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By franchaels

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๐Ÿ—ก๏ธ | Of Bones and Embers.
GRAPHICS GALLERY.
โ™›. ๐Ÿฌ๐Ÿฌ๐Ÿฌ โ” PROLOGUE.
โ™ฑ ACT I โ”€โ”€โ”€ Before I Wake.
โ™›. ๐Ÿฌ๐Ÿฌ๐Ÿฎ โ” SWEET LIES.
โ™›. ๐Ÿฌ๐Ÿฌ๐Ÿฏ โ” DEAD IN HER EYES.

โ™›. ๐Ÿฌ๐Ÿฌ๐Ÿญ โ” BORN OF BRONZE.

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By franchaels

🐉. OF BONES AND EMBERS.
━━━ CHAPTER ONE: NASCIDA DO BRONZE.

(o céu queima vermelho contra sua pele)

📍. Pedrarruna, 112 DC.


É noite quando os gritos finalmente cessam e um silêncio sepulcral se derrama pelos corredores da sede ancestral dos Royce. A meia-lua flutuava através de uma montanha escarpada, e um véu escuro semelhante a feltro se estendia acamado em suas cabeças, ocultando segredos e trazendo tenras novas. Caladas da noite sombrias e pinceladas com um insólito calor envolvendo corações frios, ondas do mar se chocando contra a costa de monumentos de pedras amarronzados e o reflexo do luar pálido se projetando sobre as águas.

Uma vez, Rhea se recorda de ter quebrado o braço na primeira caçada que saiu com seu primo, quando tinha dez e dois anos.

A matéria orgânica pegajosa e viscosa estancou as ferraduras de seu cavalo na lama, que permanecera atado com as patas imóveis; os esforços que ela clamara para tirá-lo de lá tornando-se em vão, com cada tentativa agravando-se para um estado mais difícil do que o anterior. Então quando desmontou de seu garanhão e planejou voltar caminhando para o amontoado do grupo de seu primo, tomando cuidado para não ter o mesmo destino do cavalo, teve o vislumbre do javali malhado que caçavam.

Ela não poderia simplesmente perder a chance. 

O arco pesava contra os seus ombros, mas ela sabia como usá-lo; o primo Roderick lhe permitia aulas em cortesia ao esforço primoroso que dispunha em suas preleções. Os números sempre lhe pareceram fáceis demais e o bordado servia com um escape, tal como o estudo das estrelas, então as justificativas escusas de que ela poderia se desinteressar por suas outras tarefas eram infundadas. Os treinos para falcoar, no final, eram como um prêmio.

Entretanto, foi quando começou a escalar a árvore, atirando-se no tronco mais próximo, tateando com seus dedos macios demais a casca áspera, a seiva pegajosa infiltrando-se em suas unhas, que seus olhos encontraram uma serpente rastejando sobre a madeira. Antes que pudesse descer com cautela, as pernas escorregaram pelo pânico que deslizou sobre sua consciência e ela caiu em cima do braço. Rhea tentou se agarrar, mas apenas serviu para que arranhões se formassem em sua pele, alguns com cortes tão extensos pela aspereza da árvore que se transformaram em feridas purulentas.

Deveria ter permanecido no castelo ao invés de partir em algo que não possuía experiência e com condições climáticas terríveis.

Rhea pensou que nunca fosse sentir uma dor maior que aquela novamente. Seu braço inchou tanto que pensou que poderia explodir, adquirindo um profundo tom amarelado feio com o passar dos dias. Ela dormia a maior parte do tempo pelos excessos roubados do leite de papoula, como se aquilo servisse para amenizar a sensação penetrante.

Até agora.

Suas pernas pesavam como chumbo, o corpo inteiro latejava como fraturas de muitos ossos quebrados. Uma dor profunda se arrastava em seu abdômen e nem as almofadas que sustentavam sua lombar eram suficientes para apaziguar a dor que se proliferava como as fortes correntes da Baía dos Caranguejos. Naquela altura, as contrações ocorriam sucessivamente, sem descanso.

— Empurre, senhora. — A parteira estimulou, seu rosto enrugado focado no meio de suas pernas enquanto as separava com as mãos magras.

Rhea respirou profundamente, seus dedos se enredando ao redor do lençol até as unhas arranharem o tecido macio. Seu peito tremeu com a subida lenta da respiração que estimulou, buscando controlar as pesadas lufadas de ar que abandonavam seus lábios.

