ROCK MÁFIA

By autoradassa

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(CONCLUÍDA) Quando uma maldição perdura, o ódio e a lamúria trilham de mãos dadas o caminho de séculos e sécu... More

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1. Quando a música começa.
2. Quando a música incomoda.
3. Quando a música é alta e o estranho chama.
4. Quando a música soa como cena.
5. Quando a música pede a companhia de um chapéu rosa.
6. Quando a música é tema do Príncipe encantado com um lado obscuro.
7. Quando a música é o início de uma nova era.
8. Quando a música é sobre borboletas pretas e Déjà Vu.
9. Quando a música é sobre arrepios a cem graus de temperatura.
10. Per secoli e secoli, amen.
11. Quando a música é sobre estrelas ao redor de cicatrizes.
12. Quando a música queima como a chama de um vermelho ardente.
13. Quando a música te leva em direção a uma noite de rock.
14. Quando a música reflete em problemas a lenda do escapismo.
15. È un'estate crudele con te.
16. Quando a música é tocada por séculos e séculos.
16+1: Quando a música toca a alma adormecida.
18. Quando a música é suave como uma manteiga.
19. A música diz: O que morreu não está morto.
20. Daniel Mancini Vitale.
21. A música tocada na ópera anuncia: Fantasmas sorriem.
22. Areia movediça de textura Dândi.
23. O lago e a profundidade de suas memórias.
24. Essa estrada tem via de mão dupla traiçoeira.
25. E desde então, sou porque tu és.
26. Vermelho Ardente.
27. Amor de existências.
28. Traga o vinho, eu levarei as recordações.
29. Consumação de Espécies PTI.
30. Consumação de Espécies PTII.
31. Zorak Bevon.
32. Paciência para contar estrelas.
34. Fuga para LA.
35. Segunda fase da rebeldia italiana.

33. Ruivinho danado.

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By autoradassa

#MorceguinhoCerejinha

Una settimana e tre giorni dopo.

— É um passo importante, singular e significativo, querido.

A palma suave de mamãe desliza pelo smoking bem passado e ajustado em meu corpo, contornando-o conforme disparava sorrisos amorosos em minha direção.

Em frente ao espelho, como tantas vezes antes estive, eu encarava meu reflexo, os mínimos detalhes de minha aparência, os gestos singelos que eu fazia quando erguia a mão para que minha progenitora tocasse minha vestimenta, insistindo em garantir que tudo estava perfeitamente alinhado, como tinha de ser.

Suspirei fraco, guardando o meu mais profundo respirar para o decorrer da noite, ela havia acabado de nascer, seria longa.

Afinal, chegou o dia do baile de formatura, este que viria logo a seguir da distribuição dos diplomas, finalizando, por definitivo, o meu ciclo no Ensino Médio. Era estranha a sensação de encerrar algo, de bater o martelo e determinar o encerramento de uma etapa decisiva em minha vida. Foram longos e, em minha mente, pareceram intermináveis anos. É louco como eu posso olhar para trás e vê-los como se estivessem em uma curta distância um do outro.

Agora era para valer.

Resisto um pouco mais na frente do espelho, observando o anel em meu indicador. Havia uma agitação fora de meu quarto, estendendo-se do quarto de Jihyun para todos os outros cômodos. A Pink Hat estava agitada, perambulando em animação pela residência. Os garotos tocariam no baile, deixando enraizado que a banda de garagem veio para ficar. Eu os vi nascerem, sou o maior fã. Mal posso conter o orgulho que sinto.

— Eu sei que é somente a minha formatura, mas, a senhora acha que o papai estaria orgulhoso? — Indago, volteando meu olhar para a Park.

— Bem, ele diria que você não fez mais do que a sua obrigação... — Refuta, finalmente terminando de analisar a minha roupa, mamãe suspira e segura meu ombro, tocando meu queixo com sua unha curta. — Mas não deixaria de estar orgulhoso, meu anjo, você sempre nos deu o maior orgulho em cada passo dado, dessa vez não seria diferente. Por que haveria de ser, hein?

— É neurose minha, mamma. Não há motivo, eu só me pergunto diariamente se ele estaria orgulhoso de todos esses meus passos, principalmente os do futuro.

— Ele está olhando por você, é quem guia, junto a Deus, o seu caminho. Possui orgulho agora, possuirá futuramente. Creia nisto. — Replica, encerrando o tópico quando se afasta e procura por algo, até então, desconhecido por mim. — Onde está seu crucifixo?

— Na gaveta de minha cômoda. — Indico.

— Ótimo, use-o. Estará ao lado de seu pai. — Um sorriso simplório é oferecido por minha mãe. — Esperarei por você lá embaixo, não demore.

Assinto lentamente, observando enquanto mamma deixa meu quarto e encosta a porta, sumindo por completo de minhas vistas. Ansioso, agora eu respiro fundo, e o faço inúmeras vezes, exercitando meus pulmões e decorando possíveis exercícios de respiração. Multidões e eventos escolares me deixam ansioso. Em vista de um último suspiro, locomovo-me até a cômoda, abro a gaveta e retiro de lá o meu crucifixo. O qual eu coloco em meu pescoço, toco a cruz e dedilho-a carinhosamente, recordando-me de meu pai.

Meu pai. Eu sentia a falta dele, sentia muito. No entanto, nunca me forcei a me habituar ou me acostumar com sua ausência, pelo contrário, sempre me permiti enfrentar emocionalmente o que a sua morte me causaria. Lutei contra uma depressão, contra a ansiedade por bater de frente com o mundo sem ter a minha maior força aqui, para me defender. Eu tinha, parcialmente, orgulho de quem vim me tornando após o falecimento dele, me agarrei ao que ele me ensinou durante a vida, aos propósitos e razões que o fizeram não estar mais aqui.

Não fisicamente.

Desde o reaparecimento de Daniel em minha vida, eu me coloquei a crer na presença de meu pai em minha existência. Não era algo comum, somente de você sentir a falta de um ente querido e o sentir em sua vida em nome da falta sentida, eu o sentia porque sabia que ele estava aqui. Nada me faria acreditar no contrário, nada.

Papai cuidou muito bem de mim, agora Dândi dará seguimento.

E, pensando e repensando a respeito de como meu pai foi e é crucial em minha existência, eu me locomovo pelo quarto, mais precisamente em direção ao baú – ou entulho, de acordo com a minha mãe. Ali eu deixo respectivas bagunças ou bens que desejo manter comigo, bem guardado, e numa dessas estava algo de meu pai.

Eu torcia que não estivesse vencido.

Porque, agora que eu estou de joelhos em frente ao baú, procurando pelo frasco, eu quero e preciso de que essa poção me encoraje em meus próximos passos.

Para ser sincero, não é como se fosse uma poção ou como se ela realmente fizesse efeito e me trouxesse o que eu mais quero, pois, honestamente, é difícil você saber o que verdadeiramente quer quando quer o mundo todo. De uma vez só. Mas papai tinha esse frasco, ele guardava vários dele. Se for uma lei da atração ou não, ele nunca disse, apenas bebia dela quando manifestava um desejo.

Deixava-os numa prateleira em um pequeno altar que havia no quarto dele e de mamãe, ele dizia que eu poderia tomar, no momento certo, quando estivesse em um embate e precisasse recorrer a uma ajuda extra do universo. Bastava um gole, um pensamento e a força de um querer, então... Você aguarda pela consequência do próprio desejo.

Se funcionou com o pai, deve funcionar com o filho.

Retiro as caixas que estavam por cima do compartimento no qual eu deixava o único frasco que estava sob meu domínio, havia outro e mais um. Jihyun e nossa mãe os guardavam. Três para nós três. Ele deixou pensado.

Paro um segundo e encaro a caixinha, abro-a e observo o pequeno frasco de vidro. Eu nunca soube do que fora feito esse líquido, é de coloração vermelho sangue, mas é um pouco pastoso, já estive balançando-o antes, quando me sentia curioso e tentado a tomá-lo.

Segurei-me por muito tempo, não está mais em meu alcance me controlar.

Por isso, tiro-o da caixa e ergo em frente aos meus olhos, tombo a cabeça para o lado, analisando o vidro. Há vozes que ecoam no andar debaixo de minha casa, elas chamam a minha atenção sobre uma possível demora de minha parte para descer. Eu tinha uma noite e tanta pela frente.

Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Respiro fundo. Abro a tampinha de madeira do vidro, retorço meu cenho em uma careta bem expressiva. O cheiro é forte. Uma pequena névoa se forma e evapora frasco a fora, sumindo em instantes. Eu encaro o quarto, assistindo o sumiço, abobalhado com o que ocorreu. É tudo surreal, quanta loucura desenfreada.

— Jimin, querido! Desça logo!

