— Espere. O quê?
Hermione se virou bruscamente para ver Blaise Zabini emergir de uma tapeçaria no corredor seguido por uma Daphne Greengrass de aparência confusa e amarrotada.
Hermione lançou um rápido olhar de ódio para Daphne. A bruxa parecia andar como se não fosse da conta de ninguém. Mais cedo naquele dia, Hermione a vira encurralando Draco pelo que parecia ter sido a enésima vez. Agora, a agressiva garota da Sonserina parecia ter sido interrompida de um jogo de hóquei de língua com Blaise.
Hermione tentava não detestar as pessoas por impulso, mas Daphne Greengrass estava começando a irritá-la.
Ela olhou para Blaise e ignorou sua pergunta.
— Vocês estão fora do toque de recolher, Zabini e Greengrass. Isso vai custar dez pontos para cada um da Sonserina.
Blaise acenou com a mão com desdém.
— Certo. Isso não. Você está perdendo sua magia, Granger?
— Cai fora, Blaise; Granger e eu estamos criando laços — Pansy disse com uma voz afiada enquanto dava um passo à frente.
— Oh, você estão se vinculando? — As sobrancelhas de Blaise se arquearam. — Drake sabe? Desculpe. Só estou querendo alguns esclarecimentos sobre toda essa coisa de perder a magia.
A boca de Hermione se contraiu enquanto ela olhava de Blaise para Pansy e Daphne. Blaise pareceu perceber que a presença de sua amiga era problemática.
— Daph, amor, volte para os dormitórios sem mim, está bem?
— O quê? Eu quero... — Daphne começou, parecendo visivelmente mal-humorada. Pansy e Blaise olharam para ela. Ela deu um suspiro dramático. — Ok.
Daphne saiu em direção às masmorras enquanto Blaise e Pansy olhavam para Hermione.
Hermione cruzou os braços com força sobre o peito e olhou para os dois.
— Não sou do tipo que aposta todas as fichas em uma única cartada. Estou me preparando para múltiplas possibilidades, alinhando planos alternativos. Não sei como isso pode te surpreender. — Ela gesticulou desajeitadamente ao redor de si mesma e engoliu em seco. — Não serei necessariamente aprovada para a cirurgia, de qualquer maneira. Estou apenas fazendo as entrevistas preliminares. No entanto, se eu for aprovada e acabar seguindo esse caminho... não é certo que eu perderei minha magia. É apenas um risco associado.
Pansy bufou e arqueou as sobrancelhas.
— Admito que não estou estudando Aritmancia no nível N.I.E.M., mas acho que entendo o suficiente para saber que oitenta por cento de chance de nunca conseguir realizar um feitiço doméstico básico depois do procedimento me parece bastante alto.
Hermione abaixou o queixo e se ergueu.
— Eu realmente não vejo o porquê isso é da sua conta. O fato de você vasculhar minha mochila e decidir ler minha correspondência médica não te dá o direito de ter uma opinião sobre minhas escolhas de vida, Pansy.
Blaise cruzou os braços e olhou Hermione de cima a baixo como se a estivesse reavaliando.
— Então deixe-me ver se entendi. Você está namorando Draco agora, mas se não der certo até a formatura, seu plano é... se tornar uma trouxa? — Ele revirou os olhos. — Isso... é a coisa mais grifinória que eu já ouvi na minha vida.
O rosto de Hermione esquentou.
— Tenho certeza de que é. E agora? Vocês dois estão planejando contar a Draco?
Ela olhou para cada um deles. Pansy parecia estranhamente constrangida e Blaise continuou a olhar contemplativo enquanto a encarava.
Ela deixou escapar um suspiro profundo.
— Apesar do fato de nenhum de vocês gostar de mim e passar a maior parte do seu tempo me tratando como se eu estivesse no caminho de prender ou arruinar seu amigo, estou realmente tentando muito não fazer isso. Então, sem dúvidas, digam a ele, se vocês acham que ele deveria saber.
Ela girou nos calcanhares e foi embora, encerrando o resto da rota de patrulha sem Pansy.
Depois que terminou, ela voltou para Draco. Quando chegou do lado de fora da porta, parou por um momento e respirou fundo antes de murmurar a senha.
Draco estava imerso no dever de casa de Feitiços. Ele ergueu os olhos da redação quando ela entrou.
— Ei — ela disse.
— Ei — ele repetiu. — Como foi a patrulha?
— Maçante. Não há muitos alunos quebrando o toque de recolher, além de Blaise e Daphne se agarrando em uma alcova.
Draco não pareceu surpreso ao saber que Daphne estava envolvida com Blaise.
— Pansy se comportou bem?
