A ideia, a princípio, me pareceu absurda. Algumas pessoas preferiam se referir a eles como escravo sexual. Soube que tanto meu pai como minha mãe tiveram alguns, mas apenas até eles entrelaçarem a alma deles.
- Terá um leilão hoje. – Me pai continuou. – Vou te levar comigo para escolhê-lo.
- Por que um humano? – Pergunto sem entender. – Não pode ser bolsas de sangue?
- Esse é o único jeito de não entrelaçar sua alma. – Minha mãe responde com cautela. – E quando se alimentar, terá desejos relacionados ao dono do sangue, precisará dele presente. Apenas será alguém para te servir a qualquer momento. E é por isso que está começando a rejeitar o meu.
Desejos...
- E se eu não quiser? – Minha pergunta surpreende os dois.
- Filha... você não tem tantas opções. – Minha mãe diz calma.
Eu sei. Via claramente minhas três opções: 1 Escolher um escravo de sangue; 2 Entrelaçar minha alma com um vampiro desconhecido; 3 Ficar desnutrida e morrer sem me alimentar.
- Que horas é o leilão? – Pergunto após um longo suspiro.
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O grande salão estava cheio. Todos que passam cumprimentavam meu pai. Em relação a mim, havia dois tipos de reações. A primeira era a surpresa por saber que, de fato, eu existia e a segunda, eu estar naquele lugar.
- Sr. Luthor. – Um rapaz de cabelos loiros penteado para trás estendeu a mão. O coitado estava nervoso. – É um prazer recebê-lo.
Lionel apertou a mão do rapaz.
- Sr. Fallon, viemos participar do leilão. Minha filha escolherá um escravo de sangue essa noite.
- Oh sim! – Então ele se virou para mim. – Tenho certeza que gostará de nossas opções.
Não falei nada. Aquilo é muito incomum para mim.
- Espero que sim. – Meu pai disse sério. – Não fizemos reserva...
- Irei alocá-los no nosso melhor local! – O homem diz animado. – Por favor, siga-me.
Fomos direcionados para o segundo andar que dava uma boa visão do palco montado abaixo e das cadeiras dispostas no primeiro andar. Havia três poltronas ali, me sentei na do canto esquerdo. Meu pai se acomodou na do meio, ao meu lado.
Quando foi anunciado que o leilão começaria, todos ficaram calado.
O primeiro humano que entrou no palco era um jovem forte. Usava apenas uma cueca, o que nos permitia ver seus músculos bem definidos. Seu cabelo era curto e seu rosto liso. Ele sorria para a plateia.
- Ele sabe...? – Perguntei curiosa.
- Sim. – A resposta do meu pai foi curta. – São órfãos treinados para virarem escravos de sangue.
Uma mulher nas cadeiras dispostas do primeiro andar levantou a mão. Uma luz forte se acendeu sobre ela. Logo em seguida a luz apagou e foi direcionado a um homem que havia levantado a mão. E isso ocorreu algumas vezes, até o momento que a luz ficou um bom momento sobre a primeira mulher que tinha feito o lance.
- Vendido! – Sr. Fallon gritou.
- Pai? – Ele olhou para mim. – Eu devo levantar a mão para fazer um lance? Quanto que custa?
Ele riu baixinho.
- A primeira vez que alguém levanta a mão está oferecendo 100 mil. O próximo lance acrescenta mais 100 mil e assim sucessivamente. O humano de agora teve 16 lances, então seu preço final foi 1,6 milhões.
Aquele humano tinha custado tudo isso!? Olhei ele saindo do palco.
- E você não irá dar lances. – Meu pai diz. – No final é só me falar de quem gostou.
- Mas e a pessoa que comprou o humano?
- Lena. – Ele diz sério. – Você é uma Luthor, minha filha. O que você quiser, você terá.
Assenti com a cabeça.
O próximo humano já estava no palco. Diferente do primeiro, esse tinha uma feição emburrada, mas, surpreendentemente, teve mais lances que os primeiros.
Fui analisando com cuidado todos que entravam ali no palco. Alguns interagiam mais com o público, outros nem tanto. Nenhum havia cativado realmente minha atenção. Porém isso mudou.