É minha mãe quem pede, atraindo a minha atenção. Eu tenho o crucifixo em minha mão esquerda, o frasco com a poção na direita, e fecho os olhos, apertando-os com força quando liberto com euforia os meus sentimentos e devaneios mais profundos. Toda a bagagem que eu venho guardando, algumas que eu não sabia, entretanto que tive o conhecimento quando virei em um solo e longo gole o frasco, bebendo da fonte de desejos de meu pai.

Park Jimin!

Jimin.

Você não nasceu para se habituar ao comum. O seu lugar está destinado ao mais alto escalão, e você é quem se colocará lá. Nunca se reverencie. Não abaixe a crista. Não fale alto, não sussurre. Seja você. É o bastante para dominar o mundo.

Minha mão treme e minha garganta queima enquanto sinto o líquido descer rasgando. Jogando a minha cabeça para trás, rompendo os olhos para encarar o teto de maneira assustada, paralisado, observando conforme os aviões de papel voam. Minha pele está quente, eu a sinto arrepiada, mas faz frio. Faz tanto frio que desejo cobrir-me com meus próprios braços, contudo não sou capaz, porque sinto o meu corpo. Ele está preso. Nem mesmo os meus olhos piscam.

Atthis Kavalier.

Atthis.

Eu o desejo tanto aqui. Eu o quero ao meu lado. Vejo-o como um guia, um líder. Certamente saberá como me ajudar a lidar comigo mesmo, com o meu mundo, com o meu passado que não se encontra mais em uma cova. Ele está por toda a parte, exceto em mim. Os assuntos inacabados impedem que eu evolua, que eu encontre a saída de meus problemas, pois a saída está em meu passado, e enquanto eu não encará-lo de frente, permanecerei na mesma posição e, com certeza, o mais alto escalão não é ela.

Eu tenho uma missão aqui, ali e em qualquer outro solo que meus pés se finquem. Ninguém além de mim possui a maestria de me parar. Eu renasço a cada nascer do sol, você sabe.

Acho que eu já vivi esse filme antes.

— Jimin, hoje. É para hoje. Vamos, vamos!

"— E por que diabos isso deixou de ser o seu querer? Por que simplesmente não aceita a sua liberdade?

— Conceder a mim mesmo liberdade é dar a sua, Atthis. E eu jamais cometeria tal loucura.

— E ficará preso a mim, então? Esse é o seu veredito final?

— O embate é entre você e eu. Nós dois, juntos, até o final, até onde quer que isso dê. Até que as trombetas toquem e um único corpo seja arremessado em uma cova. Até que haja um só vencedor. Você aceita, Atthis? Você suportaria existir, enquanto seus dias não são extintos, em uma mesma existência que a minha?".

Eu quero uma resposta de como isso exatamente acabou. É o que eu quero, é o que eu desejo, o que eu preciso e necessito. Como o ar que fora retirado pouco a pouco de mim quando a morte envolveu o meu corpo e transformou meu coração em pedra.

"— Vossa Alteza é o tipo de homem que eu adoraria arruinar.

— Porque eu aprecio arruinar tudo o que as minhas mãos tocam, e, nesse momento, eu quero tocar você".

Cinco lágrimas escorrem por meu rosto quando as faces de Daniel e Atthis surgem em minha mente, confrontando-me, dialogando sob as minhas vistas. Como se estivessem em minha frente, como se eu pudesse dar um passo e tocá-los, sentir o que eu tanto quero sentir. Encarar o sorriso desafiador de Daniel e a fissura do encanto no olhar de Atthis. De quem eu fui. De quem eu preciso tocar e sentir em minha própria pele. Eu quero estar diante de meu passado. Diante dos meus erros e acertos, dos medos e coragem, da bravura e, às vezes, fuga. De quem pagou o maldito caro preço pela liberdade.

Eu nunca desejei tanto me encontrar e ser eu mesmo. Mesmo que momentaneamente. Mesmo que pelo pouco tempo restante de minha existência.

Acho que a liberdade está em conhecer a si mesmo. Eu estou pronto para isso.

"— Lagos tendem a congelar almas, príncipe. Ah, e há uma lenda sobre sua libertação.

— O que diz a lenda?

— De século em século, o lago a devolve à vida. Basta ter uma razão pendente para que ele a atire, agora preparado para o embate, de volta à realidade, especialmente quando se trata de uma história de amor inacabada.

— Você acredita nisso?

— Eu me permitiria pagar para ver. Você não?".

Acordado à noite toda, desejando um acordo de paz entre eu mesmo, desejando que estejamos unidos para enfrentar o que quer que cresça sob a ponta de nossos narizes. Eu me refiro a mim, a quem precisa se desarmar e compreender as verdadeiras razões do destino ser tão traiçoeiro. Eu não preciso verdadeiramente de ninguém, mas encontrei almas que compartilham do mesmo querer que eu. E isso é o bastante.

Noto a ausência de minha órbita quando ouço gritos vindos do andar debaixo, estes me chamavam, anunciando que minha carona havia chegado. Entreabro os lábios, puxando a minha respiração, assustado por ter me desligado tanto da realidade. Solto meu crucifixo, o frasco com o que bebi anteriormente despenca de minha mão e atinge o chão, meu corpo destrava e eu me sinto cansado quando me inclino para frente, apoiando as palmas no piso. Procuro firmar a minha visão um pouco turva, a cabeça lateja, mas estou consciente. Levanto-me para olhar ao redor, reconhecendo cada canto de meu quarto, minhas devidas coisas. Está tudo como deveria estar. No entanto, eu tive reflexos de meu passado.

Eu preciso achar mais dessas poções.

Deus, ajude-me.

— Jimin, seja rápido, nós temos que ir. A formatura começará em uma hora. — Jihyun deixa batidas, nada singelas, na porta de meu quarto.

— Eu já estou indo... — Replico, olhando para o espelho.

A imagem que eu tenho é nítida e talvez seja ela, especialmente ela a me prender aqui, com os pés firmes no chão, encarando o meu próprio e – antes adormecido, reflexo. A vivência marcante e esbelta. Não ela, e sim, ele.

Inconscientemente, abro um sorriso amplo, soprando um gritinho animado enquanto corro endoidado pelo quarto, sem saber que rumo tomar. Não sei se saio, se me olho por mais tempo no espelho ou se pulo da janela e finjo desmaio. Por fim, abro a porta e bato-a com força, tudo isto é culpa de toda a excitação que eu sinto em minhas veias. Desembestado, eu corro pelo corredor, notando o coral de vozes vindas do andar debaixo, sigo para a escada e pulo os degraus, louco para chegar logo.

Quando chego, dou de cara com os integrantes da banda e mamãe, que tenta ajeitar inutilmente a gravata do terno do rebelde sem causa, ultrapasso o corpo deste e caminho pelo corredor, em direção à porta de entrada, abro-a e me assusto com a enorme limusine que está parada em frente à minha casa. Estupefato, deixo que minha expressão mais surpresa diga o que minha boca não consegue proferir, avisto sair pela grande porta Jin. Meu amigo saltita em minha direção, junto a ele está Hoseok e Taehyung, tão animados quanto o próprio.

— VOCÊ ESTÁ LINDO! — Seokjin grita, isento de conter ou disfarçar os ânimos.

Risonho, caminho até ele, atirando-me em seus braços para um abraço animado e bagunçado, pois Tae e Seok se juntam, cercando-nos.

— Obrigado! — Murmuro, olhando ao redor, encarando o veículo. Ainda estou embasbacado com ele. — Você também está, aliás, todos vocês. — Aponto para os rapazes, caramba, excepcionalmente lindos. — Meu Deus, vocês podem me explicar o que significa isso? O colégio foi quem mandou?

Com o queixo, eu aponto em direção ao grande carro, perdido em minhas confusões sobre o que está acontecendo. Nós somos tão... Deus, tão... Bem, não temos condições alguma para investir em uma limusine, então...

— Porra de colégio, e esse colégio já fez algo além de nos encher de dores de cabeça? — Taehyung questiona, arqueando o cenho quando passa o braço ao redor de meus ombros. — Isso aí foi um presentão da Rock, mais precisamente dos mafiosos cadelinhas de pobres. — Explica.

Instantaneamente, arregalo meus olhos, desviando do carro para o rosto expressivo do garoto novamente de cabelo azul. Não sou capaz de formular algo ou pedir por explicação, apenas encaro a limusine branca de porta aberta e mergulho num mundo louco que minha mente me faz criar.

Já não bastassem as emoções anteriores.

Ninguém me entenderia.

— Ji, ela é ainda mais perfeita por dentro, você precisa ver. — Hoseok agarra a minha mão, puxando-me para perto do veículo.

Atrás de mim estão os integrantes da Pink Hat, absurdamente eletrocutados e insanos porque andariam em uma limusine, mamãe vem logo atrás, certificando-se de trancar toda a casa. Besta, totalmente neutro com a recente informação, afinal, fui pego de surpresa, eu entro no automóvel, observando como as luzes neon agitam as minhas vistas.

