O dia de Louis tinha sido absolutamente caótico e tudo que ele queria era colocar um pijama confortável e assistir qualquer um dos reality shows ruins que Harry gostava, mas sua vida não era tão fácil assim.
O homem havia passado as últimas horas correndo de um lado para o outro para ter certeza de que tudo estaria pronto para o baile beneficente de logo mais e agora estava sofrendo enquanto sua mãe o enforcava com um pedaço de tecido. Tudo bem, ela estava apenas ajustando sua gravata, mas a sensação era de sufocamento.
– Você precisa ficar quieto - Jay brigou quando ele se mexeu mais uma vez e a fez errar o nó da peça de roupa.
– Eu não gosto disso - ele reclamou fazendo birra como uma criança que precisa usar terno no casamento de um tio distante.
– São só algumas horas, não faça drama - ela disse antes de finalmente conseguir concluir sua tarefa - E o Harry? Não seria mais fácil ele ter vindo se arrumar aqui também?
– O Hazz não vai - contou com a voz baixa.
A mentira que ele tinha contado ao namorado estava o atormentando desde que saiu da sua boca, mas ele vinha tentando se convencer de que aquela tinha sido a melhor decisão.
Considerou voltar atrás algumas vezes, mas só a ideia de ver seu garoto em um ambiente onde não se sentisse completamente confortável fazia seu coração apertar, então acabou deixando por isso mesmo e torcendo para ter feito a coisa certa.
– Como assim não vai? - Johannah perguntou confusa - Ele é seu namorado, deve te acompanhar.
– Nem eu queria ir - respondeu revirando os olhos - Achei melhor poupá-lo dessa chatice, eu vou passar na casa dele mais tarde.
– E ele sabe porque não foi convidado?
– Eu disse que não podia levar um acompanhante - confessou envergonhado e começou a se justificar assim que viu a expressão zangada da sua mãe - Ele ia insistir se eu falasse sobre o motivo verdadeiro, tudo bem? Assim foi melhor, ele não se sentiu obrigado a ir também apenas para me agradar e era isso que eu queria evitar.
– E o que ele vai pensar quando souber que você mentiu? - ela questionou preocupada - Que você deliberadamente decidiu não levá-lo para uma festa onde toda a alta sociedade londrina estará presente?
– Ele não vai descobrir - murmurou querendo mais que tudo parar de falar sobre aquele assunto.
– A verdade sempre aparece, filho - ela disse colocando a mão levemente no ombro do mais novo - E eu espero que isso não se torne um grande problema entre vocês.
Sem falar mais nada, a mulher se virou e saiu do cômodo, deixando Louis sozinho com seus próprios pensamentos. Ele tinha tomado a decisão errada? Bom, agora era tarde demais para se arrepender. Só o que ele podia fazer era torcer para sua mãe estar enganada e essa mentira em específico ficar escondida para sempre.
Com o passar do tempo, todos os Tomlinson começaram a se dirigir ao local do baile. Charlotte havia se arrumado em um hotel perto de lá para não amassar seu vestido dentro de um carro e por isso Louis não a viu antes de tudo. Ele iria sozinho em seu carro, já que passaria no apartamento de Harry depois, e seus pais saíram um pouco antes dele estar completamente pronto.
O chef já estava dentro do seu veículo quando seu celular tocou e ele o pegou animado com a ideia de que talvez fosse seu namorado ligando, mas sua expressão caiu quando viu que outro nome brilhava na tela.
– Lou? - Grace disse assim que ele atendeu a ligação.
– Oi, boa noite - cumprimentou educado - Aconteceu alguma coisa?
– Eu preciso de ajuda - ela falou com a voz levemente desesperada - O motorista que me levaria sumiu e meu carro está na oficina, você pode vir me buscar?
– Não é mais fácil você chamar um táxi? - ele perguntou pensando em como ela morava longe.
– Eu não quero chegar de táxi no baile - a moça retrucou começando a ficar chorosa - Por favor, Lou, nós somos amigos.
