(Ponto de vista da Sun)
Sabe quando você sente que está torrando no sol, mesmo não estando num local que esteja ensolarado? Então, é exatamente isso que você vai sentir quando chegar no nível cujo nome é "piper dreams". Sério, vai por mim, é super quente lá.
ㅡQue calor da porra...ㅡComentei, abanando as mãos. Eu estava literalmente cozinhando, quem foi o sem mãe que designou a arquitetura desse lugar?
ㅡNão fala palavrão, Sun.ㅡManu protestou.ㅡEu ouvi dizer que os tubos desse nível são responsáveis por fazer a temperatura chegar em 90 graus.
ㅡSem falar que eles também são capazes de gerar uma queimadura de terceiro grau, então toma cuidado.
ㅡOk...Ei, ainda não desenvolvemos um plano pra sair daqui.
ㅡÉ verdade...Você já ouviu falar no nível 3999? É pra lá que precisamos ir.
ㅡPor que exatamente?
ㅡPorque é lá que nós teremos a chance de sair dos backrooms. Mas pra isso, precisamos acessar o nível "the end".
ㅡE como a gente acessa?
ㅡEu não sei...só com a base da sorte mesmo, porque ninguém confirmou como se chega nele. Enfim, vamos ver se tem alguém por aqui.
Eu e Manu começamos a andar, e de vez em quando eu olhava pra trás, apenas pra verificar se estava tudo bem com Manu. Ela sempre estava meio encolhida, e isso me fez sorrir.
Até que, achamos uma sala de caldeira, e quando entramos lá, de repente me nocautearam com um soco. Eu senti o punho batendo contra o osso da minha bochecha esquerda, logo me senti atordoada e minha visão ficou meio emaranhada. Eu estava ficando louca ou uma entidade que luta judô havia acabado de me dar um soco que quase quebrou meu rosto? Eu me desequilibrei e caí no chão, logo tendo meus pulsos agarrados. Foi tudo muito rápido, com certeza era uma entidade, porque caramba, que força física usada num simples soco!
ㅡQuem é você e o que faz aqui?!ㅡUma voz feminina perguntou. Percebi em sua voz um tom assustado e raivoso.
ㅡEi! Solta ela!ㅡManu protestou.ㅡNós não somos inimigos, somos humanos, assim como você!
ㅡQuem garante que vocês são humanos mesmo?!
ㅡApenas olhe para o arranhão que ficou no pulso da S...dela!ㅡTudo ainda estava embaçado, porém eu consegui ver Manu apontando para meu pulso.ㅡO sangue dela é vermelho, portanto ela é uma humana!
ㅡOh...Sinto muito, foi instinto.ㅡEntão a tal garota me soltou, e logo me ajudou a levantar.ㅡMe desculpe por isso, é que você me pegou de surpresa. Aqui, use isto.ㅡEla se abaixou, e logo eu ouvi um barulho de mochila sendo aberta. Depois, ela se levantou e me entregou um pano úmido.ㅡEsse pano está molhado com uma espécie de líquido que é capaz de ajudar na regeneração de feridas, fique segurando esse pano contra seu rosto por enquanto.
ㅡPor acaso isso é...água de amêndoa?ㅡArrisquei perguntar, reconhecendo o cheiro de baunilha.
ㅡBingo! A água de amêndoas é muito útil para ajudar humanos a se recuperarem, e também pode ser usada para curar dores.
ㅡAh sim! Tem água de amêndoa na mochila!ㅡManu pegou uma das garrafas da mochila e me entregou.ㅡAqui, bebe.
Peguei a lata com cuidado, e logo a abri e bebi o líquido que estava dentro. Tinha um gosto bom, só espero que isso não me traga problemas mais tarde. Devolvi a garrafa pra Manu, e abri meus olhos lentamente. A essa altura minha visão já tinha voltado ao normal, e nisso eu pude ver a garota que havia me golpeado:Ela tinha cabelos um pouco abaixo dos ombros, olhos castanho escuro, pele clara meio morena e rosto levemente oval. Ela usava óculos redondos sem lentes, tinha uma bandana preta com vários desenhos brancos amarrada em sua cabeça e usava uma blusa xadrez preto e branco. Seu cabelo também tinha as pontas vermelhas, o que me lembrava um pouco o meu cabelo, a única diferença era a cor e local que estava colorido.
ㅡEstá conseguindo enxergar melhor?ㅡA garota perguntou, e eu assenti.ㅡÓtimo. Apenas relembrando que esse nível não é tão seguro quanto os que você já esteve, ok? Então é melhor ficarmos aqui para nos equiparmos. Violet, me ajuda aqui!
