Park Kwon-joo sorriu ao observar Kim Seokjin cortar as folhas de acelga. Ele possuía uma expressão neutra no rosto, mas a beta sabia que a mente do garoto deveria estar muito longe dali. Ela possuía liberdade para perguntar o que ele estava pensando, mas, como já imaginava do que se tratava, preferiu ficar em silêncio. Sabia como o beta tinha ficado desanimado e decepcionado após o teste de elenco que participara. Já faziam três dias, mas, vez ou outra, ela o via calado, o que não era o seu normal. Sabia que nesses momentos de introspecção, ele estava se martirizando novamente pelo desempenho ruim no teste.
Desde que começou a trabalhar na casa dos Kim, Kwon-joo desenvolveu um forte laço com Seokjin. Ele era um beta, assim como ela, e não foi difícil desenvolver algum tipo de afeição por ele, principalmente ao passarem o dia quase todo juntos naquele casarão. Ele a fazia rir e tornava os seus dias mais leves. Kwon-joo nunca teve uma família, nunca casou ou teve filhos, então, secretamente, adotou o beta solitário como seu filho de coração. Da mesma forma, Jin a considerava como uma segunda mãe, uma pessoa em quem podia buscar colo quando precisasse. Juntos, eles encontraram um no outro o afeto que tanto sentiam falta e precisavam; encontraram um pequeno lugar de apoio e acolhimento.
— Terminei. Agora vou passar o sal. — Jin anunciou e depois olhou para a mais velha. — Estava pensando, devíamos fazer alguma sobremesa para Soobin.
— O senhor pensou em algo específico?
Seokjin fez uma careta ao ouvir o pronome de tratamento.
— Que senhor? Não estou vendo senhor algum aqui. Não me venha com essas coisas, Sra. Park, pois quem deve lhe tratar com respeito aqui sou eu.
— O senhor sabe que eu preciso chamá-lo assim para não perder o costume. Se eu lhe chamar de Jin na frente do Sr. Kim? Ele não irá gostar, com certeza me repreenderá.
— Sra. Park, daquele cabeçudo cuido eu, pode deixar. Por favor, me chame apenas de Jin. Já tínhamos combinado isso.
— Senhor...
— Senhora. — disse, interrompendo-a. O beta abriu um sorriso fofo, o que logo arrancou um sorriso também da beta.
— Ok, ok, Jin. Pensou em algo para a sobremesa?
— Nada em específico, mas acho que podíamos pesquisar alguma receita legal na internet.
A beta assentiu e depois tirou o aparelho celular do bolso do avental. Enquanto ela pesquisava receitas, Jin foi lavar as mãos, já tinha terminado de salgar as folhas e precisaria esperar algumas horas para poder continuar a receita. Pretendia, nesse meio tempo, ocupar a sua mente fazendo alguma sobremesa. Não queria ficar ocioso, pois isso lhe fazia lembrar do teste de três dias atrás, e ele realmente não queria mais ficar mal pelo o que ocorreu. Ele precisava superar, todos têm dias ruins e aquele foi um dos seus.
O pior de tudo nem tinha sido perder a oportunidade ou esquecer as falas, mas sim se sentir humilhado na frente de dois alfas. O primeiro, o diretor do drama. Desde que Seokjin entrou na sala, o homem desdenhou de sua presença, mal o olhou. Quando esqueceu as falas, o alfa agiu como se aquilo fosse esperado. Ele esperava que Jin fracassasse e foi exatamente isso que aconteceu. Assim que foi possível, dispensou-o da sala, falando que já tinham perdido tempo demais. Seokjin sabia que tinha ido mal, mas falar que o seu teste foi uma perda de tempo foi altamente rude.
