Quando o amor é pra sempre: A...

By Strange-Boy

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Segundo volume de "Quando o amor é pra sempre", "A história de Gael" conta a história do filho adolescente de... More

[1] prólogo 🏫
[2] o jogo de basquete 🏀
[3] arcata court mall 🏬
[4] suco de laranja🍊
[5] parabéns, Chrissie 🎂
[6] o acordo 📝
[7] o incidente ⚠️
[8] os sobreviventes e o memorial ❤️‍🩹
[9] como um relâmpago ⚡
[10] revelações 📖
[12] o circo 🎪
[13] entre o bem e o mal 😇😈
[14] se rendendo ao amor? ❤️
[15] contagem regressiva 🕗
[16] o baile de formatura 🕺

[11] sou um furacão 🌪️

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By Strange-Boy

Ainda estava áereo naquela noite enquanto esperava o meu pai Harry terminar de servir o nosso jantar na mesa.

Começamos a comer os três, em um silêncio um tanto constrangedor. 

Eu poderia me esforçar pra puxar algum assunto, se minha mente não estivesse em uma repetição constante de tudo o que havia acontecido há algumas horas atrás naquele vestiário. 

— O espaguete tá bom? — meu pai Harry perguntou.

— Está sim. — balancei a cabeça positivamente. — Tá ótimo como sempre. 

— Que bom. 

Continuamos a jantar, apenas ouvindo o barulho dos talheres e da chuva lá fora. 

— Gael, seu outro pai está bem chateado com você. — meu pai Harry falou.

Meu outro pai respirou fundo, como se estivesse tentando evitar o assunto. 

— Eu sei. — olhei para os dois. — E ele tem razão de estar. 

— Bom... E você tem alguma coisa a dizer pra ele ? — ele ergueu as duas sobrancelhas esperando uma resposta positiva de mim.

— Sim. — olhei pro meu pai Scott. — Pai... Desculpa por ter elevado minha voz com você ontem. Eu realmente não quis fazer aquilo. Eu tava muito triste e irritado. Sei que não justifica, então me desculpa.

 Ele me olhou e balançou a cabeça positivamente.

— Desculpa também por dizer aquelas coisas. Não queria ter dito nada daquilo. 

— Tá bem. 

— Eu amo a história de vocês, amo que sempre me conta ou lembra de algumas partes específicas que gosta muito. 

Eu sorri e ele também o fez. 

— Tudo bem, Gael. Sei que estava irritado e eu também meio que insisti e não respeitei o seu espaço... Me desculpa por isso também.

— Tá tudo bem, pai.

— Agora sim, meninos. — meu pai Harry sorriu ao entreolhar nós dois e ajeitar o seu óculos. — Viu só? Não foi tão difícil ter essa conversa. 

— Eu queria te dizer só mais uma coisa. Estive pensando bastante nisso. — meu pai Scott me olhou nos olhos. — Nada é perfeito nem mesmo em conto de fadas, meu filho. Eu e o seu pai, a gente passou por tanta coisa ruim... Foram muitas batalhas, muitas desavenças, obstáculos... E até hoje temos nossos desafios para enfrentarmos juntos, mas... O amor é isso, entende?

— Entendo. 

Eu entendia sim, mas com dificuldade ou sem, não existia jeito entre mim e Caleb. Meus pais não faziam nem ideia.

E nem eu gostaria de falar sobre também.

— A vida não é fácil, Gael. — completou meu outro pai. — Mas sabemos o quanto você é forte pra enfrentar o que foi preciso. Enquanto isso, tem o nosso apoio pra tudo. 

— Eu amo vocês. 

Sorri. Foi tudo o que eu conseguia dizer na hora. Foi tudo o que eu quis dizer.

— Também te amamos.

— Também te amo.

Depois que subi para o quarto, liguei pra Hans.

— Tá podendo falar agora?

— Tô sim, tô em casa, sem nada pra fazer. 

Contei pra ele o que havia acontecido, que havia me desentedido com o meu pai e felizmente já tinhamos nos entendido novamente. 

E então, contei o principal. Contei tudo o que havia acontecido no vestiário. Tudo o que eu ouvi da boca de Caleb. 

— Cara... Que maluco!

Hans precisou processar as informações pois não tinha muito o que comentar além disso.

— Então ele tem inveja de você? É isso? Ele sabe que a reputação dele é a coisa mais fútil e supérflua, porque nenhum amigo dele alí é amigo de verdade.

