Ocean Eyes • BNHA

By anacarolinarac

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𝐀𝐓𝐒𝐔𝐊𝐎 não tinha família. Ao menos, não uma família a qual se lembrasse. Quando tinha quatro anos, perd... More

𖤍𖡼 𝐈𝐍𝐓𝐑𝐎𝐃𝐔𝐂𝐓𝐈𝐎𝐍 𖡼𖤍
𖤍𖡼 𝐎𝐂𝐄𝐀𝐍 𝐄𝐘𝐄𝐒 𖡼𖤍
𖤍𖡼 𝐄𝐏𝐈𝐆𝐑𝐀𝐏𝐇 𖡼𖤍
𖤍𖡼↷ 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐈𝐍𝐆: 𝐏𝐒𝐈𝐐𝐔𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐏𝐑𝐎𝐋𝐎𝐆𝐔𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐎𝐍𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐎
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐑𝐄𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐅𝐎𝐔𝐑
𖤍𖡼↷ 𝐅𝐈𝐕𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐒𝐈𝐗
𖤍𖡼↷ 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
𖤍𖡼↷ 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓
𖤍𖡼↷ 𝐍𝐈𝐍𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐄𝐍
𖤍𖡼↷ 𝐄𝐋𝐄𝐕𝐄𝐍
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐋𝐕𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐄𝐄𝐍
𖤍𖡼↷ 𝐂𝐔𝐑𝐈𝐎𝐒𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄𝐒
𖤍𖡼↷ 𝐅𝐎𝐔𝐑𝐓𝐄𝐄𝐍
𖤍𖡼↷ 𝐅𝐈𝐅𝐓𝐄𝐄𝐍
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𖤍𖡼↷ 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐄𝐄𝐍
𖤍𖡼↷ 𝐍𝐈𝐍𝐄𝐓𝐄𝐄𝐍
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐎𝐍𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐓𝐖𝐎
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐓𝐇𝐑𝐄𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐅𝐎𝐔𝐑
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐅𝐈𝐕𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐒𝐈𝐗
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𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐍𝐈𝐍𝐄
𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘
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𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘 𝐓𝐖𝐎
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𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘 𝐅𝐎𝐔𝐑
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𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘 𝐒𝐈𝐗
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𖤍𖡼↷ 𝐄𝐒𝐏𝐄𝐂𝐈𝐀𝐋

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By anacarolinarac

Sim, vai ter um capítulo especial sobre as cria das minhas cria por motivos de que eu estava profundamente entediada, sem criatividade pra escrever Ocean Eyes, sem criatividade pra escrever Hot Chocolate e com muita vontade de escrever alguma coisa, então foi isso que saiu
Se eu vou continuar a história das cria das minhas cria? Provavelmente não, esse capítulo especial é só um surto meu e como eu nunca deixo meus surtos sem postar, é o único motivo pra vocês estarem vendo ele KKKK talvez eu apague depois, por motivos que não faz sentido deixar aqui? Não sei
Enfim, é sobre isso, espero que gostem do Fuyuki e do Shin tanto quanto eu gosto deles 🥺

ONDE FUYUKI E SHIN SÃO
MELHORES AMIGOS DESDE
QUE SE ENTENDEM POR GENTE,
MAS PRECISAM APRENDER
A LIDAR COM COISAS
QUE NÃO CONSEGUEM
CONTROLAR

Às vezes eu me perguntava o porque eu não podia só, sei lá, ter uma mãe um pouco menos louca das ideias. Quer dizer, a mídia acha que Psique é um anjo de ser humano, mas na verdade, ela é só louca mesmo. Ok, eu estou dizendo isso porque estou irritado por mais uma vez ela ter invadido meu espaço pessoal, e quando digo isso, quero dizer que ela descobriu que eu fui mal em uma das provas já que ela insiste em ficar bisbilhotando a mente alheia como a maldita irritante que ela é. Paciência? Isso é algo que eu definitivamente não tenho, mas quem pode me julgar? No final das contas, eu sou mesmo filho da minha mãe e totalmente o oposto do meu pai.

-Você não deveria ficar pensando coisas ruins sobre a mamãe, sabia? Ela pode chegar a qualquer momento e te escutar. - me virei apenas o suficiente para dar um sorriso sarcástico para minha irmã irritante que apenas me olhou com os olhos rosa escuro, com aquela típica falta de expressão em seu rosto, o cabelo vermelho com mechas brancas caindo nos olhos. Yumi apenas piscou antes de franzir o cenho por causa da cara feia que eu estava lançando para ela.

-Você virou telepata agora, foi? Engraçado, achei que sua individualidade fosse o gelo. - falei com sarcasmo e ela apenas deu de ombros antes de voltar a olhar para a tela do celular. Às vezes me irritava um pouco ela nunca ceder as minhas provocações e entrar em uma discussão comigo. Às vezes eu só queria arranjar uma briguinha saudável entre irmãos, mas se dependesse de Yumi, nunca ia rolar!

-Tem certeza que você está bravo por que a mamãe leu seus pensamentos ou é por que você foi mal na prova por estar irritadinho demais com o Shin por que ele não quis mudar para o departamento de heróis? - eu, definitivamente, odiava Yumi. Principalmente por ela ficar se fazendo de sonsa o tempo inteiro e depois soltar essas pérolas, fazendo eu apenas querer arrancar meus cabelos fora. Por isso, apenas ergui o dedo do meio para ela como resposta, o que fez minha irmã mais nova franzir o cenho em desaprovação. -Desista, Fuyuki. Eu não vou brigar com você. Credo, você parece o tio Bakugo.

-Nossa, por que será, não? Será que é por que ele é meu padrinho e passo tempo demais com ele? - falei com um sorriso sarcástico. Yumi apenas arqueou a sobrancelha para mim.

-Por que vocês estão brigando? De novo? Todo dia? Toda hora? Por isso eu não tive filhos. - tio Akira suspirou enquanto entrava na sala e entregava um pote de pipoca para Yumi. Eu, como sempre, fiquei sem merda nenhuma já que ninguém nessa família maldita se importava com minha incrível existência!

-De que adianta se tem que ficar de babá dos filhos dos outros? - eu retruquei e meu tio apenas deu risada antes de dar de ombros.

-Vai achando que a vida de herói é fácil que você vai quebrar sua cara. - ele disse e eu torci o nariz. Eu tinha uma noção sobre o que ele estava falando, eu não era um idiota, eu estava no último maldito ano e já até tinha minha licença provisória. Eu sabia como era essa vida que ele tanto insistia em dizer que era um inferno! Me admira é ele passar o dia de folga cuidando dos dois sobrinhos insuportavelmente insuportáveis dele. Ok, tá bom, o único insuportável sou eu, Yumi até que é aceitável já que ela não tem personalidade nenhuma. -Vocês estavam brigando por que movito?

Abri a boca para falar que não era nada demais e que nem fazia diferença, mas claro que a linguaruda da Yumi ia falar antes mesmo que eu pudesse formular uma grande mentira.

-Ah, é que o Fuyuki foi mal na prova que teve por estar irritado com o Shin. - ela disse dando de ombros e voltando a mexer no seu celular. Com um único movimento da mão, o pote de pipoca dela virou e caiu tudo sobre Yumi. Ela apenas piscou os olhos e arqueou a sobrancelha para mim. -Que rude.

-Que coisa heroica, hein. - tio Akira disse com uma risada, usando a telecinese dele para colocar a pipoca de volta no lugar, o que me fez revirar os olhos. -Não seja tão rebelde, pirralho. Por que você ficou irritado com o Bakugo mais novo?

Eu apenas revirei os olhos. Não era como se eu quisesse ficar falando sobre Shin ou sobre o como eu estava irritado com ele. Sim, eu sei que era uma escolha que não cabia a mim tomar, mas ele poderia ser um super herói tão foda quanto o pai dele era se quisesse! Mas Shin parecia que tinha virado uma versão menos pior da tia Azami, com uma incrivelmente idiota aversão a super heróis. Sendo que o pai dele era um! Eu apenas não entendia, e sabia que deveria respeitar, mas não significava que eu não podia ter minha própria opinião sobre o assunto.

