OUTSIDER

By Thsiol

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A jovem Lauren está prestes a ir presa, quando uma mulher mais velha e com excelentes condições lhe faz uma p... More

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By Thsiol

Estou indo trabalhar e vou deixar um capítulo com meus capetas!

Ah, revisei igual minha cara então relevem...

Tive ideias muito boas para o próximo capítulo. Espero que eu consiga transmitir tudo em palavras e que vocês apreciem.

❤️

.
.
.

— A temperatura da água está boa, Camz?

Perguntei num tom baixo, não queria assusta-la. Camila parecia tão concentrada, quieta e relaxada que minha última vontade naquele momento era tirar seu único instante de alívio na hidromassagem ligada.

Estava nua, usando a água como meio natural de alívio da dor. Com os cabelos presos num coque frouxo que eu havia feito para que não molhasse. Seu rosto estava entre suas pernas enquanto ela abraçava seus joelhos. Toquei sua cabeça, e assim que sentiu o calor das minhas mãos a mulher ergueu o rosto num sorriso frágil. Mesmo com dor, ela era sempre muito dócil comigo.

Eu amava isso.

— Está ótimo assim, minha menina. — respondeu baixo, com os olhos cerradinhos. — Não quero ser abusada, mas posso te pedir umas coisas?

— Você pode pedir o que quiser. — a gente continuava falando num som aveludado.

Ela sorriu. Se sentou de forma mais reta na banheira e apontou para a gaveta embaixo da pia.

— Na primeira gaveta há algumas velas aromáticas. — eu andei na direção enquanto ela falava. — Eu quero que você acenda a vermelha pra mim. Canela e estrela de anis.

Peguei a pequena vela, a tirei da embalagem e por alguns instantes percebi que de fato Camila não tinha mais onde gastar dinheiro. Cada unidade da vela havia saído por nada mais, nada menos que um valor de oitenta e oito dolares. Isso era dinheiro pra caralho e se eu me organizasse conseguia comer a semana inteira.

Quero ficar rica ao ponto de ter quase cem dólares para gastar em velas aromáticas.

O cheiro invadiu a atmosfera do banheiro. Ao menos era bom, alias, pelo preço era o mínimo.

— Aromaterapia. Vela vermelha quando estou com dor, vela azul quando estou cansada, verde para meus dias de nervosismo e a vinho para momentos mais prazerosos.

— Há um kit bem cheio. — reparei.

— São prazeres que vem aos poucos, com a idade pra ser mais exata. — sorriu preguiçosa. — Agora, diminua a luz por favor, meu bem.

Fiz como ela pediu, diminuindo até que a luz da vela fosse responsável pela maior parte da iluminação do banheiro. O local havia virado um ambiente aconchegante e perfumado. Eu poderia ficar ali para sempre em companhia daquela mulher.

— Mais alguma coisa, Camz? — ajoelhei a sua frente e ela tocou minha mão, assentindo.

— Quero que você tire sua roupa e entre na banheira comigo.

— E-eu não sei se-

— Agradeço sua preocupação e gentileza de se preocupar, mas agora eu não quero transar. Na realidade, eu quero, só não consigo. — umedeceu os lábios. — Eu vou tentar não tentar você.

Foi sincera, me acertando em cheio com aquelas palavras cheias de atitude e franqueza. Eu gostava do fato de não haver rodeios com ela.

— O que eu preciso agora, minha menina… — apertou minha mão com carinho. — É do calor do seu corpo junto do meu. Uma ótima forma de alívio da dor. E do seu cheiro também. Muito melhor do que todas essas velas. Você tem um aroma ótimo, Lauren. Eu só preciso disso. Só de você.

Me levantei, virando imediatamente para não mostrar meu rosto queimando como um tomate cozido. Ela sabia como usar as frases certas para me fazer sentir qualquer coisa que quisesse, e agora, eu estava morrendo de vergonha por estar agindo como uma adolescente no colegial sendo elogiada pela crush.