O segundo alfa, infelizmente, era o seu marido. Jin sabia que Joong-ki não queria que ele conseguisse o papel, mas a forma como o alfa nem disfarçou a satisfação quando soube que o teste fora ruim foi altamente desrespeitosa. Para piorar, usou a situação para justificar suas ações egoístas, dizendo que era justamente por isso que não queria que Jin fizesse testes, pois ele estava despreparado e iria se decepcionar. Falar algo assim, para Seokjin, era como querer insultar a sua inteligência. Ele sabia muito bem os motivos do marido, sabia que o problema nunca foi sua preocupação com ele, com o filho deles ou com a casa, mas sim ciúmes. Se pudesse, Joong-ki possivelmente o trancaria numa torre e o faria viver uma versão moderna do conto da Rapunzel. Se bem que, para Seokjin, ele já fazia algo parecido ao vigiar e controlar todos os seus passos. Ele amava o marido, mas aquilo era muito cansativo.
O beta sabia que o alfa usaria essa situação para negar testes futuros. Falaria, como sempre, que ele deveria desistir daquele "capricho". Joong-ki não o entendia, ou simplesmente não queria entendê-lo. O alfa sempre o questionava dizendo que já lhe proporcionava tudo, que nada lhe faltava, então Jin não precisava trabalhar. Ele não entendia que não era por dinheiro, não era por status, mas sim por realização pessoal que o beta insistia em atuar. Seokjin não queria ser apenas o marido de Kim Joong-ki ou o pai de Kim Soobin, ele queria ser Kim Seokjin, queria ter poder sobre a sua própria vida, queria ter escolhas.
O barulho de algo vibrando sobre a bancada o assustou. Demorou alguns segundos para entender que era o seu próprio celular. Aproximou-se, receoso. Ele não costumava receber muitas ligações. Geralmente, as únicas que recebia eram de Joong-ki ou de sua mãe. Porém, não era nenhum dos dois que estava ligando naquele momento. Um número desconhecido piscava na tela.
— Não vai atender? — Kwon-joo perguntou gentilmente.
O beta assentiu, por que não atenderia? Poderia ser da escola, será que Soobin estava bem? Com medo de algo ter acontecido com o filho, pegou o aparelho e atendeu a ligação rapidamente.
— Alô.
— Alô, bom dia! Por gentileza, gostaria de falar com o agente de Kim Seokjin, é sobre o teste que ele fez para o drama Epiphany.
O beta arregalou os olhos e colocou o celular no viva voz. Em seguida, fez um sinal com a mão para que Kwon-joo se aproximasse. A beta, curiosa, juntou-se a ele.
— Está falando com ele. — respondeu, forçando um tom um pouco mais grave que o normal.
Jin não tinha um agente há mais de cinco anos. Na verdade, teoricamente, Joong-ki era o seu agente, mas Seokjin não levava isso muito a sério. Quando o beta simpático pediu que ele conferisse os seus dados na ficha após o teste, ele logo tratou de tirar o número e o e-mail do marido de todos os lugares possíveis. Seokjin fazia bem mais por sua carreira do que o alfa, então eram os seus contatos que deveriam estar na ficha do teste.
— Oh, certo. Aqui quem fala é Jung Hoseok, sou um dos produtores do drama. Na quarta-feira, Kim Seokjin compareceu aos nossos testes. Estávamos esperando terminar todos para ligar... Bom, não há porque fazer suspense. Nós queremos Kim Seokjin no nosso drama. Se você...
— O quê? Eu passei? — perguntou rapidamente, interrompendo o beta do outro lado da linha. — Sério? Isso não é um trote, né?
— Ah, Jin, é você. — o beta respondeu do outro lado da linha com um tom menos formal. — Sim, você passou. Ficamos muito felizes com o seu teste.
Jin abriu a boca em admiração, não podia acreditar no que estava ouvindo. Kwon-joo o abraçou forte e sussurrou um "parabéns".
— Bom, estou ligando para acertarmos os detalhes do contrato. Se você ainda tiver interesse no nosso drama, posso enviar uma cópia do nosso contrato padrão para você e o seu advogado analisarem. Se tudo estiver ok para vocês, podemos acertar os últimos detalhes na segunda. O salário é o que foi informado durante os testes, infelizmente não é algo que podemos negociar, nosso orçamento é apertado. Porém, estamos abertos a outras concessões caso vocês achem necessário.
O beta ainda estava em choque, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Somente após um pequeno empurrão de Kwon-joo, fazendo-lhe perceber que estava em silêncio por tempo demais, ele abriu a boca para falar novamente.