— Pois é.

— Mas ao mesmo tempo, ele não quer abrir mão disso tudo, não é? É um grande babaca covarde. 

— Hans...

—O que foi?

— Sei lá. A gente não sabe o que se passa na mente dele. Cada um tem suas dificuldades.

— Lá vem você defendendo esse cara...

— É que-

— Não tem "é que", não tem "mas", japa. Se ele quer ser você ou como você, que seja, então que ele aprenda com você e comece a agir de forma diferente! 

Conversar sobre isso com Hans era complicado. Ele não tinha a mesma paciência que eu e eu não o julgava por isso. Pedi para mudarmos de assunto e ele me contou sobre o seu dia com Chrissie. Depois de mais algum tempo no telefone, desliguei e fiquei lendo livro antes de dormir.

Era fim de semana, então aproveitei pra sair pro shopping com Chrissie. Foi divertido. Ela não cansava mesmo daquele lugar. 

No domingo, fui comer fora com os meus pais e ficamos vendo alguns filmes de comédia romântica no restante do dia. 

Acordei na segunda feira sem vontade alguma de ir pra escola, mas fazer o quê. Eu tinha que ir. 

Hans apareceu com um novo visual: Um novo corte de cabelo.

E não era qualquer corte, era o mesmo flat top que Luke usava.

— Nossa, corte novo... Ficou um arraso.

— Gostou? Obrigado, obrigado. — ele se vangloriava com um sorriso besta no rosto enquanto alisando o cabelo com a mão.

— Luke tem esse mesmo corte de cabelo. 

— Eu sei, seu namoradinho da cidade antiga, não é?

— Ele não foi meu namorado, você sabe disso!

— Mas eu me inspirei nele mesmo. Gostei do corte dele naquele dia que o vi na festa. — ele riu.

— Ficou ótimo em você também. — sorri.

Quando estávamos descendo as escadas para o intervalo, Corey veio do meu lado e Troye do lado de Hans.

— E aí, japa, como o seu amiguinho te chama, por que não volta pro país de onde veio? Aqui não é lugar pra você. — disse Corey. 

Revirei os olhos e ignorei.

— Vê se cala essa boca. — Hans apontou o dedo pra Corey e depois para Troye. — e você nem pensa em começar.

— Nossa, que medo! — Troye falou alto tom, cheio de sarcasmo.

— Eu até hoje não superei o que fizeram com a Chrissie. Era dia do aniversário dela! — Hans estava se alterando. 

— É só não mexer com a gente, mas ela teve que fazer o contrário, não foi? — Troye disse.

— Ela teve o que mereceu naquele dia. — Corey riu.

— Vem, Hans, vamos embora. — segurei no braço dele e o puxei pra longe daqueles dois conforme terminávamos de descer as escadas.

Cruzei olhar com Caleb, que estava esperando os dois idiotas descerem. 

Foi preciso puxar Hans o mais rápido possível, do contrário era provável que saísse uma briga. 

— Sei que é difícil, amigo, mas tenta ignorar eles o máximo possível. Eles só querem arrumar encrenca...

— Eu sei. — Hans bufou. — Eu sei...

Os dias da semana passaram sem nada de novo acontecendo. 

Continuei ignorando Caleb e ele fez o mesmo. Não me atrevia nem a olhar pra ele. Ele nem sequer mexeu mais comigo de forma alguma.

O clima foi melhorando, a chuva foi parando aos poucos, até parar de vez. Os últimos dias foram ensolarados. Com essa melhora do clima, o professor de sociologia quis fazer um experimento com a gente. Ele propôs uma excursão para o fim da semana que vem, onde passaríamos uma noite num acampamento na área de reserva florestal de Arcata. 

Celulares e quaisquer outros equipamentos eletrônicos estariam proibidos. Até mesmo relógios de pulso eram proibidos. Ficaríamos mais de 24h sem contato com o mundo exterior daquele local. 

Lá no acampamento ficaríamos hospedados em uma cabana de madeira com hall, cozinha interna e externa, dormitórios, banheiros... Porém, sem energia elétrica alguma. 

A princípio, eu não quis participar disso, mas Hans me perturbou tanto porque ele queria ir e não iria sozinho sem mim. Então eu aceitei. 

Meus pais foram relutantes em aceitar, mas depois de insistir um pouco acabaram cedendo. 

Então, o dia chegou e fui no fim da tarde para a escola para pegar o ônibus de excursão. 

