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By catratonks

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𝐚𝐫𝐭𝐞. substantivo feminino ? ΰ₯§ 𝐒. produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concret... More

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π˜π„π€π‘ π…πŽπ”π‘
π˜πŸ’: Quidditch World Cup
π˜πŸ’: The Triwizard Tournament
π˜πŸ’: The Four Champions
π˜πŸ’: Potter Stinks
π˜πŸ’: The First Task
π˜πŸ’: Will You Dance With Me?
π˜πŸ’: Yule Ball
π˜πŸ’: The Golden Egg
π˜πŸ’: The Second Task
π˜πŸ’: Truth Or Dare
π˜πŸ’: The Third Task
π˜πŸ’: Everything Changes
π˜π„π€π‘ π…πˆπ•π„
π˜πŸ“: Grimmauld Place
π˜πŸ“: The Silver Dress
π˜πŸ“: The Prank
π˜πŸ“: Dolores Umbridge
π˜πŸ“: Firefly Conversations
π˜πŸ“: Harry, My Harry
π˜πŸ“: The Astronomy Tower
π˜πŸ“: The High Inquisitor
π˜πŸ“: The Revenge
π˜πŸ“: The Reunion
π˜πŸ“: Midnight Talking
π˜πŸ“: Dumbledore's Army
π˜πŸ“: Weasley Is Our King
π˜πŸ“: Love Potion
π˜πŸ“: Nightmares
π˜πŸ“: Holly Jolly Christmas
π˜πŸ“: Maddie's Birthday Party
π˜πŸ“: Happy New Year!
π˜πŸ“: Fireworks
π˜πŸ“: Draco Malfoy
π˜πŸ“: Honeycomb Butterflies
π˜πŸ“: Expecto Patronum
π˜πŸ“: The New Seeker
π˜πŸ“: Breakdown
π˜πŸ“: A Whole New Perspective
π˜π„π€π‘ π’πˆπ—
π˜πŸ”: Horace Slughorn
π˜πŸ”: The Burrow
π˜πŸ”: Weasley's Wizard Wheezes
π˜πŸ”: August 11th
π˜πŸ”: Back to Hogwarts
π˜πŸ”: Amortentia
π˜πŸ”: The Quidditch Captain
π˜πŸ”: Draco?
π˜πŸ”: Falling Apart
π˜πŸ”: The Bookstore of Mysteries
π˜πŸ”: Slug Club
π˜πŸ”: Champagne Problems
π˜πŸ”: Dirty Little Secret
π˜πŸ”: Sign Of The Times
π˜πŸ”: Road Trip
π˜πŸ”: Whispers and Secrets
π˜πŸ”: Shopping Day
π˜πŸ”: Rufus Scrimgeour
π˜πŸ”: The Hunt
π˜πŸ”: Valentine's Day
π˜πŸ”: Quidditch Disaster
π˜πŸ”: Sixteenth Birthday
π˜πŸ”: Liquid Luck
π˜πŸ”: Sectumsempra
π˜πŸ”: The Cave
π˜πŸ”: What Starts, Ends
π˜π„π€π‘ 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
π˜πŸ•: The Seven Potter's
π˜πŸ•: The Birthday Party
π˜πŸ•: The Wedding
π˜πŸ•: The Murderer
π˜πŸ•: September 1st
π˜πŸ•: The Sins Of Tragedy
π˜πŸ•: Body and Soul
π˜πŸ•: Slytherin's Locket
π˜πŸ•: The Depths Of Fall
π˜πŸ•: Breaking Hearts
π˜πŸ•: Godric's Hollow
π˜πŸ•: The Sword
π˜πŸ•: The Deathly Hallows
π˜πŸ•: Bellatrix's Vengeance
π˜πŸ•: Highs And Lows
π˜πŸ•: The Talk
π˜πŸ•: The Plan
π˜πŸ•: Knives? Sure!
π˜πŸ•: The Boy Who Lived
π˜πŸ•: When Nightmares Come to Life
π˜πŸ•: Blood And Bone
π˜πŸ•: Voids
π˜πŸ•: Death Comes
π˜πŸ•: Sunflowers
π˜πŸ•: Turning Page
π˜πŸ•: Intertwined Fates
𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐀𝐑
I. Surprises
II. Soft Kisses And Bad Dreams
III. Death's Lullaby
IV. WARNING: DANGER!
V. Hunting Season
VI. The Corner Of The Lost Souls
VII. The Letter
VIII. Sex On The Beach

π˜πŸ”: The Curse

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By catratonks

Quando entrei no Três Vassouras, Ron e Hermione já estavam esperando por nós. Caminhei até eles, fingindo estar calma quando na verdade estava beirando um ataque de pânico.

Discutir com Harry, por qualquer que fosse o motivo, sempre me deixava triste de uma forma desesperada, como se eu não conseguisse conter meus nervos. Eu já estava me arrependendo amargamente de ter perdido a cabeça com ele, amaldiçoando a mim mesma sem piedade. Ele tinha comprado livros para mim, e eu agi como uma puta mal agradecida sem caráter; mas não foi proposital. Algo rústico e completamente selvagem em meu interior se rebelou, despertando lentamente de meu sangue que borbulhava. E aquela faísca de poder inominável... Aquilo desestabilizou tudo.

O pior é que eu nem podia pedir desculpas naquele momento mesmo, já que Maddie estava conosco. Apesar de toda a confiança que eu colocava nela, eu não gostaria muito que minha irmã presenciasse algum tipo de conversa íntima entre Harry e eu.

Tentei dar um sorriso fraco conforme me sentei de frente para Ron e Hermione, mas não devo ter sido muito convincente, porque o garoto perguntou:

— Está tudo bem?

Mesmo que eu não quisesse responder, me senti um pouco melhor ao saber que Ron estava, aos poucos, voltando a ser legal comigo.

Dei de ombros, sem realmente dizer alguma coisa, e coloquei a sacola de livros que tanto me atormentava sobre a mesa. Hermione me estudou com cautela, depois o papel amassado do pacote.

