Os meus pais assistiram o filme chorando, bom, eu já devia estar habituada, só falaram que: o romance é tão lindo que dá vontade de chorar.
Eu não discordo, mas eles exageram as vezes, convidaram-me para ir jantar com eles, mas eu prontamente neguei, não ia ser pega vela deles. Porém, pedi para me deixarem no museu do amor, lá havia uma exposição sobre amor e homenagem ao Cupido, o anjo do amor.
É uma coisa linda de se ver, um dos benefícios de morar nessa cidade. Todos os anos, no dia dos namorados, a cidade comemora como se fosse o aniversário da cidade, pois diz a lenda que a princesa Aylin, morreu exatamente nessa cidade para salvar o rei Mutengo, o primeiro rei negro, a muito tempo. Então comemoramos no dia do amor.
Terminei de passar o oléo no meu cabelo e novamente passei a escova e estou pronta. Cobri a minha blusa rosa com um casaco de couro preto e prendi as correntinhas nas minhas calças de ganga igualmente pretas.
— Filha? — minha mãe perguntou, batendo a porta. — posso entrar?
— Pode. — respondi e ela girou a maçaneta, entrou no meu quarto e sorriu.
— Estás linda. — ela elogiou-me e eu sorri.
— Obrigada mãe, você também está muito linda. —ela sorriu.
Realmente ela estava linda, o vestido azul escuro estava bem encaixado no seu corpo, fazendo jus as suas belas curvas e o fato de não ter mangas e sim duas alças finas deixava ela mais atraente, o sapato de salto alto azul escuro fizeram ela ficar com ar de " poderosa ", modesta a parte, mas ela sempre foi poderosa.
- Vamos embora, temos que ir a tempo, antes de trocarem a nossa mesa. - minha mãe falou e eu assenti, abri a minha pequena bolsa e coloquei lá o meu celular e algum dinheiro para qualquer emergência.
Saimos do meu quarto e descemos as escadas até o rés-do-chão, o meu pai também estava bonito, o terno preto ficou bonito nele e a corrente semi-grossa de prata no seu pescoço deu o toque especial que só ele tem.
- Pai, o senhor está muito bonito. - elogiei e ele sorriu, dando uma volta com as mãos nos bolsos da calça.
- Obrigado filha, o teu velho aqui ainda tem charme. - ele brincou gargalhando e eu também rí.
- Vamos antes que percamos a mesa Leandro. - minha mãe ponderou e nós apenas fizemos o sinal de obediência colocando a mão na testa.
Saimos de casa e entramos no carro do meu pai. Eu no banco de trás, o meu pai no volante e minha mãe no banco ao lado.
O caminho até o museu foi maravilhoso, a cidade praticamente estava vermelha, rosa e roxa, os prédios cobertos por faixas, flores e corações insufláveis. Os carros alegoricos vagavam pela cidade e os musicistas tocavam instrumentos e cantavam em uníssonos musicas romanticas.
Meu pai estacionou em frente ao museu e eu despedi-me deles, saí do carro e pude contemplar o local, as paredes estavam todas cobertas com panos sobre amor, a porta e o hall decorados também. Sorri e subi rapidamente os cinco degraus de marmore cinza, tirei o meu cartão de visitante da mochila e mostrei-o a recepcionista, depois de verificar, ela devolveu-me, apressadamente fui a ala da exposição e como sempre: pontual.
— Boa noite a todos. — Cumprimentou o diretor do museu e em uníssono respondemos ao seu cumprimento. — Hoje, a cidade comemora o amor eterno da princesa Aylin e do rei Mutengo, a princesa que morreu pelo jovem negro quando o racismo estava a pairar por todo o reino, mas ela conseguiu salvar o reino e demonstrou o amor verdadeiro, em homenagem a ela, segue-se a exposição com varios agentes daqui mesmo em cada lado, e depois teremos o leilão, continuação de uma boa noite. — Ele sorriu e saiu da ala, eu também sorri pelas estatuetas e quadros romanticos.
Mas a que mais me chamou a atenção é a do Cupido, toda ela feita de pedra, com o arco e flecha em forma de coração, uma coroa de flores e um biquinho nos labios.
— Você por aqui? — Lucca perguntou parando na minha frente. Soltei um grito de susto e repousei as minhas mãos no meu peito e suspirei.
— Não me assustes mais, rapaz. — Pedi recompondo-me. — E o que você está fazendo aqui também?
— Não sei bem exatamente. — Lucca respondeu e eu olhei para ele confusa. — senti que devia vir aqui.
— Do nada? — Indaguei e Lucca afirmou abanando a cabeça. — Tá.
— Tá, queres tomar um suco? — Ele perguntou.
— Primeiro quero ir ao parque dos apaixonados. — Redargui e ele assentiu.
— Vamos juntos. — Lucca falou, caminhando em direção a saida da sala.
— Juntos? — Questionei, seguindo-o.
— Sim, eu quero passear contigo. — Lucca replicou e olhou para mim com um sorriso. - E dessa vez você não vai fugir de mim.
- Ah, sobre isso, começamos com o pé esquerdo e eu tinha umas coisas por resolver. - Menti e ele apenas balançou a sua cabeça negativamente.
- Então vamos sair daqui de mãos dadas e com o pé direito, e recomeçaremos o nosso encontro da biblioteca.
Caminhamos lentamente até a saída do museu e descemos os degraus até o passeio. A Praça dos apaixonados estava toda ela decorada, com balões em forma de corações e ornamentada com rosas e dentes-de-leões.
- Você gosta muito desse tipo de ambientes? - Ele questionou, quando entramos no parque.
- Muito, os casais, as crianças animadas, gosto muito. - Respondi.
