Misty (Girl's Love)

By LidFlower

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(Obra Em Andamento) Títulos da obra: Misty; Nebuloso. Autora: LidFlower. Gêneros: Drama, fantasia, romance, a... More

Aviso
1 - O azul dos olhos medonhos
2 - A maciez daqueles belos lábios
3 - Vermelho como o vinho
4 - Os padrões espiralados
5 - As criaturas da montanha
5.1 - Extra: As íris azuis na pele alva
6 - Bondade justificada
7 - A pele morena refletida sob a luz
8 - O brilho cintilante das estrelas
9 - O sorriso da beleza
10 - O homem espalhafatoso
11 - Desenterrando memórias
12 - Lembranças
12.1 - Extra: Sacrifício
13 - Artefato
14 - Os brincos perolados
14.1 - Extra 4: Treinamento
15 - Luz e água
16 - A beleza da natureza
17 - Perseguição

8.1 - Extra: Os traços negros como azeviche

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By LidFlower

De volta para o dia em que se conheceram.....

*****

Frio, ao ponto de congelar os ossos, trazendo-lhe dor, cansaço e extenuação.

Já faziam longos anos. Quantos já deviam ter se passado? Centenas? Milhares?

E sua consciência esteve lá por todos esses anos? Ela já havia vivido cada segundo em tortura constante, sem estar realmente viva ou morta. Sem poder deixar o único lugar capaz de aprisioná-la por tanto tempo. Seus movimentos eram limitados àquelas águas serenas.

Ela abriu os olhos. As correntes ainda estavam lá, circundando seus pulsos. O azul intérmino em seu campo de visão continuava presente, a coloração escurecida indicando que já era noite lá fora.

Seus ouvidos estavam entorpecidos, ouvir o som das águas por tanto tempo a tornou praticamente incapaz de discernir os sons debaixo d'água.

A água não lhe fazia mal, era o lugar ideal para alguém que poderia sobreviver em ambientes aquosos e não estava limitada às condições restritivas da vida humana.

Mas as correntes ainda apertavam-lhe os braços, enfraquecendo-a, selando seu poder, deteriorando-o com o passar do tempo.

Ela já tinha sido forte, muito forte. Mas tudo foi à ruína em um dia, seu fim então chegou, e lá estava ela imersa naquelas águas que deveriam protegê-la, mas era ali que estava o único artefato com a magia necessária para selá-la.

A mulher vestida de vermelho olhou ao redor, apreciando a vista que teve nas últimas centenas ou milhares de anos.

Todos os dias eram iguais, ela não era capaz de dormir com as correntes presas a si, então apenas fecharia os olhos por horas, e depois os abriria para olhar o solo vermelho no fundo do rio, a coloração azul da água e o luar da noite.

Sua força não poderia ser comparada à de outrora, mas ela não se importava, não precisava. Não havia vivido tantos anos em vão, ela não cederia mais tão facilmente, não era um problema estar no mesmo lugar e fazer as mesmas coisas todos os dias durante séculos, sua mente podia lidar com isso.

O selo que a aprisionava fora construído com sacrifícios vivos naquela época, eram grilhões formados a partir de puro ódio, dizia-se que o ódio apenas fortaleceria o poder de um feitiço, o que, de fato, não era um mito.

Mas as capacidades restritivas do selo eventualmente se desgastariam com o efeito do tempo. Não havia como manter um selo para sempre, e ela sabia disso, e apenas mantinha-se obediente em sua prisão, sem se rebelar ou tentar lutar contra as correntes, estava esperando o momento certo.

E este momento oportunamente chegaria. E ela não o deixaria passar, afinal, não importava o quão forte fosse ou tenha sido seu poder, nunca seria suficiente para acabar com sua própria vida, essa era a sua maldição, ela não era capaz de morrer.

Se não podia morrer, então ela viveria, ainda que a vida não lhe parecesse o manjar mais deleitoso, ao menos, ela tentaria.

Meish observava as pequenas pedras flutuando sobre o solo, iluminadas pelos fracos raios do sol que em breve daria lugar à lua brilhante. Foi então que ela sentiu, inicialmente fora apenas uma sensação sutil, quase imperceptível.

Mas pouco tempo depois, sentiu de novo, um fraco fluxo de magia, era profundamente denso, criticamente concentrado.

Ela sorriu em comiseração, o quão infeliz era o ser que carregava consigo tal poder perverso?

Entretanto, este poderia ser mais infeliz do que ela própria? Os seres vivos neste mundo estavam sempre buscando a imortalidade, mas ela sabia, tinha vivido por tempo suficiente para saber que morrer poderia não ser tão repulsivo quanto parecia.

Ela deveria estar morta, mas era incapaz de dar fim à própria vida, aqueles que a condenaram também não tiveram a capacidade de matá-la, restando apenas selá-la em seu próprio lar.

As horas se passaram, e ela pôde sentir a magia aproximando-se aos poucos, como se procurasse-a, pronta para ser usada por ela, e então parou. Era sombria, intensa e profunda. Meish desviou o olhar para cima, na direção de onde sentira a magia, ainda estava lá, mas não mais se movia, como se estivesse contida por algo.

