- Tudo bem mamãe, eu já entendi - Respondi enquanto amarrava meu tênis - Hoje eu tenho plantão, tudo bem ?
- Minha filha, você está comendo? Dormindo direito ? - Perguntou preocupada, e eu podia ter certeza que ela estava roendo o canto do dedo, assim como eu fazia quando estava nervosa.
- Mamãe, eu sou médica, ou faço um, ou faço outro - Sorri colocando o casaco - Tenho que ir, está bem ? Depois nos falamos, beijos.
- Beijos, filha.
Desliguei antes que minha mãe resolvesse me alugar mais. Agora que estávamos tão longe uma da outra, o contato por celular era inevitável, mesmo minha mãe sendo maluca as vezes, eu a amava mais do que tudo na minha vida, e me tornei médica pra retribuir tudo o que ela já fez por mim.
Tranquei a porta da frente do apartamento, chamei o elevador e esperei até que ele me deixasse no térreo.
- Se eu ficasse mais um pouco aqui eu tenho certeza que criaria raízes - Will disse.
- Bom dia pra você também - Respondi colocando o cinto.
- Aqui, pra você - Me entregou um copo do Starbucks.
- Obrigada Doutor - Murmurei - Desculpe a demora, estava falando com a minha mãe. - Tomei um gole do meu café enquanto via as ruas claras de Chicago.
- Vocês tem se falado bastante desde que chegou de viagem ? - Perguntou parando no semáforo.
- Na medida do possível - Dei ombros - Não é fácil por conta dos plantões. - Suspirei - E sua família ? Eu conheci seu irmão essa semana - Olhei para Will - Ele parece mais bravo que você.
- Conheceu Jay ? Por que não disse nada ? - Will me encarou surpreso - Bem, minha mãe faleceu logo depois de eu ir para Nova Iorque - Disse - Não tenho lá uma boa relação com o meu pai, ele é bem teimoso - Deu ombros arrumando o cabelo ruivo - Eu e Jay ficamos um tempo sem nos falarmos, ele foi pro Afeganistão, eu segui carreira como cirurgião plástico, as coisas estão voltando aos eixos agora. - Disse passando marcha, voltando a dirigir.
- Conheci - Afirmei - Antônio Dawson levou um tiro, fui responsável por ele. Seu irmão e ele são colegas da Inteligência, bom, pelo menos foi o que ele me disse.
- Antônio está melhor ?
- Aparentemente sim, a bala não atingiu nenhuma artéria nem nada, ele deu bastante sorte. Você o conhece ?
- Hm, sim. Ano passado um conhecido do Sargento Voight levou bala, fiz a cirurgia dele na mesa da cozinha da família - Disse me olhando rápido enquanto parava o carro no estacionamento do Med. - Vamos ?
- Vamos lá - Sorri tirando o cinto.
Não questionei. Vi o Sargento uma única vez, aqui no corredor do hospital mesmo, depois que ele entrou no quarto de Antônio, Jay chegou e ficamos conversando.
Pelo o que Detetive me contou, o sargento não costumava dar muitas satisfações do que fazia ou não. Era tudo do jeito que ele achava melhor. Jay disse que quase sempre era pra proteger a Inteligência de algo acontecer.
Deixei meu casaco e bolsa no armário, coloquei o estetoscópio no pescoço, a luz e caneta do bolso bordado, e estava pronta pra mais um plantão.
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- Tudo bem Jake, consegue mover o os dedos como uma tesoura ? - Perguntei demonstrando o movimento.
Jake era uma criança de 9 anos, chegou no P.S pois tinha caído na aula de educação física, a babá o trouxe, e ela parecia desesperada.
- Hmm - Tentou movimentar a mão - Aí!
- Tudo bem querido, sem problemas - Sorri - Eu quero um raio-x pra confirmar se está fraturado, depois o leve para o ortopedista, ok? - Perguntei para o enfermeiro que assentiu prontamente.