Desabotoei minha camiseta, tirando em seguida o sutiã e o short que estava vestindo. Ouvi ela respirar fundo e quando me virei para sua frente, foi inevitável não perceber seus olhos brilhante captando e admirando cada detalhe meu.

— Você é linda. — me deu espaço. — Entre aqui.

Meu corpo se arrepiou ao entrar em contato com a água, mas esquentou sob seu olhar analítico. Camila estava mais pra frente, permitindo que eu ficasse atrás. Quando encostei minhas costas na hidro, ela deitou as suas sobre meus seios e soltou um murmúrio prazeroso quando nossos corpos trocaram de temperatura. Enlacei sua cintura de forma carinhosa e apoiei o queixo na curva do seu ombro. Eu amava o cheio doce, marcante que sua pele tinha. Perfume de mulher madura. A maciez, aquele dourado reluzente. Ela era uma mulher vaidosa, então eu imagino os cuidados que tinha. Suas costas eram decoradas com pequenas pintas e uma camada fina, quase imperceptível de pelos finos, visto apenas de perto. Tocar nela era como acariciar um tecido aveludado. Gostoso, gentil.

— Bem melhor. — sussurrou, virando seu rosto pra mim e tocando a ponta do meu queixo com seus dedos. — De perto você é ainda mais linda.

Preensei os lábios, sentindo meu rosto queimar novamente com o elogio. Fala alguma coisa, estúpida. Responde ela!

— Sua pele, nossa… — respirou fundo, deixando que eu percebesse um brilho em seus olhos. — É maravilhosa. Saudades de quando eu tinha sua idade e não tinha tantas marcas de expressão.

— Não seja boba, esse é o seu charme. A maturidade, os traços de mulher. — abaixei a cabeça tentando evitar que ela olhasse nos meus olhos. — Você é linda assim.

— Obrigada, mesmo eu achando que um botox em algumas partes no rosto para dar uma esticada não iria me fazer mal.

— Não acho que você precisa. — voltei a fita-la. — Te incomoda?

— Antes não. — se acomodou melhor em meu colo. — Agora sim. Faço quarenta anos daqui um ano e longos meses, então é normal que eu queira recuperar o tempo que perdi sem cuidar de mim mesma. Protetor solar faz toda diferença, acredite nisso. Se eu pudesse voltar a sua idade e me dar este conselho, com certeza eu faria, então por enquanto eu faço questão e peço que você use, até mesmo nos tempos nublados.

— O que você fazia na terra enquanto eu era um feto na barriga da minha mãe?

 A pequena mudança de assunto fez Camila fechar os olhos e rir abertamente. Sorri, era bom vê-la assim. 

— O que eu disse?

— Você é hilária, menina. — gargalhou mais uma vez. — Eu falando sobre cuidados aos quarenta e você faz questão de me lembrar que enquanto sua mãe estava grávida eu já estava aqui na terra há dezoito anos vivendo a vida adoidado.

— Desculpa, não quis ofender ou te chamar de pré histórica, embora você seja.

Me arrisquei, mesmo com o cu trancando. Ela adorava contrastar nossas idades, então eu entraria no seu jogo também.

— Lauren Michelle Jauregui! — Camila se fez de ofendida, virando pra mim com os lábios entreabertos. — O que você disse?

— Vejo que alguém fez o dever de casa direitinho, até meu nome completo decorou. — rimos juntas. — Eu estou brincando, Camz. Gosto da sua idade, da sua maturidade, de tudo o que aprendo com você.

— Ela continua me chamando de velha, mas tudo bem. Tudo o que vai, volta. — rimos em sincronia outra vez. — Quando seus pais estavam concebendo você, eu provavelmente estava terminando o ensino médio, quase entrando na faculdade. Estava namorando Tom e até então ele era um príncipe. Eu achava que tinha encontrado o amor da minha vida. — Ergueu os ombros. — A vida muda tão rápido. 

Franzi o nariz. Enquanto eu nascia ela já estava vivendo uma vida que eu só conheci a pouco tempo. A mudança da adolescência pra vida adulta, estar com alguém, a responsabilidade.