Quando a menina apareceu no palco, senti algo. Ela era loira, tinha os olhos azuis e o sorriso tímido. A roupa íntima que usava era azul que contrastava com sua pele levemente bronzeada e seu corpo definido. Não demorou muito para que os lances começassem. Segurei com força na poltrona, sabendo que eu não podia fazer nada. A cada lance que davam, eu apertava mais a madeira da minha mão, até o momento que ela trincou.
- Controla-se. – Meu pai disse firme.
Minhas presas estavam para fora e minha respiração ofegante.
- Vendido! – Ouvi o pronunciamento.
Não mesmo. Ela é minha.
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Andava ao lado do meu pai. As pessoas abriam caminho quando passávamos. Fomos atrás do palco. Ali estava todos os humanos que tinham sido apresentados. Eles estavam sentados, um do lado do outro. Meus olhos foram automaticamente para a menina loira. Ela conversava com o menino do seu lado. Diferente de como havia se apresentado no palco, agora usava um vestido branco.
Olhe para mim.
Como se tivesse lido meus pensamentos, ela me encarou de volta.
- Vamos loirinha. – Um homem bem vestido de cavanhaque se dirigiu a ela. – Paguei caro por você. Espero que seja uma delícia. – Ele revelou as presas.
Ela se levantou e começou a segui-lo.
- Vai. – Meu pai disse. – Se demorar muito, vai perder ela.
- Como sabe que é ela? – Pergunto para Lionel.
- Você nem disfarça. – Ele diz com um riso contido. – Agora mesmo não consegue tirar os olhos dela.
Mesmo nervosa me aproximei do homem. Minha vontade era torcer seu pescoço. Só ter esse pensamento me assustou. Nunca me considerei violenta, apesar de saber que faz parte do meu gene.
- Com licença. – Disse com auto controle. Meus olhos foram automaticamente para a humana e seus olhos azuis permaneciam fixos em mim. – Você vem comigo. – Digo para ela, sem conseguir desviar o contato.
- O que pensa que está fazendo? – O homem de cavanhaque fala bravo. – Eu ganhei o leilão dela.
- Não importa. – Ainda não conseguia tirar meus olhos dela.
- Ora, sua... – O homem começou a se descontrolar.
- Sr. Mattews. – Sr. Fallon o interceptou. – Nós iremos devolver seu dinheiro. E no próximo lelião, terá prioridade na escolha do humano que quiser. Mas se a Senhorita Luthor deseja essa humana, não há nada que possamos fazer. Peço perdão por toda situação.
O homem de cavanhaque escutava com extrema indignação toda cordialidade que o Sr. Fallon falava, mas quando ouviu o nome Luthor, o homem passou a me fitar preocupado.
- Desculpe Senhorita Luthor, não sabia...
- Agora já sabe. – Disse ríspida. Se não tivesse visto a maneira que ele tinha se referido a minha humana, talvez tivesse sido mais simpática.
Ignorei-o completamente.
- Humana, qual é o seu nome? – Volto toda minha atenção para ela.
- O nome que desejar, Senhorita. – Ela diz educada, com os olhos baixos e conseguia ouvir seu coração batendo rápido.
Será que estava com medo de mim?
- Olha para mim.
Quando me deparei com seus olhos azuis, minhas presas ameaçaram sair. Respirei fundo para me controlar.
- Não tenho interesse de te dar um nome novo. – Digo pensando ser estranho dar um novo nome a ela se já possuía um. – Quero saber como se chama.
- Kara.
- É um ótimo nome. – Digo, me permitindo um curto sorriso. – Vem. – Estendo minha mão a ela.
Ela me olhou confusa. Parecia pensar se pegava ou não minha mão.
- Não toque na escrava, Lena. – Meu pai, que até o momento estava afastado, disse baixinho em meu ouvido. – Não em público. Ela é sua agora. Onde você for, ela te seguirá.
Abaixei a mão imediatamente.
Me apressei para acompanhar meu pai que saia do salão. E logo atrás, Kara me seguia, como uma sombra.