ESSÊNCIA (Jikook ABO)

By LuneInfinie

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[EM ANDAMENTO] Em uma sociedade desigual, Ômegas são marginalizados e culpados pela Vicissitude, uma doença c... More

🍁🍂AVISOS🍂🍁
🍂Trailer/Personagens/Playlist🍂
🍂 PRÓLOGO 🍂
Capítulo 01🍂
Capítulo 02 🍂
Capítulo 03 🍂
Capítulo 05 🍂
Capítulo 06 🍂
Capítulo 07 🍂
Capítulo 08 🍂
Capítulo 09 🍂
Capítulo 10 🍂
Capítulo 11 🍂
Capítulo 12 🍂
Capítulo 13 🍂
Capítulo 14 🍂
Capítulo 15 🍂
Capítulo 16 🍂
Capítulo 17 🍂
Capítulo 18 🍂
Capítulo 19 🍂
Capítulo 20 🍂
Capítulo 21 🍂
Capítulo 22 🍂
Capítulo 23 🍂
Capítulo 24 🍂
Capítulo 25 🍂
Capítulo 26 🍂
Capítulo 27 🍂
Capítulo 28 🍂
Capítulo 29 🍂

Capítulo 04 🍂

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By LuneInfinie

Boa noite, Lunezeirus! 🧡 Hj cheguei com vontade de distribuir umas borboletinhas pra guardar na barriguinha. Quem quer? Pode pegar! 🦋🦋🦋🦋🦋🦋🦋🦋

Hoje tem indicação de músicas que estão na Playlist (link na bio) plmdds escutem a música do Hurts (eu amoooo ela) aff

Nenens, tem gente que comenta lá nos comentários gerais (lá embaixo) e eu acabo não conseguindo vizualizar. Então comentem nas abas de comentários ao lado dos parágrafos. Tá pom? 🧡

No mais, estou com saudade dos comentários de vcs, de cada surtinho, de cada coisa linda que aparece por aqui. Eu roxo vcs! Boa leitura! 🧡

#perfumedelobo


A personalidade do meu lobo é diferente da minha, mas para saber identificar como ele é, preciso primeiro saber quem eu sou.

Como vou perceber em quê somos diferentes ou parecidos se eu sequer tenho um pensamento formado, ou uma opinião convicta sobre as coisas que me cercam?

Quero defender mais as minhas verdades, por isso sempre volto a me perguntar: Até onde o que eu penso é fruto das minhas convicções, ou consequência do que me impõem?

Depois que discuti com o Félix, me senti mal. De alguma forma me identifico com aquele ômega albino, porém o meu orgulho falou mais alto.

Justo no mesmo dia, o professor Jeon Jungkook me chamou de orgulhoso. Pelo menos não arruinei minha aula também. Ela foi bem produtiva, nunca imaginei ver um sorriso marcando o rosto bonito daquele alfa. Justo quando eu já estava pensando que não iríamos nos dar bem nunca.

O professor recomendou que eu continuasse olhando para o espelho já que deu tão certo na primeira vez em que eu até senti a atmosfera mudando ao meu redor. Segundo ele, devo conversar com o meu lobo ainda que ele não me responda. Porque os lobos gostam de ver que queremos contato com eles, não devo ter medo.

É por isso que depois da aula fui correndo para o meu quarto, tranquei a porta, sentei de frente para o meu espelho, e decidi "puxar conversa" com o meu lobo desconhecido.

Mas ainda estou aqui em pose de índio, encarando o meu reflexo sem saber o que dizer.

Passo alguns minutos no silêncio, mas como estou sozinho, decido desabafar sobre o que ando sentindo.

ㅡ Oi, meu lobo... não sei você, mas eu ando meio chateado... às vezes sinto como se eu fosse o bichinho de estimação do Gui e do Tigrão, que está sempre concordando com o que eles pensam.

Ainda não sinto nada, ainda não vejo nada, no entanto, continuo engasgado com alguns pensamentos. Quero falar porque estranhamente me sinto ouvido.

ㅡ Eu admiro pessoas de espírito livre, sabe? Que fazem o que querem de verdade. ㅡ Solto o ar dos pulmões frustrado. ㅡ Eu nem tenho coragem de dizer aos meus pais que não quero ser responsável pela Império Divino, no futuro.

Jogo todos os fios castanhos que consigo para trás, com os dedos, sem tirar o olhar do espelho, e dou continuidade ao que é a minha confissão mais sincera até agora.

ㅡ Eu discuti com aquele ômega que tem tantos motivos para ficar calado e evitar problemas pra ele, mas mesmo assim defendeu o que pensa. Acho que eu o invejo... aliás, eu o admiro por isso. É errado demais admirar um ômega?

Nesse momento sinto um calafrio que surge na base da minha coluna e se estende até a raiz dos meus cabelos, quando também vejo meu espelho reluzindo somente na parte onde minha imagem é refletida.

Dura apenas alguns segundos porque alguém bate na porta enquanto gira a maçaneta, desfazendo toda a atmosfera que me cerca.

Pisco atordoado, mas logo me levanto e vou até a porta assim que ouço a voz de Youngae.

ㅡ A janta está pronta, príncipe. Desça, estamos te esperando. ㅡ Minha mãe parece surpresa quando me vê pela brecha da porta. ㅡ Está tudo bem aí? ㅡ Ela estica o pescoço querendo ver algo, mas eu não deixo. Tenho medo que ela veja o espelho descoberto.

ㅡ Está sim, rainha, já vou descer. ㅡ Beijo sua testa e vejo seu sorriso de concordância antes de vê-la sair da minha frente.

Volto ao interior do quarto apenas para cobrir o espelho com sua capa vermelha, em seguida desço para a sala de jantar e sou servido com carne assada, arroz com cenoura, e purê de batata com couve.

Meus pais também ouvem falar que carne atiça o lobo interno do ser humano, mas não ligam, acham a crença meio ultrapassada. Ainda assim, comemos carne animal no máximo duas vezes por semana.

ㅡ Filho, tenho uma novidade... ㅡ Seungwoo inicia um assunto, sua animação prende a minha atenção. ㅡ Fui convidado para estar no programa Arte Alfa amanhã. Querem que eu fale da linha Essência de Alfa.

ㅡ Sério? ㅡ Abro a boca impressionado e feliz. Não é a primeira vez que meus pais falam sobre a Império Divino na televisão, mas essa nova linha está fazendo muito sucesso. ㅡ Que bom, pai. Você também vai, mãe? ㅡ Direciono minha atenção a ela agora.

ㅡ Não meu amor, alguém tem que ficar de olho na loja e no laboratório. ㅡ Seu sorriso ameno me diz que talvez não seja esse o motivo pelo qual ela não quer ir.

Mesmo sendo a outra dona da empresa, minha mãe é uma beta. Sempre que vão falar com o casal, dirigem-se ao meu pai e, mesmo que ele sempre inclua a esposa em tudo, e até mesmo responda algum comentário tortuoso à altura, eu sei que ela se sente constrangida e muitas vezes quer se poupar e poupar o marido do estresse causado pela diferença de raça.

ㅡ Assim que recebi o convite disse que minha esposa também iria, mas a sua mãe disse que prefere não ir, se conseguir convencê-la te dou a chave do carro no fim de semana.

ㅡ Rainha... ouviu, né? Olha só, agora eu tenho mais motivos ainda pra insistir que você vá.

ㅡ E o que você vai fazer no fim de semana, príncipe, que vai precisar do carro? ㅡ Eu não tenho um lugar para ir, mas se ela souber pode achar que não é importante ter o carro só para mim por dois dias e negar o convite para ir ao programa também.