Eu não sabia exatamente o motivo de eu querer ser um super herói. Talvez porque todos que me cercavam estavam nesse mundo. Talvez fosse porque eu gostava da ideia de ajudar outras pessoas. Claro, se fosse levar em conta toda a merda de história que envolve meus pais em relação a vida deles como super heróis e o como chegaram no topo, eu jamais teria escolhido esse caminho. Quer dizer, eles quase morreram tantas vezes que chega até a ser um pouco assustador. Sofreram também, por muito tempo e com coisas demais. Eu sei que minha mãe ainda tem pesadelos em muitas noites, mesmo que ela saiba fingir muito bem que o pasado não é algo que a atormenta. Mas ainda assim...

Ver o como eles amam o que fazem me dá vontade de seguir o mesmo. Me faz querer entender o porque de isso os deixar tão felizes. E depois de quase três anos na U.A, posso dizer com certeza que consigo entender o que eles sentem todas às vezes que colocam seus uniformes e saem de casa para ajudar os outros.

Acho que era só esse sentimento de fazer algo pensando nos outros, de se sentir completo por isso, que eu queria que Shin sentisse. Mas toda vez que eu tocava no assunto e tentava falar sobre minhas próprias experiências com ele, ele sempre desconversava. Não que ele fosse exatamente uma pessoa comunicativa, já que Shin era tão absurdamente tímido que chegava a assustar um pouco às vezes. Talvez fosse por isso que ele não quisesse entrar nessa vida de super herói. Quer dizer, ele já era obrigado a lidar com a mídia por seu pai ser Dynamight, provavelmente Shin ia morrer se tivesse ainda mais atenção voltada para ele. Vai saber se não foi por ter sempre câmeras o cercando que ele ficou tão tímido assim?

Não posso dizer que sou esse tipo de pessoa. Às vezes, eu posso ser bem narcisista, e admito que isso é uma coisa bem péssima. Mas se eu sei que sou inteligente, bonito e foda, por que preciso fingir que não só para fazer os outros se sentirem melhor? Humildade? Não tenho.

-Ai, Fuyuki, não sei pra quem você puxou, porque claramente não foi pra mim e menos ainda para o seu pai. - me virei no momento que escutei a voz da minha mãe e logo em seguida ela soltou um suspiro. Eu a fuzilei com os olhos antes de bloquear a mente completamente para a tirar dali, mesmo que já fosse um pouco tarde, e ela sorriu para mim enquanto fechava a porta atrás de si. -Tarde demais, bebê.

-Velha metida. - reclamei e ela apenas arqueou a sobrancelha para mim. Foi assim que reparei que no uniforme azul turquesa dela tinha uma mancha de sangue que me fez arregalar os olhos na hora.

-Não é meu. - ela falou, bagunçando meu cabelo como se eu ainda fosse uma criança, o que me fez fazer uma careta. -Já estão prontos? Vou levar vocês pra casa.

-Você vai ficar com a gente? - Yumi perguntou, os olhos rosa escuro iguais aos da mamãe brilhando em expectativa, afinal, fazia uns três dias que ela não passava a noite com a gente, só aparecia, fazia o que tinha que fazer, dava seus surtos como mãe e saía para uma patrulha antes mesmo que nosso pai voltasse. Honestamente, eu me perguntava o como o casamento deles funcionava se eles só se viam uma vez a cada mil anos. Provavelmente deve ser porque cresceram grudados um no outro.

A mais velha apenas sorriu para Yumi antes de assentir. Apesar de eu não admitir, fiquei feliz. Afinal, eu também sentia falta de ter a mamãe mais tempo em casa, mesmo sabendo que isso era temporário e que logo ela tiraria férias para ficar com a gente.

No final das contas, mesmo fingindo que não, eu amava minha mãe insuportável.

Eu conseguia escutar minha mãe gritando com raiva na sala, mas estava me fingindo de morto. Sinceramente, naquele momento, eu realmente estava com vontade de estar morto, só para não ter que escutar ela gritar em plenos pulmões no celular, reclamando, como sempre, dos atrasos de Mit em fazer as coisas do jeito que ela queria. Minha mãe não era exatamente a pessoa mais fácil do mundo de lidar. Na verdade, eu nem sabia dizer quem era pior, se era ela ou se era meu pai. A diferença é que meu pai descontava a raiva nos vilões e minha mãe descontava a raiva criticando os outros, o que a fazia sempre ser um alvo de algum imbecil. Sim, minha vida era extremamente exaustiva e estressante. Eu queria só ser uma ervilha. Pequena e insignificante e que facilmente era esquecida, assim não precisaria me preocupar em tentar a todo e qualquer custo me esconder de tudo e de todos.

Era sábado. Eu só queria ficar enfiado no meu quarto na minha paz de espírito estudando e fingindo que eu era apenas um nerd qualquer. Mas claro que isso não rolou e claro que agora eu estava pressionando o rosto contra o travesseiro e me perguntando se isso ia ser o suficiente para me matar asfixiado. Se eu tivesse um pingo da personalidade dos meus pais que fosse, já teria explodido metade da casa.

-Minha nossa, sua mãe tá, tipo, muito pê da vida. - tomei um susto quando a porta abriu sem nem que tivessem batido, e quase cai da cama quando me virei para fitar olhos verdes. Torci o nariz para o sorriso radiante de Mika, me perguntando o porque de minha mãe ter aberto a droga da porta. Não que eu não gostasse da Midoriya, eu só realmente queria ficar sozinho. -Nossa, Bakugo, que desânimo. Nada fora do normal, mas, ainda assim...

Voltei a enfiar o rosto contra o travesseiro, ignorando os comentários de Midoriya. Eu sabia que ela estava caminhando até minha cama, e logo ela se sentou bem ao meu lado, cagando para meu espaço pessoal. Não sabia quem era pior nesse quesito, se era Mika ou se era Fuyuki. Nenhum dos dois sabia me dar a droga de um espaço, o que era um pouco irritante às vezes já que eu constantemente queria estar na paz de Deus e não lidando com drama ou qualquer coisa do tipo.

Mika e eu estávamos na mesma sala no curso comum na U.A. Nossa amizade veio muito antes disso, já que nossos pais se conhecem desde sempre, mas era um fato que nós viramos realmente amigos quando começamos a estudar juntos.

Ela podia dar uma ótima heroína, mas, assim como eu, ela apenas não quis. E estava tudo bem em não querer! Era isso que o imbecil do Fuyuki deveria entender, mas ele era muito cego pra isso, e provavelmente a culpa era toda do meu pai por essa espécie de lavagem cerebral. Até fazia sentido. Antes de eu nascer, só tinha Fuyuki para ele encher a cabeça com papos sobre super herói, e continuou a ser Fuyuki já que eu nunca demonstrei o mínimo interesse no assunto, puxando para "minha maldita e insuportável mãe", como meu pai gostava de dizer.

-Você se resolveu com o Todoroki? A Yumi me falou que ele ainda tá estressadinho com você. - ela disse com uma risada e eu apenas resmunguei, não fazendo muita questão de me virar para a fitar. Não chocava ninguém saber que Fuyuki estava irritado, ele sempre ficava assim quando o contrariavam, parecia uma criança mimada, e eu não sei de onde veio isso, porque por mais que o pai e a mãe dele tenham o dado todo o carinho do mundo, se tem algo que Fuyuki nunca foi pelos pais, é mimado. Só faz parte da personalidade dele ser irritante. Mas eu tenho moral para o julgar quando ele é meu melhor amigo e provavelmente a pessoa mais importante na minha vida? A culpa é minha de ter dado tanta liberdade assim para Fuyuki agir desse jeito, como um idiota. -Ah, pelo seu silêncio, já sei de tudo. Vai, Bakugo, você deveria ir conversar com seu amado melhor amigo.

Eu não tinha nem força de vontade para mandar Mika ir se fuder. Ela adorava me irritar sobre isso, porque Mika vivia dizendo que Fuyuki e eu éramos tão grudados um no outro que pareciamos uma coisa só. Tá! Talvez até fosse verdade, mas não significava que eu precisava necessariamente estar sempre com ele. Tinha vezes que eu só queria distância de Fuyuki e do caos que ele sempre trazia para minha vida triste e sofrida.

