Quando o amor é pra sempre: A...

By Strange-Boy

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Segundo volume de "Quando o amor é pra sempre", "A história de Gael" conta a história do filho adolescente de... More

[1] prólogo 🏫
[2] o jogo de basquete 🏀
[3] arcata court mall 🏬
[4] suco de laranja🍊
[5] parabéns, Chrissie 🎂
[6] o acordo 📝
[8] os sobreviventes e o memorial ❤️‍🩹
[9] como um relâmpago ⚡
[10] revelações 📖
[11] sou um furacão 🌪️
[12] o circo 🎪
[13] entre o bem e o mal 😇😈
[14] se rendendo ao amor? ❤️
[15] contagem regressiva 🕗
[16] o baile de formatura 🕺

[7] o incidente ⚠️

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By Strange-Boy

O nosso colégio ia jogar contra outro em um campeonato de basquete. 

Em um dia, aconteceria uma jogada decisiva onde o time campeão representaria toda nossa escola contra o time que representaria a outra adversária.

Como eu e Hans já esperávamos, nosso time perdeu para os fanfarrões. Fomos vaiados, xingados, sacaneados de toda e qualquer maneira que você possa imaginar. Pelo menos Caleb estava feliz. E que merda eu pensar assim. Que merda eu gostar logo dele. Gostar de vê-lo feliz sendo essa pessoa tão babaca comigo do jeito que ele é. 

— Vocês são um bando de perdedores! Fracos demais! 

Ele gritava para nós, dentre vários outros insultos. 

Mas por mim estava tudo bem. Eu havia me acostumado com isso e estava feliz que, pelo menos, ele parecia estar melhor daqueles problemas horríveis que vinha passando. 

— Droga... — Hans resmungava enquanto chutava o chão.

Obviamente eu e ele ficamos muito chateados por não jogarmos no time do campeonato. Eu sempre quis jogar contra alguma outra escola, seja no basquete ou no tênis, mas infelizmente não foi minha vez. Pelo menos não agora, né? Quem sabe no futuro...

O time deles estava tão elétrico que Caleb foi levantado e adorado pela multidão, principalmente por ter feito a maior parte dos pontos. 

Obviamente ele estava muito alegre com isso. Estava adorando chamar a atenção, ser respeitado, ser elogiado. 

Em casa, eu estava muito cabisbaixo pra comer alguma coisa.

— Pelo menos o purê de batata que eu fiz? — meu pai Harry tentou me convencer.

— Não, pai. Amanhã eu tomo café da manhã, não esquenta. Eu vou indo me deitar, tá bom? — caminhei até a escada.

— Espera, filho. Você sabe que pode me contar qualquer coisa, não é?

— Sei. 

— Se não quiser, tudo bem também, é só pra frisar que...

— Foi o jogo de basquete hoje, aquilo que te contei.

— Eu imaginava, filho. 

— Mas olha... — meu pai Scott entrou na conversa, vindo da cozinha com o prato vazio. — Você sempre pode tentar de novo, de novo e de novo. O importante é não desistir. 

— Eu sei. Obrigado. 

— A gente continua orgulhoso de você ainda assim, meu filho, sabemos que deu o seu melhor. — meu pai Harry sorriu.

— E não importa o quê, você sempre vai ser o melhor jogador de basquete pra mim. — meu pai Scott riu e bagunçou o meu cabelo.

— Para, pai. — soltei um riso frouxo e afastei sua mão do meu cabelo. — Eu sei, obrigado, eu amo vocês. 

— Também te amo. — falaram em uníssono de uma forma até que engraçada. 

— Boa noite, preciso descansar agora. Estou exausto.

Subi as escadas e apaguei assim que deitei na cama. 

No dia seguinte, na escola, Chrissie se aproximou de mim e de Hans durante a hora da saída.

— Meninos, vocês não vão acreditar! 

— O que, bem? — Hans arregalou os olhos, curioso.

— Meu time vai ser a equipe de torcida no jogo de basquete! — ela riu e deu uns pulinhos, animadíssima.