— Posso ver? — perguntou.

— Vá em frente.

Ela mexeu sutilmente com a ponta dos dedos no plástico, espiando o conteúdo de dentro.

— São para alguém? Está tudo embrulhado em papel para presente.

— Bem, tecnicamente. Harry os comprou para mim.

— E você não está feliz? Livros são seu refúgio seguro.

— É claro que estou feliz, veja.

Puxei um pedaço do papel de embrulho, revelando uma pequena amostra da capa de Persuasão, que era mais que o suficiente para Hermione exclamar:

— São primeiras edições! Nossa, que sorte a sua, S/N!

Fechei os olhos, enterrando o rosto nas mãos e os dedos em meus cabelos bagunçados pelo vento que soprava do lado de fora do estabelecimento lotado. Acabei mordendo meus próprios lábios também, para descontar a ansiedade.

— Eu sou tão estúpida — resmunguei, tirando as mãos do rosto. Os dois me olhavam sem entender nada.

— Por que está dizendo isso? — perguntou Ron.

— Nós brigamos — expliquei. — Harry e eu.

Hermione franziu o cenho, preocupada.

— O que aconteceu?

— Estávamos saindo da livraria quando Harry disse que a dona da loja estava falando a língua das cobras — diante disso, Hermione pareceu preocupada. — Sim, ele fez essa cara que você está fazendo agora, Mione. Sugeri que fôssemos para um lugar onde não pudessem nos seguir, caso a mulher fosse um Comensal da Morte disfarçado, e Harry concordou, dizendo que precisávamos cuidar da minha segurança.

— Certo... Ainda não entendi o motivo da briga.

— Fiquei chateada porque Harry sempre coloca as minhas necessidades acima das dele. Hazz não liga se está correndo perigo ou não, contanto que eu esteja segura, e isso me irrita porque eu também quero protegê-lo. Além do mais, não gosto de ser vista como alguém que não pode se defender. Sei que estou passando por poucas e boas, mas isso não é motivo.

— Que motivo de discussão mais bobo — disse Ron, com inocência. Hermione deu um tapa no ombro dele. — Ai, Hermione! O quê? Eu só estava comentando...

— Ron está certo — falei. Os dois olharam para mim. — Foi um motivo bobo. Eu surtei, porque aparentemente isso é tudo que consigo fazer, e estraguei tudo. Eu sou tão, tão idiota.

— Calma, S/N — disse Hermione, tocando em meu braço gentilmente por cima da mesa. — Harry sabe que não foi de propósito. Não precisa ficar se lamentando por isso.

— Ele é tão bom comigo, e eu o tratei assim. Estou me sentindo muito mal.

— Vai dar tudo certo — disse Ron. — Quero dizer, você sabe que Harry tem esse senso de proteção desde sempre, não sabe? O cara tem uma certa necessidade de proteger todo mundo, mas é compreensível, considerando as coisas pelas quais ele passou. Principalmente quando se trata de você — Ron deu um sorriso. — Harry te ama, S/N. Até quando vocês não estão juntos, ele fica mencionando seu nome no assunto. É meio irritante — o menino riu. — Mas tudo o que Harry sempre quis foi proteger a família dele. E como os pais dele morreram, você é praticamente a única pessoa que lhe resta.

— Ron está certo — disse Mione. — Harry precisa de você aqui, dessa segurança que você transmite. Ele precisa ter certeza de que você está bem, que está segura, e esse amor cego que Harry nutre por você pode ter pequenas consequências porque ele está tão preocupado em te manter a salvo que sua visão bloqueia o resto. Ele daria a vida para poupar a sua, S/N.

— Eu sei, e tenho tanto medo disso — falei, baixinho, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, e me senti mais idiota ainda porque odiava chorar na frente dos outros. — Na noite em que papai morreu, quando fui correndo atrás de Bellatrix, Voldemort apareceu e tentou nos matar. Mas Harry se colocou na minha frente, e eu n-nunca senti tanto medo na vida...

Hermione se levantou e me abraçou, seguida por Ron. Isso me desmontou, me fazendo chorar de verdade. Tentei sufocar as lágrimas por todos aqueles meses de tensão acumulada, por todo o tempo em que senti que estava me afastando de meus amigos, por todos os momentos em que preferi me esconder do mundo a lidar com ele, sentindo-me culpada por isso, mas não consegui. Elas escorreram por minhas bochechas, e de certo modo senti alívio por deixá-las ir, como se aquele momento fosse minha libertação.

Eu tinha sentido falta de estar com eles.

Ron fez carinho em minhas costas, e Hermione deu um beijo fraternal em minha testa. Finalmente, depois de tanto tempo, senti que podia relaxar. Às vezes eu me esquecia de que precisava mais de meus amigos do que imaginava.

— Sem querer ser chato, mas as minhas pernas estão doendo de tanto ficar em pé — disse Ron. Acho que ele fez de propósito, para me fazer rir, e deu certo.

— Tudo bem. Me desculpem.

Eles se sentaram de novo, mas Hermione continuou ao meu lado, segurando minha mão. Não me dei ao trabalho de enxugar minhas lágrimas: deixaria que virassem marcas do dia em que consegui me abrir, mesmo que um pouco, para pessoas que significavam muito para mim.

— Você não precisa pedir desculpas por chorar, S/N. Essa é uma das coisas que te fazem humana, e isso é bom.

— Ironicamente, acho que é a segunda ou terceira vez que me dizem isso — ri.

Ela deu de ombros, sorrindo também.

— Mas é verdade.

— Eu sei — suspirei. — Obrigada por estarem aqui.

— Sempre estaremos — disse Hermione. Ron concordou. — Quer conversar mais sobre isso?

Dei de ombros.

— Eu também entendo Harry, sabe. Acho que foi esse um dos motivos pelos quais brigamos. Eu não queria admitir para mim mesma que ele estava certo. Estou mesmo quebrada, precisando de conserto.