-Você veio aqui pra falar da minha vida ou estudar? - falei, me virando apenas o suficiente para cravar os olhos nela e Mika torceu o nariz.

-A gente precisa mesmo? - ela chorou, pois claramente queria aproveitar o sábado de outras maneiras, muito provavelmente enchendo o meu saco. -A Yumi nem tá aqui! E acho que ela nem vem! O trabalho é em grupo, então, ela deveria estar aqui.

Não sabia o que deixava Fuyuki mais puto da vida, se era eu estar no curso comum ou a irmã dele estar também. Sinceramente, ver Yumi usar a individualidade dela era algo absurdamente raro. Tão raro que eu até esquecia o quanto o gelo dela podia ser perigoso se ela quisesse que fosse.

-Yumi já tinha avisado que não ia vir. Então você veio por que? - falei arqueando a sobrancelha para ela e Mika torceu o nariz, visivelmente indignada com minha pergunta. Mas não foi exatamente minha intenção ser maldoso, só queria saber se ela não tinha nada de melhor na vida dela para fazer. Quer dizer, definitivamente tinham coisas muito mais legais para fazer do que ficar comigo.

E ela totalmente ignorou minha pergunta.

-Vamos participar do nosso primeiro festival esportivo. Você tá ansioso? - ela perguntou de forma animada e eu apenas bufei, afundando o rosto de novo contra o travesseiro.

-Claro que não. Se eu escolhi o curso comum, foi por um motivo, e esse motivo é que eu não quero aparecer na droga da televisão. - falei e nem mesmo sabia se Mika tinha me escutado. Me virei apenas o suficiente para fitar os olhos verdes dela. -Essa droga de evento é para o pessoal do curso de heróis, não pra gente.

-E dai? Podemos ser tão incríveis quanto eles! Eu hein, você poderia se empenhar um pouco pra pelo menos tentar passar na primeira fase. - ela disse e eu dei uma risada incrédula.

-Tá louca, é? Depois da primeira fase que eles começam a transmitir na televisão, eu vou ficar muito bem parado e me eliminar logo de cara. Não quero essa atenção toda voltada para mim, obrigado, o festival esportivo e nada para pessoas como eu são a mesma coisa. - falei sem nenhum pingo de emoção e Mika apenas suspirou, derrotada.

-Quem será que vai ganhar esse ano dos terceiros? - ela falou de forma curiosa, e eu sabia que não demoraria muito para ela começar a analisar cada um dos alunos que tinham se destacado nos últimos dois anos no festival esportivo da U.A. E que eram famosinhos na escola.

-Você ainda pergunta? Fuyuki ficou em primeiro nos últimos dois anos, acho que a resposta é meio óbvia. - falei com um sorrisinho para ela e Mika apenas suspirou.

-Mas as pessoas podem evoluir e superar ele, sabia? - ela retrucou e eu apenas dei de ombros.

-Não acho que isso vai acontecer. Fuyuki é um maldito inteligente demais e determinado demais para aceitar perder.

-Um grande gostoso também. - Mika disse e eu engasguei com o comentário totalmente aleatório dela.

Quer dizer, não era como se Mika estivesse errada, mas se falasse isso para Fuyuki, seria o fim da paz mundial já que ele simplesmente era um insuportável que não dava para ser elogiado. Sim, ele realmente era bonito, os olhos heterocromáticos e o cabelo loiro chamavam sim atenção por onde ele passava, e definitivamente o sorriso dele de quem não valia absolutamente nada não passava despercebido por ninguém. O típico hetero top, bem top mesmo.

Ainda assim, Mika não estava errada. E eu também não estava errado em achar que Fuyuki ficaria em primeiro lugar mais uma vez.

Fiquei em primeiro lugar no festival esportivo, e por mais que eu já tivesse ganho nos outros anos, sempre me sentia muito bem quando ganhava de todo mundo. Talvez eu devesse dar oportunidade para outras pessoas, mas admito que eu era egoísta demais para isso e competitivo demais para desistir sem tentar o primeiro lugar. Quando você cresce tendo como pais heróis que estavam no top 5, é isso que acontece, você sente aquela necessidade ridícula de ser sempre o número um, mesmo que meus pais jamais tivessem cobrado algo do tipo vindo de mim (já que eles eram um tanto traumatizados com esse negócio de cobrança).

-Você é um filho da puta. - Miwa disse, tão irritada que chamas brilhavam em suas mãos. Aquilo só me fez dar risada da minha estúpida colega de classe e amiga. -Por que não consegue me deixar vencer uma única vez?

-Você já deveria ter se acostumado com o segundo lugar, perdedora. - cantarolei e antes que ela pudesse dar um soco no meu nariz por isso, joguei os braços ao redor dela e a abracei com força enquanto caminhávamos pelo corredor. Miwa grunhiu irritada, mas aceitou minha demonstração péssima de carinho.

-Por isso ninguém quer namorar você. Você é simplesmente insuportável, Fuyuki. - ela disse e eu dei de ombros, deslizando o braço ao redor dos ombros de Miwa.

-As meninas me querem. - eu falei e ela apenas deu um sorriso sarcástico.

-Você é gay, lindo. Não acho que isso faça diferença na sua vida. - ela retrucou e eu apenas estalei a língua.

-Realmente, não faz.

-Se você se assumisse, quem sabe algum idiota não ia querer namorar com você. Tem louco pra tudo nessa vida. - ela disse e eu dei a Miwa um sorrisinho sarcástico, prestes a mandar ela ir a merda quando meus olhos se depararam com olhos vermelhos.

Miwa e eu paramos de andar e ela franziu o cenho em confusão até perceber para onde eu estava olhando. A imbecil teve coragem de rir da minha cara de tacho.

-Você é o gay mais gay que eu conheço, sinceramente. - ela cochichou no meu ouvido e eu revirei os olhos.

-E ainda há quem diga que eu sou hetero. - resmunguei e Miwa apenas balançou a cabeça, dando um tapinha nas minhas costas.

-Se você nunca falar que gosta dele, seu imbecil, vai sempre ficar ai que nem um idiota. - Miwa retrucou e eu apenas bufei, ainda olhando para Shin que claro, estava evitando meu olhar a todo custo. E claro que eu sabia que ele sabia que eu o estava encarando descaradamente, porque suas bochechas estavam absurdamente vermelhas enquanto ele conversava com minha irmã.

-Não fode, vai. - falei, me afastando um pouco de Miwa e dando um sorriso sarcástico para ela. -Eu tenho que fingir que sou um babaca, esqueceu?

-Na verdade você nem precisa fingir, você já é um babaca. - ela disse com um suspiro e eu apenas dei uma risada antes de me afastar e caminhar até Shin. Ele podia me evitar o quanto quisesse, mas não ia conseguir se livrar de mim para sempre.

Yumi, como a ótima irmã que era, simplesmente virou de costas e foi embora ao notar minha aproximação, deixando Shin completamente confuso. Não tanto porque já estava acostumado com as esquisitices de Yumi, mas, ainda assim, confuso.

-Você pretende me ignorar até quando? - falei, me inclinando um pouco para sussurrar no ouvido de Shin. Ele deu um pulo e se virou, os olhos vermelhos se arregalando, o que me fez dar risada. Meu melhor amigo torceu o nariz quando me viu.

-Até você parar de ser idiota. Ah, espera. Mas ai eu acabaria te ignorando para o resto da vida. - ele disse e eu apenas estalei a língua, sorrindo com sarcasmo.

-Que rude. - provoquei. Ele parecia bem inclinado a me deixar falando sozinho e ir embora, o que fez eu agarrar seu braço antes que o fizesse. -Tá bom, tá bom, desculpa, parei. Eu fui idiota com você no outro dia, me perdoa?

Ele apenas resmungou antes de desviar o olhar. Era engraçado o como ele sempre ficava sem jeito quando eu agia como uma pessoa decente, como se só esperasse o pior vindo de mim. Tudo bem, isso deveria ser triste e não engraçado, mas era realmente bem engraçado...