— Sim, claro, pode enviar. Muito, muito obrigado pela oportunidade. Prometo dar o meu melhor, Sr. Jung.
— Nós é que agradecemos. E você pode me chamar apenas de Hobi, Jin. Seremos colegas de trabalho agora.
— Certo, Hobi então! E há alguma perspectiva de quando começarão as filmagens? Como vão funcionar os horários?
— A gente quer começar o mais rápido possível, mas isso vai depender de conseguirmos ajeitar toda essa parte burocrática a tempo. De qualquer forma, a gente quer que na próxima quinta-feira possamos ter o nosso primeiro encontro e na segunda-feira seguinte os primeiros ensaios de verdade. A maioria das cenas serão gravadas durante o dia, então começaremos por volta das oito da manhã e terminaremos por volta das cinco da tarde. Quando tivermos cenas para gravar à noite, avisaremos com antecedência. Dá certo para você?
— Sim, sim, perfeito. Teremos gravações aos sábados?
— Sim, nesse mesmo horário.
— Oh...
Seokjin imediatamente se desanimou um pouco. Não é como se não esperasse aquilo, geralmente dramas eram gravados aos sábados também, mas isso significava que ele teria menos tempo com o filho. Soobin passava a semana quase toda na escola, o final de semana era o momento deles. O pequeno era sua prioridade, mas Jin não queria desistir daquela oportunidade. Talvez, ele pudesse negociar de alguma forma ou arranjar alguma solução.
— Algum problema? — Hoseok perguntou do outro lado da linha.
— As gravações durarão três meses, certo?
— Isso. A previsão é que a gente termine de filmar em três meses.
Seria ruim ter menos tempo com Soobin, mas seriam apenas três meses. Seokjin sabia que se explicasse bem para o filho, ele entenderia. Soobin já tinha seis anos, era bem inteligente e independente para a idade. Além disso, não é como se ele fosse ficar sozinho, ele poderia ficar com Kwon-joo aos sábados. Jin confiava em Kwon-joo, Soobin ficaria bem. Domingo, ele dedicaria todas as suas horas ao pequeno para compensar.
— Ótimo, por mim tudo ok.
— Excelente! Estarei enviando o contrato para o e-mail que temos aqui, certo?
— Certo! Mais uma vez, obrigado pela oportunidade, Hobi.
— Que isso, não fale como se estivéssemos fazendo um favor para você. Você foi ótimo no teste.
Jin quis negar, sabia que não tinha ido tão bem, mas acabou desistindo. Tinha medo que se falasse algo sobre o teste, eles voltassem atrás e não o quisessem mais.
— Obrigado, Hobi. Estarei esperando o seu e-mail então. Tenha um bom dia.
— Um bom dia para você também, Jin.
Depois disso, ambos desligaram. Seokjin ainda estava um pouco em choque, mas, após alguns segundos apenas encarando o aparelho celular, ele levantou a cabeça e olhou para a beta que sorria à sua frente. Os dois se abraçaram e Jin fez questão de levantar um pouco o corpo da pequena beta em comemoração.
— Jin, não, para! — disse, entre risos.
Quando já estava no chão novamente, a beta olhou para o moreno com ternura.
— Eu sabia que você tinha exagerado quando disse que tinha ido mal.
— Eu não exagerei, eu realmente fui mal. Acho que apenas dei sorte de ninguém ter ido melhor do que eu.
— Não se menospreze, Jin, eu tenho certeza que você ainda vai muito longe!
— Espero muito que a senhora esteja certa.
Jin foi até a geladeira e serviu copos com água para ambos. Precisava se acalmar, tinha que decidir o que fazer agora. Ele não tinha um advogado, pelo menos não um que fosse realmente seu. Sempre que precisava de algo, Joong-ki pedia para os seus advogados resolverem. Sabia que o marido não iria gostar da notícia, mas certamente não se recusaria a ajudá-lo. Na verdade, possivelmente, gostaria de monitorar cada passo dali para frente.
Contudo, antes disso, ele tinha um outro assunto a resolver. Um pouco envergonhado, Jin olhou para Kwon-joo.