— Não acho que precisa de conserto — disse Ron. — Acho que precisa de vergonha na cara, isso sim. O primeiro passo para isso é parar de ser teimosa.

— Ron! — ralhou Hermione.

Por incrível que pareça, deixei que uma risada me escapasse. Ron deu uma olhada para algum ponto acima de minha cabeça, esticando o pescoço.

— Por falar em Harry... Ele acabou de entrar.

Meu coração subitamente começou a bater mil vezes mais rápido por causa do nervosismo. O que eu diria a ele? Como Harry reagiria?

Hermione colocou a mão em meu ombro de forma tranquilizadora.

— Vai dar tudo certo — disse ela, se levantando. — Foi só uma briguinha besta que logo vai se resolver — ela puxou Ron pela camisa. — Vem, vamos pegar as nossas bebidas.

Assim que os dois chegaram ao balcão do barman e posicionaram-se no final da fila, Harry sentou-se ao meu lado.

Olhei timidamente para ele, que me encarou sem ressentimentos. Isso me trouxe certo tipo avassalador de alívio.

— Me desculpa? Juro que não quis surtar com você — pedi, incerta.

Harry me examinou, seus olhos atentos às minhas bochechas molhadas com as lágrimas que antes caíam. Ele estendeu o dedo mindinho para limpá-las, depois se inclinou, beijando cada lágrima restante.

— É claro que te desculpo, meu amor. Vem, me dê um abraço.

O sentimento de tê-lo contra mim de novo foi o melhor que já experimentei. Os braços de Harry me envolveram de forma reconfortante, um deles em torno de meus ombros, e o outro, em torno de minha cintura. Meu coração estava batendo quase que em minha garganta.

— Desculpe por ter dito que você não se importa — murmurou ele, dando um beijo em minha têmpora e se afastando. — Sei que isso não é verdade. Eu deveria ter tido mais paciência com você.

Olhei para ele.

— Você teve mais paciência do que mereci, Hazz.

Mas Harry negou com a cabeça.

— Não foi o suficiente. Mas acho que nós dois erramos nesse aspecto.

— É — mordi o lábio. — Merda, sinto muito. Sei que fiz besteira. Me desculpe por chatear você.

— Você é a única que nunca me chateia, meu amor. E olha que sou uma pessoa irritada.

— Não acho que é irritado.

— Está brincando? Só hoje, mandei umas três pessoas para a puta que pariu.

Dei uma risada.

— Bem, mas você sempre é amável comigo, o tempo todo.

— Você é a única excessão, meu amor — ele deu um sorrisinho. — Então, estamos de bem?

— Óbvio que estamos.

Nós sorrimos um para o outro, e eu peguei sua mão, entrelaçando nossos dedos. Eu estava, agora, mil vezes mais calma que minutos atrás.

Logo, Ron e Hermione retornaram à mesa. Eles acenaram para Harry com a cabeça ao sentarem, tentando esconder que estavam felizes por termos feito as pazes rapidamente. No entanto, conforme distribuía as bebidas para cada um de nós, o sorriso de Ron foi substituído por uma expressão de poucos amigos.

— Ah, não acredito.

Todos olhamos para onde ele estava olhando, nos deparando com Ginny, que conversava com o tal do Alex. Ambos pareciam completamente imersos num assunto, as cabeças próximas.

— Não sei do que você tanto reclama, Ron — disse Hermione. — É só um encontro, e eles estão só conversando.

Mas ela logo acrescentou:

— ... e se beijando.

— Quero sair — disse Ron. — Não sou obrigado a ficar vendo isso.

— O segredo é olhar para outro lado, bocó — disse Harry. Certo, talvez ele fosse só um pouquinho irritado, mas eu sabia que estava brincando com o amigo.

— Não dá. Parece que a visão está me chamando. É absolutamente torturante.

— Ah, Ron, deixe eles — disse Hermione. — Imagine se fôssemos nós dois nos beijando, e sua irmã estivesse no mesmo local... Ginny não faria nem metade do escândalo que você está fazendo.

Ron ficou subitamente espantado, e Hermione, vermelha. Ela rapidamente olhou para as próprias mãos, sem jeito.

— Hã... Tem cerveja amanteigada na sua boca, Hermione — disse o ruivo de maneira estranha.

Ela limpou rapidamente, ficando com as bochechas num tom forte de escarlate. Ron virou-se para Harry e eu, nos olhando como se para confirmar: "vocês ouviram o que ela disse sobre nós dois nos beijando, ou estou ficando doido?". Meu namorado e eu apenas demos de ombros, apesar de termos entendido aonde Mione queria chegar.

Então, do nada, o professor Slughorn apareceu.

— Oh! Harry, meu rapaz, como é bom vê-lo! Vocês também, S/N e Srta. Granger! — ele sorriu gentilmente para nós, ignorando Ron completamente. — Vêm sempre aqui?

— Sim, senhor — respondeu Harry.

— Bem, já sei onde encontrá-los da próxima vez, então! — o homem consultou o relógio. — Ah, que pena, estou atrasado. Tenho um compromisso com minha papelada, vejam bem. De qualquer forma, eu não poderia perder a oportunidade para fazer um convite, poderia?

— Que convite, senhor? — perguntou Hermione.

— Que bom que estão interessados! — exclamou ele. — Marquei um jantar para terça às sete, e gostaria muito que você fosse, Harry. Traga sua namorada também, sim? — Slughorn sorriu para mim. Tentei retribuir da melhor maneira possível. — Ah, você também está convidada, Srta. Granger.

— Veja bem, senhor, não sei se...

— Não se preocupem, verifiquei o calendário escolar de vocês várias vezes antes de agendar a data. Não queremos imprevistos, queremos?

A verdade era que tínhamos negado todos os convites feitos por Slughorn durante o passar dos dias. Não tínhamos gostado nada do almoço no trem, e eu estava tentando desesperadamente evitar outro encontro desconfortável com Córmaco, sabendo que o garoto estaria onde quer que Slughorn estivesse porque Córmaco era do tipo puxa-saco. Por isso, acabei dando um sorriso forçado quando o professor esperou por uma resposta nossa, novamente deixando Ron de lado.