— Filho, lembre-se de tudo o que falamos, sim? — meu pai Scott me dizia com a mão apoiada no meu ombro.

— Toma muito cuidado. — foi a vez do meu outro pai. — Lembra de-

— Tá bom, pai e... pai. Eu já sei. Eu já sou bem grandinho. Prometo que vou me cuidar, tá bem? Não se preocupem demais.

Dei um beijo no rosto de cada um e nos despedimos.

Chrissie estava chateada porque queria participar da excursão, mas ela não era da nossa turma e apenas a nossa turma estava indo, o que fez com que outras turmas ficassem chateadas e até com inveja. O professor pediu desculpa a eles e explicou que não podíamos arcar com tanto custo ao mesmo tempo, mas que com o passar do tempo, ia propor outras excursões e experiências similares para essas outras turmas.

Um ônibus era para os meninos e outro para as meninas. Assim como os dormitórios que nos aguardavam na cabana.

A ideia de dormir no mesmo quarto que Caleb me dava um frio na barriga, mas meu estômago embrulhava ao imaginar que nesse mesmo quarto estariam Troye e Corey.

Será que ter vindo nessa excursão foi mesmo uma boa ideia?

Sentei no fundo do ônibus com Hans. Literalmente nos últimos dois bancos da direita. A bagunça já havia começado enquanto o restante dos meninos entravam. 

Me surpreendi quando Caleb também veio até o fundo, distante dos seus "fieis amigos", para se sentar no banco do meu lado oposto, nos bancos da esquerda. Ao invés de se sentar no banco próximo a janela, ele se sentou no banco que ficava ao lado do corredor do ônibus, ficando mais perto de mim ainda.

Eu e Hans nos entreolhamos com um olhar esquisito. 

Todos entraram e ninguém sentou do lado de Caleb.

Será que ele havia se desentendido com o pessoal de novo? Isso vivia acontecendo.

Caleb colocou seus fones de ouvido e cruzou os braços, olhando pela janela do seu lado. Eu pensei que não podíamos trazer celular ou nenhum equipamento eletrônico... Mas claro, Caleb quebrou as regras. 

Notei o que ele segurava em sua mão. Não era celular, mas sim um... MP3? Era assim que as pessoas chamavam isso na época, não era? Eu já havia ouvido falar disso, meus pais já haviam me mostrado um. Nossa, não acredito.

Depois de vários minutos, o ônibus finalmente partiu. 

Enquanto a noite ia caindo, alguns meninos estavam cantando e até mesmo o professor, que estava próximo ao motorista.

Outros conversavam, assim como eu e Hans. 

A viagem ia demorar algumas horas.

Em algum momento, percebi que eu estava falando sozinho igual um idiota. Hans havia adormecido com a cabeça encostada na janela.

Sem sono algum, bufei e percebi que o ônibus todo, praticamente, estava em silêncio. A maioria estava dormindo. Até o professor estava dormindo. Nem era de madrugada pra isso!

Os que ainda conversavam, faziam isso em sussurros.

Olhei para o meu lado esquerdo e vi Caleb adormecido também. Ele ainda estava usando seu MP3, porém, somente com um dos fones. O outro estava pendurado. 

Pensei em pegar e colocar no meu ouvido. 

Não pensei duas vezes. 

Com cuidado, estendi minha mão e segurei o fone que estava pendurado.

Posicionei cuidadosamente na minha orelha, encaixando. 

 "E há uma tempestade que você está começando agora...
Eu sou um errante
Sou um caso de uma noite só
Não pertenço a nenhuma cidade
Não pertenço a ninguém
Eu sou a violência na chuva que cai
Eu sou um furacão"


Conforme eu ia escutando a música que tocava em seu MP3, me sentia conectado com Caleb de alguma forma, através daquele fio do fone que ia de um banco a outro, passando pelo corredor do ônibus. 

Estava tudo bem até que ele se mexeu durante o sono. Com o susto, tirei o fone do meu ouvido e olhei pro outro lado. Tentei dormir depois, mas não consegui.

Não demorou muito mais até que chegamos no acampamento. 

Todos foram se levantando aos poucos.

— Hans, acorda. — apoiei minha mão em seu ombro e o balancei.

— Hã? — ele bocejou e se espreguiçou depois de entender que chegamos.