— Sra. Park, eu tenho um favor para pedir a senhora.
— Pode pedir, Jin. Se tiver ao meu alcance, garanto que farei.
— Bom... Primeiro, quero reforçar que é um pedido, não uma ordem. Não se sinta coagida a aceitar, até porque está fora das suas atribuições. Além disso, garanto que conseguirei que Jon lhe pague um adicional pelo trabalho extra.
— Fale logo, menino, está me deixando nervosa. Você não vai me pedir para matar alguém, não é?
— Quê? Claro que não! — ao ver a expressão de espanto no rosto bonito do beta, Kwon-joo riu. — É que você é a pessoa em quem eu mais confio para cuidar do Soobin quando não estou por perto. Confio mais em ti do que no desligado do meu marido. Bom... com as gravações aos sábados, não poderei estar aqui com ele. Se a senhora puder apenas olhá-lo algumas horas durante o dia, apenas verificando se ele comeu, se está bem, se precisa de algo, eu realmente agradeceria.
— Mas é claro, Jin, nem precisa pedir algo assim.
— Muito obrigado! Não sabe o peso que está tirando das minhas costas.
Mais uma vez, o beta abraçou a mais velha. Era bom sentir que não estava sozinho, era bom sentir que podia contar com alguém.
— Bom, preciso dar a notícia ao Jon.
— Boa sorte! — a beta desejou com sinceridade, Jin já tinha compartilhado com ela diversas vezes sobre as ressalvas do marido em relação a sua profissão.
Seokjin pegou o seu celular e depois caminhou para o jardim. No caminho, ele cruzou com Shin Hye-kyo e a cumprimentou com um sorriso. Após afastar-se um pouco da casa, Jin selecionou o contato do marido e apertou em "ligar". Geralmente, o beta evitava ligar para ele durante o expediente de trabalho, sabia que o alfa tinha um dia muito corrido, mas estava tão ansioso que não queria esperar até à noite. Não ia criar expectativas sobre a reação dele, sabia que Joong-ki não gostaria da notícia, mas queria apenas contar para ele.
Na verdade, queria contar para todo mundo. Cogitou, enquanto esperava ser atendido, se valeria a pena ligar para os próprios pais, mas acabou percebendo que não. Eles nunca apoiaram a sua carreira, não faria diferença para eles se o filho tinha ou não conseguido o papel em algum lugar. Mesmo que negasse, a frieza dos pais ainda o atingia profundamente. Além disso, era bom divulgar apenas quando tudo estivesse confirmado. Se algo desse errado, ele sairia como mentiroso.
— Oi, amor. Aconteceu alguma coisa? — a voz do alfa soou calma do outro lado da linha, o que era um bom sinal.
— Jon, estou ligando para pedir a sua ajuda. O pessoal daquele drama me ligou, eu passei no teste. Eles disseram que vão me enviar o contrato por e-mail e eu queria pedir que você me indicasse alguém que pudesse ler ele direitinho. Claro que eu irei ler também, mas eu não entendo muito disso...
— Espera, você passou? — a voz do alfa carregava um certo tom de surpresa.
— Sim, passei. Falaram que eu fui bem no teste. Acho que eu exagerei um pouco naquele dia achando que tinha sido péssimo.
— Mas você até esqueceu as falas.
— É, eu sei... Aparentemente, eles decidiram ignorar o final do teste. Eu fui bem no começo, eu tinha decorado tudo direitinho.
— E por que eles ligaram para você e não para mim?
— Eu deixei meu número lá, não queria te incomodar com as minhas coisas.
— Isso nunca me incomodaria, Jin. Tudo relacionado a você é do meu interesse. Depois, peça para adicionarem o meu número lá e ligarem diretamente para mim. Eu cuidarei de tudo.
— Certo... — Jin não faria isso, mas o alfa não precisava saber. Já era um homem adulto e poderia cuidar dos seus interesses sozinho, sem a tutela do marido.
— Quando eles enviarem o contrato, encaminhe para o meu e-mail, eu vou pedir para os meus advogados lerem. Aliás, eu mesmo vou ler cada cláusula.
— Obrigado, Jon.