ㅡ Eu combinei de sair com os meus amigos. ㅡ Dei um sorriso dissimulado, logo sendo alvo do olhar cúmplice do meu pai.

ㅡ Ok, ok... eu vou ao programa amanhã.

Meu pai e eu fazemos um "toca aqui" com as mãos, e terminamos nosso jantar satisfeitos porque no dia seguinte quem ficar com nariz torto por causa da presença da minha mãe, vai ter que engolir.

Youngae merece receber reconhecimento em público, ela é tão dona da Império Divino quanto Seungwoo, e só não é idolatrada como ele por ser uma beta, porque o mérito dos dois é igual.

Será que é assim que os ômegas se sentem quando não recebem uma oportunidade de trabalho, ou de estudar, apenas pelo motivo de serem ômegas?

As pessoas vivem dizendo que eles são arruaceiros, impiedosos, envolvidos com tudo o que não presta. Então por que eles reivindicam o direito de estudar? Quem é envolvido com o crime, em tese, não se importa em estudar.

De repente me incomoda a possibilidade de eu estar sendo injusto. De forma inusitada e inesperada, surge em mim, um sentimento de indignação que não sei de onde vem. Contudo, ele permanece em meu peito durante a noite até quando eu pego no sono.

E eu tenho um sonho.

Um sonho, não. Um pesadelo.

Estou na rua de uma cidade que eu não conheço. É noite, as luzes dos inúmeros postes quase me cegam. E um lobo corre atrás de mim.

Ele é ágil, seu corpo de pêlos pretos com um brilho azulado corta o vento, os olhos azuis se fixam em mim o tempo todo em que eu dou passos para trás, tentando achar uma saída.

Mas percebo que, quando decido correr, tentando me afastar, apenas volto para o mesmo lugar de início, onde vejo essas luzes ofuscando minha visão.

E o animal feroz me ataca.

Como se eu fosse sua presa, ele sobe em mim, derruba-me no chão, e me mantém preso com uma pata. Com a outra, o lobo arranha meu peito, rasgando o tecido branco da blusa fina, e deixando a marca de três unhas na pele que sangra.

Quando sinto a ardência característica da pele sendo machucada, acordo.

Resfolego espantado com a impressão realística do sonho. Passo a mão na testa suada, afastando os fios castanhos que grudam nela, enquanto tento me conscientizar de que estou na minha cama, e nada foi real.

O curioso é que, meu peito ainda arde. E, quando puxo a gola do pijama para baixo, vejo que a marca das garras do lobo está aqui, na vertical do meu peito. É apenas uma mancha, não um arranhão que sangrou como no sonho, mas é o suficiente para me causar pânico.

O que está acontecendo? Eu estou ficando louco depois de ter tentado duas vezes entrar em contato com o meu lobo? O professor Jeon não me disse que isso poderia acontecer.

Era o meu lobo no sonho? Ele tem a pelagem preta azulada? Eu não entendo, só consigo me sentir assustado. Queria alguém para falar sobre isso, mas a única pessoa que sabe que estou fazendo essa loucura de tentar encontrar minha alma lupina é o professor Jeon.

Olha só, eu não tenho seu número. Sei que o meu pai tem, mas não me acho com intimidade o suficiente para ligar para o Jeon tarde da noite.

Quando tempo demais se passa, a calma não encontra lugar dentro de mim, mas a sensação de pânico já não me assola mais. Decido então tentar dormir e esquecer esse episódio, assim como decido que no dia seguinte vou perguntar a opinião dos meus amigos sobre esse assunto.

Sempre dividimos tudo, não é agora que vou esconder algo deles.

🍂🍁🍂

ㅡ Então quer dizer que além de você ter ajudado o omegazinho, ainda levou sermão dele? ㅡ Tigrão ri de mim em plena quarta-feira, na frente de todo mundo no ônibus quando estamos indo para a faculdade.

E não me importa se "todo mundo" seja apenas um grupo de 6 alfas no fundo do ônibus. Porém, não vou fazer grande caso disso. Eles podem ter ouvido, ok? Mas estou feliz demais que o meu amigo tenha passado em minha casa para irmos à aula, sem ressentimento.

ㅡ Se você me ouvisse mais, não estaria passando por essas, chuchu.

Eu não sinto arrependimento por ter ajudado o Félix. Se cheguei a sentir ontem, hoje não mais. Sinto vontade de me aproximar dele, de conhecê-lo. Será o meu lobo manifestando suas vontades, como meu professor de canto falou que poderia acontecer?

Penso se devo comentar sobre isso com o Tigrão, no entanto, uma figura de cabelo roxo com as pontas azuis, blusa preta, justa e calça vermelha, frouxa, de tecido leve, entra no meu campo de visão. É Kim Seokjin e seu aroma de lavanda, fresco, invadindo o ambiente.

ㅡ Helo... ㅡ Ele cumprimenta a mim e ao Tigrão, de pé no ônibus, porém a reação do meu amigo é apertar sua mochila contra o próprio corpo, desconfortável. Percebendo, Seokjin arqueia uma sobrancelha. ㅡ Ih, look de hoje: Estressado ㅡ murmura olhando para Tigrão, depois decide falar apenas comigo. ㅡ Como está your friend que machucou o rosto yesterday?

ㅡ Ele não é meu amigo, só o ajudei.

ㅡ Claro, por que one omega seria friend de one alfa?

Viro o rosto para o lado numa negativa que logo seria explicada, se não surgisse outra questão nesse momento. Noto o grupo de alfas no fundo do ônibus conversando entre si enquanto olha de forma maliciosa para o enfermeiro de pé ao meu lado. Um deles faz um gesto obsceno de pegar no próprio membro, encarando Seokjin.

O enfermeiro percebe, e revira os olhos. Ou já está acostumado e apenas ignora, ou faz isso porque é apenas um ômega contra seis alfas. Provavelmente se reclamar com o motorista nada será feito a respeito.

A raiva e indignação que surge dentro de mim não pode ser mensurada nem explicada, então nem tento.

Tigrão, completamente alheio à situação, apenas mexe em seu celular, entediado. Quantas vezes eu também fiz isso?

ㅡ Você vai descer no ponto da universidade? ㅡ questiono porque a parada onde vou descer já está quase chegando e eu sinto que não posso deixá-lo para trás.

ㅡ Not, estou plantão no hospital, today. Quer ver uma coisa incredible? ㅡ Inesperadamente o ômega alto e magro retira uma seringa com agulha encapada da sua bolsa e a exibe não apenas para eu ver. ㅡ Essa agulha aqui is contaminada, i have agilidade e prática suficiente para enfiar ela no pescoço de qualquer idiot que mexer comigo.

Eu abro a boca, até mesmo a atenção de Tigrão é reivindicada pelo tom firme e o volume alto da voz do enfermeiro. Os alfas no fundo do ônibus começam a disfarçar e mudar o foco da conversa deles.

ㅡ Então não fique preocupado, darling.

ㅡ Não estou preocupado. ㅡ Tento soar indiferente mas ele ri, facilmente desvendando a verdade por trás do meu tom desinteressado.

Quando volto a olhar para o enfermeiro, não consigo deixar de evidenciar meu horror quando abro a boca, inacreditado por não ter percebido algo antes.

ㅡ Você é um ômega harmônico... ㅡ Não é uma pergunta, constato.

ㅡ Congratulations por perceber. ㅡ Voltando a guardar a seringa de origem duvidosa na bolsa, ele mexe no seu cabelo bicolor. ㅡ Estou em processo, mas yes, que dizer sim. I am. O único de Karmania, inclusive.