Hermione deu de ombros e se sentou no sofá ao lado dele.
— Ela é Pansy. Seu principal insulto foi que eu poderia ser uma pessoa pior que ela. Eu não posso deixar de me perguntar como a mãe dela deve ser.
Draco abaixou sua pena.
— Iphigenia Parkinson é um pesadelo. Sua vida inteira girou em torno de casar Pansy. A mulher estava tentando discutir contratos de noivado com meu pai quando tínhamos quatorze anos.
O estômago de Hermione caiu de repente.
— Noivado? Isso ainda ocorre no mundo bruxo?
Draco encolheu os ombros.
— Às vezes.
— Você não está...
Draco bufou e deu a ela um longo olhar.
— Não, Hermione, eu não tenho uma noiva nos bastidores que esqueci de mencionar a você.
Hermione contraiu o ombro.
— Eu simplesmente pensei em perguntar. Acontece que existem muitos aspectos da cultura bruxa que ninguém pensou em mencionar para mim.
— Bem, eu não acho que alguém esperava por você — Draco disse enquanto a puxava para mais perto.
A boca de Hermione se curvou por um minuto antes de beijá-lo. Lentamente.
Ela tentou memorizar exatamente como era quando seus lábios se tocavam.
Sua mandíbula tremeu.
Draco recuou.
— Algo está errado? Pansy..
— Não. — Hermione abaixou a cabeça e a balançou bruscamente. — Eu sou apenas emocional às vezes. Esses hormônios ainda me fazem chorar por todo lado.
Ela traçou seus dedos ao longo da mandíbula dele e então olhou em seus olhos, hesitando por um momento.
— No caso... no caso de as coisas acabarem mal para nós, Draco. Eu só quero ter certeza que te disse que eu realmente gostei disso.
Draco abaixou a mandíbula, franzindo as sobrancelhas.
— Por que estamos falando sobre coisas que acabam mal?
Hermione revirou os olhos.
— Não estou dizendo que vai acabar mal. Eu apenas... quero ter certeza de que você sabe, só para garantir. Eu realmente gostei de namorar você. Não esperava que namorar pudesse ser tão divertido.
Draco a encarou por um momento antes de seus olhos brilharem.
— Bem, eu sou excepcionalmente divertido, se por diversão você quer dizer alguém que também acha que a tradução de runas é uma forma aceitável de conversa de travesseiro.
Hermione engasgou e recuou com um bufo indignado.
— Isso foi apenas uma vez.
— Certo. — Ele inclinou a cabeça para trás. — Normalmente é Feitiços e ontem à noite era sobre o uso potencial de ararambóia para vítimas de queimaduras.
— Isso... isso foi porque o calor do seu corpo é tão alto que... depois, a ideia veio de repente para mim. Eu não ... desculpe-me pelo momento disso — ela disse, recuando.
Draco a seguiu até o sofá e ela escorregou para trás até que suas costas bateram no braço do sofá.
— Não, não. Você tem que me dizer. Apenas, talvez não como as primeiras palavras que saíram da sua boca depois de termos transado.
Hermione escondeu o rosto nas mãos.
— Desculpe. Juro que não estava pensando nisso quando estávamos fazendo sexo. Só me ocorreu depois e eu queria saber o que você pensava.
Draco tirou as mãos do rosto dela e pairou sobre ela.
— Não se esconda. Eu sou totalmente a favor de assuntos acadêmicos como conversa de travesseiro. É parte do meu charme natural e é... divertido. — Ele sorriu ironicamente. — Agora pare de falar como se esperasse que nosso relacionamento explodisse a qualquer dia. Se você tentar terminar comigo, não tenho intenção de aceitar isso sem fazer nada. Eu dei a você várias chances de escapar antes de nos tornarmos oficiais. Usei toda a minha nobreza. Você está presa agora.
Hermione deu uma risada baixa e sorriu por um momento.
— Tudo bem então.
Draco a estudou.
— A patrulha foi boa? Você me parece um pouco.. para baixo.
— Ocorreu tudo bem — disse Hermione, olhando para ele e tentando se animar. Depois de um momento, seus ombros caíram um pouco. — Eu apenas... conversei com Pansy. Isso me fez querer ter certeza de que você sabia. Acho que você salvou meu ano escolar. Eu tinha praticamente me conformado com a ideia de que tudo seria horrível depois de setembro. Mas isso... realmente mudou o ano para mim. Eu nunca realmente namorei ninguém antes. É muito mais divertido do que esperava.
O canto da boca de Draco se curvou em um sorriso malicioso, mas então seus olhos piscaram e ele de repente se recostou.
— O quê? — Hermione o estudou.
