SWEET EPIPHANY | Bucky Barnes...

By DixBarchester

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A cultura define Epifania como "revelação ou entendimento repentino", um segundo de clareza mental onde, de r... More

★☆ INTRO ☆★
★☆ MÍDIA ☆★
00 • WORLD OF HEROES
01 • STORMY EYES
02 • EPIPHANIC CERTAINTIES
03 • LITTLE BRIDGES
04 • LITTLE FLIRTING
05 • TRUST ISSUES
06 • COMFORT ZONE
07 • WAR ZONE
08 • TRUTHS THAT HURT
09 • WELCOME TO MADRIPOOR
10 • CHAOS IN MADRIPOOR
11 • BEAUTIFUL MESS
12 • KILLING ME SOFTLY
13 • GOODBYE MADRIPOOR
14 • SAVE SPACE
15 • CIRCUS OF FRENEMIES
16 • THE FLAG SMASHERS
17 • LONG NIGHT
18 • LITTLE LOVE BUBBLE
19 • THE FORGE
20 • HEALING TIME
21 • ROAD OF HAPPINESS
22 • BACK TO NEW YORK
23 • THE WORST DAY...¹
24 • THE WORST DAY...²
25 • THE FORGE PRISONERS
26 • THE GREAT TRAP
27 • THE GREAT EPIPHANY
28 • READY FOR COMBAT
30 • SWEETEST FAMILY - Epilogue

29 • BITTERSWEET ENDING

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By DixBarchester

Cheguei! Demorou mais aqui estou com mais um capitulo (o penúltimo). 

De novo, não rolou eu ser uma autora que escreve de forma ponderada e aqui vão mais 19k... 

Para o plot no geral esse é o final, depois daqui teremos apenas um epílogo, então esse aqui já tem gostinho de fim. 

Vamos ver se vai ser um final feliz ou não para Buckayla e o Bebê dos Sonhos, e o que vai rolar com a Emma. 

Antes de começar, quero deixar aqui registrado que Makayla não foi criada pra ser perfeita e muito menos para ser um modelo. Vocês podem não aprovar as atitudes dela nesse final e tá tudo bem.

Boa Leitura!

Danniel Devinne estava na televisão, discursando na frente das câmeras energicamente como se jamais tivesse ficado longe delas por cinco anos. Era um talento natural de fato.

— Ele é muito bom no que faz. — Emma Kennedy declarou, encostada na escrivaninha, os olhos na tela e os braços cruzados. — Seria até excitante, se não fosse eu mesma o alvo de tantas críticas.

Idiota, pensou enquanto desligava a televisão, todos eles, idiotas. Depois que fugiu de Nova York foi direto para aquele esconderijo fora da cidade, uma casa segura ao sul. Dali assistiu as noticias sobre o CRG desabando, sobre a Sentinela e viu com os próprios olhos Makayla deter um disparo da coisa com um tipo de campo de força púrpura.

Aberaçãozinha ridícula.

Teria sido poeticamente favorável a seus interesses que a bastardinha estivesse morta naquele momento. Mas não estava. Sendo assim, Emma tinha que focar em seus planos para lidar com os problemas que surgiriam depois da denúncia de Danniel.

Olhou para a mulher amarrada em uma cadeira a esquerda. Caroline Hills, a doutorazinha sequer tivera chance de deixar o país... Assim que soube dos planos de Feltz, Emma ordenou que Hills e sua filha fossem interceptadas e mantidas cativas, isso antes mesmo que os Apátridas atacassem a sede do CRG...

Estava sempre um passo à frente.

Todavia, no instante em que deu a ordem, ainda não tinha ideia do que faria com a traidorazinha, mantê-la sob custodia era apenas uma precaução, no entanto isso se provou muito útil. Caroline Hills era a peça chave de seu novo plano.

— Não sei o que pretende, Diretora Kennedy, mas as pessoas vão saber que eu sumi. — A doutora declarou com o tom de voz ponderado. — Seja lá o que está planejando, não vai dar certo.

— É claro que vão saber que você sumiu, essa é a intenção. — Ela sorriu satisfeita.

Contava com o fato de que a pessoa certa viria atrás de Caroline. E, conhecendo o homem como conhecia, sabia que ele certamente estava a caminho. Era apenas uma questão de tempo para que tudo estivesse resolvido.

Emma tinha certeza que logo estaria fazendo um retorno triunfal com uma história perfeitamente crível que provaria sua inocência. Nem Danniel seria capaz de retrucar a nova narrativa...

— Por favor, faça o que quiser comigo. Mas deixe a minha filha ir, não faça mais mal pra ela, é apenas uma criança. — Caroline implorou, se movendo na cadeira de forma desconfortável.

— Ah, pelo amor de Deus. — Emma revirou os olhos para todo aquele drama, apontando a criança desacordada no sofá. — A garotinha está bem, algumas gotas de sonífero nunca mataram ninguém. Ela vai dormir por algumas horas e quando acordar de novo já vai ter dado tudo certo. — Focou seus olhos na doutora e sorriu. — Devia me agradecer por eu pensar em não causar trauma para a pirralha.

Caroline Hills tinha uma expressão que misturava choque, horror e desgosto.

— Não olhe pra mim desse jeito. Eu não sou uma assassina. — Emma declarou, movendo a mão no ar como se falasse de um assunto banal.

— Mas é uma sequestradora... — A doutora teve a ousadia de retrucar.

Emma pousou os olhos na mulher, aquela afronta era ultrajante, mas não se deixou levar pela opinião irrelevante de uma pessoa claramente fraca e sem ambição. Algumas mulheres haviam nascido para a grandeza, outras estavam fadadas a mediocridade....

— Meios para um fim. — Respondeu, em um misto de casualidade e orgulho. — Eu sou uma visionária, estou sempre um passo a frente. Não espero que entenda isso.

Caminhou pelo cômodo por alguns segundos, no rádio-comunicador sobre a mesa volta e meia os seguranças vaziam a checagem padrão.

Estava impaciente, precisava que aquilo se resolvesse logo para que começasse a cuidar de coisas mais urgentes, claramente depois do surgimento daquele novo Capitão América de merda o CRG perderia sua popularidade e Emma estava certa de que era hora de se reinventar uma vez mais. Só precisava resolver as acusações de Danniel antes que elas se tornassem um problema maior.

E seu bode expiatório para isso chegaria em breve...

— Eu sempre tenho um plano, e um segundo plano pra caso o primeiro dê errado. E as vezes tenho até um terceiro. — Começou a contar, falar sobre seus próximos passos seria um bom jeito de passar o tempo. — Mas em alguns casos os planos acabam e é aqui que está meu segredo. Eu também sou ótima improvisando.

Sorriu para Caroline, mas a doutora permaneceu impassível, se limitando a responder com uma pergunta:

— Então é isso que você está fazendo agora? Improvisando?

— Precisamente. — Emma concordou, satisfeita por não ter uma audiência tão burra assim.

— E o que eu e minha filha temos a ver com seu improviso? — Pelo visto havia elogiado cedo demais, Caroline era incapaz de ver um único palmo a frente de seu nariz. — Eu não fiz nada. Não contei sobre a Orquídea ou a Forja para ninguém.

Até a aberração bastardinha conseguia entender as coisas mais rápido...

Assim que a imagem de Makayla surgiu em sua mente Emma a espantou, menininha ingrata! Nunca a perdoaria por nascer, nunca perdoaria o fato de Cameron ter dado a vida por aquela bastarda. Se ela tivesse morta tudo teria sido muito mais fácil.

Agora o corpo de seu filho estava embaixo de escombros, e a aberração desfilava na rua com seu soldado assassino. Tudo que Emma podia fazer era torcer para que o feto monstrinho não vingasse. Makayla não merecia a felicidade te ter um filho.

— Você é meu trunfo, Doutora Hills. — A Diretora Kennedy declarou, se forçando a permanecer focada. Teria oportunidade para lidar com Makayla depois. — Primeiro eu te usaria contra a bastardinha. Ela tem um carinho especial pelo seu ex-marido, então não deixaria nada acontecer com você. Alguns documentos te responsabilizando pelo que acontecia abaixo do CRG seriam o bastante para manter aquela aberraçãozinha calada. — Sorriu como quem faz comentários casuais sobre o tempo. — Infelizmente as coisas saíram do controle e esse é um trunfo que não posso mais usar. Agora que Danniel apareceu com seu discurso florido para a mídia vai ser difícil acreditarem que eu sou inocente e você culpada. É uma conta que não fecha, entende?

Caroline não respondeu, certamente eram informações demais para o cérebro daquela mulherzinha de terceiro mundo.

— Mas felizmente tem uma maneira muito simples para que eu escape de tudo isso. — Continuou contando, satisfeita de rever o passo a passo em sua mente e ver como tudo se encaixava de forma perfeita. — Na vida política é tudo sobre colocar a culpa na pessoa certa, montar uma narrativa que o povo compre e sair como a vítima da situação.

Caroline franziu as sobrancelhas. Emma deixou que sua mente divagasse um pouco enquanto continuava a falar:

— Sabe, os maiores erros que cometi na vida foram relacionados a subestimar quão longe um homem fracassado iria por uma mulherzinha de quinta. Danniel foi uma decepção completa. — Moveu a cabeça em claro desgosto. — Felizmente, graças a postura daquele soldadinho ridículo chamado Barnes eu entendi finalmente... Homens são burros, homens apaixonados então. Idiotas completos.

Se lembrou do dito soldado caindo em sua armadilha como um patinho, cego de amor, pronto para se jogar de um prédio pela simples esperança de salvar Makayla. A bastardinha não valia tanto.

— E é exatamente isso que eu vou fazer agora, usar a paixão de um homem burro por uma mulherzinha de quinta em meu favor. — Focou em Caroline com um sorriso cheio de significados.

Viu o entendimento cortar o rosto da mulher, agora ela sabia bem de quem estavam falando.

— Oh, você pensou que eu não ficaria sabendo de seus cafezinhos com meu segurança? — Emma questionou, em um misto de sarcasmo e despeito.

Era inaceitável que Feltz tivesse escolhido traí-la por uma mulherzinha advinda de um país de terceiro mundo. Emma se achava extremamente superior a Caroline.

— Eu e Scott não temos nada. Nunca tivemos. — A doutora declarou imediatamente.

Mentirosa.

— Não era justamente com o dinheiro dele que você estava fugindo do país? — Emma acusou com presunção.

— Eu só aceitei porque pensei que eu ou minha filha estaríamos em risco. — Caroline se defendeu.

Talvez qualquer outra pessoa tivesse parado um instante para pensar, ponderaria se estava fazendo o julgamento errado da situação e temeria que seu plano montado totalmente em cima da suposta paixão de Scott Feltz fosse por água abaixo.

Mas Emma Kennedy não era do tipo de mulher que duvidava de si mesma, ela tinha certeza da paixãozinha de seu segurança pela doutora, e conhecia muito bem o homem para saber que ele viria atrás de Caroline imediatamente.

Hills era mãe, e Scott Feltz tinha um fraco oportuno por mães.

— Irrelevante. — Desconsiderou tudo que Caroline havia dito. — O que importa é que Feltz vai vir até aqui te salvar e eu vou convencê-lo a assumir a culpa por tudo isso, em troca da sua vida, é claro.

Era o plano perfeito, tudo estava montado na mente de Emma, ela já podia sentir o cheiro de mais um novo triunfo.

— Depois disso não vai ser difícil convencer a opinião popular que meu segurança particular, completamente apaixonado por mim, cometeu loucuras e atrocidades para ficar comigo, sequestrou meu marido e filha, quis reviver meu filho morto há anos, fez acordos escusos com cientistas loucos, tudo por amor. Ou melhor, obsessão. — Ela explicou orgulhosa e um tanto performática. — Então quando ele viu que realmente não daria certo e eu o rejeitei, ele resolveu jogar toda a culpa de tudo isso sobre mim. O típico homem tóxico que a mídia ama odiar.

Quem desconfiaria de Emma? Uma mulher com a vida politica sempre impecável. E quem defenderia Feltz? Um homem com uma lista de assassinatos nas costas, diversas advertências correcionais em seu tempo de agente... Ele era o bode expiatório perfeito.

Emma diria que foi manipulada, que mesmo as coisas que Makayla ou Danniel pensavam saber eram todas mentiras de Feltz. Os dois facilmente seriam colocados como testemunhas não confiáveis, Makayla com sua instabilidade mental, Danniel por ter a sanidade abalada depois de tanto tempo preso. Além disso com o CRG destruído não havia uma prova real contra Emma, eram apenas as palavras de pai e filha, ambos abalados demais por tudo que haviam sofrido e que com certeza estavam cometendo um erro e uma injustiça contra a mulher que só fez amar os dois a vida toda.

Talvez devesse se lamentar pelo prédio destruído e pelo tanto de tecnologia que agora estava soterrada. Mas Emma não se importava com as perdas materiais, a única coisa que realmente irritava Emma Kennedy era que novamente a interferência de Makayla havia arrancando Cameron de si... Mas ela pagaria por isso cedo ou tarde.

— O resto é burocracia, testemunhas pagas, provas forjadas, favores cobrados. — A diretora Kennedy deu de ombros. — A simples dúvida é o bastante para criar dois lados dentro da opinião popular, esses dois lados acabam brigando entre si em toda a parte e depois disso a verdade deixa de importar, a briga do próprio povo se torna mais relevante. Depois é só esperar a poeira abaixar com descrição e daqui uns anos eu certamente vou concorrer a outro cargo público e ganhar.

Além disso, havia o interesse dos membros da Orquídea que com certeza iriam querer que Emma se safasse. Afinal se ela falasse tudo que sabia seria pior pra eles. Culpar o segurança seria do interesse de todos.

Tinha o plano perfeito. Era apenas questão de tempo para se safar.

— O povo é burro e esquece com facilidade. — Decretou com um gesto casual. — Só gente sem dinheiro, sem contatos e sem influência é punida de verdade nesse país. E esse não é meu caso.

Caroline lhe encarava com aqueles olhos julgadores que pessoas ingênuas que se prendem a futilidades morais tem. Danniel tinha aquele mesmo olhar.

— Você é uma pessoa horrível. Uma hora ou outra o povo vai parar de acreditar nas suas mentiras. — A doutora jogou as palavras de forma firme, mas Emma sequer deu importância.

— Será? — Jogou de volta com um sorriso venenoso no canto da boca. — Ah, querida, você ficaria surpresa em saber como é fácil enganar as massas.

— Isso nunca vai dar certo. Scott não vai aceitar assumir toda a culpa. — Dava pra notar Caroline tentando se agarrar em qualquer fio de esperança.

Emma rodeou a cadeira da mulher e se apoiou no encosto, curvando um pouco o corpo para poder sussurrar:

— Acho que você subestima o quanto ele gosta de você.

Mal tinha erguido o corpo de volta, quando o rádio-comunicador emitiu a voz de um dos seguranças:

— Possível violação de perímetro na ala norte.

— Como eu disse... — Emma apontou com um sorriso satisfeito no rosto. — Aí vem seu cavaleiro branco. Ou eu devia dizer, Burro Branco?