— É claro que estaremos lá, professor — falei. Hermione olhou com certo desespero para mim, mas não contestou.

— Excelente! Bem, nos vemos na terça!

Contente, Slughorn saiu do Três Vassouras com uma garrafa de cerveja amanteigada na mão.  Ron deu um suspiro.

— Já notaram que ele finge que não existo?

— Slughorn não é uma pessoa ruim — disse meu namorado. — Apenas sem noção. Eu não ligaria muito para o que ele diz, se fosse você.

Houve um leve tilintar quando o pequeno sino que ficava acima da porta do estabelecimento tocou, chamando nossa atenção. Alto, elegante e muito bem-trajado, Draco entrou, parecendo meio nervoso. Dei um sorriso quando ele olhou para mim, como forma de cumprimento, e Draco retribuiu com um leve aceno de cabeça, o que achei meio atípico. Quero dizer, ele sempre erguia a mão discretamente quando falava comigo de longe, mas imaginei que o nervosismo que estava sentindo interferisse em sua postura também.

Meus amigos e eu continuamos conversando durante um tempo, quando pedimos o almoço e mais algumas bebidas, ocasionalmente acenando para conhecidos que passavam por nós. Foi um momento feliz.

Não vi Draco retornar, mas supus que ele saiu pela porta dos fundos. Bem, se é que havia uma. Às uma da tarde, mais ou menos, Harry pagou a conta e deixamos o estabelecimento, prontos para continuar o passeio. Harry e eu fomos na frente, não querendo atrapalhar o momento raro em que Hermione contava a história do livro que estava lendo para Ron, que ouvia tudo com bastante atenção, olhando fixamente para o rosto dela. Estando empolgada, Hermione nem notou. Mas ele continuou encarando mesmo assim.

Meus pensamentos viajaram, então, para minha irmã. Eu estava preocupada com ela, mas esse sentimento fora meio escurecido porque tínhamos discutido, horas antes. E Maddie ficou chateada e foi embora, me deixando sozinha. Como sempre.

Suspirei. A vida certamente era mais fácil quando éramos mais novos, e eu não tinha que me preocupar com tanta coisa.

— Está pensando em Maddie, não está? — Harry quebrou o silêncio.

Dei de ombros, encolhendo um pouco o corpo.

— Tento não me preocupar demais. Ela tem mesmo coisas melhores para fazer.

— Vamos, S/A — disse ele. — Maddie não está chateada. Ela ama muito você.

— Ah, é? Como você sabe?

— Ela me contou.

— Mas não para mim — olhei para meus próprios pés. — Francamente, ela precisa parar de fingir que as outras pessoas são pombos-correio.

Harry segurou uma risadinha.

— Você afiou as garras, querida.

Dei um sorriso.

— Sempre fui muito boa em usá-las.

Meu namorado me abraçou pelo pescoço em resposta, fazendo-me rir quando quase tropeçamos.

À nossa frente, Katie e sua amiga, Liane, discutiam sobre algo que a primeira segurava. Pelo pouco que pude ver, não passava de um embrulho escuro e de aspecto intocado.

— Não é da sua conta, tudo bem? — ouvi a garota dizer, sua voz propagada pelo vento.

Em breve, começou a chover granizo. Não era denso o suficiente para nos machucar, mas a brisa terrestre gelada se intensificou, embaçando os óculos de Harry conforme andávamos. Quando ele ergueu a mão livre para limpá-los, Liane tentou agarrar o pacote que Katie levava; ela resistiu, e o embrulho caiu no chão. De dentro dele, algo de aspecto reluzente fez impacto contra a calçada, seu brilho opaco refletido pelos feixes de luz que escapavam por entre as nuvens que mais pareciam amontoados de algodão.

Katie apressou-se para colocar o objeto de volta na caixa, mas algo a fez retesar-se, enrijecendo o corpo. Seus olhos arregalaram-se como se estivesse tendo visões acerca de algo que lhe apavorava, e a garota começou a gritar, contorcendo-se de angústia e terror. Seus pés deixaram o chão, e ela permaneceu no ar, flutuando, como se aguardasse a chegada da Morte.

Liane gritava pela amiga, aterrorizada, e mesmo quando fomos tentar ajudar, ela não sabia formar frases de forma coerente. Estava parada no mesmo lugar, lentamente entrando em pânico, seus pulmões dilatando-se até estarem tão cheios que mais algumas moléculas de oxigênio seriam fatais.

Harry entregou-me as sacolas que carregava, com pressa. Disse para Ron, Hermione e eu:

— Fiquem aqui. Vou buscar ajuda.

Saiu antes que pudéssemos responder, mas retornou tão rapidamente quanto se ausentara, deixando-nos ao som de gritos aterrorizantes num raio desértico de pelo menos meio quilômetro. Nem sei por quê estávamos saindo da aldeia tão cedo, mas, após passarmos na papelaria para comprarmos novos materiais de leitura e desenho, não tínhamos muito o que fazer em Hogsmeade. Não com Maddie ausente, pelo menos.

Hagrid seguia meu namorado com passos curtos e apressados, fazendo pouco esforço para subir pela estreita estrada de pedra, terra e gelo.

— Para trás! — avisou ele. — Me deixem ver a garota!

— Aconteceu alguma coisa com ela! — disse Liane, abrindo espaço. — Foi aquele colar, sei que foi. Avisei que um embrulho desconhecido não era bom, mas ela não me deu ouvidos...

Enquanto Hagrid examinava a menina, Harry se aproximou do colar.

— Espere, já vi isso antes — disse ele. — Na Borgin & Burkes. A etiqueta dizia que estava amaldiçoado — Harry se virou para encarar Liane. — Como foi que ela conseguiu isso?