— Oh, eu só queria perguntar. — Seus olhos caíram por um momento e ele engoliu em seco antes de olhar para ela. — Quando nós... durante o seu cio. Eu tirei a sua...? Você não era...?
— Virgem? Puxa, não. Eu fiz antes. — Ela sentiu suas bochechas esquentarem e olhou para baixo. — Depois do sexto ano... pensei que... havia chance de que ser virgem durante a guerra talvez não fosse a melhor ideia. Provavelmente foi um pouco irracional, mas parecia urgente na época.
Ela deu uma risadinha nervosa e sentiu Draco estremecer. Ergueu a cabeça e se contorceu ligeiramente.
— Então eu... eu perguntei ao meu vizinho trouxa. Ele era alguns anos mais velho, pensei que ele poderia saber mais sobre como fazer isso do que... — Ela tossiu e limpou a garganta. — Mas ele... bem, ele não era ruim. Não foi desconfortável. Simplesmente muito rápido. Então foi isso. — Ela deu de ombros. — Provavelmente teria sido melhor se nos conhecêssemos um pouco mais.
Draco a encarou com uma expressão um tanto atordoada.
— Espere. Então você foi para casa nas férias de verão, modificou as memórias de seus pais, os enviou para a Austrália, empacotou suprimentos para viver em uma barraca por sete meses e simplesmente... transou com um trouxa?
Hermione engoliu em seco e mexeu na bainha de suas vestes.
— Eu tinha muitas coisas para fazer. Não é fácil dar às pessoas identidades totalmente novas e movê-las para a Austrália com menos de um mês de antecedência. Havia finanças e papelada, tive que fechar o consultório, cancelar todos os compromissos futuros e tudo mais. Foi eficiente, sabe. Eu o conhecia um pouco. Nós... conversamos antes. Meus pais moravam em um bairro antigo, então não havia muitas pessoas para escolher que não fossem... muito mais velhas. E... e naquele ponto eu pensei que talvez Rony e eu iríamos... eventualmente, mesmo que ainda não estivéssemos prontos. Achei que seria melhor se não fosse alguém que ele conhecesse, então, isso reduziu um pouco minhas opções.
Ela olhou para cima e descobriu que Draco parecia uma combinação de horrorizado e devastado.
— Foi realmente bom — ela se apressou a tranquilizá-lo. — Depois disso, presumi que talvez eu não fosse o tipo para ... isso e provavelmente seria melhor se fosse com alguém por quem eu tivesse sentimentos. Em retrospecto, suponho que também pode estar relacionado a ser uma Ômega, já que sexo para nós é muito... sentimental. — Ela olhou para baixo e estudou seus joelhos. — É por isso que, quando apresentei pela primeira vez, não queria que McGonagall simplesmente mandasse buscar o primeiro Alfa disponível... embora ela quisesse. Eu meio que disse a mim mesma que não faria... casual de novo.
— Essa é a coisa mais deprimente que já ouvi. Bom Deus.
Draco a puxou para seus braços e a abraçou com força. Ela enterrou o rosto em seu ombro com uma pequena risada.
— Está tudo bem, Draco, já faz um bom tempo.
— Eu não me importo. Isso é terrível.
— Bem, apenas pense, se não fosse assim, talvez eu teria concordado em ter Anthony comigo durante meu cio. — Ela estremeceu. — Ele provavelmente teria me mordido e então eu provavelmente estaria em Azkaban agora por assassinar meu companheiro de vínculo de alma.
— Eu o teria matado por você.
Ela deu uma risada duvidosa e balançou a cabeça.
— Liquefeito em um casulo parece muito apropriado. O que me lembra, como ele não terminou de se transformar? Eu continuo esperando que cheguem notícias de que ele saiu daquele casulo.
Os olhos de Draco brilharam.
— Provavelmente na primavera. Eu fiquei bastante chateado na hora.
Hermione olhou para ele boquiaberta.
— Meu Deus, Draco. Como ele vai emergir?
A boca de Draco se curvou no canto.
— Como uma borboleta enorme e colorida. Em sua maior parte. Ele ainda será humano, mas terá asas e será um pouco... peludo. Então ele se transformará novamente depois de mais ou menos um mês, voltando ao normal. Bem feito para o bastardo.
Hermione balançou a cabeça sem acreditar.
— Onde diabos você aprendeu um feitiço assim?
— A mansão tem uma biblioteca bastante grande. Passei muito tempo lendo livros durante o verão. É um feitiço sazonalmente influenciado. Se tivesse sido no início do ano, ele teria passado apenas um mês no casulo. Tenho que admitir, não me lembrava que duraria tanto quando eu o usasse, mas uma vez que o usei, bem, só o tornou melhor, eu acho.