– Tudo bem... - suspirou por fim - Chego aí em trinta minutos, esteja pronta.
– Você é o melhor! - exclamou completamente recuperada do quase choro de segundos antes - Estou te esperando.
Enquanto dirigia até a casa da garota, Louis pensava em como sua noite estava gradativamente piorando. Ele só esperava que aquilo tudo acabasse o mais rápido possível e ele pudesse voltar a viver sua vida sem precisar pensar em agradar pessoas metidas das quais ele nem gostava.
Chegou no tempo combinado na casa de Grace e ela, como prometido, já estava o esperando. A mulher estava muito bonita com seu vestido vermelho, mas ele sinceramente não prestou muita atenção.
– Você é meu salvador! - ela exclamou quando entrou no carro - Cadê seu namorado?
– Ele não vai - falou sem dar mais detalhes, ocupado demais com a estrada para ver o sorriso vitorioso que a garota abriu.
Ela passou todo o tempo até o local do evento falando sobre como estava empolgada para a noite e dos detalhes da sua roupa, mas Louis realmente não ligava. Assentiu nos momentos certos e concordou algumas vezes, mas sua cabeça estava longe.
Quando os dois finalmente chegaram, ele a ajudou a sair do carro como qualquer homem educado faria e foi nessa hora que todos os fotógrafos presentes começaram a enfiar câmeras em seus rostos.
Tomlinson se sentiu cegar pelos flashes e segurou Grace pela cintura para conseguir tirá-los daquela confusão. Só a soltou quando já estavam em segurança dentro do salão de festas que, ele tinha que admitir, parecia incrível.
Charlotte os encontrou logo em seguida e cumprimentou o irmão e a amiga com animação. Louis sorriu para a irmã ao ver a linda mulher que ela tinha se tornado, o tempo realmente passou muito rápido na opinião do chef.
– Lou, você me acompanha em uma bebida? - Grace perguntou com uma voz doce enquanto segurava seu braço, mas ele foi rápido em desviar do contato.
– Eu preciso ir checar como as coisas estão na cozinha - se justificou e começou a se afastar - Vejo vocês depois.
Aquilo não era bem verdade, Liam estava cuidando de tudo e ele confiava no amigo de olhos fechados, mas não queria passar horas ouvindo as conversas das duas garotas. Elas tinham interesses bastante diferentes dos seus e tudo soava entediante demais para sua mente já cansada.
Localizou seus pais no salão e andou até eles para os cumprimentar, mas também se afastou depressa quando eles resolveram dançar. Os olhou de longe por um tempo, sorrindo ao notar o amor em seus olhos enquanto se encaravam. Era isso que ele queria com Harry, que os dois fossem para sempre apaixonados como eram atualmente.
Pelas próximas horas, apertou inúmeras mãos de pessoas que não gostava, deu alguns lances em coisas das quais não precisava e se envolveu em conversas sobre assuntos que não o interessavam. Como ele imaginou, foi tudo uma chatice, mas finalmente chegou o momento de ir embora.
A festa ainda rolava a todo vapor e iria até altas horas, mas o principal já havia acontecido e ele estava liberado para fugir dali e ir até seu namorado. Mal via a hora de tirar aquela roupa desconfortável e enterrar seu rosto no pescoço cheiroso de Styles.
Dirigiu animado até o apartamento do mais novo e torceu para ele ainda estar acordado. Tinha avisado que iria até lá, mas já passava da uma da manhã e ele não queria perturbar o sono do seu garoto.
Não precisou se preocupar com isso, no entanto, já que quem o atendeu quando tocou a campainha foi Niall, que tinha uma expressão fechada que confundiu Tomlinson.
– Ei, Ni - cumprimentou antes de fazer menção de entrar no apartamento, mas teve sua presença impedida pelo corpo de Horan.
– Aonde você pensa que vai? - perguntou sério.
– Ver o Harry - falou como se fosse óbvio - Ele já está dormindo? Não faz mal, eu entro caladinho, não vou perturbar seu sono.