— Nossa, Chrissie, que ótimo! — sorri.

— Que orgulho da minha gata! — Hans a abraçou apertado e encheu seu rosto de selinhos.

— Ai, tá bom, tá bom, já chega! — ela riu. — Obrigada, meninos! Eu só queria que fosse o time de vocês...

— Ah, tudo bem. — cocei a nuca. — Fica pra próxima. Sei que você vai arrasar na sua performance de qualquer maneira.

— Obrigada, Gael. Vocês... Vão vir assistir ao jogo, não é? 

— Claro!

— Claro que sim. — Hans reforçou.

O pai de Hans veio buscar ele de carro, então ficamos esperando na calçada e conversando entre nós três. Nos despedimos assim que ele foi embora. 

Agora, era a minha vez de esperar a mãe de Chrissie vir buscá-la. 

— Sabe, Gael, eu tô muito feliz mesmo em poder participar disso.

— Eu sei. — ri de leve. — Dá pra ver o brilho nos seus olhos.

— Eu amo ser líder de torcida. Amo dançar, performar... É tudo de bom, é tudo o que eu mais gosto de fazer.

— Sério mesmo?

— Uhum. Meus pais não me apoiam tanto porque ficam meio que com um pé atrás... Mas quando eu sair do colégio eu não queria fazer essas faculdades que as pessoas costumam querer fazer. 

— Como assim, Chrissie?

— Eu queria fazer algo relacionado a dança, sabe? — ela olhou pro céu e mordeu os lábios enquanto apertava a mochila que segurava nos braços. — Queria ser dançarina, bailarina, fazer teatro... Tudo relacionado a dança. É o meu sonho...

— Nossa, Chrissie, não sabia que você gostava tanto assim de dançar.

— Pois é, ser líder de torcida é apenas um hobbie. — ela riu pra mim. 

De repente, sua mãe chamou seu nome e buzinou. 

— Deixa eu ir. — ela me beijou na bochecha. — Amo você, Gael, te vejo por aí.

— Beijo. — dei um tchauzinho pra ela enquanto ela se afastava sorrindo pra mim. — Também amo você. 

No dia seguinte, sábado, não fiz absolutamente nada.

Fiquei em casa atoa assistindo série, lendo meus livros e ouvindo minhas músicas. Só queria paz e descansar a mente do melhor jeito possível.

Domingo eu saí com meus pais para comer fora e aproveitamos para assistir um filme no cinema. Segurar vela dos meus pais não era nada legal, mas acho que eu já estava me acostumando depois de sair mais com Hans e Chrissie juntos. Mal acreditava que até hoje eles ficavam de mãos dadas e trocavam beijos e chamegos, principalmente no cinema. Isso me irritava bastante, mas confesso que no fundo eu achava fofo. 

Passaram algumas semanas enquanto o time de basquete treinava para o seu jogo e o time de Chrissie para a dança. Nada mudou, os dias foram praticamente os mesmos.

Finalmente, chegou o tão esperado dia. Era um domingo. Dessa forma, pais e responsáveis poderiam comparecer e assistir seus filhos jogarem, assim como familiares também. Já que eu não ia jogar, disse para os meus pais que não precisavam ir e eu sinceramente preferia assim.

O time da outra escola veio jogar na quadra da nossa. Eles estavam vindo de uma cidade vizinha.

Pouco antes do jogo começar, eu havia comprado pipoca pra mim e Hans. Sentamos no meio da arquibancada, nem tão perto e nem tão longe. 

Ficamos conversando sobre coisas banais enquanto o tempo passava e o locutor ia falando coisas que não eram tão importantes. 

De repente, a banda começou a tocar uma música eletrizante, e com isso, Chrissie e sua equipe foram entrando na quadra. 

Seus nomes eram falados em alto e claro tom, enquanto cada uma ia se apresentando com seus movimentos. 

Chrissie então puxou a dança coletiva. 

Não é porque ela era minha amiga, não, mas ela era a que mais brilhava dentre todas as outras. Ela tinha um dom para aquilo. Tinha amor pelo o que estava fazendo. Seus braços balançavam conforme a melodia, mas isso era só o começo. 