ㅡBeleza, já estou indo!ㅡDe repente, Violet apareceu. O que? Como ela havia vindo parar aqui?
ㅡViolet?!ㅡEu e Manu dissemos em uníssono, completamente pasmas.
ㅡSun? Manu?ㅡEla também ficou surpresa.ㅡO que vocês estão fazendo aqui?
ㅡNós é quem devíamos perguntar isso. Como você veio parar aqui?ㅡManu começou a perguntar.
ㅡDa mesma forma que vocês: Noclipando em um lugar aleatório na nossa realidade. Eu consegui vir pra cá, e nisso acabei me queimando e dando de cara com uma entidade, só que aí ela me salvou, e desde então nós estamos aqui.ㅡViolet explicou toda a situação. Era surpreendente! Será que Amélia e Rafa também estavam por aí? Espero que eles estejam bem...
ㅡEnfim, eu não cheguei a me apresentar pra vocês, não é?ㅡA garota perguntou.ㅡEu me chamo Thammylly, e vocês devem ser Sun e Manu.ㅡEspera, Thammylly? Tem um T no começo, então...não, acho que não, é coincidência demais.
ㅡA que você socou é a Sun, e a ruiva é a Manu.ㅡViolet explicou novamente.
ㅡÉ um prazer conhecer vocês. Eu queria conversar com vocês, porém precisamos sair daqui.
ㅡPrecisamos ir para um elevador parecido com um elevador de escritório, ele nos levará para o nível 4. Nós estaremos seguras lá.ㅡExpliquei, relembrando da informação que eu tinha visto anteriormente.
Thammylly deu um sorriso.
ㅡIsso mesmo, essa é a maneira mais segura de sair deste nível. Agora precisamos de itens de defesa pessoal.
Manu abriu a mochila e tirou de lá as facas. As lâminas delas eram afiadas, e os cabos eram bem detalhados, sendo pretos com uma listra dourada no fim.
ㅡBom, isso pode servir. Sun, você tem algum mecanismo de defesa?ㅡThammylly pronunciou da forma que se escreve meu "nome".
ㅡEr...na verdade não se pronuncia da forma escrita, se fala "San". E sim, eu tenho esse bastão mágico que eu achei no nível 1.ㅡTirei o bastão do meu bolso e apertei a alavanca.
ㅡUau! É uma arma boa. Agora, vamos?
ㅡMas ei Thammylly, você não tem nada pra se defender?
ㅡNão se preocupe com isso, eu sou faixa azul.ㅡAo dizer isso, ela deu um sorriso confiante. Então isso explica a força daquele soco.
Manu colocou a mochila de volta nas costas, e então nós olhamos nos corredores, verificando se não tinha nenhuma entidade por perto, e por sorte estava vazio. Saímos da sala em fileira e começamos a andar, procurando pelo tal elevador. Thammylly estava na frente, eu atrás dela, Violet atrás de mim e Manu no fim da fila. Thammylly segurava em uma das mãos uma lanterna, e isso ajudava um pouco, já que aquele corredor não possuía muita luz.
De repente, eu senti uma presença estranha ao passar por uma porta que parecia destrancada, e quando olhei, lá estava um Smiler, e ao ver seu rosto fluorescente, eu arregalei os olhos. Smiler é uma entidade conhecida por seu rosto sorridente que se atrai por luzes. Ela fica no escuro, e ninguém sabe como o corpo dela é. Droga! Eu precisava fazer a Thammy apagar a lanterna o mais rápido possível, caso contrário, ele poderia atacar!
ㅡT-Thammylly...Você poderia desligar a lanterna?ㅡPerguntei, sem tirar os olhos daquela entidade assustadora. O Smiler também não tirou os olhos de mim nem por um segundo, o que fazia minhas mãos tremerem.
ㅡMas por que exatamente? O corredor está escuro, e se não tivermos cuidado, certamente iremos encostar nos canos!ㅡThammylly questionou. Ela estava certa, mas naquele momento, era melhor prosseguir com a lanterna desligada.
ㅡEu sei disso, mas...Tem uma entidade ali...É um Smi...
ㅡAh sim, agora eu entendi.ㅡImediatamente, a lanterna foi desligada, e todas nós ficamos paradas por um certo tempo.
ㅡO-o que a gente faz?ㅡManu sussurrou, com a voz trêmula.
ㅡMantenham os olhos nele e não pisquem em hipótese alguma. Ele não irá atacar caso fiquem olhando pra ele e não façam barulho.ㅡMurmurei, fazendo contato visual com ele. Era bem assustador, porém era necessário, sem falar nas dificuldades de não piscar ao encará-lo.