Hermione sorriu.
— Eu não estou reclamando. Não parece que ninguém mais está.
— Não, ninguém está. Eu acho que não sou tão ruim com a coisa da nobreza — ele disse com um sorriso malicioso enquanto puxava o rosto dela para ele.
Hermione deu uma risada baixa contra seus lábios.
— Eu acho que não.
Ele a beijou.
Hermione estava em Herbologia quando um monitor do quinto ano a encontrou.
— Granger, a diretora pediu que você viesse ao escritório dela.
O coração de Hermione saltou em sua garganta. Algo acontecera com Draco? Com Harry ou Rony?
Ela agarrou sua mochila e correu de volta para o castelo até a gárgula. Ela subiu correndo as escadas e irrompeu pela porta.
— O que é...?
Harry e Rony estavam sentados à mesa de McGonagall em suas vestes cinza de auror. Hermione olhou para eles perplexa.
— Draco foi ferido? — ela engasgou.
— O Sr. Malfoy está na aula de História da Magia, Srta. Granger — disse McGonagall, erguendo uma sobrancelha. — Eu mandei te chamar porque seus amigos estão aqui.
Hermione pressionou a mão contra o coração palpitante e sentiu seus joelhos ameaçarem ceder de alívio.
— Eu pensei que alguém tinha se machucado. Como vocês dois estão aqui no meio da semana?
Harry se levantou, encolhendo os ombros.
— Iríamos vir no final de semana. Mas fomos designados para acompanhar um caso no País de Gales, então decidimos vir mais cedo.
Rony estava atrás de Harry, suspeitamente quieto. Hermione olhou para ele e o encontrou estudando-a placidamente.
— Vou deixar vocês três conversando — disse McGonagall, levantando-se de sua mesa e saindo.
Hermione olhou entre seus dois melhores amigos e cruzou os braços.
— Presumo que seja sobre a minha carta, já que nenhum de vocês a respondeu.
Harry abaixou a cabeça e enfiou as mãos nos bolsos.
— Achamos que seria melhor falar do que escrever.
Rony permaneceu misteriosamente subjugado. Hermione o estudou.
— O que aconteceu com Rony?
Harry bufou.
— Rony... não viu a notícia com bons olhos quando recebemos sua carta. Molly o fez tomar uma dose tripla de Poção Calmante antes de deixá-lo vir. — Ele coçou a cabeça e endireitou os óculos. — Eu não acho que alguém deveria tomar tanto.
— Malfoy é um idiota — Rony disse com uma voz imparcial e alegre. Ele soava assustadoramente como Arthur Weasley. — Um bastardo absoluto. Qualquer Alfa seria melhor. Mione, o que você está pensando?
— Isso é realmente muito assustador — disse Hermione, olhando para ele.
— Eu sei — disse Harry com uma careta. — Eu tive que aparatá-lo aqui.
Hermione respirou fundo e desviou o olhar de seu amigo, que aparentemente precisava ser sedado até os olhos para visitá-la sem perder o controle.
— Então, nós estamos fazendo isso? Tendo uma briga sobre se eu posso ou não namorar Draco? — Sua voz estava afiada e ela olhou entre Harry e Rony.
— Não. Não necessariamente. — Harry ergueu as mãos e as manteve abertas. Seu tom era calmo.
Hermione arqueou uma sobrancelha.
— Harry... se você tentar usar táticas de negociação de aurores para me acalmar, você será enfeitiçado.
Harry baixou as mãos, parecendo estranho. Ele passou a mão pelo cabelo.
— Certo, desculpe-me. Hum, então você realmente está namorando Malfoy. Isso é uma coisa que você está realmente fazendo?
— Como você pode namorar alguém que te observou sendo torturada? — Rony disse em um tom calmo e pensativo que desmentia a pergunta.
Hermione se contraiu e desviou o olhar.
— Estou tentando superar isso, Rony.
Ela respirou fundo e colocou as mãos nos quadris enquanto erguia o queixo.
— Mas sim, eu estou. Estou namorando Draco. Estamos nos vendo desde antes daquele dia em que nos vimos no último fim de semana de Hogsmeade. Como era recente na época, não mencionei porque não queria lidar com uma cena de vocês dois.
— Você tem certeza disso? — Os olhos de Harry estavam preocupados enquanto a estudava. — Ele é... ele simplesmente... não é alguém em quem eu te aconselharia confiar, mesmo em um sentido geral.
Hermione se irritou.
— Draco não fez nada este ano para me fazer desconfiar dele. Ele tem sido extremamente cuidadoso em se certificar de que está dentro dos parâmetros com os quais estou confortável.