-Primeiro lugar de novo. - ele disse, puxando de leve a medalha de ouro no meu pescoço. Eu apenas dei um sorrisinho antes de dar de ombros como se não fosse nada demais.

-O que achou do seu primeiro festival esportivo? - perguntei de forma curiosa. Ele deu de ombros e eu torci o nariz. -Você nem se esforçou, né?

-Claro que me esforcei! Me esforcei pra ser eliminado na primeira prova. Fui o primeiro a ficar em último. - ele disse com um meio sorriso e eu apenas revirei os olhos.

-Você é... - comecei, mas minha frase morreu quando um garoto se aproximou da gente. Na verdade, se aproximou de Shin, me fazendo arquear a sobrancelha, ainda mais quando Shin não se desesperou querendo dar o fora já que socializar não era exatamente algo que ele gostava de fazer.

Fiz cara de tédio enquanto era obrigado a presenciar aquela interação, mas minha vontade mesmo era de fazer cara de cú. Quem era aquele ali? Por que tava falando com o meu melhor amigo? Por que tava tão perto assim? Por que Shin tava sorrindo?!

-Por que você não pode ser minimamente legal com as pessoas? - Shin murmurou quando o garoto se afastou e eu o olhei com verdadeira indignação.

-Como assim?! Eu sou legal com as pessoas! Mas eu nem sei quem esse aí é, e por que você ficou tão felizinho? Não vai me dizer que arranjou um namorado? - não foi minha intenção soar tão rude, mas eu soei, e isso fez Shin parar de andar e me lançar um olhar perplexo. Por um segundo, nenhum de nós disse nada, e eu desejei ter ficado de bico calado, porque tinha acabado de me resolver com ele e cagar tudo de novo.

-E se eu tiver um namorado? Isso ia ser problema pra você, Fuyuki? Minha sexualidade e vida amorosa nem são da sua conta! - ele disse irritado, a voz baixa e cheia de raiva. Eu apenas pisquei, surpreso com o que Shin estava jogando na minha cara. Um pouco magoado também por ele não confiar em mim o suficiente para dizer isso. Quantas pessoas sabiam? Só eu tinha sido jogado para o lado? Porra!

-É, pode ser. Mas eu achei que fosse seu melhor amigo, acho que ia ser legal saber! Achei que você gostasse de meninas. - pela cara que Shin fez, eu só estava piorando as coisas, e desejei mais uma vez só ter calado a boca.

-Porra, e isso lá é da sua conta? Eu gosto de pessoas. Isso não é suficiente, não? Caramba, Fuyuki, por que eu tenho que fazer as coisas do jeito que você quer? Você é tão irritante. - eu sabia que ele tinha soltado isso dessa forma porque estava com vergonha da situação e porque não queria falar sobre isso comigo. Mas ainda assim...

Senti como se tivesse tomado um soco no estômago. Quer dizer, eu já sabia que as pessoas tendiam a me achar extremamente irritante, mas ouvir isso do meu melhor amigo, por quem eu era secretamente apaixonado, era um pouco demais.

-Você tem razão. - falei, engolindo em seco, porque, apesar de ser uma merda admitir isso, eu estava errado. -Foi mal. Eu realmente sou irritante.

Shin soltou um palavrão baixinho quando me virei para sair. Mas ele não veio atrás de mim, e eu não sabia dizer o que era pior, ele não ir ou se ele fosse.

Eu só queria que Shin tivesse me contado. Não, mais que isso, eu queria saber se um dia teria uma chance com ele. No fim das contas, recebi algo pior, a confirmação que eu só era um peso difícil de carregar.

-Vamos pra casa pelo amor de Deus. - falei para Yumi, interrompendo sem querer a conversa dela com a Midoriya. Minha irmã apenas arqueou a sobrancelha, mas não me questionou antes de assentir e eu a agradeci profundamente por isso. Quer dizer, Yumi me conhecia muito bem e ela, apesar de burra, era inteligente o suficiente para saber o que tava rolando.

O dia tinha tudo pra terminar bem e terminou comigo querendo beber cloro e comer vidro.

Era raro ter meus pais ao mesmo tempo em casa. Mas quando Yumi e eu chegamos em casa naquele dia, os dois estavam juntos fazendo a janta. Quer dizer, minha mãe estava fazendo e rindo do meu pai e seu total de zero habilidades culinárias. Às vezes me perguntava se um dia eu ia ter o que os dois tinham, um amor tão confortável daquele jeito. Na verdade, parecia meio irreal demais para ser verdade.

Eu nem tive forças para me gabar por ter ganhado o festival esportivo, eu sabia que eles já sabiam disso, por isso só larguei a mochila e a medalha na mesa e fui para meu quarto, afundar minha cara contra o travesseiro e desejar a morte.

Sim, eu tinha plena consciência que minha personalidade era um lixo, mas Shin nunca pareceu se importar muito com isso. Até eu perceber que eu só era um amigo merda pra ele, e me dar conta disso me fazia ter vontade de chorar.

Eu sabia que não era uma das pessoas mais fáceis do planeta e que era exaustivo lidar comigo, mas não significava que eu não tinha sentimentos. Que droga! Será que era tão difícil assim enxergar que eu só queria que ele gostasse de mim do jeito que eu gosto dele?

Você deveria falar, porque um milagre não vai acontecer na sua vida, Fuyuki. Fiz uma careta com aquela voz soando dentro da minha mente.

Puta que pariu, que velha metida da porra, não posso nem ficar triste e na minha que ela já vem querer saber que merda tá rolando, é por isso que eu não sei dar espaço pessoal para os outros, ela nunca me deu isso!

Para de ser sem educação porque eu me lembro de ter te dado ela. Revirei os olhos e bufei, afundando o rosto contra o travesseiro, querendo dar um gritão.

-Pai, manda ela parar! - eu gritei olhando para a porta fechada do meu quarto, sabendo que eles iam me escutar e que providências seriam tomadas.

Apelativo. Minha mãe teve coragem de rir e eu dei um sorrisinho, mesmo sabendo que ela não ia ver.

Não fiquei surpreso quando ela apareceu no meu quarto segundos depois, seus olhos rosa escuro se fixando nos meus. Por um segundo, ela não disse nada, apenas caminhou até minha cama e se sentou na beirada.

-Quer conversar sobre? - ela perguntou.

Eu não queria ter que falar em voz alta, mas esse era o lado bom de ter uma mãe telepata. Eu não precisava expor o que estava sentindo, porque ela era boa o suficiente em entender sem que eu precisasse tentar me explicar. Por isso, apenas deixei que ela visse tudo o que andava me incomodando nos últimos tempos e o como eu tinha chegado até ali, até aquele sentimento ruim que crescia no meu âmago.

Ela apenas deu um suspiro quando terminou de ver tudo, esticando a mão para segurar a minha com carinho. Apesar de sempre estarmos nos estressando, minha mãe sempre tinha sido a pessoa mais importante da minha vida, que me deu suporte todas as vezes que eu precisei. Eu era tão caótico quanto ela era, e talvez fosse por isso que éramos tão próximos um do outro. Diferente de Yumi que era uma cópia exata do nosso pai.

-Faz muito tempo que você gosta do Shin. - não era uma pergunta, e apesar de eu nunca ter dito isso para minha mãe, também nunca fiz questão de esconder dela o que eu sentia de verdade. Apesar de ser uma afirmação, eu assenti para ela. -Já sabia disso antes mesmo de você contar pra gente que gostava de garotos. Mas você não acha que a pessoa pra quem você mais deveria ter se aberto deveria saber também?

Eu fiquei quieto e desviei o olhar. Não era como se fosse exatamente fácil. Principalmente quando eu estava constantemente fazendo merda. E se essa acabasse de uma vez com minha amizade com Shin? Acho que foi pensando nisso que resolvi tentar afogar e apagar tudo o que eu sentia por ele.