Há algo eletrônico tocando, mas a minha mente está mais focada em desvendar cada coisa dentro da limusine, então me jogo para um banco e olho ao redor, visualizando garrafas de champanhe, aperitivos e mais, muito mais. Hoseok senta ao meu lado, rindo de como eu pareço uma criança com doce, é tudo novo e inusitado. Não controlo ou sei disfarçar a animação.

Afundado no banco, eu assisto a limusine ser preenchida por todas as pessoas, sorridente, viro-me para Tae, agarrando em seu joelho para descontar meu surto interno. A música está ensurdecedoramente alta, aumento meu tom de voz quando questiono ao azulado: — E onde estão os mafiosos?

Hoje eu não havia falado muito com Dândi, trocamos poucas mensagens, eu tive uma manhã e tarde agitadas, presumo que ele também, afinal, estava sempre atolado de trabalho, embora conseguisse me dar muito de seu tempo. É como uma segunda pele o tanto que eu sinto falta do vampiro, chega a ser agoniante, acho que sinto pela vida passada, por essas e por todas as que ainda teremos.

Somente isso explica a falta que ele me faz.

Ou talvez eu só não queira passar uma imagem total de apaixonado, eu tendo a ser muito molenga para essas merdas. Ah, Deus, por que me fizeste uma manteiga?

— Jin mencionou que Namjoon informou que chegarão atrasados, pois tiveram alguns empecilhos na Rock. — Dá de ombros, replicando.

Aceno em entendimento, encostando minhas costas no estofado do banco, procurando relaxar. Estive guardando muito estresse, tantas situações inevitáveis que me sacudiram, me fizeram sentir vontade de explodir somente para deixar de existir, porque o mundo parecia uma sacola de plástico, e eu estava enfiado nela, sem possibilidade de escapatória.

Acho que preciso de terapia.

— Vamos fazer um brinde! — Seokjin sugere em exclamação.

Ele atropela alguns dos integrantes da Pink Hat, capotando pelos cantos enquanto, com o carro em movimento, o palerma se estica para alcançar o balde de gelo. Jin agarrou a garrafa de champanhe, puxando-a e pedindo ajuda a Hoseok para pegar as taças. Em quietude, assisto meus amigos encherem os recipientes, estão todos felizes e eu também estou. É bom viver tudo isso ao lado deles, nossa vida mudou bastante. Para ser sincero, essa mudança estava destinada a acontecer. Partilhamos uma vida antiga juntos, estamos nessa agora, estaremos juntos no futuro.

Estando ou não inclusa na maldição, o ciclo está fadado a se repetir. Eu sempre os terei por perto.

Uma taça e entregue a mim por Seok, ele senta ao meu lado e tilinta a dele com a minha, tomando um gole para levar um esporro de Jin que desejava fazer um brinde. Desvio meu olhar para minha mãe, pobre coitada, está no canto, tentando lidar com a baderna de meu grupo. Nós erguemos as taças e brindamos em uníssono: — Por séculos e séculos.

Parece que esses séculos me perseguem.

🍷

A barra de minha calça me incomodava, o sapato estava muito apertado, a música muito alta ou eu me sentia ansioso demais para receber meu diploma e partir para o baile de formatura, fechando de vez meu Ensino Médio?

Enquanto eu caminhava por entre as pessoas, desviando de possíveis esbarrões, me peguei pensando que, até o momento, eu poderia culpar um pouco a ausência de Dândi. Ele não havia dado sinal algum de vida – o que é meio irônico se parar para pensar. Eu não poderia contar em meus dedos quantas vezes peguei meu celular para me certificar se havia ligação ou mensagem por parte dele, porém não tinha nada.

Suspiro, observando a arquibancada repleta de pessoas que esperavam o começo da cerimonia. Eu trajava aquela bata sem graça e clichê de formando, apertava com tanta força o capelo em meu peito que não me surpreenderia se sentisse os batimentos de meu coração ultrapassarem meu corpo. Por Deus, estava lotado e eu me sentia sufocado demais.

Nunca fui muito bom com multidões, e eu já devo ter dito isso tantas vezes, todavia é sempre bom frisar, principalmente especificar minha preferência por pouco movimento, algo nulo. Dou de ombros, jogando minha cabeça para o lado, visualizando minha família ocupando alguns assentos, de longe mamãe me viu e acenou, linda e animada, sobretudo orgulhosa. Devolvo-lhe um sorriso sem humor, respirando fundo ao que giro meus pés e marcho em outra direção.

A da saída.

Eu não sabia muito bem se poderia escapar um pouco, somente desejava isso. E, novamente, eu culparia a agitação ao meu redor.

Desço os degraus do hall de entrada, passando por alguns indivíduos e caminhando em passos firmes pelo campus do colégio, apressado, eu me locomovia em direção ao ginásio aberto, onde ocorreria o baile. Apertando minhas vistas, confiro se há alguém no espaço, sejam funcionários contratados para a festa ou do colégio. Após concluir minha investigação, averiguo que está isento de almas, então eu cruzo o portão de entrada, desço a escada e adentro ao local enfeitado por uma decoração azul.

Mesas estavam postas, o palco para o show da Pink Hat estava montado, nada escapava da perfeição de quem organizou detalhadamente cada parte do baile. Toco o pano azul bebê de uma mesa, arrastando meus dedos por ele, passeando de uma mesa para a outra. Seguindo o costume de minha dramática vida, eu suspiro pela milésima vez, parando meus passos para cruzar meus braços e abrir um sorriso singelo. No entanto, evito entrar em meu mundo pensante, em me enfiar na minha mente e me obrigar a ficar por lá.

Não é o momento.

Acho que eu preciso de uma folga. Fugir um pouco me parece uma solução irrecusável, por isso corri da formatura, bem, só por um momentinho.

Desafixando minhas solas do piso no qual parei por um breve momento, eu sigo até o palco do show, podia ver meu irmão arrebentando em seu show, aposto vinte pratas que ele está se borrando de ansiedade. Todos parecem tê-la como companhia hoje. Jin não a esconde, Hoseok nem mesmo consegue e Tae, ah, Tae já detonou um pacote inteiro de Finni. Encontrei-me muito rápido com Jisoo, Rosé e Jennie, elas estavam elétricas e se tremiam dos pés a cabeça.

— Eu gostaria de saber tudo sobre o que nós fomos. — Murmuro, ao pensar sobre minha antiga existência. — Principalmente sobre minha vivência, meus detalhes, meu século, minha história. Eu queria tanto a chance de poder ver você...

Lambo os lábios e, cruzando o salão, eu chego ao palco. Subo a escadinha dele e caminho por todo o espaço, vislumbrando os instrumentos e a decoração feita, estava muito bonita. Este ano não haverá um príncipe e uma princesa, com tantos assassinatos pela cidade, incluindo o de uma aluna, além do acidente de Jennie, o diretor decidiu que o correto seria homenagear a menina morta. Sendo assim, o baile honraria seu nome.

Uma boa iniciativa.

Puxo a barra de minha bata, ela me atrapalhava a andar, por fim sento-me nos degraus da escada, apoio meu cotovelo em minha perna e espio o chão iluminado pela luz neon espalhada pelos quatro cantos do ginásio. Deus, a sessão de tortura está acabando, literalmente.

Jogando meu corpo para trás, eu deito no carpete macio, fecho os olhos e prendo a minha respiração, sentindo-a sair conforme o questionamento foge por entre os meus lábios: — O que você faria em meu lugar, Atthis?

— Provavelmente atearia fogo no colégio.

A voz firme e rouca é reconhecível, facilmente a descrevo como pertencente à Dândi. E é ele, confirmo assim que abro meus olhos e o vejo estático em seus próprios pés, na escada de entrada.

Não posso conter meu sorriso, porque ele é inteiramente de Dândi. Alongo-o ainda mais quando me levanto e fico em pé, parado no topo da escada do palco, venerando o meu homem do outro lado, também no topo de uma escada.

— Um castelo me parece uma opção superior, Vossa Alteza. — Reverencio-o, estendendo meu sorriso.

Em contrapartida, Dândi desce as escadas e atravessa o salão, vindo em minha direção. O mafioso veste bem o smoking preto, seus sapatos sociais causam barulho e é a primeira vez que ruídos não me irritam. Senhor, me faça menos apaixonado em outra vida, é tudo que lhe peço.

— Você estaria preparado para uma nova guerra, revel? — Inquere, olhando-me por completo.

— Tendo você ao meu lado, eu estaria pronto para tudo, Daniel.

Olho-o terminar seu percurso, parando em minha frente, sendo separado de minha pessoa pelos degraus da escada. À vista disso, Vitale me estende a mão, o sorriso em seus lábios me mantém firme, e através dele eu envolvo a minha palma na do vampiro, descendo os degraus que nos separam.