Os olhos assustados de Caroline foram ignorados enquanto Emma caminhava em direção a mesa e se aproximava do rádio.

— Sigam as ordens que dei mais cedo, dificultem, usem os punhos, os cacetetes, ou usem munição se preciso pra parecer crível, mas não façam nada que seja letal. — Reforçou os pontos importantes do plano.

Tinha que ser tudo perfeito. Exatamente como foi quando escapou de Barnes.

— Se sua intenção é fazer com que Scott assuma a culpa, por que mandar que o ataquem? — Caroline questionou, e esse foi apenas outro momento em que Emma disse a si mesma que a doutora não era sequer um por cento visionária.

— Porque é o desespero que leva as pessoas a fazerem coisas desesperadoras, querida. — Explicou, pegando fita adesiva na gaveta da escrivaninha e se aproximando da cadeira. — Ele tem que sentir que não vai conseguir te salvar, a mente dele tem que pregar peças nele, tem que imaginar como vai ser carregar seu corpo sem vida nos braços. — Ela se abaixou próximo ao rosto de Caroline. — Medo é o melhor instrumento de manipulação de todos os tempos.

Tirou um grande pedaço da fita e tapou a boca de Caroline.

— Mas agora chega de conversa. Fica caladinha que logo vai acabar.

Voltou para sua escrivaninha e abriu outra das gavetas, teclando sua senha no cofre escondido ali no fundo e pegando uma Glock automática.

— Claro que você vai morrer de um jeito ou de outro, afinal esse é o tipo de transação que não pode deixar testemunhas. — Disse como quem fala do tempo, enquanto checava a munição de sua arma.

Não tinha experiencia com aquele tipo de coisa, mas sabia o básico, isso seria o bastante naquele dia. Um tiro e estaria resolvido.

— Mas não se preocupe com a criança, eu vou apadrinha-la depois de tudo isso, vai ser bom uma menininha assim feito ela para minha imagem. — Sorriu para Caroline que se debatia de um lado para o outro na cadeira inutilmente. — Essa coisa de diversidade dá muita publicidade hoje em dia.

Era isso, tudo estava resolvido, assim que Feltz chegasse precisaria apenas de alguns minutos para convencê-lo a gravar uma confissão que parecesse dada em um momento de discussão, em troca da vida de mãe e filha, depois disso mataria Caroline e Feltz, e montaria a cena perfeita.

"Estava fugindo com a doutora Hills e a garotinha para escapar das garras de Feltz, mas ele as encontrou e matou Caroline, Emma teve que então se defender para proteger a filha da doutora. Era apenas uma criança. Jamais deixaria que algo acontecesse com a pobrezinha."

Seria praticamente uma heroína.

O resto dos detalhes arrumaria depois. Apenas burocracia. E sim, não era uma assassina, mas sempre havia uma primeira vez pra tudo...

Do lado de fora, era bem evidente que acontecia uma luta, os disparos deixavam isso bem claro.

Emma se posicionou com a arma apontada para Caroline e esperou...

Se fizesse a coisa direito, se contasse uma história convincente, talvez Danniel percebesse que seu lugar era do lado da esposa, uma mulher tão injustiçada pela vida. Depois disso seria questão de tempo até se aproximar de Makayla novamente.

E dessa vez acabaria com a bastarda de uma vez por todas, como devia ter feito desde o começo.

O silêncio reinou de repente, Emma não ouvia mais sinais de luta ou tiros, ainda com a arma erguida ela se curvou em direção ao rádio.

— Ala norte, situação? — Perguntou, mas não obteve retorno. — Ala norte, responda.

O rádio-comunicador chiou uma vez antes que a voz masculina soasse alta e clara.

— Eu vou te pegar sua vaca rica, e é melhor não ter feito nada com elas.

Ele estava bravo, ela sorriu satisfeita. Nada melhor que um homem no limite.

— Ou o que, Feltz? — Respondeu em um tom calculado. — Pode vir bancar o salvador, querido, isso não muda quem você é, um assassino. No final o resultado vai ser um só. Ela não vai te querer. Exatamente como a sua mamãezinha não te quis. — Riu de forma premeditada. — Você tem que viver com a verdade. Eu fui a única mulher que te quis.

Apontou a arma para Caroline, sabia que Feltz estava perto. Assim que estivesse cara a cara com ele o faria cooperar.

A porta se abriu em um rompante, Emma ensaiou o que diria, mas não imaginou que ela própria fosse tão lenta e Feltz tão rápido.

— Mas eu nunca quis você! — A declaração masculina veio acompanhada de um único disparo.

Emma Kennedy, no limite de seu orgulho e presunção esqueceu de considerar que Feltz não era como Danniel ou Bucky. Ele não era um herói. Ele era um assassino...

Scott Feltz viu o corpo da Diretora Kennedy tombar para trás, os olhos dela ainda abertos e assustados, a mão amolecendo e a arma que ela segurava despencando em direção ao chão. Enquanto ela escorregava pela estante atrás de si, um rastro de sangue ficava pelo caminho.

Teve o que mereceu. Foi só o que o ex-segurança pensou enquanto cambaleava em direção a Caroline. Estava ferido, a luta tinha saído do controle quando ele começou a matar os colegas de profissão. Pessoas treinadas lutando pela vida podiam ser violentas.

Ele não conseguia enxergar tão bem assim, a vista um tanto nublada e um rastro de sangue ficando pelo caminho enquanto ele se aproximava em passos incertos.

— Você está bem? — Ele desamarrou Caroline Hills e tirou a fita adesiva da boca dela. — Ela te machucou?

A doutora estava um tanto em choque, mas moveu a cabeça de forma negativa, focando seus olhos no corpo de Emma no chão.

— Você a matou. — Ela disse em um quase sussurro impressionado.

— Eu fiz o que tinha que fazer. — Feltz respondeu apenas, a dor sumindo aos poucos e o frio tomando conta de tudo, era como se pouco a pouco estivesse perdendo a sensibilidade na ponta dos dedos. — Com a Emma é atirar primeiro e perguntar depois, uma única palavra e ela se esquiva como uma cobra escorregadia.

Caroline mal se levantou e correu em direção a filha que estava desacordada no sofá. Feltz respirou fundo, sabia que Emma estava certa, no final a doutora jamais ficaria com ele...

Mas isso era algo com o qual estava em paz, quando saiu de Nova York às pressas logo que colocou os pés para fora do CRG. Já sabia que a diretora Kennedy iria atrás de Caroline, só teve que seguir a pequena trilha de migalhas deixadas pelo caminho.

Estava óbvio que era uma armadilha, mas ele não hesitou mesmo assim, seja qual fosse o plano de Emma ela não obteria sucesso se Feltz atirasse primeiro. Esse era o plano, simples e fácil. Nada mais de dar para aquela mulher desprezível oportunidades de fazer um discurso bonito, de manipular pessoas e de fugir.

Ela precisava morrer.

E Feltz estava em paz com quem era. Um assassino. Conhecia seu lugar, sabia bem que homens como ele não eram escolhidos, não ficavam com a garota no final. Ele não era um Bucky Barnes da vida. Não era um herói injustiçado que foi obrigado a fazer coisas terríveis pelo caminho.

As escolhas que fez foram conscientes, todas elas. E Feltz sabia disso melhor que ninguém.

Ainda assim, ele decidiu que Caroline valia a pena ser salva, simples assim, não havia limites que ele não cruzaria. E não precisava de retribuição por isso.

— Eu vou tirar vocês daqui. — Declarou, enquanto Caroline fazia menção de pegar a filha no colo.

Ele deu o primeiro passo em direção a porta, as coisas rodando um pouco mais agora, sua mão esquerda estava sobre o abdômen e suas pernas começavam a fraquejar.

— Você está sangrando. — Caroline apontou assim que se deu conta.

— Vai ficar tudo bem, você e sua filha vão sair daqui. — Foi tudo que ele disse, fazendo um sinal para que caminhassem até a porta.

Caroline voltou a deixar a filha no sofá e se aproximou de Feltz, olhando as calças dele e focando em um ponto na altura da coxa que estava empapado de sangue. Ela se ajoelhou para olhar o ferimento através do buraco de bala.

— Tem sangue demais, deve ter atingido uma artéria. — Declarou, já procurando algo com que pudesse fazer um torniquete.

Mas Feltz não precisava que nada disso fosse dito, ele sabia bem quantos tiros tinha levado pelo caminho. Acabou cambaleando em direção ao chão, se encostando na parede e respirando com dificuldade enquanto Caroline tentava rasgar um pedaço de tecido.

Feltz a deteve, a mão ensanguentada pousando sobre a dela. Um torniquete não ia resolver nada.

Tocou o queixo da Doutora para que ela erguesse um pouco o rosto e abriu o casaco, ali mais sangue se acumulava em uma confusão quase indecifrável. Caroline começou a examinar os ferimentos. Três tiros, um no peito, um na barriga e um no meio do caminho entre isso.

— Mas eles não deviam atirar pra matar, eu ouvi as ordens... — Ela comentou em negação, enquanto procurava uma forma de estancar todo aquele sangue.

Feltz riu de canto, achando melhor não falar sobre as costelas quebradas.

— Nem sempre dá pra controlar o curso de uma bala no meio de uma briga. — Foi apenas o que ele disse, notando o quanto sua fala estava mole.

Talvez Emma quisesse que a luta fosse difícil, o número de seguranças na casa dizia isso, talvez ela tivesse intenção de deixar Feltz fraco e lento, mas ela certamente não contou com o fato de que seguranças não são robôs, as ordens ficam um pouco de lado quando um ser humano está lutando pela própria vida.

Feltz matou todos eles, mas certamente não saiu dessa briga ileso...

— Não tem mais ninguém na casa, eu cuidei disso, você só tem que carregar a menina até a garagem, vai ter um carro lá. — Ele disse um tanto fraco, forçando sua vista para captar cada detalhe do rosto de Caroline. — Você vai ficar bem, vocês duas vão.

— Eu não vou sem você, vamos cuidar desse sangue e chamar ajuda. — Caroline continuou a tentar estancar as feridas.

Feltz achou um tanto comovente que alguém estivesse lutando pela vida dele daquela forma. Nunca tinham feito nada sequer parecido.

Pena que todo aquele esforço era em vão, ele já sabia, desde o momento em que saiu de Nova York, qual seria seu destino.

— Tudo bem. — Tentou segurar as mãos de Caroline para que ela cessasse todos aqueles esforços, mas notou que não tinha mais força pra isso.

— Não está tudo bem! Fica comigo, não desiste. — Ela tinha lágrimas nos olhos, enquanto continuava a estancar todo o sangue.

— Não gaste suas lágrimas comigo, não mereço isso. — Ele disse em um fio de voz, não doía mais, era apenas a ausência de tudo. O olhar dos dois se encontrou nesse momento.

Enquanto fazia um esforço descomunal para tirar algo de seu bolso, Feltz pensou que tinha sorte. Nem todo mundo podia morrer nos braços de uma mulher bonita. Sempre pensou que morreria em missão, no meio de uma batalha, vendo a face do inimigo.

É, ele tinha sorte. Aquele era um bom jeito de morrer.

Fechou os olhos, a mão caindo ao lado do corpo com um papel não entregue entre os dedos.

Caroline chorava, gritando seu nome, mas ele já não podia ouvir mais nada.

Scott Feltz estava morto.

★☆ • ★☆ • ★☆

O hospital se encontrava em caos completo, mesmo que Bucky e Makayla tivessem escolhido uma unidade de pronto atendimento mais afastada — e com certeza diferente daquela em que os funcionários foram facilmente comprados por Emma Kennedy, — o lugar estava recebendo feridos vindos do incidente no CRG.

Provavelmente todos os hospitais dos arredores estavam sobrecarregados, e isso deixou o casal na posição desconfortável de terem que esperar. Felizmente um dos enfermeiros reconheceu Bucky como sendo um Vingador e por isso lhe deu acesso há uma sala privativa no segundo andar, o que foi ótimo, porque algo na super lotação e sofrimento do ambiente deixava Makayla obviamente inquieta.

O mesmo enfermeiro ainda foi solicito em fornecer ao casal alguns itens para que ambos pudessem limpar pelo menos o rosto e as mãos de toda a fuligem e poeira do incidente. Isso fez com que Bucky notasse que tinha alguns arranhões espalhados aqui e ali, talvez da luta com os seguranças de Emma, talvez do caos no meio dos escombros, impossível dizer. O importante era constatar que Makayla estava intacta. A não ser por olheiras fundas e um semblante um tanto abatido ela não estava ferida.

Barnes mal podia acreditar que estava ao lado dela outra vez. Apesar de tudo que havia acontecido naquele dia, ter Makayla encostada em seu peitoral, enquanto ele mantinha o braço direito ao redor do corpo dela de forma protetora, ali naquele pequeno sofá, era o maior alivio de toda sua vida.

Ela estava viva. Bucky nunca seria capaz de expressar o quão grato estava sobre isso.

— Como você está? — Questionou, desembaraçando uma pequena mexa do cabelo castanho da jovem.

Makayla ergueu um pouco a cabeça e sorriu, Bucky nunca pensou que um sorriso pudesse tirar o peso do mundo de seus ombros, mas foi exatamente isso que aconteceu.

— Do mesmo jeito que eu estava há dois minutos quando você perguntou pela última vez. — Ela respondeu com uma pitada de humor na voz.

Sim, Bucky havia perguntado inúmeras vezes, tanto no caminho para o hospital, quanto desde o instante em que ficaram sozinhos naquela sala. Ele precisava ter certeza.

— Está com dor? — Tornou a questionar.

— É como eu te disse, não chega a ser dor, é só um incômodo. — A jovem explicou cabisbaixa. — Uma sensação de que tem algo solto dentro de mim.

Aquela perda eminente pairou entre eles, a coisa que ainda não tinham dito em voz alta, mas que ambos sabiam muito bem o que era.

Bucky sentiu o coração afundar em seu peito. Estar com Makayla em seus braços era uma vitória incomparável, ainda assim, diante das circunstâncias parecia ter um gosto um tanto amargo.

Ainda podia ser considerado vitória quando havia uma perda tão significativa envolvida?

Bucky não saberia responder, além disso não era de fato verdade ainda, certo? Podia ser um engano, algo que era possível ser resolvido, podia não ser nada... Ou ao menos era isso que ele queria com toda a força.

Makayla se ajeitou no sofá e encarou o nada por alguns instantes, sua respiração pesada e cansada, e seus ombros um tanto caídos.

— Eu não sou estupida. Sei muito bem que foi esforço demais para um feto de umas quatro ou cinco semanas, ele mal tem um coração ainda... — Era a primeira vez que ela citava a gravidez diretamente desde que haviam chegado no hospital. — Abortos espontâneos são muito comuns nesse período, isso é senso comum, o mais provável é que esteja acontecendo o mesmo comigo agora. — O conformismo em sua voz não disfarçava o impacto que aquelas palavras tinham nela própria. — Eu sei que vou ficar bem, é só...

— Triste. — Bucky completou certeiramente e viu Makayla concordar com um movimento curto de cabeça. — Mas talvez não seja isso, talvez seja outra coisa e os médicos vão descobrir e resolver. — Procurou ser otimista e colocar isso em sua voz, mesmo sem saber se realmente deu certo.