ㅡ Legal. ㅡ Sem perceber, sorrio empolgado demais. Tal gesto parece incomodar meu amigo ao meu lado, que logo se levanta e me puxa pelo pulso.

ㅡ Vem, chuchu, chegou o nosso ponto. ㅡ Tigrão fala comigo mas se levanta, encara o ômega de pé na frente da sua passagem, como se ele fosse um intruso. Em seguida, passa quase esbarrando em seu ombro.

ㅡ Até mais, Seokjin. ㅡ Tomo a liberdade de chamá-lo pelo nome, quando sou puxado para a saída do ônibus, sem nem mesmo conseguir arrumar minha mochila bege nas costas.

ㅡ See you later, guys... ㅡ E agita os dedos longos em despedida, junto de uma piscadela.

Quase tropeço em meus próprios pés quando sou forçado a descer rápido demais. Chateado, puxo meu braço contra o próprio corpo e travo no meu lugar, ao subirmos na calçada da rua larga.

ㅡ Pra quê tudo isso? Custa ser um pouco agradável? ㅡ É até esquisito dizer isso, porque ele é super simpático, mas com alfas e betas.

ㅡ Não consigo ser agradável com essa gente. ㅡ Tenho pena do lenço azul no pescoço do Tigrão, sendo puxado dessa forma quando ele fica desconfortável com algo. ㅡ Você não viu ele todo saidinho pra cima de você? Aposto que é porque o seu pai é dono da Império Divino. Esses ômegas são muito oportunistas mesmo.

ㅡ Ele só me tratou bem hoje, ontem até me chamou de magricela. ㅡ Ergo as mãos na defensiva, mas acabo levando-as ao nariz, esforçando-me para não espirrar quando Tigrão retira um dos seus inúmeros perfumes e borrifa o conteúdo na sua pele e roupa.

ㅡ Você é muito ingênuo, chuchu... Por sorte tem um amigo ciumento que percebe tudo. ㅡ Ele volta a guardar o perfume, e me segura pelo pulso novamente.

ㅡ Você tem mais ciúmes do Gui, do que de mim. ㅡ Olha só, eu lembro sem nenhuma intenção por trás, mas Tigrão comprime os olhos e abre a boca diversas vezes, preocupado demais em rebater.

ㅡ Não... não sei de onde você tira essas coisas. Vem, vamos logo para a aula.

Sei lá, viu.

Enquanto caminhamos pelos quatro quarteirões que nos levam à faculdade, vejo uma frase pichada na parede. Não é recorrente que isso aconteça aqui no bairro, por isso mesmo passo algum tempo analisando-a.

"Sempre lembraremos daqueles que o Estado assassinou".

Uma série de acontecimentos nesse dia fazem eu me impressionar com a forma com que minhas impressões, sentimentos, e pensamentos reagem a eles. Isso me inquieta.

ㅡ Enquanto você brinca de fazer novos amiguinhos, eu fui alvo daquele ômega mal encarado que fica me vigiando no supermercado, de novo, sabia?

ㅡ Você não tem vergonha de dizer por aí que está com medo de um ômega? ㅡ Provoco ele enquanto caminhamos já na entrada da universidade.

ㅡ Mas eu não estou com medo, nem dizendo por aí, só falei pra você e pro Gui ㅡ responde sem me olhar, em seguida inclina o queixo para cima. ㅡ Falando nele...

Olho na direção que Tigrão indica, e vejo Gui vindo até nós.

ㅡ Oi meus amores. Tudo certinho com vocês? ㅡ Ele nos cumprimenta com um abraços carinhosos, e caminhamos pelo corredor da entrada, percurso no qual minha atenção, despropositadamente é levada à sala de música.

E logo na entrada vejo ele. O professor Jeon Jungkook.

O Alfa está escorado na parede da entrada da sala, com os braços cruzados sobre o peitoral largo que se esconde sob sua blusa vinho, enquanto conversa com dois alunos que estão posicionados desnecessariamente perto demais do corpo dele.

Um dos alunos é uma menina que veste uma saia curta junto de um decote que ela quase esfrega no rosto do professor, enquanto usa cada oportunidade que tem para mexer no cabelo. O outro aluno tenta descaradamente parecer sexy quando morde a ponta de uma caneta, com sua atenção sempre no professor.

A cena que não deveria ter efeito algum sobre mim, contraditoriamente, faz-me lutar com todas as forças para conter um palavrão que ameaça sair da minha boca.

Sei lá, viu. Eu não me entendo.

Jeon Jungkook mantém uma postura distante, parecendo exatamente com o professor impessoal que conheci no meu primeiro dia de aula. Uma mecha de cabelo com o brilho azulado, único, se sobressai do rabo de cavalo que prende todo o resto, e recai sobre sua testa e nariz.

Apenas esse pequeno detalhe tem poder suficiente para prender minha atenção por segundos que se estendem até o momento em que as íris, de tom azul gelo, do professor encontram as minhas, castanhas.

Como magnetismo nossos olhares se prendem, e eu não consigo me preocupar se estou parado no meio do caminho que deveria me levar à sala de estudos. Apenas fico atento ao rosto desse alfa.

Parece que a tensão é grande demais para nos fazer sorrir em cumprimento.

Até mesmo seus alunos percebem. Jeon Jungkook também não desvia o olhar do meu, não até sua aluna do decote profundo bater uma palma animada com algo, fazendo-o piscar e olhar para ela como se despertasse de um transe.

ㅡ Ji, nós vamos nos ver hoje depois da aula? ㅡ Gui pergunta, pondo-se na minha frente.

ㅡ Claro...

Seguimos em silêncio e assistimos a "delícia" da primeira aula juntos, depois nos separamos para a próxima, e nos reencontramos no refeitório para almoçarmos juntos, como sempre fazemos.

ㅡ O que vocês acham dos alfas harmônicos? ㅡ Decido perguntar forçando um tom casual para não denunciar minha expectativa. ㅡ Vocês têm vontade de tentar?

ㅡ Bem, muitos tentam mas poucos conseguem. ㅡ Gui pondera, e cruza os braços em cima da mesa, perto do prato em que fez sua refeição. ㅡ Mas a persistência é o caminho do êxito, como disse Charles Chaplin.

ㅡ Não é simplesmente sentir seu lobo de vez em quando, chuchu, é como se vocês fossem um só e isso é quase impossível. É mais fácil ficar maluco, e meus pais dizem que não querem ter um filho doido... ㅡ Tigrão apoia a face bronzeada na palma da mão, e estreita os olhos verdes. ㅡ Vocês sabem que os lobos podem nos dominar e até fazer nos envolvermos com ômegas, porque é o instinto deles. Se você não tiver controle, é a receita para a derrota. Dá um certo medo.

ㅡ Meu professor de canto disse que se você tiver medo seu lobo não vai emergir. ㅡ Lembro quase imediatamente, e percebo os dois olhando desconfiados para mim.

ㅡ Qual, chuchu? Aquele professor que você disse ser um otário?

ㅡ Então... é esse mesmo, mas eu descobri que ele não é tão chato assim, só é muito sério.

Olha só, não é que eu esteja defendendo o professor, é que quando estou chateado tenho tendência a aumentar um pouco as coisas, e talvez eu tenha exagerado quando chamei ele de otário.

ㅡ E você perguntou a ele sobre esse assunto... dos lobos? ㅡ Gui indaga puxando as mangas da camisa xadrez.

ㅡ Um pouco...