— Bem, era por isso que estávamos discutindo. Ela voltou do banheiro do Três Vassouras com o colar, disse que era uma surpresa para alguém de Hogwarts e que precisava entregar. Estava muito esquisita quando disse isso... Aposto que foi enfeitiçada com o Imperius, ou algo assim.

— Ela não te contou quem deu o embrulho?

— Não, não contou. E eu disse que estava sendo burra por levar algo desconhecido para dentro da escola, mas Katie não me escutou... Então tentei tirar da mão dela, m-mas...

Meus amigos e eu trocamos olhares, que se prolongaram especialmente quando os olhos verde-vivo de Harry encontraram os meus. Seus pensamentos invadiram minha mente, e eu balancei a cabeça, sem acreditar.

Draco nunca faria isso. Não de propósito. Por que Harry sempre tinha que pensar o pior a respeito dele? Não era porque Draco tinha ido ao banheiro que merecia ser acusado de assassinato.

Desviei de seu olhar, pensando que outra discussão entre nós apenas atrapalharia tudo. Talvez fosse melhor que deixássemos para lá.

— Escutem, vou levá-la de volta para o castelo, ver o que posso fazer — disse Hagrid. Ele não olhou diretamente para nós, como se estivesse ressentido; e eu sabia que estava. Até aquele momento, Hagrid se recusara a falar conosco, desde que descobrira que não tínhamos nos inscrito para as aulas de Trato de Criaturas Mágicas, naquele ano. Senti-me meio mal por isso, mas todo o tempo que possuíamos era gasto com as matérias que mais nos ajudariam nas carreiras que pretendíamos seguir. — Guardem esse colar e o levem imediatamente até a Profa. McGonagall, mas não o toquem. Entenderam?

Nós quatro assentimos, com pressa. Diante disso, Hagrid nos deixou para trás, levando Katie nos braços estrada abaixo. Liane os seguiu.

Aproximei-me para dar uma boa olhada. O colar do qual Liane falara era majestoso, repleto de pedras preciosas que provavelmente pertenceram a algum bruxo sonserino; dava para perceber por causa da cor: um verde-esmeralda escuro, profundo e lindo. Prata e ouro envolviam a peça, que caíra há poucos centímetros da caixa escura aveludada, ainda sobre o pano que revestia o forro. Se eu envolvesse a jóia com o pequeno manto e a colocasse de volta no embrulho, estaria segura.

Me ajoelhei, esticando os dedos para fazer isso. Era um daqueles momentos tensos nos quais eu sabia que precisava tomar cuidado, e mesmo assim sentia que corria um risco enorme de estragar tudo. Estava se tornando relativamente comum, para minha infelicidade.

— Cuidado, S/N — avisou Hermione.

Entretanto, quando envolvi o colar com o pano e o coloquei rapidamente dentro da caixa, a peça balançou, produzindo um tilintar suave e convidativo. E tocou minha pele exposta por tempo suficiente para que me condenasse. Esperei por uma onda de dor que bloqueasse meus sentidos, esperei por milhares de facadas súbitas no centro de meu peito, mas nada aconteceu. Intrigada, peguei uma folha que jazia ali perto e a coloquei em contato direto com as esmeraldas brilhantes.

Pegou fogo.

Hermione sobressaltou-se, Ron deixou escapar um xingamento e Harry soltou uma exclamação de surpresa e pânico. Sem saber o que fazer, dei batidinhas na folha, encostando diversas vezes no colar, mesmo sem ter a intenção. De novo, nada aconteceu.

— Deixe isso de qualquer jeito — disse Ron de maneira sombria. — Tipo, todos concordamos que é melhor ignorar que S/N acabou de encostar num objeto amaldiçoado sem se machucar, né? Mesmo que aconteçam coisas bizarras quando outras coisas o tocam, como um incêndio ou uma possessão. Não gosto disso. Vamos jogar o colar no meio do mato?

— Ron, você está entrando em pânico.

— É claro que estou entrando em pânico, porra! Isso literalmente é um artefato das Trevas!

— A magia deve funcionar só uma vez — menti. De alguma forma, eu sabia que o colar ainda era mortal. — Por isso Katie sentiu dor, e eu não.

— Aquela folha literalmente acabou de pegar fogo quando entrou em contato com o colar, S/N!

— Foi uma coincidência.

— Coincidências não acontecem num mundo onde existem bruxos que praticam Artes das Trevas, e você sabe disso.

Olhei para meus amigos, depois para a caixa já fechada em minhas mãos.

— Vamos levar isso para a McGonagall, como Hagrid nos disse para fazer inicialmente — declarei, ignorando as caretas de indignação do ruivo e as expressões de cuidado de Harry e Hermione. — Ela saberá o que fazer. Ah, e não falem sobre o que acabou de acontecer com ninguém.

Hermione trincou os dentes, pensativa.

— Espero que ao menos dessa vez ela nos dê alguma explicação — suspirou. — Salvamos a escola todo ano, e ainda assim os professores acham que sabem mais sobre os perigos da terra que nós. Não duvido de que tenham sofrido de muitos traumas psicológicos antes que chegassem até aqui, para lidar tão bem com toda essa loucura.

— É um mundo selvagem, Hermione — declarei, lembrando de um poema brasileiro que há muito havia lido. — "Quem vive neste mundo entre feras sente a inevitável necessidade de também ser fera".

— Não gosto dessa filosofia.

Dei de ombros.

— Mas é a realidade. Temos que engolir nossos demônios e nos adaptar, lembra?

Foi mais uma pergunta retórica.

Durante o caminho de volta, não consegui deixar de pensar no contato frio que a jóia fez contra minha pele; em como a pequena folha em chamas não me queimou, fazendo-me viva, etérea e indomável.

Como a Morte.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

— Acho que Draco Malfoy deu aquele colar à Katie, professora — disse Harry.

Ele não me olhou enquanto dizia isso, mas era exatamente porque eu estava furiosa que não o fizera.

Draco era uma boa pessoa. Poderia ter errado bastante durante o passar dos anos, mas estava tentando melhorar, reparar as próprias falhas. Por que isso não era suficiente?