Os olhos de tempestade cinzenta focaram nele de forma compassiva.

— Você quer conservar a esperança, não é? — A pergunta veio acompanhada de um sorriso melancólico.

— Você não? — Bucky retorquiu de forma simples.

Makayla respirou fundo e encolheu os ombros em um misto de incerteza e pesar.

— Eu não sei se, nesse ponto, a esperança é algo bom ou ruim. — Declarou, focando os olhos longe de Barnes. — Talvez aceitar o pior seja menos doloroso do que criar expectativas pelo melhor cenário e acabar decepcionada. Vai ser como perder duas vezes, não acha?

Um silêncio angustiante pairou entre os dois, Bucky não tinha uma resposta para essa pergunta, infelizmente. Ele também não sabia se a esperança podia ser uma lâmina de dois gumes.

Apenas puxou Makayla para perto de si e a abraçou da melhor forma que a posição permitia.

— Eu sinto muito... — A jovem murmurou baixinho, sua voz saindo embargada.

— Não é sua culpa. — Barnes assegurou, apoiando seus lábios no topo da cabeça dela. — Nada disso é sua culpa, Makayla. E nós vamos passar por isso, seja o que for, vamos passar por isso juntos, certo?

A jovem ergueu os olhos, um misto de admiração, amor e melancolia impresso em seu sorriso, antes que os lábios dela tocassem os de Bucky em um beijo doce, mas casto.

Ambos ficaram nesse silêncio confortável, mas ao mesmo tempo um tanto deprimente, era como estar em frente a janela, sob as cobertas em um dia muito frio e chuvoso, olhando o céu nublado lá fora, há essa certeza de que você está bem e seguro, mas há também um certo lamento no ar. Exatamente como uma canção triste que se houve no meio da noite.

Por alguns minutos eles ficaram ali, sozinhos, calados, absorvendo o amparo do outro enquanto lidavam previamente com o que poderia abater suas vidas depois daquela consulta. Em dado momento Makayla comentou baixinho, como quem faz uma confissão:

— Eu o vi... Na minha mente. O Bebê dos Sonhos.

— Bebê dos Sonhos? — Bucky franziu as sobrancelhas.

— É assim que eu chamo. — Ela se arrumou no sofá para que seus olhos encontrassem os azuis gélidos. — Enfim, quando Emma colocou um dispositivo tecnológico de supressão de poderes em mim, eu fiquei presa dentro da minha mente e me encontrei com ele. Fomos dar uma volta pelo multiverso.

Barnes piscou algumas vezes tentando processar o tanto de informação que tinha naquelas palavras.

— Eu sequer sei por onde começar a perguntar... — Ele gesticulou, focando em Makayla de modo sério logo a seguir. — Aquela mulher torturou você? Multiverso? Você saiu pra passear com um feto de cinco semanas?

Apesar do quanto cada um daqueles tópicos parecia sério e preocupante, Makayla riu fraco, pousando a mão no rosto de Barnes e acariciando a barba masculina enquanto falava:

— Você está deixando apenas o que é lógico controlar sua percepção. Esqueça o que a Emma fez ou deixou de fazer, foque no bebê. E o tempo de gestação é irrelevante também, porque o que eu vi é uma representação mental, provavelmente os genes que ele vai ter, e eu estou gestando agora, me forneceram uma amostra do poder dele em um momento de extrema necessidade. Coisas que apenas Bebês dos Sonhos poderiam fazer, talvez.

— Eu entendi o nome agora. — Bucky declarou movendo a cabeça de forma positiva.

— O fato é que eu vi ele... — Makayla começou, mas foi interrompida quase de imediato.

— "Ele"? É um menino? — A pergunta rápida de Barnes fez com que a jovem risse de leve.

— Ele, o bebê. Na verdade, eu não sei o gênero. Não tinha nenhum indicativo disso. Mas não importa também. — Ela gesticulou como se dispensasse aquela parte do assunto. — O fato é que porque eu vi ele, ou ela, a coisa se tornou muito mais real, e a perda, de um jeito ou de outro, se torna mais dolorosa também.

Barnes assentiu, entendendo o ponto de vista, porém também foi capaz de enxergar algo mais naquele fato:

— É, pode ser... Mas isso também te deu uma recordação eterna, não é? Algo que as pessoas que têm uma gestação interrompida nessa época nunca vão poder levar consigo.

Makayla parou por um instante, ficou bem claro que era primeira vez que ela ponderava a situação toda daquela forma.

— É... acho que você está certo. — Disse, ainda pensativa.

— É o tipo de lembrança agridoce que vale a pena ter. — Barnes devolveu neutro. — Eu gostaria, pelo menos.

Os olhos tempestuosos encararam Bucky por alguns instantes, como se estivessem decidindo algo importante.

— Eu posso mostrar pra você... — Makayla declarou finalmente. — Posso te mostrar o que eu vi, se você quiser.

— Você pode fazer algo assim? — Bucky questionou surpreso.

— Bom, eu consegui mostrar algumas memórias para o Pietro, então... — Ela moveu os ombros casualmente.

— Mostrou, é? — Os olhos gélidos franziram minimamente.

— Isso é ciúmes? — Makayla riu de canto.

— Não... — Barnes moveu os ombros com desdém, apenas para confessar logo em seguida. — Eu só gostava de pensar que eu era o único com quem você tinha uma conexão mental.

— Eu tive uma conversa mental com Pietro, não uma conexão. — A jovem explicou simples. —Além disso, não foi ele que eu senti chegando de longe.

Bucky acariciou o rosto dela, envolvendo os dedos de metal nos fios castanhos por puro impulso.

— Eu senti você também, simplesmente acordei com essa certeza de que você estava viva. — Contou, vendo um sorriso bonito iluminar o rosto de Makayla.

— Viu? O que a gente tem é único, ninguém tem igual. — Ela declarou e ele ficou secretamente orgulhoso disso.

Okay, não foi tão secretamente assim.

— Me mostra. — Pediu, segurando a mão direita de Makayla contra seu rosto.

— Eu não preciso mais tocar alguém pra que meus poderes funcionem, posso controlar de forma diferente agora. — Ela explicou simples, mas nem precisaria, porque Barnes tinha noção disso depois das conversas mentais que os dois tiveram durante a batalha.

— Não importa. Eu gosto quando você me toca. — Ele respondeu, roubando um beijo rápido da jovem, para então ficar quieto e esperar que ela fizesse "seu lance".

Não demorou muito mais que alguns segundos para que sua mente fosse invadida por uma imagem específica, era como um sonho, exceto que Bucky estava bem acordado.

Ele se viu em um tipo de labirinto de espelhos, perseguindo algo que parecia um bebê, até que o cômodo se abrisse de forma ampla e ele finalmente visse a criança. O coração de Barnes se encheu de um misto de emoções ao mesmo tempo, o bebêzinho era pequeno e com as bochechinhas redondas, seu macacãozinho misturava estrelas lilases e azuis, enquanto seus olhos eram um misto interessante do azul acinzentado e tempestuoso presente nas íris de Makayla, e também do gélido tom que Bucky via ao se olhar no espelho.

Era o filho deles, não havia dúvidas.

A risadinha infantil ficou ali, grudada na mente de Barnes como uma tatuagem. Deixando para trás um rastro de possibilidades e um futuro brilhante que... talvez nunca viesse a ser um futuro de fato.

Ele entendeu o que Makayla quis dizer anteriormente. Ver tornava tudo mais real, e isso podia tornar mais doloroso também. Era como ver um castelo de areia ser levado pelas ondas do mar...

— Me desculpa, eu não queria te deixar triste. — Makayla declarou, depois de analisar o rosto de Bucky por alguns segundos.

— Você não deixou. — Ele garantiu, puxando a mão dela e lhe beijando os dedos com ternura. — Nada que você faça seria capaz de me deixar triste, Princesa. Isso só aconteceria se você não estivesse comigo.

— Então não preocupe, amor. Sua felicidade está garantida. — A jovem afirmou, deixando aquela promessa subentendida no ar.

Ela sempre estaria com Bucky.

— Falando nisso... — Pareceu lembrar naquele instante. — Feltz me deu uma coisa. — Tirou do meio de suas roupas um objeto pequeno e o estendeu para Bucky. — Disse que foi você que comprou.

Barnes abriu a palma da mão direita e vir ser colocado ali algo que ele conhecia muito bem. O anel de noivado que havia escolhido para Makayla.

Havia jogado a peça na suposta lapide simbólica da jovem, e sequer precisou pensar muito pra entender como Feltz havia conseguido aquilo.

— Eu pretendia te dar de presente de aniversário, antes de... — Sua voz travou na garganta quando sua mente reviveu os terríveis momentos que vieram logo depois do relógio ter batido meia noite naquele fatídico dia.

— Pretendia? Não pretende mais? — Makayla questionou, enquanto a mente de Barnes ainda vagava por aquelas lembranças dolorosas.

Recordou que tinha planos diferentes para o anel, algo romântico e memorável. E tudo isso foi por água abaixo...

— Eu tinha algo bem diferente em mente pra ser honesto. — Admitiu sem muito ânimo.

— Ah... entendo, era por causa do bebê. — Makayla soprou em um fio de voz e Bucky foi capaz de notar essa ponta de chateação no tom dela.

— O que? Não. — Ele se apressou em esclarecer. — Não é isso. Pra alguém que lê mentes você chega a algumas conclusões bem erradas.

— Eu não fico lendo a mente de todo mundo ao redor. — A jovem apenas encolheu os ombros.

Bucky segurou o rosto dela com ambas as mãos, fazendo com que seus olhares se encontrassem.

— Eu não comprei o anel por causa do bebê, eu sequer sabia ainda, tinha essa suspeita que o Sam enfiou na minha cabeça, mas eu realmente achei que ele estava falando besteira. — Começou a contar, sentindo que aquilo fazia muito tempo. — Eu comprei o anel porque notei que só havia uma pessoa no mundo com quem eu gostaria de passar cada dia que eu ainda tiver nessa vida. Com ou sem bebê o que eu sinto por você não vai mudar, Princesa.

Foi completamente honesto, com dez filhos ou sem nenhum, sempre seria a Makayla. O que sentia por ela não dependia de mais nada ou ninguém, e estaria ali, vivo e forte, crescendo sempre mais, independente de qualquer perda no caminho.

— Sim. — Ela disse de forma simples e clara, seu rosto ainda entre as mãos de Bucky.

— Sim o que? — Ele franziu as sobrancelhas, sem entender porque aquilo tinha soado como uma resposta.

— Sim, Bucky Barnes, eu quero passar cada dia que eu ainda tiver nessa vida com você. — Makayla afirmou movendo os lábios em um sorriso. — Você não fez uma pergunta formal, mas eu já estou me adiantando um pouco e respondendo, porque sou ansiosa e não vou aguentar esperar até você decidir montar o pedido perfeito.

De fato, essa ideia de encontrar um novo momento perfeito para um pedido tinha mesmo passado rápido por seus pensamentos.

— Achei que não ficasse lendo a mente de todo mundo ao redor. — Ele fez uma acusação divertida. Seu peito cheio dessa felicidade genuína.

Makayla queria se casar com ele. Ela realmente queria.

— Eu não precisei. — Ela respondeu com um dar de ombros casual. — Eu te conheço muito bem, lembra?

Barnes sorriu, puxando o rosto feminino para capturar um beijo.

— Eu te amo, Makayla. — Sussurrou entre os lábios dela.

— Eu também de amo, Bucky. — A jovem respondeu, se afastando um pouco dele para mostrar as duas mãos de forma entusiasmada. — Em qual coloca?

Bucky riu de canto, encaixando o anel no dedo correto e vendo enquanto Makayla erguia a mão e encarava a joia.

— É lindo... — Ela declarou com um sorriso nos lábios, e estava prestes a completar a frase com mais alguma coisa, quando uma sequencia de três batidas na porta a fez engolir as palavras.

— Com licença. — O mesmo enfermeiro de antes surgiu no batente. — A médica vai ver vocês agora.

O sorriso de Makayla morreu. Bucky respirou fundo, se colocando de pé. Logo o casal estava deixando a pequena salinha privativa, mãos dadas e tensão emanando no ar. Era como se todo e qualquer pingo de felicidade tivesse evaporado instantaneamente.

Quando entraram no consultório médico, Barnes deixou que Makayla se sentasse e ficou de pé um ou dois passos atrás, seus dedos de vibranium abrindo e fechando em um tique nervoso que ele era incapaz de controlar.

A doutora fez as perguntas padrão de consulta e, enquanto a jovem Devinne respondia a cada uma delas, Barnes analisava o rosto da médica com cautela. A cara que ela fez quando Makayla relatou sangramento não era nada boa.

A esperança estava se esvaindo aos poucos e o clima ficava cada vez mais tenso...

Bucky apoiou a mão direita no ombro de Makayla como para lhe passar apoio, e a médica deu um sorriso compassivo para os dois. Ela também não parecia muito otimista.

— Vamos fazer um ultrassom pra checar como estão as coisas. Acho que é o melhor plano imediato. — Ela decidiu, dando as instruções a Makayla.

Deitar na maca; levantar a blusa; gel gelado... Barnes acompanhou cada etapa há um passo de distância. Havia essa tensão no ar, Makayla estava claramente assustada. Sua mão direita procurou a de Bucky assim que ele encostou ao lado dela. Os dedos se envolvendo de forma nervosa, enquanto os olhos do casal focavam na tela antes mesmo que a médica colocasse o aparelho no ventre da jovem.

Bucky tentou decifrar as formas preto e branco no monitor, parecia apenas um borrão e ele não sabia se podia confiar no próprio julgamento e conhecimento para entender se havia a forma de um bebê ali ou não.

O rosto da médica não esboçava qualquer reação decifrável, ela ainda tinha as sobrancelhas minimamente franzidas e uma expressão preocupada, mas não parecia prestes a dar uma noticia terrível, assim como também não havia qualquer sinal de que daria uma boa...

Provavelmente era uma profissional treinada para não deixar que nada abalasse sua postura antes do momento certo.

— E então, doutora? — Bucky questionou um tanto impaciente, já faziam longos instantes que a mulher estava olhando as imagens de todos os ângulos e não dizia nada.

— Bom... — Ela começou, em tom neutro. — Parece que houve, como eu já suspeitava, o deslocamento da placenta. Isso explica as pontadas, o sangramento e a sensação relatada de que "havia um órgão solto".

Bucky ouviu aquelas palavras como quem é atingido por tiros, Makayla apertou-lhe os dedos um pouco mais. Um certo pavor e melancolia fluindo livremente de um para o outro.

— Mas o prognostico é favorável. — A doutora disse, ainda com os olhos na tela.

Barnes tentou encontrar algum otimismo nessa frase, mesmo no meio de toda a confusão que ela despertou em si. O que aquilo significava exatamente?

— Eu vou expelir a placenta de forma natural, então? — Makayla questionou, em um tom que misturava decepção e conformismo.

