STOLEN [ INTERSEXUAL ] SARIET...

By steisboss

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Sarah e Carolline, gêmeas univitelinas, fisicamente idênticas. Durante muito tempo a conexão entre as duas f... More

DESIGUAIS
SEGREDOS
ALUCINADA
PERIGOSO
JOGO
INEVITAVEL
MEDO
CHEQUE-MATE
CONFIANÇA
CONFESSANDO
TESTEMUNHA
A QUEDA
A BRINCADEIRA VAI COMEÇAR
INESPERADO
JULGAMENTO
ARRISCADO
MENTIRAS
ÚLTIMA CHANCE
NEGÓCIOS
RECOMEÇAR

PASSADO

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By steisboss

OI MEU POVO.
Esse capítulo eu fiz pra vocês conhecerem mais do passado da Juliette e da Sarah, o que vai ser bem útil pro futuro da fic vocês saberem. Então prestem atenção.

Comentem, interajam, a não ser que queiram ficar SEM O FINAL DESSE QUEBRA CABEÇA FDPS.

Espero que gostem. 🥰

JULIETTE POV

Quando eu era criança, sempre dizia que queria ser astronauta, queria pilotar um foguete e ir direto pra Lua. Eu tinha uma fissura estranha pelo céu e pela lua. Das poucas lembranças que tinha da minha infância, essa era a mais marcante, eu gostava do céu. Gostava de admirar as estrelas e de pensar que elas poderiam cair do céu a qualquer momento e eu ia poder pegar pra mim. Podia analisar agora que eu era uma criança totalmente estranha e passei boa parte da minha infância distraída com isso.

Minha mãe nunca se preocupou com o fato de as vezes eu gritar e chorar que não queria comer, porque eu precisava entender como a lua não caia do céu. Porque eu não podia ir até lá? Eu me questionava enquanto admirava o céu, o desenhava e ficava por horas e horas totalmente vidrada e focada nisso.

Pra ser sincera, essa era a única coisa que me chamava atenção. Eu não gostava da minha realidade, não gostava de ter que assistir as brigas da minha mãe com meu padrasto. Então, eu só fechava a porta do meu quarto e ia pra janela fingir que eles não existiam, e isso funcionava. Até que chegou um momento que eu não queria prestar mais atenção em nada, ou não conseguia.

Aos 6 anos comecei a me recusar a fazer qualquer coisa que normalmente uma criança faria. Comecei a odiar outras crianças perto de mim, elas eram sempre barulhentas e falavam todas juntas, eu não conseguia acompanhar. Eu era uma criança animada e agitada somente para o que me interessava, coisas como olhar o céu, desenhar o céu, ler sobre o céu, e as vezes eu dava atenção algo a minha volta quando eu me sentia cansada. Eu definitivamente sabia tudo sobre o universo, e os planetas. Amava desenhos sobre isso, e via os mesmo repetidamente.

Minha mãe, depois de anos, resolveu perceber que tinha alguma coisa errada comigo. Bastou pouco tempo de terapia pra descobrirem o TDAH: Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. O que é isso? Basicamente é uma Doença crônica que inclui dificuldade de atenção, hiperatividade e impulsividade.
Em geral, o TDAH começa na infância e pode persistir na vida adulta. Pode contribuir para baixa autoestima, relacionamentos problemáticos e dificuldade na escola ou no trabalho.

Me lembro bem dos anos de terapia e da preocupação da minha mãe comigo. Ela estava sofrendo com seu marido problemático, e de brinde com a filha. Isso me fez querer melhorar, mesmo sabendo que levaria isso pra vida toda. Então, eu me esforcei pra seguir tudo que mandavam na terapia. Comecei a me forçar a observar e prestar atenção em tudo, era como um desafio, minha mente voava, ia no universo, e eu me forçava a voltar pra minha realidade.