ㅡ Chuchu, tome cuidado, não invente de se meter numa confusão dessa.

ㅡ Eu nem disse nada ㅡ respondo tentando disfarçar.

Pelo visto é melhor não falar que pedi ao professor para me ajudar. Ainda não. Quero ter resultados mais claros antes de confessar que me meti nessa.

Nesse momento somos pegos de surpresa por um alfa que aparece onde estamos e parece querer falar com o Tigrão, visto que é a este que se direciona.

ㅡ Oi Taehyung, é... você já tem uma dupla para fazer o trabalho de Sociologia do Dong Wook? ㅡ Posso jurar que os olhos pretos do garoto brilham. Ele arruma o cabelo da mesma cor, querendo estar mais apresentável. ㅡ Se não tiver, quer fazer comigo?

ㅡ Ah, eu já vou fazer com o Yoongi, desculpe, chuchu. ㅡ Ele responde de forma cuidadosa, da mesma forma como é gentil com "todos".

ㅡ Comigo? Eu ia combinar de fazer com o Jimin hoje depois da aula... ㅡ Gui une as sobrancelhas em confusão.

ㅡ Comigo? ㅡ Agora, sou eu quem pergunta surpreso.

A verdade é que nenhum de nós combinou sobre o trabalho.

A cara irritada que Tigrão exibe, quando mexe no seu lenço azul em torno do pescoço, me diz que meu amigo de cabelos loiros não está nem um pouco satisfeito com a resposta do meu amigo de cabelos pretos.

Eu me sinto no fogo cruzado. Como sempre.

ㅡ Vocês podem fazer o trabalho juntos, eu faço com o Félix. ㅡ Decido agora que vou chamar ele, já que ninguém vai querer fazer dupla com um ômega. Todavia, o alvo da irritação dos meus amigos se torna eu, quando os dois viram as cabeças para me fuzilar ao mesmo tempo. ㅡ Calma gente ㅡ peço com as mãos erguidas em defesa.

ㅡ Você vai fazer o trabalho com um ômega, Jimin? ㅡ Quem pergunta é o alfa que há segundos queria chamar a atenção de Tigrão.

ㅡ Acho que sim. É só um trabalho...

ㅡ Seu pai disse palavras tão bonitas hoje no programa Arte Alfa, sobre sermos uma classe superior. Você que é o filho dele, é idolatrado lá no departamento de Ciência Política, e no jornal da universidade, sabia? Me admira ver você querendo se aproximar de um ômega. ㅡ Ele conclui.

ㅡ Idolatrado? Não parece, ontem mesmo um grupo de alfas quis confusão comigo... ㅡ Eu sabia que era bem visto na universidade de Daelim, mas não chegava a ser tanto assim a ponto de me idolatrarem.

ㅡ Eu vi de longe quando você defendeu um ômega, e aqueles caras vivem dizendo que só vão descansar quando tirarem todos os ômegas daqui. ㅡ O garoto observa desleixadamente as próprias unhas, não dando muita importância.

ㅡ Que idiotas ㅡ respondo sem filtros, depois é que me dou conta que falei de forma tão natural.

ㅡ São idiotas em quererem fazer isso na base da força, mas eles pensam o mesmo que nós. ㅡ Tigrão comenta simplista. ㅡ Também queremos os ômegas longe daqui.

Sinto uma vontade, surgindo dos meus ossos, de dizer que ele não responde por mim. É um pensamento forte que quase se apodera do meu corpo inteiro, mas eu o contenho antes que minha boca despeje.

Não quero mais um atrito entre meus amigos num intervalo tão curto de tempo desde o anterior. O que não quer dizer que eu estou saltando de alegria, o incômodo de ficar calado é maior dessa vez, atingiu-me como nunca senti antes. Levado por um impulso eu me levanto, incomodado.

ㅡ Eu já vou. ㅡ Revelo sendo observado por três pares de olhos confusos. ㅡ Nossa próxima aula é separada, então eu... só quero me adiantar logo. Até mais tarde.

Parecendo um robô enferrujado, eu saio do refeitório, caminho ainda pelo térreo, e vejo novamente o professor Jeon conversando na frente da sala de música, após sua aula. Dessa vez são três alunos, diferentes dos que vi pela manhã.

Olha só, eu sei que é errado ouvir a conversa dos outros, mas saber disso não me impede de me esconder atrás de um pilar particularmente largo, perto da sala, para bisbilhotar só um pouquinho.

ㅡ Desculpem mas não dou o meu número pessoal para alunos. ㅡ Jeon responde o pedido de um dos alunos, mas se reportando a todos os outros. ㅡ Vocês podem tirar suas dúvidas na hora da aula, ou aguardar a aula seguinte.

Ele é cuidadoso o suficiente para não ser ríspido, mas distante o suficiente para mostrar aos alunos como quer que seja os limites da relação entre aluno e professor. Eu agradeço aos céus por não ter lhe ligado ontem, ou eu poderia facilmente ser interpretado como um aluno flertador.

Há algo de autodepreciativo em querer alguém inacessível como um professor, principalmente quando a fila de pessoas que o deseja é extensa. Então não entendo porquê alunos se iludem tanto com professores.

Quanto mais jovem e bonito, maior a concorrência.

Ainda divagando, sinto uma mão tocando o meu ombro, o que me faz ter um sobressalto imediatamente e conter um grito no fundo da garganta. Assim que me viro, dou de cara com as íris vermelhas do único ômega albino desta universidade: Félix.

ㅡ Que susto, caralho! ㅡ Contenho meu grito num sussurro, com o coração parecendo um tambor.

ㅡ Estava espiando o professor bonitão? ㅡ O ômega de cabelos sem pigmento estreita os olhos para mim.

ㅡ Que professor? ㅡ Sim, eu blefo mesmo, mas pego no braço dele e o arrasto até o fim do corredor, bem longe da sala de música.

ㅡ O bonitão que você estava espiando, já falei. ㅡ Ele finge impaciência e umedece os lábios antes de dizer: ㅡ Eu não sabia que alfas se interessavam assim por outros alfas.

ㅡ Do que você está falando?

ㅡ Que vocês alfas geralmente ficam com outros alfas e até betas, unicamente pra não ficarem sozinhos, porque são bons demais para ficarem com ômegas. Então não me admira ver alfa com alfa, mas você parece mesmo desejar o professor... ao menos é o que o seu cheiro diz.

ㅡ O meu cheiro? Como assim?

ㅡ Seu cheiro está mais picante do que suave, isso é sinal de interesse.

Cara, esse garoto é esquisito. Sei lá, viu.

Olha só, Felix provavelmente consegue sentir o meu cheiro real, forte dessa maneira, porque os ômegas albinos têm sentidos mais aflorados. Contudo, eu não sabia desse lance de uma nuance do cheiro ficar mais forte do que outra ao menor sinal de interesse.

E eu não estou interessado no professor.

ㅡ Como você sabe desse negócio de cheiro? ㅡ indago, contraindo toda a minha face numa dúvida genuína.

ㅡ Relaxa, não é muita gente que vai perceber sua quedinha pelo professor. ㅡ Ele dá de ombros. ㅡ Talvez alfas e ômegas harmônicos experientes percebam, mas a maioria das pessoas nem sabe disso, porque seu cheiro só consegue ser alterado se você tem contato com o seu lobo, e isso só é notado por gente assim também.

ㅡ Cara, tem alguma coisa errada, não que eu não queira, mas ainda não tive contato com o meu lobo. Então não tem como o meu cheiro ficar picante porque me interessei em alguém. ㅡ Informo, e Félix parece procurar algum indício de que estou mentindo quando examina o meu semblante.