O professor desceu com a gente do ônibus e foi receber as meninas que vinham no outro. Juntos, fomos até as pessoas que nos receberiam e eles nos cumprimentaram. Nos mostraram a área externa, os cômodos da cabana, que por sinal era enorme e bem espaçosa... E então ficamos de fazer uma fogueira antes da hora de dormir.

Eu e Hans nos sentamos nos degraus da entrada da cabana enquanto as pessoas a nossa frente preparavam pra fazer a fogueira. 

Eu e ele conversávamos sobre coisas banais, até que Caleb se aproximou da gente.

Paramos de falar e o olhamos.

— Ei, será que algum de vocês tem algum isqueiro? 

Eu e Hans nos entreolhamos.

— É pra... — ele continuou. — Bom, você sabe. Pra acender a fogueira.

— Eu não tenho. — Hans falou.

— Nem eu. 

— Ah, tudo bem. — Caleb deu as costas e virou, voltando até a fogueira.

— Aqui, achei! — uma menina tirou o isqueiro da bolsa. — É do meu pai.

— Sei. Todos nós sabemos que você fuma. — outra menina comentou.

— Cala a boca!

Hans e eu rimos. 

— É, japinha. Acho que esse menino é bipolar.

— Será? — suspirei. — Acho que não. Acho que ele só é muito confuso mesmo.

Nós dois não nos sentíamos confortáveis e nem íntimos para sentar ao redor daquela gente toda na fogueira. Algumas pessoas, as mais legais, até nos convidaram, mas educadamente recusamos, dizendo que estávamos bem ali. 

— Ah, deixa esses dois babacas pra lá! Eles tão namorando alí na escada. — Troye riu.

— É, cacete, eles só vão estragar tudo aqui mesmo. — Corey completou.

A gente costumou fazer o de sempre: Só ignorar tanta asneira, apesar de irritar (às vezes até bastante).

Caleb me fitava de longe com uma expressão enigmática no rosto. Gostaria de continuar o evitando, então só desviei o olhar. 

Eles ficaram conversando sobre coisas bobas e contando histórias de terror até muito mentirosas, mas a conversa com Hans estava muito mais interessante fora daquela fogueira.

Nosso professor já estava morto de sono, então ele entrou para dormir.

Devido a esse fato, ouvimos algumas pessoas dizendo que iam aproveitar pra começar a jogar verdade ou consequência.

Céus, como eu odiava esse jogo.

— A gente vai girar esse galho aqui. — um menino disse segurando o galho. — Pra quem a ponta mais grossa apontar, vai ter que fazer a pergunta ou o desafio pra quem a ponta mais fina estiver apontando, ok?

— E podemos escolher até duas verdades seguidas. Na terceira vez tem que ser consequência. — uma menina continuou.

— Isso. — concordaram. 

— Quem recusar a consequência já está fora da roda. 

Eu e Hans nos entreolhamos novamente, revirando os olhos. Que chatice.

Continuamos a conversar enquanto eu via aquele jogo avançando. Rolaram alguns beijos entre casais supostamente caidinhos um pelo outro, rolou gente tirando a camisa, ficando de cueca ou até mesmo de sutiã. 

Caleb fez perguntas rasas nas duas vezes que teve que perguntar para dois meninos diferentes. "Quantas meninas já beijou?" e "Você é virgem?". 

Até que uma menina teve que fazer uma pergunta pra ele.

— Verdade ou consequência, Caleb?

— Verdade.

Era a primeira rodada dele.

— Bom... Então... E você, Caleb, é virgem?

Vieram as gargalhadas.

Nossa, que engraçado... Só que não.

— Óbvio que não! — ele sorriu e passou a mão no cabelo, aparentemente meio sem graça. 

Mais algumas rodadas e foi a vez dele responder a segunda pergunta. 

— Verdade ou consequência, Caleb? — o menino perguntou.

— Verdade.

— Já é sua última, hein... A próxima já é consequência dele, pessoal.

Algumas pessoas começaram a gritar, ansiosas para verem qual seria a próxima consequência da próxima vítima da roda da fogueira. 

— Qual foi a maior vergonha que você já passou na vida? — o menino então perguntou.

— Cara... — ele coçou a cabeça. — Foram tantas coisas... É difícil dizer. 

— Escolhe uma logo e fala ou então tá fora do jogo!

— Tá bom, tá bom! — ele respirou fundo. — Acho que nunca passei tanta vergonha como nesses dias.

— Como assim? Conta direito. 