Era bem óbvio que a jovem estava tentando ser madura, responsável e racional no meio de tudo aquilo. Bucky por outro lado achava que podia apenas perder o controle das próprias pernas e desabar ali mesmo. Nem se lembrava da última vez que tivera dor de estômago, mas era exatamente o que estava sentindo naquele momento.

— Não, mesmo deslocada ela vai continuar certinha em seu útero. — A médica respondeu, ainda analisando a tela, enquanto deslizava o aparelho pelo ventre de Makayla como se estivesse procurando um ângulo melhor.

— O que você está dizendo...? — A jovem soou um tanto impaciente, e Bucky quase agradeceu por isso.

Sim, ele também precisava que a médica explicasse com clareza o que aquilo significava. "Prognostico favorável" era apenas uma forma de dizer que Makayla ficaria bem depois de sofrer o aborto natural e que isso não a impediria de tentar uma gravidez futura?

A doutora tirou os olhos na tela e focou na jovem Devinne, um sorriso calmo surgindo em seu rosto antes que ela declarasse:

— Você e o seu bebê vão ficar bem, senhorita Devinne.

Barnes ouviu o suspiro aliviado da mulher que amava, enquanto ele próprio respirou finalmente, como se um peso de toneladas tivesse saído de seus ombros e de seu coração.

— Será que pode repetir isso, por favor? — Pediu, para ter certeza que não tinha ouvido errado.

A risada de Makayla se espalhou pela sala e mesmo o ar pareceu mais leve e puro.

— A mamãe e o bebê vão ficar bem, papai. Pode ficar tranquilo. — A médica pousou os olhos em Bucky enquanto falava.

"Papai", ele sorriu em um misto de nervosismo e felicidade plena. Semanas antes aquela palavra teria lhe apavorado de formas que sequer podia ser descritas, mas naquele instante... Bucky sentia que podia se acostumar com isso.

— Claro que vai ser uma gravidez de risco daqui para frente, mas é perfeitamente possível que com acompanhamento tudo saía conforme o planejado. — A doutora completou profissional e voltou para sua tarefa de deslizar o aparelho pelo ventre de Makayla, procurando por um ângulo melhor de imagem, talvez. — Dez semanas é pouco, mas ainda é o suficiente para que o feto tenha boas chances em caso de descolamento de placenta. Se ele fosse mais novo, provavelmente seria um aborto espontâneo certo. Mas com essa quantidade de semanas já tem bastante coisa formada.

— Dez semanas? — Makayla repetiu, trocando um olhar confuso com Bucky.

Aquela conta não estava certa...

— Isso, esse é o seu tempo gestacional. — A médica respondeu, mas não deu atenção para isso porque pareceu finalmente encontrar o que estava procurando. — Aqui, já podemos ouvir o coraçãozinho.

Qualquer dúvida sobre tempo gestacional se dissipou da mente de Bucky quando o som constante e ritmado de um coraçãozinho batendo preencheu o consultório. Ele buscou as íris tempestuosas de Makayla apenas para constatar que ela, exatamente como ele próprio, também tinha os olhos marejados de emoção.

Eles teriam um filho juntos. Um bebê dos Sonhos...

— Forte e saudável, como tem que ser. — A doutora declarou satisfeita.

Obviamente o clima emocional e feliz daquele momento único teve que dar lugar a seriedade do que viria pela frente. Era uma gravidez de risco afinal, haviam muitas recomendações médicas a serem seguidas e seriam longos meses de consultas periódicas e acompanhamento minucioso para que tudo saísse como planejado. Makayla inclusive ficaria ali no hospital em observação por algumas horas, e, embora a jovem não tenha gostado tanto assim de ouvir aquilo, Bucky estava decidido a assumir como missão de sua vida fazer com que ela seguisse cada uma das recomendações.

E, sendo honesto, não seria sacrifício nenhum cuidar da mulher que amava e garantir que ela tivesse uma gravidez tranquila...

Depois que tudo estava combinado e acertado com a doutora, o casal foi transferido para um dos quartos, onde Makayla estaria em observação pelas próximas horas enquanto a médica esperava o resultado de mais alguns exames só por garantia.

Sozinhos ali, depois de compartilharem a felicidade mútua que sentiam por tudo dar certo, Barnes encarou Makayla de forma curiosa.

— Acha que ela cometeu um erro com a data? — Questionou neutro.

A jovem estava sentada na cama do quarto e Bucky bem ali do lado, com a mão feminina entre as suas, apenas pelo prazer desse contato.

Makayla sorriu para ele, parecia já ter pensado nisso por um tempo.

— Não. — Disse apenas, com uma certeza que foi um tanto surpreendente.

— Então foram os outros médicos que erraram? — Ele perguntou ainda no mesmo tom.

Sabia muito bem que, caso fosse um erro dos médicos anteriores, o tempo de gestação não casava com a cronologia do relacionamento dos dois. Mas, mesmo naquele instante em que essa possibilidade lhe passou pela mente, Bucky não se importou com isso. Era seu filho, o passado de Makayla não fazia diferença nenhuma nesse caso.

— Não também. Eles estavam certos. — A jovem respondeu calmamente.

Barnes franziu as sobrancelhas de forma confusa, se o erro não era dos médicos de antes e nem dos médicos de agora... o que aquilo significava?

Makayla riu da careta que ele fez, pousando o indicador exatamente na ruga que a expressão dele formava, como se quisesse desfazê-la.

— Eu realmente estava com quatro semanas quando Emma me levou para o CRG, fiquei uma semana lá e eu estou com dez semanas agora. — Ela explicou, mas Bucky fez uma expressão ainda mais confusa.

A conta não batia, deviam ser cinco semanas.

— Foi a Wanda. — Makayla declarou por fim.

— O que? — Aquela resposta não explicou absolutamente nada.

— Ela me atacou com a magia dela, lembra? No segundo anterior a isso ela tinha me mandado ir para o hospital. — A jovem relatou, arrumando um pouco sua postura na cama. — Acho que ela sabia, e fez alguma coisa pra que o bebê resistisse ao descolamento da placenta.

— Você está falando de cinco semanas de gravidez sendo puladas por mágica... — Bucky retrucou incrédulo. Wanda tinha um poder assim?

— Exato. — Makayla devolveu simples. — Ela é uma mutante como eu, mas além disso é uma bruxa por herança genética da mãe, mágica é exatamente o que a Wanda faz. E ela fez parecido com os filhos dentro do Hex.

— Que filhos? — Barnes questionou.

Wanda não tinha filhos, ele se lembraria se ela tivesse... Quer dizer, não era como se conhecesse a garota tão bem assim, mas Sam ou Steve teriam mencionado filhos. Não teriam?

— Ela teve filhos lá dentro, e acelerou não apenas a gravidez, mas também o crescimento deles, agora ela já está muito mais poderosa, acelerar a formação de um feto em algumas semanas deve ser fácil pra ela. — Makayla explicou com um dar de ombros.

Bucky desconhecia essa parte da história, afinal ele tinha apenas as mesmas informações que o público comum tinha; Wanda havia surtado, sequestrado uma cidade e revivido o Visão para ter uma vida de subúrbio com o androide. O resto era confidencial e, diante de tudo que havia acontecido nos últimos meses, ele não se importou em saber mais.

Não precisou se perguntar como Makayla sabia, afinal ela era uma telepata, e também deixou de lado questionamentos básicos do tipo: como Wanda tivera filhos com um androide? Aceitou a teoria da mágica, mas mesmo todo poder do mundo não explicava um detalhe.

— E por que Wanda Maximoff faria isso por você? — Ele questionou neutro. — Ela não parecia particularmente amigável, sabe?

— Wanda tem os próprios objetivos. Ela podia não estar aberta a fazer novos amigos ou a ter conversas longas com antigos conhecidos, mas a verdade é uma só: se ela quisesse nos fazer mal, ela simplesmente teria feito, ninguém ali tinha capacidade de enfrentá-la. — Makayla deu de ombros de forma simples.

Isso Barnes tinha que admitir, amigável ou não, Wanda tinha sido razoável. Ainda assim...

— Você está certa sobre tudo isso, mas ainda não explica o lance da magia pra acelerar a formação do bebê. Não faz sentido. Porque ela te ajudaria especificamente com isso, Princesa?

— Na verdade faz todo sentido do mundo, Bucky. — A jovem respondeu com um sorriso um tanto triste. — Wanda sabe exatamente como é perder um filho, e como eu trouxe o Pietro de volta, o agradecimento dela foi não deixar que a mesma tragédia me atingisse.

Barnes entendeu finalmente, de alguma forma Wanda e Makayla haviam se identificado uma com a outra, a empatia mútua que nutriam era evidente.

— Bom, pelo visto nós é que devemos um agradecimento a ela agora. — Ele declarou por fim.

— É... mas acho que isso vai ter que esperar. — Makayla declarou constrita. — Wanda está trilhando um caminho no qual não podemos interferir. Pelo que vi, até hoje todas as pessoas que tentaram modificar esse caminho apenas contribuíram para que ela avançasse ainda mais em direção a um destino nada agradável.

Um vinco se formou entre as sobrancelhas de Bucky.

— Você sabe que anda toda enigmática e sábia, certo? Parece até que é você quem tem cem anos. — Ele riu, desistindo de tentar encontrar respostas para todas as perguntas que cada frase de Makayla despertava.

— Eu tenho muita coisa pra te contar, mas não se preocupe, a gente vai ter tempo. — A jovem respondeu apenas e ele beijou os dedos dela com carinho.

Pela primeira vez o tempo parecia estar a seu favor...

Logo eles tiveram um novo encontro com a médica, que repassou os exames e reforçou apenas tudo que tinha dito no momento do ultrassom. Tudo estava indo bem, Makayla estava sentada na cama, com uma daquelas gelatinas típicas de hospital em mãos e o casal falava de Pitico quando a jovem soltou uma leve exclamação de dor e esfregou a lateral da testa, como quem é acometida repentinamente por uma forte dor de cabeça.

— Você está bem? — Bucky perguntou imediatamente, se levantando assustado para se aproximar ainda mais dela, enquanto seu coração disparava de preocupação.

— Estou. — Ela respondeu com uma careta contrariada. — É o meu pai, berrando mentalmente pra tentar me encontrar. Ele esqueceu que celulares existem.

Bucky suspirou de alívio e voltou a se sentar, encarando a jovem por alguns segundos quando se deu conta de algo.

— Que celular, Makayla? — Questionou divertido. Tanto ela quando Danniel não estavam com aparelho algum, já que tinham acabado de escapar de um sequestro.

— Detalhes... — Ela moveu a mão no ar em displicência e ficou um segundo em silêncio.

Bucky presumiu que esse tempo era para que ela falasse de seu paradeiro para o pai.

— Saímos de lá sem falar nada pra ninguém. Ele deve ter ficado preocupado. — Comentou, experimentando um pouco da gelatina fornecida a Makayla e notando que era horrível.

— Puxa-saco. — A jovem retrucou divertida, recuperando sua gelatina e comendo como se fosse alguma iguaria cara. — Aproveitei o fax mental pra pedir que ele me trouxesse umas roupas, já que estou presa aqui, preciso de um banho.

— Você não está presa aqui, dramática. — Bucky retrucou, com um sorriso brincando no canto dos lábios. — Está só em observação.

Makayla fez uma expressão que misturava desdém e desgosto, para logo depois voltar sua atenção para a gelatina que estava no fim.

— E eles estão certos, você é muito teimosa. Sua gravidez é de risco agora, quanto mais tempo eles te mantiverem aqui melhor. — Barnes prosseguiu e apesar das palavras seu tom de voz era carinhoso.

— Você não vai me deixar esquecer dessa coisa de gravidez de risco, vai? — Makayla retrucou em uma postura falsamente ofendida.

— De jeito nenhum, vou cuidar de você direitinho a todo segundo desses meses que virão. Vai ser repouso absoluto, sem discussão. — Ele retrucou com um sorriso superior nos lábios.

— Não vai dar, você tem mais o que fazer, sabe? Sam precisa de você. — A jovem desconversou.

— Sam vai ficar bem. Ele já é um herói completo, não precisa de mim pra nada. — Bucky rebateu casual e divertido. — Eu vou ficar coladinho em você, senhorita mamãe.

Makayla sorriu, seus olhos tempestuosos brilhando e deixando escapar felicidade por trás daquela postura falsamente emburrada. Ela terminou a gelatina e fez uma expressão decepcionada quando jogou o copinho descartável no lixo, mas logo se voltou para Barnes como se tivesse lembrado de algo mais importante.

— Falando em roupas... — Ela puxou o assunto que havia iniciado quando revelou que tinha pedido para o pai lhe trazer algumas peças. — Meu encontro com Wanda me mostrou uma roupa que acho que eu devia mandar alguém fazer pra mim.

— Que tipo de roupa? — Bucky questionou curioso.

— Uma roupa de "missão", claro. — A jovem respondeu empolgada.

— Você não vai fazer "missão" nenhuma, dona Makayla. — Ele cruzou os braços contrariado.

— Eu não vou ficar grávida pra sempre, sabia? — Ela rebateu como se fosse a coisa mais óbvia de todas. — Além disso, se Xavier está certo, existem muitas pessoas como eu por aí que vão precisar de ajuda.

— Xavier? — Barnes não reconheceu o nome de lugar algum.

— Ele é um tipo de professor que conheci na minha viagem pelo multiverso. Ele criou um lugar seguro para que os mutantes pudessem aprender a controlar e entender seus poderes. — Makayla explicou, arrumando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

Bucky acompanhou esse movimento e sorriu o ver o anel de noivado enfeitando o dedo da jovem. Resolveu deixar as perguntas de lado pra focar nas intenções de sua noiva.

— E você precisa de uma roupa toda especial só pra encontrar, ajudar e ensinar pessoas superpoderosas? — Perguntou neutro.

— Larga de ser estraga-prazeres, Bucky. — Makayla riu, batendo no ombro dele de leve. — Você tem sua jaqueta toda estilosa, então eu quero ter um super traje também.

— Super traje, é? — Ele também ria. — Então você vai juntar os Vingadores de novo, é isso?

— Não... Vingadores é coisa de herói, e esse é seu lance. O meu lance está mais pra... — Ela parou um segundo pra pensar. — X-Men.

— X-Men? — Barnes repetiu divertido, analisando o significado da palavra. — Isso não é meio excludente, considerando que vai ser liderado por uma mulher? Não devia ser, sei lá... X-Guys?

Makayla o encarou com a expressão entediada de quem não achou graça na piada.

— Só estou dizendo... — Ele ergueu as mãos em rendição.

A jovem apenas revirou os olhos, apontando para a mesinha próximo a porta, onde a médica havia deixado algumas coisas um pouco antes.

— Me dá aquilo ali, eu vou desenhar minha roupa pra você. — Apontou empolgada.

— Você vai usar um bloco de anotações médicas pra desenhar? — Bucky questionou, mas já estava de pé para pegar o que Makayla havia pedido.

— Eles têm aos montes disso por aqui, ninguém vai perceber. — Ela disse displicente, recebendo os itens de forma animada e começando a rabiscar o papel, ou melhor, bloco de anotações médicas.

