As aulas terminaram e eu saí da sala com as minhas amigas caminhando em direção ao refeitório. A minha mãe mandou-me uma mensagem explicando que iria atrasar-se trinta minutos.
É nesses momentos que eu falo " se eu soubesse veio tarde ". Teria pedido ao meu pai e nessas horas ele deve estar trabalhando e não gosto de incomodá-lo.
Sentamos na nossa mesa habitual e seus respectivos namorados sentaram ao lado delas.
- Ei Nessa. - Carter falou, batendo o meu punho com o dele.
- E aí Nessa, tudo ótimo? - Nick perguntou.
- Eu estou bem sim, rapazes. - Respondi e mordisquei a minha maçã. - Eu vou dar umas voltas e já volto aqui. - As meninas assentiram e eu saí da mesa caminhando até a saída do refeitório.
Não irei ficar segurando vela para as minhas amigas. Compreendo perfeitamente como que elas se sentem quando estão com os namorados e eu sozinha. Elas sempre tentam achar um par perfeito para mim, mas eu acho que tenho um poder de repelir os rapazes. Eles chegam perto de mim e eu automaticamente pergunto: qual é a tua cor favorita? Qual é o teu signo?
Por isso que não tenho sorte nessas coisas, acho que só o são Valentim pode me ajudar nessas horas.
- Nessa! - Gritou Lucca e eu olhei para trás para puder observar ele, ele sorriu. - tudo bem?
- Ah, oi. - As palavras deslizaram dos meus lábios gentilmente e sorri.
- O que fazes?
- Eu estou andando para descontrair, mesmo que esteja como uma louca. - Ele gargalhou e eu também gargalhei.
- Posso andar como um louco contigo? - Perguntou.
- Sim. - Respondi e ele sorriu.
- Viste o anúncio da peça? - Lucca perguntou, enquanto caminhavamos em direção ao pátio.
- Eu vi. Vou tentar a Cinderela. - Redargui olhando para ele. - E você?
- Vou tentar o príncipe. - Lucca falou, olhando para o céu.
- Bom, boa sorte para ti. - Desejei e ele sorriu.
- Para ti também, Nessa. - Lucca olhou para mim e sorriu. - Vamos ao café do parque?
- Queria, eu queria, mas a minha mãe estará aqui em... - Olhei as horas no meu celular. - Quinze minutos.
- Ah, tá, podemos esperar juntos ou ela também é fanfiqueira? - Ele questionou gargalhando.
- Não, ela não é como o meu pai, ele que faz ela virar uma leitora maníaca. - Gargalhei e ele abanou a cabeça negativamente. - A sua é?
- Eu não sei. - Lucca falou, olhando novamente para o vazio.
- Entendi. - Respondi, percebendo que ele não queria falar disso, deu para sentir no seu tom de voz.
- É que não cresci com ela. - Justificou.
- Percebido. - contestei. - Tu vives apenas com o teu pai?
- Não, tenho mais dois irmãos e a minha mãe. - Ele coçou a sua cabeça e revirou os olhos.
Minha mãe estacionou o carro em frente ao portão da escola e fez um sinal par eu ir ao encontro dela, mandei uma mensagem de texto avisando que eu estava indo buscar a minha mochila e deixei Lucca falando sozinho no pátio enquanto corria para levar o meu material.
Levei a minha mochila e me despedi das minhas amigas, saí da escola e acenei para Lucca, ele sorriu e acenou para mim.
Entrei no carro, no banco ao lado da minha mãe e lancei a mochila no banco de trás, baixei o vidro e soltei o meu cabelo do rabo-de-cavalo.
- Quem é aquele rapaz? - Minha mãe perguntou, enquanto conduzia.
- É o Lucca Roberts. - Falei, olhando o meu rosto através do espelho do meu lado. Preciso de descansar, estou com olheiras a essa hora.
- E é o teu namorado secreto?