No início da adolescência, meu lado impulsivo e hiperativo estavam aflorados. Deixei o céu de lado e depositei minha fissura nos seres humanos e em todas as barbaridades que eles podiam fazer. Quando você presta atenção nas pessoas, é bem provável que cresça algum tipo de revolta em você, as pessoas podem ser bem cruéis. Eu aprendi da pior forma. Parei de ignorar as brigas da minha mãe e do meu padrasto e comecei a assistir, ouvir, entender os motivos. Comecei a odia-lo com todas as minhas forças. O dia mais feliz da minha vida foi quando ele morreu. Não precisei mais passar noites imaginando como seria bom mata-lo com minhas próprias mãos, me vingar por tudo que ele fazia minha mãe passar.

E dessa forma eu cresci, inconformada com o mundo, com pessoas cruéis e aproveitadoras, com pessoas como Carolline. Aprendi que era melhor mentir do que dizer a verdade e levar um soco na cara. Aprendi a ser esperta. E o pior, cresci com atenção redobrada a coisas que eu deveria simplesmente deixar pra lá. Mas não. Eu não conseguia não descobrir, não conseguia ficar parada, quieta. Eu sempre tinha que fazer alguma coisa. Eu não conseguia só admirar o céu, não conseguia mais só me desligar desse mundo. Me esforcei tanto pra ter atenção, que nada, simplesmente nada passava despercebido pelos meus olhos.

Eram 9h30 da manhã e eu estava vasculhando o notebook de Sarah. Eu sabia que era errado invadir sua privacidade, que eu deveria conversar com ela, mas era mais forte que eu. Minha intuição não falhava, e eu sentia que Sarah estava metida em encrenca.

Ela estava trabalhando com Annalise fazia uns dois meses. Eu não fazia ideia do que ela fazia exatamente, só dizia que ajudava a procurar pistas dos casos que Annalise pegava. Eu não confiava em Annalise, sabia que ela não gostava de mim e manter Sarah próxima dela talvez fosse uma maneira de me atingir depois do que fiz no tribunal. Eu sabia que Sarah não falaria com Carolline sem motivos, então precisava saber o que estava acontecendo.

Olhei todas as redes sociais de Sarah que estavam abertas, não tinha nada. Olhei suas fotos, a lixeira, os emails. E nada. Eu precisava de qualquer coisa que fosse pra pelo menos começar a montar o quebra cabeça. Abri o navegador e fui até o histórico de pesquisas. Tomei um gole do café que estava na xícara e olhei pro quarto, Sarah ainda dormia pra minha sorte. Rolei a página sem muita pressa, e o que me surpreendeu foi as milhares de pesquisas de passagens para fora do Brasil. Por que diabos Sarah estava pesquisando isso?

- Cassete. - Exclamei baixo tomando outro gole de café enquanto via pesquisas dela sobre pagamento de fiança. Ela estava querendo saber mais sobre o assunto. Será que Sarah estava pensando em pagar fiança pra Carolline? Me afastei um pouco do notebook tentando encaixar as informações ali. Até onde eu sabia, Carolline perdeu o direito a fiança quando foram provados seus crimes. E por que diabos Sarah pensaria nessa possibilidade de tirar sua irmã da cadeia?

Estava tão vidrada na tela do notebook que mal reparei que estava com uma mão sobre a barriga tentando acalmar aquela criança se revirando dentro de mim. Agindo totalmente no automático. Eu não deveria achar estranho, precisava me acostumar que eu simplesmente teria um filho que seria meu pro resto da vida. Eu precisava ter contato com ele, então não me importei de ficar com a mão ali tentando acalma-lo enquanto bebia café e invadia a privacidade da possível mãe dele.

Peguei meu celular e tirei foto do histórico de Sarah. Fui até a conversa de Luísa, pra minha sorte ela estava online.

Eu:

Preciso da sua ajuda pra descobrir uma coisa.

Luísa:

Se estiver em pé, senta, se não você vai cair...

