RABISCOS SINGULARES

By eveest

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Após o fim de um relacionamento tóxico, Jungkook busca refúgio em seu bar favorito no centro da cidade. Lá, e... More

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Capítulo 1 - Seus olhos

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By eveest

Minha agonizante dor fantasma
permanece a mesma. Eu me perdi ou eu ganhei você?

— Singularity, V.

Kim Taehyung é um homem de personalidade forte, mas por trás de sua fachada impenetrável reside um conflito silencioso. Constantemente, se vê confrontado com sua própria perfeição, questionando se é real ou apenas uma ilusão bem elaborada pelos outros.

Ao passar pelos corredores da Vogue, observa discretamente os olhares invejosos e admiradores, sentindo-se simultaneamente desejado e isolado. Os colegas de trabalho sorriem de maneira afetuosa, mas ele só consegue ver a superfície de suas palavras, incapaz de acreditar em suas sinceridades. Talvez a atenção que recebe da mídia seja apenas um fardo que o impede de se conectar verdadeiramente com alguém, deixando-o preso em sua própria solidão.

Seu corpo parece ser esculpido por deuses, sua pele aparenta ter sido meticulosamente pintada, exibia as tatuagens com um orgulho discreto. Cada traço em seu corpo contava uma história única, algumas repletas de significados profundos, outras permanecendo como meros adornos estéticos. Seu sorriso, muitas vezes escondido sob uma expressão séria, revelava uma melancolia sútil, uma lembrança constante de sua necessidade de escapar do olhar público. Apesar de sua carreira glamourosa, Taehyung ansiava por momentos de solidão, em busca de uma conexão genuína com alguém que pudesse enxergar além das aparências.

Sob a luz de sua mansão imponente, se sentia encurralado, desejando fervorosamente por uma presença que pudesse preencher o vazio em seu coração. Em mais uma noite de escapismo, o artista dedicou um tempo indulgente em seu luxuoso banheiro, mergulhando na suavidade dos cremes caros e permitindo que a água quente aliviasse a tensão acumulada. Envolto-se após um tempo, em uma toalha macia, adentrou seu closet repleto de roupas de grife, escolhendo com destreza um conjunto que acentuava sua figura esbelta e imponente. Cada escolha refletia não apenas seu bom gosto, mas também uma personalidade enigmática e inquietante.

Dirigindo pelas ruas iluminadas pela tênue claridade dos postes, permitiu envolver-se pela melodia suave e aveludada que ecoava em seu carro. Sua voz rouca entoava as palavras de Apocalypse, preenchendo o ambiente com uma sensação de melancolia melódica que contrastava com a serenidade exterior. Seus olhos, intensos e penetrantes, refletiam a solidão que ele tentava esconder, enquanto o barulho suave dos pneus contra o asfalto acompanhava sua jornada até seu refúgio predileto, um bar que lhe proporcionava o conforto necessário para desabafar.

Estacionando seu carro com precisão milimétrica, deslizando para fora do assento e adentrando o ambiente abafado do bar, os olhos imediatamente captaram a familiaridade acolhedora do local. Sua postura impecável e confiante era a única constante em meio à atmosfera repleta de emoções entrelaçadas. Escolhendo uma mesa próxima a um jovem desconhecido, depositou seu exuberante casaco de pele ao lado de sua cadeira, inalando profundamente o aroma de mistério e indulgência que permeava o ar. Examinando o cardápio de bebidas, sua escolha recaiu sobre uma dose de whisky, um gesto que se traduzia como uma extensão de seu desejo por uma noite de auto descoberta e desconexão temporária.

A música ambiente envolvia o recinto, misturando-se sutilmente com os murmúrios e risadas ao redor. Taehyung sentiu a vibração da melodia penetrar em sua alma, acompanhando a batida suave com um leve movimento de cabeça. Os olhos, profundamente expressivos, absorviam a energia do local enquanto seu espírito inquieto ansiava por alguma forma de escapismo. Uma tensão sútil envolvia seu ser, uma combinação de desejo e solidão que só ele conseguia compreender.