— Eu fui um grande idiota com alguém que-

— Ah, foi com uma menina, não é? Só pode. Mais uma vez Caleb arrasando corações... Ou sendo arrasado de volta! — o menino riu.

— Não interessa, só escuta! — Caleb elevou a voz. — Você perguntou sobre a situação e é isso que estou contando. Sem mais detalhes.

— Chato pra cacete ele!

— Vai querer ouvir o resto ou não? — Caleb perguntou. 

— Claro, ou esá fora do jogo e da roda.

— Pois bem... Eu agi igual um crianção tentando chamar a atenção de alguém que eu queria que me notasse mais e... Sei lá, fiz coisas muito idiotas pra isso. — Caleb riu, meio sem graça. Me olhou por uma fração de segundos e depois desviou o olhar. 

Ele estava falando de mim?

Estava dizendo que a maior vergonha que passou na vida foi comigo? Foi isso mesmo?

— Caralho, ele tá falando de você, não é? — Hans riu depois de sussurrar.

Eu me senti completamente desconfortável. Meu coração acelerou e parecia que estava querendo sair pela boca.

— Qual é, Caleb? Vai dar uma de menininha frágil agora? — disse Corey. — Vê se age feito homem.

— Cala a boca. — Caleb respondeu.

— Ah, tu me irrita às vezes, puta merda! 

— Me respeita. — ele apontou o dedo indicador.

— Por que? Só porque é o capitãozinho do nosso time de futebol? Ninguém nunca te nomeou como líder, você que acha que é um, mas não passa de um-

— De um o quê? Fala se você tem coragem! — Caleb gritou. 

— Chega, gente, chega! Vamos voltar ao jogo! — uma menina interrompeu a briga que estava prestes a se intensificar.

Os dois bufaram e voltaram a ficar quietos, cada um no seu canto.

O jogo continuou e eu estava me sentindo nervoso.

— Eu vou pegar água. — avisei a Hans enquanto eu levantava. 

— Tá bem.

Entrei na cabana e fui pegar um copo de água na cozinha. Tentei me acalmar respirando mais calma e profundamente. Depois de alguns minutos, isso finalmente funcionou.

Deixei o copo na pia e voltei para a entrada da cabana, me sentando novamente ao lado de Hans.

— Se divertindo com o jogo deles? — perguntei de forma irônica.

— Muito! — ele respondeu da mesma forma. — Acabou de perder uma garota que saiu porque se recusou a fazer boquete em alguém. 

— Não acredito. — eu ri. — Isso tá demais.

— E vai ficando cada vez pior.

— Vindo desses aí? Com certeza.

— Sabe, japinha, e se o Caleb gostar de você também?

— Duvido, ele não gostaria de mim. Jamais. Duvido que ele seja bi. 

— Eu não duvidaria.

— E mesmo que seja, ele não é afim de mim. Ponto.

— Eu não diria isso. Não é nada impossível.

— Pra mim é.

— Então porque ele estaria tanto afim assim de chamar sua atenção?

— A gente nem sabe se ele estava falando de mim mesmo...

— É claro que estava! Isso tá óbvio!

— Bom, suponhamos que sim. Ele quer chamar minha atenção desse jeito porque eu sou o único que trata ele bem de verdade. É isso. 

— E mais o quê?

— Porque no fundo ele quer ser meu amigo mas não sabe lidar com isso, não pode ser amigo de um estranho e perdedor como eu. Sua reputação se mancharia completamente se isso acontecesse.

— Ai ai. — Hans riu. — Eu ainda acredito na minha teoria.

Revirei os olhos e continuamos a ouvir o resto daquele jogo maluco.

O pior aconteceu.

Corey deveria perguntar pra Caleb.

— E então, grande Caleb... Verdade ou consequência?

Caleb ficou em silêncio.

— Vai arregar?

— Consequência.

— Ah, que ótimo! — Corey se levantou e foi até uma de suas mochilas, tirando uma grande sacola lá de dentro. — Eu desafio você... A comer quantas dessa você puder.

Corey caminhou até Caleb e virou a sacola de cabeça pra baixo, deixando cair uma grande quantidade de laranjas.

Eu não acreditava que ele estava sendo capaz de ser tão mal assim. Isso já havia passado dos limites.

Que amigo era esse? Jamais poderia ser um amigo, jamais! Antes eu já não tinha nenhuma dúvida, mas agora eu já estava tendo certeza de que ele era de Caleb, afinal, um inimigo.