Antes que eu me atire em seus braços, desejando o melhor dos abraços que eu poderia receber nessa noite, Dândi se curva, reverenciando a mim, como fiz consigo instantes atrás. Sorrio amarelo, passeando com meus lumes por seu físico, decorando – como se possível fosse, seus detalhes mínimos e os mais cruciais. Ele é belo, é charmoso, é eloquente e fervente, é um verdadeiro dândi.

— Eu amo você. Obrigado por estar aqui. — Murmuro, seriamente, sentindo minha voz fraquejar.

Jogo-me nos braços do meu homem, sendo abençoado por sua retribuição imediata, que me envolve em seu corpo e me aperta em nome de me manter tão bem acolhido em seu amor. Descanso meu queixo no ombro alheio, fechando meus olhos para desencadear dentro de mim, talvez fortificar, o que sinto por Daniel, e como tê-lo ao meu lado num momento como esse é intimamente importante para mim.

— Eu amo você. — Afirma, movendo-se para olhar em meus olhos. Dândi segura meu queixo delicadamente, acariciando-o com o polegar. — Vim para te prestigiar, amor, você merece. Estou orgulho pra uma porra de você, danado.

Sorrio de canto, esticando meus pés para me jogar novamente nos braços do vampiro, felizmente é reciproco, porque ele me acolhe outra vez, intensificando nosso contato quando me aperta sutilmente, mantendo-me colado ao seu corpo, longe das vistas alheias e da possibilidade de nos afastarmos.

— Você jura? Ah, eu escutei isso de minha mãe, ela disse que meu pai estava orgulhoso de mim, mas... Ah, estou sensível. Essas datas mexem comigo. — Digo, não tendo a certeza se fui bom em dizer o que eu queria. Talvez não. Sou desastrado com palavras.

— Olhe para você, meu amor, para onde está, aonde chegou. — Ainda abraçados, Dândi refuta. — Não somente em sua vida acadêmica, rebobine e veja o quanto você batalhou e suportou tantas merdas ao seu redor. Chéri, você foi o melhor para si mesmo, deveria sentir um orgulho imenso de quem é.

Suavemente, zonzo por tanto carinho, eu deixo um beijo na bochecha do mafioso, então me afasto e seguro as mãos tatuadas de meu homem, olhando de relance para a nova tatuagem em seu pescoço. Leva-me de volta há uma semana e alguns dias atrás, no Studio de tatuagem, nossa transa, a vergonha que passamos quando Max nos pegou no flagra e a cerimonia que mamãe fez quando cheguei com tatuagens.

Nos dois últimos casos, escapei muito bem. Max possui uma vibe parecida com a de Dândi e os membros da Rock, ele somente pediu que limpássemos a bagunça que causamos. Já minha mamma, de primeiro ela acreditou que eu estava a um passo de me tornar um gibi como Dândi, todavia a mulher é completamente apaixonada pelo mafioso, deixou a situação de lado e mencionou ter achado bonito o que tatuei. No entanto, pediu que eu não exagerasse.

E Dândi sentiu essa indireta.

— Eu sinto, acredite, eu sinto. — Sopro uma risadinha, checando o estilo de Dân. — Você está muito bonito, como isso é possível? — Pergunto, arqueando o cenho. — Aliás, antes que eu me esqueça... Mandou uma limusine? Foi ideia de quem? Eu enlouqueci quando a vi em frente à minha casa.

Vitale me impulsiona a dar uma voltinha, verificando a bata de formatura que eu usava. Fiz uma careta, mas girei, zoando ou não com a minha cara, ele assobiou, aprovando minha vestimenta. Rolei meus olhos.

— Eu tinha de estar bonito, não acha? Como poderia servir-lhe de companhia estando isento de formosura, hã? Non si può. — O olhar sem vergonha do vampiro é o motivo para que eu sorria. — Sobre a carona, bem, foi ideia de todos nós. Por motivos burocráticos de trabalho, não poderíamos buscá-los em casa, então decidimos em conjunto proporcioná-los um meio de locomoção à altura dessa noite.

Levo minhas mãos aos ombros do rapaz, apertando-os conforme junto nossas testas e sorrio de canto, diminuindo minhas ondas de animação. Eu parecia uma criança com tantos presentes, nunca conseguia disfarçar. É difícil ser tão transparente.

— Hmm, ficamos lisonjeados com tanto cuidado e requinte. — Comento, relembrando a animação durante o trajeto. — Ei...

— Você está lindo, ruivinho, está lindo. — Interrompendo-me, Dândi declara. Talvez eu devesse tê-lo calado antes, tê-lo impedido de elogiar-me. Não estava preparado para isso, porque eu estava ruivo, meus cabelos – antes loiros, agora estavam pincelados pelo vermelho de Atthis. — Você sempre será meu ruivinho rebelde, tal como é meu loirinho danado. Eu amo você, eu amo così tanto, così tanto, così tanto você.

— Eu nunca consegui me comparar a quem eu fui no passado, acredito que parte de minha aceitação e conhecimento sobre seu universo se deu porque eu nunca parei para nos medir, para tentar juntar nossa existência atual com a do passado em uma balança e enfiar na minha cabeça qual valia mais a pena, porque uma passou e nós estamos enlaçados a essa, e somente ela importa. Quem eu fui bastou para que eu seja quem sou agora. Atthis bordou o melhor dos tecidos para mim, pintou-me com suas melhores tintas e garantiu que em meu sangue corresse a rebeldia de uma noite iluminada pela luz das estrelas. E eu sou tão, tão, tão grato para um caralho a ele. — Toco a maçã do rosto de Daniel, deslizando meus dígitos pela maciez dela. — Sobretudo a você, que foi tão benevolente para comigo, fez jus a ter paciência, mesmo que um pouco... — Rio baixinho, ele faz o mesmo. — Foi quem me estendeu a mão em meu momento mais sombrio quando fui eu a afastá-la diversas vezes. Você merece o melhor...

— E o melhor é você. — Dita, entornando meus pulsos e segurando-os firmemente, embora gentil. — Passei um século esperando por sua volta, trabalhando em mim porque eu não queria ser aquele de quem você optaria ficar distante. Lutei contra meus demônios e, porra, eles são barulhentos, inexplicavelmente mais fortes se comparados aos que escapam do inferno. Lutei contra mim mesmo para vencer o amor que sinto por você, eu perdi feio. Essa guerra não foi autentica e eu não saí como vencedor, e eu nunca fui tão grato por isso, pois no meio disso tudo havia você e apenas isso bastava. Jimin, meu amor por você me manteve de pé, firme, forte como o espírito de um selvagem, maligno como um vampiro, ardiloso como um rebelde, tão cheio de energia como um danado. — Rio baixinho, encantado. — O que nos aguarda é um mistério, entretanto você corre por minhas veias, é a fonte de minha energia e causa pela qual eu luto diariamente. Você é o amor de minha existência.

Veemente, eu concordo, assentindo sem cessar, confirmando cada uma de suas palavras ao beijá-lo com ardor, ansiando que este momento dure e não se rompa para seguir com o ciclo de nossa existência. Ele é a minha, eu sou a dele. Somente isso, Senhor, somente isso é o bastante.

Baixinho, colado aos lábios de Daniel, eu clamo meu amor, apertando o tecido vestido por ele, tocando-o como se ele pudesse evaporar e sumir pelos ares. Eu tenho um medo para além do natural de perdê-lo, porque o perdi uma vez e passar por isso outra vez está fora de cogitação.

Eu não sei como faremos, eu realmente não sei. Sinto-me perdido, preso na zona inebriante de Dândi, dançando como um fantasma pelo salão do ginásio enquanto ele me beija suavemente, deliciando-me com seus beijos envenenados, porque todos estão entorpecidos com o melhor e mais poderoso veneno, o amor.

Há quem diga que ele é um antídoto, eu opto por nomeá-lo como a ponte entre o bem e o mal. O mais puro e sujo dos sentimentos é jogado aos lobos em nome da malevolência, ainda assim, também pela benevolência. É ele quem guarda a chave de todas as zonas construídas para elevar ou arruinar com almas, estejam elas adormecidas ou despertas.

Somente você decide para qual fim usá-lo.

Neste momento, eu decido ignorá-lo, ser eu, somente eu a construir e trilhar meu próprio caminho em direção ao que me é aguardado no futuro. Às vezes, você pode renunciar à decisão de se aliar a algo e por escolha própria liderar seu destino e, às vezes, você pode enfrentar o que ignorou futuramente. Novamente, na maldita ponte entre o bem e o mal.

E lá... Bem, lá você...

— Foge comigo para Los Angeles. — Dândi pede.

Abro meus olhos, encarando o rosto inexpressível do vampiro.

— O quê? O que está dizendo? Como assim? — O exercício de piscar freneticamente meus olhos se dá início.