— Whisky, por favor. — Sua voz, calma e gentil, ecoou pelo espaço enquanto o belo garçom confirmava o pedido. Taehyung aproveitou o momento para verificar suas mensagens diretas, mergulhando na esfera digital enquanto esperava a bebida.

Notou então, que o jovem à sua frente exibia uma expressão abatida, quase chorosa, o que atraiu sua atenção de imediato. Entre os cliques no celular, seus olhos vagavam periodicamente em direção ao moço, intrigado por sua aura peculiar e carregada.

Depois de alguns minutos, o whisky chegou em um copo generosamente servido. Observou o rapaz ao lado fazendo o mesmo. A incerteza o envolveu, e ele ponderou se deveria ou não puxar conversa. “Devo?” — pensou consigo mesmo, hesitando brevemente.

O tilintar sútil das unhas do moço contra a mesa de madeira ecoava como uma batida suave, enquanto ele deslizava uma mecha escura de cabelo para trás da orelha. O olhar de Taehyung vagava pelo rosto do outro jovem, observando cada gesto e movimento com um interesse silencioso, quase intenso demais para ser meramente casual. O barulho abafado ao seu redor parecia desaparecer à medida que sua atenção se concentrava cada vez mais nele, cujas feições transbordavam uma complexidade intrigante e melancólica também.

O garoto poderia estar se divertindo, mergulhando na efervescência das baladas ou se infiltrando em festas, mas, estranhamente, não parecia se esforçar para superar o momento difícil. Embora não fosse culpa dele, carregava o peso de uma responsabilidade invisível, expressa em cada toque suave das unhas bonitas contra a madeira da mesa. Taehyung observava discretamente, os olhos percorrendo os gestos delicados enquanto um dedo deslizava pelas madeixas escuras, uma mecha cuidadosamente arrumada atrás da orelha em um gesto de conveniência mais do que estético.

Enquanto Taehyung saboreava seu whisky com tranquilidade, sentia-se relaxado e confortável no ambiente. Seus olhos continuavam focados no jovem à sua frente, analisando-o com uma atenção curiosa e perspicaz. Aos poucos, começava a desvendar os traços de sua história. ‘Deve ter terminado um relacionamento marcante recentemente’, pensou Taehyung, confirmando sua intuição com base na tristeza evidente no rosto do rapaz. A tristeza era palpável, e Kim sentiu um aperto no coração diante da dor alheia. Ele respirou fundo, mantendo sua postura séria e imponente, antes de se levantar, pegar o casaco e a bebida, e se dirigir silenciosamente em direção à mesa do rapaz.

— Olá, tudo bem? — Sua voz soou suave e gentil, não pretendendo intimidar. — Notei que está sozinho e... posso fazer-lhe companhia? — A empatia transbordava em sua expressão, revelando um lado compassivo que raramente se mostrava. Kim sempre detestara ver pessoas em sofrimento.

O garoto, distraído enquanto folheava o cardápio por tédio, foi surpreendido pela voz grave e atraente de Taehyung. Abaixou o menu, os olhos arregalados com o choque repentino de se deparar com um homem tão cativante. Piscou algumas vezes, tentando se recompor da surpresa. Ele parecia tão elegante e sofisticado que quase parecia fora de lugar ali. O olhar insistente de Taehyung o deixou ligeiramente desconfortável, levando-o a ajustar sua postura e verificar se suas roupas estavam perfeitamente alinhadas.

— Olá, tudo sim... e você? — Respondeu com um sorriso tímido. A ideia de ter a companhia de alguém tão cativante quanto Taehyung era inesperada e agradável. — Claro, fique à vontade. Eu adoraria ter a sua companhia. — A voz do garoto, suave e calorosa, revelava um certo alívio ao aceitar a oferta, como se a presença de Taehyung trouxesse um conforto inesperado em meio à sua tristeza.