Luísa mandou quase que no mesmo momento em que enviei a mensagem. Instantâneamente meu coração bateu mais rápido. Algo estava acontecendo. Estava na hora de deixar a depressão de lado e voltar a ser a Juliette de sempre.

Eu:

O que aconteceu agora?

Perguntei aflita encarando o "digitando..." em sua janela no meu celular. Batia as pernas impaciente, como diabos eu não percebi coisas acontecendo de baixo do meu nariz? Eu nem ao menos percebi nada. Já estava nervosa.

Luísa:

Carolline entrou com pedido de fiança e foi aceito por ela estar tendo um bom comportamento. Não faz o menor sentido. Mas o valor é altíssimo e obviamente ela não pode pagar. Mas de qualquer forma, precisamos ficar de olho. Tem alguma coisa acontecendo.

Fiquei encarando aquela mensagem sentindo meu corpo travado. Carolline pedindo fiança e Sarah tendo contato com ela. O que esperar disso?

Eu:

Sim. Tem algo acontecendo. Descobri que Sarah anda falando com Carolline.

Luísa:

É o que? 🔪

Ouvi o barulho da cama e fechei as abas do notebook correndo. Abaixei a tela e fiquei encarando o celular tentando não parecer nervosa, mas estava tremendo sem parar. O que não era um problema, esse era o meu normal agora.

Eu:

Depois nos falamos. Sarah acordou.

Bloqueei a tela do telefone vendo Sarah se aproximar completamente destruída. Mas ainda estava linda. Quase esqueci que queria esgana-la por estar se metendo em problemas e ainda escondendo isso de mim.

- Bom dia, Opala. - Sorri sentada a mesa e ela se juntou a mim.

- Bom dia. Minha cabeça...

- Eu sei... - Peguei o copo de água e o analgésico que já estavam ali, pois eu sabia que ela iria acordar assim. - Toma.

- Obrigada. - Sarah tomou o remédio e ficou olhando pro nada. Eu sei que esse era o momento de só perguntar porque ela estava tendo contato com a bomba atômica chamada Carolline. Mas eu sabia e tinha certeza que ela mentiria, e seja lá o que estivesse escondendo, ela iria se dedicar ainda mais pra não ser pega. Então, eu teria que tirar isso dela, mas sem coloca-la contra a parede.

- Eu... Eu tenho que te perguntar uma coisa. Mas não quero que ache que estou sendo invasiva com sua privacidade. Foi só uma coisa que aconteceu ontem e eu achei estranho. - Me esforcei pro meu tom de voz sair normal e suave, mas mesmo assim a vi ficar tensa. Era nítido, ela estava escondendo algo.

- Pode perguntar. - Sarah falou voltando sua atenção a mim. Seus dedos começaram a batucar a mesa.

- Ontem depois que deitamos você foi ao banheiro atender uma ligação, e depois não quis me dizer quem tinha ligado. - Seu olhar desviou do meu, ela parecia estar tentando buscar em suas memórias aquele momento, que obviamente não encontraria, pois não aconteceu, mas ela estava bêbada e eu podia usar isso a meu favor.

- Eu não me lembro disso. - Sua expressão era confusa. Ela pegou seu telefone e foi checar as ligações. Fiquei a observando a todo momento. Seu semblante mudou quando ela pareceu saber do que se tratava agora. Bloqueou o telefone de novo e o colocou sobre a mesa. Me mantive neutra, totalmente tranquila. - Gizelly me ligou. Mas eu nem ao menos me lembro disso.

- Entendi. - Respondi tentando parecer normal. Ela mentiu pra mim, agora eu tinha total certeza que algo estava acontecendo, e eu ia descobrir. Sarah ficou me olhando por um tempo, eu estava pensativa, minha vontade era surtar. Eu estava grávida, não podia me estressar. Sabia que devia só conversar com ela e entender o que está acontecendo sem me envolver, mas era mais forte que eu. Sarah era uma pessoa frágil, eu não podia deixa-la sozinha. Precisava proteger ela.