— Vamos lá, querida Rhea. — Sua irmã, Josselyn, estava sentada ao lado da cama enquanto refrescava sua pele com um pano úmido. Seus olhos quentes como duas amêndoas se estreitavam a cada maldição infame proferida por seus lábios. — Está quase vindo.

— Josselyn, não posso—

— Sim, você pode. — Ela interrompeu, as palavras suaves e suas sobrancelhas arqueadas em encorajamento. — Faça o máximo de força que conseguir. Não se acanhe.

— Parece fácil falar!

Deuses, ela se sentia tão fodidamente exposta. As pernas escancaradas, seus lábios comprimidos e gemidos rasgando suas cordas vocais. Rhea não queria gritar. Mas quando sentiu mais uma pontada em sua intimidade, um brado angustiante rolou de sua boca.

A mulher tombou a cabeça para o lado, sua visão tornou-se turva a medida que a pressão desfavorecia seu corpo. Ela rangeu os dentes, sua mandíbula pressionada duramente, lágrimas grossas escorrendo por suas bochechas coradas.

Ela não ia conseguir. Merda, se soubesse que dar a luz quase arrancaria sua alma fora, ela teria feito um voto de castidade.

Mais de trinta anos. Ela já deveria ter um filho há muito tempo. Olhares desinibidos de cautela a assistiram definhar sobre comentários acerca de sua fertilidade, quando nem era a culpa dela...

Sua barriga endureceu novamente e seus dentes rasparam o lábio.

Ela empurrou de novo.

Seus ombros se contraíram com a dor.

— Posso ver a cabeça, senhora! Ande, empurre!

Rhea aprendeu que não teria um marido amoroso assim que colocou os olhos em Daemon Targaryen pela primeira vez, seus insultos velados de falsas cortesias e uma personalidade egocêntrica para se chocar contra a dela. Embora naquele instante ele tenha sido canalha o suficiente, esquivando-se de receber quaisquer notícias acerca do parto que já perdurava por um longo dia.

Um longo dia que se deitava reta sobre a cama e se contorcia a cada pontada dolorida, seu único conforto sendo o leite de papoula que a fizera delirar durante à tarde.

E no final das contas, o bebê que carregava era sangue dele também.

Maldito príncipe dragão...

Com um último golpe de força que conseguia canalizar de si mesma, ela ignorou a sensação de fogo fervilhando em sua pele e respirou fundo, contraindo seu abdômen e impulsionando para baixo como se mãos apertassem sua barriga inchada.

A noite novamente foi preenchida com seus gritos.

━━━━━━━

Daemon Targaryen caminha. Os candelabros de bronze ao seu redor ardendo com piche, ondulando crepitações contínuas pelas extremidades rochosas do castelo que retumbavam como ecos distantes.

Caso abordado há alguns anos atrás, em uma situação hipotética durante uma de suas visitas nos bordéis da Rua da Seda que ele tão adorava frequentar e lhe dissessem que sua esposa estéril estava dando à luz, sua Vaca de Bronze, ele se desmancharia em risos na frente do pobre coitado alucinado. Provavelmente acreditando que era algum bêbado errante que interrompera a sua travessia em busca de diversão e tivesse o senso desbotado, espalhando fofocas mal contadas com prelúdio errôneo no porto mercante da Baía da Água Negra.

Mas agora, estava claro; ele havia subestimado a voracidade das coisas e se enganado com seu orgulho.

Daemon não era alguém que detinha ideias copiosas e delirantes sobre ter um destino traçado; ele genuinamente acreditava que as moldagens de sua vida dependiam dele, com sua única certeza sendo de que um dia morreria — o que, honestamente, ele esperava que fosse em uma época distante, ou não antes de seus inimigos, ao menos —, e, enquanto isso, a única pessoa que possuíria algum tipo de domínio sobre seu julgamento, seria ele mesmo.

Um riso histérico se obstruiu em sua garganta, dando-se conta da situação que se encontrava. Uma percepção insidiosa ressonando em seu âmago, um teor áspero o envolvendo em um manto iníquo tecido através de seu próprio desleixo precipitado por sua censura.

Ele nunca se importou com Rhea Royce, reverberando palavras vis em sua direção com fúria aterradora sempre que via a oportunidade. No entanto, agora ela estava dando a luz ao filho dele.

Seus passos tornaram-se mais rápidos à medida que Daemon subia o lance de escadas íngremes, a mão que guardava um anel de rubi polido no dedo mindinho apoiando-se com força na balaustrada untada de bronze. O luar infiltrava-se pelos vitrais derramando uma iluminação suave no caminho escuro.

