— Acordou?
— Sim — respondo quieta.
Ele me aperta e coloca um beijinho suave nos meus lábios, me acomodo com a cabeça em seu peito e toco o mamilo fazendo pequenos círculos com a ponta do indicador, oprimo o sorriso e sinto a mão suave tocando as minhas costas sem pressa. Estou um pouco envergonhada é verdade, mas gostei tanto que não sei se haveria espaço para reflexões desse caráter.
— Obrigada pelo voto — falo sincera. — Não pensei em fazer nenhum.
— Não há necessidade — Virgo beija a minha cabeça. — Não faça se não desejar, apenas expressei meus sentimentos.
— Te agradei na cama? — indago curiosa.
— Sim, muito, me sinto esgotado — sei que ele sorri mesmo que eu não olhe. — Foi muito melhor do que imaginava, eu nunca pensei que poderia ser tão prazeroso ter uma relação e você? Doeu muito?
— Um pouco no começo — confesso e encolho os ombros. — Achei que doeria mais.
— Eu não senti o rompimento hímen — Virgo me aperta entre os braços. — Talvez precisemos de mais algumas vezes para romper totalmente.
Me desvencilho dos braços dele e me deito de costas na cama, Virgo se inclina e vem para cima de mim com um sorriso doce nos lábios, toco sua face com cuidado e fico olhando-o no fundo dos olhos por alguns instantes. Seus lábios, seus maxilares, suas sobrancelhas, seus cabelos, o jeito seu semblante está relaxado e calmo, naturalmente que isso aconteceria em algum momento, mas não achei que ele diria algo do tipo.
— O que foi? — indaga confuso.
— Não gosto que coloque em questão a minha virgindade por conta do rompimento do hímen, eu era virgem e tenho comprovação médica se desejar — respondo pouco à vontade.
— Não disse por conta disso, apenas porque é o que a minha médica me explicou que aconteceria quando eu tivesse minha primeira relação com minha esposa, confio em você minha esposa.
— Você tem certeza de que quer continuar com isso?
— Por que está fazendo isso conosco? — pergunta ele pouco confortável. — Eu não quero brigar de novo por conta desse assunto, ficaremos bem.
— Não posso tolerar que mentirá para mim novamente, que me omitirá nada mais, se me disser que ainda esconde algo não pensarei duas vezes antes de ir embora com meus pais, recorrerei ao exílio e...
— Por favor, não insista nesse assunto, eu nunca mais irei cometer o mesmo erro — ele me abraça. — Eu não poderia mais mentir para você, é parte minha agora.
Beijo sua testa e Virgo me aperta com mais firmeza, acabo por sorrir.
— O senhor Ministro ficou bem manso depois de sua primeira vez, será que isso irá amolecê-lo?
Ele sorri e ergue a cabeça me fitando, os olhos brilhando e centelhas de lágrimas que começam a cair deles devagar, toco suas faces amparando-as depressa, um pouco confusa.
— Não entendo porque me sinto dessa forma, porém, desde que eu a vi eu senti que poderíamos ser muito felizes, sei que você ficou machucada com as minhas escolhas e atitudes, mas eu jamais pensei que me sentiria parte de algo tão grande quanto é ser seu marido, isso não tem a ver com a criança, Hielena, então por favor, não pense em fazer nenhuma besteira, está bem?
— Eu...
— Sei que quer ir embora, que quer voltar para casa e que planeja fugir, é nítida a sua falta de vontade de morar aqui, mas ficar lá ofereceria um grande risco a sua vida, a minha vida e a vida do bebê.
Desvio o olhar, não gosto que ele esteja chorando assim.
— Sou tão digno de você quanto Sven, sou digno do seu afeto e da sua atenção tanto quanto qualquer outro e não pode me negar o direito de tentar cativá-la. Por favor, não me despreze mais, ok?
— Não desprezo, mas não me apeteço das suas escolhas.
— Não deve concordar, mas se quisermos ser felizes temos que deixar as diferenças de lado e tentar vivermos juntos e bem.
— E quanto aos meus pais? Minha família?
— Falarei com vovô e estudaremos uma forma de voltarmos para lá, mas apenas quando as coisas estiverem mais calmas, até lá eles podem vir te visitar a cada quinze dias.
Suspiro, não gosto de não poder ficar perto dos meus pais, mas também detesto olhar para ele e me sentir mal por pensar que terei que deixá-lo.
— Não deveria ter feito sexo com você, isso sim.
Ele sorri e me abraça novamente, devolvo o abraço e o beijo com um sorriso nos lábios, mesmo que não deva ou possa, mesmo que seja o maior erro que estou cometendo em toda a minha existência.
— Cuidarei de você, Mic, protegerei você.
Empurro-o pelo ombro e sou puxada, rolamos na cama e ele beija meu pescoço, mas isso me faz cócegas e acabo rindo muito alto, empurro-o novamente e rolamos mais uma vez, nesse momento escuto o som da porta do quarto sendo aberta e Virgo puxa os lençóis da cama nos cobrindo até o pescoço, me escondo embaixo dos lençóis coberta de vergonha.
— Mamãe! — exclama ele irritado.
— Ah, que alívio, consumaram o casamento, teria que chamar o seu irmão para anular caso ela persistisse em esperar pelos pais dela — escuto a mãe dele falar com a voz cheia de tédio. — Escutem-me os dois, seu avô não poderá vir então decidi remarcar para amanhã um jantar com a família, Hielena, foi consensual?