-Vai por mim, isso não funciona. - minha mãe disse, estendendo as mãos e bagunçando meu cabelo que era exatamente igual ao dela. Meu cabelo geralmente ficava preso em um coque muito mal feito, já que o comprimento do meu cabelo era na altura do ombro, mas minha mãe sempre fazia questão de o bagunçar ainda mais. Apenas torci o nariz e ela riu. -Eu conheço seu pai desde que tenho quatro anos, Fuyuki. Tentei por muitos anos fingir que não amava ele desse jeito pelos exatos mesmos medos que você tem, e não adiantou nada. Não dá pra gente apagar o que a gente sente dessa forma, filho. Você só vai conseguir superar essa história quando colocar tudo o que sente pra fora, mesmo que as coisas talvez não saíam da forma como você quer.

Eu apenas assenti, porque eu sabia que ela estava certa. Não dava pra fugir pra sempre e eu já tinha fugido do assunto por anos demais. Eu nunca estive exatamente em negação, sempre soube que era apaixonado por Shin, só tive medo demais de tentar alguma coisa e acabar fodendo com nossa amizade. Na minha cabeça ele jamais ia me ver como algo além de um amigo irritante, e ter a confirmação que eu estava certo (como sempre, já que eu não erro) ia ser foda.

-Agora, vamos jantar. Você deve estar com fome depois de ter ficado no primeiro lugar. - minha mãe disse o que me fez dar risada, automaticamente melhorando meu humor.

Eu apenas a segui para a sala de jantar onde Yumi estava fazendo perguntas para nosso pai sobre o como controlar melhor a individualidade dela e ele escutava atentamente. Vai saber se ela não mudava de ideia e pedia uma transferência? Tudo era possível.

Ou quase tudo.

-Por que você e o Fuyuki brigaram de novo? - era impressionante o como a fofoca corria solta nessa merda. Eu apenas olhei para os olhos vermelhos do meu pai e não disse absolutamente nada, o que o fez arquear a sobrancelha para mim. E eu achando que ele ia ficar puto por eu não ter tentado ganhar o festival esportivo, mas não! Ele estava puto porque eu tinha "brigado" com o protegido dele. Não foi exatamente uma briga, mas acho que eu também tinha errado um pouco nessa história.

-Deixa ele, Katsuki. - minha mãe disse batendo uma almofada contra o rosto dele, o fazendo piscar os olhos com indignação e a lançar aquele olhar de quem estava prestes a explodir algo. -Eles sempre de resolvem, não vai se meter agora.

-Você é irritante pra porra, já te falaram isso?

-Sim, por isso casei com você, que consegue ser mil vezes pior!

E lá vamos nós de novo. Uma discussão idiota que ia acabar com os dois rindo um da cara do outro, porque era assim que eles lidavam com as coisas. Por isso, eu só dei as costas e fui me enfiar no meu quarto.

Não conseguia parar de pensar na discussão que tinha tido com Fuyuki. Sim, eu sabia que o tinha magoado e que minha reação tinha sido meio exagerada... Acho que ele só tinha ficado magoado por eu não ter confiado nele o suficiente para dizer que gostava de pessoas e não só de garotas, mas eu piorei a situação. A questão não era falta de confiança em Fuyuki, mas sim que eu só fiquei com medo de ele se afastar de mim porque eu não era que nem ele. Sei la. Mas agora acho que eu quem o afastei de mim.

Eu só me sentia muito burro mesmo.

Fuyuki era o melhor amigo que eu tinha, apesar de eu ser péssimo nisso de fazer amigos. Ele sempre soube disso e do quanto eu tinha vergonha de tudo, mas ele nunca me deixou sozinho. Sempre fez de tudo para que eu me sentisse a vontade e quando eu não me sentia, só largava tudo o que estava fazendo para tentar fazer eu me sentir melhor. Talvez isso fizesse de mim um idiota por achar que ele não me apoiaria independente da situação, e eu vi no rosto dele hoje que ele não me julgava nem nada do tipo. Ele só queria que eu tivesse sido mais honesto.

E talvez eu devesse ter sido mesmo, mas agora era tarde demais e eu tinha cagado com tudo ao dizer que ele era irritante. Quer dizer, Fuyuki era sim irritante pra caramba, mas não de um jeito ruim. E eu fiz parecer que era de um jeito bem, bem ruim.

Escutei minha mãe dar risada, e acho que ela só dava risada desse jeito quando tava com meu pai. Eles se irritavam, sim, mas davam certo de um jeito meio estranho que funcionava. Queria ser um pouco mais parecido com eles, e não um poço de timidez e arrependimentos.

-Conheço essa cara. - me assustei um pouco porque não estava esperando que meu pai aparecesse na porta do meu quarto, mas ele apenas arqueou a sobrancelha para mim e me encarou. -Está arrependido por algo, né?

Apenas murmurei e desviei o olhar. Eu não era bom como Fuyuki em conversar sobre o que eu sentia com meus pais.

-Sei que não quer conversar sobre, mas saiba que se você fez merda, deveria ir atrás e resolver. Ficar chorando no seu quarto não vai melhorar as coisas. - torci o nariz para meu pai. Um poço de insensibilidade, mas eu sabia que ele tava certo. Por isso, apenas murmurei alguma coisa de novo. -Aconselho a ir logo antes que eu te bote pra fora dessa casa.

Que jeito incrível que ele tinha de lidar com o filho adolescente, puta que pariu! Se eu fosse minimamente parecido com ele, já teria explodido. Mas em resposta, apenas fiz uma careta e coloquei meu tênis.

Fuyuki morava a dez minutos de caminhada da minha casa. Foram os dez minutos mais longos da minha vida, e quando cheguei na porta da casa dele, eu ainda não sabia o que dizer. Respirando fundo, apenas bati na porta.

-Não quero conversar, me deixa. - reclamei quando escutei batidas na porta do quarto. Mas as batidas não pararam, o fez eu apertar o travesseiro nos ouvidos. Puta que pariu, cadê o espaço pessoal que não existe nessa porra de família?! Com irritação, fiz um gesto com a mão e a porta foi escancarada.

Pisquei os olhos, confuso e surpreso, quando me deparei com olhos vermelhos. Shin apenas arqueou a sobrancelha, parecendo meio incerto se deveria ou não entrar no meu quarto devido a brutalidade com a qual eu abri a porta. Eu apenas fiz uma careta e me sentei na cama, o observando sem dizer uma única palavra. Bom, depois do que ele tinha me dito, eu não sabia exatamente o como eu deveria reagir. O como eu seria menos insuportável...

-Entendi que você não quer conversar, mas posso entrar? - ele perguntou arqueando a sobrancelha e eu apenas assenti em confirmação, vendo Shin atravessar meu quarto e se sentar na beirada da minha cama, longe o suficiente de mim. O que, claro, não me deixou absolutamente nada satisfeito.

Por um tempo, nós apenas nos olhamos, em silêncio. Era como se nenhum de nós soubesse exatamente o que falar, o que era realmente bem estranho porque, de uma forma ou de outra, Shin e eu sempre tínhamos nos completado. Mas agora, era como se uma parede tivesse sido erguida entre nós, e será que aquilo era culpa minha por ser de fato uma pessoa insuportável?

-Sinto muito pelo que eu disse mais cedo. - ele disse baixinho, desviando o olhar do meu. Shin nunca foi exatamente bom em ter conversas sérias, sua insegurança e medo sempre falaram mais alto que qualquer outra coisa. -Eu exagerei.

-Não, você tá certo. - eu retruquei, fitando a parede só para não ter que ver a expressão no rosto dele. Engoli em seco. -Eu sou mesmo insuportável.

Silêncio; Shin ficou em profundo silêncio, como se sequer soubesse o que dizer, e eu entendia. Shin não sabia mentir, então não tinha como ele falar que nunca quis dizer aquilo, porque era a verdade.

-Realmente. - ele falou, baixinho, e dessa vez eu me virei para o olhar, o fitando com irritação pura. Meu melhor amigo apenas me encarou antes de dar um meio sorriso. -Olha, eu não vou mentir, você me irrita em muitos momentos, mas é meu melhor amigo. E me desculpa se eu te magoei, Fuyuki, porque não foi minha intenção. Eu estava só... Irritado, mas principalmente com medo e com vergonha.