— Este ano, tipo, nos últimos três meses? Isso é o suficiente para limpar os últimos sete anos para você? Depois da Sala Precisa? Da Mansão Malfoy? Isso não foi nem um ano atrás! Dumbledore? A Brigada Inquisitorial? Eu estava disposto a testemunhar por ele, mas isso é diferente. Trata-se de você, Hermione. Você é uma das pessoas mais importantes do mundo para mim. — Harry a segurou pelos ombros enquanto a olhava fixamente. — Ele pode estar te usando. A família dele está em desgraça. Eu sei que essa coisa de Ômega foi repentina para você. Eu não quero que alguém como Malfoy saia impune e se aproveite de você por causa disso.
Hermione se afastou com um puxão e sentiu como se houvesse um buraco em seu estômago.
— Bem, se ele está se aproveitando de mim, então está fazendo um péssimo trabalho. Ele não me disse que estava sendo atacado e assediado pelos outros alunos até que eu os peguei fazendo isso. Fui eu quem o chamou para sair. Então, a menos que ele seja muito mais manipulador do que qualquer um sabe, duvido que ele tenha planejado tudo isso de alguma forma.
— Então, ele sente muito? Ele se desculpou por tudo que fez com você?
Harry a estudava cuidadosamente. Hermione deu um breve aceno de cabeça.
— Ele se desculpou. Ele já se desculpou repetidas vezes. Ele continua se desculpando, como se não pudesse parar. Eu aceitei seu pedido de desculpas. — Hermione respirou fundo. — Eu gosto dele, Harry. Eu gosto muito dele.
Uma expressão de dor se tornou visível no rosto de Rony. Ele abriu a boca e fechou, balançando a cabeça como se estivesse tentando limpá-la antes de desviar o olhar, esfregando os olhos.
Hermione deu um suspiro de frustração e balançou a cabeça bruscamente.
— Vocês não podem ficar ofendidos com isso. Vocês dois estavam tentando me convencer a fazer uma ligação de alma com Charlie no mês passado. Vocês não podem ficar chateados comigo por tentar estar com alguém com quem eu realmente quero estar.
Harry deu um passo em direção a ela novamente.
— Mas Charlie é seguro. Mesmo que ele não seja sua primeira escolha. Você sabe que ele não vai te machucar ou tentar te usar.
Hermione respirou fundo e olhou para o chão.
— Vínculo de alma não é um casamento por conveniência — disse ela. — É... extremamente pessoal. É extremamente íntimo. Não é apenas um vínculo matrimonial, é um vínculo de magia, da alma. Você está literalmente misturando suas almas.
— É por isso que Malfoy parece uma pessoa realmente questionável para se considerar fazer isso.
Harry a tocou hesitantemente no ombro, como se esperasse ser mordido ou enfeitiçado para o outro lado da sala. Hermione revirou os olhos.
— Eu não estou vinculando minha alma a ele agora. Eu estou namorando com ele. Estou começando a conhecê-lo. Não estou esquecendo os últimos sete anos. Não sei como posso, já que toda vez que me viro, alguém se aproxima e me lembra disso. Não vou tentar forçar isso a funcionar.
— E se não funcionar?
Uma sensação de encolhimento e afundamento brotou em seu peito. Sua boca se contraiu quando ela olhou para Harry e depois para Rony antes de dar um pequeno encolher de ombros aparentemente descuidado.
— Então iremos terminar.
Sua garganta estava apertada quando ela disse isso. Ela esfregou os pulsos e desviou o olhar.
— O que acontece depois? — Rony perguntou. Hermione olhou para cima e descobriu que seus olhos pareciam estar um pouco mais claros.
Hermione mexeu os pés.
— Vou com o plano B. Não é como se Draco fosse a única opção que estou considerando. Eu tenho planos alternativos. Eu simplesmente quero tentar isso. Quero saber se é uma opção.
— Você está pensando em outra pessoa, então? — Rony parecia esperançoso.
A boca de Hermione se torceu.
— Não. Eu realmente não acho que quero fazer isso de novo. É demais. Eu realmente não acho que devo buscar outro relacionamento este ano.
— Então qual é o plano B?
Hermione encolheu os ombros.
— Opções médicas. Estou atualmente em processo de entrevista com St. Mungus para fazer uma cirurgia... se eu remover os aspectos físicos da apresentação, isso resolverá a maioria dos problemas. Mas nem sei se serei selecionada. Pode ser que não seja. Nesse caso, não terei outra escolha a não ser tentar fazer funcionar com alguém.
— Sério, Mione? A cirurgia é sua escolha depois de Malfoy?
Hermione sentiu seu rosto ficar quente, mas ela olhou feio.