Sīkudi nopāzmi... Ele queria gritar até que sua garganta estivesse em carne viva.

Haviam sido tantas às vezes que ele abandonou sua dignidade e implorou ao irmão pela anulação de seu casamento não consumado, três era o número exato de vezes que ele compartilhou a cama com Rhea Royce. E o mesmo irmão que buscava lhe consolar, com palavras como: "Você se refuta, irmão. Uma anulação seria impossível quando todos são cientes de que não compartilha a cama de sua esposa. Como deseja um casamento fértil de tal maneira?", E Visy riu após incentivá-lo a tentar de novo. Seu irmão parecia incapaz de compreender. Ele lhe roubou a possibilidade de um filho quando Daemon se mostrou disposto...

Mysaria perdeu a criança que carregava em seu ventre durante uma viagem arriscada para as Cidades Livres após as ordens de Viserys. Isso era algo que ele ainda se ressentia, seu coração se endurecendo contra seu próprio irmão. Entretanto, ele não lamentou — Daemon alimentou suas próprias ambições em seus segredos mais íntimos, ao invés disso. Quando seu sofrimento no Vale de Arryn passou a deixá-lo debilitado, a oportunidade de se fazer rei surgiu-lhe. Então ele levantou sua glória nas névoas marítimas dos Degraus.

Ele gostava de Mysaria, genuinamente. E ele detesta a Vaca de Bronze. Agora que seu casamento com Rhea se aproximava mais de tornar-se uma coisa real, suas dúvidas constantes se apegavam a se iria conseguir se conectar com uma criança nascida da união ominosa com sua esposa.

Ele queria o bebê de Mysaria, diferente deste. Mysaria tinha o sangue lyseno que descendia dos valirianos; o filho deles teria magia percorrendo seu sangue.

Com a garganta seca pelo ataque interrupto de suas lembranças, Daemon foi arrastado pelas paredes que receberam a harmonia de dourado pálido, mas que antes eram tão escuras como as de Pedra do Dragão. Embora as seteiras que estavam em locais perto das janelas fossem a prova que os Royce se orgulhavam de carregar sangue de Robar II, tão guerreiros como ele fora.

Seu lema, nós lembramos, não era infundado. Aqueles pequenos vestígios, tais como os símbolos rúnicos escritos na língua antiga no salão principal de Pedrarruna, eram o epítome da glória que um dia os reis de bronze esbanjaram.

E mesmo com a opulência de suas histórias, não havia sido o suficiente para Daemon. Seu casamento rico.

Quando desposou a vaca de bronze, com dez e seis anos completos, apenas não se rebelou em consideração a sua avó e ao pai, a Boa Rainha e o Valente, ambos possuindo o desejo de ratificar um bom futuro para as crianças da amada Alyssa Targaryen.

Daemon era um segundo filho. Não seria ele o herdeiro de seu pai.

Então ele engoliu sua amargura e escondeu o forte martelar de seu coração nas costelas, mas isso não significava que ele tinha que ser bom para Rhea. Ela não o merecia e muito menos era digna dele.

E quando ele chega no corredor dos aposentos de sua esposa, ele nota duas criadas se aproximando, embolando os lençóis de linho branco entre os braços até notarem sua presença, curvando-se e prendendo a respiração conforme o príncipe caminha.

Ele não se atreveu a perguntar se havia ganhado um filho ou uma filha. Em outro tempo, ele desejaria um menino; quando ainda era o herdeiro de Viserys e um varão robusto apenas asseguraria sua pretensão ao Trono de Ferro. Entretanto, os pirralhos merdinhas de seu irmão nascidos da cadela Hightower o empurraram ainda mais para trás na linha de sucessão.

— Meu senhor! — Uma senhora velha surgiu atrás das duas moças, seu cabelo grisalho escondido através de um véu de renda branca, às mãos róseas que segurava em frente ao colo permeando o ar e um avental pendendo no tronco. A parteira. Ela se inclinou, seus lábios se repuxando em um sorriso suave. — Creio que Meistre Rainer o informou sobre o fim do parto.

Ele emitiu um leve revirar de olhos, dando um passo para frente.

— A criança? 

— Ah, sim! — A senhora corou quando prosseguiu, limpando a garganta ligeiramente. — A senhora Royce deu a luz a uma bela menina! Meus parabéns, príncipe. O senhor foi abençoado com uma garotinha muito saudável.

Sua respiração travou. Calor pulsou em sua pele e ardeu como uma ferida aberta.