— Ao terminar de sua formatura, fuja comigo para Los Angeles. — Meu rosto é tocado por Dândi quando ele me segura dos dois lados. — Longe das vistas de humanos tediosos, suas vidas sem graça e dias cotidianos. Venha se divertir um pouco comigo na cidade do pecado.

A proposta, independente do quão surpreso me deixa, é tentadora. Encarando os olhos cintilantes de Dândi, eu movo meus olhos para a porta aberta do ginásio, vislumbrando a silhueta de Taehyung e Seokjin adentrá-la.

— Jimin? Porra, cacete, estávamos te procurando há tempos! — Exclama, cansado, noto por sua feição. — Vamos, a cerimonia está para começar.

Ao que ele me chama e espera por mim, eu olho para Dândi, ainda deslumbrado com seu convite inusitado. Fugir é realmente significativo para o mafioso, eu estava mais do que certo disso, mas assustado e surpreso com a ideia por parte do vampiro. Não esperava por isso, não sei o que responder.

De qualquer jeito, ele não parece impaciente em saber se eu toparia ou não, pelo contrário, escorrega a palma até que toque a minha, entrelaçando-a junto a sua para, em seguida, nos guiar rumo aos meus amigos, estes saem e temos liberdade para fazer o mesmo, passando pelo espaço aberto e deixando o ginásio. O momento particular que tivemos foi especial, estaria preso a minha memória e eu não permitiria jamais que fosse embora, mesmo que anos e vidas se passassem, eu ainda desejo manter isso.

— O romancezinho estava bom, mas o dever nos chama, você precisa se alinhar a fila. Eles já deram início à apresentação e estão fazendo homenagens, logo seremos chamados, e você está redondamente atrasado. — Jin dispara, está apreensivo, dono de uma carga elétrica.

Não o julgo, minha mão está tremendo enquanto é segurada gentilmente pela de Dândi.

— Acalme-se ou então você cairá duro antes mesmo de receber o diploma. — Tae replica.

— Vire essa boca para lá, estou usando minhas meias da sorte. Nada de ruim ocorrerá. — Rebate. — Se você parar para avaliar, nós só nos metíamos em merdas quando eu não estava usando-as.

— Não use essa desculpa para a falta de sua higiene, Jin, por favor, tenha modos.

Ao meu lado, Dândi acompanha o debate ao mesmo tempo em que expõe um sorriso ladino. Ele não diz, mas eu sei que se diverte adoidado com a loucura fora de órbita de meus amigos, está mais do que claro e eu o entendo completamente. Eles são uma máquina de nos fazer rir.

— Como se sente, Ji? Muito nervoso? — Deixando de lado o debate, Jin questiona, olhando-me de canto.

Amuado, ainda sentindo o efeito de minha conversa e de tanto amor que me fora dado por Dândi, eu sacudo meus ombros, buscando não expor todas as sensações avassaladoras que eu sentia. É somente a ansiedade. Somente...

— Eu sou um pouco tímido, vocês sabem. — Falo, sabendo que isso, de longe, era verdade. Eu possuía facilidade de interação, somente não gostava de tantas pessoas juntas. — Só quero passar por isso logo.

— Não esquenta, estou logo atrás de você, te amparo se preciso for. — Jin refuta. — E Dândi estará na plateia, torcendo por você, todo bobinho, não é, Mr. Vitale?

O vampiro, isento de simpatia, encara o Kim com o cenho franzido. Eles dois costumam bater de frente um com o outro através de olhares, questiono-me qual dia seria perfeito para que ambos caíssem no soco. Eu não gostaria de estar por perto.

— Oliver e Perrie estão aqui, quiseram assistir. — Informa, volteando o olhar para o meu rosto.

Nossos passos eram dados em direção ao campus, atravessando-o conforme a entrada do colégio beirava nossas vistas, estávamos próximos.

— Oliver pisando os pés dentro de um colégio? Ele não me parece ser a criatura mais sensata a fazer isso. Tenho certeza de que a insistência e a última palavra vieram de Pezz. — Digo meu achismo, imaginando o que de ruim já passou pela cabeça do vampiro sanguinário.

Eu juro, podia vê-lo de saco cheio de uma cerimonia de formatura, desejando tomar o palco para descarregar a merda mais rude que ele possa ousar nomear como opinião. Talvez dissesse que o estudo é perca de tempo, que nosso diploma não valia os anos que foram gastos em busca dele ou que, sei lá, deveríamos ter ateado fogo no colégio enquanto ainda era tempo.

Vindo de Attwood, tudo é possível.

— Ele bebeu bastante antes de vir para cá, foi como ligar o motor, mas deixar que ele esquente.

— Isso me parece péssimo.

Meus pés interrompem a caminhada quando estamos diante ao hall de entrada do colégio, Tae e Jin se aprontam em entrar enquanto eu tenho a companhia de Dândi do lado de fora. Segurando as minhas mãos e balançando-as pelo ar, ele sorri de lado, abrindo-o aos poucos conforme me estuda minunciosamente.

— Você é lindo, Jimin, lindo. — Minhas mãos gelam enquanto estão enlaçadas pelas suas. — Não consigo formular palavras para dizer o quão lindo você está e é.

Ah, Dândi me deixa coisado.

Como eu poderia intervir em nosso destino? Como seria possível que eu agisse contra, que tentasse fugir e não me deixasse levar por sua conversa afiada, suas habilidades descoladas, estilo charmoso e uma alma selvagem? Não, não, é inaceitável.

Sabia eu que tinha chances de desviar de sua bala, de não deixar que eu fosse atingido nessa vida. No entanto, e quanto às outras e mais outras que, futuramente, logo à frente, nós teremos?

Está debaixo de meu nariz e eu não posso ignorar.

— Eu amo você, meu amor. — Toco a maçã de seu rosto, como de costume, enchendo de carinho. Gosto tanto de tocá-lo. — E você está um gatão! Por favor, tome cuidado para não fazer com que caiam aos seus pés. Eu não suportaria competir ou dividir o meu homem.

— Não fode, eu pertenço somente a você.

— É reciproco, eu pertenço somente a ti.

Uma vez que digo, Dândi ergue nossas mãos, beijando carinhosamente a minha, seus olhos de estrelas ferventes encaram os meus, tão calmos e pintados pela vontade de continuar incansavelmente aqui, com meu amado.

— Jimin! — Jin volta para me lembrar da realidade. Olho-o de soslaio, ele indica com a mão o relógio em seu pulso, evidenciando que tínhamos de ir.

— Vá, eu estarei esperando por você. Assistirei enquanto finaliza esse inferno na Terra. — Antes que eu me afaste por completo, Dândi me puxa de volta para seu peito, alcançando meu queixo e segurando-o: — Escape para LA comigo, chéri, fuja um pouco desse universo.

— JIMIN!

— Eu preciso ir, Dân. — Murmuro, saindo em resmungos. — Espere por mim, volto já. — Corto nosso contato, saindo apressado de onde eu estava.

Adentro ao colégio e corro para me juntar aos meus amigos, há uma fila enorme no corredor, procuro por meu lugar e me enfio entre Jin e um aluno aleatório.

— Quanta melosidade entre você e Dândi, o que há? — Desconfiado, ele cruza os braços, mas não sem antes me entregar o capelo que eu havia deixado em cima da mesa, no ginásio.

— Só estamos aproveitando enquanto eu ainda estou vivo, não me resta tanto tempo assim. — Encosto-me à parede, deitando minha cabeça nela. — A casa número vinte é logo à frente, alguns passos me levam diretamente a ela.

Sorrio sem humor, suspirando fraco pela ideia de, um dia, após os vinte anos, eu não estar mais aqui. Isso nunca me pareceu tão familiar.

🍷

Aqueles fitilhos estavam por toda a parte, enfeitando e amontoando o chão, tornando ainda mais difícil a passagem. Haviam transformado o auditório numa bagunça jovial de jovens formandos que atiraram para os ares o capelo de formatura, para alavancar a baderna, do teto soltaram fitilhos.

Pelo piso de madeira eu saí chutando os pequenos papeis, olhando pela multidão e procurando alguém que eu reconhecia. E veio, veio assim que Jennie se jogou em meus braços, rindo, tão animada quanto qualquer um aqui poderia estar. Atrás dela estavam Jisoo e Rosie, que se juntaram ao abraço.

— Venha, vamos mergulhar! — A líder de torcida declara, deslizando a mão para agarrar a minha.

— Enlouqueceu?! — Questiono, exasperado. Ela não poderia estar falando sério, mas parecia, pois me puxava pelo palco. — Jennie, que diabos...

— Desencana, nosso grupo todo pulará na piscina, vai ser rapidinho. — Informou.