Depois, era a vez do seu corpo de seguir outros movimentos, até o que eu mais me impressionei. Não só eu, como Hans também. Chrissie conseguia fazer suas pernas chegarem até o alto de um jeito que nenhuma outra menina do seu time foi capaz de fazer. 

Assim, ela fez várias variações, mostrando todo o controle e poder da extensão das suas pernas. Fez até piruetas e finalizou a performance escorregando até sentar ao chão com as duas pernas esticadas para lados opostos. 

O jogo de basquete nem mesmo havia começado, mas a arquibancada quase toda levantou para aplaudir a performance das meninas. Claro que elas tinham ido bem, mas eu obviamente estava aplaudindo mais para Chrissie. Com isso, gritava o seu nome enquanto acenava para ela. Hans fazia o mesmo, gritando o quanto ela tinha feito tudo com sucesso e o quanto ele se orgulhava de ter uma namorada tão fantástica. 

— EU TE AMO, CHRISSIE! EU TE AMO! 

Olhei para Hans e ele estava com os olhos lacrimejando, isso foi fofo mas não pude deixar de rir e provocar ele. 

— Vamos parar um pouco com essa melação toda? Parece até que a dança dela foi um pedido de casamento pra você! — eu ri.

— Ah, para de graça, seu japa intrometido! — ele me deu um empurrão de leve e limpou os olhos enquanto nos sentávamos de volta. 

Os próximos minutos antes do jogo começar foram chatíssimos: De novo cada jogador foi apresentado, um por um, do time da escola adversária. Alguns meninos eram bonitos, mas ainda assim eram cheios de si, parecendo ser nada diferentes do que os meninos da minha sala. Arrogantes, ignorantes, imaturos. 

Então foi a vez do time da minha escola. Caleb parecia animadíssimo para jogar. 

E então o jogo começou. Durou bastante tempo e ninguém estava conseguindo fazer nenhuma cesta, parecia até que era um longo aquecimento onde cada jogador ia estudando as qualidades e fraquezas de seus adversários. 

Finalmente, as coisas começaram a acontecer. Pontos começaram a ser feitos e até mesmo xingamentos entre os jogadores. Por conta disso, vários jogadores tiveram a atenção chamadas e rolou até uma agressão, onde dois jogadores foram simplesmente expulsos do campeonato. Um era colega de Caleb e outro fazia parte do time da outra escola. 

Devido a toda essa confusão e um longo tempo de jogo, foi dado um intervalo. Eu e Hans continuávamos a conversar, a zoar de praticamente qualquer coisa e estava muito divertido assistir o jogo com ele. 

Depois do intervalo, o jogo parecia estar mais agressivo ainda. Os jogadores tinham mais fúria e tudo estava acontecendo muito rápido. Caleb, assim como no treinamento, era o que mais estava fazendo acertos.

Até que chegamos nas jogadas decisivas. 

Eu e Hans estávamos tensos. Sim, aquele time era cheio de gente ridícula, mas querendo ou não, era o time que representava nossa escola e eles mereceram estar nesse campeonato por jogarem muito bem, isso eu não podia negar. 

Logo, estávamos apreensivos, torcendo por eles. 

De repente, Caleb acertou a última cesta que precisava, declarando vitória para nossa escola.

Eu e Hans nos levantamos, rindo como dois bobos e nos abraçamos forte enquanto pulávamos comemorando ao redor de toda aquela gritaria e caos que reinava na arquibancada. 

A banda havia começado a tocar novamente, a multidão que levantava Caleb e outros integrantes do time era ainda maior. 

Com muita dificuldade para passar pela multidão, descemos pela arquibancada. 

Em algum momento, os olhos e o sorriso de Caleb se encontraram com os meus. Eu não soube o que fazer, então apenas desviei o olhar. 

Fui de encontro a Hans e Chrissie. 

Comentávamos sobre vários pontos do jogo, falando muito alto por conta da música alta vindo da banda. 