Ele se esgueirou, passando pela senhora em um rastro rápido e entrou no aposento de Rhea. Daemon sentiu o cheiro presente no ambiente; um tênue sopro de sangue e urina que grudara no colchão de plumas. Todavia, não fora com isso que ele se preocupou quando notou o pequeno embrulho nos braços da vaca de bronze que jazia deitada na cama.

As mulheres ainda presentes se recolheram respeitosamente quando o príncipe se aproximou com passos largos e observou o bebê em seus braços, coberto por uma manta preta delicadamente bordada com fios escarlate. Seu rostinho escondido pelo pano enquanto a mãe o balançava.

— Você parece uma merda. — Como sempre, ele quis acrescentar, mas se conteve na presença das outras mulheres que estavam no ambiente. Não que alguma delas fosse exatamente uma beleza a ser considerada, eram desagradáveis na maior parte do tempo, mas boas companhias quando necessário.

Um homem deveria ter elogiado Rhea pelo sucesso do nascimento, ainda mais uma criança saudável, mas não ele.

Rhea soltou uma risada cansada, movendo-se desconfortavelmente.

— Encantador como sempre, esposo. — Ela tentou disfarçar sua repugnância, entretanto, um sorriso torto se instalou em seus lábios.

— Que seja. — Suspirando ansiosamente, o Príncipe Rebelde estreitou os olhos brevemente sobre os ombros. — Deixem-nos. Sua senhora chamará quando for preciso.

O séquito de mulheres que a seguiam diariamente curvaram-se respeitosamente antes de sair, seus vestidos mais modestos do que a maioria dos das Terras da Coroa rodopiando no rastro abandonado.

— Me disseram que é uma menina.

— E isso o incomoda, meu senhor? — Seus olhos lhe perfuraram com destreza, a criança começando a resmungar.

Daemon deu de ombros, despretensiosamente. O cheiro das especiarias dispendiosas que foram acesas passando a adentrar em suas narinas. Uma delas era noz-moscada, ele notou.

— Não. — Daemon foi sucinto, andando até a enorme cama de dossel conforme encarava Rhea. Suas bochechas estavam pálidas e seus olhos meio fechados, sonolentos. Ele quase se sentiu tentado a espiar através do pano, mas não na frente dela, então apenas memorizou como Rhea a segurava.

— É bem-verdade que deve imaginar que estou surpresa. E que tenho motivos para duvidar de sua honestidade. — Ela resmungou, balançando a menina em seus braços.

O príncipe revirou os olhos.

— Por minha sorte eu não considero o que você pensa.

Antes que Rhea respondesse, a porta fora aberta, trazendo consigo um frescor noturno que revigorou os aposentos. O Meistre Rainer caminhava com ombros eretos, sua roupa cinzenta com um colarinho rígido e alto, o peso de suas correntes forjadas de prata, ouro amarelo e bronze zunindo no ambiente, parecendo sufocar seu pescoço largo e esguio.

Atrás dele, uma mulher trajava um vestido justo de samito azul-claro, com babados abertos nos pulsos e um busto apertado, seus seios cheios e fartos parecendo prestes a saltar. Seus cabelos eram castanhos-avermelhados, as maçãs do rosto altas e os olhos verdes.

Daemon ergueu uma sobrancelha.

— Meu senhor, minha senhora. — O velho se curvou. Meistre Rainer era um homem com mais de quarenta anos, as maçãs do rosto mirradas e a pele manchada, mas ainda mais conservado do que a maioria dos outros Meistres que Daemon já vislumbrara. — A ama de leite deve amamentar a pequena criança agora. A senhora precisa se poupar para acelerar a recuperação de sua fertilidade.

Daemon riu discretamente. Rhea não iria precisar de sua fertilidade.

— Ela está tão calma em meus braços, creio que possa ficar mais um pouco. Ela chorará quando estiver com fome. — Rhea respondeu, parecendo um pouco ofendida.

— Se me permite, minha senhora. — Daemon se encostou contra o suporte da cama, cruzando os braços e dispondo um olhar entediado. A senhora de Pedrarruna acenou para o Meistre prosseguir. — O leite de papoula começará a fazer efeito logo. Ingeriu longas doses e o sono não vai demorar a acometê-la.

Rhea piscou languidamente, comprovando as palavras do velho senhor. A vaca de bronze suspirou.

— Compreendo sua preocupação, Meistre. Embora na próxima vez, seja mais sucinto de que suas inquisições também restringem-se às falas pretensiosas das Septãs de que irei ausentar-me de meus outros deveres caso amamente minha filha.