— Minha mãe! — agora ele está realmente ofendido.
— Sim senhora minha sogra — respondo colocando a cabeça de fora.
— É importante que seja, mesmo que conheça o caráter do meu filho ainda tenho plena certeza de que é homem e homens algumas vezes fazem coisas estúpidas, aproveitem a noite e descansem bastante — ela está retirando a mesa e colocando os pratos em uma bandeja sob a mesinha com rodas.
Depois que fala ela sai do quarto empurrando o carrinho, fecha a porta atrás de si, Virgo me olha e depois sorri com uma cara de bobo, acredito que essa seja a primeira vez que o vejo me olhar dessa forma.
— Sua mãe quis dizer que tem homens que violam suas esposas na primeira noite após o casamento, não é?
Ele para de sorrir e depois se acomoda ao meu lado na cama.
— Temos tido muitas queixas, essa é uma das nossas pautas para investirmos mais sobre educação sexual, ainda assim muitos homens em diversos momentos são violentos com as esposas em suas primeiras vezes.
— Talvez isso ocorra justamente por eles não terem a oportunidade de terem relações na adolescência, como era com os antigos povos.
— Não seja tão complacente com os homens, muitas mulheres também esperam e nem por isso as faz agir como animais na hora do sexo, não tem a ver com o voto de castidade, isso seria facilmente resolvido, para mim só faz sentido pensar que a natureza de algumas pessoas é de fato violenta — ele segura a minha mão e a ergue depois a beija. — Nada seria diferente se fizessem sexo antes a prova disso são os exilados e os desertores, eles têm suas próprias regras e fazem o que bem entender, há relatos de muitas moças que sofrem abusos de seus pais ou irmãos, todas que conseguem fugir e retornam demonstram gratidão por serem preservadas e protegidas do convívio deles.
Ouvir isso é muito forte, algo que jamais imaginei que ocorresse em Navie, não com todas as leis e o Estado Majoritário controlando a vida de todos nós todos os dias.
— Sei que você não merece ouvir nada disso em nossa primeira vez juntos, mas se há algo que deve saber e que eu jamais esconderia de você são todas as falhas que acontecem devido às pessoas que se dizem justiceiras o que querem que as leis mudem, por isso mamãe falou aquilo, assim como muitas mulheres ela foi abusada por papai em sua primeira noite, mas ele fez isso por vingança, por saber que não poderia tocar na minha tia.
Estou em choque.
— E todas as vezes que mamãe socorreu a tentativas de fazê-lo amá-la ele a violou como uma tentativa de puni-la por ela querer seu afeto, quando ele foi julgado ele disse ao meu avô que se enojava de saber que havia sido obrigado a se casar com mamãe porque ela era velha demais para ele.
Meu Deus.
— Mamãe é dura, mesmo não aprovando minha decisão de acatar o que o vovô me pediu, ela soube entender quando avisei sobre nosso casamento, talvez ela demore um pouco para se habituar com sua presença aqui, mas ela não deseja seu mal, ela apenas tem muito medo de que eu vá embora e abandone, como vovô fez por anos quando deixou que ela se casasse com meu pai, como meu pai fez ao abusar da minha tia mais nova e como ele a convenceu de que ela era adulta o suficiente para se deitar com ele.
— Sinto muito que tenham passado por isso, Virgo — falo realmente abalada por tudo isso, o abraço.
— Não tenho intuito de te machucar ou assustá-la, apenas de alertá-la para todos os perigos que poderiam implicar se hoje estivesse lá casada com Sven, talvez a sequestrassem e nunca mais pudesse ver seus pais ou irmãos, eles a machucariam e dariam um jeito de nunca permitir que tivesse seus direitos mais básicos, se acha o sistema de distribuição injusto nem queira saber quantos dias uma pessoa fica sem tomar banho nas antigas Cavernas de Viniet.
— Você disse que achava o nosso sistema perfeito, que as pessoas não sofriam com nada violento...
— No planeta há os Estados protegidos e há uma parte de pessoas que não querem ser protegidas, que querem quebrar as regras, que arrancam útero de suas filhas para que não tenham mais filhos, eles vivem com as próprias regras como se fossem as leis certas.
— E por que o Estado Majoritário não manda autoridades para que resolvam isso?
— Não estamos falando de vinte pessoas, estamos falando de mais de três mil pessoas e é por isso que o meu avô tem esperança de que com o nascimento do nosso filho essas pessoas temam as previsões e mudanças do Oráculo e voltem para nossa convivência.
Sinto um frio esquisito na barriga.
— Ele saberá como conduzir as rebeliões, os rebeldes e evitar uma guerra, o Estado não quer nenhuma vida ceifada pela ignorância e tenho que dizer que este é um mérito deles, não queremos ter que sujar nossas mãos de sangue em caso de outra guerra.
— Como acha que nosso filho terá estrutura para lidar com isso ainda pequeno?
— Ele será o Oráculo, Mic, como ele não teria? Ele não será uma criança comum, ele saberá como conversar com as pessoas, convencê-las, como curá-las de suas enfermidades emocionais.
— Sei que ele poderá fazer tudo isso, mas ainda assim não deixará de ser uma criança.
— É para isso que estaremos ao lado dele, amparando -o e dando a ele amor e carinho, todo apoio e suporte.
Eu o beijo nutrindo um pouco mais de respeito e afinco por ele.
— Tudo ocorrerá bem, Mic.
— Espero que sim.
Ou estaremos realmente encrencados.