As bochechas vermelhas de Shin naquele momento não o deixavam negar a veracidade de suas palavras. Eu apenas arqueei a sobrancelha.

-Medo e vergonha de mim? O que diabos eu sequer faria, Shin? Você é meu melhor amigo, porra. - falei com um suspiro, me virando completamente para Shin. Ele apenas afundou os dedos no cabelo preto bagunçado e o bagunçou ainda mais.

-Sei lá, Fuyuki! Fiquei com medo de você me rejeitar porque eu não sou igual você.

Os olhos vermelhos de Shin encontraram os meus e eu apenas olhei bem para ele, sem falar absolutamente nada por um instante. Eu apenas pisquei.

-É justamente por você não ser nada parecido comigo que eu te amo, caralho. - falei meio irritado e meio cansado. Shin ficou vermelho, mesmo ele já devendo estar acostumado a escutar coisas do tipo. Eu nunca fiz questão de esconder o que ele significava pra mim. -E eu não sou tão diferente assim de você. - murmurei e ele apenas arqueou a sobrancelha para mim.

-Como não? Você é uma pessoa sociável, que sabe como conquistar as pessoas. Eu não sou nada disso! Tem quantas milhares de garotas na escola querendo namorar com você? - ele disse e eu apenas torci o nariz. Quando isso passou a ser sobre mim?

-E daí? Eu nem gosto de garotas. - soltei sem nem mesmo pensar muito a respeito. Então, arregalei os olhos ao me dar conta do que eu tinha acabado de revelar. Claro, eu poderia muito bem meter o louco, mas a expressão no rosto de Shin já me dizia o suficiente sobre o quanto ele tinha entendido.

-Você tá dizendo isso pra fazer eu me sentir melhor? Porque você não precisa, tá? - ele retrucou, um pouco revoltado. E aí quem se estressou fui eu.

-Quê? Não fode, Bakugo. - falei irritado e acho que Shin percebeu que tinha falado merda, principalmente porque eu só o chamava pelo sobrenome quando estava realmente irritado. -Isso não é sobre você. Com quantas garotas você já me viu? - ele abriu a boca para responder, mas nada saiu. -Tá vendo? Exatamente, nenhuma. Porque eu não gosto de garotas. Caralho, como diabos eu vou te julgar por gostar de pessoas quando eu gosto de garotos?

Shin não conseguiu nem mesmo formular uma frase devido ao seu choque pela minha revelação, mas eu não me importava, porque já estava irritado demais. E talvez um pouco chateado por ele achar que eu era tão babaca ao ponto de inventar uma coisa dessas pra tentar fazer ele se sentir melhor.

-Você nunca disse nada. - ele murmurou. Eu apenas ri, sem nenhum humor.

-Pois é, acho que eu tenho seus problemas de comunicação também. Você também nunca disse nada. - retruquei, me virando para encarar a parede só pra não ter que olhar para a cara dele. Foda se! Eu fiquei puto.

-Porque eu sou inseguro e você sabe disso. - ele murmurou. Eu suspirei, afundando meus dedos no cabelo, querendo dar um grito.

-Não é porque eu sou mais extrovertido que você que eu também não seja! Que inferno! Do mesmo jeito que você ficou com medo de eu não te aceitar, você acha que eu não fiquei com medo pra caralho de perder você, principalmente quando você já me acha um bosta? Eu não quero mais conversar, Shin. - pisquei os olhos com força porque não queria chorar na frente dele.

Talvez eu estivesse sendo sim infantil, mas quer saber? Foda se. Eu sou adolescente e ser adolescente significa ser um grande imbecil às vezes e não saber conversar como uma pessoa decente. E naquele momento, eu realmente não queria tentar ser menos insuportável, principalmente depois das palavras de Shin que machucavam no fundo da alma, principalmente ao me dar conta que ele tinha uma visão tão ruim de mim. Eu sei que ele não queria me magoar, mas... Magoou do mesmo jeito.

Acho que eu só fiquei ainda pior quando ele levantou e saiu. Apesar de ter sido eu a meio que o mandar ir embora.

Eu não sabia exatamente o que pensar depois das palavras de Fuyuki. Eu vim atrás dele para resolver as coisas entre nós e parece que só deixei elas ainda piores, mesmo que não tivesse sido minha intenção. Eu nem mesmo sabia que ele se sentia dessa forma, e me dar conta do quanto eu fui negligente em relação aos sentimentos do meu melhor amigo era uma merda. Não, mais que isso, era uma merda perceber que eu não tinha sido exatamente um amigo muito bom pra ele, tudo isso porque passei tempo demais com medo por mim mesmo para tentar enxergar algo além. Quer dizer, eu achava que se contasse para ele o que eu sentia de verdade, Fuyuki ia só deixar de falar comigo, o que definitivamente seria uma merda, porque ele não era só meu melhor amigo. Acho que sempre vi ele de outra forma, uma forma que eu nunca tentei deixar transparecer porque eu tinha medo demais do que podia acontecer. Pra mim, Fuyuki nem sequer gostava de garotos dessa forma. Mas pelo jeito eu e ele tínhamos mesmo sérios problemas de comunicação um com o outro...

Eu sabia que deveria fazer algo a respeito, mas a cara que Fuyuki fez pra mim dizia o suficiente sobre o quanto ele queria conversar comigo, por isso, apenas dei um suspiro e caminhei pelo corredor para ir embora. Mas claro que isso não ia dar certo.

-Onde você pensa que vai sem primeiro me dar um tchau decente? - tomei um puta de um susto quando escutei a voz da minha madrinha e tive medo real de me virar para encontrar os olhos rosa escuro dela que sempre pareciam ver minha alma, além de, claro, lerem completamente cada pensamento meu. E claro que ela riu. -Você vai dormir aqui, já está tarde.

-Mas...- comecei, tentando arranjar um jeito de fugir disso, mas claro que ela arqueou apenas uma sobrancelha pra mim e eu me calei. Porque claro que ela me dava mais medo do que meu pai.

-Sem "mas", Shin. Já falei com o Katsuki. Você conhece a casa. - ela disse e nem mesmo me deu a chance de arranjar uma desculpa antes de voltar para a sala.

Eu suspirei, derrotado. Tudo o que eu mais queria era fugir de Fuyuki e agora eu ia dormir ali na casa dele. Resmungando de forma infeliz, me arrastei até o quarto de hóspedes.

O quarto de hóspedes da casa dos Todoroki era mais meu e de Mika do que de qualquer outra pessoa que pudesse visitar eles. Apesar de Mika e eu termos ficados próximo de verdade quando começamos a estudar juntos na U.A, ela sempre foi muito amiga de Yumi, e isso porque o pai dela e o pai de Fuyumi e Yumi eram muito próximos. Então, basicamente nós dois crescemos nessa casa e dividindo esse quarto de hóspedes em momentos diferentes. Sim, tinha roupas tanto minhas como dela ali, mesmo que eu nunca tivesse exatamente dormido naquele quarto já que eu sempre acabava dormindo no quarto de Fuyuki. Era sempre assim, ele nunca me deixava em paz e nunca me deixava dormir em um quarto que não fosse o dele. Ter que dormir ali no quarto de hóspedes era só uma merda, pela simples comprovação que eu tinha mesmo cagado com as coisas.

-Eu sei o que você tá pensando. - tomei um susto quando escutei a voz de Yumi e me virei apenas para ver ela parada na porta, os olhos rosa escuro cravados em mim. Eu apenas fiz uma careta, principalmente porque nunca tinha a visto tão séria assim. -Você acha que Fuyuki vai virar a cara pra você, né? Sei que brigaram.

-Tem certeza que você não é telepata que nem sua mãe? - murmurei, desviando o olhar. Eu não era exatamente o tipo de pessoa que gostava de ficar encarando os outros, principalmente porque eu tinha vergonha.

Yumi riu antes de caminhar e se sentar na cama, não me deixando outra escolha que não me sentar ao lado dela.