- Mãe! - Retruquei. - Ele é apenas um menino que estuda na mesma escola que eu.
- Você não me engana Nessa, eu também já fui adolescente, não tínhamos redes sociais e aplicações de dates, mas eu também fui adolescente e namoricos de adolescência são coisas que todos adolescentes fazem. - Minha mãe explicou olhando para mim. - O teu pai foi o cara que mais ficou comigo, depois do Leandro. O teu pai namorou comigo desde os catorze até os vinte e dois e depois eu fiquei grávida de você, depois de um ano e oito meses que você nasceu ele morreu e encontrei Leandro quando estava a ir numa consulta do psicólogo.
- Eu já sei de toda história mãe, mas não sabia da parte do namorico adolescente.
- É, eu também já tive minhas aventuras adolescentes, mas conta-me como foram as aulas?
- Foram boas e amanhã mãe eu vou ficar mais tempo na escola para a audição da Cinderela, bom, pela informação é o roteiro original do clássico então só vou ler e assistir Cinderela durante todo dia de hoje.
- Eu desejo-te sorte minha gata borralheira. - Minha mãe sorriu e estacionou o carro em frente a minha casa.
- Até mais logo mãe. - Sai do carro e fechei a porta. Minha mãe voltou a conduzir e rapidamente saiu do local.
Entrei na minha casa e subi as escadas até o meu quarto. Camisa branca e calções de ganga. Vesti a roupa e com o cobertor na mão, sai do quarto e desci as escadas até o rés do chão.
Sentei no sofá e coloquei Cinderela. Assisti e li Cinderela durante a tarde toda e decidi cochilar um pouco, mas o meu sono foi interrompido com o toque frenético da campainha, abri a porta e Ruth sorriu.
- Nessa Carter. - Ela falou, entrando na minha casa e eu fechei a porta. - Eu estive a tocar a imenso tempo.
- Oi, para você também Ruth Mackenzie. - Ruth sorriu e eu apenas abanei a cabeça.
- Você está treinando para a Cinderela? - Ela perguntou, olhando o filme rolando na televisão.
- Sim. - Respondi, mostrando a Ruth o livro que estava na minha mão direita. - Estou seguindo o roteiro original e li em todas as plataformas digitais o livro e é tudo igual, então não haverá erros.
- A Dani está com o seu namorado e eu quis vir visitar-te a mesma. Estou com saudades de uma tarde de amigas, nós as três juntas.
- Eu também Ruth. - Confessei. - Mas vocês estão felizes com os vossos namorados.
- Não me digas que estás com ciúmes? - Ela indagou, batendo os cílios com um sorriso maroto no rosto.
- Ah não, não estou. - Gargalhei.
- Já sei o porquê, tens o Lucca Roberts. - Ruth gargalhou e eu revirei os meus olhos.
- O Lucca e eu somos... - O que eu e o Lucca somos? Não definimos nada na nossa relação, nos conhecemos a pouco tempo e não posso definir se é amizade ou se somos simples conhecidos que estudam na mesma escola. - Esquece, vamos assistir Cinderela?
- Ah, você não vai fugir do tema Lucca.
- Nem mesmo se eu fazer pipocas com manteiga e organizar uma maratona de romances? - Indaguei e ela sorriu.
- Podemos fazer a segunda coisa.
- Eu sabia.
Fiz as pipocas e dois sucos de manga, sentei-me no sofá ao lado de Ruth e ela prontamente levou um copo da minha mão.
- Amanhã é o grande dia. - Ruth disse, colocando o filme a reproduzir.
- Você assim está me deixando mais nervosa. - falei, tomando um gole do meu suco.
- Você vai entrar na peça Nessa, és a Nessa Carter, a faz-tudo.
- A faz tudo é? - gargalhei e escutei o toque do meu celular. - espere aqui.