Bucky observou com um sorriso no rosto, havia algo sobre estar ali com ela, tendo aquelas conversas casuais e divertidas, que enchia o coração dele de uma felicidade tão genuína que sua vontade era simplesmente sair pelos corredores do hospital cantando. Não que ele se julgasse um grande cantor... mas ainda assim, era sua vontade.

Tentou espiar o que Makayla tanto rabiscava mais foi impedido.

— Não 'tá pronto ainda. — Ela advertiu, mudando um pouco de posição para que ele não visse nada.

Bucky se tocou que nunca tinha visto Makayla desenhar, mas presumiu que a jovem soubesse exatamente o que estava fazendo, dada a concentração que ela demonstrava no instante.

Minutos depois, ela finalmente estendeu o bloco de notas para Barnes:

— Aqui...

Ele pegou o objeto com certa ansiedade, se lembrava de ver vários desenhos incríveis de Steve, e isso lhe trouxe uma certa sensação de déjà vu. Porém, ao encarar o papel, Bucky com certeza não esperava o que viu.

— Makayla... — Sua voz era um misto de surpresa e divertimento. — Isso é só um boneco de palito usando calça e... sei lá o que é isso aqui em cima.

O desenho, ou melhor, rabisco, parecia ter sido feito por uma criança de cinco anos.

— Isso é um sobretudo sem mangas, homem de pouca imaginação. — Makayla apontou como quem exibe uma obra-prima incompreendida.

— Princesa... — Bucky tentou ficar sério. — Você é uma péssima desenhista.

O casal acabou rindo junto. Barnes voltou a se sentar e segurou a mão de Makayla.

— Aqui... — Ele fez com que os dedos dela tocassem o rosto dele, mesmo sabendo que isso não era de fato necessário. — Vamos fazer do jeito fácil. Me mostra.

Makayla sorriu, e bastou alguns instantes para que a mente de Bucky fosse preenchida por uma imagem exata e detalhada do tal "super traje" todo feito de couro, nas cores roxo e branco.

— O que achou? — Ela questionou em expectativa.

— Odiei... — Bucky confidenciou, com os olhos gélidos presos nas tempestades cinzentas dela.

— Sério? Por que? O que tem de errado com a roupa? — Makayla franziu as sobrancelhas confusa e Barnes sorriu de canto.

— Odiei que ela te deixa extremamente gostosa, e eu vou ser obrigado a arrancar cada peça do seu corpo todas as vezes...

Makayla riu, mas tentou manter a pose quando focou os olhos em Bucky.

— Achei que eu estava de repouso absoluto, senhor Barnes.

Ele se aproximou um pouco mais dela e arrumou alguns fios castanhos do cabelo feminino que sequer estavam fora do lugar.

— Eu faço isso beeem devagarzinho. Não precisa se preocupar. — Sussurrou, exibindo um sorriso ladino cheio de significados.

Makayla com certeza entendeu muito bem sobre o que se tratava, a forma como os olhos dela brilharam em antecipação deixou explícito, ela chegou a abrir a boca para responder, mas uma voz masculina ecoou pelo quarto primeiro, através da porta aberta:

— Com o que a minha filha não precisa se preocupar?

Bucky se colocou de pé no mesmo instante como se tivesse lavado um choque.

— Senh... Senhor Devinne. Oi. — Acenou sem-jeito para Danniel parado ali perto do batente. — Há quanto tempo está aí?

Péssima hora para o pai de Makayla aparecer de mansinho.

— Acabei de chegar. — Ele moveu os ombros com displicência, se aproximando da filha e depositando sobre a cama uma sacola de compras. — O que aconteceu?

— Eu precisava vir para o médico, tinha umas coisas pra resolver. — Makayla se moveu para ver as roupas que o pai trouxera, visivelmente mais relaxada e despreocupada do que Bucky estava naquele momento.

— Tipo o quê? — Danniel questionou em um misto de preocupação e desconfiança.

Será que ele sabia do bebê?

Enquanto Makayla balançava os ombros sem nada dizer, tirando as roupas da sacola. Barnes começou a se preocupar com o desenrolar dos próximos momentos. Era difícil prever qual seria a reação de Danniel quando descobrisse que sua filha estava grávida de um soldado assassino de cem anos.

Esse tipo de coisa podia acabar em morte nos anos 40...

A jovem Devinne se levantou da cama e se aproximou do pai, dando-lhe um beijo na bochecha de forma carinhosa.

Não passou despercebido para Barnes que Danniel focou especificamente no anel enfeitando o dedo feminino, assim que a mão da filha pousou no braço do pai de forma casual.

Ótimo, hora perfeita pro homem descobrir de um noivado...

Tentou manter a calma, era só um anel afinal, talvez Danniel não fizesse a conexão.

— O Bucky vai te explicar porque viemos direto para o hospital. Vou tomar um banho, tenho certeza que tem pó de escombros até dentro dos meus ouvidos. — Makayla lançou de repente, seguindo para o banheiro anexo ao quarto sem esperar resposta de ninguém e ignorando o olhar de puro pânico que Barnes lhe deu.

Merda... Era péssimo com pais. Mesmo antes, quando a pior que tinha feito na vida era galantear qualquer ser humano se lhe desse um sorriso...

Nada bom viria daquela conversa, Bucky tinha certeza absoluta disso.

Ainda assim, lá estava ele, sozinho no quarto de hospital com Danniel Devinne, enquanto o som de um chuveiro ligando no cômodo ao lado logo pairava entre eles. Aquilo era, no mínimo, muito constrangedor.

O que devia dizer? "Olá, muito prazer, sou um homem que engravidou sua filha estando em um relacionamento informal com ela há menos de dois meses. Ah, também deixei que ela fosse sequestrada pela madrasta louca e depois de tudo isso enfiei um anel no dedo dela sem sequer falar com o senhor primeiro. Também sou um assassino treinado por uma organização nazista com mais de duzentos assassinatos nas costas nesses meus cento e poucos anos de vida." Péssima ideia... Mesmo porque, o provável é que Danniel já soubesse daquela última parte. Todo mundo sabia.

— Então... — O pai de Makayla se sentou em uma das poltronas, analisando Barnes de cima a baixo por alguns instantes. — Ela está bem?

Como um bom pai que se prese ele fez a pergunta mais importante primeiro.

— Sim, senhor, ela está bem. — Bucky se sentiu no inicio dos vinte anos, quando se alistou e tinha que prestar contas a seus superiores em cada duro treinamento antes da guerra.

Danniel apenas assentiu, mas seus olhos não deixaram Barnes, fazendo com que aqueles instantes de silêncio absoluto se tornassem estranhos e desconfortáveis.

Bucky desejou que pudesse dizer alguma coisa. Algo que fosse honrado, correto e perfeito para a situação. Mas sendo honesto não havia nada. Se estivesse no banco dos réus em um julgamento, não haveria uma só prova para apresentar em sua defesa.

Bucky Barnes era culpado. Culpado por amar demais.

— Emma citou que havia um bebê, é verdade? — Danniel preencheu o silêncio com a pior pergunta possível. — Foi por isso que vocês saíram correndo sem avisar ninguém?

Então ele sabia... Merda.

Bucky encarou o pai de Makayla por alguns instantes e teve vontade de rir de puro nervoso.

— Sim, senhor. — Se manteve firme, mas sua resposta foi uma grande merda que não explicava nada. Apenas uma admissão de culpa.

Danniel respirou fundo, Bucky não conhecia o homem o bastante para decifrar sua fisionomia naquele instante.

— E? — Ele perguntou novamente, como se quisesse que Barnes prosseguisse.

É claro que ele queria, eram a filha e o neto dele afinal...

— Makayla e o bebê estão bem, senhor. — Bucky assegurou, dando aquela notícia como quem informa os pormenores de uma missão oficial do exército. — Ela teve um deslocamento de placenta, e terá uma gravidez de risco daqui pra frente. Mas vai dar tudo certo se ela seguir as recomendações médicas.

Era ridículo dizer, mas tremia e suava naquele instante. Talvez fosse um completo exagero, algo antiquado demais para o século em que estavam, mas Danniel era o pai de Makayla, um bom pai, alguém que a garota valorizava e amava, sendo assim, parecia importante passar a impressão correta.

Danniel não tinha mais os olhos em Bucky, o homem estava encarando o nada com uma expressão decepcionada no rosto.

— Não acredito que minha filha foi sequestrada enquanto estava grávida... — Ele murmurou como se falasse consigo mesmo.

Bucky conseguiu sentir aquele amargor na ponta de sua língua. Sabia que tudo aquilo era sua culpa. Ele podia ter evitado, era o mínimo que podia fazer com todas as merdas que havia aprendido com a maldita Hydra. Era de se esperar que toda aquela bagagem sangrenta servisse ao menos para que ele protegesse as pessoas ao redor, mas nem isso Barnes poderia dizer a Danniel... Havia falhado.

— O que aconteceu com sua filha foi um descuido horrível da minha parte, uma estupidez que, eu prometo, senhor, não vai se repetir outra vez. — Declarou, com toda a honestidade que possuía.

Se havia aprendido algo com sua mãe, lá nos anos 40, era que sempre devia assumir seus erros. Era isso que um homem honrado fazia.

Danniel ergueu a cabeça, as sobrancelhas franzidas e os olhos focando em Barnes:

— Você fala como se tivesse sido sua culpa...

Bucky se deu conta que o homem não devia saber de todos os pormenores que envolviam o sequestro da própria filha.

— Emma forjou a morte da Makayla diante dos meus olhos e eu não notei. — Ele confidenciou, incapaz de esconder a vergonha em sua voz, por mais que tenha tentado.

Danniel respirou fundo, movendo a cabeça algumas vezes de forma positiva, como quem acena que entendeu. Ficou calado por diversos segundos então, antes que voltasse a erguer a cabeça para questionar sem rodeios:

— Você ama a minha filha?

Bucky foi surpreendido pela pergunta tão direta. Imaginou que fosse apenas uma forma nova e mais moderna de reproduzir uma questão que era sempre priorizada pelos pais.

— Senhor Devinne, asseguro que minhas intenções com sua filha sempre foram e sempre serão as melhores possíveis. — Respondeu, porque, apesar de todas as coisas um tanto depravadas que ele havia feito junto com Makayla, apesar da velocidade com a qual haviam se envolvido e apesar dos erros que Bucky havia cometido no caminho, aquela era de fato a verdade.

— Mas você a ama? — Danniel repetiu, claramente insatisfeito com a resposta.

Novamente Barnes foi surpreendido. O "qual são suas intenções com a minha filha" era algo conhecido e esperado, mas amor? Bucky não conhecia muitos pais que se importavam com isso... Era sempre sobre intenções sérias de compromisso e a capacidade de um homem de dar tudo aquilo que a filha de outro merecia.

Mas, o que Bucky sabia afinal? Suas experiências conhecendo pais alheios estavam todas nos anos 40, talvez a modernidade tivesse feito as coisas evoluírem e as pessoas se importarem com o que realmente fazia sentido.... Ou talvez Danniel Devinne fosse diferente dos outros pais, apenas isso.

— Mais do que já amei qualquer outra pessoa na minha vida. — Barnes assegurou com honestidade, pronto para defender seu caso, mesmo que não tivesse tantas chances assim. — E eu sei que sou...

Não teve oportunidade de terminar, porque Danniel o interrompeu com a voz clara e direta:

— Então você está dizendo que ama minha filha demais e não notou que era uma armadilha da Emma?

— Não notei, senhor. — Barnes admitiu em seu tom envergonhado. Não havia desculpas pra isso.

— Bom... — Danniel respirou fundo e se encostou na poltrona, ainda com os olhos em Bucky de um jeito muito calmo. — Do meu ponto de vista, estranho seria se você tivesse notado qualquer coisa no mundo depois de acreditar que tinha perdido a mulher que ama, não é?

Barnes piscou algumas vezes, confuso com o rumo inesperado que a conversa havia tomado. Danniel não parecia culpá-lo...

— Olha, rapaz, Emma é uma mentirosa profissional, ela é tão boa em manipular pessoas e situações que fez disso a carreira dela. Eu já cai nessas manipulações e mentiras, grandes ou pequenas, tantas vezes que sequer posso contar nos dedos. — O pai de Makayla deu de ombros. — Do meu ponto de vista você não ter notado nada, é a prova de que você não é o Soldado Invernal, você não é um ser completamente sem emoções, treinado para matar sem remorso. Você é só um ser humano, Sargento Barnes. Um bem velho, não me esqueci disso, mas ainda assim só um ser humano. Não foi sua culpa.

Bucky sentiu esse grande alívio atravessar seu corpo. Saber que alguém que ele julgava importante não lhe via como o Soldado Invernal era... libertador. Ainda estava surpreso, obviamente, porém foi mais que isso, ele descobriu algo bastante agradável sobre Danniel Devinne naquele instante.

— Acabei de perceber de onde Makayla puxou parte da personalidade dela... — Declarou, rindo de canto.

Danniel riu, o tipo de risada paternal que era ao mesmo tempo contagiante e reconfortante.

— Bom, sem querer me gabar, gosto de pensar que ensinei minha filha a julgar as pessoas apenas pelo que elas são, e não pelo que as pessoas ou aparências dizem que essa pessoa é. — Ele declarou bem-humorado, focando em Bucky de forma um pouco mais séria logo depois. — Eu respeito as escolhas dela, Sargento Barnes. E, mesmo que minha opinião não importe muito nesse ponto, afinal vocês saíram correndo e já tem até um anel no dedo e um filho a caminho, só quero que saiba que faço gosto de ver os dois juntos.

Então ele tinha mesmo notado o anel e feito a conexão certa...

— Muito obrigada, Senhor. — Bucky agradeceu, tentando não se emocionar com aquelas palavras.

Era o século XXI, claro que Danniel não seria um homem retrógrado. Barnes devia ter previsto algo assim...

— É, mas você vai mesmo ter que parar de me chamar de senhor, certo? — O pai de Makayla brincou descontraído.

— Sim, senh... Danniel. — Bucky corrigiu, mesmo que ainda soasse um tanto estranho.

— Já é um começo... — Senhor Devinne sorriu, apontando para Barnes uma das poltronas.

Em seguida houve esse momento de silêncio, uma certa mudança de postura do pai de Makayla, como se um tópico sério e importante estivesse prestes a ser abordado.

— Segundo o que você disse, a gravidez é de alto risco, sendo assim, acho que agora nossa prioridade tem que ser achar a Emma e impedir que ela seja uma ameaça para Makayla, e temos que fazer isso, sem que minha filha acabe se envolvendo em mais confusões, o que acha? — Danniel foi direto ao assunto.

— Concordo totalmente. — Bucky assentiu firme.

Danniel copiou o gesto do ex-sargento, e era possível notar o quanto estava satisfeito. Havia muito para planejar, afinal Emma era tão escorregadia quanto uma cobra, no entanto o pai de Makayla sugeriu que eles conversassem sobre isso em outro momento, preferindo mudar o tópico já que Makayla logo estaria junto a eles.

E não foi difícil achar assunto, mesmo porque Danniel havia ficado preso longe do mundo por cinco anos e estava muito interessado em saber como os Vingadores haviam resolvido o problema do blip e derrotado Thanos. Obviamente Barnes era a pessoa ideal para perguntar tudo isso.