— Estou ótimo! Mas, percebi que você está um pouco triste. — Taehyung falou enquanto arrumava suas coisas, colocando o casaco ao lado, da mesma forma que havia feito quando estava sozinho. O copo já repousava sobre a mesa, então ele se sentou de maneira elegante, mantendo uma postura impecável. — Obrigado. — Agradeceu assim que se acomodou. — Me chamo Taehyung, e você? — Perguntou, tomando um pequeno gole de sua bebida. Ele estava tão concentrado no garoto que nem percebeu mais a presença das outras pessoas ao redor.

Jungkook soltou um suspiro ao ouvir Kim, desviando o olhar para baixo. Não esperava que sua tristeza fosse tão visível.

— Digamos que passei por algo que é impossível não ficar assim. — Disse, mordendo o próprio lábio inferior. Notou o olhar sério de Taehyung e, de certa forma, sentiu-se um pouco intimidado. — Prazer, Taehyung. Sou Jungkook, Jeon Jungkook. — Apresentou-se, fazendo um aceno comum de cabeça antes de tomar um gole de sua bebida, tentando iniciar um tipo de conversa. Sentia-se nervoso com a presença marcante do modelo, como se ele pudesse ler seus pensamentos.

— Término de namoro?

Jungkook confirmou com um aceno de cabeça e Kim compreendeu.

— É realmente muito deprimente e chato. Um processo doloroso. — Falou calmamente, querendo apenas ter uma conversa agradável com o jovem e distraí-lo um pouco. — É um prazer conhecê-lo, Jeon Jungkook. — Repetiu, sendo gentil e amigável. Percebendo o nervosismo do outro, acrescentou — Não precisa ficar nervoso.

Desviou o olhar, observando algo ao redor. Não queria deixá-lo desconfortável. Jungkook sorriu com o gesto inesperado de Taehyung, achando-o adorável. Decidiu focar apenas no desconhecido com o nome que lhe fora revelado.

— Então, você trabalha com o ramo da moda? Desculpe, é que eu percebi a sua postura impecável e o teu jeito elegante de fazer tudo, então, presumo que seja envolvido.

Jeon nunca viu alguém tão bonito igual a ele, por isso, o analisava tanto. Parecia querer engoli-lo com os olhos.

— Sim, felizmente trabalho nesse ramo da moda. Sou modelo, Jeon. E você... Bom, presumo que mexa com algo que envolva arte. — Notou pelos dedos do garoto. Taehyung reconhecia bem um artista. Mãos impecáveis, dedos envoltos em tintas, a arte fluindo por suas veias. — Enfim, coisas sobre mim não são tão empolgantes, que tal me falar sobre você, hm? — Sorriu com malícia, colocando o copo com calma em cima da mesa. Taehyung estava com as pernas cruzadas, de fato, a postura dele era notável.

Falando em beleza, tendo que citar, Taehyung notou uma exorbitante em Jungkook. Ele era bonito de muitas formas, e Kim pressentia que a beleza dele não se limitava à aparência. Ele parecia ser um bom garoto, podia sentir isso.

— Bom, espero que não chore ou fique remoendo pelo garoto ou garota que tenha estilhaçado seu coração, você é lindo demais para deixar alguém fazer isso. — Piscou para ele, retornando ao assunto do término.

Taehyung estava sendo muito conselheiro, mesmo em um encontro casual não planejado.

— É complicado. Eu sei que é meio estranho estar falando sobre esse assunto, mas sinto que posso confiar em você para falar isso. — Suspirou profundamente, encarando o homem à sua frente, passando os dedos pelos próprios fios. Sua mente estava um turbilhão, mas decidiu abrir-se. Ligou o “foda-se”, dizendo a si mesmo mentalmente que “só se vive uma vez”. — Eu namorava um garoto há dois anos, nossa relação nunca foi das melhores, brigávamos muito, por motivos banais. Mas, teve um dia que acabei vendo-o na cama com o meu “melhor amigo”, então decidi acabar com tudo. — Jungkook falou abertamente, sentindo um peso sendo aliviado. Mesmo sem conhecer bem Kim, sentia que não seria julgado. — Não é que eu esteja triste pelo simples fato de ter terminado, até porque, nem sequer o amava. Apenas gostava da ideia de ter alguém para me fazer companhia. Estou triste e revoltado pela coragem que tiveram de fazer isso comigo. Agora, estou com uma puta insegurança.