— Você não liga? — perguntei insegura.

— Para o que?

— Para minha idade. — falei baixo.

Ela já foi casada, e conheceu e se envolveu com muitas pessoas da idade dela. Era normal que eu me sentisse um pouco fora da sua curva por ser dezoito anos mais nova, não conhecer as coisas que para ela já era comuns.

— Não. Eu ligaria se por acaso descobrisse que você tem menos de dezoito. Isso sim me preocuparia bastante. — acariciou meu rosto com as unhas curtas. — Você é uma menina incrível. Está na melhor fase da sua vida, só não descobriu isso ainda. Mesmo que tenha uma juventude extraordinária, quando chegar aos trinta vai ter o sentimento que poderia ter feito tudo de uma forma diferente…

Outra vez me chamando de menina.

— Acho fofo quando você me chama assim. — confessei, desviando por alguns segundos meus olhos dos seus. — Mesmo que eu me sinta muito mais nova do que sou e até às vezes infantil.

— Não quero que isso soe errado. Sabe por que eu te chamo assim? — neguei, curiosa para ouvir sua explicação. — Quando eu tinha sua idade, ainda me sentia uma menina. Era como se o tempo da adolescência e infância não tivessem passado, mesmo com todas as responsabilidades que tinha, eu ainda queria cultivar isso em mim. Quando te olho, quando te beijo, é como se você me presenteasse por alguns instantes com uma volta ao tempo, onde eu posso me sentir jovem e mais despreocupada. Você é a minha menina, Lauren. De todas as mais belas formas.

Eu pedi uma pequena explicação e ela me respondeu de uma forma que fez com que eu tivesse vontade de vomitar meu coração de tão forte que ele batia dentro do peito. Algo tinha mudado em mim naquele momento. Eu me sentia gelada e borbulhante por dentro, como se pequenas borboletas quisessem sair de dentro de mim a todo custo.

Respirei fundo, tentando controlar o turbilhão de sentimentos. Por favor, tudo menos isso.

O que essa mulher está fazendo comigo?

Não quero me apaixonar sem ter a certeza de que isso vai durar. Eu podia ser a menina dela, mas não tinha idade para criar ilusões amorosas sozinha.

Meus olhos vagaram pela água que borbulhas morna em contato com nossos corpos. Eu tinha uma mulher do caralho em meus braços, madura, com a vida feita e com uma estabilidade financeira de dar inveja. Decidida, sabia o que queria e quando queria. 

E eu… apenas e literalmente uma menina que até pouco tempo atrás precisava sair sem pagar pois o dinheiro tinha acabado. Fala sério, em que mundo isso se encaixaria?

— Você não gostou do que eu disse? — seus olhos procuraram algum sinal de desaprovação no meu rosto. — Se te incomodar eu paro. Não é minha intenção que isso te traga algum sentimento ruim.

— Não é isso. — sorri sem jeito, mordendo meus lábios pelo nervoso que sentia na alma e no corpo. — Eu gostei, apenas… Não sei como lidar com alguém me tratando dessa forma.

Seus olhos brilharam quando ela olhou pra mim com ternura.

— Com carinho?

Assenti.

E se não fosse amor? Apenas o reflexo claro de uma ausência materna no qual minhas lembranças são tão rasas. Será que Ally estava certa em relação a isso e eu via Camila apenas como uma figura maternal?

Não, definitivamente. Mas, e se? Ainda havia essa chance, não é?

Porra, para de pensar! Você vai acabar enlouquecendo. Só respira e aproveita o momento pois Camila acabou de fechar os olhos e selar seu lábio ao dela.

Enquanto me beijava, ela acariciava meu rosto com devoção. Eu amava como nossos lábios se encaixavam. Amava sentir sua respiração se misturar com a minha e amava principalmente sentir a textura dos seus lábios. Camila se afastou poucos milímetros, olhando nos meus olhos e roçando com leveza nossos lábios. Aqueles castanhos pareciam pegar fogo.