Logo, todas nós começamos a recuar, tentando ao máximo não fazer barulhos muito altos, e quando já estávamos longe o bastante, viramos para o corredor da esquerda.
ㅡDroga...E se o tal elevador fica no corredor do Smiler?ㅡViolet resmungou.
ㅡAcho que não, geralmente viajantes como nós aparecem longe da saída dos níveis, então provavelmente teremos que andar e andar pra achar o elevador...ㅡRespondi, com certo desânimo no final da frase. Aquele lugar era quente pra caramba, e andar sem parar por algum tempo parecia piorar aquele calor.ㅡMe diz que a gente não vai demorar pra chegar na saída, por favor...
ㅡSe eu não me engano, a gente vai precisar virar à esquerda duas vezes e mais três vezes à direita pra achar o elevador.ㅡThammylly explicou, com um tom de voz firme.
ㅡEspero que seja isso...Mas ei, como você sabe disso? Você veio parar aqui novamente depois de já ter passado por esse nível?
ㅡEntão...Sim, eu acabei caindo aqui de novo enquanto procurava a saída do nível...5! É, isso mesmo.ㅡThammy respondeu, com um tom de voz nervoso, passando a mão direita em seu cabelo.
Achei aquela reação bem estranha, não devo negar. E também, eu vi uma vez que, começar uma resposta para uma pergunta de sim ou não com "então", pode significar que a pessoa está mentindo. Mas não é totalmente eficaz, já que algumas pessoas não têm a intenção de mentir fazendo isso. Só que ainda sim é meio estranho. Por que ela respondeu dessa maneira?
E também:O seu tom de voz, que até alguns segundos atrás era confiante e suave, de repente ficou nervoso. Sem falar que não tem como vir parar no nível 2 por meio do nível 5, nenhum lugar informa sobre isso. Mas é melhor deixar isso quieto por enquanto, se eu sair acusando, certamente irei causar uma confusão desnecessária.
✩
Depois de vários minutos andando, finalmente avistamos o elevador. Eu queria pular e gritar de alegria, mas precisava garantir minha segurança primeiro.
ㅡEntão...a gente só entra no elevador e depois aparecemos no nível 4?ㅡPerguntei, olhando em volta.
ㅡÉ quase isso, o elevador leva apenas para o nível 4, de acordo com alguns conhecimentos meus.ㅡThammylly respondeu, apertando o botão que faz o elevador descer.
ㅡIsso vai demorar muito? Eu tô morrendo de calor..ㅡManu comentou, abanando as mãos.
ㅡRelaxa, tudo está sobre con...ㅡQuando Thammylly ia completar, de repente ouvimos risadas infantis, e logo eu me virei.
Em seguida, ouvimos uma espécie de cantiga infantil. Era aquela do "ciranda cirandinha", e quando as supostas crianças pararam de cantar, passos ecoaram em um dos corredores.
ㅡAi! Solta isso!ㅡOuvi Manu protestar, e quando me virei, ele estava lutando contra uma criança sem rosto, que parecia muito interessada na mochila que estava nas costas de Manu, já que ela não parava de puxar.ㅡAlguém me ajuda!
ㅡSolta a mochila, sua pirralha!ㅡViolet puxou a mochila com tudo, e logo a criança soltou. Ela emitiu sons de choro, e saiu correndo.ㅡAqui, pega.ㅡViolet entregou a mochila pra Manu, e ela agradeceu.
Como se a aparição daquela criança não bastasse, ouvimos um bater de asas que fez meu coração errar algumas batidas. Fui correndo até o botão do elevador e comecei a apertar ele de forma apressada.
ㅡEi Sun! Se acalma!ㅡThammylly tentava ajudar, mas não adiantava. Naquela hora, o pânico realmente havia dominado meu corpo, e eu estava concentrada no botão. Logo, o elevador se abriu e eu entrei praticamente voando nele.ㅡO elevador abriu! Venham, vocês duas!ㅡOuvi Thammylly chamar por Manu e Violet, e as duas fizeram o que ela pediu. Assim que entramos, o elevador fechou as portas e começou a subir.
ㅡConseguimos...Conseguimos...ㅡMe sentei no chão do elevador, sentindo minha respiração um pouco mais pesada. O elevador tinha um cheiro horrível, o que naquele momento não estava me ajudando a controlar minha respiração. Então eu comecei a respirar fundo, torcendo pra que nós chegássemos no nível 4 logo.
ㅡSun! Se acalme, eu estou aqui.ㅡManu me abraçou fortemente, e aquele gesto fez com que eu me sentisse um pouco melhor. Acho que depois de alguns minutos eu adormeci nos braços dela, pois não me lembro do que aconteceu após isso.
Enfim, nível 2 concluído com sucesso.