SEM SALVAÇÃO
Eu sabia que a merda ia explodir para todos os lados quando os olhos de Midoriya caíram sobre os meus. Apesar de ter hesitado em um primeiro momento, choque percorrendo seu rosto assim que ele me viu, eu conhecia Midoriya bem o suficiente para saber exatamente qual seria seu próximo passo. Talvez tenha sido por isso que tentei me afastar daquele lugar; entrar em uma briga com heróis no meio da merda do shopping não ia trazer nada além de péssimas consequências, e eu tinha plena consciência que Ichiro sabia muito bem disso. Na verdade, era o que ele queria, me dei conta assim que a mão dele apertou meu ombro, impedindo que eu recuasse.
-Eu nunca acreditei muito nessa sua história sobre ficar do nosso lado. - Ichiro disse, estalando a língua. Comecei a ficar nervosa, principalmente porque Midoriya estava correndo na minha direção. -Posso até acreditar que você quer mesmo ficar do lado do imbecil do Toya, mas não acredito nem por um instante que esteja de fato na Liga. Esse é um plano seu pra fazer Toya se redimir, ou você tá esperando o momento certo pra entregar a gente para os heróis? Na verdade, não acho que você esteja trabalhando com os heróis. Você não é tão inteligente assim. Então, o que você está tentando fazer, hein?
-Eu já disse, seu merda. - cuspi, apesar de todo meu desespero estar batendo na porta naquele momento. -Sim, entrei na Liga por causa do Toya, todos tem uma motivação. Mas eu não estou do lado desses heróis. Qual o seu problema? - acho que Ichiro ficou satisfeito vendo meu desespero, uma clara mensagem de que aquilo não era uma fachada que eu tinha combinado com meus amigos para enganar ele. Ainda assim, não era o suficiente para ele, e era isso o que mais me desesperava. Ele queria que eu provasse mais uma vez que eu estava do lado dele. Ele queria que eu fechasse todas as portas. Queria que eu fosse de uma vez por todas para aquele caminho sem volta. E eu não tinha outra opção que não dançar conforme a música.
-Atsuko! - eu não queria me virar quando escutei Midoriya gritar meu nome, mas me virei mesmo assim. Engoli em seco quando ele parou há menos de seis metros de distância de mim. Sabia que estava na merda, e me virei para dizer a Ichiro que aquilo era um péssimo teste, que era meu aniversário, que ele podia pedir qualquer outra coisa, que aquilo faria a gente ser preso! Mas ele não estava mais ali!
Boa sorte lidando com esses pirralhos. Nos encontramos no chalé quando você acabar com eles.
E sem esperar uma resposta minha, Ichiro cortou a conexão. Eu sabia que ele tinha ido embora, pois também não conseguia sentir sua presença. O filho da puta simplesmente me largou ali, porque ele queria que eu tomasse no cú! E eu certamente estava na merda, isso era nítido no olhar que Midoriya estava me lançando naquele momento.
Eu não podia recuar; eu sabia que Ichiro iria ver tudo o que eu estava fazendo ali no shopping. E também não podia deixar Midoriya me levar. Precisava dar um jeito naquilo e fugir. E eu só faria isso entrando numa luta, afastando eles e conseguindo tempo o suficiente para escapar dali.
-Ei, Midoriya. Você parece bem. - falei com um sorriso forçado. A expressão no rosto dele dizia o suficiente sobre o quanto Midoriya iria perder tempo com papo furado. Eu precisava dar um jeito de sair o mais rápido possível, mas percebi que ia ser bem difícil quando me dei conta que Iida e Ochako estavam fechando os pontos por onde eu poderia escapar, me prendendo dentro de um círculo.
-Você tá com a Liga, mesmo depois de tudo o que eles fizeram com você. - Midoriya disse, e eu sabia que apesar de ele não aprovar nem um pouco isso, estava tentando entender, ver um motivo por trás das minhas ações. -Por que está fazendo isso, Atsuko?
-Eu já te disse, Midoriya. Sabe, você deveria parar de se meter onde não foi chamado. - falei, meus punhos se fechando enquanto eu deixava minha individualidade ondular entre nós. Eu sabia que não tinha mais nada que eu pudesse fazer e também sabia que Midoriya estava preparado para me atingir, afinal, eu podia ver a individualidade dele sendo ativada. -Você deveria me deixar ir embora.
-A gente já chamou a polícia. É só questão de tempo até um herói profissional aparecer. Acabou, Atsu-chan. - Ochako disse, seus olhos me dizendo o quanto ela queria que eu me entregasse e que dissesse que aquilo tudo não passava de um grande mal entendido. Mas eu não podia fazer nada disso.
-Vocês não me deixam nenhuma escolha. - suspirei, infeliz. Acho que isso deve ter ativado algum sensor de perigo nos três, pois eles avançaram simultaneamente na minha direção, mas tarde demais.