— Nossa, que desafio mais aleatório! — uma menina riu, confusa.

Pelo visto, as pessoas não sabiam do que estavam acontecendo. Talvez só Corey e Troye, acredito eu.

E bolaram isso.

Provocaram Caleb de um jeito imperdoável.

Caleb se levantou, ainda assustado, deu as costas e saiu andando apressademente em direção a floresta. 

— Eu não entendi nada. Ele não gosta de laranjas? — um menino perguntou.

— É, ele tem pavor. — Troye riu.

Ao olhar pra Hans, ele estava com um olhar enfurecido no rosto. Nem mesmo ele que gostava de Caleb, quis defendê-lo, pois aquilo já estava em um nível absurdo.

Hans ameaçou levantar da escada e ir em direção aos dois babacas, mas eu o segurei.

— Hans...

— Gael, não me segura.

— Eu seguro sim, por favor. Não vamos fazer disso um escândalo.

— Gael...

— Não faz isso, Hans.

— Mas por que-

— Eu não quero que ninguém fique sabendo dessa questão dele. Vai ser só pior pro lado dele. Vamos evitar criar uma confusão, meter você em encrenca e ainda por cima explanar essa história? Por favor?

— Gael, eu queria ir lá e socar aqueles-

— Por favor. Se não por Caleb, por mim. Por mim?

Hans se calou e respirou fundo.

— Tá bem, seu idiota. Tá bem. 

— Obrigado...

— Eu vou entrar. Chega. Pra mim já deu.

— Isso, entra e fica quieto no seu canto, por favor.

— E você? Não vem?

— Agora não.

— Ai não...

— O que?

— Você vai atrás dele, não é?

— É claro. Você espera aqui.

— Japa, cuidado.

— Pode deixar, não sou nenhum bebê.

Me virei e aproveitei que estavam todos distraídos ao redor da fogueira com o restante do jogo para passar por volta e ir até onde Caleb tinha ido.

Estava muito escuro, mal conseguia enxergar por onde eu pisava. Não queria chamar o nome dele pra chamar atenção de ninguém, mas ao mesmo tempo não fazia ideia de onde ele tinha ido.

Tomava o cuidado de olhar pra trás pra ver as chamas da fogueira. Assim, eu não me perderia.

Caleb tinha andando até demais. Parecia que eu nunca ia encontrá-lo. 

Eu não sabia como, mas acharia ele.

De repente, enquanto estava fazendo a idiotice de olhar pra trás enquanto caminhava, levei um escorregão e quase caí em um desfiladeiro. 

Mas algo me segurou.

Algo não, alguém. Era Caleb.

Me segurava pelo meu braço esquerdo. 

Ainda assustado, me ajeitei, pude ficar de pé e me afastar um pouco daquele deslizamento de relevo tão perigoso. 

— Caleb, obrigado... 

— Olha por onde anda.

Ele soltou meu braço. Notei que em sua outra mão, ele segurava aquele canivete, preparado para usar em alguém como forma de defesa?

— Pensei que era outra pessoa. — guardou o canivete na manga do casaco e ficou me encarando com uma expressão séria no rosto. — O que veio fazer aqui?

— Eu fiquei preocupado.

— Não precisa ter pena de mim, Gael. Não me humilhe mais ainda.

— Não é isso... 

— Sabe... — ele olhou pro desfiladeiro, lá pra baixo. — Eu tava olhando essa descida aqui e às vezes eu fico pensando... E se eu me jogasse? — ele riu.

— Nem brinque com isso.

— Nem é brincadeira. Falo sério.

— Mesmo que pense, não faça.

— Por que não? Não é sua decisão. Ninguém vai sentir minha falta mesmo. Ninguém. 

— Isso é mentira.

— Para com isso de falar como se soubesse da minha vida, Gael! — ele se virou pra mim com uma expressão de raiva em seu rosto. Apesar do escuro, eu conseguia decifrar perfeitamente.

— Eu sentiria sua falta. — falei sem pensar duas vezes.

— O quê? — ele franziu o cenho pra mim.

— Eu sentiria sua falta, e muita. 

— Mas por que? — ele riu. — Está blefando só pra fazer eu me sentir melhor. 

— Então por que acha que me preocupo com você? Por que acha que vim atrás de você?

— Eu...

— Por que só não confia em mim, Caleb?

— Vou ser sincero, Gael, eu não confio em ninguém!

Respirei fundo e me aproximei dele. 