ㅡ Você é esquisito, acho que precisa se concentrar mais, porque ele está bem aí, querendo sair. ㅡ Em resposta ao seu dedo apontado para mim, eu levo uma mão ao peito como se pudesse conter algo. ㅡ Mas fica tranquilo, na hora certa vocês vão se entender.

Eu assinto, meio confuso. Esse ômega parece saber de algumas coisas que outras pessoas sequer ouviram falar. Se fôssemos próximos eu me atreveria a lhe contar sobre o meu sonho, mas não somos, e eu ainda não confio nele.

Pensando na situação, paro para analisar algo que até então tinha passado despercebido.

ㅡ Espera... você não estranhou o fato de o meu cheiro não parecer com o de um alfa?

ㅡ Um pouco só, mas acontece às vezes, né? Deve ser por isso que você usa esse perfume forte. ㅡ Suas mãos se cruzam atrás do corpo que se recosta na parede atrás de si. ㅡ Meu primo é um ômega e o cheiro dele parece o de um alfa de tão forte. Enfim, é raro mas acontece.

ㅡ Ok... ㅡ Apoio minhas mãos no quadril e vou para o tópico seguinte. ㅡ E por que você está falando comigo depois da nossa discussão de ontem? ㅡ Dessa vez ele parece um pouco surpreso.

ㅡ Eu fiquei bem chateado por você ter dito que sou eu quem devo evitar entrar no caminho dos alfas, mas depois percebi que não é porque você é uma pessoa ruim. Você só não soube agir bem, e fez um comentário tosco. Então eu relevei.

Outrora eu poria meu orgulho em ação, e diria que tosco é ele, caralho, porque detesto insultos. Entretanto, isso iria contra o meu lado arrependido de ter discutido com esse ômega. Então apenas gesticulo positivamente com a cabeça.

ㅡ É... foi mal. ㅡ Olho para o lado, desconfortável, pedir desculpas não é algo recorrente para mim. ㅡ Você já tem alguém para fazer o trabalho de Sociologia?

ㅡ Não. Eu sou o único ômega nessa cadeira, então...

ㅡ Podemos fazer juntos se você quiser ㅡ sugiro com um contrair de ombros e um ar de tanto faz.

ㅡ Quero sim. ㅡ Ele sorri sem exageros, mas sinto seu aroma quase inexistente de mel, marcando presença.

É estranho, eu deveria me envolver com o seu aroma. Isso inclusive é a razão pelo qual alfas não gostam de sentir o cheiro dos ômegas, porque atiça os lobos e alfas não aceitam se sentir vulneráveis à "escória ômega''. Mas não sinto nada com o cheiro adocicado dele.

A porta de uma das últimas salas perto do fim do corredor, onde estamos, é aberta. Por ela saem alunos que assim que me veem acenam, mas suas expressões mudam quando percebem Félix aqui também.

Nessa universidade todo mundo sabe quem eu sou, as pessoas em geral respeitam a mim e a minha família. Fora aquele grupo de alfas brutamontes. Entretanto, nem eu serei capaz de manter a boa fama por muito tempo se ficar andando com um ômega.

ㅡ Talvez seja melhor a gente fazer esse trabalho na biblioteca. ㅡ Félix mexe na gola da sua camisa verde, como se quisesse disfarçar algum desconforto.

Não sei se ele sugere por medo de rejeição, mas não posso negar que apesar de estar falando com ele, levá-lo em minha casa é um passo que não estou preparado para dar.

Falar com Félix aqui na universidade é menos estranho, porque apesar das nossas classes serem diferentes, aqui somos apenas alunos. Mas em casa é diferente, não quero receber um olhar torto dos meus pais também.

ㅡ É, podemos fazer o trabalho amanhã, em uma das cabines de estudo da biblioteca, ou eu posso ir à sua casa. Eu preciso ir, tenho uma última aula antes de ir para casa. ㅡ Aponto o indicador para o andar de cima.

ㅡ Espera, você nem me disse porque está interessado no professor de música. ㅡ Ele volta a insistir no assunto que nos trouxe até aqui.

ㅡ Escuta aqui, se interessar por professores é cilada, tenho pena de quem se ilude. Eu estava ali porque Jeon é meu professor também, só que de aulas particulares. Eu ia perguntar alguma coisa e esqueci, foi apenas isso. ㅡ Para não prolongar a conversa, começo a caminhar para longe do ômega, antes de dizer: ㅡ Então sinto muito dizer, mas o seu olfato está enganado.

ㅡ As palavras mentem, o instinto não. ㅡ Ouço sua risadinha mas já estou de costas.

ㅡ Até amanhã, Félix.

Esse maluco acha que tem intimidade comigo. Sei lá viu.

🍂🍁🍂

ㅡ Você aceitou fazer o trabalho com aquele garoto que te chamou, na hora do almoço? ㅡ pergunto ao Tigrão quando estamos no nosso "momento alfa" após as aulas desta quarta-feira.

Yoongi, Taehyung e eu sempre tiramos um dia na semana para nos reunirmos na minha sala de estudos ㅡ onde também estou aprendendo canto ㅡ, e cuidamos da nossa pele, fazemos as unhas, ou testamos cremes e esfoliantes novos. É o nosso dia de skincare, ou como chamamos, nosso momento alfa.

ㅡ Não, chuchu. ㅡ Ele me responde. ㅡ Vou fazer com o Gui, né chuchu? ㅡ E pede a confirmação do outro chuchu.

ㅡ Sim, Tigrão-bebê-ciumento, nós vamos fazer juntos. ㅡ O outro sorri carinhosamente, do seu jeito costumeiro, enquanto passa uma base incolor nas minhas unhas.

Gui é o único de nós que sabe cuidar de mãos e unhas tão bem. Tigrão sempre tenta aprender com ele, mas nunca consegue se sair bem.

ㅡ Vocês viram, chuchus? ㅡ Ele pega o jornal que trouxe consigo, no chão ao lado do carpete onde estamos sentados, e leva-o à altura do rosto sujo de argila verde. ㅡ Aqui diz que o toque de recolher vai começar a valer a partir de amanhã. Ou seja, nada de ficar na rua depois das 20 horas.

ㅡ Até para o nosso momento alfa você trás um jornal, Tigrão. ㅡ Gui solta as minhas mãos, e estende a mão para pegar o noticiário. ㅡ Eu já sabia do toque de recolher, agora dá aqui esse jornal, que eu gosto do cheiro de folhas de papel, me inspira a elaborar novas fragrâncias.

ㅡ Gente... mas, a maioria das pessoas não trabalham até as 22 ou 23 horas? ㅡ comento estranhando o horário.

ㅡ Que eu saiba só algumas pessoas, chuchu.

ㅡ Algumas pessoas, ômegas, você quis dizer. ㅡ Corrijo.

ㅡ E quem liga, chuchu? Eles nem trabalham com profissões importantes. Quantos ômegas você vê sendo médicos, policiais, diretores, engenheiros, bombeiros e professores?

Ele tinha razão, nunca vi um médico ômega, no máximo enfermeiro e se tivesse sido bolsista, ou com muito sacrifício da família para pagar uma faculdade. Talvez esse seja o caso do enfermeiro Kim Seokjin, mas não o conheço para dizer. A polícia recruta no máximo betas, também nunca vi um ômega policial. Todavia eles também exercem funções essenciais como caixas e atendentes de supermercado, faxineiros, empregados domésticos, cozinheiros, cabeleireiros, dentre outros.