- O que está pensando? - Sarah quebrou o silêncio e eu a encarei.

- Em nada.

- Está desconfiando de mim? - Ela perguntei e fiquei olhando pra ela. Chegava a ser engraçado. Neguei com a cabeça e me levantei. Se Sarah soubesse o quanto ela era ruim nisso. Ela realmente achou que passaria despercebida por mim.

- Eu só... Só não acordei muito bem. Como nos outros dias. - Ela me olhou triste ainda sentada. Levei minha mão até seu rosto e fiz um carinho leve. Eu tinha muito medo de perde-la. Não conseguia pensar em Sarah sendo uma pessoa ruim, só conseguia pensar que alguém estava tentando fazer mal a ela, e ela estava tentando resolver sozinha. Eu não podia deixar. - Eu amo você.

- Eu também amo você. - Se levantou da mesa segurando minha nuca. Um sorriso tímido em seus lábios. Fui tomada por um medo assombroso de perde-la. Não conseguia nem imaginar alguém fazendo mal a Sarah. Me perguntei se toda aquela animação dela era real, estava sempre me questionando sobre isso, e agora sabendo que ela estava com problemas, podia ver que talvez fosse sua capa social, ela não queria que eu percebesse nada.

- Vamos ficar juntas hoje?

- Precisa levar alguns relatórios pra Annalise. Também tem uma reunião. Mas depois eu volto pra você. - Ela segurou meu rosto e selou nossos lábios. Forcei um sorriso tentando disfarçar minha total frustração. - Prometo que não demoro.

- Ok. - Ela me abraçou uma última vez e foi pro banheiro tomar banho. Fiquei parada como uma estátua encarando a parede sentada naquela mesa. Não conseguia parar de pensar.

Eu estava com 19 anos, grávida, sem um planejamento de vida e tentando descobrir o que minha namorada estava aprontando. Nós tínhamos um imã pra problema, era incrível. Talvez a vida estivesse querendo me pregar uma peça por ser tão teimosa. As vezes a vida vira a gente de cabeça pra baixo, para que possamos encontrar a direção certa. E eu parecia sempre escolher a direção errada. Era tudo mais fácil quando eu não tinha sentimentos, quando nada mais importava além de mim mesma. Mas uma coisa eu aprendi: Não importa quão frio e calculista você possa ser, ou finja ser... Ás emoções sempre vão pegar você, e você não vai conseguir fugir.

Senti algo vibrar na mesa chamando minha atenção e vi que ela tinha deixado o celular ali. Olhei para o corredor e escutei o barulho do chuveiro ligado, eu tinha um tempo. Peguei seu telefone desbloqueando a tela, nem ao menos tinha senha. Talvez eu não achasse nada, ela realmente não me queria desconfiada.

Fui em suas conversas, não tinha quase nenhuma, todas apagadas. Tinha mensagens de Annalise e Gizelly, mas se eu abrisse ela saberia que peguei seu telefone. Fui até conversas arquivadas e meus olhos quase saíram de órbita quando vi uma conversa com Lucas Viana. Aquilo só podia ser sacanagem.

Lucas Viana:

Podemos resolver isso conversando.

Meu dedo coçando pra abrir a conversa, mas eu não podia. Vi também uma conversa com Bianca Andrade. Ok, porque a conversa da Bianca estava arquivada?

Bianca Andrade:

Estou esperando no portão.

- Você só pode estar brincando comigo, Andrade. - Fiquei encarando aquela mensagem. - Que inferno. - Me levantei da cadeira indo até o quarto procurar por meu notebook. Eu precisava agir rápido. Peguei seu celular e abri seu whatsapp no meu notebook. Uma hora ela teria que abrir aquelas conversas. Eu sabia que isso era errado de tantas maneiras, mas ela estava literalmente escondendo um turbilhão de coisas de mim. Me sentia burra demais, como pude deixar as coisas fora do meu controle desse jeito? Eu precisava voltar, precisava resolver isso.