O selo nas correntes já estava precariamente fragilizado, precisava apenas de um impulso para ser quebrado, e a fonte de magia para isso estava em algum lugar próximo a ela.

A mulher fixou os olhos naquela direção por algum tempo, então estendeu uma das mãos envoltas pelas correntes prateadas, e de sua palma surgiu um fio de magia, era suave e invisível, uma quantidade escassa o suficiente para não ser restringida pelo selo enfraquecido.

Ela precisava daquela aproximação, atraindo a presa para si em vez de esperá-la chegar até lá.

Meish fechou os olhos, concentrando-se para sentir a presença da magia através do seu sentido liberado, o fio invisível enviado viajou pelo ar rapidamente à procura da fonte de magia, circulou por alguns segundos, e por fim a encontrou, penetrando imediatamente na mente nebulosa de quem quer que estivesse portando aquela magia.

E era vazia. Não havia nada relevante naquela mente, apenas lembranças retidas nas camadas mais profundas e internas, Meish não tinha energia para descobrir o que eram.

As camadas superficiais da mente eram ocas, o único sentimento presente era um medo cuja causa Meish conseguiu descobrir: era medo da morte, a mulher nunca havia visto alguém com tanta aversão ao mero pensamento de morte.

Não havia nada além de medo, nem mesmo os pequenos prazeres. O fio invisível então infiltrou-se naquela mente, estimulando ainda mais o desejo de viver presente ali, incentivando aquele ser a inconscientemente seguir na direção de origem do fio de energia mental.

Meish sentou-se no fundo do rio e aguardou pacientemente, já havia esperado por tantos anos, não se importava em esperar um pouco mais.

Ela sabia que aquele ser viria até ela, sua defesa mental estava completamente fragilizada, não foi difícil manipular sua mente com um pequeno impulso. E ela não estava errada, aquele ser não tardou a aparecer.

Subitamente, houve uma grande perturbação nas águas antes pacíficas, como se algo tivesse sido arremessado de uma longa distância.

A mulher sentada abriu os olhos para fitar a pequena coisa que havia caído no rio. E seus olhos não puderam evitar se arregalar um pouco, as sobrancelhas em seu rosto requintado erguendo-se em sinal de surpresa. Surpreendentemente, não era uma criatura, e sim…. uma humana?

Interessante.

Meish observou a jovem afundar desesperadamente nas águas, o corpo se contorcendo à procura de ar, machucados e algumas contusões cobriam-na de cima a baixo, sua vida estava por um fio, o impacto com a superfície do rio havia machucado-a ainda mais seriamente.

A mulher se aproximou de sua presa, analisando cada detalhe à vista, haviam marcas espalhadas pelos braços da garota, eram negras como azeviche, pintando sua carne de dentro para fora.

Oh, uma maldição.

A magia presente nas marcas era vil, cruel e densa. Ela não sabia como aquele corpo humano frágil havia sido capaz de suportar tanto poder sem perecer miseravelmente, e mesmo em seus últimos momentos, aquela pessoa parecia resistir obstinadamente ao poder que tentava roubar-lhe a vida.

Era uma tortura hedionda, quantos anos aquela garota deveria ter? Certamente não possuía uma resistência física e mental como a de Meish, mas conseguiu resistir a uma magia tão intensa e poderosa, o poder contido naquelas marcas acumulou-se ao ponto de estar prestes a explodir e levar consigo o corpo frágil daquela humana.

A mulher pegou a garota em agonia nos braços, observando-a lutar por sua vida lamentável. Eram aqueles padrões, pareciam estar atraindo Meish, como se quisessem que ela lhes roubasse para si.

E assim ela o fez, suas mãos tocaram delicadamente a textura negra, e lentamente, a energia densa se voltou para sua palma, se dirigindo para o seu corpo.

As marcas negras brilharam, expondo a sua cor resplandecente e dourada, uma que maravilharia os olhos de qualquer um que pudesse assistir àquela cena, mas não havia ninguém por perto para testemunhar tal beleza.

Meish forçou as correntes. Não cederam, ela precisava de mais, de um poder opressor e selvagem. Suas mãos tocaram as marcas mais intimamente, mas não era suficiente.

Hum… toque físico?

Ela tentou fazê-lo, abraçando a garota, apertando-a contra si, e a energia da maldição fluiu mais rapidamente, mas ainda não era suficiente.

Meish sorriu ternamente para a garota, fitando os olhos castanhos e amedrontados, sabia que ela ainda estava consciente, mas não desistiria da liberdade que estava na ponta de seus dedos, prestes a dar-lhe boas vindas.

Me desculpe, vou precisar fazer isso, não vou te tratar assim novamente, pensou.

Ela então encostou os lábios nos da garota. E suas mãos passaram a acariciar seus braços e costas, absorvendo a maldição o mais rápido que conseguia.

Primeiro ela esfregou os lábios, e em seguida acariciou o rosto da jovem, transmitindo para seu corpo frágil uma onda tranquilizadora, e aprofundou o beijo, se certificando de inibir os efeitos hipnóticos da água sobre a humana.