E a carga horária de trabalho deles é sempre maior do que a dos alfas. Meu pai mesmo disse isso uma vez, apesar de não ter demonstrado incômodo com isso. Eu também não, porém agora estou mais pensativo sobre essa questão.

ㅡ Essas pessoas já ganham pouco, se tirarem o direito de trabalharem duas ou três horas a menos, a renda deles vai diminuir mais ainda. ㅡ Sinto-me impulsionado a falar, mas de forma cuidadosa.

ㅡ O Ji tem razão, duas ou três horas a menos não vão fazer diferença para os alfas, mas para os ômegas vão, entende? ㅡ Gui afasta o jornal das narinas e ajeita os óculos sobre a face para opinar.

ㅡ E vocês são ômegas por acaso? Qual é chuchus?! O problema não é de vocês.

ㅡ Kim Taehyung, eu te amo, mas às vezes você sabe ser bem egoísta. Sei lá viu, custa se colocar no lugar do outro?

ㅡ Park Jimin, me responda uma coisa. Você não é o secretário de segurança, não é o primeiro ministro; com toda essa repentina crítica social você vai mudar o quê?

Desconfortavelmente eu fico calado. Ele tem razão, eu nada posso fazer.

ㅡ Foi o que eu pensei. ㅡ Diante do meu silêncio é o que ele fala. ㅡ Eu vou tirar esse troço verde do rosto e depois vou pra casa, se precisarem de mim é só baterem na minha porta, que o egoísta aqui recebe vocês. ㅡ Deixa o jornal em cima do carpete e, sob o meu silêncio e o do Yoongi, Tigrão vai até a porta, deixando-a entreaberta ao sair. ㅡ Até amanhã Gui, boa aula daqui a pouco, Ji.

Gui e Ji, não chuchus. Não sei quando começamos a nos desentender com essa frequência, mas não consigo mais fazer o contrário e ficar calado novamente apenas para não aborrecê-lo.

Fico sob um silêncio ensurdecedor com o amigo que me restou, na sala de estudos. Meu coração aperta, e eu olho para Gui em busca de algum apoio.

ㅡ Me diz que eu não sou o único que enxerga o que está acontecendo, Gui. Diz que eu não sou o único que acha injusto. ㅡ Inquieto demais para ficar no mesmo lugar, eu me levanto, e Yoongi faz o mesmo.

ㅡ Não, Ji. Não vou mentir pra você, dizendo que eu tenho um sentimento de revolta pelos ômegas, porque eu não tenho. ㅡ De frente para mim ele confessa. ㅡ Apesar disso, não acho justo que o toque de recolher valha de forma injusta para eles.

Yoongi reconhecer que a medida é injusta, para mim, já significa muito. Não é uma questão de igualdade, afinal, a medida funciona da mesma forma para alfas, betas e ômegas, é uma questão de equidade.

Vê-lo me dar razão dessa vez é o suficiente para que eu me sinta à vontade com ele, e ache uma abertura para me aprofundar no assunto dos lobos. Espero não me arrepender.

ㅡ Gui, o você diria se eu dissesse que tentei entrar em contato com o meu lobo?

ㅡ Diria que você é bem maluquinho, mas não te recriminaria, só pediria pra que tivesse cuidado. ㅡ Suas mãos vão até os meus ombros chamando minha atenção. ㅡ Você quer me contar alguma coisa? Sabe que pode contar comigo, não sabe?

ㅡ Promete que não vai contar para o Tigrão?

ㅡ Prometo, anjinho.

ㅡ Eu já tentei... duas vezes, mas ontem... ㅡ Faço uma pausa e ele aperta meus ombros, encorajando-me. ㅡ Ontem depois que tentei, tive um pesadelo em seguida.

ㅡ Minha nossa, Ji... ㅡ Sua entoação é totalmente surpresa. ㅡ Como que foi o pesadelo?

ㅡ Em resumo, era um lobo me atacando. Mas o pior... o pior é que ele me arranhou no sonho, e... o arranhão ainda está aqui. ㅡ Ponho a mão no peito, sobre a camisa branca de botões.

ㅡ Puta merda, meu amigo...

ㅡ É, eu sei... puta merda.

ㅡ Posso ver? ㅡ E pergunta despontando preocupação por toda a face redonda de olhos pequenos.

Eu definitivamente tenho vergonha do meu corpo. Sou muito magro, incomoda não ter músculos fortes e bonitos como um alfa padrão. Entretanto, Yoongi é meu amigo de infância, essa vergonha não se aplica a ele.

ㅡ Sim... ㅡ Sem objeções sobre mostrar meu torso ao meu amigo, que já o viu milhões de vezes, eu abro os primeiros três botões da camisa para que ele veja o machucado.

Gui coça a bochecha, gesto esse que eu já conheço, e abre a boca, levemente espantado quando vê as marcas de garras na pele maculada.

ㅡ Ji... é perfeitamente o desenho de três garras. ㅡ Eu abaixo o rosto e vejo sua mão se aproximando. ㅡ Posso? ㅡ Pede para tocar e eu confirmo com a cabeça.

ㅡ Eu não faço ideia de como aconteceu, só tenho certeza de que não fui eu. Nem unhas grandes eu tenho.

ㅡ Dói? ㅡ Ele percorre a pele com a ponta dos dedos até espalmar a mão na região central da minha subclávia. Apenas murmuro um "não". Quando meu olhar encontra o seu, ele engole seco. Sinto seu polegar fazendo uma leve carícia na região e seus outros dedos se espalhando por meu peito.

Apesar de ser meu amigo, nesse momento, seu toque me constrange. Parece íntimo demais. Não sei se minha confusão se faz presente o suficiente, mas parece que sim, a julgar pela forma como Gui não me espera dizer nada, ele mesmo encerra o toque, recuando a mão.

No momento em que faz isso, minha visão periférica captura a imagem de alguém parado perto da porta entreaberta. Quando olho diretamente nessa direção, percebo que é Jeon Jungkook.

Quando ele chegou? Já está na hora da aula e eu nem percebi?

O professor encara o Gui com a mandíbula travada e um olhar tão mortal que quase sou tentado a dizer "eu posso explicar", sem ter motivo algum para fazê-lo. É estranho de verdade.

Sei lá, viu.

ㅡ Acho que acabamos perdendo o horário da sua aula, Ji. Eu já vou indo. ㅡ Meu amigo beija minha bochecha demoradamente, e pode ser impressão minha, mas também o sinto roçando a sua bochecha em mim quando me abraça. Momento no qual também percebo seu cheiro de eucalipto e menta ficando mais forte. ㅡ Até amanhã, Ji.

O cheiro dele é muito gostoso, sempre achei.

ㅡ Até, Gui.

Assim que chega na saída da sala, Jeon demora a lhe dar passagem, e os dois se encaram mais uma vez, quase encostando os narizes um no outro. O que certamente aconteceria se o professor não fosse alguns centímetros mais alto.

ㅡ Boa tarde, professor. ㅡ Gui o cumprimenta parecendo tenso demais ao proferir as palavras.

ㅡ Boa tarde. ㅡ E Jeon mal abre a boca, ao devolver o cumprimento. Um músculo em sua mandíbula contrai, endurecendo mais ainda sua expressão.

》White Horses - Hurts《

E Yoongi vai embora, deixando-me com o alfa harmônico. Constrangido com o olhar que ele me lança, rapidamente volto a abotoar minha camisa, antes que ele veja os arranhões. Quando este entra na sala de estudos, sinto seu aroma invadindo o ambiente de forma tão intensa e impiedosa, que até me sinto tonto e preciso me apoiar na mesa atrás de mim, onde fica o meu computador.