— Eu já disse a você... eu realmente... gosto dele.
Harry olhou para ela por vários segundos.
— Parece muito mais do que gostar dele, se é assim que você tem suas opções organizadas. Há uma razão, não é, para que as opções médicas não sejam tratadas como a sua primeira escolha? Molly nunca considerou isso.
Hermione baixou os olhos.
— Existem potenciais efeitos colaterais para uma ovariectomia, mas estou menos preocupada com eles do que em ficar presa em um vínculo de alma que não quero. — Ela ergueu a cabeça. — Estou tentando não investir demais em fazer funcionar com Draco, o que vocês devem gostar de ouvir. Simplesmente... ele faz com que eu me sinta que não estou sozinha nisso. Não que todos vocês não tenham me apoiado, mas há muito nisso que é difícil de explicar para qualquer outra pessoa.
— E quanto a Neville? Não existem alguns lufa-lufas e corvinais também? Ou mesmo aquele outro sonserino, Nott. Não valem a pena considerar pelo menos?
— Neville não é uma opção. E Theo... ele é muito legal, mas é amigo de Draco. Um amigo muito próximo. Seria um tanto estranho tentar isso com ele. Eu quero minha autonomia. Não estou interessada em entrar em um relacionamento vitalício envolvendo minha alma com alguém que não tenho certeza. É extremamente... é... bem, há uma razão pela qual Molly não queria. — Ela respirou fundo. — Estou namorando Draco. Não vou namorar outra pessoa simplesmente porque vocês gostam mais dela. — Ela deu um suspiro de frustração. Seu peito parecia ter faixas de aço em torno dele, impedindo-a de respirar corretamente. — Este é o meu futuro, não o de vocês. Eu apreciaria se vocês dois me apoiassem, mas mesmo se vocês não me apoiarem, eu ainda vou namorar Draco.
Harry suspirou e olhou para Rony.
— Bem, se você tem certeza. Não estamos aqui para gritar nem nada, só estamos tentando entender. Estaremos aqui para você, faça o que fizer. Certo, Rony?
Rony engoliu em seco e balançou a cabeça lentamente.
— Faça você o que fizer, Mione. — Ele ofereceu um sorriso pálido.
Hermione olhou para eles por um minuto e então começou a chorar.
— Oh, Deus ! — ela lamentou em meio aos soluços. — Eu sempre choro agora! Esses hormônios estúpidos ainda estão se reequilibrando e...
— Está tudo bem, você sempre chorou antes também — disse Harry com um sorriso irônico enquanto a puxava para um abraço.
— Eu não chorava — disse Hermione, tentando banir impiedosamente as lágrimas em cascata pelo rosto e falhando enquanto elas continuavam chegando. — Eu simplesmente estava... muito preocupada... quando vocês não responderam. E depois...
— Bem, essas definitivamente são mais lágrimas do que o normal. — Harry deu um tapinha no ombro dela. — Desculpe. Não sabíamos o que dizer em uma carta.
Os braços esguios de Rony envolveram Hermione e Harry em um abraço apertado e ela se agarrou a ambos por vários minutos enquanto chorava. Finalmente seus soluços diminuíram para fungadas e ela se livrou dos braços de Harry e Rony.
As vestes de trainee deles tinham manchas de lágrima perceptíveis.
— Desculpe-me — ela murmurou enquanto balançava a varinha e bania as lágrimas de suas roupas.
— Não se preocupe. Mamãe nos avisou da última vez que provavelmente haveria um monte de lágrimas. — A voz de Rony estava um pouco menos estranhamente calma, mas ele ainda parecia notavelmente distante.
— Eu não chorei da última vez — Hermione disse e lhe lançou um olhar penetrante enquanto enxugava o rosto.
— Bem, você compensou dessa vez — Rony disse com um pequeno sorriso enquanto torcia a manga de sua jaqueta e revelava uma mancha molhada que ela havia perdido.
Hermione tentou bani-las com sua varinha e nada aconteceu. Ela fez uma careta e a sacudiu.
— Vamos lá, sua coisa horrível.
Ela sacudiu a varinha novamente e a manga de Rony secou.
— Certo. Então... eu não gritei, então isso significa que eu sou aquele que pode ameaçar o doninha. Onde ele está?
Os olhos de Hermione se arregalaram.
— Espere. O quê?
Harry passou os dedos pelo cabelo e desviou o olhar.
— Eu disse a Rony que ele poderia ameaçar Malfoy se ele prometesse não gritar com você.
Hermione revirou os olhos.
— Ninguém irá ameaçar Draco.
— Desculpe-me. Os deveres dos aurores exigem isso. Sem escolha realmente — Rony disse, endireitando-se.
