar todos nós. Mas ali estava ele me mostrando que jamais deixaria meu lado, nem mesmo quando eu mesma estivesse me achando um lixo de ser humano.
-Eu te amo. - ele disse, me lembrando que não importava o que acontecesse entre nós dois, isso não ia mudar jamais e escutar isso foi o que precisava para me fazer chorar mais uma vez.
Levei as mãos até meu rosto para o esconder, soltando um soluço. Shoto apenas se aproximou mais de mim, passando os braços sobre meus ombros e me abraçando.
Shoto estava preocupado e queria desesperadamente perguntar o que estava acontecendo, o porque eu estava tão ansiosa e queria saber o como ele podia me ajudar. Me ver assim era algo que estava o deixando ainda mais angustiado do que me ter longe dele. A mente de Shoto estava aberta como um livro para mim naquele momento, e eu apertei Shoto mais contra mim, com medo que ele fosse embora assim que eu abrisse meus olhos de novo.
Apesar de tudo e da dor que eu sentia dentro de mim, tive uma sensação de paz pela primeira vez em muito tempo. Mesmo sabendo que tudo ficaria pior nos próximos dias, pelo menos naquele momento, eu poderia aproveitar a tranquilidade ali, nos braços de Shoto.
-Eu também te amo, Shoto. E eu senti muito, muito a sua falta. - falei, minha voz saindo rasgando. Isso só fez Shoto me apertar mais em seus braços, como se tivesse medo que o momento em que eu partiria chegasse ainda mais rápido. Pois tanto eu quanto ele sabíamos que nosso tempo junto estava contado. -E eu nunca quis te magoar.
-Eu sei. - ele murmurou, me afastando apenas o suficiente para fixar os olhos nos meus. -Eu sei.
Vou dar um jeito nisso tudo. Falei, apesar de sem convicção nenhuma. Shoto apenas encostou a tesra na minha e fechou os olhos.
-Nunca duvidei disso.
Eu suspirei.
-Mas você não tá sozinha, Atsuko.
Eu assenti, esticando as mãos e afundando meus dedos no cabelo macio de Shoto. Tinha sentido falta de poder fazer isso, tinha sentido falta de estar perto dele.
Um pouco hesitante, me aproximei ainda mais de Shoto. Dando tempo o suficiente para ele se afastar se quisesse, o que o fez franzir o cenho em confusão antes de cortar o espaço que existia entre nós.
Shoto grudou a boca na minha de forma carinhosa. Não passou de um selinho demorado, porque nenhum de nós estava exatamente no clima depois de tudo o que tinha acontecido, mas foi o suficiente para fazer meu coração se aquecer um pouco mais e tirar um pouco mais do peso que estava me atormentando tanto.
-Você deveria seguir o conselho do sensei e descansar, Atsuko. - ele disse baixinho, passando a mão no meu cabelo.
-Promete que não vai embora? Que ainda vai estar aqui quando eu abrir os olhos? - perguntei de forma um tanto desesperada, agarrando a mão de Shoto com força. Mas ele apenas assentiu para mim, me forçando a deitar na cama, algo que eu relutei mas cedi.
Vou continuar com você sempre.
Eu segurei a mão de Shoto na minha e me permiti fechar os olhos enquanto ele acariciava meu cabelo com calma. E me permiti ser engolida pelo meu cansaço e dormir aos cuidados dele. Pela primeira vez em muito, muito tempo, eu dormir de verdade. Sem nenhuma outra preocupação que não em estar ao lado de Shoto. Porque, apesar de toda a merda que estava acontecendo e do quão péssima eu estava me sentindo, ter Shoto do meu lado fazia as coisas melhorarem. Mesmo que apenas um pouco.
Boa noite (ou dia?) povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Sim, postando de madrugada porque tinha criança chorando. Não revisei porque terminei de escrever agora e tô morrendo de sono
A verdade é que o Shoto só ia aparecer depois de muitos capítulos, mas eu fiquei com saudades de escrever ele e a Atsuko. Foi um capítulo cheio de dor e sofrimento? Sim, mas ele é o apoio que ela tava precisando no momento e eu tava com dó da minha filha (não de vocês)!
Tentarei postar mais capítulos essa semana, mas não prometo nada. Comecei no trabalho novo e eu tô acordando 5h30 da manhã pra chegar em casa 00h depois das minhas aulas da faculdade, então não tá fácil 🥲
Tenham paciência comigo 🥺
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 16/10/22