— Tenho que desligar. Quando eu chegar em casa, conversamos melhor.
— Ok.
Após os dois terminarem a ligação, Jin voltou para dentro da casa. Agora, estava ainda mais animado para fazer a sobremesa para Soobin, seria o seu modo de comemorar com o filho a notícia. Apesar de tudo, ele tinha conseguido. Apesar de tudo, ele tinha o seu primeiro protagonista. Apesar de tudo, ele estava feliz.
— — —
Do outro lado da cidade, Kim Namjoon e Jung Hoseok conferiam a lista do elenco mais uma vez. Já tinham ligado para os atores principais, mas ainda teriam que ligar para os coadjuvantes durante o resto do dia. Não tinha sido fácil preencher aquela lista, mas eles conseguiram. Não era um elenco tão grande, mas com certeza era o que contava com mais atores betas em seu escopo se comparado a outros dramas em andamento.
— O Park Jimin confirmou o interesse?
Namjoon, em resposta, apenas assentiu. Não olhou na direção do amigo, estava concentrado observando os nomes e números a sua frente. Ele mal acreditava que Hoseok o tinha convencido a contratar o tal Kim Seokjin. O alfa ainda se sentia receoso com aquela decisão, mas, como não conseguiu vencer o melhor amigo na argumentação, teria que lidar com isso agora.
— É tão estranho... — o beta deixou a frase por terminar, o que atraiu a atenção do alfa.
— O quê?
— O pessoal que recebemos da HYBE... Quase todos os betas que eles mandaram eram para o papel do Song Hyuk. Por que os betas de lá ficaram tão interessados nesse papel? Coloquei alguns para serem coadjuvantes, mas, analisando agora, é algo realmente esquisito. As empresas estavam preferindo mandar betas para os papéis de casais, até porque geralmente são os que possuem mais apelo com o público e atraem mais mídia. O Song Hyuk é um protagonista, mas ele pode ser facilmente apagado pelos casais, há esse risco... Kim Seokjin terá que ser muito bom para manter a atenção do público no personagem.
— Talvez tenham pensado que seria um papel com menos concorrência, não sei...
— Mas isso é totalmente sem sentido. A empresa que inscreveu todos, então como não perceberam algo assim? É como se a empresa tivesse colocado todos os seus betas para disputarem entre si. Em vez de dividir forças, estavam na verdade se sabotando.
Namjoon apenas deu de ombros, aquilo realmente não lhe interessava. O alfa voltou a analisar a lista, teria que ligar agora para um ômega. Odiava ligar para pessoas, mas, com o orçamento pequeno, ele e Hoseok tiveram que pegar algumas funções extras para economizar, não puderam contratar secretários e assistentes. Isto lhe lembrava do final da faculdade e início de carreira, em que, mesmo vindo de uma família tradicional com um sobrenome forte, ainda era um novato. Muitas vezes, ele e Hoseok tiveram que se virar para abarcar tudo o que não podiam pagar, improvisando o máximo possível e usando da criatividade para burlar as dificuldades.
Assim que pegou o celular, foi interrompido por batidas na porta. Hoseok pediu que a pessoa entrasse, e, quando a porta se abriu, uma bela moça, tão conhecida pelos dois homens, colocou apenas a cabeça e a parte superior do corpo para dentro da sala, como se pedisse mais uma vez permissão para entrar. Namjoon sorriu ao ver o doce sorriso de sua noiva.
— Atrapalho? — perguntou, tímida.
— Não, pode entrar. — o alfa tomou a frente e respondeu. Hoseok apenas sorriu simpático.
Ji-won era uma linda ômega de 1,64 de altura. Tinha traços delicados e a pele lisa como de uma boneca. Seus olhos, bem desenhados, podiam ser intimidadores e sensuais, mas também meigos, caso assim ela desejasse. Isso era algo que costumava ajudá-la em seu trabalho, pois lhe permitia assumir diferentes personas com facilidade. Ji-won era uma atriz razoavelmente conhecida na Coreia, tendo atuado em muitos dramas nos últimos anos. O mais importante entre eles foi justamente o que trabalhou ao lado de Namjoon, isso há quatro anos.