-Eu só sei ler as pessoas. Aprendi com minha mãe. Fuyuki é burro, Shin. Ele só acha que tá sempre certo nas suposições dele e não corre atrás de saber a verdade. Você já deveria saber disso. - ela disse e eu apenas suspirei, levando as mãos até meu rosto.

-Mas acho que dessa vez ele tá certo. Eu fui meio idiota. - falei. Escutei Yumi rir de novo.

-Shin, só tem uma coisa que te torna idiota, e essa coisa é não perceber que o Fuyuki é apaixonado por você.

Fiquei quieto. Até porque, de primeira, eu nem entendi direito as palavras de Yumi. E quando eu comecei a entender, eu surtei, arregalando os olhos e me virando para encarar minha amiga, mas a expressão de Yumi era impassível.

Engasguei com minha própria saliva, tossindo tanto que ela teve que dar um tapa nas minhas costas pra ver se eu voltava ao normal. Mas como se volta ao normal depois disso?!

Informações demais; eu tinha recebido informações demais para um dia só.

-Q-que? - gaguejei, sentindo minhas bochechas queimando. Meu rosto definitivamente estava vermelho, a risada que Yumi deu só comprovava isso. -Claro que não, Yu! Você tá doida, ele não gosta de mim desse jeito, quer dizer, é o Fuyuki. - eu estava guejando e nem sabia se ela conseguia entender o que eu estava dizendo, mas Yumi definitivamente estava se divertindo. -Ele é o garoto mais bonito da escola, poderia namorar literalmente com qualquer um, todo mundo quer ficar com ele. Não faz sentido, não faz o menor sentido! Eu nem sou o suficiente.

-Meu Deus, Shin. - Yumi suspirou. -Que autoestima você tem, hein.

-Eu só tô sendo realista! - retruquei, desviando o olhar porque eu definitivamente estava morrendo de vergonha.

-Bem, você está errado. Mas vai ter que descobrir isso sozinho, porque eu já disse mais do que deveria. Boa noite, Shin. - Yumi beijou minha bochecha e saiu, me deixando ali.

Com a maior cara de idiota.

Se eu falar que consegui dormir, seria uma grande mentira. Pelo menos não teria aula no dia seguinte, já que era de madrugada e tudo o que eu conseguia fazer era encarar o teto com minha melhor cara de cú, como se ele fosse o culpado pela minha infelicidade crescente. Claro que eu estava chateado com tudo o que estava rolando entre Shin e eu. Será que se eu fosse uma pessoa diferente ele ia me enxergar de outra forma? Sei lá. Só queria que as coisas dessem minimamente certo entre nós, e queria que ele não me achasse uma pessoa tão idiota assim. Será que um dia talvez ele pudesse me ver como algo além? Por que sequer eu estava pensando nisso? Não valia a pena sonhar alto assim.

Bufei irritado e magoado enquanto pressionava o travesseiro contra meu rosto. Shin merecia coisa melhor, essa era a verdade. Talvez eu devesse começar a tentar superar essa paixão idiota que eu sentia por ele. Mas como eu faria isso, afinal? Eu não sabia o como era me apaixonar por outras pessoas, até porque, nunca nem tinha tentado. Claro, cheguei a ficar com outros, mas nunca com a intenção de fazer disso algo além que uns beijinhos. Não, eu sempre fui inegavelmente apaixonado demais por Shin pra sequer cogitar a ideia de gostar de outro, mesmo sabendo que Shin nunca me veria como algo além de um amigo. Tínhamos crescido juntos! Se fosse pra algo existir entre nós...

Meus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta que me pegaram totalmente de surpresa. Eu sabia que não eram meus pais, até porque, eles não iam vir me incomodar três horas da manhã. Então só restava Yumi, e por que caralhos ela viria torrar minha paciência logo de madrugada sendo que podia fazer isso em qualquer outro momento? Pensei em só ignorar, mas talvez fosse algo sério, o que me fez levantar apreensivo para ir abrir a porta.

Fiquei surpreso, mas nem tanto, quando olhos vermelhos se fixaram nos meus. Claro que minha mãe não ia deixar Shin ir embora tarde da noite e claro que ia o obrigar a dormir aqui em casa. E claro que, assim como eu, ele também não tinha conseguido dormir por conta da nossa discussão idiota, só de ele estar ali na porta do meu quarto já comprovava isso.

Por um segundo, Shin e eu apenas nos olhamos. Porque, claro, nenhum de nós dois sabia exatamente o como começar aquele assunto difícil entre nós.

Abri a boca para dizer algo, mas nada saiu. E eu também não tive tempo para tentar formular algo quando ele deu um passo na minha direção.

E, me deixando completamente chocado e totalmente sem rumo da minha vida, Shin levou as mãos até meu rosto e me beijou.

Beijei Fuyuki antes que pudesse mudar de ideia.

E ele ficou em choque.

Fiquei completamente em choque enquanto a boca macia de Shin se pressionava de forma tímida contra a minha.

Mas, mais rápido do que eu gostaria, ele se afastou de mim, fixando os olhos vermelhos nos meus. E então, ele começou a surtar.

Comecei a surtar.

-Foi mal, e-eu n-não... - ele começou, gaguejando frases sem sentido, mas tudo o que eu conseguia pensar era no quanto ele ficava fofo morrendo de vergonha e no como ele tinha acabado de fazer meu coração ser rasgado em milhares de partes só encostando a boca na minha. -Puta que pariu. - ele disse, afundando os dedos no cabelo e o bagunçando mais do que já era naturalmente, definitivamente surtando e não percebi isso só por ele estar falando palavrão. Sem conseguir me conter, eu dei risada. -Não ri de mim!

-Desculpa! É que... Eu nunca achei que você fosse tomar atitude. - falei com um meio sorriso, um sorriso de um idiota que tinha definitivamente acabado de ganhar na loteria. Shin ficou ainda mais vermelho e provavelmente estava se arrependendo muito de ter ido ate ali.

Antes que ele pudesse se virar e ir embora de vez, agarrei o pulso dele e o puxei para dentro, fechando a porta atrás de si.

-Você me beijou por dó, foi? - zombei, mas com um pouco de medo da sua resposta. Dessa vez, Shin apenas revirou os olhos e desviou o olhar.

-Como se alguém fosse beijar você só por dó e não por você ser o imbecil mais bonito da escola. - ele retrucou e, então, fez uma careta ao perceber o que tinha acabado de falar. As bochechas dele ficaram ainda mais vermelhas, se é que isso era possível, e me perguntei se Shin não ia acabar explodindo a qualquer momento. Eu apenas dei um sorriso puramente provocativo para ele, ignorando o como meu coração estava batendo forte dentro do peito.

-Você me acha bonito, então? - retruquei, me aproximando mais dele, mas claro que ele ia se afastar. Até suas costas baterem contra a parede e ele não ter mais pra onde ir. Shin me olhou feio por eu estar o prendendo contra a parede, mas era inevitável, tinha muita coisa acontecendo ali e eu precisava de uma confirmação!

-Não acho que você precise de alguém pra acariciar seu ego, Fuyuki. - ele retrucou e eu torci o nariz.

Apenas suspirei antes de me afastar. Apesar de eu querer muito beijar Shin de novo, não fazia sentido ele ter me beijado. Quer dizer, isso foi tão aleatório! Fazia sentido ele ter me beijado pra tentar fazer eu me sentir melhor... Mas não fazia sentido ele ter me beijado porque gostava de mim do jeito que eu gostava dele. Isso seria sorte demais e eu não tinha nenhuma sorte nessa porra de vida.

-Desculpa por ter te magoado. - Shin disse com um suspiro e eu franzi o cenho antes de assentir. -Fui um amigo de merda com você.

-Não importa, Shin. Você pode fazer o que quiser comigo, eu vou continuar amando você. - falei e era a verdade. Ainda que ele soubesse disso, não o impediu de ficar completamente vermelho. -Você é bem burro, sabia?

Ele fez um barulho de indignação e eu apenas arqueei a sobrancelha para Shin.