Subi as escadas rapidamente até o meu quarto e tirei o celular da mochila, o rosto da Dani sorrindo e as duas opções de atender e desligar foram as primeiras coisas que vi ao ligar a tela, deslizei para o lado direito e coloquei o celular no ouvido.
- Nessa, estás em casa?
- Sim.
- Posso ir a tua casa e passar a noite lá? Quero distrair-me, ficar com a minha amiga.
- Podes sim, agora estou com a Ruth, podes vir agora.
- Ah, então daqui a trinta minutos chego aí. - Ela desligou e eu coloquei o celular no bolso do calções.
Voltei para a sala e fechei as cortinas, apaguei as luzes e fiquei a assistir o filme com Ruth.
Se eu e ela temos algo em comum é o gosto literário e cinematográfico: romances adolescentes. Romances adolescentes para mim e Ruth são como histórias marcantes, que nos representam. Ela já conseguiu viver o seu amor adolescente, a Dani também e eu? Ainda não. Eu sigo a frase: dê tempo ao tempo. Cada a coisa a sua vez. Step by step. Passo a passo.
Escutei o som da campainha e caminhei até a porta, girei a maçaneta e abri a mesma, Dani entrou acompanhada dos meus pais e eu sorri.
- Pai, mãe, Dani. - Abracei a minha mãe e o meu pai e de seguida puxei a Dani até o sofá.
- Amor. - Ruth falou, dando um forte abraço a Dani. - Vieste para dormir? - Ruth perguntou ao ver a mochila.
- Sim.
- E eu? - Ruth indagou, olhando para mim.
- Podes ficar aqui também se quiseres. - respondi e elas sorriram.
- Tá, mais tarde eu vou a minha casa e levo as minhas coisas.
Assistimos o filme e depois jantamos e dormimos, no dia seguinte, nos arrumamos para a escola e o meu pai foi deixar-nos.
- Hoje é hoje Dani. - Falei animada olhando para o grande pôster das audições.
- Realmente Nessa Carter. - Dani abraçou-me de lado. - Desejo-te sorte gata.
- Eu também.
As aulas do dia foram ótimas, mas o que passava na minha cabeça eram as audições. Todavia que eu tentava concentrar-me nas aulas, eu não conseguia, apenas tinha vontade de fazer logo as audições. É escusado não dizer que estou mais que ansiosa, eu estou ansiosamente ansiosérima.
Sentei ao lado da Dani e segurei forte na sua mão direita, pelo menos estou nessa com a minha amiga, e não sozinha.
- Ei! - Lucca falou, parando na minha frente. - Estás bem? - os seus fios de cabelo castanho e os seus olhos azuis contrastando com o seu enorme sorriso.
- Estou sim, um pouco nervosa. - forcei um sorriso.
- Eu também estou, mas quando eu vi você aqui, diminuiu a tensão em mim. - Ele sentou-se no banco ao lado do meu e segurou a minha mão direita.
- Ah, que fofo. - Dani sussurrou no meu ouvido e eu apertei mais a sua mão.
- É, a sua amiga também vai fazer audições? - Lucca perguntou, acenando para Dani.
- Sim, quero ser a fada madrinha. - Redarguiu Dani, acenando de volta.
- Ah, ótimo. - Ele sorriu.
- Daniella Dayer. - O diretor chamou e ela olhou para mim com um sorriso nervoso.
- Boa sorte, Dani. - Desejei e Dani abraçou-me.
- Muito obrigada. - Ela levantou-se e entrou na sala de audições.
- Vocês são muito próximas. - Lucca comentou.
- Eu e Daniella já superamos a barreira de melhores amigas, somos irmãs, como de sangue.
- Eu queria ter uma amizade como a vossa.
- E por quê não tens?
- Não confio em seres humanos.
- E não confias em mim? - Indaguei.
- Em ti confio, é diferente com você.
- Por quê é diferente? - Quis saber.
- Ah, sei lá.
- Nessa Carter, é a sua vez!