— O que estão fazendo? — perguntou, aproximando-se do noivo. Ao chegar até o alfa, envolveu os delicados braços em torno dos largos ombros do loiro.
— Ligando para o elenco e enviando os contratos. — o alfa começou a acariciar um dos braços que envolviam o seu pescoço. Respirou fundo, sendo tomado pelo cheiro doce da noiva. Sentir o cheiro dela sempre o acalmava. — Acho que o dia hoje será só para isso.
— Está sendo tão puxado para vocês... Eu queria poder ajudar mais.
— Ji-won, já que você ofereceu, eu pensei em uma coisa! — Hoseok disse animado, atraindo a atenção da moça. — Não teremos muito dinheiro para o marketing, então vamos apelar um pouco para a criatividade. Pensando no que poderíamos fazer, eu tive uma ideia. Será que daria para você convidar os quatro atores principais de Epiphany para a sua festa de aniversário? Como vai ter bastante mídia por lá, poderia ser legal para eles pelo menos serem vistos.
— Claro, posso sim! — respondeu sorrindo. — São todos iniciantes?
— É, a maioria está no seu primeiro trabalho de verdade agora.
— Ah, posso apresentá-los a algumas pessoas importantes na minha festa. Estou convidando alguns diretores, produtores e roteiristas com quem eu já trabalhei. Também convidei o alto escalão da minha empresa. Será bom para eles terem alguns contatos.
— Seria muito generoso da sua parte se pudesse ajudá-los, meu amor. Sabe como é difícil para os betas conseguirem entrar nesses espaços. — Namjoon comentou.
— Aliás, Ji, tu conhece algum Kim Seokjin? Ele também é da HYBE.
A ômega parou pensativa, buscando em sua memória algum registro desse nome. Ela conhecia muitas pessoas todos os dias, era difícil lembrar de todo mundo. Por fim, encarou o beta e negou.
— Por quê? Ele atuará no drama?
— Sim, ele é um dos protagonistas. É o único entre os principais que é assessorado por uma empresa grande.
— O Hobi tá caidinho por ele. — Namjoon disse, provocando o amigo. Ele realmente acreditava na teoria de que Hobi defendia o outro beta porque tinha interesses pessoais nele.
Em resposta, o beta revirou os olhos, já estava cansado daquela história sem pé e cabeça.
— Eu já disse que não estou. Você sabe muito bem que eu prefiro ômegas e betas pequenos. Além disso, como você mesmo disse, ele já tem um alfa.
— Diz isso, mas fez questão de ligar para ele.
— Claro! Eu tinha medo de que se você ligasse, você o fizesse desistir. — Hobi desviou o olhar do alfa e o direcionou para a ômega. — Seu noivo decidiu implicar com o coitado do rapaz. Eu tive que convencer esse cabeça dura de que o Jin era uma boa opção.
— Eu não estava implicando, estava apenas colocando o meu ponto de vista.
— Joonie, você colocou defeito em tudo no rapaz. Eu estava esperando o momento em que você ia dizer algo como "Não quero ele no drama porque não gostei do cabelo dele". — o beta deixou a voz mais grave, tentando imitar o timbre do alfa. — Ou algo como "Não quero ele no drama porque ele respira demais".
Namjoon fez uma careta diante da imitação do amigo. Diferente do alfa, a ômega ria abertamente.
— Que exagero!
— Exagero? Joonie, convenhamos, foi quase isso.
— Por que você não gostou dele, amor? — a ômega perguntou.
— Acho que apenas não gostei, só isso. Não fui com a cara dele — respondeu, simplista.
— Pois trate de começar a gostar, pois ele será um dos nossos protagonistas e não quero ver você tratando ele mal.
O alfa assentiu, sabia que precisava pelo menos disfarçar a sua insatisfação com a presença do beta. Como Hoseok disse, ele seria um dos atores principais, ele precisava ser profissional. Porém, não era por isso que precisaria ter muito contato com ele.
Já tinha decidido, falaria com o beta apenas o essencial e manteria uma distância segura. Ele já tinha feito isso antes, já tinha trabalhado com pessoas que realmente não gostava, então não seria um grande problema.
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