Jeon se segurou para não chorar mais, seus olhos ardiam. Taehyung confirmou com a cabeça, achando adorável a forma como Jungkook se sentiu seguro o suficiente para desabafar. Ele compartilhou tudo tão abertamente, deixando o modelo impressionado. A dor e a insegurança eram palpáveis.

— Você gostava da companhia, era um método para não se sentir sozinho. Compreensível, mas acho que acabou se apegando a tudo. E sobre eles terem feito isso, pessoas são assim, Jungkook. Algumas, infelizmente. — Taehyung estalou a língua no céu da boca, refletindo enquanto passava uma das mãos pelos fios lisos. — Não se sinta inseguro, o errado foi ele, o problema não é você. Foi muita sacanagem o que ambos fizeram. É por isso que eu odeio pessoas e todo esse jogo. Pessoas hipócritas, fingindo amar quando na verdade nem sabem o que é amor de verdade. — Seu sotaque se fez presente, a voz soando um pouco arrastada. Jungkook ouvia as palavras sábias de Taehyung com atenção, concordando fervorosamente. Ele parecia entendê-lo tão bem. — Saiba que você não é o problema, e eu acho também que não deveria se fechar para coisas novas só por causa dessa relação.

— Eu vivia nesse relacionamento tóxico, e não tinha ninguém para me alertar e avisar, era o meu primeiro namoro, então, tudo só piorou. Sabe, olhando na minha perspectiva de hoje, percebo o quanto fui infeliz. Mas a ânsia por atenção era tanta que acabei me submetendo a isso. — Ele repudiava apenas ao lembrar, não queria reviver aquilo novamente, e desabafar havia sido um grande alívio. — Obrigado pelos conselhos, vou tentar mudar daqui para frente. Preciso me renovar, fazer coisas que nunca pensei antes.

— Por nada, sou apenas o seu anjinho da guarda, se assim posso chamar. — Contestou. Era um pouco cômico, pois parecia totalmente verdade o que lhe disse naquele momento.

— És realmente um anjo, no sentido literal da palavra, é tão bonito que realmente parece uma obra pura e doce. — Murmurou sem ao menos perceber, nítido que o garoto parecia surpreso com a beleza do outro, que nem sequer podia acreditar que ele era real. Limpou a garganta, tossindo de leve, antes de tomar outro gole da sua bebida.

— Muito obrigado. — Taehyung não se constrangia com elogios assim, era algo neutro, tão comum. Mordeu o próprio lábio, desviando o olhar. Queria dizer que adorou a voz dele, mas não disse. Era tão fácil engolir coisas que poderiam ser ditas. — Olha Jeon, você vai encontrar pessoas de verdade na hora certa. Tenho certeza de que terá um amor intenso com um homem apaixonante. E será tão feliz que não lembrará do dia de hoje. — Taehyung foi tão sincero, mais do que em toda sua vida. Parecia estar falando mais consigo mesmo do que com o garoto.

Certamente, ambos eram imersos em relacionamentos dolorosos. A vida nem sempre é tão compreensiva com alguns. Taehyung queria mergulhar em algo profundo para esquecer toda dor que lhe habitava, enquanto Jeon queria experimentar coisas novas, esquecer as feridas e cicatrizes. Na verdade, ambos queriam se curar, ou talvez, apenas um deles. O mais velho observava Jeon atentamente, olhos solícitos e atentos a cada movimento e modo de falar.