A autoridade de Rhea era engraçada quando não dirigida a ele como seu esposo. Ele era um príncipe, porém um segundo filho, e ela era a senhora daquelas terras. Revirando os olhos, Daemon descruzou os braços e caminhou em direção a porta. 

— Boa noite a todos. Querida esposa, tenha sonhos agradáveis. — Os ombros de Rhea se encolheram quando ele olhou para ela, seus olhos afiados transitando as palavras que gostaria de profanar contra ele; um porco maldito que ignorara a própria filha.

O próprio Meistre Rainer limpou a garganta enquanto a ama de leite abaixou a cabeça e cruzou as mãos rente ao abdômen.

Daemon abandonou os aposentos e passou a caminhar pelos corredores. Ele esperou e esperou. Atravessando entre as tapeçarias, descendo as escadas e espreitando a janela vez ou outra para ver se Caraxes estava por perto. Também passara em sua própria alcova para pegar o presente de Viserys que, francamente, Daemon invejou, com a carta de Vossa Graça relatando explicitamente que estava enviando o ovo como forma de pedido de desculpas para a Lady Rhea Royce pelos infortúnios causados e que a notícia de sua gravidez o alegrava, tal como a sua corte.

Quando ele teve a certeza que um bom tempo havia se passado, ele retornou para o corredor dos aposentos de sua esposa e empurrou a porta do solar anexado ao dela, sabendo que Rhea havia solicitado que a menina permanecesse na câmara ao lado — essa que deveria ser de Daemon, mas que ele foi ágil em recusar, sabendo que preferia a maior distância possível da Vaca de Bronze.

O solar era um espaço amplo de teto em treliça, tornando-o ainda maior visualmente. Tapeçarias eram costuradas nas paredes, narrando as vitórias de Yorwyck VI contra os ândalos e até a lendária Batalha das Sete Estrelas. Um longo lustre escorria na posição central, cristais em suas pontas sendo refletidos pelas chamas bruxuleantes das lanternas de óleo insertadas. Havia uma lareira octogonal orlada com pedras avermelhadas.

E, próximo a cama intocada, havia um berço com estrutura de mogno, ornamentações feitas de bronze e rubis entalhados na cabeceira lisa. As cortinas de tule estavam abertas, portanto, quando Daemon se aproximou, ele observou a pequena criatura que respirava pacificamente, seus olhos grandes abertos.

Ele hesitou antes de se aproximar, temendo que ela começasse a chorar, mas o mais profundo silêncio mergulhou entre eles. Porra, ele não teria ideia de como fazê-la parar se ela quisesse chorar.

— Pelo menos você não é uma bebê chorona. — Daemon tocou levemente os fios ralos de cabelo no topo de sua cabeça, tão claros como o seu.

Ele tirou o ovo de dragão que mantinha escondido parcialmente em seu gibão semi-aberto, colocando-o com cuidado aos pés da menina. Era de um tom magenta que cintilava à luz do fogo, com a superfície dura. Ela abaixou os olhos, torcendo os dedinhos minúsculos um nos outros conforme agitava os pés.

Quando se deu conta, ele já estava tirando-a delicadamente do berço e embalando em seu colo, suas mãos parecendo tremer um pouco. Ele mordeu o interior de sua boca, copiando os mesmos movimentos que notou Rhea fazer; Daemon atravessou a mão para o quadril inferior do bebê e apoiou sua nuca contra seu antebraço. Sua filha se remexeu como se estivesse inquieta, soltando um pequeno murmúrio por ser tirada de seu calor.

A deglutição de sua saliva foi dura.

Ele parecia um rapaz acuado, soando quase amedrontado com a maneira retraída que ajustou a criança. Que homem você é, Daemon Targaryen.

A menininha fungou, o som mais parecido com o de uma língua estalada.

Para sua satisfação, os olhos dela eram os mesmo que o seu. Um violeta pálido e brilhante. Como o do próprio pai dele. E os lábios dela, aqueles que retiniam sons suaves, eram idênticos aos da sua mãe, Alyssa. Um tufo dourado-platinado era visto levemente salientado em sua cabeça. Uma Targaryen, da cabeça aos pés. Feita para o fogo como ele era. Seu destino era domar um dragão e governar os céus, como sua família fizera.