E mesmo que não fosse... Pessoas não deveriam lutar tanto para corrigir aspectos pessoais que incomodam os outros. Ultimamente ele nunca fazia mal a ninguém, e ainda assim recebia ódio gratuito. É óbvio que Draco precisava melhorar antes, quando xingava a todos sem motivos, mas agora não era o caso. Em minha cabeça, pessoas não podem ser julgadas pela forma como lidam com as próprias merdas se os outros não têm conhecimento de nada, ou se não é algo que afete os que estão em seu entorno. Draco nem sequer estava presente para defender a si mesmo, porra. Ainda que, no fundo, eu concordasse que Harry tinha motivos para desconfiar, sim, eu não queria dar o braço a torcer porque achava que Draco já sentia remorso demais consigo mesmo para ter que lidar com a adição das acusações alheias.

Então, observei tudo de boca fechada, cruzando os braços. Não disse uma palavra.

— Essa é uma acusação muito séria, Potter — disse Minerva. — Você tem alguma prova?

— Não, mas... Escutei uma conversa entre ele e o dono da Borgin & Burkes, durante as férias de verão. Eles estavam falando sobre uma compra de algo que não estava sujeito à reservas. Então liguei os pontos, porque sabia que havia um colar amaldiçoado na vitrine da loja...

— Dedução e comprovação são coisas completamente diferentes, Potter.

— Eu sei, professora, mas...

— Não quer dizer nada, Harry — interrompeu Hermione, cautelosa. — Desculpe, mas a Profa. Minerva tem razão. Você não viu Draco efetuando o pagamento do colar, viu?

— Não, mas é meio óbvio, Hermione! — então, ele procurou respostas nos olhos de Ron, e depois nos meus. Harry engoliu em seco. — Vocês não acreditam em mim?

O problema é que eu acreditava que era possível, sim, especialmente depois que Draco me dissera que os pais dele estavam obrigando-o a fazer algo que não queria. E era por isso que eu estava chateada, em estado de negação: porque não queria crer nos fragmentos de verdade diante de minha visão.

Desviei de seu olhar, e não respondi. Harry me pareceu meio atordoado.

Amor, chamou ele. Meu amor, você sabe por quê desconfio dele. Não fique chateada comigo, por favor.

Meu coração amoleceu um pouco, mas tive medo de magoá-lo caso fôssemos falar sobre isso naquele instante. Vamos conversar sobre o assunto em outro momento, respondi.

Harry estremeceu, mas não discordou.

— A questão, Potter, é que não pode ter sido ele — disse a professora. — Draco não esteve em Hogsmeade hoje.

Arregalei os olhos surpresa.

— Não?

— Não: estava cumprindo detenção comigo. É a segunda vez que não completa os deveres de casa.

Isso era verdade, Draco tinha me contado.

— Mas nós o vimos, hoje! — argumentou Harry. — No Três Vassouras!

— Você deve estar se confundindo, Potter — disse a professora. — Existem alguns outros garotos parecidos com o Sr. Malfoy aqui em Hogwarts. Talvez tenha visto um deles.

— Mas S/A falou com ele — Harry olhou para mim.

Com um suspiro, eu disse:

— É, isso é verdade. Mas Draco estava estranho.

— Ele é estranho, S/N — disse Ron. Olhei com raiva para ele, que rapidamente fingiu estar admirando o tapete sob nossos pés.

— Quero dizer que ele não me cumprimentou como de costume. Estava apressado.

E uma pequena onda de remorso tomou conta de mim, fazendo-me sentir culpada por estar concordando. Porque, tecnicamente, eu estava.

— Mas isso não é prova, Srta. Black.

Dei de ombros.

— Não estou acusando ninguém. Só estou contando o que vi.

Nesse momento, ouviu-se curtas batidas na porta da sala da professora. Ela autorizou que o responsável por tal som entrasse.

— Mandou que me chamassem, Minerva? — perguntou Snape, esgueirando-se como um morcego silencioso.

— Ah, sim, Severo — disse McGonagall. — Bem, acontece que uma de minhas alunas sofreu um acidente, e o responsável por tal crime — ela deu uma pausa em sua fala, abrindo espaço para que Snape pudesse ver a caixa aberta do colar — foi isto.

O homem pôs-se a examinar a peça sem pregar um único olho em nós, desviando como se fôssemos parasitas nojentos. Com a varinha, realizou um feitiço simples de levitação, fazendo com que o colar flutuasse diante de nossos olhos.

— É uma peça incomum — comentou.

— E...?

— Está enfeitiçado, certamente — ele fez o colar girar no mesmo lugar. — É um tipo de magia antiga, esquecida há muito tempo. Quaisquer que sejam os segredos que habitem aqui, foram selados para matar impiedosamente.

— Então Katie vai morrer? — perguntou Ron, apavorado.

— Não, Weasley — disse Snape, áspero. — Se o colar tivesse entrado em contato direto com a pele dela, Katie teria morrido na hora. Provavelmente só encostou na ponta da unha, ou em alguma parte que estivesse coberta com roupas. Estamos falando de um tipo diferente de encantamento, algo feito para machucar até quando tocado sob camadas de tecido. Algum de vocês chegou perto do colar?

— Bem, a... — começou Ron, mas eu o interrompi.

— Não — falei.

— Então estão seguros. A menina deve ter encostado nesse pedaço de pano solto que forra a caixa, que, por sua vez, contém o colar.

Meus amigos olharam para mim com tanta intensidade que me incomodou. Senti que, se eu não saísse dali em pouco tempo, entraria em pânico.

Minerva suspirou, nos avaliando. Parecia que estava prestes a nos dar um sermão, mas o que saiu foi mais uma observação indignada.

— Por que, quando algo de estranho acontece, vocês quatro sempre estão envolvidos?

— Acredite, professora, faço essa pergunta a mim mesmo há seis anos — respondeu Ron.