— Eu estou aqui por você, minha menina. Você me tem de todas as formas. Quando eu disse que você não está mais sozinha, não falei brincando.

Sorri tímida, fechando os olhos e encostando nossos rostos. Apreciei seu cheiro de perto.

— Você nem sequer me conhece direito e aposta todas as fichas em mim. Não tem medo que isso te afete ou que se decepcione comigo?

Negou, passando a mão nos meus cabelos. Selou nossos lábios outra vez antes de responder.

— Eu posso não conhecer tudo da sua vida, todos os seus gostos, ambições e manias. Mas eu conheço seu coração porque é a parte mais sincera e bonita que você permitiu que eu enxergasse. Você constrói uma barreira ao seu redor, de menina perigosa e rebelde, mas seus olhos pedem carinhos e cuidados e eu estou disposta a te oferecer tudo isso.

Desse jeito, com essas palavras, eu ia acabar me apaixonando e se não fosse recíproco a queda ia ser feia. Não me trate com tanta atenção assim, Camz. Eu não sou acostumada com isso e o mínimo de afeto pode destruir meu coração caso você decida virar as costas.

— Não sei se tenho muito a te dar em troca. Você me dá tantas coisas, me oferece tanto. Me sinto em desvantagem nessa.

Ela negou outra vez, calando minha boca com seus lábios. Dessa forma eu também viciaria — mais — em seus beijos.

— Não quero que me dê nada. Nunca quis. O que você tem, e o que você é, é mais que suficiente pra mim, minha menina.

Antes que eu pudesse responder, ela voltou a me beijar. Felizmente, porque a mesma havia arrancado todas as minhas palavras então qualquer frase que saísse dos meus lábios sairia desconexa. Compartilhamos um beijo carinhoso, cheio de doçura e carícias, ainda sim intenso.

— Você ficaria comigo?

A pergunta literalmente escapou dos meus lábios após o último selinho. Agora meu coração não batia, martelava dentro do meu peito pela estupidez que eu havia falado.

Porra, onde eu estava com o inferno da cabeça pra perguntar isso do nada? E agora a cara que ela está me olhando, misturando confusão, um sorriso surpreso e um tanto tímido.

Cala a boca, Lauren. Cala a boca!

Pedi isso tarde demais, já tinha falado a merda.

— Você quer ficar comigo, Lauren? — ela tinha um sorriso no rosto, mas ativou seus olhos analíticos.

Corei, franzindo as sobrancelhas e desviando meu olhar. Era hora de me proteger.

— Eu perguntei se você ficaria comigo. Não é um pedido de casamento.

— Oh, não é? — ela mordeu os lábios, se divertindo.

Demonia.

— Consegue imaginar a gente como um casal? — ela me indagou. 

— Eu nunca pensei nisso. — pensou sim, pilantra mentirosa. — Hipoteticamente talvez fosse algo interessante.

— Hipoteticamente talvez? — ela gargalhou se levantando. — Gostei. Gostei de verdade. Venha, vamos pro meu quarto. Eu quero dormir com você outra vez.

Olhei para ela desconfiada, e a mulher se agachou na minha frente após sair da banheira.

— Dormir… com você?

— O que foi, eu fodo mal? — se fingiu de ofendida. — Parece que está com medo de mim. Não precisa ficar assustada, não consigo transar hoje.

Obervem que: Não consigo. Não "não quero". Puta merda.

— Você transa muito bem, Camila. — ela sorriu arqueando a sobrancelha. — A situação é que você transa muito também. Acho que você não é viciada apenas em morfina o oxicodona, se verificar dinheitinho o sexo entra na lista.

Camila gargalhou, cobrindo os lábios e colocando a cabeça para trás. Ela ficava adorável rindo assim. A mulher tocou minhas mãos e me olhou de forma divertida.

— Gosto quando você não trata meu vicio como um tabu, escondendo eles com palavras delicadas com medo que eu me machuque. Aprecio isso em você, sabia?