Se não fosse seu nariz, ninguém jamais poderia dizer que ela era de Rhea Royce. Pequeno e reto, vagamente salientado na ponta. Então, de repente, viu-se ruminando que a única coisa que tornava a Vaca de Bronze minimamente agradável era seu nariz, porque em sua filha ele era perfeito. Antes, seu tom de voz médio e levemente agradável compunha a singular virtude. Daemon considerava isso um êxito, porque a voz era tolerável paragonada ao rosto.

Era realmente uma pena ela ser filha da Vaca de Bronze. Daemon queria ter filhos, sim, mas não com ela. Ele permanecia ciente que aquela menininha estava fadada a uma vida de miséria por compartilhar a paternidade deles dois.

Pobrezinha...

Ela um dia também seria Senhora de Pedrarruna, embora uma princesa da casa Targaryen. O Príncipe Rebelde lamentou que estivesse presa ao Vale, definhando como ele.

As palavras seguintes saíram de forma natural, devorando seu aterrorizante estranhamento.

Ānogar ānograro. Nunā Dārilaros.

━━━━━━━

Daemon Targaryen merecia melhor.

Foi isso que ele pensou há quase dezesseis anos atrás— uma veneração recém aflorada em seu peito preenchendo a promessa de um futuro auspicioso. Afinal, ele era neto de um rei e seria filho de um, presenteado por seu avô, o rei Jaehaerys I, com a Irmã Sombria, a espada forjada para as próprias mãos da lendária rainha conquistadora, Visenya.

Qualquer um o consideraria agraciado diante os olhos dos deuses, seja pelo Guerreiro com sua ousadia e coragem, os antigos que viviam no coração do Norte ou a velha deusa Vhagar que seu sangue cultuava, a Muña Vīlībāzma, que segundo as histórias que contavam e se seguiram em sua família após a perdição de Valíria, aquela que era considerada um dos maiores pilares dos panteões de divindades ainda os guardava de seu templo vulcânico.

Daemon detinha virtudes ardentes, rótulos audaciosos de um cavaleiro tão jovem, consciente da linhagem pela qual descendia. Ele estava destinado para fogo e sangue quando ainda dentro do útero de sua mãe. Entretanto, da mesma forma que a noite é escura e suntuosamente carregada de segredos, devassos e odiosos, circunstâncias não planejadas agem da mesma forma que uma sensação desconhecida na sobressaliência da hora da coruja.

Rodopiando com rachaduras efetuadas durante os segundos assustadores.

E no fundo, ele se sentiu desgostoso por ter depositado tanta expectativa entufada de uma coisa que correu por suas mãos. Um segundo filho sempre ficava com o pior.

Também desejou a calúnia de seu pai. Seria melhor assim. Os dentes cerrados pela pressão das gengivas enquanto colocava esforço o suficiente para as mentiras jorrarem de seus lábios — mas não foi o que aconteceu, infelizmente. Porque Baelon Targaryen não sabia enganar os filhos. E nem queria.

Embora se a situação fosse assim, ele poderia sentir mais raiva. Sem o pesar de culpa por sentimentos negativos contra aquele que mais amava. A traição seria profunda, um golpe silencioso e discreto que perfura a carne macia.

— Sua mundanidade persistente mesmo após tornar-se um cavaleiro ainda me impressiona, Daemon. — Baelon Targaryen praguejou.

— Oras, pai. Suas próprias palavras parecem contradizê-lo. Já sou um homem feito que precisa ter suas necessidades saciadas. — Daemon devolveu em um tom jocoso, passando o cabelo comprido para trás dos ombros.

— Um cavaleiro ainda tem preservação o suficiente para não cair sucessivamente nas ruas da Baixada das Pulgas de tão embriagado. — A represália vinda com estoicidade não passou despercebida por Daemon, enquanto Baelon forçava contra seu rosto uma taça de água prateada regada à sal, ignorando os protestos do filho.

Era uma comemoração. O mais novo corrigiu, antes de levantar a mão e afastar o objeto pressionado contra sua boca. Baelon ciciou resignado. — Eu estava contente pela garantia da gestação tranquila de minha cunhada. Você sabe como Aemma e Viserys vem tentado. — Daemon esticou os lábios, meio absorto na própria neblina de sua mente.

Baelon zombou com uma risada incrédula.

— Que comemorasse junto com seu irmão no conforto da Fortaleza Vermelha, então.

O rapaz parecia se atentar no que era mais conveniente naquele momento, entretanto.

— Mas eu estava comemorando junto a Visy. Embora meu querido irmão tenha se assustado quando oferecemos uma moça a ele e foi embora. — A gargalhada que arriou seus lábios pareceu perturbar o pai, que emitiu um som gutural do fundo da garganta com o comportamento de seu filho mais novo.