- Doutora, ele vai ficar bem ? - A babá perguntou.
- Claro, normalmente nessa idade as crianças costumam ser bem agitada - Rimos.
- Ah, obrigada - Sorriu e se segurou na maca. - Opa.
- Ei, tudo bem ? - Perguntei a segurando - Qual o seu nome ?
- Loren.
- Ok, Loren, deixa eu te ajudar a sentar - Tinha uma cadeira no quarto - O que está sentindo ?
- Só uma tontura, e um pouco de dor de cabeça. - Colocou a mão nas temporas.
- Se importa de fazer alguns exames ?
- Ah, eu não quero incomodar.
- Não é incômodo nenhum - Sorri - Vou pedir para a enfermeira vir colher seu sangue, está bem ?
- Tá bem - Sorriu encostando na poltrona.
Tirei as luvas passando um pouco de álcool em gel.
- Quero um hemograma completo para essa moça. - Disse a Meggie.
- Tudo bem Doutora - Me olhou puxando seu telefone.
- Vou subir para ver o Dawson. - Disse seguindo para o elevador.
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- Como está o meu paciente mais aclamado ? - Disse entrando no quarto de Antônio.
- Uh, cansado - Disse encostando na maca - E com sede.
- Aqui, deixa eu te ajudar - Coloquei o canudo na sua boca, esperando ele tomar o líquido.
- Obrigada Doutora. - Sorriu leve.
- Posso ? - Perguntei olhando para a cadeira de rodinhas ali.
- Claro, por favor.
- Devo dizer, acho que esse é o quarto mais movimentado do Med.
- Por que diz isso Doutora ? - Perguntou
- As enfermeiras me contaram que você teve muitas visitas - Sorri pra ele - Não sabia que você era Detetive.
- Sou sim, 21 distrito.
- Pois é, Detetive Halstead me contou - Falei - Seu Sargento parecia preocupado também.
- Ele é como um pai - Suspirou - Falando nele. - Apontou com a cabeça para a porta de vidro.
- Doutora - Acenou com a cabeça - Esse é o Detetive Olinsky - Apontou pra um homem com um bigode engraçado.
- Prazer - Estendi a mão.
- Todo meu, Doutora - Retribuiu o aperto.
- Como meu Detetive está ? - O Sargento perguntou.
- Muito bem, logo vai poder receber alta - Sorri, revesando o olhar entre Antônio e Hank. - Mas recomendo evitar chumbo, faz mal a saúde - E o quarto foi preenchido por risadas. - Vou deixar vocês a vontade - Levantei a caminho da porta de vidro.
- Doutora ? - o Sargento me chamou de canto.
- Sim, sargento?
- Hm, Hank, pode me chamar de Hank - Balançou a cabeça - Quando Antônio vai receber alta ? - Perguntou, colocando as mãos no bolso da calça jeans escura.
- Bem, espere um pouco. - Levantei a mão a caminho do balcão com uma enfermeira de coque. - Está com a ficha do paciente Antônio Dawson?
- Aqui Doutora - Me entregou a prancheta transparente.
Os exames estavam normais, na medida do possível
- Bem, vou pedir para uma enfermeira vir aqui, só pra fazer um curativo, só pra ele ir pra casa, ela vai explicar certinho - Sorri olhando para Hank, que assentiu. - Você da a notícia a ele ?
- Pode deixar
- Ok - Coloquei a prancheta no suporte. Estava a caminho do elevado quando escuto novamente a voz rouca de Hank
- Doutora, meu cartão, se precisar de alguma coisa - Entregou um papel grosso com seu nome e telefone - Inclusive tomar um café, mas sem essas formalidades de Doutora e Sargento - Riu fraco. - Qual o seu nome ?
- Louise Ferphi
- Até mais, Louise - Acenou indo em direção ao quarto de Antônio, me deixando atônita na porta do elevador.