— Obrigada, eu acho. — respondi incerta. 

— Mas sim, eu reconheço que "abusei" muito de você há algumas noites. A idade e os cuidados me trouxeram um pique sexual alto.

— Quero ter essa disposição um dia. — brinquei, levantando e pegando o roupão que ela me oferecia. Camila estava me olhando com os olhos serrados. — O que foi?

— Você vai acordar comigo amanhã. Vai ter minha rotina por um dia.

— Eu vou adorar.

— Perfeito, pois eu acordo às seis horas da manhã.

Meu brilho sumiu quase que de imediato. Que inferno! Pra que acordar junto com as galinhas? Ela era uma peoa de fazenda ou o que?

— A menos que você prefira acordar às nove e meia como normalmente. — ergueu os ombros.

Senti minhas pálpebras tremerem. Aposto que eu precisaria de terapia de choque depois disso.

— Não. Vai ser um prazer acordar com você. — mesmo que isso singnificasse um mal humor do cão.

Camila teve um alívio de suas dores quando fomos pro quarto. Mesmo assim, tomou a dose da noite do seu analgésico para não acordar em crise de madrugada, nem interromper o medicamento de forma reoentina. O lado um pouco ruim era que, ela sentia muito sono após as dosagens, o que significava que eu estava acordada sozinha naquele quarto imenso. Ela respirava fundo com o nariz encostado na curva do meu pescoço enquanto dormia profundamente em meus braços. Ela parecia sufocar, mas ainda sim se mostrava bem tranquila sentindo meu cheiro. Ela realmente gostava dele.

Há um mês, eu sequer imaginaria que estaria vivendo uma vida completamente diferente da qual tinha vivido nos últimos anos. A mercê da sorte, da aventura, das ruas frias e de uma cama numa república nada confortável. Comendo três ou mais refeições diárias, de qualidade e gozando de tudo de bom que a vida tinha a oferecer. Camila realmente havia me oferecido uma oportunidade de mudar de vida. A Lauren desconfiada de um mês atrás, jamais teria imaginado tudo de bom que teria acontecido se não tivesse aceitado. Provavelmente, eu estaria me metendo em brigas dentro de uma penitência feminina.

Eu sempre serei grata a Camila por tudo o que ela tem feito.

De repente ela virou, se afastando um pouco de mim e deitando em posição fetal. Me perguntei se ela estava com dor, mas ela respirava tranquila e suas sobrancelhas estavam relaxadas. Era apenas um sono gostoso mesmo.

Minha barriga começou a roncar. Não de fome, de dor. Torci os lábios e pensei, que péssima hora para uma dor de barriga. Olhei mais uma vez para ela. Será que se incomodaria se eu usasse seu banheiro? Aquele lavabo já estava íntimo de mim mesmo, havia visto cada célula do meu corpo, que mal faria me ver presenteando a mãe natureza, não é?

Bufei irritada ao levantar, percebendo que havia deixado meu celular carregando no quarto quando Camila me chamou para ajudá-la. Eu queria jogar ou ler alguma coisa enquanto perdia algumas gramas de peso. Olhei para os lados. A mesa de cabeceira de Camila estava entreaberta e tinha um livro de veludo azul marinho dentro. Ergui meus ombros e abri a gaveta. Foda-se. Eu não ia cagar sem um entretenimento.

Corri para o banheiro. Deus, se você existe, faça essa mulher sonhar até o despertador tocar.

Já no banheiro, eu abri o livro de veludo e percebi se tratar de um álbum de fotografias e recordações pessoais, assinado pela própria Camila. Se iniciava com fotos dela ainda adolescente. Uma com quinze, num palco da escola para uma audição de talentos provavelmente. Em outra, uma selfie com a delegada Normani e sua esposa, a agente Dinah. Elas se conheciam desde novas e pareciam ter sido muito unidas na época do colegial. Agora as obrigações da vida haviam as afastado um pouco, mas a amizade prevalecia.