Minha individualidade atingiu os três com tanta força que os fez caírem de joelhos enquanto tentavam conter a dor que percorreu seus corpos. Era um golpe baixo, eu sabia, digno de Ichiro; ver meus amigos se contorcendo de dor e tentando não gritar foi algo que destruiu meu coração em milhares de pedaços, serviu para quebrar o que ainda restava de mim mesma. Eu queria desviar o olhar, mas não podia; eu queria fazer milhares de coisas que não podia, ciente de que estava sendo observada e que precisava me provar. Eu só queria que aquilo acabasse de uma vez por todas; ou ia acabar destruindo a mim mesma antes disso.
Enfiei minhas mãos que tremiam no bolso da calça jeans para que ninguém pudesse enxergar enquanto caminhava até Midoriya. Ninguém parou para observar a cena, ninguém sequer pareceu entender o que estava acontecendo ou só não se importavam. Eu apenas coloquei a sola do meu all star nas costas de Midoriya e o empurrei, fazendo ele cair de cara no asfalto. Tinha algo sobre aquilo tudo que revirava meu estômago e me fazia ter vontade de vomitar, e essa vontade só ficou ainda maior quando ele se virou para me fitar com os olhos verdes cheios de dor e determinação em me parar.
-Por que você não pode só deixar pra lá, Izuku? - eu disse num sussurro, minha voz rasgando quando saiu da garganta. -Por que não consegue só esquecer que eu existo? Você não pode me salvar, mesmo que queira tentar.
Eu fiquei surpresa quando Midoriya se livrou da dor que eu o causava e me deu uma rasteira, me fazendo bater a cabeça contra o concreto. Eu soltei um gemido de dor, tudo girando por um instante.
-Todo mundo merece uma segunda chance, e eu sei que você não é assim, Atsuko. Deixa a gente te ajudar!
Eu queria; queria muito deixar que Midoriya me ajudasse, queria deixar ele me vencer, chorar e falar que não estava mais aguentando, que toda essa farsa e esse fingimento estavam me matando. Mas eu não podia. Eu precisava continuar o que tinha começado. Se não por mim, para pelo menos manter a integridade de Hawks. Não podia colocar ele em perigo por eu ser fraca demais e não estar mais aguentando todo esse peso sobre meus ombros; eu precisava continuar forte.
Izuku podia até não saber o que estava acontecendo, mas percebeu que eu não ia parar. E assim nós dois entramos em uma luta onde nenhum dos dois queria exatamente atacar. Eu sabia que Ochako e Iida tinham se livrado da minha individualidade, mas não eram capazes de avançar, pois eu tinha criado um campo para impedir que os dois atrapalhassem.
Eu odiava essa situação e odiava Ichiro mais ainda por ter me colocado dentro dela. Era claro que ele sabia exatamente o que estava fazendo quando me chutou e me largou ali para lidar com Midoriya. Ele queria que eu terminasse o que tinha começado naquela noite em que revelei estar com a Liga; ele queria que eu provasse algo que nem mesmo eu queria.
-Não tem pra onde correr! - Midoriya disse me atacando, mas usei minha força telecinetica para devolver o golpe para ele, fazendo Midoriya atravessar o shopping e atingir em cheio a parede.
-Eu vou dar um jeito. - murmurei, se para Midoriya ou para mim mesma, eu não sabia dizer. Parecia que ultimamente eu vinha tentando dar um jeito em tudo mas não conseguia ajudar em nada. Ter aceitado ajudar a Comissão foi um erro. Agora eu estava arcando com consequências maiores do que eu havia imaginado. -Desiste, Izuku! Eu não vou colaborar com vocês! E não me subestime. Eu não estou usando metade da força que eu tenho. Você pode ter lutado e vencido vilões bem mais fortes fisicamente. Mas sua mente é frágil demais. Em um estalar de dedos eu te coloco a sete palmos abaixo da terra. Então sugiro que me deixe em paz.
Eu só consegui dar um passo na direção de Midoriya para tentar mostrar a ele que eu não estava blefando, mesmo que estivesse sim. Só consegui dar um passo pois, no segundo seguinte, tomei um soco tão forte no rosto que acabei caindo e deslizando pelo chão. Eu nem mesmo tinha notado essa aproximação até ser tarde demais.
Estendi a mão e cuspi um dente nela, sangue escorrendo para todo lado. Pisquei, perplexa, enquanto levantava a cabeça para encarar olhos vermelhos que me fitavam com tanta raiva que chegava a ser palpável. Pequenas explosões tomaram forma nas mãos de Katsuki, e se Midoriya estava se contendo até agora com medo de me machucar apesar de tudo, Katsuki não hesitaria nem mesmo por um segundo. Eu era capaz de sentir toda a vontade que ele estava de acabar comigo.
-Você me fez perder um dente do fundo. - rosnei enquanto me levantava e estendia meus punhos, sentindo tudo ao meu redor começar a levitar. Gritos começaram logo em seguida. -Isso não foi nada legal, biribinha.
-Eu vou matar você, sua babaca do caralho.