— É, quem sabe. Talvez o amor tenha dado um tempo para mim. Não acho que alguém vá cair do céu e me amar tão intensamente, mas não custa tentar.

— Não dos céus, obviamente. — Taehyung fez Jungkook rir, o que deixou seu coração mais calmo. — Acho que talvez você o encontre sem ao menos notar. Pode ser qualquer um do seu círculo de amigos, alguém de uma floricultura ou lugares que frequenta. O amor gosta de pregar peças, Jeon. — Taehyung fez careta, o que foi engraçado. Ele tomou mais um pouco de sua segunda bebida quando sentiu necessidade.

Jungkook gargalhou baixo, concordando com a cabeça.

— Quem sabe. No momento, eu não penso em ninguém divino que me faça delirar de paixão. Mas, se aparecer, espero realmente que ele goste de artes, porque senão, terá sido em vão. — Inclinou a cabeça para o lado, com um sorriso adorável. Era a primeira vez que sorria tão sinceramente, permitindo seus dentes avantajados aparecerem juntamente com a covinha de uma só bochecha.

— Okay, já é uma meta, começamos bem. — Quis dizer que além de tudo, ele já tinha estabelecido algo que queria em seu futuro parceiro. Taehyung achou fofo. O sorriso dele foi capaz de derreter até mesmo o coração mais frio. Taehyung sentiu a energia positiva de Jungkook. — Você é realmente lindo. — O admirou tanto, que seus olhos até brilharam ao ver todo aquele garoto. Estava encantado. — Me surpreende saber que não está envolvido com o mundo da moda também. — Talvez seu olhar tenha ficado mais intenso do que o normal.

Nem Kim estava entendendo, não gostava de focar em garotos mais novos. Mas ali, diante de Jeon Jungkook, estava mais do que viciado em olhá-lo com apreciação, como se fosse a maior obra de arte já esculpida por um grande ser.

Jeon o observou novamente, surpreso com o elogio repentino. Arregalou um pouco os olhos, já naturalmente grandes.

— Oh, obrigado. Eu nunca sei como reagir a um elogio, desculpe. — Riu sem graça, passando a mão em seus fios para tentar amenizar a timidez que surgiu de repente. Taehyung tomou mais um gole da bebida, vendo o copo esvaziar. — Por que diz isso, Taehy? Eu gosto bastante de moda, mas acho que não é o meu ramo. Sem contar que não me imagino trabalhando com algo assim. — Jeon proferiu, mordendo o próprio lábio inferior, franzindo o cenho e tensionando o maxilar trincado.

Taehyung não dormiria muito bem naquela noite só pensando nele, na conversa, em tudo.

— Não sei, acho que só enxerguei algo a mais em você. Parece que se daria bem nas passarelas ou diante das câmeras. Enfim, é o que consigo presumir. — Analisou o garoto, focando até mesmo na pintinha abaixo dos lábios.

Jeon sorriu gentil, baixando o olhar por alguns segundos, notando o quão diferentes eram, apesar de terem gostos semelhantes. Sempre fora bom em ler pessoas, e com Taehyung não foi diferente. Pode ver pelo olhar do modelo o quão infeliz e sofrido ele parecia ser, e que algo lhe impedia de encontrar o que realmente queria. E, naquele momento, aquilo despertou a curiosidade de Jungkook. Aquela conversa o fez bem, e gostaria de repetir outra vez. Desviou o olhar, terminando de beber, antes de se ajustar melhor em seu lugar, enquanto fixava sua atenção em outra coisa presente ali.

— Bom, eu nunca me vi como um modelo profissional, mas, não sei. Acho que seria uma experiência e tanto. — Deu de ombros, pensando um pouco mais sobre o assunto. Valeria a pena investir em algo assim?  Bom, não saberia se não tentasse.

Taehyung mordeu o lábio inferior, olhando para a grande janela.

— Deveria tentar, um dia. — Respondeu, observando os pingos de chuva que caíam lá fora.

Era tão deprimente.