De repente, eu acabei ficando de lado por um momento mais íntimo dos meus amigos. 

Eles se abraçavam forte e se olhavam, com Hans elogiando Chrissie de todas as maneiras possíveis. 

Ao virar pro outro lado, meio sem saber o que fazer, ouvi um dos integrantes do time da escola adversária gritando para a sua namorada que estava na arquibancada. 

— Alice, mesmo perdendo, os pontos que fiz foram todos por você! Pra você! Eu te amo, meu amor! 

Ao primeiro momento, não pude evitar o sorriso que veio ao meu rosto lembrando de quando meu pai Harry contou o quanto meu outro pai, Scott, gritava para ele quando havia feito um gol:

— Foi pra você, Harry! Esse gol foi pra você! 

Meus olhos lacrimejaram. Meus pais poderiam ser bregas ou o quê, mas o amor deles era tão duradouro, tão genuíno, tão lindo, verdadeiro. 

Será que era tão difícil ter um amor assim? Será que eu não era merecedor disso?

Aos poucos, todo aquele barulho em volta se tornou apenas uma poluição sonora da qual eu não conseguia focar. Era nos meus pensamentos que estava o meu foco.

Eu me envolvi com alguém mais de uma vez, mas isso não era o bastante pra mim. Eu estava cansado de não ter alguém por mim. Todas aquelas pessoas na minha volta pareciam ter alguém pra amar e ser amado de volta.

Por que eu não me via assim com alguém nunca? Por que?

Por que era tão impossível eu me enxergar assim com alguém? Será que isso de fato nunca ia acontecer e eu só estava prevendo o óbvio?

Seria loucura demais pensar que eu poderia estar assim com Caleb agora? Assim como todo mundo? Não sei...

É loucura sim, Gael, é claro que é. Acorda! Ele te odeia e você aí fantasiando um amor impossível. O que é que eu estava pensando? 

Fui caminhando em meio a bagunça da escola até os corredores. 

Ao passar pelas portas da quadra, todo aquele barulho ficou bem mais abafado assim que elas se fecharam atrás de mim. 

Eu estava chorando e não conseguia parar mais. Emoções guardadas por muito tempo fazem isso, transbordam de repente quando você menos espera.

Só rezo pra que ninguém tenha me visto assim. Do jeito que eu parecia estar fora da atenção das pessoas, só espero ter continuado assim até ter chegado aqui. 

Entrei no banheiro e encostei a porta. Com isso, o som da bagunça ficou mais abafado ainda. 

Era bom ter paz. 

Era bom ter o banheiro só pra mim. 

Eu ia chorar só mais um pouco e lavar meu rosto. 

Apoiei meus braços na pia enquanto deixava as lágrimas caírem mais um pouco.

Foram mais alguns poucos minutos pra eu conseguir parar de chorar.

Então eu respirei fundo. Olhei meu rosto avermelhado no espelho.

Não adianta ficar se lamentando, Gael. Que besteira. 

— Estúpido, sou tão estúpido. — comecei a falar comigo mesmo enquanto lavava as mãos e então o rosto. — Idiota. Como posso ser tão idiota...

— Tá tudo bem? 

Me assustei com a voz ecoando no banheiro e logo me afastei da pia. Estava com medo de olhar quem era. Afinal, eu não queria ser visto assim, tão vulnerável, ainda mais por aqueles garotos da minha sala. 

Meu olhar foi passeando pelo chão do banheiro até encontrar tênis brancos, um short e uma camisa, ambos da mesma cor do tênis e com detalhes verdes, faziam parte do uniforme do time de basquete da nossa escola. 

Ao subir o olhar, encontrei o rosto preocupado de Caleb sob seus cabelos encharcados de suor. Ele estava vermelho feito uma maçã. Havia se esforçado tanto naquele jogo.

Eu não soube o que dizer. Me deu um frio na barriga. 

— Eu não te segui. Eu só vim usar o banheiro. — foi o que eu consegui dizer. 