O ex-sargento tentou resumir, contando dos sacrifícios, da grande batalha e revelando que Sam Wilson fora o escolhido para carregar o legado do Capitão América, algo que muito agradou Danniel. Era fácil conversar com ele.

Quando Makayla saiu do banho os dois homens estavam no meio da conversa.

— Uau, eu saio por uns minutos e vocês já viram melhores amigos fofoqueiros, é isso? — Ela riu, desembaraçando o cabelo com as mãos e se aproximando de Bucky.

— Não posso fazer nada se sou um ótimo sogro. — Danniel respondeu em um dar de ombros animado.

Makayla riu, se apoiando no encosto da poltrona de Bucky e se debruçando um pouco para dar-lhe um beijo estralado na bochecha direita.

— Eu disse que ele te amava. — Ela sussurrou como se fosse um segredo e Barnes acabou por rir também.

Danniel observou o casal por um instante e sorriu em um misto de orgulho e serenidade.

— Falando em amor... Parabéns, querida. Estou feliz por você. — Ele declarou paternal. — Tanto pelo bebê, quanto pelo casamento.

Makayla encarou Bucky por um instante, entendendo rápido demais tudo que tinha acontecido.

— Já fofocou tudo pra ele mesmo, não é? — Ela riu, dando um tapinha no ombro de Barnes.

— Pelo visto eu sou um ótimo genro também. — Ele respondeu com um dar de ombros presunçoso que fez Danniel rir.

— Meus Deus, virou um complô! — Makayla retrucou se fazendo de ofendida, embora também risse.

Uma micro-discussão se formou então, com os dois homens insistindo que ela tinha que repousar e com Makayla resmungando infinitamente, mas cedendo, afinal, era voto vencido.

No fundo Barnes estava muito satisfeito por saber que teria apoio nos meses que viriam para manter Makayla dentro de todas as orientações médicas, mesmo com toda a teimosia da jovem.

Era estranho notar que em questão de minutos eles haviam se encaixado em uma dinâmica confortável e amigável. Era exatamente isso que Bucky tinha presenciado e apreciado na casa de Sam. Uma família.

Na ocasião, no entanto, ele era apenas um expectador, não fazia parte daquela dinâmica, não realmente. Era a visita, o amigo. Muito bem recebido e tratado, se sentia em casa com certeza, mas, ainda assim, era alguém de fora.

Porém, ali entre os Devinne, Bucky Barnes era parte de algo maior. Ele havia encontrado sua própria família...

— Eu andei pensando no meu projeto enquanto tomava banho... — Makayla comentava, já com Bucky e Danniel sentados a seu lado.

— Que projeto? — O pai questionou, procurando os olhos de Barnes em busca de resposta.

— Ela quer montar um supergrupo chamado X-Men. — Bucky respondeu, pronto para fazer sua piada com trocadilho.

No entanto Danniel pareceu reconhecer o nome assim que o ouviu.

— Sua mãe falava deles... — Disse diretamente para a filha, com uma ponta de nostalgia na voz.

Makayla sorriu enquanto assentia.

— Eu andei pensando e acho que não posso fazer como o Xavier, ele cometeu um erro dizendo que queria integrar os mutantes na sociedade, mas escondendo todas aquelas crianças em uma escola apenas com outros mutantes. Super proteção nem sempre é o melhor caminho. — A jovem explicou e parecia saber exatamente do que estava falando. — Talvez o segredo da integração seja envolver humanos no projeto também.

Era apaixonando para Bucky ver que Makayla havia encontrado um propósito para si mesma. E, ao mesmo tempo, era um alívio indescritível ver que aquela sombra de tristeza que ele tinha visto tão de perto em Madripoor, não estava mais pairando sobre ela.

Makayla havia conseguido. Ela tinha derrotado o inimigo mais importante e poderoso de todos. Ela venceu a si mesma.

Era inspirador.

— Pelo visto você já tem alguém em mente pra te ajudar, não é? — Ele comentou, conhecendo sua noiva bem o bastante para saber a resposta antes mesmo que ela pronunciasse o nome.

— Brooks... — Ao ouvir a filha, Danniel franziu as sobrancelhas sem entender, por isso a jovem prosseguiu. — Ele me ajudou no meu pior momento, acho que é a pessoa certa pra estar ao meu lado nisso tudo.

— Será que devemos ficar ofendidos de não termos sido a primeira opção? — Danniel perguntou naquele tom leve, esperando uma resposta de Bucky.

— Não... Makayla colocou a melhor pessoa como primeira opção, acredite. Brooks é um homem muito bom. — O ex-sargento comentou orgulhoso.

Makayla estava tão ciente de sua jornada, que dava valor a cada pessoa que havia passado por ela.

— E ele tem experiência com pessoas enfrentando situações difíceis, com gerenciar lugares que vão receber muita gente. E, contanto comigo, são dois mutantes na conta dele. — A jovem continuou a explicar de forma empolgada. — Eu posso ter poderes parecidos com os do Xavier, mas eu não tenho nem metade do conhecimento ou experiência, Brooks possui justamente todas as qualidades que me faltam. Ele é perfeito.

Bucky sorriu orgulhoso, prestes a fazer um comentário que foi interrompido pelo vibrar de seu celular, que se encontrava escondido em um dos bolsos internos de sua roupa. Ele tinha esquecido totalmente do próprio aparelho até aquele instante, na verdade o objeto estava bastante danificado, mas ainda era possível reconhecer o nome do contato através da tela quebrada.

— E falando em Doutor Brooks... — Ele indicou animado.

Certamente o terapeuta tinha visto Makayla na televisão e estava ligando para entender como a jovem havia "voltado a vida".

— Acho que ele vai gostar de saber das boas novas. — Bucky comentou, antes de atender.

De fato, Brooks realmente sabia que Makayla estava viva, porém as noticias que ele tinha eram muito mais surpreendentes que isso. Bucky ouviu tudo com atenção, respondendo brevemente enquanto era observado com interesse por Makayla e Danniel.

Era muita coisa pra processar. Uma história e tanto...

Barnes se despediu do doutor, dizendo que entraria em contato em breve e pedindo para que ele mandasse uma certa foto por mensagem. Ao desligar o aparelho ele tirou um ou dois segundos para pensar em como diria tudo aquilo para Makayla.

— Bucky? — A jovem chamou preocupada. — O que aconteceu?

O ex-sargento respirou fundo, resolveu ir por partes.

— Emma sequestrou a ex-mulher e a filha do Brooks. — Ele declarou em tom controlado.

— Meu deus, temos que ir atrás delas agora! — Makayla se levantou da cama no mesmo instante, mas Bucky a deteve, apoiando a mão em seus ombros.

— Feltz já fez isso.... — Revelou, ainda controlando o tom.

— E ele conseguiu salvar as duas? — Danniel questionou em um misto de interesse e preocupação.

— Sim, mas... — Barnes procurou as palavras certas para prosseguir, não sabia como Makayla receberia as notícias.

— Mas o que, Bucky? — A jovem questionou impaciente.

— Feltz não resistiu aos ferimentos que sofreu durante a missão de resgate. — Ele contou constrito.

Makayla deu um passo para trás, uma mistura de incredulidade e choque abatendo seu rosto no mesmo instante.

— Ele sabia o que estava acontecendo, por isso sumiu assim que colocou os pés pra fora do CRG... — Danniel declarou com pesar e Bucky concordou.

Devia ser isso mesmo.

Por mais que achasse o segurança um grande idiota, não queria que algo fatal acontecesse com ele, ainda mais depois que soube que o homem ajudou Makayla.

A jovem voltou a se sentar, como se o choque fosse demais para se manter em pé, ela parecia abalada, mas não transtornada, o tipo de pesar apropriado para a situação.

— Eu não sei nem o que dizer... — Ela murmurou, como se falasse consigo mesma. — A gente podia ter ajudado, ele não precisava ter ido sozinho. Era um tanto idiota, mas eu preferia que ele fosse um idiota vivo.

Ela negou algumas vezes, desapontada e triste.

— Brooks disse que havia um bilhete na mão dele. — Bucky revelou assim que a imagem chegou em seu celular. — É pra você.

Makayla encarou a tela quebrada, a mensagem era curta, escrita em um pequeno pedaço de papel que estava manchado de sangue. Bucky conseguia ler, completando mentalmente as letras perdidas por baixo dos trincos.

Apesar das circunstâncias, foi divertido ser sua sombra por seis meses.
Você não é tão insuportável quanto as outras garotas da sua idade, Kayla.
Mesmo quando eu acabar com isso, terá muito trabalho pela frente.
Sei que vai fazer o certo...

Makayla limpou uma lágrima teimosa que escorreu por seu corpo e respirou fundo.

Enquanto isso, aquelas poucas palavras fizeram muito sentido para Bucky. Feltz foi salvar as duas reféns, mas também queria ir atrás de Emma, era um acerto de contas. Provavelmente o plano do segurança envolvia mandar o bilhete para Makayla e fugir pelo mundo depois de matar a diretora Kennedy. Infelizmente ele não sobreviveu para ir a parte alguma...

Para completar, uma segunda foto chegou, com o verso do papel, também manchado de sangue. Ali estava um endereço de e-mail e uma senha.

— Sabe o que isso significa? — Danniel questionou ao ver a segunda imagem.

— Não faço ideia, mas vou descobrir. — Makayla respondeu, abrindo o navegador de imediato para acessar o e-mail.

Em instantes a telha trincada do celular foi tomada por uma sequência de vários arquivos, fotos, anotações e documentos.

— Meu deus... — Makayla exclamou, surpresa. — Ele guardou tudo que conseguiu todos esses anos. Aqui tem tudo que a Forja fazia, todos os planos da Emma, todas as provas de pessoas importantes envolvidas...

— Ele fez um seguro. Era um homem inteligente. Se alguém fosse atrás dele haveria como se defender. Informação é a arma mais poderosa de todas. — Danniel comentou no mesmo tom surpreso. — Isso aqui é mais que o bastante para que os culpados por tudo isso sejam indiciados. Não só a Emma, mas todos os figurões envolvidos.

Bucky não sabia o que dizer. No fim Feltz fez a coisa certa apesar de tudo, ele seria o responsável por acabar com um esquema secreto que já durava anos e envolvia políticos e empresários...

No fim Scott Feltz foi um herói a sua própria maneira.

Era incerto o que Makayla decidiria fazer com todas aquelas informações, mas Barnes estava convicto que ela escolheria o melhor. E ele estaria ao lado dela, fosse o que fosse.

— E a Emma? Ela conseguiu escapar de novo? — Danniel questionou finalmente.

Bucky sabia que uma hora ou outra essa pergunta surgiria, ele encarou os dois Devinnes por um instante e revelou:

— Ela foi baleada na cabeça.

— Ela está morta também então... — Não havia sentimento algum na voz de Danniel.

Makayla encarou Bucky por um instante, e seus olhos mostraram que ela já sabia a verdade antes mesmo que ele dissesse em voz alta:

— Não. Ela sobreviveu...

★☆ • ★☆ • ★☆

Levou pouco mais de duas semanas para que Makayla conseguisse sair de casa sozinha. Antes disso, mesmo quando recebeu alta do hospital, ela estava acompanhada a todo o momento, senão por Bucky, por seu pai.

Por mais que fosse maravilhoso ter o pai de volta e ser mimada e cuidada o tempo inteiro por Bucky, Makayla se sentia um pouco sufocada às vezes. Principalmente quando queria fazer algo e os dois homens discordavam em conjunto. Era de fato um complô... Não contra ela, mas para protegê-la de qualquer coisa, fosse de uma simples mosca, do esforço de carregar um prato até a pia, ou de uma mulher em coma no hospital depois de levar um tiro na cabeça.

Era isso que havia acontecido com Emma Kennedy. Contra todas as probabilidades ela sobreviveu ao disparo. Caroline Hills havia chamado a emergência por causa de Scott Feltz naquele fatídico dia, porém, incapazes de salvar a vida do segurança, os profissionais de resgate conseguiram salvar a Diretora.

O projetil havia atingido o crânio da mulher, penetrou o osso, mas não chegou a danificar o cérebro de forma vital, ficando preso ali e causando um edema e inchaço. Depois disso, Emma havia passado por cirurgia, mas mesmo tendo a bala retirada do corpo estava em coma por causa do traumatismo. Algo que os médicos julgavam comum dentro da situação.

Ninguém sabia dizer quanto tempo duraria o coma, o corpo continuava com suas funções vitais intactas e o cérebro tinha atividade, apenas não havia consciência. Era como se Emma estivesse em um sono profundo.

Enquanto isso, uma dezena de processos corria no tribunal, tanto contra a Diretora, quanto contra vários políticos e empresários envolvidos com a tal Orquídea. Graças aos arquivos de Feltz — que Danniel sugeriu que fossem "vazados", — toda essa gente tinha sido exposta e enfrentaria não apenas a justiça, mas a pressão popular.

Era como se o mundo ao redor estivesse desmoronando, enquanto isso Makayla estava perfeitamente ancorada em um porto-seguro de calmaria. Era quase engraçado na verdade, porque durante toda a vida qualquer crise externa pareceu afetar a rotina da jovem de forma devastadora, mas naquele instante, apesar das diversas ligações e solicitações de entrevista, e apesar de Danniel ter assumido a frente de toda a exposição, Makayla nunca estivera tão... feliz e em paz.

Estava na décima segunda semana de uma gravidez de risco, totalmente louca com os preparativos de um casamento que devia acontecer antes que sua barriga ficasse muito grande e, ainda assim, tudo era perfeito.

Falando em preparativos de casamento, essa era justamente a desculpa que tinha usado para conseguir sair sozinha naquele dia. Danniel havia viajado para Washington para depor no tribunal, e Bucky estava em casa com Sam, que havia acabado de trazer Pitico de volta. Makayla sabia que que era o momento perfeito, no dia ideal, para escapar dos homens dizendo que precisava provar vestidos para o casamento...

Obviamente não levaria nenhum dos rapazes com ela e eles também não poderia discutir sobre isso, então foi mesmo a desculpa perfeita.

Quer dizer, era parcialmente verdade, Makayla de fato provou alguns vestidos de noiva — e não gostou de nenhum, — mas o que realmente tinha a intenção de fazer sozinha naquele dia, era algo que nem Bucky e nem Danniel permitiriam.

Precisava visitar Emma Kennedy.

A paciente estava no melhor hospital de Nova York e haviam agentes da polícia federal em guarda constante, afinal a Diretora era acusada de crimes graves e tinha o hábito irritante de fugir. Não que Makayla achasse que sua madrasta iria para qualquer lugar...

Conseguir permissão para entrar no quarto foi um tanto complicado, mas, para todos os efeitos, a jovem Devinne ainda era filha de Emma e tinha certos direitos. Ainda assim, ela seria acompanhada pelo agente "para a própria segurança".

Makayla sabia que essa desculpa era mentira, dado tudo que tinha vindo a público, a polícia federal temia pela vida de Emma. Vingança por todos os sequestros era algo razoável a se temer.