— Isso foi seu irmão optando por ser alguém decente. — Baelon suspirou. — Não posso acreditar que o arrastou mesmo para um bordel.

— Foi uma sugestão. O rapaz retrucou incisivamente. — Viserys estava eufórico pela notícia e queria comemorar com um brinde. Mas com um vinho excepcionalmente ruim feito na Campina... — Daemon tomou fôlego, uma leve dor surgindo em sua têmpora, fazendo-o crispar os lábios antes de prosseguir. — Então apenas sugeri levá-lo a um lugar onde se encontravam bebidas de verdade.

Seu pai caiu contra a cadeira estofada em sua frente, empurrando de maneira desleixada a franja de seu curto cabelo platinado. Diferente da maioria dos Targaryen que optavam por cabelos longos, o pai tinha as laterais curtas e um grande volume no topo da cabeça.

— E Viserys acreditou que você não tinha nenhuma outra intenção?

Eu não tinha outra intenção. Ele continuou retrucando.

— Levá-lo ao bordel, Daemon. Pelo amor dos deuses. — Seu pai murmurou a última parte para si mesmo. — Sabe que Viserys é influenciável demais por você.

—Não seja tão contundente, pai. — Daemon riu de novo. — É algo normal.

— Ah, filho. — Dissera seu pai com os olhos levemente fechados quando Daemon olhou para ele, seus quarenta anos marcados em rugas profundas na testa, tal como o desalento presente em seu semblante que tornara-se entristecido desde a morte de sua mãe, quase treze anos atrás. O brilho que o Príncipe da Primavera sempre carregou em sua altivez parecia ter se esvaído. — Você deveria notar seu erro. Está na hora de criar responsabilidades. Não é mais um garoto mimado preso por mimos fáceis.

Daemon fingiu uma careta.

— Diga-me, pai. O senhor não aproveitou sua juventude? — A pergunta soou de forma retórica.

— Isso não se trata de mim. Mas já que mencionou isso, frequentei um bordel três vezes antes de perceber que estava apaixonado por sua mãe. E ela quase me cozinhou vivo quando descobriu sobre. — Baelon contou, exasperado. O jovem príncipe se remexeu um pouco com a menção da falecida mãe. — E se estivesse aqui, nem seu amor materno a permitiria ser tão condescendente com suas ações imaturas quanto eu sou.

Daemon se estancou, de repente. O sorriso em seus lábios murchou e ele piscou, desperto.

Eles estavam nos aposentos do rapaz na Fortaleza Vermelha após Daemon retornar aos tropeços depois de ter se divertido no Pérola Azul, empanturrando-se de hidromel e se enterrando em uma puta. O pai invadiu seus aposentos e o fez mergulhar em uma tina de água fria que foi o suficiente para lhe causar trepidação, deixando-o um pouco desnorteado— talvez ele estivesse bêbado.

— Você acha é? — Ele perguntou com ceticismo, esfregando os olhos com o dorso da mão. Sentado em uma poltrona e vestido com uma camisa de linho branco e calças de algodão, ele sentiu-se levemente inebriado pelo fogo realçado na lareira, abafando sua pele contra os tecidos ricos que trajava. Erguendo-se com a mão apoiada no encosto do estofado, Daemon pegou uma jarra dourada para servir-se de um pouco de vinho. Até que sua mão tremeu e o líquido tírio manchou seus dedos, não sendo mais danoso graças a mão firme de seu pai que o segurou.

Filho.

— Não é justo você mencioná-la quando teve um tempo gradativamente amplo com ela enquanto eu tenho que me contentar com borrões imperfeitos—

Daemon. — A voz carregou uma sentença com maior autoridade. Seu pai pegou a jarra em sua mão e a pousou cuidadosamente na mesa. A mão afagou seu ombro, e quando ele olhou para o mais velho e observou os olhos idênticos aos seus, percebeu que algo sério estava chegando nas íris inundadas de simpatia.

Seu pai se esforçava.

Mais do que o príncipe pudesse exemplificar.

Desde a morte de Alyssa Targaryen, o futuro herdeiro do rei jamais pensou em tomar outra esposa. Alyssa foi seu tudo. Destinada a ele desde que eram crianças. E quando ele a perdeu, um vazio profundo cavou espaço em sua vida, que foi suprido apenas por seus filhos, então ele sempre tentava— ser tudo que eles precisassem.