— Eu sei que não me seguiu. Fui eu que entrei agora... — ele fez um gesto confuso com a mão. — Eu vim usar o banheiro também. 

Acenei a cabeça e permaneci parado enquanto Caleb se aproximou de uma pia mais distante. Ele começou a lavar o rosto. 

Me aproximei da pia novamente e ajeitei meu cabelo que estava todo bagunçado.

— Temos que parar de nos encontrar em banheiros. — Caleb disse de repente. 

Olhei para ele, confuso. 

— É... 

Voltei a olhar pro espelho, terminando de ajeitar meu cabelo.

— Na verdade a gente tem que parar de se encontrar em qualquer lugar. Mas se isso acontecer por algum acidente, igual agora, acho melhor a gente não se falar. 

Eu tentei ignorar o que ele disse.

Eu sabia do nosso acordo, mas eu não queria parar de falar com ele. Não queria.

— Parabéns pelo jogo. Você jogou muito bem. — disse a ele enquanto encarava o meu próprio reflexo no espelho, fingindo ainda mexer no cabelo. 

— Obrigado. 

Enquanto ele se virou pra sair, eu o olhei e notei que havia um hematoma atrás do seu braço direito. Estava muito roxo.

— Nossa, isso foi de algum desses jogos de basquete? — apontei. 

Caleb virou e seguiu meu olhar, olhando para o seu próprio braço. 

— Não. Quer dizer, não é da sua conta. — ele se virou pra mim.

Não era dos jogos de basquete? Estava atrás do seu braço, será que alguém havia batido nele? Será que foi algum acidente? Será que ele de alguma forma havia infringido isso em si mesmo?

— Eu só perguntei porque eu- 

— Porque você tá igual uma babá atrás de mim agora, não é? Isso já ultrapassou do ridículo. Acabei de lembrar que a gente não deve se falar! Que merda, Gael, era nosso acordo!

— Eu não entendo. 

— Eu já fui a terapeuta da escola, estou fazendo essa maldita terapia que você me infernizou pra fazer, toda santa semana. Já parei até mesmo com aqueles atos de... De... De... De vomitar. 

— Isso é ótimo, Caleb, eu fico muito feliz que...

— Se quer saber, eu fui até mesmo encaminhado pra um psiquiatra, estou tomando até medicamentos. Até mesmo de um grupo de bulímicos anônimos eu estou indo! — ele riu enquanto olhava pra cima e jogava seus braços pro ar.

— Isso está te fazendo bem...

— Mas então pronto. — cerrou o olhar pra mim. — Você está satisfeito?

— É claro, eu fico feliz por você. 

— Então por favor, me deixa em paz de uma vez por todas. Não há mais nada pra gente conversar. 

— Por que esse ódio de mim, Caleb? Por que essa, essa... Repugnância? Você não suporta nem me ver, não é?

Eu não conseguia entender de maneira alguma porque ele me odiava tanto.

— Não mesmo, você acertou. Eu não suporto te ver, não suporto estar perto de você. Maldita a hora que você teve que vir pra essa cidade. Estava tudo tão bem até você aparecer!

— Pois bem... Se você quer assim, eu...

De repente, ouvimos um som de estouro muito alto vindo lá de fora. 

Tudo estava quieto, até que ouvimos alguns gritos abafados. 

Estávamos em silêncio, encarando um ao outro, confusos, sem saber o que estava acontecendo. 

— O que foi isso? — quebrei o silêncio.

Caleb fez sinal de espera com a mão e deu as costas pra mim. Caminhou lentamente até a porta do banheiro e abriu uma fresta. 

Mais alguns sons de estouro. 

Pareciam sons de tiro. 

Caleb esperou mais alguns segundos. Parecia que tinha gente correndo e gritando no corredor fora do banheiro. 

Então, ele fechou a porta apressadamente. Tentou trancar, mas como não tinha chave, era impossível. Então, ele olhou para os lados e pegou uma vassoura que estava junto de produtos de limpeza. 

— Caleb... — foi tudo o que eu consegui dizer.

Ele ignorou, atravessou a vassoura no puxador da porta e veio até a mim, assustado.