— Nós não usamos vestes de trabalho para vir aqui somente para nos divertir, sabe — Harry disse com uma expressão de seriedade fingida.
— Estou bem ciente de que você as usou porque Ginny gosta delas.
Harry corou escarlate.
— Bem, tem isso também. Mas também estou aqui para apoiar Rony. A intimidação de auror faz parte do treinamento.
Hermione suspirou.
— As coisas estão realmente um pouco tensas aqui. Se os alunos virem vocês ameaçando Draco, eles vão interpretar como um sinal de que também podem fazer isso. Quase todo mundo ficou surpreso demais para fazer qualquer coisa, mas se vocês fizerem uma cena, podem piorar as coisas. E... — Ela os olhou significativamente. — Se ele for atacado, serei eu quem terá que defendê-lo.
Rony deu um suspiro desapontado.
— Bem. McGonagall disse que poderíamos almoçar aqui. Estou faminto. Savage nos fez voar em uma pista de obstáculos por três horas seguidas esta manhã.
Enquanto desciam as escadas do escritório da diretora, Hermione estremeceu e ofereceu uma oração de agradecimento por ter decidido não ser auror.
Draco estava parado no corredor quando chegaram ao final da escada.
Hermione sentiu Harry e Rony se enrijecerem ao seu lado quando o viram.
A expressão de Draco era uma máscara enquanto ele os encarava.
— Potter. Weasley.
— Malfoy — disse Harry com uma voz firme. — Rony e eu acabamos de parar para checar Hermione.
O canto da boca de Draco se contraiu.
— Veio salvá-la do malvado sonserino, então? Está aqui para despachá-la para as Reservas de Dragão?
Hermione o estudou. Sua expressão estava cuidadosamente fechada e seus olhos estavam resignados.
— Eu gostaria — Rony murmurou baixinho.
Hermione lhe deu uma cotovelada nas costelas antes de se aproximar de Draco.
— Eu não estou indo a lugar nenhum.
Seus olhos brilharam de alívio e ela deslizou a mão na dele.
— Nosso projeto de Aritmancia é para a próxima semana — ela disse com uma voz leve. — Você não pode realmente esperar que eu deixasse alguém me arrastar do castelo depois de todo o nosso trabalho nisso. Harry e Rony vieram apenas para uma visita para ver como eu estou.
— Hermione é nossa melhor amiga, Malfoy. — Harry e Rony estavam ferozes.
— Sério?— A fala arrastada de Draco apareceu com força total. — De alguma forma, eu perdi esse detalhe.
Hermione cutucou Draco com força nas costelas e ele se encolheu.
— Quer dizer, tenho certeza que se eu machucá-la de alguma forma, vocês dois estarão na fila para torturar o que quer que reste de mim quando ela terminar sua vez — Draco disse com um leve sorriso.
Harry deu um aceno rápido.
— Você pode contar com isso.
— Que bom que agora esclarecemos o óbvio — Draco disse, revirando os olhos.
Hermione balançou a cabeça sem acreditar, antes que a inspiração de repente viesse.
— Harry e Rony vão almoçar aqui antes de partirem para uma missão de treinamento. Por que não comem todos juntos? — ela disse com uma voz alegre.
Todos os três garotos engasgaram audivelmente.
— Claro, Hermione — Draco disse finalmente. As palavras soaram muito forçadas. — Isso parece fantástico.
— Sim. Isso é exatamente o que tínhamos em mente — disse Harry, estampando um sorriso falso no rosto.
Rony ficou em silêncio até que Hermione olhou para ele.
— Eu mudei de ideia sobre o almoço. Deveríamos ir para Gales agora, Harry. Não queremos chegar atrasados ao País de Gales. Não estou nem com fome. Todo aquele vôo, você sabe. Estou cheio de... oxigênio. — Seu pânico era perceptível mesmo através da sedação.
Hermione deslizou o braço na curva do cotovelo de Rony e o puxou.
— Não. Não. Deveríamos todos almoçar juntos. Será uma boa maneira de destacar a unidade entre as casas. Tenho certeza de que os membros da AD também vão querer participar. Será bom para a escola se eles nos virem comendo juntos. Isso vai destacar a importância de seguir em frente.
Ela marchou em direção ao Salão Principal, arrastando Rony e Draco junto com ela, enquanto Harry os seguia com a expressão de um mártir.
Ela empurrou as portas com o pé e puxou os meninos firmemente com ela enquanto examinava as mesas para ver qual tinha mais espaço.
Era difícil dizer de quem era a expressão mais horrorizada quando ela foi direto para a mesa da Sonserina e se sentou à mesa ao lado de Theo e Pansy.