— É verdade mesmo, Gael? — ele prosseguiu a falar. — Eu te magoei com todas aquelas coisas idiotas que fiz com você, não foi?

— Claro que sim. 

— Eu sou um idiota. Por que você ia querer se aproximar de uma pessoa assim? 

— Porque eu... Porque... Porque eu...

Por um triz, eu não disse que eu estava apaixonado por ele.

Até queria, mas não saía de jeito nenhum.

— Você foi algo que conseguiu me trazer alguma esperança nesses momentos, foi você que fez eu começar a terapia. Eu voltei a me sentir bonito, voltei a gostar de mim e do meu corpo por causa de você.

— Não, Caleb, isso foi você. Eu só dei um empurrãozinho.

— Que seja, Gael, mas de qualquer forma, eu não mereço você. Não mereço nada de bom na minha vida mesmo. É algo que tenho que me acostumar. — ele olhou pro céu enquanto apoiava as mãos no quadril. — Eu não sou uma boa pessoa.

— Eu não diria isso.

— De novo vou dizer: Você não me conhece. Me desculpa pelas coisas horríveis que já falei pra você. Você certamente não merecia nada disso. 

— Tudo bem, eu desculpo você.

— É que é complicado... Eu sou complicado. — ele riu pra mim. — Você tem que ficar longe de mim.

— Mas eu não quero.

Andei mais perto ainda de Caleb e o abracei forte. 

— Eu não quero mais ter que ficar longe de você. — completei.

Abraçá-lo foi algo que me fez sentir como se eu estivesse virando de cabeça para baixo. Não sentia as famosas borboletas no estômago desde a época que gostava de Luke, mas de alguma forma, pareciam muito mais diferentes dessa vez. Era tudo mais intenso.

Mas era estranho abraçar alguém que não me abraçava de volta. Talvez ele estivesse assustado.

Até que ele retornou o abraço e começou a chorar de um jeito brando.

— Não, Gael... Para. — ele se afastou do meu abraço e limpou o rosto. 

— Não precisa ser assim.

— Precisa sim. — fungou o nariz. — Quanto a isso tudo, não se preocupa comigo. Eu continuo falando sobre tudo isso com a psicóloga da escola. 

— Então você acredita sim que eu me preocupo com você. — eu sorri.

— Eu não sei. — ele coçou a cabeça. — Só vem, vamos embora.

— Tá bem. — assenti com a cabeça.

Fomos andando em direção a fogueira.

— Melhor avisar o professor sobre esse desfiladeiro. É perigoso. — falei.

— Também acho melhor. — ele concordou.

— Eu vou avisar. 

Qualquer tempinho que eu conversava com Caleb valia ouro pra mim. A quem eu estava enganando? Eu podia sentir raiva e tudo mais, mas os sentimentos sempre voltavam para a paixão que eu tinha por ele. 

— Gael, só vamos fazer o seguinte...

— O que?

— Vai na frente, eu vou depois.

— Não... Eu não vou deixar você aqui. — falei, preocupado.

— Relaxa, eu só não quero que ninguém veja nós dois juntos. Não é nada pessoal, é que... Eu só não quero arranjar problema pra você, nem pra mim. É melhor assim. 

Obviamente não pude deixar de ficar triste com aquelas palavras, Caleb não querendo ser visto comigo... Porém, entendia a finalidade e até concordava com ele. Por hoje já tinha sido demais, então era melhor evitar qualquer outra coisa. 

— Tá bem.

Então eu fiz assim. 

Entrei na cabana, fui ao banheiro escovar os dentes e me deitei na minha cama no dormitório, que ficava próxima a cama de Hans.

— Tá tudo bem? — ele me perguntou.

— Tá sim. Amanhã te conto tudo.

— Tá ok.

Depois de alguns minutos, Caleb entrou no quarto e deitou em uma cama longe de mim. 

O que seria daqui pra frente? Será que Hans tinha razão quando falava que Caleb gostava de mim também? Não sei, mas ainda acredito mais na possibilidade dele querer me ter só como um amigo ao seu lado, no máximo. Com isso, eu ficava feliz e triste ao mesmo tempo, porque como eu ia lidar com uma paixão tão intensa por alguém que só seria o meu amigo?

Eu não sei o que nos aguardava nos próximos dias, mas sentia nossa conexão ficar cada vez mais forte de alguma forma e isso me dava medo.

FIM DO CAPÍTULO;

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