Atordoado, cercado pelas meninas, eu encaro Rosie, tentando encontrar resquício de racionalidade nos olhos da loira, todavia, é perca de tempo. Todos aqui são loucos, não há um que se escape. Hoseok, Jin e Vante se aproximam, rondando-nos enquanto caminham animados, empurrando as pessoas que nos atrapalhavam de seguir para fora do âmbito de cerimônia.

— A piscina está liberada? — Questiono a Seok.

— Não, por isso mesmo eles querem usá-la. — Indica nossos amigos. — Vamos despistá-los e vazar daqui enquanto é...

— Nem pensar, porra. — Taehyung prende Hoseok em seus braços quando o enlaça por trás, impulsionando-o a andar. — É nosso último dia aqui, vamos fazer valer a pena.

Eu não respondo a ele, nem Hoseok o faz, apenas demos fim a nossa caminhada quando deixamos o local de formatura e tivemos acesso ao campus, ele estava preenchido por tantas pessoas, e agora nós corríamos em direção à área de lazer do colégio. Retirei a bata de formatura, ficando apenas com minha roupa social, por Deus, a roupa caríssima que Dândi me comprou. Por falar nisso, onde estava ele? O vi o tempo todo na plateia, junto a minha família e seus amigos, me aplaudiu orgulhosamente quando fui chamado para receber o diploma, mas sumiu quando houve o encerramento.

Oh, eu ainda tinha que lhe dar uma resposta sobre ir para Los Angeles, eu continuava sem ele, apenas pensando a respeito. Não precisava de muito para saber que eu queria ir, principalmente por ser um convite por parte do mafioso, eu só... Meu Deus, é muita coisa. Tantas novidades.

Dândi possui um mundo maluco a sua volta, ele queima ardentemente, aos poucos me habituarei.

— Tire os sapatos e se tiver com celular, tire-o também. — Jin murmurou.

Olhando à frente, vi que estávamos na área de lazer e ginástica do colégio. Puta merda, por que eu me meto em merdas como essas? Olhando minhas companhias, percebi que não tinha escapatória ou jeito de não ser como sou. Deixo no chão meus sapatos e afins que havia deixado nos bolsos de minhas calças, respiro fundo.

— Me dê sua mão. — Jennie pede.

Ela está ao meu lado ao que criamos uma corrente humana onde estamos todos de mãos dadas. Ah, isso nunca acaba bem, principalmente quando formos pegos no flagra. Aperto minhas pálpebras, sorrindo de nervoso. Está frio, muito frio.

— No dez nós corremos e saltamos. — Sugere, Jin.

— Demorado demais, vamos no cinco. — Tae rebate.

Go, go. — Jisoo está impaciente.

Sopro um riso, sentindo o aperto em minha mão por parte de Hoseok, esse cagão está se borrando de medo de levar uma baita bronca dos supervisores.

— Um.

— Dois.

— Três.

— Quatro.

— Cinco.

Encerrada a contagem, um puxou o outro que puxou outro e nos fez correr como loucos pelo gramado, o riso era constante e eu me via sem ar enquanto corria em direção à piscina, na beira dela eu salto em conjunto aos meus amigos, afundando para dentro da água extremamente gelada.

As bolhas subiam e as minhas vistas estavam embaçadas, pois não fechei os olhos, eu nadei um pouco antes de emergir, voltando à superfície. À minha frente estava Hoseok, absurdamente ensopado, jogando os cabelos para trás tal como eu fiz, logo depois eu via a piscina estar repleta de meus amigos, rindo da presepada que havíamos feito.

— Entrou água em meu nariz. — Jin lamenta.

— E eu que pulei de barriga? Não sinto nenhum de meus músculos. — Assisto Tae choramingar.

Andando com dificuldade pela água, eu me encosto-me à borda da piscina, apoiando meus cotovelos no piso de pedras, meu olhar semicerrado encara o ponto pelo qual nós vimos, enxergando a presença do grupo da Rock Máfia. Os membros nos flagraram aprontando, mas antes eles do que os supervisores. Tombo minha cabeça para o lado, observando Dândi ao lado de Oliver e Perrie, ele me encara com o cenho franzido enquanto se aproxima. Sorrindo em minha direção, o vampiro vem em meu rumo, abaixando-se quando estamos cara a cara.

— Não cansa de aprontar? — Indaga. Aceno em negação. — Danado.

Oliver, que se aproxima junto a sua namorada, pisa perto de minha mão, cerro meu olhar, crucificando o mafioso encrenqueiro.

— Aê, você não tem mais o que fazer, franguinho?

— Não.

— Jimin, você estava uma gracinha de bata, o achei um fofo durante a cerimônia. Parabéns. — Perrie, em sua simpatia que eu aprecio, murmura.

— Obrigado, que bom que gostou, eu estava uma pilha de nervos. — Afasto minhas mãos do piso para enfiá-las na água.

— Você se saiu muito bem. — Afirma.

Sorrio para a loira, desviando meu olhar para meu grupo de amigos que mantinham contato com o restante dos mafiosos. Lisa e Jennie estavam grudadas, conversando, a vampira tentava desviar dos respingos que a líder de torcida jogava em sua direção.

Soube que elas estão no caminho para algo mais profundo do que uma mera amizade. E eu estou sabendo disso há muito tempo, no entanto, permaneço como um telespectador fiel, aguardando algo finalmente acontecer.

— Venha, você acabará pegando um resfriado. — Dândi pede, movendo-se para levantar. A estrutura física de meu homem, à minha rente, é alta, mas ele me estende a mão, pego-a e impulsiono meu corpo para sair da piscina. Estou transbordando água. — Está frio demais para você ficar dessa maneira, Park.

— Você acha que está esse mesmo frio em Los Angeles? — Questiono, olhando de soslaio para o mafioso.

Em resposta, Dândi arqueia o cenho, congelando-o no tempo por alguns segundos, os quais me encaram e analisam. Presumo que esteja descrente de minha pergunta ou indagando a si próprio o que ela significa.

— Bem... — Suas pálpebras piscam. — Não tanto. O que isso significa?

— Que talvez eu não precise de tanto agasalho assim quando formos para lá.

O chefe da máfia me lança um sorriso selvagem, obviamente satisfeito com o que lhe fora dito, afinal, teve seu convite aceito por mim. Devo dizer; é um baita convite e eu não poderia fazer desfeita, não quando passei os últimos meses enfiado no inferno, desejando apenas um pouco de paz, talvez ela venha agora. Talvez esteja em LA.

Ou onde quer que Dândi e eu estejamos, desde que juntos.

— Sua mãe pediu que a levássemos para casa. — Ele diz, retirando o paletó que veste. — Tire suas roupas e o vista. — Indica a peça, mas antes disso, Jeon me leva para longe de onde estávamos para que eu possa retirar minha roupa molhada. — A deixaremos em casa e partiremos para LA.

Enquanto eu me livro das vestimentas encharcadas, Daniel vai em busca de meus sapatos e meu celular, que eu havia deixado no gramado, pouco antes de pular. Quando ele retorna, eu já tinha vestido seu paletó, tremendo-me dos pés a cabeça por estar sob posse somente dele. Minhas pernas estavam à mostra e elas tremiam, além de minha boxer estar molhada.

— Como farei com a minha mãe? Tenho que dizer a ela... — Bato o queixo, sentindo frio.

Outra vez Dândi se afasta, seguindo até Oliver, ele demora um pouco, mas quando volta está com outro paletó, o qual me estende.

— Use em volta das pernas. — Indica. Ah, que trabalhão. — Falei com sua mãe há uns dias, ela permitiu.

— Como? — Abismado, eu inquiro.

— Ela nos enxerga como namorados, chéri. Aceitou de bom grado, além do mais, eu mencionei se tratar de um presente de formatura. — Dândi envolve seu braço em meus ombros, puxando-me para me alinhar ao seu corpo.

— Somente você faz com que minha mãe relaxe.

Caminhando com Daniel, eu ainda aceno em despedida para meus amigos, acredito que eles saibam o meu destino agora, pois retribuem com assobios e falas mais do que desnecessárias. Faço uma careta e me retiro, de fato, com Vitale. Nós refizemos o percurso até a entrada do colégio, onde mamãe nos aguardava na companhia do segurança de Dân, o qual eu suponho que tenha dito ser um amigo, uma vez que minha mãe não faz ideia sobre a máfia.

— Ela me fez prometer que cuidaria muito bem de você, oh, além de ter me enfiado em uma conversa intima demais para genro e sogra. — Vendo os lábios de meu homem, me deparo com um sorriso sem vergonha.

— Ah, minha nossa, o que ela fez?

— Somente quis saber se as minhas intenções não se baseavam em sexo. — Faço uma careta, imaginando o clima da conversa. — Ela estava com receio de que eu tivesse planejado essa viagem apenas para dormir com você.

— Gente, mas que ingênua, você tem me comido antes mesmo de sonhar com a minha formatura. — Murmuro, acenando em negação. Cada coisa.