— Olha, voltando ao assunto antes de toda essa conversa triste. Bom, é bastante perceptível que sejas modelo. És bastante bonito; e sim, trabalho com arte, sou pintor, na verdade. É a minha coisa favorita no mundo. — Disse orgulhoso, suas obras de arte eram tudo para si, não conseguiria viver sem seus instrumentos de pintura. — E Taehyung, é óbvio que são interessantes, você é um modelo. Sua vida deve ser perfeita! — Afirmou, resmungando em seguida, franzindo as sobrancelhas. Jungkook queria dizer a ele o quanto lhe interessava saber mais sobre sua vida, o quanto ele havia chamado sua atenção também. Sentia que sua própria vida era muito sem graça.

— É, um modelo... Bom, minha vida não é tão perfeita, Jungkook. O que adianta ter tudo e não ter o que realmente precisa? Enfim, é uma faca de dois gumes, afinal. — Talvez o mais novo não entendesse o que Kim queria dizer, mas a indústria da moda não era tão fácil assim. Era um modelo sim, mas passava por tantas coisas. — Deve se divertir muito pintando telas de arte, parece divertido. Herdou o dom de sua mãe ou seu pai? — Estava gostando do assunto, parecia bem mais leve e concentrado. Kim percebeu a paixão enraizada apenas pelos olhos brilhantes de Jeon.

— Pai, ele é um homem que ama a arte em si. Acabei herdando isso dele, se sentiria orgulhoso de mim. Mas, a distância é bastante cruel.

— Você ama isso, é notável. — Apontou para os olhos que brilhavam como estrelas, só por falar em tal apreciação. — Oh, ele não mora por aqui? Afinal, de onde você é?

— Busan, acho que deve ter notado pelo meu sotaque.

Pareceu um pouco surpreso, Taehyung era expressivo demais.

— Foi quase... Hm, tenho certeza de que ambos são artistas impecáveis. — Falou de todo coração, admirava todo tipo de arte.
Jungkook agradeceu, sorrindo fraco, todo bobo pelo elogio.

— Sabe, observei algo em você, parece também ser alguém infeliz. Olha, seja lá o que estiver acontecendo, converse sobre isso, não engula ou deixe tudo dentro de si, beleza? Cá entre nós, você deve ser fantástico em cima dos palcos, porra. Ser modelo não é algo fácil, eu pagaria milhões apenas para te ver desfilando. Não se impeça de fazer o que quer, dizer não às vezes é a solução. — Sorriu de canto, tentando aconselhá-lo em algo. Sentia falta de emoção em seu olhar e gostaria de tentar ao menos fazer com que o rapaz pensasse diferente. Sim, talvez esteja sendo um pouco idiota por estar repassando as palavras que recebera de Taehyung. Não era isso, apenas queria confortá-lo também, assim como ele fez consigo.

— O que seria de um grande modelo sem um pouco de infelicidade, não é mesmo? Todos nós temos de alguma forma. E obrigado pelos elogios, de coração. — Olhou para ele com apreciação, Jeon estava parecendo algo intocável aos seus olhos, algo delicado e perfeito. — E eu sei, não gosto de algumas regras da moda, digo não quando necessário, as pessoas já sabem como sou. — Os boatos eram grandes, diziam que Taehyung era um dos modelos mais rebeldes em relação a regras. — E sobre essa minha infelicidade... Bom, é algo de mim, não vai mudar.

O que ele queira dizer é: Não vai mudar até eu conseguir me abrir para algo novo.

— É algo triste, não deveria se entristecer por coisas banais. Olha, se te serve de consolo, eu também sou infeliz. Mas, irei tentar mudar isso. Como quero que também tente, Kim. — A noite estava uma bagunça, não esperava acabar encontrando um modelo e desabafar tudo de sua vida com ele. Mas, estava adorando aquela conversa. — Eu gosto disso, quebrar regras é mais divertido do que fazê-las, então, por que não?  Se você realmente quiser, irá conseguir sim mudar. Nossa vida é feita de momentos e memórias passadas, acho que se tentarmos cuidar dos traumas e inseguranças, e focar em nós mesmos, podemos sim mudar para melhor a cada dia, claro. — Jogou todas as palavras na mente do Kim, dando de ombros, encostando-se na cadeira. Rodando o pingente que usava com o indicador.