A água era o seu lugar, a sua morada, e agora também era daquela pessoa, ela gentilmente lhe concedeu momentaneamente essa bênção. Lhe roubaria a magia da maldição, e em retribuição, cuidaria de seu corpo ferido.

Meish permitiu que os efeitos curativos da água agissem no corpo da garota, primeiro cicatrizando os ferimentos mais superficiais, para então agir nos mais profundos. A mulher separou seus lábios dos da garota, fitando seu corpo agora adormecido, já era surpreendente que pudesse suportar tamanha dor estando consciente.

Utilizando-se da energia recém absorvida, ela usou o poder explosivo para forçar as correntes.

Em uma das algemas surgiu uma pequena rachadura, e então na outra, e aumentaram lentamente de tamanho, até que ambas as algemas tivessem se partido, concedendo à mulher a tão desejada liberdade.

Ela não gostava de admitir, mas a monotonicidade daquele lugar poderia ter sido suficiente para levá-la à loucura, se ela não tivesse tamanha resistência mental.

Meish segurou firmemente a jovem em seus braços e olhou para a lua prateada tremulante no céu, há tempos ela não conseguia ver a lua como realmente era, presa àquele rio, teve que se conformar em ver apenas seu brilho através da água.

Ela sorriu novamente, não importava a circunstância, gostava de receber qualquer situação com um belo sorriso no rosto.

A mulher flutuou para cima, e finalmente emergiu daquelas águas com uma garota morena nos braços, caminhando lentamente com algum esforço. Passar tanto tempo debaixo d’água a havia feito se acostumar com a fluidez, e estar novamente em terra firme fez seu corpo pesar como chumbo, cada passo dado havia exaurido suas forças, e seu estado enfraquecido contribuíra para que ela não conseguisse se afastar demais da beira do rio.

Então ela sentou-se em cima de uma pedra para descansar os membros cansados, e segurou a garota em seu colo, acariciando-lhe os cabelos molhados.

Ela estava curiosa quanto a origem da jovem. Havia trocado secretamente informações com Zhekish, ele lhe dissera que havia encontrado algo que a ajudaria a conseguir a liberdade, mas ela nunca imaginou que seria uma simples garota humana.

De qualquer forma, a garota tinha sido essencial para que ela pudesse se libertar antes do rompimento natural do selo, os oxers sempre realizavam um ritual a cada século para fortalecê-lo, mas isso não tornava o selo invicto, e poderia ser quebrado por uma quantidade excepcional de energia.

Meish tornou a fitar a garota. Não se preocupe, enquanto precisar de você, vou te proteger.

Algum tempo se passou enquanto Meish se acostumava ao ambiente terrestre novamente. E não demorou muito para que a garota começasse a se debater em seus braços, Meish segurou-a mais firmemente na tentativa de acalentar seu corpo rígido e tenso, mas não ajudou muito, e ela estava fraca demais para entrar na mente da garota.

Até que os olhos cor de mel foram novamente vistos, transparecendo toda a dor e agonia que aquela garota devia ter experimentado em seus pesadelos mais profundos, Meish sabia que era efeito da maldição, a magia sombria não apenas torturava o corpo, mas também trazia à tona os maiores traumas.

O corpo trêmulo lentamente despertou, e a garota finalmente percebeu estar deitada no colo de Meish, assustando-se em seguida, forçando seu corpo fraco a afastar-se da mulher. Meish achou engraçada a sua atitude arredia e desconfiada, era realmente fofo.

"Cansada?" Perguntou à garota, mas sua voz saiu terrivelmente distorcida, ela havia passado tempo demais sob as águas, sua voz tinha voltado ao tom gutural que ela costumava ter quando perdia o controle de sua magia.

A garota deu um sobressalto, parecendo ainda mais esquiva, no entanto, não fazia muito tempo desde que seu corpo havia sido tratado pelos efeitos curativos das águas, e estava fraco demais para resistir, fazendo-a cair no chão logo após se levantar.

Vendo isso, Meish trouxe-a de volta para o seu colo, até que ela adormecesse novamente.
Meish então olhou para a lua enorme e brilhante, e realmente, era uma bela vista, era uma pena que poucos seres nesse mundo pudessem apreciá-la sem ceder aos encantos tentadores da magia de morte presente ali.

Agora que estava livre, ela precisava resolver alguns assuntos que estiveram pendentes por séculos, precisava encontrar Nhiar e recuperar Rubrus. Não importava quantos anos tivessem se passado, ela, nem mesmo por um segundo, desistiu de ir atrás do que lhe foi roubado. Ela não iria permiti-los viver uma boa vida depois do que ousaram fazer com ela.

Não se sabia o porquê, mas aquela madrugada parecia ser a mais longa que ela já tinha presenciado, a escuridão continuava a reinar na calada da noite, a brisa fria tocando as árvores escuras e levando algumas folhas secas no chão.

Meish segurava a garota em seu colo, os cabelos negros dispostos uniformemente ao redor de seu rosto, a pele pálida iluminada pelo luar, os olhos fixaram-se no horizonte. Finalmente, ela estava livre.

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