Embora Dândi tenha rido, ele não replica algo. Nós encontramos minha mãe que, inevitavelmente, checou-me dos pés a cabeça, franzindo o cenho ao me ver como eu estava, somente com um paletó me cobrindo. Sorrio de lado, nervoso.

— O que houve com você?

— Mergulhei na piscina com meus amigos. — Respondo, olhando na direção de onde tinha vindo.

— Jimin, você pegará um resfriado, menino sem noção. — Mamãe alcança meu braço, segurando-o enquanto tenta me esquentar com o paletó de Dândi, o de Oliver permanecia cobrindo as minhas pernas que tremiam sem parar.

— Vamos para o carro ou eu me tornarei uma pedra de gelo. — Digo, batendo queixo.

Acenando em negação, Dândi esboça um sorriso minimalista, marchando em direção aos portões de saída do colégio, uma vez que passamos por ele nós seguimos até o carro do mafioso, o qual é destravado e minha mãe entra, ocupando o banco do passageiro e eu o da frente. Dândi entra no veículo e o liga, ligando também o aquecedor.

Tiro proveito do ar quente, suspirando em deleite enquanto cubro minhas pernas. Meus cabelos estão úmidos e a ponta do meu nariz está gelada, por Deus, é cada invenção cometida.

— Você já disse a Jimin sobre seu presente de formatura, Jeon? — A Park indaga.

— Ah, sim, Jimin está ciente. — Diz. — E aceitou.

— Espero não estar ficando louca por permitir algo nesse nível, eu me preocupo tanto. Jimin, se comporte, você sabe meus avisos. — Assinto veemente, fazendo caretas. — Jeon pode ser um fofo, mas vocês dois são jovens demais.

— Mãe, correrá tudo bem, serão apenas... Oh, quantos dias? — Inquiro a Dândi.

— Quatro.

— Isso, quatro dias.

Sorrio, volteando meus olhos pela rua iluminada pelos postes, circulei meus dedos em torno do cinto de segurança e pensei a respeito da viajem, especialmente sobre a preocupação de minha mãe. Céus, imagine se ela soubesse de minha ida à Itália? Caramba, ela quebraria essa droga de maldição e conseguiria me matar facilmente com pauladas. Torço para que ela nunca descubra, talvez daqui uns cinco anos, quando eu estiver fora de casa e com minha vida feita, então eu direi sobre esse tópico aventureiro.

Daqui uns cinco anos, quando eu estiver fora de casa e com minha vida feita... Por Deus, que piada. Eu não estarei aqui para viver isso.

— Bom, farei com que Jimin se divirta. LA é minha segunda casa, conheço-a como a palma de minha mão. Costumo fugir para ela quando estou fatigado de minha existência aqui ou em qualquer outro lugar. — Dândi explica.

— Você é um rapaz muito viajado, não é, Jeon? — Curiosa, minha progenitora indaga. — Seu requinte não me deixa mentir.

— Eu estaria aqui para dizer o contrário. — Embora focado na estrada, Dândi se prontifica a responder minha mãe. — Passei grande parte de minha vida alternando entre um país e outro, algo de bom eu tinha que tirar disso.

— Jimin nunca me disse sobre sua família ou com o que você trabalha, mas de alguma forma, sem ter informações essenciais sobre sua vida, eu confio a de meu filho em suas mãos.

— Particularmente, eu me sinto lisonjeado com sua confiança, acredite, farei o possível para honrá-la. — Refuta. — Apenas meu tio está vivo, meus pais não mais estão entre nós. Eu trabalho com exportação de carros, no entanto, meu tio Olavo deseja que eu me junte aos negócios da família, um império de vinhos. Possuímos algumas vinícolas pela Itália.

Mesmo quieto, foco no que é conversado entre minha mãe e meu homem, sendo pego de surpresa pelas ultimas palavras de Dândi em relação ao seu tio e os negócios da família.

— Sério? — Agora sou eu a questionar. — Olavo tem planos para você, então? — Sorrio de lado. — O que achou da ideia?

— Uma máfia de vinhos não me parece tão ruim assim, chéri. — Baixinho, ele diz, dando-me uma piscadela. Vitale limpa a garganta e prossegue: — Estou pensando a respeito, não é algo por agora, de imediato, então posso pensar livremente, sem pressão.

— É uma oportunidade e tanto. — Minha mãe diz. — Jimin está ansioso para cursar Cinema, não é, querido?

Desvio meu olhar da rua para minha mãe, assentindo em confirmação: — Saí de uma dor de cabeça para entrar em outra. — Resmungo.

— E entrará muito bem, loirinho. Seus objetivos são fantásticos.

— Não vale, você sempre me apoia. — Rolo os olhos, sorrindo.

— Você faz o mesmo comigo e, convenhamos, os meus objetivos são peculiares.

Faço uma careta, rindo ao me lembrar do currículo extenso de Dândi. Permaneço em risos até que minha casa surja em meu campo de visão, denunciando que havíamos chegado. Desfaço-me do cinto de segurança e espero até que o carro esteja estacionado, abro a porta quando me é permitido e saio, saltitando pela calçada, fugindo do frio que volta a bater em meu corpo gelado.

Um instante depois mamãe aparece, abre a porta e eu entro, correndo pela casa e subindo as escadas para tomar um banho quente e me vestir corretamente para a viajem que enfrentaria ao lado do mafioso. Quando invadi meu quarto, arranquei o paletó e a peça íntima que me cobria, corri para o banheiro e me enfiei na ducha, me deliciando com a quentura da água. Não podia deixar de pensar no quão ansioso eu estava para viajar com Dândi, para conhecer um pouco mais de seus inúmeros lados, agora em Los Angeles.

Ah, isso é tão chique, eu diria que não tenho roupa para tal ocasião, mas até disso Dândi cuidou quando me encheu de roupas. Sentia que, finalmente, eu tinha um sugar daddy.

— Jimin, eu coloquei alguns casacos e toucas para você. — Diz minha mãe.

— A senhora arrumou a minha mala? — Indago, fechando os olhos e tombando minha cabeça para trás quando um jato de água bate contra meu rosto.

— Sim ou vocês se atrasariam, você é enrolado demais. — Replica.

Finalizo meu banho e deixo a ducha, pego por uma toalha, amarro em meu quadril e saio do banheiro, voltando ao quarto e me deparando com minha mãe verificando minha mala.

— São somente quatro dias, mãe. — Digo, observando a quantidade de coisas que ela havia colocado.

— E daí? Não sabemos a programação de Jungkook, é bom que você vá preparado.

Arqueio o cenho, acenando em negação, por mais, me seco e procuro uma roupa bonita. Dândi não está no quarto, concluo que tenha optado por bancar o bom moço e esperar por mim na sala. Ah, esse engomadinho é cheio de cartas na manga e sempre, sempre, sempre se fará de bonzinho na frente de quem ele julga ser necessário enganar.

Às vezes, até eu mesmo caio.

Visto-me confortavelmente e arrumo meus cabelos, finalizando com um perfume. Mamãe saiu do quarto e levou minha mala já feita, permaneço no cômodo por mais alguns minutinhos, olhando-me aleatoriamente no espelho. Os fios ruivos de meus cabelos ainda me chocam, pintei hoje cedo, desejando dar uma diferenciada em meu visual e, consequentemente, resgatar um pouco de minhas raízes como ruivinho rebelde.

Suponho que tenha dado certo, embora seja temporário, gosto de ser loiro.

Decido deixar o quarto para não ser a causa de qualquer demora – mais do que já era, desço as escadas e vou até a sala, onde minha mãe e Dândi estão. Nela, tenho a visão da matriarca ditando as regras para Dândi, o homem não deve aguentar mais, a prova disso é que ele levanta do sofá assim que me vê.

— Mãe, pare de atentar Dândi. — Murmuro, vendo o vampiro pegar minha mala. Puxo meu celular e checo a hora, está perto da uma e meia da madrugada. — O coitado não suporta mais.

— Tarefas de uma mãe. — Ela se defende. — Tenha cuidado, meu anjo. Ligue-me quando chegar ou se precisar de algo.

— Vou precisar que você aproveite essa folga sem eu aqui, isso sim. — Rebato, acredito que ela vá adorar minha ausência. — Não se preocupe, eu ficarei bem.

De onde estou eu olho para Dândi parado na porta de entrada de minha casa, me despeço de minha mãe com um abraço e um beijo, então sigo até o chefe da máfia, como eu, Daniel se despede de mamãe, reafirmando pela milésima vez que cuidará perfeitamente de mim. A Park gosta genuinamente de Dân, mas eu estou metido no meio e ela jamais deixaria preocupações de lado.

Saio de casa na companhia do mafioso, e corro para o Audi, ansioso pelo que nos espera, louco para curtir esses dias com meu homem na cidade do pecado.