– Dormindo? - repetiu com a voz cheia de ironia - Eu duvido muito que ele vá conseguir dormir essa noite, não quando não para de chorar.
– Chorar? - perguntou confuso - Por que ele está chorando? Aconteceu alguma coisa?
Louis se amaldiçoou mil vezes por ter ido naquela festa estúpida e ter passado tanto tempo sem ter notícias do cacheado. Ele devia ter suspeitado que havia algo errado quando não teve resposta para a mensagem que enviou mais cedo, mas pensou que o mais novo estava apenas distraído com outra coisa.
– Cara, você é muito sonso - revirou os olhos de forma irritada - Achou que ele não ia descobrir que você inventou a história de que não poderia levar acompanhantes à festa só para ir com outra pessoa?
– Do que você está falando?! - quis saber começando a ficar nervoso.
– Das suas fotos com aquela garota insuportável - explicou aumentando o tom de voz - Eu não sei como me enganei tanto com você, mas se você acha que pode tratar meu amigo assim, então você está muito enganado e...
– Niall! - uma voz alta se fez presente e os dois homens discutindo viraram para encontrar Harry os olhando com o rosto inchado e vermelho.
Louis quis morrer ao ver aquela cena. Seu garoto esteve chorando e a culpa era toda sua e da sua burrice. Se ele pudesse voltar no tempo e fazer tudo diferente ele faria. Insistiria em ligar para o namorado, negaria a carona que deu para Grace e, principalmente, contaria a verdade sobre a festa.
– Cachinhos... - ele chamou com a voz fraca e viu os olhos verdes se encherem de lágrimas.
– Eu posso mandar ele embora - Horan ofereceu ao amigo - Você não precisa fazer isso agora.
– Está tudo bem - Styles falou com a voz trêmula - Vem, Louis.
Tomlinson não gostou de ser chamado daquele jeito. Parecia frio, distante, como quando eles ainda não eram um do outro. Precisava consertar aquilo, precisava ouvir seu garoto o chamando de 'Lou' com a voz apaixonada novamente.
Eles andaram em silêncio até o quarto do cacheado e o mais novo fechou a porta assim que entraram, os trancando naquele cômodo que parecia muito menor do que a dois minutos atrás.
Louis não sabia muito bem como começar e o nó na sua garganta só piorou quando ele olhou para o armário de Harry e notou o smoking pendurado ali com cuidado. Ele tinha estragado tudo, realmente tinha.
– Isso foi burrice - Harry murmurou quando viu para onde o mais velho olhava - O Niall me contou da festa e me disse que você ia me convidar para ir junto, por isso nós compramos. Eu vou devolver na segunda-feira.
Sua voz parecia tão frágil e envergonhada, cada palavra responsável por amassar ainda mais o coração do chef.
– Hazz, eu...
– Você podia ter me dito a verdade - falou se enchendo de mágoa e querendo colocá-la para fora - Podia ter dito que não queria me levar lá, que não era o meu lugar, eu ia entender e até concordar, mas você mentiu para mim, Louis.
– Não foi isso - negou com desespero ao ver como o mais novo acreditava em cada uma daquelas palavras autodepreciativas.
– Você não mentiu? - perguntou olhando no fundo dos olhos azuis enquanto procurava pela verdade.
– Menti - confessou derrotado - Mas não pelos motivos que você disse, nunca por não te achar bom o suficiente.
– Você a levou - acusou com os lábios trêmulos e lágrimas escorrendo por seu rosto.
– Eu não levei! Quer dizer, levei, mas não como acompanhante - explicou se confundindo com as palavras por causa do nervosismo - Ela me pediu uma carona, Hazz, isso foi tudo!
– Vocês estavam abraçados...
– Por causa da confusão de fotógrafos - disse passando as mãos pelos cabelos e andando de um lado para o outro - Eram muitos flashes e eu estava tentando nos tirar dali, só isso.