Nas outras fotos, ela um pouco mais velha, caloura na universidade de Publicidade. Havia um braco masculino em volta da sua cintura, que eu imaginava ser do seu ex marido pelo corte grotesco que ela fez na tentativa de se livrar da imagem do beuzebu.

Virando as páginas, muitas fotos dela sozinha e outras também rasgadas. Em viagens, cruzeiros, reuniões de negócios e em diversas empresas de publicidade e propaganda. Ela viveu uma vida agitada até se aquietar por um tempo por conta da gravidez.

Eu nunca havia visto uma mulher tão linda carregando outro ser humano até poder ver uma foto sua grávida. Ela era baixinha, mas seu corpo sustentou bem uma barriga pra lá de grande. Em todas as fotos ela olhava com pegulho para o volume em seu ventre. Acariciava as mãos na barriga em todas as fotos, e era nítido observar seus olhos de cansada, talvez pela sua doença também.

Algumas páginas depois, uma mãe orgulhosa em todas as fases de Henry. Eu nunca tinha visto uma foto dela criança, mas era inegável que eles se pareciam muito quando o pequeno nasceu. Hoje seus traços estão mudando e se misturando com a caraterística dos seus país, mas quando nasceu ele era inteirinho e totalmente a cópia dela.

A última foto do álbum, pausada por longas páginas em branco era apenas de Camila. Ela estava vestindo uma camisa branca, e calças de moletom cinza claro. Seus cabelos estavam opacos, sem brilho e seu rosto contorcido em alguém que eu não conhecia. A maquiagem borrada mostrava que mesmo num vício tenso, ela tentava controlar seus demônios e viver uma vida minimamente normal.

Ao encarar essa foto, ver seus olhos com um brilho triste, eu me questionou no fato das pessoas ao nosso redor estarem sempre gritando de forma silenciosa por socorro e a gente nunca, nunca percebe.

Alguns minutos depois, quando voltei para o quarto, ela ainda dormia. Abri os edredons e me enfiei dentro deles, recebendo o calor de aconchego. Camila rolou para mim e me abraçou. De olhos fechados, ela murmurou:

— Pensei que tinha ido embora. — suspirou, e de forma preguiçosa acariciou meu pescoço. Sua voz de sono era adorável. — Não faça isso. Não me deixe sozinha.

Sorri, puxei seu corpo pela cintura e beijei sua testa.

— Você está muito mandona.

— Eu sou. — disse com voz de sono. — E você gosta.

•••

— Lauren…

Franzi as sobrancelhas e virei pro outro lado.

— Lauren!

Puxei mais o edredom pro meu corpo que estava tremendo de frio e quieta permaneci.

— Lauren Michelle, acorda.

— Ah, cala essa boca maldita, inferno! Porra, não tá vendo que eu quero dormir?

Ally tinha uma péssima mania de querer me acordar para aproveitar o dia. Eu queria aproveitar o maldito dia na cama, deitada naqueles lençóis macios e edredom quentinho e ela não fechava o cu que tinha na cara. Felizmente havia ficado em silêncio, o que me fez estranhar pois quando eu não levantava ela se jogava em cima de mim até eu decidir lavar minha cara. A cama por sinal também estava muito macia e a voz dela… oh, porra.

Deitei de costas e abri os olhos devagar, encontrando a face nada alegre de Camila me olhando, com os braços cruzados e uma sobrancelha arqueada.

— O que foi que você disse?

Ela perguntou de forma lenta, num timbre assassino.

Cobri metade do rosto com o edredom e sussurrei incerta.

— Bom dia…?

Camila entreabriu os lábios por minha resposta petulante, e veio na minha direção arrancando o edredom de mim. Seu dedo ergueu meu queixo para que meus olhos ficassem da mesma altura.

— Assim você fala com suas namoradinhas da rua. Comigo você fala direito, Lauren Michelle.

Sua voz era séria, mas seu olhar divertido desbancava todo o salto de poder que ela tentava equilibrar.

— Eu só confundi, Camz. É muita mulher pra administrar.