— Caleb, o que tá acontecendo?

— São atiradores. Estão... Eles estão atirando nas pessoas. 

No fundo, eu já imaginava algo assim, mas ainda estava em estado de negação. A confirmação de Caleb foi o bastante pra fazer meu coração acelerar de vez, meu estômago embrulhar e ficar com as palmas das mãos suando frio. 

Ele me puxou para o braço para a última cabine do banheiro, fechou a porta com o trinco e me pediu pra fazer silêncio, colocando o dedo indicador na frente dos lábios.

Acenei com a cabeça, sem saber o que fazer, apenas seguindo suas orientações.

Caleb puxou o celular do bolso e deu uma olhada. 

— Manda mensagem pra alguém, pede pra chamarem a polícia. — ele sussurrou pra mim.

Novamente acenei com a cabeça. Com as mãos tremendo, tirei o celular do bolso da minha calça com muita dificuldade e mandei mensagem para os meus dois pais. 

Não posso falar agora.
Atiradores na escola.
Estou no banheiro com meu colega.
Liguem pra polícia.

Bloqueei a tela do celular, ofegante assim como Caleb. Logo depois, meu pai Scott começou a ligar pro meu celular. A sorte é que estava no modo silencioso, então não fez barulho algum. Era a última coisa que queríamos agora... 

Mas também, não atendi a ligação, pois não podia falar. Não podia fazer barulho. Não mesmo.

Algumas mensagens dos meus pais chegaram. Eu não conseguia ler todas. Eram muitas.

Diziam pra eu me proteger, pra eu ficar escondido. Que eles chamaram a polícia e que estavam vindo todos pra cá. 

A última mensagem que eu vi perguntava se eu estava bem. 

Tentei responder.

Estou bem. Por favor, rápido. 

Os olhares preocupados de Caleb cruzavam com os meus. Suas mãos não sabiam o que fazer. Coçavam os braços ou bagunçavam os cabelos. 

Eu roía as unhas, escondia meu rosto nas minhas mãos e não parava de me tremer e suar frio. 

Eu nunca senti tanto medo na minha vida. 

Eu não queria morrer assim. Não queria morrer agora. 

Eu tinha tanto pra viver. Tinha tanto pra conhecer do mundo, das pessoas... Mas será mesmo que tudo poderia acabar assim, aqui, agora? Será mesmo que eu ia partir desse jeito, sem nunca mesmo ter encontrado alguém pra ficar do meu lado?

Eu queria tanto conhecer o amor... 

E pensar em todas aquelas histórias horríveis onde os alunos inocentes perderam suas vidas... Isso estava acontecendo agora, na minha escola. Será que eu ia virar estatística também? Será que Caleb também?

Não. Eu queria viver. 

Eu nunca quis tanto viver. 

Foram árduos minutos. Na verdade, pareceram horas. Eu nem mesmo sei. Eu não estava contando. 

De repente, começaram a gritar na porta do banheiro e a bater com muita força. 

Eu senti o meu coração vindo até a boca. 

Os gritos lá de fora continuavam, os chutes na porta se intensificavam. 

— Eles vão entrar aqui. — sussurrei, quase chorando, mas nada saia mais. Nada além disso.

O olhar desesperançoso de Caleb ia de encontro ao chão conforme ele abaixava sua cabeça. No pequeno espaço da cabine, ele me posicionou atrás dele, estendeu seus dois braços sobre a minha frente e olhou pra trás enquanto eu me escondia atrás de suas costas. 

— Eu vou ganhar tempo pra você pelo menos tentar sair daqui. — sussurrou.

— O que... — fiz um olhar confuso, apesar de estar entendendo aos poucos o que ele estava querendo fazer. Se sacrificar por mim.

A porta do banheiro foi arrombada junto do estrondo que produziu.

— Escuta. Não tem outro jeito. Corre daqui. Você vai ter que correr. 

FIM DO CAPÍTULO

Não vai demorar pra sair capítulo novo. 
Se tudo der certo, de sexta pra sábado tem mais um!

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