- Eu não sei porquê, mas não gosto muito desse tipo de coisas.
- Talvez o teu coração esteja congelado.
- Não é isso, mas, affs, deixe de lado.
Não comentei nada e sentamos na mesa de fora da cafetaria Meu amor.
- Queres um café? - Lucca indagou, chamando o garçom.
- Sim. - Redargui e o garçom chegou a nossa mesa segurando um bloco de notas e uma caneta azul nas mãos.
- Quero dois cafés com leite. - O garçom anotou e entrou na cafetaria. - Em que ano tu estás?
- Estou no segundo ano e tu?
- Terceiro, vens ao baile?
- Depende, o tema será amor?
- Não sei, mas, se você aceitar ir comigo, posso revelar-te o tema. - Lucca gargalhou e eu também gargalhei. Obviamente não irei aceitar um pedido de alguém que só falou comigo hoje.
- Ok. - Repliquei.
- Sabe, eu nunca tinha notado a tua presença na escola. - Lucca disse e eu assenti.
- Eu digo o mesmo.
- Mas hoje na biblioteca, foi como se eu tivesse encontrado um tesouro. - Lucca disse com um sorriso de canto e eu gargalhei nervosa.
- Ah não, para. - Pedi.
- É sério, mas, e por quê que me fugiste?
- Ah... - fiquei pensativa. - Tive que ir fazer umas coisinhas importantes.
- Tá, e por quê não acenaste para mim quando eu fiz o mesmo para ti?
- Eu estava com o meu pai, e se o meu pai visse, ele ia criar uma fanfic na sua cabeça, em que nós os dois somos os protagonistas de Titanic e iria contar tudo a minha mãe e isso ia ser o tema de debate do jantar durante a semana toda. - Expliquei. Boa parte é verdade, o meu pai tem uma mente fanfiqueira que eu não sei onde ele encontrou, a cada coisa que eu faço ele já tem um prólogo na sua mente e o final feliz e sempre sou a protagonista.
- Então queres dizer que não respondeste porque o teu pai é fanfiqueiro? - Ele questionou, gargalhando.
- Sim, pode parecer estranho, mas ele tem essa vibe de escritores das apps de fanfics.
- Queria ter um pai como o teu, o meu só sabe ficar trancafiado no seu escritório, vinte e quatro sobe vinte e quatro. - Lucca confessou, mudando um pouco o seu semblante, mas rapidamente forçou um sorriso.
- Querias ter um pai fanfiqueiro, louco, maluco e comediante? - Indaguei gargalhando. - Bom, posso emprestar-te o meu.
- Eu ficaria agradecido. - Ele redarguiu. - Queres passear pela cidade toda?
- Quero, nem tive tempo de ir ver todos os cantos e isso é uma tradição para mim. - Falei e Lucca sorriu.
O garçom deixou os nossos cafés na mesa e o Lucca pagou a conta. Levamos os nossos cafés e saímos do parque. Caminhamos por toda a rua, fomos a Praça da heroína, no caso, onde tem a estatueta da princesa Aylin, e fomos visitar o monumento mais sagrado da cidade, o castelo.
O castelo que a princesa Aylin viveu toda a sua vida trancada dentro dele, até que conheceu o escravo Mutengo. Diz a lenda que o seu sangue derramado no chão ainda está lá, só que é proibido entrar dentro dele.
- Lindo castelo. - Lucca comentou.
- Pois.
- Pena que é o local de acontecimentos tenebrosos e tristes.
- Sim, mas o amor dela me inspira.
- Inspira em o quê? - Ele quis saber.
- Em me apaixonar.
- É exatamente isso que tu queres?
- Sim, quero encontrar alguém que me ame e que eu possa me apaixonar por ela.
- Talvez não vai demorar muito para isso acontecer.
- Talvez, agora eu quero ir para casa, estou cansada. Até a próxima Lucca.
- Eu acompanho-te. - Ele ofereceu-se.
- Não é necessário, mas obrigado.
- Não, eu disse que vou te acompanhar e ponto final. Pode ser perigoso - Lucca entrelaçou os nossos dedos e olhou para mim. - Vamos?
- Vamos. - Redargui.
Caminhamos juntos e de mãos dadas até a minha rua, pelo caminho ainda dava para ver partes da cidade iluminadas por LED's rosa, vermelho e roxo. Os pombos, sim, os pombos de verdade, voando, outros no chão e um balão gigante do Cupido.
- É ele que me guiou até o museu. - Lucca disse, apontando para o balão.
- Você foi guiado pelo cupido? - perguntei e ele soltou uma risada fraca.
- Sim, foi ele quem me guiou.
Se eu fosse o meu pai ou tivesse uma mente como a dele, estaria a criar a maior estória do mundo que possivelmente seria adaptada para o cinema, sobre este acontecimento, mas como sou a Nessa, simplesmente vou dizer que foi a magia do amor, os deuses do amor quiseram a sua presença no local.
Chegamos a minha casa e eu apontei para a mesma.
- Eu moro aqui. - Falei. - Então, até amanhã na escola.
- É, até amanhã filha de fanfiqueiro.
- Ei, não fale assim do meu pai. - Ele riu e eu também. - Adeus. - Tirei a chave da minha bolsa e abri a porta de casa. Lucca acenou para mim e eu retribui o gesto.
Entrei na minha casa e fechei a porta, subi as escadas até o meu quarto e troquei de roupa, vesti o meu pijama de corações e caveiras e levei o meu cobertor até a sala, liguei a televisão e novamente pus-me a assistir filmes românticos.
Mas e se o encantamento realmente funcionou? Mas quem pode comprovar-me que aquilo é um encantamento? Oh, são Valentim, eu peço-te apenas um rapaz que possa amar-me incondicionalmente.