Ouço os passos dos pés cobertos pelos sapatos de couro, caminhando em minha direção. Erguendo o meu olhar, percebo o momento em que o professor tira as mãos dos bolsos do sobretudo azul profundo, e as leva ao cabelo, jogando-o para trás enquanto inspira o ar com visível incômodo.

E quando finalmente encontro seus olhos, eles me encaram sob uma aura pesada, manifestada na cor das suas íris, que de azuis ficam pretas como a noite. Eu me vejo paralisado pela forma como ele se aproxima, sem me tocar, inalando o ar ainda mais forte.

Aquele alfa deixou o cheiro dele em você. ㅡ E ouço uma voz que parece com a sua, ao mesmo tempo não parece porque, apesar da entonação grave e moderada, ela alcança a região mais profunda dos meus ouvidos, e atiça algo dentro de mim, faz o meu estômago entrar em ebulição.

O que é isso?

Não tenha medo ㅡ diz ainda tão próximo que sinto seu hálito quente me atingindo. E o meu corpo estremece sem que ele encoste um dedo sequer em mim.

ㅡ Professor... por favor... ㅡ Ergo uma mão, requerendo o meu espaço pessoal, mas não o toco. Tenho medo de desmontar inteiro no chão se o fizer.

Porque a presença que esse alfa exerce aqui, não me ataca, mas me intimida, não me coage, desconcerta-me. Ele preenche todo o ambiente com uma energia preponderante de quem domina sem subjugar.

Assim que sua atenção recai sobre minha destra, Jeon inclina a cabeça para o lado, alongando o pescoço, como se quisesse aliviar alguma tensão. Ao fazer isso ele me impede de ver seus olhos negros, fechando-os, e quando os abre, volto a ver a imensidão do azul contida em suas orbes.

Parecendo confuso, ele pisca algumas vezes ao perceber a curta distância que impede seu corpo de colar no meu. E se afasta.

O espanto que me toma não é pelo fato de o professor falar de uma forma estranha, sequer é pelo fato de ele se aproximar tanto do meu espaço pessoal. Estou espantado pela insatisfação que toma o meu corpo inteiro quando ele se afasta.

ㅡ Desculpe, não sei porque... ㅡ Ele respira fundo, jogando os fios azulados para trás novamente, parecendo querer retomar algum controle. Por fim faz uma careta incomodada. ㅡ Podemos começar a aula?

ㅡ Podemos... ㅡ Ainda tonto pelo cheiro de dois alfas rondando nessa sala, vou até a janela e a abro. Respiro fundo, forçando o ar para dentro dos meus pulmões. E volto mais calmo.

Enquanto o professor ajusta o suporte do teclado que carrega consigo sobre o chão, aproveito para iniciar um assunto. E é claro que me sinto especialmente animado para falar sobre meu "lobo desconhecido'' com ele.

ㅡ Professor...

ㅡ Pode me chamar de Jungkook.

Ah... posso?

ㅡ Jungkook. Eu fiz os exercícios de canto que você passou, e ㅡ diminuo o volume da voz como se estivéssemos falando sobre uma seita secreta ㅡ, puxei um papo com o meu lobo também.

ㅡ Notou alguma diferença? ㅡ Ele me olha dessa vez, com as sobrancelhas, que carregam o tom do seu cabelo, arqueadas.

ㅡ Você disse que eu poderia ter pensamentos que geralmente não tenho, acho que de certa forma está acontecendo, só não sei se de fato tem a ver com o meu lobo. ㅡ Sento-me numa cadeira, tentado a observá-lo enquanto sinto o calor do cheiro de café caramelizado e a sobriedade do cedro, dando ao ambiente uma presença exótica e sensual. ㅡ Também sinto sensações... diferentes, mais fortes.

ㅡ É, isso tem cara de lobo. ㅡ O professor responde quase num resmungo, ele deve entender como é a sensação. ㅡ Você se sente muito invadido com o que vem sentindo? É desconfortável? ㅡ Ele se senta no banco alto de frente para o teclado, dando atenção a este enquanto o liga.

ㅡ Não sei bem, acho que é muito recente, mas, apesar de alguns pensamentos parecerem contrários ao que me foi ensinado, não reprimo; eu aceito eles.

Noto que ele ainda não aprendeu a retirar o sobretudo quando chega aqui em casa. É provável que Rosé tenha ficado com medo dele, por isso não o pediu para colocar no cabideiro.

Sorrindo ameno com o pensamento, vou até ele e aponto para a peça de cor azul, num pedido mudo, que ele entende e começa a retirá-la do corpo.

Será que é possível um alfa desmaiar com o aroma de outro alfa? Porque sinto como se fosse desmaiar a qualquer momento. Seu cheiro não me afetava tanto assim antes.

ㅡ Então continue, lobos gostam de saber que queremos conversar. O meu se coça para dar uma opinião em tudo... ㅡ Assim que me entrega o sobretudo, vejo mais uma vez o seu sorriso brincalhão, como vi na aula passada. Não sei se Jungkook tem ciência de que seu nariz franze de forma adorável quando faz isso.

Com a peça em mãos, penso no quanto esse alfa, aqui na minha frente, mostra-se diferente daquele professor que mantinha distância dos seus alunos na universidade, com uma postura tão impassível e profissional.

ㅡ Jungkook... ㅡ Ergo a cabeça, percebendo que já sou foco da sua atenção. ㅡ Aposto que os seus alunos não conhecem essa sua risada descontraída.

ㅡ É, não conhecem, e eu não faço questão de mostrar. Não quero nenhum aluno achando que tem tratamento especial. ㅡ Seu tom é calmo, mas não deixo de sentir que estou sendo afastado, e demonstro isso recuando em silêncio.

Levo seu sobretudo comigo, instante no qual posso jurar que ouço o professor falando sozinho. Coloco a peça no encosto da cadeira ergonômica, onde depois volto a me sentar. E tento, mas não consigo desfazer a sensação embolada que fica presa em minha garganta.

ㅡ Jungkook... Se você trata todos os seus alunos de forma igual, por que topou me ajudar a me conectar com o meu lobo? Não é algo muito pessoal?

O professor parece analisar minha colocação, quando brinca com os dedos longos e pálidos sobre as teclas do instrumento. E eu tenho medo que ele acabe mudando de ideia sobre isso por causa da minha boca grande.

ㅡ Sim, é algo um pouco pessoal, mas existem poucas pessoas dispostas a entender os lobos, e você está interessado e empenhado. ㅡ Ele dá de ombros. ㅡ Para mim é o suficiente.

ㅡ Tudo bem... ㅡ É só o que respondo, mas meu sorriso denuncia minha satisfação pela resposta. ㅡ Queria que meus amigos e meus pais me achassem empenhado se soubessem disso.

ㅡ Eles não te apoiariam se soubessem?

ㅡ Talvez só uma pessoa, o Gui, aquele que você viu quando entrou. ㅡ A imagem daquele momento visita a minha memória, então ouso perguntar: ㅡ Aliás, por que você olhou para ele com uma cara tão brava?

ㅡ Eu? Impressão sua... ㅡ Jeon desvia o olhar e começa a estralar os dedos. ㅡ Achei ele educado e agradável.

Olha só, eu não sei que não o conheço, mas para mim está claro que é uma puta mentira. Ou será que as definições de "educado e agradável" foram atualizadas e eu tive ciência?

Sei lá, viu.

ㅡ Eu não sabia que seus pais não aprovam contato com os lobos. ㅡ Com um pigarro ele prossegue, desviando do assunto anterior. ㅡ Me sinto um criminoso, agora.