Camila apertou meu queixo entre seus dedos e pela primeira vez tive medo do seu olhar psicótico. Com medo e me divertindo ao mesmo tempo.

— Provoca mesmo, Lauren. Depois você não aguenta. — meu riso morreu depois dessa. — Anda, sente-se. Trouxe café da manhã pra você.

Olhei para a ponta da cama onde havia uma bandeja de vidro fumê fosco com frutas, panquecas doces, ovos, torrada com queijo e geleia de pimenta, bacon em fatias e suco natural, meu preferido: abacaxi com hortelã. Ele parecia um pouco mais escuro, então eu provei pra ver se não havia algum tipo de veneno dentro dele.

— Esse suco está… — lambi meus lábios, provando o sabor. — Diferente.

— Diferente?

Camila se sentou ao meu lado e pegou uma das tigelas de fruta com aveia.

— Diferente bom ou ruim?

— Apenas diferente. — tomei mais um gole. — Está com um gosto peculiar, não sei. O que você botou aqui?

— Uma pitada de guaraná em pó.

— Guaraná em pó? — questionei e ela afirmou com um som nasal. — Pra que você colocou guaraná em pó no meu suco de abacaxi, mulher?

Ela pegou o cacho de uva e pinçou algumas até seus lábios.

— É um energético natural. — mastigou. — Você não está acostumada a acordar nesse horário, então eu quis dar uma forcinha. Além disso, você está precisando de muita energia ultimamente. No trabalho você cochila sempre que tem uma oportunidade, e não me deixe citar outras coisas.

Cerrei os olhos, pegando umas fatias de bacon com as mãos.

— E você toma isso?

Só isso explicava o fogo nas entranhas. O gozo dela era lava vulcânica.

— Uma cápsula ao dia e tento colocar um pouco em uma bebida natural também. Não é fácil manter esse corpo e eu preciso de muita energia e não estava podendo me viciar em cocaína também. — sorriu.

— E ajuda? — eu ainda perguntava. Claro que sim, estúpida. Esqueceu como é a capeta na cama?

— Em todos os sentidos.

Camila e eu tivemos um café da manhã bem preguiçoso e divertido, enroladas num edredom macio entre brincadeiras e assuntos leves.

Eu mal sabia que ela só estava me aquecendo para os quarenta polichinelos, cinquenta segundos de prancha, vinte abdominais por quatro fodidas vezes e posição flor de lotus durante longos trintas minutos de silêncio para uma meditação e um dia mais tranquilo. Ela garantiu que isso me faria relaxar e tomar decisões inteligentes e criativas ao longo do dia.

Só fiquei meio quebrada e dolorida, mas de fato me sentia bastante energizada e olha que segundo ela, havia pego leve.

Tão leve que eu estava tomando café da manhã outra vez ao lado de Henry porque já havia queimado as calorias do primeiro.

— Preciso que me faça um favor, Lauren.

Camila apareceu como um maldito fantasma enquanto Henry e eu estávamos com a boca cheia de coca cola. Engoli com dureza. O gás fez meus olhos marejaram e não teve como disfarçar porque o caralho a tosse começou em seguida.

Agora seria a hora de Camila comer meu rabo com areia e pimenta.

— De onde saiu isso daqui?

Seus dedos pegaram com certo "nojo" a latinha vermelha ainda gelada. Seus castanhos analíticos questionaram Henry e a mim, e ambos só gaguejaram umas palavras incertas numa tentativa de fugir da pergunta.

Desiste, mulher. Por favor, desiste.

— Vou perguntar mais uma vez e sair para comprar cotonete, pois acho que os dois estão com os ouvidos sujos. De onde saiu essa lata de coca cola às… — ergueu o braço pegando as horas de seu relógio. — Nove e meia da manhã.

— É, Lauren. De onde saiu essa lata de coca cola? — Henry jogou a bomba pro meu colo.

Moleque cria do satã!