Um pequeno fantasma de sorriso pareceu querer se formar nos lábios da mulher. Provavelmente fui a única quem percebeu porque sempre fui boa em interpretar pessoas.

Fomos dispensados logo depois, com a ordem para que voltássemos para a Comunal da Grifinória. Com o que acontecera naquele dia, Minerva achou que seria mais seguro para nós se fizéssemos isso.

Assim que alcançamos o buraco do retrato, Hermione correu para pegar alguns de seus livros em sua mochila, pois combinamos de estudar juntas no dormitório dos garotos enquanto Harry e Ron provavelmente jogariam alguma partida de xadrez de bruxo.

A verdade era que eu não precisava estudar naquele momento, porque já tinha adiantado tudo, mas acostumei-me a isso desde que tirei uma nota baixa em Transfiguração, e, para mim, tal coisa era absolutamente inadmissível. Eu não me permitiria cair de novo, não no mesmo buraco. Estava construindo barreiras poderosas de ferro em meu exterior, e mesmo que isso mantivesse minha mente distante, ao menos estaria segura. Então eu me matava de estudar, embora grande parte de mim gritasse por socorro e questionasse a mim mesma sobre quando me tornei alguém que precisava de validação acadêmica.

O dormitório estava vazio, e as janelas, abertas.

— Puta merda, que loucura — riu Ron, sentando-se na própria cama. — Nunca pensei que fosse viver o suficiente para ver um pouco do que aconteceu hoje. Vocês acham que Katie vai ficar bem?

— Acho que sim, mas talvez precise ser encaminhada para o St. Mungus — disse Harry.

Ron assentiu, distraído, e depois me encarou com a cabeça levemente inclinada.

— Que foi? — perguntei.

— Por que não quis dizer a verdade ao Snape? Sobre você ter encostado no colar amaldiçoado e tal?

— Não achei que fosse importante.

— Mentirosa.

— Certo... Bem, talvez eu não queira que ele saiba. Você tem problemas com isso?

— Ah, não. De jeito nenhum. Na verdade, acho legal que você seja imune a esse tipo de coisa. Isso a torna, de certo modo, imortal, não?

Encarei-o. Acho que eu não estava esperando por tal observação.

— Pode ter sido uma mera coincidência, Ron.

— É, mas também pode não ter sido — disse ele, levantando-se. — Imagina se você é decendente dos Merlin, S/N? Isso seria muito legal, e até mesmo vantajoso, considerando o momento pelo qual o Mundo Bruxo está passando.

— É meio improvável.

— É bem possível, na verdade. A árvore genealógica da família de Sirius é de uma linhagem completamente pura e poderosa, não é? E todos pertenceram à Sonserina, com excessão de duas pessoas: você, e seu pai. Além disso, todos os bruxos possuem algum ancestral em comum.

Mordi o lábio, pensativa. Apesar de Ron não estar totalmente certo, também não estava errado. Seria possível, então, que o sangue de minha família houvesse, de algum modo, pertencido à tão poderosa dinastia do maior bruxo que já existiu?

Ron caminhou até seu guarda-roupas e retirou de lá algumas peças. Antes de entrar no banheiro, deu batidinhas em meu ombro.

— Fico feliz que não tenha sido amaldiçoada também, S/N.

Eu teria dado uma gargalhada de seu comentário se não soubesse que ele estava falando sério, então me contentei com dar-lhe um sorriso. No fundo, eu estava feliz por estarmos voltando a conversar com a mesma espontaneidade de antes.

Uma vez que Ron estava ausente, fiquei sozinha com Harry. Ele perguntou:

— Você está chateada, não está?

Não encarei-o quando falei:

— Não. Por que estaria?

— Porque você está calma demais e não está me olhando nos olhos?!

Então olhei-o, e Harry, que ainda estava de pé, apressou-se para sentar-se ao meu lado, pegando minhas mãos nas suas.

— Fale comigo, meu amor — ele beijou meus dedos. — Por favor.

Olhei para longe antes de encará-lo de volta.

— Bem, só acho que você não deveria sair acusando as pessoas sem provas.

— Draco é suspeito.

— Draco é inocente! Não é porque vocês não se gostam que podem sair por aí pressupondo coisas um sobre o outro.

— Você o viu em Hogsmeade, S/A! Ele literalmente falou com você!

— Sei disso. Mas talvez Draco tenha dado uma passada na aldeia quando ninguém estava olhando, após a detenção...

— Você está tentando enganar a si mesma.

— E você precisa adquirir um pouco mais de perspectiva, Harry James Potter.

Harry ficou momentaneamente atordoado. Eu só o chamava pelo nome completo quando estava brincando, ou quando estava furiosa. Tentando me controlar melhor, falei, dessa vez mais contida:

— Vamos supor, apenas supor, por um instante, que você esteja certo. Por que Draco iria gostar de machucar alguém com um colar amaldiçoado?

— Porque ele é um Comensal da Morte.

— Ai meu Deus.

— Veja sob minha perspectiva — disse Harry, cruzando as pernas sobre a cama. — Ele é furtivo, misterioso e nunca anda sem aquele terno estúpido dele. Pode muito bem estar escondendo a Marca Negra sem que estejamos nos dando conta disso.

— Ele usa roupas que cobrem o corpo para esconder as cicatrizes que o pai dele o sujeitou a carregar! — falei, com raiva.

— Ah, é? Como é que você sabe? Andou tirando a roupa dele, por acaso?

Pela primeira vez na vida, Harry me magoou. Abriu uma ferida enorme em meu coração, fazendo-o parar, e o machucado cresceu em meu peito à medida que meu namorado esperava por uma resposta.

— Não acredito que está sugerindo que traí você — disse eu, entre farpas afiadas, puxando minhas mãos das suas com violência. — Eu literalmente me abri para você hoje, falando sobre coisas que nunca revelei a ninguém e dizendo que você é a pessoa que mais amo no mundo, e ainda assim tem a coragem de dizer que andei transando com meu próprio primo? Está ficando maluco?

Harry balançou a cabeça.

— Você está certa, me desculpe. Sei que você nunca faria isso, especialmente com Draco. Seria nojento.

— Com certeza seria nojento — concordei, com raiva. — Eu nunca estive sequer de roupas íntimas na frente de outra pessoa, Harry — empurrei o indicador contra o peito dele. — E nunca pretendo, a não ser que seja com você, então preste mais atenção e pense duas vezes antes de falar absurdos como este.

Ele passou a mão pelos cabelos, e eu pude sentir a culpa que Harry estava experienciando. Sabia que ele não tinha dito de propósito, mas machucou mesmo assim.

— Sinto muito, meu amor — pediu ele. — Você sabe que eu não quis dizer isso. Fiquei com ciúmes, e acabei deixando que tomasse conta de mim.

— Eu sei — mas não o encarei de volta.

— Você me perdoa?

— Depende. Você promete que nunca mais vai falar isso de novo?

— Prometo.

Assenti, sentindo minha ferida fechando-se aos poucos. Entretanto, ainda assim doía.

— Ei, eu também nunca fiz... Você sabe. Sempre tive em mente que você é a única que tem permissão para tocar em mim — Harry usou uma das mãos para colocar meus cabelos para trás de minha orelha, penteando meus fios com os dedos. Isso sempre me proporcionava um friozinho na barriga. — Meu coração é seu. Por favor, nunca o devolva.

Peguei sua mão e coloquei sua palma aberta contra meu peito, sobre meu coração. Segurei-a ali, mesmo que os pensamentos de Harry gritassem, temendo invadir meu espaço pessoal. Não estava.

— Esta é minha casa — falei. — Não quero que ninguém more nela, a não ser você. Você pode ficar, meu amor. Por quanto tempo quiser.

— Para sempre? — perguntou ele.

— Para sempre — disse eu. — E bem, pensei sobre sua proposta. Sobre morar com você, quero dizer. Acho que deveríamos começar a procurar alguns corretores de imóveis. Se tudo der certo, podemos começar do zero, no máximo até ano que vem. Montar uma vida inteira só nossa, uma família. Na verdade, acho que deveríamos viajar para as Maldivas antes, como uma espécie de inauguração de perspectiva de futuro. E foda-se Voldemort e a guerra, porque isso não vai nos destruir. Nada vai.

— Vai ser perfeito, meu amor — Harry entrelaçou os dedos de nossas mãos. — Mas estou curioso. Por que Maldivas?

Fiquei meio vermelha.

— Certo, mas não ria de mim. Tenho um sonho bizarro de fazer sexo na areia da praia.

Harry arregalou os olhos.

— Na frente de todo mundo? Nem fodendo, S/A.

— Não sou tão louca assim, amor. Seria durante a madrugada, com a brisa noturna, numa praia particular e durante a maré baixa. Com um cobertor debaixo de nós, obviamente, porque seria estranho se ficássemos em contato direto com a areia...

Harry gargalhou. Me calei, sem saber se ele tinha gostado da ideia ou não.

— Ai meu Deus, eu não devia ter dito isso.

— Não devia? — Harry sorriu. — Pois eu acho que temos que colocar essa sua ideia em prática o quanto antes.

Nós dois rimos, dessa vez, e foi como se estivéssemos contando uma piada antiga que continha um fundo de sinceridade.

— Do que vocês estão rindo tanto? — perguntou Hermione, entrando no cômodo.

Harry e eu nos entreolhamos.

— De algo que você provavelmente não vai aprovar.

Minha melhor amiga deu de ombros.

— Então é melhor nem me contarem.

— Ah, com certeza.

— Bem, de qualquer modo, trouxe pergaminho, alguns livros e tinteiro. Você pode me emprestar uma pena? Esqueci as minhas na última aula de sexta.

— Claro, pode pegar. Tenho uma caixa com penas limpas na primeira gaveta da escrivaninha de Harry.

— Obrigada, S/N. Você é um anjo.

— Eu sei.

Quando ela se afastou um pouco para procurar a pena, virei-me para meu namorado.

— Escute, só sei de todas essas coisas porque Draco me contou. E mesmo que você esteja certo, ele não gosta da situação na qual está metido, em meio àquele caos que chama de família. Não é culpa de Draco se ele nasceu no lado errado.

Harry assentiu.

— Tudo bem. Sinto muito por surtar com você.

— Não sinta. Acho que eu reagiria da mesma maneira, se fosse você quem estivesse falando de outra pessoa.

— Bem, vamos deixar a discussão no passado, então. Detesto brigar com você.

Concordei.

— Também odeio.

——————————————

notas da autora:

oiiiii gente, tudo bem? já beberam água? 👀

minha vida está meio corrida, mas escrever masterpiece compensa. espero que tenham gostado do capítulo!!

recentemente criei outra conta no pinterest por pura falta do que fazer, vocês podem me seguir lá? o nome é hazzswhore :)

ainda faltam alguns capítulos pro tão esperado hot, mas postei um imagine do harry recentemente, no livro de imagines, então ao menos tem alguma coisa pra vocês lerem enquanto esperam KKKKKKKKKKKKKKKK 😩

me contem dos livros que estão lendo, das séries que estão assistindo! preciso de recomendações, terminei de ver spinning out na sexta à noite e me sinto completamente vazia 😭😭

genteeee eu contei que comecei a estudar francês no duolingo? é muito legal. a palavra "médusa", por exemplo, significa água-viva. acho que ela vem do grego, por causa do conto mitológico. e "souvenir" significa memória, lembrança. por isso dizemos que aquelas lojas de lembrancinhas (chaveiros, etc) são lojas de "souvenires", ou seja, de pequenas coisas que nos fazem lembrar dos outros.

essa semana vou começar a postar um novo livro de poemas!! não esqueçam de ficar atentos, ein? vai se chamar "astrophilia" 😁😁😁

qual é a casa de hogwarts de vocês? sou da sonserina.

beijoooos, até próximo capítulo!

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