ㅡ Certinho como você é, deve se sentir mesmo. ㅡ Ele revira os olhos e eu rio mais, em seguida, abano as mãos, tranquilizando-o. ㅡ Não se preocupe, eles não vão saber.

ㅡ Vão, se você começar a mudar fisicamente. Seu cabelo, seus olhos... ㅡ Ele observa meu rosto enquanto diz.

ㅡ Quando for o momento certo, falo para eles. ㅡ Pressiono os lábios um no outro, antes de criar coragem para fazer uma pergunta pessoal. ㅡ Você passou por algo parecido com a sua família?

ㅡ Sim. ㅡ A resposta não demora a vir, mas o alfa parece pensativo. ㅡ Minha irmã não achou uma boa ideia, ainda não acha, mas não brigamos mais por isso. ㅡ Ele volta a sorrir minimamente. ㅡ Uma família de verdade se apoia, independente das escolhas de cada um. Então, vai ser difícil no começo, mas você consegue, Jimin.

Meu sorriso se alarga, porque essa é a coisa mais legal que ele já me disse.

Como se quisesse equilibrar suas palavras gentis com sua pose de professor, ele desfaz o sorriso, olha-me com um semblante sério, e muda de assunto antes mesmo que eu responda.

ㅡ Hoje nós vamos treinar ataque e agilidade na voz. Espero que tenha mesmo treinado os exercícios de respiração, porque você vai precisar. ㅡ Eu aceno com a cabeça mantendo um sorriso bobo que brotou há instantes e não sai mais. ㅡ Vamos aquecer a sua voz.

Ok, também estou muito ansioso para mais uma aula. Aprender canto está me fazendo muito bem.

Ele impõe um ritmo no teclado para que eu siga com sons de "s" prolongados, depois curtos, soltando mais ar. Depois fazemos exercícios de agilidade e ataque. Em minha ótica está dando tudo certo, estou de pé, na frente do teclado, repetindo a sequência que ele estabeleceu, mas Jungkook começa a rir.

O problema é que ele ri desse jeito bonito que acaba me fazendo interromper o exercício sem perceber que o faço.

ㅡ Jimin, você precisa trabalhar mais esse ar aí dentro, não está administrando direito. ㅡ Ele põe uma mão na boca contendo o riso, e se levanta do banco. ㅡ Você perde o fôlego antes de eu terminar a contagem do tempo, e curva os ombros para frente por causa da falta de ar.

Então é disso que ele está rindo.

ㅡ Ah... o que eu tenho que fazer?

ㅡ Se sentir o peito estufando, é porque está errado. Sua barriga precisa encher, assim você fortalece o diafragma. ㅡ Ele se aproxima de mim, ficando a apenas um passo de distância. E manda. ㅡ Respire, e segure o ar. Depois solte devagar em som de "s", enquanto eu conto até dez.

》Pacify Her - Melanie Martinez《

Fica somente assim, na minha frente, encarando-me, impondo sua presença, seu aroma exótico. E é o suficiente para que eu suspire, no lugar de trabalhar meu diafragma. Seus olhos correm da minha face ao meu abdômen num percurso lento e torturante que me faz contrair os músculos.

Durante esse tempo observo a corrente do cordão que ele carrega, com o pingente que se perde por dentro da camisa, o qual eu nunca vi.

ㅡ Jimin... ㅡ Jungkook murmura como se cantasse uma melodia suave. A voz dele sempre foi tão envolvente assim? ㅡ Está respirando errado.

ㅡ Então me ensine, professor, porque acho que desaprendi.

ㅡ Posso? ㅡ Ele estende a mão que contrasta com sua camisa de manga longa preta. Posiciona a palma na horizontal, muito perto do meu abdômen. Olhando para ela, eu confirmo com um gesto tão fraco que não sei como ele entendeu.

E sua palma me toca. Sinto como se ela fosse toda carregada de tensão e eletricidade. Meu corpo inteiro fica atento ao calor que emana dela. Mas o meu erro é erguer a cabeça para voltar minha atenção ao professor. Porque ele já me espera com esses abismos azuis, nublados, carregados de nuances que eu desconheço.

É tão diferente; o que eu senti quando Gui me tocou, do que sinto agora.

ㅡ Inspire... ㅡ E quando ele fala, minha atenção recai em sua boca. Parece até uma armadilha. O pior é que não ofereço resistência alguma. ㅡ Expire... ㅡ Sua palma se pressiona um pouco mais contra o meu corpo.

Decerto, Jungkook percebe o quanto seu toque está me afetando, a julgar pelos olhos profundos como o oceano que pousam nos pelinhos arrepiados do meu braço. Posso jurar que o vejo engolindo saliva com dificuldade.

ㅡ Assim... isso... devagar ㅡ diz baixo enquanto sigo com o exercício, sua respiração está muito perto da minha, acertando minha pele.

Eu devo ser louco por estar tão tenso sob o toque dessa mão grande. Porque só pode ser coisa da minha cabeça sentir que sua palma faz uma carícia sutil em minha barriga.

ㅡ Professor, você também toca nos seus outros alunos assim? ㅡ Atrevo-me a perguntar num fio de voz.

ㅡ Desculpe... não quis ser invasivo. ㅡ Jungkook faz menção de retirar a mão, mas eu coloco a minha sobre a sua, prolongando o toque.

ㅡ Não foi uma reclamação.

Cara, o que eu estou fazendo?

Vejo o pomo-de-adão do alfa subir e descer, e seus olhos confusos recaindo em nossas mãos. Até que, delicadamente, retira a sua, respirando fundo.

ㅡ Por hoje é só, Jimin. Escolha uma música para cantar amanhã, aplicando as técnicas que aprendeu até aqui. ㅡ Ele passa por mim e pega o sobretudo para vesti-lo.

Como quem está diante de um animal arisco, eu viro em sua direção sem fazer movimentos bruscos.

ㅡ Posso deixar o teclado aqui? Já que vamos usá-lo amanhã e sexta. ㅡ pergunta, já agasalhado, colocando uma mecha atrás da orelha.

ㅡ Sim... eu te acompanho até a porta. ㅡ Dou um passo mas logo vejo sua mão erguida pedindo que eu pare.

ㅡ Não precisa, obrigado. ㅡ Sua voz passa uma certa seriedade mas não é distante como achei que ficaria agora. ㅡ Até amanhã.

ㅡ Até amanhã, professor.

Ele sai da sala de estudos e eu volto a sentar na cadeira ergonômica. Meu coração parece que vai sair pela boca, mal tenho controle da minha respiração.

Eu não conheço o professor Jeon Jungkook além do que ele mostra nas aulas. Não sei do seu passado, de onde ele vem, quais são seus gostos pessoais e objetivos na vida. Definitivamente não sei como a cabeça dele funciona.

Mas acho que posso admitir para mim mesmo que estou me sentindo atraído por ele.

O que não muda nada, mas...

Como eu vou conseguir cantar para esse alfa amanhã, se nem respirar direito eu consigo perto dele?


Gostaro?

Próxima att vai ser narrada pelo professor, ta pom?

Esse início é mais trabalhado na aproximação deles. Espero que vcs estejam curtindo ler assim como estou curtindo escrever. 🥺🍂🧡

Quem quiser deixar a autora feliz, deixe seu votinho e comente lá no Twitter sobre a fic, o que quiser, usando a #perfumedelobo 🥲

Fiquem bem meus amores, até a próxima att. E pra quem sentiu falta: Um tapa na bunda 🤭

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