"And if you were my little girl
I'd do whatever I could do
I'd run away and hide with you"
—Daddy Issues, The Neighborhood
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Eu tive que respirar por um momento quando Damiano David passou pela porta do café. O sininho pendurado avisando da sua presença, como se precisasse... Ele atraiu todos os olhares imediatamente.
A camisa branca de botões aberta exibindo boa parte do peitoral tatuado, com o bônus de um terço pendurado ao redor do pescoço. Algum resquício de maquiagem preta contornando os olhos. Ele só... não se parece com o tipo de pessoa que frequentava esse lugar.
Senhoras de meia idade costumam vir aqui e procuram um lugar para ser ponto de encontro de seus clubes do livro onde todos os meses leem romances tórridos variados, jovens hipsters gostam de pedir um café e tirar fotos com a biblioteca de fundo, sem nunca realmente pegar algo para ler.
E tem eu, que venho para estudar pelo menos umas duas vezes por semana e ocasionalmente procrastinar lendo algo.
Ele se sentou ao meu lado no balcão e não disse "Oi", ou "Olá", simplesmente proferiu as últimas palavras que eu imaginei que sairiam da boca dele.
— Aparentemente você agora é a minha garota.
Eu pisco uma, duas, três vezes. Calmamente largo a caneta e levo minha mão até o copo de frozen, o qual bebo um gole pelo canudo.
— O que foi que você disse? — pergunto calma e controlada sem olhar em seu rosto.
— Eu disse que aparentemente você é minha garota agora, Astrid — ele responde tão controlado quanto.
Então vai ser assim? Tudo bem.
— E pode me dizer de onde você tirou isso? — sinto que meu tom começou a soar levemente indignado, mas ao final da pergunta eu já conseguia contornar isso.
Fito os olhos castanhos esperando uma resposta sincera.
— É o que Victoria e os caras da banda acham pelo menos — dá de ombros enquanto Luca, o atendente muito simpático com quem converso quando venho aqui, lhe entrega seu cappuccino. — Grazie mille.
Ouvir seu nome de novo mexe comigo. As últimas semanas têm sido difíceis, me acostumar com a ideia e tudo mais. Principalmente porque a Måneskin parece tocar em cada maldito lugar que as meninas e o pessoal da faculdade gostam de frequentar. Eles estão virando febre entre os jovens em geral.
Eu não julgo, só evito, porque tudo relacionado à eles acaba me lembrando do pé na bunda que levei. Mas realmente não posso negar que são bons.
— E porque você veio me falar isso?
Ele me observa por alguns segundos antes de abrir um sorriso ladino convencido.
— Não é como se eu estivesse vindo atrás de você, querida. Estava passando por aqui e resolvi lhe atualizar sobre as novidades.
E isso sim é difícil de acreditar. Nunca o tinha visto por aqui antes e vou fazer questão de perguntar à Luca quando ele sair.
Mas a curiosidade me invade. Perguntas rondando a minha mente até que as palavras saiam da minha boca antes que eu possa perceber.
— E o que ela acha? Sobre isso? — me esforcei para soar despretensiosa mas a verdade é que estava morrendo para saber.
Seus olhos castanhos me analisaram. Passeando por meu rosto, demoraram-se alguns segundos a mais na minha boca. Será que estou suja de frozen? Apertei os lábios, desviando o olhar dele e passei a língua por eles. Me arrependi no momento em que ouvi sua risada ao meu lado.
— Santo Deus, ela ainda te afeta como nunca, não é? — eu me viro e fecho uma aba no notebook para fingir que estou ocupada. — Não precisa fingir para mim, bella. O que eu faria com a informação?
Suas palavras me fazem refletir. É verdade que Victoria não é a maior fã dele, são educados um com o outro mas ela sempre torcia o nariz de leve quando Damiano era o assunto. E bem, não dou a mínima pro que Ethan e Thomas pensam sobre meus sentimentos, eu nem ao menos troquei mais de dez palavras com eles.
— É óbvio. Ainda está... recente — é só o que digo, olhando bem no fundo dos olhos castanhos para mostrar que estou sendo sincera.
Ele passa a língua pela ponta dos dentes superiores e analisa meu rosto.
— Nesse caso... — estala os dedos longos e os anéis fazem tanto barulho quanto os ossos. — Tenho que dizer que a reação dela não foi tão... proveitosa quanto a sua.
Ele diz se referindo ao nosso beijo. Faço um gesto para que ele prossiga, Damiano conseguiu me deixar curiosa.
— Bom, ela surtou e veio me perguntar se estávamos juntos.
— O que você disse? — perguntei apreensiva.
— Não respondi, disse que não sabia ou coisa assim. Ela saiu possessa mas tentou fingir que não. Se quer saber, acho que você machucou um pouco o ego dela — despejou de uma vez.
Bom, fazia apenas uma semana que havíamos terminado, mas com a cena que vi no camarim não pensei que ela ainda se importaria muito com quem eu ficava.
— Acho que ela só não gosta de você — digo e meu coração acelera com a percepção de que posso ter feito uma merda muito grande.
Mas Damiano só dá de ombros.
— Eu sei — diz enquanto se recosta sobre o balcão parecendo tranquilo com a afirmação. — Eu e Victoria... nós já tivemos nossos problemas antes.
Ele solta o ar como se estivesse expirando o fumaça do cigarro mesmo que esteja apenas tomando um cappuccino, acho que já é um hábito.
— Vic adora roubar minhas garotas, mas aparentemente não gosta que eu pegue o que é dela. Quão irônico é isso? — ele dá uma risada que não parece muito bem humorada para mim.
— Eu não "sou" dela — deixo claro como ela o fez. — Nós sequer tivemos um princípio de relacionamento, pelo visto era só um lance de quase 3 meses.
Damiano me olha no fundo dos olhos novamente e ficamos assim por alguns segundos.
— Não sente vontade de dar o troco? — ele pergunta sincero. — Não se cansou disso? De esperar o mínimo?
Suspiro, essa doeu. É a verdade, eu aceitava as migalhas de relacionamento quando na verdade nunca houve a perspectiva de ter algo sério por parte dela. Todos os benefícios de um namoro sem realmente estar em um.
— Sim — minha voz sai baixa, como um suspiro, enquanto minha mente está longe. O italiano ao meu lado abre um sorriso por trás de sua xícara e alguns adolescentes aproveitaram o silêncio entre nós para pedir fotos.
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"E se você fosse a minha garota,
Eu faria tudo que pudesse
Eu fugiria e me esconderia com você"