No dia seguinte...
Estava terminando de arrumar minha cama quando Ângela entrou no quarto parecendo um pouco agoniada. Depois de ajeitar os travesseiros sobre o lençol, olhei minha amiga. Nem perguntei quem deixou ela entrar porque Bruno estava lá em baixo com as gêmeas. E ela já é de casa, então sua presença não causa nenhum incomodo ou estranhamento.
- Estou no meio de uma crise. - ela disse, e sentou no pequeno sofá perto da janela.
- Bom dia pra você também. - exclamei. - O que foi?
- Eu estou me sentindo mais sozinha que o normal. - contou.
- Não precisa se sentir assim, eu tô aqui. - falei.
E sempre vou estar para o que ela precisar.
- Eu sei, mas não estou falando sobre amizade. - explicou. - Beatriz não vai aparecer tão cedo e eu não tenho condições de ir até o país dela. Meus pais tem dinheiro, eu não. E ainda não consegui um emprego.
Finalmente entendendo o que ela estava querendo dizer, sentei na cama.
- Compra um vibrador. - aconselhei.
Ela sorriu.
- Eu tenho um, na verdade, toda mulher tem que ter um vibrador como todo mundo tem um sobrenome. - exclamou. - Você tem um, né?
- O assunto aqui não sou eu. Você que está no meio de uma crise, lembra? - falei.
Ela suspirou.
- Por que a única pessoa que eu gosto de verdade depois de muito tempo tem que morar tão longe? - estava frustrada.
- Eu posso te ajudar a ver ela...
- Não, você já me deu uma casa. Não posso aceitar mais nada. - falou.
Peguei um travesseiro e joguei em sua direção.
- Deixa de ser orgulhosa.
Ela pegou o travesseiro e jogou de volta.
- Eu agradeço, mas vou dar um jeito. - falou.
Sabendo que ela não ia aceitar mesmo, levantei e coloquei o travesseiro no lugar.
Nesse momento, meu marido entrou no quarto e notei que ele segurava uma pequena caixa. Parecia um presente, o que me deixou curiosa.
- Já que tem 90% de chance de vocês se pegarem, eu vou descer e fazer companhia pras meninas. - Ângela, falou.
- Pode ficar, a gente não vai se pegar. - garanti.
- Na verdade, aumenta essa sua porcentagem pra 100%. - Bruno disse, me contrariando.
- Está vendo? Tchau. - e minha amiga saiu do quarto.
Ficando sozinha com ele, olhei mais uma vez para a caixa.
- O que é? - perguntei.
- Não faz assim, pede com jeitinho. - exclamou, e claramente estava de bom humor.
- Meu amor, eu...
- Sim, seu amor. - me interrompeu.
- É sério, fala o que é. Eu estou cheia de coisa pra fazer. Escolhi arrumar o quarto primeiro, mas ainda tenho que dar um jeito na sala.
Ele deixou a caixa em cima da cama e parou na minha frente.
- Pra que esse mau humor todo? Eu cuidei tão bem de você hoje mais cedo. - ele tocou meu rosto e deu dois leves tapinhas como se tivesse me repreendendo, o que me fez sorrir. - Vai ficar sem presente.
- Para com isso. - pedi, e tirei sua mão do meu rosto. - E não estou de mau humor. Só quero saber o que é.
- Você me pediu uma coisa uma vez, lembra? - questionou.
Franzi o cenho tentando lembrar, e finalmente me recordei da foto do vestido que a Ângela me enviou um tempo atrás.
Bruno me deixou pegar a caixa e assim que abri, segurei o tecido do vestido sentindo a maciez. Era todo preto e perfeito para curtir uma festa.
- É lindo. - mais lindo pessoalmente que pelas fotos.
- Que bom que gostou. Você vai usar ele hoje a noite.
Deixei o vestido na cama e olhei meu marido.
- O que tem hoje?
- Sabe aquela boate que abriu no centro da cidade? Vou te levar nela hoje. - respondeu.
- Nossa, você realmente está me convidando para uma boate.
- Não é algo anormal. - falou.
- Eu sei, só achei que não me quisesse perto de coisas alcoólicas. - expliquei.
Tudo por causa dos últimos acontecimentos. Um deles envolvia um cemitério e uma garrafa de cerveja.
- Eu vou cuidar de você.
Sorrindo, me aproximei ainda mais dele.
- Então a gente vai dançar? - perguntei, já animada. - Faz tempo que eu não danço.
- Você não quer me ver dançando. - disse.
- Claro que eu quero. Não vale ficar parado com a cara empurrada.
- Vou estar muito ocupado agarrando você em algum cantinho escuro.
Rindo da sua resposta, eu guardei o vestido de volta na caixa para não amassar. Depois, quando fui passar por ele, Bruno segurou minha mão.
- As pessoas costumam agradecer depois de ganhar um presente.
Passando meus braços em volta do seu pescoço, abracei meu marido sentindo aquele famoso frio na barriga. Bruno me abraçou de volta com tanta força, que juntou nossos corpos me fazendo ficar na ponta dos pés.
- Obrigado pelo vestido, ele é lindo. - falei, e mesmo sem vontade, me afastei um pouco dele. - Agora estou te devendo algo.
- É um presente, você não tem que retribuir.
- Pois me aguarde. - falei.
Depois de me dar um selinho, Bruno começou a ir em direção a porta do quarto, mas pareceu lembrar de algo.
- Ah, esqueci de avisar. Marquei sua primeira aula de direção pra semana que vem. - contou.
- Você sabe que vou ser reprovada, né?
- Não vai, acredito em você.
Queria ter essa mesma fé em mim. Só que eu me conhecia melhor do que ninguém.
Espero não fazer o instrutor abrir um b.o contra minha pessoa.
Com o quarto já arrumado, encarei meu vestido em cima da cama pensando que hoje a noite vai ser inesquecível.
Como todas as noites que passo ao lado do Bruno.
Hum, vocês já sabem o que vem no próximo capítulo, né?