No fim estavam apenas fazendo seu trabalho e Makayla sabia disso, e na verdade ela não se importava com o homem na sala. De uma forma ou de outra, o que tinha para resolver com Emma aconteceria em um lugar que olhos normais jamais seriam capazes de enxergar...

Foi estanho se sentar naquela cadeira ao lado da cama e olhar para o rosto da mulher que um dia havia chamado de mãe. Emma estava desacordada, monitorada por aparelhos e com a cabeça enfaixada, totalmente sozinha naquele quarto frio e desconfortavelmente branco. Por um instante Makayla pensou que sentiria pena, mas não sentiu nada.

Buscou pela mente de Emma, encontrando a prova de que o cérebro tinha atividade sem muito esforço. Daquela vez não foi difícil invadir a sala de arquivo que continha todas as lembranças da Diretora do CRG, Makayla sequer precisou de um toque e já estava ali, fora do espaço tempo, andando por entre cada uma das prateleiras.

Seu objetivo, no entanto, não era vasculhas as lembranças de Emma, já sabia o suficiente sobre todas as atrocidades que aquela mulher tinha feito. Estava ali para um encontro cara a cara, ou melhor mente a mente...

No final da sala de arquivo havia uma porta, Makayla girou a maçaneta, já sabendo que teria o vislumbre de um lugar conhecido. Sua casa de infância ainda era a mesma, com poucos detalhes divergindo da versão que a jovem tinha ao seu redor quando estava na faixa dos oito anos.

Os mesmos móveis, porém fotos diferentes nos porta-retratos... Ela não estava em nenhuma das imagens.

Observou a família que dividia a mesa, eles riam, compartilhando uma refeição farta enquanto focavam na pessoa sentada na cabeceira. Emma Kennedy. Ela era o centro das atenções ali, falando e gesticulando, enquanto as três outras pessoas lhe encaravam com clara admiração e carinho.

Makayla encarou os presentes; seu pai do lado direito, Cameron do lado esquerdo, sentada junto ao mais novo uma mulher que não tinha face definida, parecia estar ali apenas como um acessório, segurando a mão de Cam e exibindo um grande anel de compromisso.

— Por que eu não estou surpresa? — A jovem Devinne revirou os olhos de forma entediada.

Só então sua presença foi notada, a cena toda parou, como se alguém tivesse dado o comando por controle remoto e Emma Kennedy se virou, encarando a garota de forma primeiro confusa e depois surpresa.

Makayla não precisou de perguntas para entender que sua madrasta levou apenas alguns segundos para dar-se conta da realidade. Emma sabia exatamente o que havia acontecido.

— Você não devia estar aqui! — A Diretora levantou irritada, sua voz carregada do usual veneno que já não tinha qualquer efeito na mais jovem. — Esse é o meu lugar seguro!

— Lugar seguro? — Makayla riu de canto, encarando o redor com desdém. A realidade perfeita de Emma era uma farsa egoísta.

Não era difícil entender que a mente da mulher havia se refugiado em um lugar confortável enquanto o corpo se reestabelecia, tudo aquilo era como um sonho bom, feito especialmente para deixar Emma feliz e calma. Uma utopia onde todos a amavam incondicionalmente.

— É assim que seriam as coisas se você não existisse. — Kennedy acusou alterada, não havia afinal mais motivo algum para mentir que nutria qualquer carinho por Makayla. — Você destruiu minha vida, sua bastardinha inconveniente!

— Sério? — A jovem retrucou com sarcasmo. — De onde eu vejo o que destruiu sua vida foi a sua incapacidade de amar e aceitar as pessoas como elas são.

Caminhou em direção a mesa, apontando a garota ao lado de Cameron.

— Uma mulher sem rosto? — Acusou, focando em Emma de forma entediada.

Era tão previsível e ridículo que a Diretora não conseguisse aceitar a sexualidade de seu próprio filho e o imaginasse com uma pessoa que sequer existia. Não precisava ter um rosto na ilusão, assim como não precisaria ter personalidade ou inteligência na vida real, bastava que fosse mulher, bastava que estivesse ali para apagar o que Cameron era, afastar quem ele amava de verdade e massagear o ego de Emma...

Makayla não tinha palavras pra expressar sua revolta e seu asco.

— Meu filho merecia ser feliz e não morrer por sua causa. — Emma acusou, como se fosse a dona de toda a verdade e razão do mundo.

— Concordo. — A jovem Devinne devolveu sem hesitar. — Cam não merecia morrer por mim ou por ninguém, ele merecia ser feliz. Feliz com quem ele amava. E dentro dessa sua fantasia insana que apaga a sexualidade dele, ele nunca seria feliz.

Emma encarou a menina como se pudesse voar no pescoço dela a qualquer instante por causa da ousadia em dizer verdades, porém Makayla não se importava mais com as ameaças implícitas no olhar da mulher que um dia chamou de mãe.

— Mas não vim aqui falar do Cam. Eu vim acertar as contas... — Foi direto ao ponto. Não tinha qualquer motivo para permanecer ali mais que o estritamente necessário.

— Veio me matar, é? — Emma questionou em um misto de deboche e desafio.

— Matar você? — Makayla também sabia exatamente como ser debochada. — Por que eu te faria esse favor, Emma? A morte é boa de mais para alguém como você.

Viu a dúvida nos olhos da mais velha e deixou que isso pairasse no ar por mais alguns instantes, caminhando em volta da mesa devagar, relembrando cada pequena coisa que tinha vivido enquanto crescia ao lado de Emma Kennedy. Nunca houve amor, apenas fingimento e manipulação.

Makayla nunca esteve segura ao lado daquela que deveria ser sua mãe, tudo que dizia uma hora ou outra era usado contra si mesma, como se fosse o réu em um tribunal...

E, depois, como se aquela criação que lhe deixou marcas profundas mais invisíveis já não bastasse, Emma Kennedy cruzou todos os limites, sequestrou, mentiu, e infligiu sofrimento não apenas em Makayla, mas também a todos que a jovem amava.

A crença popular diz que devemos desejar e fazer o bem a todos os nossos semelhantes, mas, se Emma não era uma boa pessoa, talvez fosse hora da jovem Devinne deixar essa crença de lado.

A Diretora Kennedy não merecia coisas boas, Makayla não mais se sentia culpada por pensar assim.

Talvez fosse hora de aceitar uma nova crença. As pessoas mereciam dela, apenas aquilo que haviam cultivado...

E Emma Kennedy não cultivou nada de bom quando se tratava de Makayla.

— Sabe, durante esses dias que passaram eu fiquei pensando o quão injusto era que você ainda estivesse viva... Mas só então eu notei a verdade: A morte seria fácil, morta você escaparia impune de tudo o que fez. — A jovem começou a contar pequenos fragmentos daquilo que havia povoado sua mente naqueles últimos dias. — Depois pareceu providencialmente divino que você estivesse presa em um quarto de hospital... Mas eu percebi que isso também não era o bastante. Com a compreensão que tenho da mente agora, eu sabia que você fugiria pra algum lugar reconfortante dentro da sua própria mente, um lugar que fosse tão deturpado quando a sua visão de realidade. — Apontou para as figuras paralisadas. — E veja só, eu estava certa, não é? Aqui estava você, vivendo uma ilusão perfeita com uma família que você deturbou totalmente.

Emma e Makayla se encararam por aquele breve instante. A dinâmica de poder entre as duas sempre esteve muito clara, mesmo nos seus momentos mais rebeldes a mais nova estava em desvantagem; um passo atrás, um degrau mais baixo; sempre procurando por amor, aprovação, uma migalha de atenção, coisas que nunca seriam suas, por mais que tentasse...

Emma não estava disponível. Agora Makayla entendia isso. Agora a jovem via a verdade.

E essa compreensão fez a dinâmica de poder mudar drasticamente, não queria mais nada da Diretora Kennedy, não estava mais nas mãos dela. Tudo estava diferente, infinitamente mais claro.

— Foi então que eu notei. — Makayla declarou finalmente. — Eu sou a pessoa que vai te fazer pagar por tudo que você fez. Tudo na mesma moeda.

Seus olhos brilharam em raios púrpura e todo o ambiente se desfez...

Makayla sabia que estava agindo movida pela raiva que havia acumulado pela vida, sabia que estava transbordando de rancor. Mas isso era tão errado assim? O mundo dizia: "perdoe e esqueça para seguir em frente", porém, como perdoar alguém que lhe feriu de forma tão profunda ou intensa? Por que perdoar?

Não. Makayla não precisa perdoar para seguir em frente. Perdão era para aqueles que mereciam, que se arrependiam, que estavam dispostos a fazer melhor. Makayla sabia agora que podia seguir em frente sem nada disso. Que podia ser feliz sem nutrir qualquer sentimento bom por Emma Kennedy. E, principalmente, ela entendeu que tudo bem se ainda tivesse raiva, seus sentimentos eram válidos, sendo eles bons ou ruins...

"O perdão vai te libertar" podia ser verídico baseado em algumas crenças, mas para Makayla perdoar apenas da boca para fora era inválido e hipócrita. Dizer que é preciso perdoar para se libertar, ser mais feliz ou qualquer uma dessas baboseiras era bonito nos textos, mas na vida real podia ser uma corrente que prendia a pessoa a quem mais lhe fazia mal.

A jovem Devinne não queria perdoar. Talvez em um futuro distante, mas não naquele dia, não depois de tudo. Emma não merecia isso.

E, no fim, Makayla achava que ela própria merecia algo muito mais simples e visceral que dar perdão a quem nunca lhe deu uma gota de amor.

Ela merecia, ou melhor, ela queria... vingança.

Feliz ou infelizmente, aquilo estava ao alcance de suas mãos naquele momento. Quer dizer, ao alcance de sua mente...

— O que é isso? Onde eu estou? — Emma perguntou, olhando ao redor.

Espelhos e penumbra em um ambiente metálico, uma reprodução quase exata do "lugar" em que Makayla ficou presa semanas antes.

— Você ainda está dentro da sua própria mente, presa em uma ilusão que eu fiz com meus poderes. — A jovem explicou sem grande emoção.

Não era um labirinto mais, não havia para onde correr ou se esconder, haviam apenas os espelhos por toda a parte. Emma não teria nenhuma escolha a não ser encarar a si própria, talvez isso a ajudasse a reconhecer seus próprios erros e defeitos.

— Você não pode fazer isso... — A Diretora declarou em um misto de irritação e temor.

Makayla notou que por toda a vida havia temido aquela mulher de alguma forma, como se atribuísse a ela muito mais poder do que o que havia de verdade. Mas ali, frente a frente, sem nenhuma artimanha física que pudesse esconder seus reais sentimentos, Emma era um tanto patética.

— Na verdade eu posso sim. — A mais nova moveu os ombros com displicência. — E se você pensar bem, é uma revanche muito poética... Você manteve meu pai em cativeiro por cinco anos. Forjou minha morte, causando um sofrimento indescritível ao homem que eu amo, me sequestrou enquanto grávida e também me manteve cativa. Eu acho que te manter aqui, em uma prisão mental, longe de qualquer conforto, com nada mais que sua própria companhia, é exatamente o tipo de justiça que você merece.

Makayla estava calma, muito ciente do que estava fazendo, havia rancor e raiva, verdade, mas não foi uma decisão que tomou no calor do momento. Ela pensou bem primeiro...

— Porque, veja bem... — Começou a explicar, focando nos olhos de Emma para não perder nenhuma reação. — Se você acordasse, o pior que poderia te acontecer é te colocarem na cadeia. Um lugar onde você teria vários privilégios por ser quem é, e do qual poderia fugir com a quantidade certa de dinheiro. Mas aqui... — Apontou a sala de espelhos. — Todo seu dinheiro ou influencia não vale de nada. Eu sou muito mais poderosa que você, Emma.

Não era só isso, havia também o fato de que mesmo na cadeia, mesmo pagando por seus crimes, Emma ainda teria contatos o bastante para mandar outras pessoas fazerem seus trabalhos sujos...

Makayla em breve teria um bebê, arriscar a segurança dessa criança era impensado. Fora isso, Emma era vingativa, Bucky, Danniel, e mesmo Sam, nunca estariam seguros de verdade se a Diretora tivesse acesso a seus contatos escusos.

— Você não pode fazer isso... Eu vou me recuperar e acordar em breve. — A mais velha revidou, com a presunção de quem tem um jogo ganho.

— Se recuperar? Sim, provavelmente, a medicina é muito avançada hoje em dia. — Makayla concordou sem qualquer comoção. — Acordar? Não. Como eu disse, sou muito mais poderosa que você. Posso te manter inconsciente por quanto tempo eu quiser. Pra sempre, inclusive.

Estava segura que podia manter aquela prisão mental sem qualquer prejuízo pessoal, sua mãe havia manipulado as memórias de Danniel, bloqueando as verdadeiras, e tal bloqueio durou mesmo após a morte afinal. Não era a mesma coisa, mas tinha uma premissa parecida.

Sim, Makayla podia fazer isso.

— Você não quer fazer isso... Você devia ser uma heroína. — O tom de Emma mudou, era mais macio e doce, mas suas intenções escusas por trás daquelas palavras ainda estavam impregnadas no ar. Era impossível mentir para uma telepata.

— Não, Emma. Eu vivo em um mundo de heróis, certamente, eu estou até mesma cercada deles. Meu noivo, o homem que você insiste em tratar como um assassino, ele sim é um herói. Meu amigo, Sam Wilson, O Capitão América, de quem você tomou o Escudo por puro racismo escroto, ele sim é um herói... — Makayla rebatia com palavras duras, cabeça erguida sem qualquer vergonha de admitir que não era como as pessoas que amava. Ela nunca seria uma Vingadora, e sequer queria isso. — Mas eu? Eu sou apenas mutante e orgulhosa. Alguns de nós serão heróis, tenho certeza disso, mas eu prefiro viver sob lemas morais mais flexíveis, se é que me entende.

Sorriu para Emma de forma calma e quase cínica, mas obviamente não foi correspondida.

— Não faz isso, Kayla, eu sou sua mãe. Podemos resolver tudo e acertar as coisas. — Emma pediu em uma súplica que até soou verdadeira.

Porém, no mesmo instante, os reflexos da mulher em todos os espelhos começaram a bater no vidro enquanto gritavam: "Menina maldita, você vai pagar por isso, eu vou acabar com você!"

Makayla não tinha feito apenas uma prisão, aquele era um lugar onde Emma nunca seria capaz de mentir, seus reflexos sempre diriam a verdade.

— Você nunca foi minha mãe. E você não pode mais me enganar ou machucar, Emma, de nenhum jeito. — A jovem Devinne declarou como quem dá uma sentença. — Mas eu... eu posso garantir que o carma de alcance.

Dita essas palavras todos os reflexos de Emma começaram a falar, acusando-a de todas as atrocidades pelas quais ela era responsável, usando contra ela suas próprias palavras. Um pequeno inferninho particular.

— Espero que aprecie sua própria companhia. — Makayla disse por fim, vendo Emma se perder entre seus reflexos...

Estava conscientemente sentada no quarto de hospital novamente, podia ouvir os gritos mentais da Diretora Kennedy, mas os bloqueou assim que ficou de pé.

Seu propósito ali estava concluído.