— Retomaremos essa conversa amanhã quando estiver sóbrio, é melhor repousar, por agora. Lhe fará bem. — O mais velho sugeriu suavemente, o toque ausente de brusquidão quando o ajudou seguir em direção a cama e o deitou entre os confortáveis travesseiros de penas de ganso.

Daemon estava tão desnorteado que pressentiu o toque de algo como névoa inebriante se enredar ao redor dele e o sono puxá-lo para um buraco mais profundo.

Se soubesse o que viria na manhã seguinte, optaria por ter continuado a dormir. Porque naquele dia, onde o céu mostrava-se rosado e com gralhas, planando entre as torres, Baelon contatou-lhe que um casamento estava sendo acordado com os Royce de Pedrarruna. Ele se casaria com a conhecida de sua prima Aemma, Rhea Royce. Uma melhor que ele havia visto tão poucas vezes que sua aparência não fora preservada em seus pensamentos.

Porque sim, haviam pessoas que deveriam ser lembradas. Mas não ela. Cabelos castanhos, olhos azeviche e maçãs do rosto caídas. Ela era quatro anos mais velha que ele e sem nenhum adjetivo que a preservasse como uma beleza etérea. Daemon fora condenado a uma mulher fria do Vale que estava muito abaixo de seu nascimento.

Ele preferia até mesmo sua tia Gael, que na maioria das vezes agia como uma ratinha coagida; calma e silenciosa. Ao menos ela tinha o sangue do dragão queimando suas veias e dignidade para tê-lo como esposo.

Mas não, ele estava sendo castigado.

Daemon merecia melhor, não?

━━━━━━━

FINALMENTE A ATUALIZAÇÃO VEIO AÍ!! gente, mil perdões a demora. esse capítulo exigiu muito de mim pq eu queria entregar o que acho mais coeso com meu rogue prince e o daemon é um personagem de muitas nuances (nunca mais invento um capítulo que tem a maioria do ponto de vista dele). isso deu exatas 4982 palavras e eu ainda tirei um pov inteiro pra colocar no próximo 🤯🤯 e eu me senti ainda mais inspirada depois do ep 8 de hotd, chorei tantooooo

GLOSSÁRIO!

Sīkudi nopāzmi ━ Sete Infernos.
✦ Ānogar ānograro ━ Sangue do meu sangue.
✦ Nunā Dārilaros. ━ Minha princesa.
✦ Muña Vīlībāzma ━ Mãe da Batalha.

esse último eu não tenho 100% de certeza se tá certo na forma escrita, mas muña é de fato "mãe" e vīlībāzma significa batalha/guerra.

vamos lembrar que rhea não é laena, mysaria ou rhaenyra. é alguém que ele despreza e não faz esforço para ter uma boa relação. eu mencionei que a relação dele com a hera é caótica, e, de fato, realmente é. ele no começo tenta pensar que ela vai ser um benefício único pra ele como herdeira de runestone, mas no processo ele percebe o quanto a ama genuinamente mesmo com a união dele com a rhea não sendo bem-vinda pra nenhum dos lados. isso vai ser melhor explorado nos próximos capítulos, pois como eu disse, of bones and embers vai demorar a chegar no romance de cregan e hera. e antes disso há a história da hera e a sua relação complicada com o pai dela que vai carregando mágoas com o passar dos anos.

eu mencionei anteriormente, mas a base principal daqui é fogo & sangue (vez ou outra eu vou usar alguma coisa da série q eu gostar muito, como o elenco), e nessa timeline de 112 DC o daemon no ano anterior deu aulas pra sobrinha dele aiai como eh serelepe. nos livros também ele volta para os degraus ao invés de runestone, mas modifiquei isso no roteiro 🤟🏻 e aqui, assim como no livro, a mysaria realmente engravidou dele, mas sofreu um aborto quando ia pras cidades livres.

e eu quis incluir essa ceninha do baelon com o daemon pq ele é um dos meus targs favoritos e eu não resisti as menções ao meu bom baelyssa 🤧🤧 se não ficou mto claro, a cena ocorre em 97 DC, ano que o daemon casou com a rhea. e também as coisinhas sobre vhagar deusa da guerra e e suas representações foram criadas por mim pq sou muito curiosa a respeito da cultura valiriana e se o grrm não libera, eu crio headcanon mesmo . enfim, nem sei se alguém leu essa nota enorme KSKKKKKKKKKKKKKOOK mas espero que tenham gostado do capítulo, até a próxima 💜

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