— Está tudo bem, não se preocupe. Obrigado mais uma vez pelos conselhos noturnos. E estamos aqui para falar de você... Bom, já tem planos para amanhã? Se não, sugiro que deva fazer algo para descontrair e se divertir. — Falou de forma calma e serena, Taehyung não parecia ter pressa em nada. Bom, não ali.

— Na verdade, amanhã eu queria voltar a pintar. Já faz um tempo que acabei deixando a arte de lado, queria voltar com tudo, tenho em mente o que quero pintar.

— Acho que um choque de inspiração te pegou. E então, o que vai pintar?

— É, foi um choque bastante estrondoso. — Riu baixo, mordendo o próprio inferior. Reparando no tom instigante que ele falava, de certa forma, lhe atraía bastante. — Você. — O silêncio fez presença entre ambos. Jungkook continuou. — É uma inspiração e tanto, acho que uma pessoa tão extraordinária como você merece um quadro pintado à mão.

— O quê? — Ficou um tanto surpreendido. Taehyung desviou o olhar na mesma hora. Não gostava que o vissem dessa forma, tão... Jungkook conseguiu deixá-lo sem jeito. Kim não diria em voz alta, mas podem o chamar de diversas formas, elogiar com milhares de elogios, ele não aceitava. Poderia passar uma confiança de deuses, mas a verdade é que estava pouco se fodendo para sua beleza ou algo do tipo, porque, na verdade, não conseguia sentir que tinha tudo isso que as pessoas falavam. — Okay, eu não esperava por essas palavras.

— Eu o achei tão majestoso que sinto a necessidade de retratá-lo em uma obra de arte, sendo eu mesmo o pintor. — Disse Jeon com sinceridade, determinado a capturar a magnificência da pessoa que Taehyung era, não apenas por sua beleza, que é indiscutível, mas por sua essência.

— Espero um dia poder conhecer sua arte, Jungkook. — Taehyung proferiu.

— E eu espero um dia poder vê-lo deslumbrando nas passarelas, Taehyung.

Depois de uma longa conversa, eles ficaram em silêncio, compartilhando boa parte da noite juntos. O som da chuva os envolveu enquanto trocaram olhares, aproveitando a companhia, o carinho e a atenção um do outro. Não precisaram de toques, apenas da presença reconfortante.

Kim levantou-se com calma, pegando seu elegante casaco, e seu aroma delicado envolveu brevemente as narinas do pintor. Então, soube de imediato que nunca esqueceria o cheiro.

— Vamos nos encontrar novamente? — Perguntou Jungkook.

— Espero que sim, meu anjo.

Foi a última coisa que Taehyung disse, antes de pagar a conta, sorrir lindamente pela primeira vez na noite e, sair mundo afora para longe daquela mesa que estava com Jungkook a minutos atrás. Apesar da confusão em seu coração, sentiu uma faísca de serotonina, algo vivo e reconfortante dentro de si. Com sinceridade, foi benéfico para Taehyung desabafar e conversar com um estranho. Na verdade, conversar e ajudar Jeon Jungkook foi uma experiência valiosa para ele.

×××××

Oi, anjos! Então, primeiro capítulo postado, espero que gostem.

Alguém aqui já sentiu a química que ambos tem? Eu senti, sério!

Caso queiram divulgar a fic ou comentar sobre ela no twitter, não esqueçam de marcar a hashtag para ficar mais fácil de visualizar. Use #rabiscandovocêtk

Não esqueçam de votar na estrelinha, anjos. Isso ajuda no impulso de voltar aqui e tomar coragem para publicar.

Bom, é isto.
Beijos, até a próxima. ;)

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