Aquilo fazia sentido e Harry acreditava, conseguia ver que o mais velho estava sendo honesto, mas isso não apagava o fato de que ele confessou que havia mentido sobre não poder levá-lo a festa e isso magoava profundamente o cacheado.
De todas as pessoas no mundo, Louis era a última que ele esperava que o escondesse. O mais velho disse tantas vezes que Styles não era inferior a ninguém e talvez esse tenha sido o erro do mais novo: acreditar.
– Por que você mentiu? - perguntou chorando.
– Eu estava tentando te proteger - explicou e arrancou uma risada amarga do cacheado - É verdade! A festa de hoje foi um amontoado de pessoas hipócritas, falsas e maldosas, eu só queria te poupar disso. Se houvesse essa opção, nem eu mesmo teria ido.
– Você podia ter me dito isso - resmungou - Podia ter sido honesto como eu sempre fui com você.
– Eu tive medo de que você se sentisse obrigado a ir por ser meu namorado. A última coisa que eu quero é te colocar em situações ruins - respirou fundo tentando se acalmar - Eu só não queria que você se prejudicasse para me fazer feliz, é isso.
– Eu não sou uma criança, Louis! - exclamou frustrado - Eu posso decidir aonde eu quero ir e também aonde eu não quero. Meus motivos são apenas meus e você não pode tomar decisões por mim, especialmente quando elas envolvem mentiras.
– Eu sinto muito, cachinhos - falou tentando se aproximar, mas o mais novo recuou - Eu sinto tanto.
– Hoje você me fez sentir pequeno - disse com seriedade - Eu me senti insuficiente e tudo em mim gritava que eu não era bom o bastante para seus eventos chiques e seus amigos ricos. Eu não quero me sentir assim de novo, Louis. Nunca mais.
– Amor, me perdoa - pediu, conseguindo chegar perto o suficiente de Harry para segurar suas mãos - Eu fiz tudo errado, mas eu não queria te machucar. Eu te acho bom demais para mim, Hazz. Se alguém aqui não merece o outro, então esse alguém sou eu. Por favor, me desculpa, por favor.
O cacheado soube que sua raiva tinha sumido no momento em que olhou para os olhos marejados do namorado e seu primeiro instinto foi abraçá-lo e secar suas lágrimas.
Ele tinha sim ficado ferido com os acontecimentos das últimas horas, mas sabia que o homem na sua frente dizia a verdade e não queria perder seu amor por uma coisa pequena como aquela.
– Precisamos ser verdadeiros um com o outro - falou com firmeza - Eu preciso que você me veja como uma pessoa capaz de tomar suas próprias decisões e não um ser frágil que precisa ser poupado.
– Tudo bem - concordou rapidamente - Eu só te amo tanto que quero te proteger do mundo, mas já entendi que você não precisa de mim para isso.
– Eu também te amo, Lou - suspirou por fim - Não faz de novo, tá bom?
– Eu prometo - disse revezando seu olhar entre as grandes esmeraldas que o encaravam e os lábios que ele queria tanto sentir - Eu posso te beijar?
Sem falar nada, o cacheado juntou seus rostos e matou a vontade que também enchia seu corpo. Eles não aprofundaram nada, não era o momento, mas foi o suficiente para que ambos matassem a saudade do gosto um do outro e fizessem seus corações se acalmarem depois de tanto caos.
– Você vai dormir aqui? - Harry perguntou quando eles se separaram.
– Se você deixar - deu de ombros com um sorriso esperançoso.
– Vai tirar essa roupa - mandou vendo uma malícia divertida brilhar nos olhos azuis - E colocar um pijama, seu pervertido!
Louis fez o que foi mandado e logo os dois estavam abraçados embaixo das cobertas. Aquilo era bom, era calmante e trazia paz para seus espíritos.
– Você acha que o Niall vai me perdoar? - Tomlinson perguntou baixinho quando eles já estavam quase dormindo.
– Talvez você deva considerar um aumento - Harry brincou antes de finalmente pegar no sono nos braços fortes do seu amor.