- Ju? Esqueci a toalha. - Ouvi Sarah gritar no banheiro.

- Normal. - Falei correndo com o notebook pela casa. O coloquei no quartinho de talhas que eu tinha na minha casa e tranquei a porta. - Já vou. - Peguei a toalha correndo e levei pra ela no banheiro. Estava nua e toda molhada. Diria que era uma bela visão se eu não estivesse afim de mata-la hoje.

Fiquei quieta observando Sarah se aprontar enquanto conversava comigo sobre seu trabalho. Falou que teria uma festa na casa de Annalise na próxima semana e que eu poderia ir. Ela queria que eu conhecesse seus amigos que trabalhavam com ela. Aquilo era perfeito. Tudo que eu precisava era de uma conversa com esse pessoal, precisava ver o ambiente que ela estava, e se eles tinham algo a ver com toda essa merda envolvendo Sarah.

Fiquei a tarde toda sozinha trocando mensagens com Luisa inventando teorias pra tudo aquilo. Sarah me mandou mensagem avisando que houve um imprevisto e talvez ela só voltasse anoite. Eu estava desconfiada, muito desconfiada. Ficava cada vez mais confuso.

Luísa:

Também acho que ela pode estar com problemas e tá tentando resolver tudo sozinha. Mas sobre a conversa dela com Lucas, não faz o menor sentido.

Eu:

Estou o dia todo com o whatsapp dela aberto e nada dela abrir a conversa. Eu espero que ela esteja me traindo, porque se estiver mesmo metida em problemas e não me pediu ajuda, vou mata-la.

Luísa:

Espera mais um pouco. Não podemos estragar tudo.

Eu:

Ok.

Respondi encarando a tela do notebook. Senti minha barriga mexer e a encarei. Eu estava morrendo de fome e o bebê devia estar também. Eu era uma mãe irresponsável. Levei uma de minhas mãos até minha barriga e suspirei.

- E aí, neném. Quer descobrir isso comigo?

...


POV SARAH

- Juliette... - Encarei meu outro celular vendo que estava online em meu outro número. - Mas que diabo de mulher.

Bufei irritada indo até a conversa de Annalise em meu outro telefone.

Eu:

Receio ter más notícias...

Annalise:

Não me diga que ela descobriu...

Eu:

Acho que não. Mas está desconfiada. Ela clonou meu whatsapp.

Suspirei forte subindo os vidros do carro. Estava parada no meio da rua e já era tarde. Eu precisava ir pra casa, mas tinha algo a resolver.

Annalise:

Como diabos essa mulher está desconfiada de algo?

Eu:

Sabíamos que isso aconteceria já que ela é mais esperta que todos nós juntos. 😗🤌🏻

Annalise:

Faça o possível para despista-la.

Eu:

Pode deixar.

Bloqueei um telefone pegando o outro, precisava ter acesso a tudo que estava ali pra saber o que Juliette sabia até então, e aí dar um jeito de despista-la. Mas faria isso depois, pois eu estava prestes a fazer um teatro total e precisava ter foco. Estava nervosa, mas eu sabia meus motivos pra estar ali, então, dessa vez, não teria erros.

Quando eu tinha 10 anos de idade, eu sofria bullying constantemente na escola. Era sempre um terror ir a aula e voltar sozinha. Me lembro de uma vez que quatro meninos me pegaram na rua e me bateram sem motivo algum, lembro de achar que eles iam passar dos limites e eu acabaria morta, mas ela estava lá, ela sempre estava lá.

Carolline parecia sentir quando algo de ruim acontecia comigo, ela sempre chegava e colocava medo em qualquer um. Eu não sabia exatamente qual era nossa diferença, porque eu era motivo de piada, e ela era motivo de medo. Perdi as contas de quantas vezes eu vi Carolline batendo em meninos até sua mão sangrar, ainda mais os meninos que me faziam mal.