O veículo é destravado, eu abro a porta e entro, afundo-me no banco e solto gritinhos animados, estando em completa animação para o meu destino pós-formatura. Acompanho por olhar Dândi fazer a volta no carro, ele entra e deixa a mala no banco de trás, logo ocupando o seu, liga o automóvel e, pela janela, vejo minha mãe acenar. Devolvo o aceno, então o italiano manobra o carro para longe de minha residência.

— Você é adorável quando animado, danado. — Observador, Dândi comenta, soprando um riso silencioso.

Seus olhos selvagens estão filtrados na estrada de pouco movimento, brincando de ultrapassar alguns carros que invadem nosso caminho. Estou agitado e não posso conter isso, absurdamente maluco com o fato de que estou prestes a ir para Los Angeles depois de, uma semana e alguns dias, ter retornado da Itália.

Essas coisas me assustam, mas me deixam tão... Argh, insano e ansioso, claro, no sentido bom.

Todavia, não é somente por isso.

— Estou conseguindo me incluir em seu mundo aos poucos, Dân, você não sabe o quão bem me faz entender como funciona a sua existência. — Pondero um sorriso, pois quero transparecer seriedade. — Precisei de paciência, muita paciência, na verdade, ainda preciso. Nós estamos indo com calma e eu acho que todo o tempo que passamos juntos, então separados, para depois nos reerguermos ajudou e tem ajudado. Claro, eu sei que posso me surpreender pra caramba com qualquer coisa que venha de você, do mais simplório ao mais bombástico, porque tudo que te envolve é grandioso e eu ainda não aprendi a montar um quebra-cabeça de seis mil peças. — Ele entende minha referência, desvia o olhar da estrada e sorri em minha direção. — Mas com a sua ajuda eu conseguirei finalizá-lo.

Daniel alcança a minha mão, entrelaçando-a com a sua e levando-a aos seus lábios, ele deixa um selar, volteando seu olhar para a pista. Nós estávamos rumo à pista de pouso e decolagem, a mesma de quando fui para a Itália. Presumia que fôssemos utilizar o jatinho particular da Rock Máfia.

— Eu fico feliz que você esteja se habituando, mas, de qualquer forma, não é sua obrigação filtrar todos esses acontecimentos que te levaram a descobrir meu mundo. Sendo fodidamente honesto, se você não soubesse sobre ele, ainda seria gracioso que vivêssemos juntos. No entanto...

— No entanto, seria uma experiência menos emocionante. Imagine não saber quem você é verdadeiramente? Nós dois jamais poderíamos ser, juntos, uma explosão fodida de selvageria. — Sorrio de maneira minimalista, recordando de quando Dândi me disse isso no dia em que nos beijamos pela primeira vez.

— É, você tem razão.

— Eu sei qual é o seu medo, o maior deles, é a minha vez de te pedir para ter calma e paciência. Nós conseguiremos resolver essa merda como resolvemos tantas outras. — Permito que meu olhar navegue pelas ruas iluminadas por luzes que bagunçavam as minhas vistas, não dura muito, deixo que meus lumes voltem a ter Vitale como foco principal.

— Como pode me pedir para que seja calmo e paciente quando até mesmo você perde a cabeça com isso, hm? — O mafioso me encara travesso, sei que é para manter a conversa sem um clima tenso, como de costume.

— Eu posso, você não. — Decreto o óbvio. — Você veio carregando muitas complicações antes que nos reencontrássemos, Mr. Vitale, agora está na hora de reduzir essas bagagens optando por dividi-las comigo. Parece-me justo. — Subo minha perna, apoiando meu pé no banco, folgadamente.

Lo so. Acho que eu só me habituei a tentar te proteger tanto, por isso acabei não sabendo o limite, não tendo a noção exata de quando parar.

— Estou aqui para te ajudar com isso, você sabe. Nós somos o equilíbrio perfeito, não tem outra, cara, sai dessa. — Brinco, fazendo uma careta, apertando os dígitos do vampiro junto aos meus.

Em refutação, meu homem abre um sorriso espontâneo, dirigindo em alta velocidade pela pista lisa, acelerando a cada momento somente para me fazer agarrar a borda de segurança, sufocando exclamações para não soar como um desesperado. Eu não costumo ter muito medo de carros velozes, eu gosto, mas estar sob controle de alguém nunca me pareceu a melhor das opções. Talvez eu seja melhor no volante ao invés de deixar que outro alguém o comande.

— Eu espero que você se divirta em LA, meu amor. É de minha suposição que você vá adorá-la. — Murmura. — Aliás, gostou da Itália?

— Hmm, sim, muito! Ela me passa algumas sensações... Óbvio, pela existência passada. Eu não consigo estar cem por cento firme com meus pés e pensamentos sobre ela, porque minha mente me faz imaginar o que eu vivi em minha antiga vida. — Procuro formular uma boa resposta.

— Bem, como eu já deva ter dito muitas vezes antes; você a idolatrava, quis o melhor para o povo, lutou bravamente por isso. Chéri, nós éramos jovens demais, bravos, alucinados pela vontade de mudanças. Você foi um excelente líder para os Reve'ls, embora eu tenha ido e ficado um tempo no inferno, eu sei que seu bando continuou a emplacar seus ensinamentos, lutaram e conseguiram tantos feitos. Você marcou uma Era.

— E eu quero marcar novamente, mas agora, nessa. — Molho meus lábios, não pensando muito a respeito do que digo, apenas vou soltando. — Eu sinto isso em meu peito, quero fazer a diferença, quero lutar por algo que, caramba, eu não faço ideia ainda do que seja.

— Ainda. — Ele ressalta.

— Isso! Ainda! — Exclamo, movendo meus olhos para pegar a expressão de Daniel, até mesmo solto minha mão da sua para pode me expressar melhor. — Você entende que mesmo eu tendo tanto medo de que minha vida realmente acabe aos vinte anos, eu sinto, dentro de mim, a sensação de que não é como verdadeiramente acabará? — Indago. — Eu sei que estou amaldiçoado, sei que, perante a isso, minha existência não é longa e está milimetricamente contada, contudo, não é o que eu sinto em meu coração e mente. Isso ultrapassa e é por isso que eu peço que você tenha calma e paciência. Até mesmo Oliver me encorajou, disse que não queria que eu morresse.

— Isso é realmente uma surpresa.

— Eu sei, me pegou desprevenido, não esperava.

— Loirinho. — Ele chama, então encara meus fios vermelhos, rindo baixo. — Tsc, ruivinho... — Abro um sorriso. — Agarre-se nisso, eu tentarei fazer o mesmo, não prometo porra alguma, sou um fodido quanto a focar em ter otimismo. — Fala. — Se você diz que faremos dar certo, então nós realmente faremos dar certo.

— Temos tudo que precisamos para isso. — Pensativo, eu digo. — Não sei o que temos, mas temos, isso basta.

Apesar de meu momento ser puramente uma reflexão, Dândi não responde, em função disso, ele diminui a velocidade do carro, afastando um pouco o banco do motorista, seus olhos castanhos encaram os meus conforme ele mexe em alguns dos botões no painel do automóvel.

— Venha cá, venha para o seu homem.

A ordem suave em sua voz simplifica tudo e eu nem tento reter, apenas me desfaço do cinto de segurança e ultrapasso nosso curto espaço, movendo-me e sentando no colo do mafioso. Passo meus braços por seu pescoço e descanso meu queixo no ombro de Dândi, fechando os olhos quando disparo a suspirar.

— Eu amo você. — Digo.

É sempre tão bom dizer que eu poderia o fazer o tempo inteiro, sem cessar.

— Eu também amo você, meu amor.

— Ah, eu amo muito.

— Eu sei, eu sei. É impossível não me amar. — Deslizo meus lábios pela vestimenta social de Dândi, dando ao seu ombro uma mordida. — Ah, cacete, eu também amo muito você.

Sopro um riso, agora descansando meu rosto em seu ombro, o sono começava a me atingir. Tive um dia corrido e dormi muito pouco, eu tinha a plena certeza de que passaria o voo inteiro dormindo, completamente apagado.

— Obrigado por estar aqui e por me fazer tão bem. Obrigado por não desistir de mim. — Murmuro.

— Obrigado por fazer de minhas existências, da passada a essa, eternas e tão bem proveitosas. — Refuta. — Fiz planos para nós dois em Los Angeles, talvez você curta.

— É seu lado vampiro ou mafioso?

Mafioso, tesoro.

Mi piace molto. — Digo em resposta.

Dândi sorri, o carro segue. Estamos indo em direção aonde o pecado habita. 

🍒

Faltam dois capítulos até a segunda temporada. 

Nos vemos em Los Angeles, hehe!

Até mais.

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espero que gostem, essa é a minha primeira fic, desculpem pelos erros ortográficos 😉