-Durante todos esses anos, fui apaixonado por você e você nunca nem notou, apesar de eu nunca nem ter feito questão de esconder! E agora você me beija e como eu deveria reagir? Você não devia me dar esperanças assim, Shin, isso sim é cruel. - sim, eu tinha que fazer um drama. Não era exatamente difícil contar a verdade pra Shin depois de ele ter me lascado um beijão!

Ele entrou em colapso de novo. Conhecendo bem o meu melhor amigo, sabia que minhas palavras tinham sido o suficiente para o fazer morrer de tanta vergonha e entrar em curto circuito. Ele nem conseguia formular uma frase direito!

-Qual é! Você que me beijou e agora tá surtando porque falei que sou apaixonado por você?! Shin, eu gosto de você como algo além de um amigo desde sempre, seu idiota do caralho. - falei meio indignado. Tipo, como assim? Ele que tinha tomado a atitude e agora surtava por eu falar que era apaixonado por ele desde sempre? Cadê o sentido?!

-É que a Yumi me disse que você gostava de mim do mesmo jeito que eu gosto de você, porra! Então eu achei que talvez devesse fazer algo, sei lá?! - ao mesmo tempo que ele falava isso, também parecia querer se esconder e fugir, e ao mesmo tempo que eu ficava puto por Yumi ser uma maldita fofoqueira, também entrava em colapso com a frase de Shin.

Eu apenas pisquei, confuso.

-Você me beijou por que? Pelo amor de Deus, seja mais claro, porque eu não quero me iludir. - falei, segurando os ombros dele e o forçando a me olhar.

-Eu não vou fazer uma declaração de amor pra você, Fuyuki, ainda mais quando a sua foi horrível. - ele falou torcendo o nariz. -Eu sinto coisas por você, isso não é o suficiente?

-Não se eu não sei que coisas são essas. Até então você pode sentir coisas do tipo "cara, você é meu melhor amigo e te vejo como um irmão". - retruquei. Sim, eu tinha entendido onde Shin queria chegar, mas eu ia ser um desgraçado até ele falar com todas as letras. Eu precisava daquela comprovação de que eu não estava ficando louco.

-Coisas do tipo eu querer te beijar, querer ficar com você e também sentir o mesmo que você sente desde sempre! Mas eu nunca achei que você fosse sentir o mesmo por mim, porque você é incrível e é bonito e é perfeito. E todo mundo te acha o máximo, porque você é! Você chama atenção por onde passa, Fuyuki, e é confiante, pode ter tudo que quiser. E eu sou só eu. Eu não tenho nada de especial e eu só...

Não deixei ele terminar de falar aquelas merdas. Shin sempre gostava de ficar se autodepreciando, e era uma merda que ele fosse incapaz de enxergar o quanto era incrível e inteligente. Por isso, eu não o deixei falar, justamente porque cortei o espaço que ainda existia entre nós e o beijei.

Aquilo pegou Shin de surpresa, mas ele não hesitou nem por um segundo antes de me beijar de volta, o que me deixou surpreso. Shin sempre foi o garoto tímido; ele estar me beijando de volta era realmente um choque, mas não era como se fosse algo ruim.

Suspirei e estremeci ao sentir as mãos dele na minha cintura, me puxando para mais perto de si. Aquilo me deu confiança o suficiente para afundar os dedos nos cabelos dele e o beijar com ainda mais intensidade, deixando minha língua deslizar pela de Shin de uma forma necessitada.

Beijar ele era melhor do que eu tinha imaginado que seria. Meu coração batia forte dentro do peito, e me perguntei se ele era capaz de notar isso já que estávamos grudados um ao outro. Por muito tempo, tive medo de expressar o que sentia por ele, mas agora...

-Não diga coisas idiotas quando você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. - reclamei, me afastando apenas o suficiente para o dizer, minha testa encostada contra a dele. -Você não é só você. É a pessoa mais inteligente que eu conheço e é gato pra caralho. Você me faz feliz pra cacete, seu idiota.

Shin riu e eu amava escutar a risada dele. Quando ele me abraçou, afundei o rosto na curva do pescoço dele e suspirei. Se aquilo era um sonho, era o tipo de sonho que eu não queria acordar.

-Você é um babaca, mas também me faz feliz, Fuyuki.

Tive provavelmente a melhor noite de sono de toda a minha existência. Isso porque Shin e eu passamos boa parte conversando sobre o como tínhamos sido bem idiotas em só não falarmos o que sentíamos um pelo outro logo e a outra parte porque ficamos nos beijando. Eu nunca tinha pensado que beijar pudesse ser tão bom assim, mas tudo com Shin parecia ser mil vezes melhor.

E quando dormimos, ainda ganhei o bônus de ser a conchinha menor mesmo que eu fosse inegavelmente maior que Shin.

Claro que tudo podia ter ficado incrivelmente bem se a porta do meu quarto não tivesse sido aberta na manhã seguinte pela minha incrível mãe, fazendo Shin e eu tomarmos um susto do cacete.

-Eu te avisei, Katsuki. - ela riu e eu pisquei os olhos, fazendo uma careta ao ver minha mãe e meu padrinho parados na porta do meu quarto. Shin tinha se enfiado embaixo do cobertor, provavelmente desejando a morte por terem visto nós dois abraçadinhos. -Você me deve dinheiro agora.

-Desgraçada, pra você é fácil adivinhar se fica lendo a mente de todo mundo toda hora. - o loiro ao lado dela resmungou revirando os olhos.

-Espera aí, vocês apostaram sobre o meu relacionamento com o Shin, é isso? - falei indignado, querendo bater nos dois. Minha mãe teve coragem de rir.

-Pelo menos eu adivinhei que iam se beijar antes dos vinte, não? - ela retrucou e Shin soltou um barulho de quem estava mesmo morrendo.

-Para com isso, sua velha insuportável! - reclamei, atirando um travesseiro na direção dos dois, apenas para ele ficar suspenso no ar pela telecinese da minha mãe. Grunhi, frustrado. -Vocês dois podem ir para o inferno!

Com um gesto de mão, bati a porta do quarto na cara dos dois e a tranquei, mesmo sabendo que só ia servir para comprovar o óbvio. E me virei para Shin, que ainda estava morrendo embaixo do cobertor.

-Eles já foram embora. - falei e ele apenas tirou o suficiente do cobertor para que eu fitasse seus olhos vermelhos. Arqueei a sobrancelha e dei um sorrisinho, porque sabia que ele estava morrendo de vergonha. -Tá com tanta vergonha assim por ter me beijado, é?

-Ah, cala essa boca. - ele retrucou dando um soco no meu ombro que me fez rir.

-Seu soco é doloroso. Ainda bem que você não quer ser super herói, eu ia ter medo de te enfrentar. - falei com um sorrisinho e ele revirou os olhos. -Ah, você é tão lindo, até quando tá sendo sem educação!

-Sem educação e ainda assim você me quer, caramba hein. - ele retrucou e eu dei uma risada incrédula antes de me deitar sobre Shin.

Ele suspirou, afundando os dedos no meu cabelo e me fazendo fechar os olhos por um segundo. E então, eu sorri.

-Quero mesmo.

Eu sorri ainda mais quando Shin sorriu para mim. Porque no final das contas, nada além disso importava para mim. E agora eu tinha tudo o que precisava bem ali.

Boa noite povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

10500 palavras de pura aleatoriedade, eu nem mesmo sei como essa história aleatória surgiu, mas já que surgiu, resolvi postar. Talvez eu apague, não sei?

Como eu disse no capítulo anterior, não andava muito confortável com a minha escrita e esse capítulo foi o que eu precisava pra começar a voltar no lugar :') logo tentarei atualizar e postar o próximo capítulo de Ocean Eyes

Sobre o Fuyuki e o Shin: eu amo os dois. Surgiram de uma forma muito aleatória na minha mente e eu precisava escrever um capítulo pra dar vida aos dois, e foi isso que surgiu. Amo o como eles são o completo oposto um do outro e dos pais deles. Enfim, é um capítulo totalmente fora da fanfic, mas espero que tenham gostado desse surto aleatório

Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!

Espero que gostem <3
~Ana

Data: 15/09/22

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