Com o passar dos anos, isso só foi piorando. Comecei a perceber o tanto de ódio que Carolline guardava dentro dela. Ela sempre estava com raiva de tudo e todos. Eu amava ter sua proteção, amava no quanto ela se preocupava comigo. Mas um dia, isso simplesmente acabou.

Seu ódio foi todo voltado a mim. As vezes não tinha motivo algum, ela entrava chorando no quarto e descontava toda sua raiva, me batia até nossa mãe aparecer e tirá-la de cima de mim. Eu era lenta demais pra reagir, e ela tinha ódio demais pra conseguir parar, alguém tinha que parar ela.

Eu sabia que algo grave acontecia com ela, não era normal a forma que ela agia. Carolline me espancava e horas depois voltava e me pedia desculpas, e por incrível que pareça, ela sempre parecia realmente arrependida. Uma das minhas maiores lembranças dela era essa, as desculpas, ela sempre se desculpava e dizia que ela era a única que poderia me proteger, e a única que poderia me machucar.

Com o passar dos anos, eu aceitei essas palavras. Eu sempre a perdoava, porque de alguma forma, ela me protegia de outras pessoas. Ela só não me protegia dela mesma, da sua ira, dos seus demônios interiores. Eles me odiavam. Eu nunca ia entender o porquê.

Depois que Juliette entrou na minha vida e abriu meus olhos sobre minha irmã, eu não quis mais aceitar aquelas palavras. Aquelas malditas palavras que soavam na minha mente o tempo todo, "Eu sou a única que pode te proteger, e a única que pode te machucar". Por anos fui a vítima dela, por anos fiquei acoada, sem conseguir reagir e interagir direito, pois tinha medo dela. Ela não queria que eu fosse feliz, porque ela não era feliz. Porque ela passava por coisas que eu nem imaginava, mas ainda assim eu era a culpada de tudo segundo ela.

Eu sentia raiva de mim mesma por não ter reagido na época, por só enxergar agora o quanto ela destruiu toda a minha vida. Eu passava dias e noites pensando em como ela se esforçou pra acabar com minha mente. Eu sentia ódio. E esse ódio estava me movendo agora, me trazendo a lugares que eu não deveria estar, me motivando a fazer coisas que eu não deveria estar fazendo. Me trazendo de volta pra ela.

- Diz que você trouxe minha comida japonesa... - Vi Carolline saindo pelos portões do presídio e fiquei a encarando encostada no carro. Ela se aproximou e estendi o saco com a comida. - Meu Deus! Eu te amo.

- Entra no carro. Não quero que ninguém nos veja. - Ela deu a volta entrando no carro e eu fiz o mesmo. Fui dirigindo em silêncio. Meus dedos batucando o volante de tanto nervoso que eu sentia. Ela comia como uma desesperada, talvez pelo tempo sem comer uma comida decente.

- Ainda não acredito que o idiota pagou minha fiança. - Carolline falou quebrando o silencio e eu a olhei rapidamente. Ela estava bem mais magra, o rosto abatido, mas parecia feliz. Eu sabia que ela achava que estava se acertando comigo, se ao menos ela imaginasse. - Ele ainda perdeu um dinheiro pro Juiz pra ele me dar direito de fiança. Tudo pela Juliette.

- Eu vou precisar dos arquivos amanhã mesmo. - Abri o porta luvas do carro e peguei um envelope lá dentro tomando cuidado com o volante. Tentei disfarçar meu ódio só de vê-la tocar no nome de Juliette. - Tudo que você precisa pegar no computador dele está aí dentro. - Ela apenas assentiu analisando o papel.

- Lucas é um imbecil, mal sabe o que o espera. - Carolline sorriu animada e forcei pra sorrir também sem tirar meus olhos da estrada.

Você também, Carolline, você mal sabe o que te espera.

...

E será que a Sarah aprendeu algo com a Juliette? 😗🤌🏻

Falem comigo no tt: @twittaste_

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