— Adeus, Emma. — Disse dando meia volta.

Nunca mais precisaria pisar naquele hospital novamente.

Agradeceu ao agente de plantão e partiu, tendo em mente que antes de voltar para casa tinha uma última tarefa. A escolha específica daquele dia para sair de casa sozinha não era acaso. Sabia que havia um outro evento ocorrendo no Congresso de Nova York, uma reunião extra-oficial, envolvendo alguns Senadores e o diretor da CIA, que oficializaria um perdão presidencial que era, entre outras coisas, um pedido pessoal do novo Capitão América.

Makayla solicitou um Uber e chegou à praça que estava localizada na frente do Congresso, decidiu esperar por ali, enquanto isso aproveitou para comprar uma pipoca doce de um dos carrinhos de rua, não gostava tanto da guloseima, mas por algum motivo naquele dia o cheiro lhe entrou pelas narinas e pareceu impregnar nela, espalhando esse desejo inusitado...

Estava na metade do pacote, quando viu a pessoa que esperava descer as escadas de pedra. Vestia um terninho azul elegante e imediatamente começou a falar com alguém no celular, seus cabelos claros voando com o vento da tarde, a vitória estampada em todos os seus trejeitos.

Makayla esperou que a conversa acabasse antes de se aproximar.

— Olá, Sharon. — Disse casual, e imediatamente a loira franziu as sobrancelhas.

— Kayla... O que você está fazendo aqui? — Carter olhou ao redor, como se procurasse por mais alguém. Bucky ou Sam, Makayla soube instantaneamente.

— Eu só vim te dar parabéns. Soube que foi readmitida. — A jovem comentou, comendo mais algumas pipocas animadamente.

— É... Sam conseguiu uma audiência pra mim e eu... — Sharon parou de repente, os olhos estreitando em desconfiança. — Espera, não sabia que o resultado já tinha sido divulgado, literalmente acabei de conseguir meu cargo de volta.

— Eu tenho meus meios de saber das coisas. — Makayla sorriu, algo que podia ser amigável, mas que no fundo tinha muitos significados. — Saber de muitas coisas na verdade...

A postura quase casual de Sharon era o contrário completo de seus pensamentos rápidos, ácidos e desconfiados.

— Nem se dê ao trabalho de puxar a faca que tem escondida junto ao corpo. — A jovem Devinne advertiu como quem fala do tempo. — Eu te causaria um aneurisma antes que você tentasse me dar um golpe, ou simplesmente me defenderia com um campo de força, Sharon... — Raios purpuras cortaram a tempestade cinzenta. — Ou eu devia dizer: Mercador do Poder?

— Você sabe... — Sharon balbuciou de cabeça erguida, enquanto sua mente calculava o nível de ameaça que Makayla era.

— Como eu disse, tenho meus meios de saber das coisas. — A jovem deu de ombros como se fosse nada demais. Seus olhos, no entanto, passavam uma mensagem clara. — Mas não se preocupe, eu não guardo rancor, apesar de tudo que planejou contra mim em Madripoor, eu não te considero uma inimiga. Quer dizer, pelo menos, não por enquanto.

— Isso é uma ameaça, Kayla? — Sharon questionou, e tentou impor algo em seu tom que em nada intimidou a jovem Devinne.

— Uma ameaça? Não. É um aviso. — Makayla rebateu, se aproximando um passo. — Eu não me importo com seus planos, Sharon. Não me importo com os meios escusos que usa pra conseguir dinheiro, nem com as suas intenções de vender segredos de Estado pra prejudicar o governo. Os homens lá dentro são uns idiotas privilegiados e eu não estou nem aí...

— Mas? — Obviamente Carter era esperta o bastante para saber que não seria tão simples.

— Mas se qualquer um dos seus planos ameaçar ou sequer resvalar no Bucky, no Sam ou em qualquer pessoa que eu amo... Bom, digamos que ser desmascarada perante o mundo vai ser seu menor problema. — Makayla advertiu como quem fala do tempo, e talvez por isso mesmo tenha soado tão ameaçador.

No entanto não estava ali para fazer uma inimiga, tampouco para obter vingança, apenas desejava deixar claro que qualquer um que representasse uma ameaça a sua família seria tratado como tal.

De uma forma ou de outra as atitudes de Sharon não tinham chegado a ferir Bucky ou Sam e, apesar de todo o resto, foi isso que Makayla levou em consideração.

— Os rapazes não lidariam com isso assim. — Sharon comentou em um misto de surpresa e crítica implícita.

Era compreensível, Carter estava acostumada com heróis; Steve, Sam, Bucky... Todos eles a deteriam bem ali, a impediriam de tentar sabotar o governo ou de obter qualquer lucro de forma escusa.

— De fato, eles fariam diferente. — Makayla admitiu sem qualquer culpa. — Mas eu não sou como eles. Sam e Bucky fazem o que é certo, eu faço o que é preciso.

A jovem Devinne estava em paz com suas escolhas, sabia que o mundo precisava de homens como Sam e Bucky. Que o mundo precisava de heróis, de Vingadores e tudo aquilo... Mas ela não almejava consertar ou proteger o mundo todo, por hora bastava que protegesse aqueles que amava.

Afinal estava cercada de heróis, e se os heróis cuidavam do mundo todo, estava na hora de alguém cuidar exclusivamente deles...

— É sempre agradável conversar com você, Sharon. — Sorriu para a loira, sabendo que ela havia entendido muito bem aquela curta conversa. — Boa sorte com seu novo serviço. Não se dê ao trabalho de sumir de novo, saberei onde te encontrar, não importa onde esteja.

Sharon Carter, ou melhor, o Mercador do Poder, andaria na linha dali para frente, mesmo que por livre e espontânea pressão. Isso era o bastante...

No fim Wanda Maximoff estava certa, Makayla Devinne dizia não querer uma luta, mas estava sempre pronta para uma.

A jovem voltou para casa com a sensação de dever cumprido, de conclusão. Agora estava finalmente pronta para focar totalmente nos preparativos de seu casamento e em montar o enxoval do Bebê dos Sonhos.

Talvez também devesse pensar em encontrar uma casa que fosse algo dela e do Bucky. Um lar. Era isso que tinha que em mente quando abriu a porta do apartamento que um dia foi de seu irmão. Danniel podia ficar confortável ali, mas Makayla realmente queria uma casa térrea, com jardim e uma varanda com rede, um lugar calmo onde pudesse criar uma criança com espaço e paz...

— Graças a Deus que você chegou! — Sam estava sentado no sofá com um enorme pote de frango frito em mãos. — Pensei que teria que sedar o velhote pra ele parar quieto.

Makayla riu, sendo saudada por um Pitico muito animado.

— Onde ele está? — Olhou ao redor, procurando por Bucky, enquanto acariciava o cachorro que lhe rodeava as pernas e se aproximava do sofá.

— Mandei tomar um banho pra ver se acalmava. — Sam respondeu, oferecendo para Makayla o pote de frango.

Realmente estava cheirando muito bem...

— Achou um vestido bonito? — Ele questionou curioso, enquanto a jovem mastigava com gosto um grande pedaço.

Makayla apenas encarou Sam por alguns instantes, e deu de ombros com um sorriso travesso de canto. Podia mentir, mas não tinha mais essa necessidade.

— Você não foi atrás do vestido, não é mesmo? — Wilson estreitou os olhos em desconfiança, embora houvesse esse sorriso preso no canto de seus lábios.

— Você não quer saber, isso faria de você meu cúmplice. — Makayla retrucou, abocanhando outro pedaço de frango.

— Tem razão, não quero saber. — Sam decidiu, apontando para o pote em seguida. — Agora me devolve isso aqui.

— Eu 'tô gravida, não devia tirar comida de mim! — Makayla protestou, fingindo indignação.

— Coitadinha da pobre menina rica. — Wilson debochou nada ofendido. — A cozinha fica bem ali, eu não faço parte do bonde que acha que você vai ter um treco se levantar um prato, não vou te dar meu pote de frango.

A jovem Devinne revirou os olhos e imitou a voz de Sam com desdém, antes de realmente seguir para a cozinha.

Na verdade, não estava com fome, então se limitou a tomar um copo de água, antes de passar no banheiro do corredor para lavar a mão suja de óleo e escovar os dentes. Evidente que Pitico ficou na sala, ele jamais sairia dali e perderia a oportunidade de ganhar um pedaço de peito de frango empanado.

E como ninguém naquela casa obedecia Makayla quando ela mandava não dar comida para o cachorro, provavelmente Pitico sairia vitorioso.

— Quero ver como vou criar uma criança com essa minha moral que não vale nada... — Murmurou para si mesma, se jogando na cama de casal enquanto ouvia o chuveiro da suíte ligado.

Sorriu sozinha, no fundo não via a hora de conhecer seu Bebê dos Sonhos, mas sabia que ainda levaria tempo, que antes disso caminharia sobre um tapete vermelho, vestida de noiva, para dizer "Sim" a Bucky Barnes em um altar.

Pela primeira vez em toda sua vida o futuro era realmente promissor. Algo pelo qual valia a pena esperar e viver...

— Você chegou... — Makayla estava deitada com as mãos sobre o ventre e os olhos no teto quando a voz masculina lhe alertou.

Ela não moveu o corpo, apenas a cabeça de modo a olhar para Bucky Barnes, o ângulo era péssimo, mas a visão... perfeita.

Ele vinha caminhando entre o vapor, com o dorso nu, os cabelos molhados e uma simples toalha presa nos quadris. De fato, o futuro era promissor e gostoso.

— Cheguei em uma hora perfeita pelo visto. Alguns minutinhos depois e eu teria perdido essa visão. — Ela se moveu na cama, ficando quase de joelhos no colchão, para apreciar melhor tudo que seus olhos podiam tocar.

Bucky riu de canto se aproximando alguns passos até ficar perto o suficiente.

— Safada... — Ele a puxou para perto de uma vez só e tomou seus lábios de forma apaixonada.

Makayla se esqueceu do mundo lá fora e de qualquer outra coisa, o que poderia importar mais que os beijos de Bucky Barnes afinal?

No entanto, apesar do desejo da jovem de continuar com a língua entrelaçada na dele por toda a eternidade, Bucky sessou o beijo com um último selinho e focou seus olhos nos dela de forma interessada.

— Achou o vestido que você queria? — A pergunta vez com que Makayla fizesse uma careta culpada.

Nunca foi sua intenção mentir para Bucky, só o timing que não foi dos melhores.

— Eu fui ver a Emma. — Confidenciou sem rodeios.

— Por que não estou surpreso de você ser uma fujona? — Bucky riu, envolvendo a cintura dela com ambas as mãos.

— Porque você me conhece muito bem, senhor futuro-marido. — Makayla sorriu apoiando seus antebraços nos ombros fortes de Barnes.

Sequer precisava ler a mentes para desconfiar que ele provavelmente já sabia o plano antes mesmo que ela saísse de casa. Por isso estava tão preocupado. Mesmo assim não a impediu de ir. Bucky entendia que certas coisas Makayla teria que resolver do jeito dela.

— E como foi? — Ele perguntou, em um misto de interesse e preocupação.

— Como tinha que ser. Ela teve exatamente o que merecia. — A jovem respondeu de forma simples, não tinha qualquer intenção de ficar remoendo o que havia acontecido naquele hospital.

Bucky, no entanto, não pareceu satisfeito com a resposta, porque tornou a questionar:

— E como você está?

— Pronta pra deixar tudo isso pra trás e me concentrar no que você está escondendo embaixo dessa toalha. — Makayla retrucou, deixando a insinuação se perder no ar, enquanto ela levava as mãos até a peça branca e felpuda presa ao redor do quadril de Barnes.

— Eu falo sério, Princesa. — Ele segurou as mãos da jovem, antes que ela tivesse sucesso em suas intenções e então puxou os dedos dela de encontro aos seus lábios para beija-los com ternura. — Como você está?

Makayla sorriu, era apaixonante a preocupação e o cuidado que Bucky dedicava a ela, nunca havia se sentido tão amada e acolhida, como se ali nos braços dele fosse o lugar mais seguro do mundo todo.

— Eu também falei sério, amor. — Tocou o rosto dele com carinho. — Eu estou bem, mesmo. Emma é passado e eu estou pronta pra deixar tudo que não importa do lado de fora da porta.

Bucky assentiu devagar, um certo alivio em sua respiração lenta, Makayla aproveitou esse instante de silêncio para prosseguir:

— Olha, eu sei que provavelmente vamos ter todo tipo de problemas pela frente, não tem como fugir disso. Eu vou lidar com Mutantes descontrolados recém descobertos e você vai lidar com seus lances de herói ao lado de Sam... Os contratempos, os vilões e as merdas no geral serão inevitáveis nessa vida que a gente escolheu, mas isso tem que ficar lá fora, Bucky. Quando estivermos em casa tudo que importa é você e eu, nosso casamento e nosso Bebê dos Sonhos. Nosso lar tem que ser como uma cabana no topo dos alces suíços. Um santuário neutro.

Barnes sorriu, beijando os dedos de Makayla de novo, para então puxar o rosto dela mais perto do seu.

— Um santuário, é? — Ele insinuou roçando os lábios nos dela. — Isso por acaso faria da nossa cama o altar?

— Viu? Você pegou muito bem a ideia... — A jovem deu um sorriso carregado de malícia, que logo se tornou uma gargalhada quando Bucky a puxou para a cama, deixando beijos exagerados por toda a parte que eram nada sexys e sim uma tentativa quase cruel e muito certeira de fazer cosquinhas nela.

Enquanto as risadas dos dois se misturava no ar, uma voz inconfundível ecoou lá da sala.

— Olha a moral e os bons costumes, hein, casal! — Sam tinha o tom divertido — Respeitem a inocência do padrinho de vocês!

Bucky revirou os olhos, Makayla tapou a boca, os dois se olharam por um instante e voltaram a gargalhar por motivo nenhum.

Certamente a vida ainda se mostraria agridoce em muitos momentos distintos no curso dos anos vindouros, mas ali, bem ali naquele pedacinho de céu reservado especialmente para sua família, Makayla sabia que haveria apenas o doce conforto do amor...



Pois é, vocês acharam mesmo que eu ia ser tão cruel de tirar o Bebê dos Sonhos deles, nossa gente kkkkkkkk não tô valendo nada mesmo kkkkk

Bom, RIP Feltz, porque obviamente não ia sair todo mundo bem dessa (é, talvez eu seja cruel)

Emma tendo um final pouco usual para uma história de herois, a gente sempre espera que os protagonistas vençam o vilão em uma luta, ou sejam altruístas e bondosos, mas eu sempre tive em mente que não estava criando Makayla pra ser uma heroína, não sei se todo mundo gostou não, mas enfim, é o final que eu sempre tive planejado. 

E é isso, fim dos plots, o próximo é um epilogo totalmente fanservice e fofo porque depois de tanta treta a gente merece. 

E a pergunta que não quer calar: O Bebê dos sonhos é menino ou menina? Como vocês acham que vai chamar?

A gente vai saber de tudo isso no próximo (que com certeza não vai ter 19k kkkkkkk) 

Beijos e até breve!

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