— Ah… — ergui meus ombros, tentando parecer indiferente. — Sei lá, Camila. Foi tua cria que te desacatou e pegou refrigerante de manhã. Eu tentei avisar que não era uma boa opção, mas sabe como são as crianças.

— Eu não sou criança.

Em mil tons de voz diferentes causados pela puberdade, Henry o traído, gritou. Eu teria que ensinar pra esse fedelho que ele ainda teria que comer muito arroz e feijão se quisesse passar a perna em mim. Só porque havia uma penugem na cara achava que era homem.

Filho de corno.

— Pra mim, quem toma coca cola no café da manhã é uma criancinha. — apertei sua bochecha. — E você é o garotinho da mamãe.

Beijei a ponta do seu nariz e ele limpou com o casaco, me olhando com uma cara de nojo.

Camila respirou fundo e negou com a cabeça, sozinha parada na frente da gente enquanto tinha os olhos fechados.

— Tô vendo que tenho duas crianças em casa… — ela murmurou antes de voltar a abrir os olhos. — Certo, voltando ao que importa eu quero te pedir uma gentileza, Lauren. Estou com medo de pedir? Sim, mas preciso e antes você do que um estranho para realizar isso pra mim.

Sorri convencida e peguei a tigela de frutas que havia separado.

— Pode mandar, dona.

— O motorista de Henry não está se sentindo bem e eu recomendei que ficasse em casa descansando até que melhorasse. Agora ele precisa ir pro colégio e eu não estou em condições físicas de levá-lo. Você sabe dirigir?

— Os avanços na calçada contam como dirigir?

Camila abriu os lábios, pareceu perder a cor e eu ri. Ela tinha que aprender a brincar mais.

— Brincadeira, mulher. — ergui as mãos em forma de paz. — Eu sei dirigir sim, só não tenho habilitação. Troy e Ally me ensinaram.

— Isso me lembra que era outra coisa que eu precisava resolver. Habilitação. — ela falava mas parecia falar para si mesma. — Enfim, você consegue ir ao colégio de Henry sem se meter em nenhuma furada pelo caminho?

— Não, Camila. Vou ir com os peitos de fora, abrir a janela e mandar todo mundo por quem eu passar tomar no centro do olho do cu e na volta levar sua cria para fazer uma tatuagem e pichar alguns muros enquanto gritamos "foda-se o sistema".

É óbvio que eu não respondi isso. Eu era maluca, não insana. Só que porra, a mulher me tratava como se eu fosse um ímã para confusão. Tudo bem que ela também não estava tão errada assim e que eu atualmente não era exemplo bom pra muita coisa, porém pera lá; me ajuda a te ajudar, mulher. Lauren Jauregui não é bagunça, porém depende 

— Eu consigo. — ergui os ombros.

— Perfeito. 

Camila me jogou a chave, que eu agarrei com um excelente reflexo.

— Filho, qualquer coisa me ligue. A Lauren vai te deixar no colégio e eu estarei deitada descansando.

— Não acha melhor eu ficar em casa cuidando da senhora? — Henry sorriu para a mãe.

— Boa tentativa. — ela acariciou o cabelo dele e deixou um beijo em sua testa. — Muito boa mesmo.

Henry terminou o café da manhã e em seguida foi começar a se arrumar pro colégio. Ele estudava em um colégio moderno e integral do centro de Manhattan, com aula das 11:45 da manhã até às 17:20 da tarde. Era um puta sistema de ensino, devo admitir que até eu tinha vontade de voltar a ser criança e ter oportunidade de pisar numa escola como aquela. Apesar de viciado em videogame, ele também era incrivelmente dedicado e queria futuramente ser juiz. Inteligência para isso ele tinha, e oportunidades era algo que não lhe faltava também.

Eu dirigi até o centro e observei ele entrar no colégio junto aos demais alunos, imaginando por um tempo como teria sido minha vida se tivesse nascido nas mesmas condições que esses fedelhos. Pais com uma boa condição de vida, boa escola, boa estrutura. Infelizmente nem todos tiveram essa sorte, e eu estava inclusa nisso. