(Ponto de vista da Violet)
Quando chegamos naquela parte da caverna, vimos mais estalagmites e estalactites na parte de cima dela, e ao olhar pra baixo, eu vi Rafa e um Duller. Rafa estava se debatendo para se livrar dos braços do Duller, mas sem sucesso.
ㅡMe...solta, porra!ㅡEle gritou, tentando afastar o braço dele do seu corpo.
ㅡRafa!ㅡEu logo fui correndo até ele. Eu dei um soco no braço, mas não adiantava.ㅡDroga...
ㅡViolet, tenta atirar no rosto do Duller!ㅡThammylly gritou, atrás de mim.
Logo, eu peguei uma das pistolas e mirei no rosto do Duller, atirando logo em seguida. Ele recuou, logo soltando Rafa. Porém, mais uma entidade apareceu.
ㅡDroga! Rafa, fique atrás de mim!ㅡEu logo gritei, me colocando na frente dele.
A entidade que veio na nossa direção era um Hound, eu reconheci pelos rosnados. E também: Meus olhos logo se adaptaram à escuridão, e eu consegui ver onde aquele Hound estava. Saquei minha segunda pistola e logo atirei com as duas, acertando o Hound e logo o matando.
ㅡVocê se machucou?ㅡEu perguntei, me virando para Rafa e o segurando pelos ombros.
ㅡN-não...Eu tô bem.ㅡRafa respondeu, com a voz trêmula.
ㅡAinda bem. Agora vem, precisamos achar os outros.
Ajudei Rafa a se levantar e logo começamos a andar de volta para o local onde Sun, Vênus, Mark e Bianca estavam.
De repente, Rafa simplesmente caiu no chão repentinamente. Ele tinha caído de barriga pra baixo, e quando eu fui ajudá-lo a se levantar, eu percebi que sua blusa estava manchada atrás.
ㅡRafa, sua blusa tá meio suja atrás...ㅡEu avisei, pegando a mão dele e o levantando.
ㅡAh, droga...ㅡEle comentou, com um sorriso. De repente, um pouco de sangue saiu da boca dele.ㅡAcho que, enquanto você lutava com o Hound, eu acabei sendo pego. É...engraçado, não?
ㅡR-Rafa, não me diga que essa mancha é...
ㅡEu realmente sinto muito, Violet.
Então eu logo me toquei. Aquela mancha não era uma simples mancha. Era sangue.
ㅡO-o que? Isso é...ㅡThammylly perguntou, surpresa.
ㅡR-Rafa, não...Todos estão te procurando, talvez essa mancha nem seja sangue! Pode ser apenas...água!
ㅡNão adianta mais, Violet. Já era pra mim.
ㅡNão...não...eu me recuso a acreditar nisso!ㅡEu gritei, já com lágrimas nos olhos.ㅡM-mas você estava normal! Você ficou atrás de mim, e eu não escutei nenhum ruído vindo de trás enquanto lutava! Então...como?
ㅡNa realidade, foi aquele Duller.
ㅡO-o que?
ㅡEle cravou aquela unha gigante nas minhas costas, mas eu não imaginava que ele teria deixado uma ferida tão grave...acho que isso acertou alguns dos meus órgãos.
ㅡIsso é...uma brincadeira, certo? Diz que isso é uma brincadeira, por favor!ㅡPorém, ele continuou com aquele sorriso ladino no rosto, em silêncio.ㅡPare de brincar comigo, Rafael! Você...
Então ele se sentou no chão.
ㅡOlha...acho que eu não teria como brincar com isso.ㅡEntão ele levantou a blusa, e então eu pude ver que ele não estava brincando. Tinha uma ferida enorme perto do coração dele. Estava sangrando, e mesmo assim ele continuava com aquele sorriso estúpido em seu rosto. Meus olhos se arregalaram, e então eu o abracei de maneira forte.
ㅡP-por favor, não morra! Todos estão preocupados com você! Se você morrer agora, somente eu e a Thammylly teremos a chance de nos despedir de você!ㅡEu implorava, sem conseguir parar de chorar. Então, eu afundei a cabeça no ombro dele, repetindo diversas vezes:ㅡPor favor, não vá embora...
ㅡViolet, escuta.ㅡRafa colocou as duas mãos nas minhas costas.ㅡNão tem mais jeito, a Sun, Vênus, Bianca e Mark não irão conseguir chegar a tempo. Quando eles chegarem aqui, já vai estar tudo acabado. Mas, obrigado por tudo que você fez por mim. Sério, eu sou realmente grato por ter tido a chance de ser seu amigo.
ㅡE-eu também sou grata...por ter sido sua amiga. Me desculpe por algumas coisas que eu fiz, por favor.
ㅡNão, tudo bem, não esquente sua cabeça com isso.ㅡA voz dele estava calma, e aquilo só piorava o meu estado de choro naquele momento. Logo, ele me soltou e eu o coloquei em meu colo.ㅡEi...você pode fazer um favor pra mim?
ㅡDo que você precisa?
ㅡVocê poderia dizer uma coisa pros outros?
ㅡBom...sim. O que você quer que eu diga?
ㅡDiga a eles que eu queria ter ficado mais um tempo, porém que eu sou grato por tudo que eles fizeram por mim. Ah, e também diga ao Mark e a Bianca que eles podem se sentir à vontade pra descartar minha arma nesse nível.
ㅡRafa...O-ok, eu vou dizer isso à eles.
ㅡObrigado...Violet. Eu realmente admiro muito você. Por favor, não gaste seu tempo chorando por mim, você precisa seguir em frente, todo mundo precisa. Será um pouco difícil, mas lembre-se de que eu sempre vou estar com você.
Eu não conseguia fazer nada além de chorar e soluçar. E então, Rafa não disse mais nada, e quando eu olhei, ele já não demonstrava mais sinais de vida. Seu coração havia parado e seu rosto não mostrava mais que ele estava ali.
ㅡN-não...Por favor, não! Não vá embora!ㅡEu comecei a sacudir o corpo dele, e então senti uma mão em meu ombro, e quando olhei, era Thammylly.
ㅡDesculpe interromper, mas...ele já se foi.ㅡEla disse, e aquilo simplesmente piorou as coisas. Se eu estava chorando, agora eu sentia um emaranhado de sentimentos em meu peito. Era dolorido, não só os sentimentos, mas a sensação de perder alguém importante. Era como se tivessem pegado um pedaço de você e então o arrancaram de maneira brutal, deixando você com um vazio enorme, tão grande como um abismo.
Não consegui fazer nada a não ser abracar Thammylly de maneira forte. Eu não conseguia aceitar aquilo, Rafa simplesmente...tinha ido, como uma pena que foi levada pelo vento. Por que? Por que tinha que ser ele? Ele não merecia isso, ninguém merecia. Mas mesmo assim ele se foi, e nada que eu fizesse o traria de volta. Nada.
ㅡT-Thammylly...por que? Por que ele tinha que ir embora?ㅡEu perguntei, em meio às lágrimas.ㅡMe diz que eu tô sonhando, por favor...isso não pode ser real.
ㅡViolet...
ㅡEu é que tinha que ir, não ele! Mas mesmo assim o destino foi cruel o bastante para levá-lo embora, e eu odeio isso! Isso é injusto pra caralho!ㅡEntão afundei minha cabeça no ombro dela, tentando controlar minha respiração.ㅡM-me desculpe...eu não consegui me controlar. É muito difícil pra mim pensar que agora não somos mais 7, mas sim 6.
ㅡNão, tudo bem, eu entendo esse sentimento. Não se preocupe com isso, coloque tudo que sente pra fora.ㅡEla sussurrou, retribuindo o abraço.ㅡSabe...eu meio que já vivenciei isso, uma vez.
ㅡEspera, sério?
ㅡSim...posso contar como foi?
Pensei um pouco. Será que aquilo tinha problema? Bom, o Rafa tinha acabado de morrer, e eu estava desviando desse assunto...mas eu não conseguia ficar pensando muito nisso, e se aquilo continuasse, eu certamente teria um colapso.
ㅡPode. Sinta-se a vontade.ㅡEu respondi, em meio aos soluços.
ㅡEntão...quando eu era criança, eu sempre fui meio diferente das outras crianças, pois eu nunca me encaixei em nenhum grupo, e então eu acabei ficando conhecida como ''a estranha'', já que eu não sou parecida com meus pais biológicos.ㅡEla começou a contar, e logo de cara eu já arregalei meus olhos.
ㅡO-o que?
ㅡE bom, depois da morte da minha irmã Ana, eu e a Susan, minha irmã mais nova, nunca mais fomos do mesmo jeito. Eu lembro como se fosse hoje, esse dia fatídico. Ainda sinto as lágrimas quentes descendo dos meus olhos. Elas queimavam como fogo, e eu sabia que aquela seria a última vez que iria me sentir viva, já que ela fazia parte de mim.
Eu não conseguia esboçar nenhuma reação. Mas não é como se eu não estivesse triste com aquilo. Então Thammylly também havia perdido alguém...Bom, acho que, em algum momento de nossas vidas, a gente acaba perdendo alguém. E eu não gosto deles, pois é sempre de uma maneira repentina. Bom, pelo menos foi o que aconteceu com o Rafa.
ㅡDepois desse dia tudo desandou. Meus pais trabalhavam para o governo, e nossa casa vivia cheia de seguranças que ficavam vigiando 24 horas por dia. E sabe de uma coisa? Meus pais nunca foram presentes na minha vida, eu sempre fiz tudo sozinha. Apesar de ter pessoas a minha disponibilidade o tempo todo, a Susan tinha um problema grave de saúde. Eu amava cuidar dela e não desgrudava dela nem um segundo, mas infelizmente o problema se alastrou e perdeu a mobilidade das pernas.
ㅡComo a Susan era?
ㅡEla era incrivelmente doce. Apesar da doença, ela sempre se manteve otimista. É claro, houve alguns momentos em que ficou complicado se manter alegre, mas ela sempre tentava me ajudar, como se ela quisesse retribuir o favor que eu estava fazendo por ela.
ㅡPoxa...isso é realmente muito bondoso da parte dela.
Thammylly soltou uma risada baixa.
ㅡMas um dia, enquanto eu e ela conversávamos, ela começou a tossir um pouco. Porém, ela disse que não era nada de mais, mas aquilo estava me incomodando, pois estava se agravando. De repente, a boca dela estava sangrando, e então eu sai correndo, procurando alguém para ajudar ela. Depois disso, eu só lembro de ter caído no chão de forma repentina e ter sentido minha cabeça doer, já que ela tinha se chocado contra o chão. E foi aí que eu vim parar aqui.
ㅡCaramba, eu sinto muito! Muito mesmo, de verdade.ㅡAbracei Thammylly um pouco mais forte.ㅡEu irei tirar você daqui, eu prometo do fundo do meu coração. Não importa quantas entidades eu precisar enfrentar ou por quantos níveis eu tiver que passar, eu irei proteger você e te ajudar a sair desse lugar horrendo.
ㅡObrigada, Violet. Isso de verdade significa muito pra mim. Mas...você acha que eu irei conseguir sair daqui a tempo de salvá-la?
ㅡSim. Você é alguém com potencial, e certamente irá conseguir salvar sua irmã.
Thammylly então se separou do abraço, pegou na minha mão e sorriu de maneira calorosa.
ㅡMuitíssimo obrigada, Violet. Mas, como iremos contar sobre...você sabe o que, para todos os outros?
Eu arregalei os olhos, e então olhei pra baixo. Respirei fundo e olhei nos olhos de Thammylly.
ㅡTeremos que dar um jeito.ㅡEntão fui até o corpo sem vida de Rafa e peguei as correntes e pulseiras que ele sempre usava. Eu não sei o porquê disso, mas eu queria carregar uma parte dele comigo. Coloquei uma corrente no pescoço e guardei as outras no bolso do meu short. Logo, fiz uma breve oração para Rafa e me aproximei de Thammylly.ㅡPronto, podemos ir.
Começamos a andar, sentindo a tensão que havia ficado. Seria difícil seguir em frente a partir dali, mas teríamos que dar nosso melhor para não fraquejar e acabar caindo nesse processo.