— Você se importa se nos juntarmos a vocês? — Hermione perguntou no tom alto e claro que ela geralmente reservava para responder perguntas em aula. — Harry e Rony estão aqui visitando e achamos que seria bom almoçar como um grupo. Harry, Rony, este é Theo Nott. Ele é um velho amigo de Draco. Vocês dois conhecem Pansy. Ela e eu somos parceiras nas patrulhas de monitores.
Hermione puxou Draco e Rony para o banco de forma que eles a flanqueassem de cada lado.
— Parkinson, Nott — Harry murmurou enquanto se sentava ao lado de Rony.
Rony não disse nada. Ele pegou um garfo e começou a empilhar seu prato com comida, ignorando onde estava sentado.
— Potter. Weasley. — Theo disse, seus olhos arregalados com diversão. — Bem-vindos à mesa da Sonserina. Não use o sal, nós o envenenamos pela força do hábito.
Rony puxou a mão do saleiro que estava procurando.
Hermione estava observando as portas do Salão Principal cuidadosamente. Ginny e Luna entraram e Hermione levantou o braço acima da cabeça e acenou para elas. A expressão de Ginny quando seu olhar pousou na mesa da Sonserina era uma mistura de euforia e desânimo.
— Granger, você está tentando arruinar nossa reputação? — Pansy perguntou com uma expressão de desgosto quando Ginny e Luna se sentaram ao lado de Harry.
Hermione bufou.
— Sim, Pansy. Isso é exatamente o que estou fazendo. Cercar você de pessoas premiadas com a Ordem de Merlin para arruinar sua reputação. Você nunca vai se recuperar.
Pansy fungou e olhou para seu almoço. Ela parecia estar fatiando seu feijão verde em triângulos minúsculos e precisos.
— Então, Harry, Rony, como está o treinamento? — Hermione perguntou quando ficou claro que ninguém iria contribuir com uma conversa.
Neville se aproximou, carregando seu prato da Grifinória e se sentou ao lado de Pansy.
— Está bom. Finalmente ficando interessante. Os primeiros dois meses não foram nada além de protocolos e regulamentos. Mas encerramos tudo isso há duas semanas e agora estamos começando um treinamento básico de campo. Estamos principalmente voando agora. Registramos mais de oito horas de vôo ontem. Vôo ativo. É muito divertido.
Hermione sentiu Draco se mexer e olhar para baixo. Ela deslizou a mão por baixo da mesa e entrelaçou os dedos aos dele. Ele deu um pequeno aperto e girou o garfo no prato.
Ginny e Neville fizeram mais perguntas sobre o treinamento de auror e então a conversa mudou para quadribol.
Hermione apenas ouviu apenas parcialmente enquanto passava os dedos pensativamente pela mão de Draco.
— Como vai a escola para você, Hermione?
Hermione olhou para Harry.
— Está indo bem. Draco e eu estamos fazendo um projeto para Aritmancia e DCAT. Aprovamos nossa equação com uma margem de precisão tão boa que vamos realizar a contra-maldição na aula da próxima semana. O trabalho de feitiço acabou sendo tão complexo que também temos colaborado com Flitwick nisso. Estaremos acumulando um pouco de crédito extra, o que é uma boa surpresa. Acho que mencionei em minha carta, o amuleto é amaldiçoado com a maldição Gemino. É muito interessante de analisar depois de experimentá-la.
— Ainda tenho pesadelos com aquele cofre do banco — disse Rony. — E aquele dragão sangrento que montamos.
— Espere, o quê? — Draco disse, virando-se para olhar para ela.
Hermione abaixou a cabeça.
— Eu disse que roubei um banco, não disse?
— Eu tive uma concussão. Eu pensei que tinha alucinado nessa parte. Vocês três roubaram um banco?
Hermione deu de ombros sem jeito e evitou os olhares surpresos de Draco, Pansy e Theo.
— Precisávamos de algo do cofre Lestrange para derrotar Voldemort. Então eu me fiz passar por Bellatrix e invadimos. Era um cofre de alta segurança; havia uma maldição Flagrante e uma maldição Gemino no cofre e... e um dragão. Os duendes estão um pouco irritados com isso, então tentamos não falar muito sobre o assunto.
— Irritados? — repetiu Pansy, seus olhos redondos e incrédulos. — Os duendes estão um pouco irritados porque você conseguiu roubar Gringotes. Ninguém rouba os duendes.
— É por isso que não falamos muito sobre isso — disse Hermione, olhando para seu colo.
— Só para constar, mencionar casualmente um assalto a banco durante uma conversa na hora do almoço é um exemplo perfeito do porquê você é assustadora — Draco murmurou em seu ouvido.