Ver a forma como Katsuki estava nutrindo um ódio tão profundo por mim doía em um nível absurdo, mas eu também entendia. Afinal, eu tinha traído ele. Eu deveria ser a pessoa a sempre estar do lado dele e tinha o apunhalado nas costas. Sabia que Katsuki jamais ia me perdoar por isso e sabia o como ele estava com vontade de acabar comigo naquele momento.
-Espera, cara. Essa não é a solução! - Kirishima tentou segurar Katsuki, mas não teve um sucesso muito grande com isso quando o loiro avançou contra mim.
Eu sabia como Katsuki lutava; treinavamos juntos e costumávamos a frequentemente formar dupla. Por isso, não foi exatamente difícil desviar de Katsuki. Mas foi difícil de bloquear de forma eficaz a explosão que ele lançou na minha direção.
-Kacchan, espera! - Midoriya gritou. Mas nem mesmo se o céu estivesse caindo Katsuki pararia, não quando sua raiva era capaz de queimar o mundo inteiro.
-Para com essa merda! - rosnei com irritação, dando uma joelhada no estômago de Katsuki e logo em seguida recebendo outro soco. Não era exatamente uma batalha de individualidades, mas sim uma tão cheia de mágoa que chegava a ser um incômodo.
-Se tem algo que eu me arrependo, é de ter conhecido você. - Katsuki cuspiu e algo dentro de mim se partiu ainda mais, mesmo que talvez eu não tivesse direito daquilo. -Espero que você morra na prisão!
Apesar do estado alterado de Katsuki, percebi que aquilo era só uma distração para que eles me cercassem por completo, não deixando brecha para eu fugir. Soltei uma risada incrédula.
-É sério? Vocês realmente acham que vão me parar? Isso é patético. - eu falei com um sorriso, apesar de saber que eles tinham um plano inteligente. Bem, não ia adiantar. Não quando eu já não era a mesma Atsuko. E não quando Ichiro tinha me ensinado tanta coisa, querendo ou não.
O lugar mudou completamente; de repente, não estávamos mais no meio do shopping, mas sim dentro de uma casa de espelhos, o que fez todos ficarem confusos.
-Que porra é essa? - Katsuki tentou avançar na minha direção, apenas para bater contra um espelho. Eu apenas deu um sorriso sarcástico para ele. -Sua filha da puta!
Midoriya e Ochako estavam correndo que nem barata tonta tentando achar uma forma de sair daquele lugar, mas para onde eles corriam, apenas surgia um caminho diferente, como um labirinto infinito de espelhos. Iida não estava diferente, e Kirishima achava que conseguiria quebrar os espelhos, mas aquilo era impossível.
-Essa porra é uma ilusão. - Katsuki disse, estalando a língua e abrindo um sorriso sarcástico. -Você ficou melhor, né. Mas se acha que isso vai ser suficiente, tá se achando demais!
-Eu não quero brigar e nem preciso disso. Você tá certo, uma hora algum de vocês vai conseguir se livrar da ilusão e despertar, mas ai vai ser meio tarde. Já vou estar bem, bem longe. - falei, balançando a mão em um gesto de tanto faz. -Boa sorte ai pra vocês.
Eu estava preparada para me virar e sair, para fugir daquele shopping.
Mas eu não era a única pessoa que conhecia bem demais minha própria mente. Katsuki já tinha estado ali mais vezes do que eu gostaria de admitir. O que também me deixava vulnerável.
Soltei um grito perplexo quando ele conseguiu atravessar facilmente minha ilusão e me derrubar contra uma parede de espelhos que na verdade era só a fonte do shopping. Minhas costas gritaram de dor e eu soltei um gemido infeliz enquanto Katsuki apertava suas mãos com força contra mim.
-Você não vai fugir. - ele cuspiu.
Eu apenas respirei fundo. Eu não queria fazer aquilo, mas...
Katsuki arregalou os olhos e, então, se afastou, caindo de joelhos no chão. Ele tossiu enquanto tentava respirar, mas o ar não chegava até seus pulmões, porque minha telecinese estava o impedindo de fazer isso.
-Você não me dá nenhuma escolha. - murmurei, o desespero me corroendo aos poucos.
Eu só queria que isso acabasse.
Eu só queria...
De repente, a ilusão se desfez e minha individualidade parou de funcionar. Katsuki voltou a respirar e minhas pernas fraquejaram; Era como se minha individualidade tivesse sido completamente sugada, e toda a força que ainda me mantinha de pé se esvaiu completamente, me fazendo cair de cara no chão.
A última coisa que vi antes de apagar completamente, foi Aizawa sensei chegando junto com a polícia. E eu apenas consegui reprimir um suspiro aliviado antes de tudo ficar escuro.
Boa noite povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Sei que ultimamente os capítulos vem sendo puro surto ultimamente, mas prometo que vamos ter refrescos nos próximos capítulos, Atsuko já tá sofrendo demais :')
Sim, o pai dela é um merda e louco, mas ele não tá exatamente errado por desconfiar dela 🤡
Prometo tentar atualizar com mais frequência, quero finalizar a fanfic logo e focar em hot chocolate
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 12/10/22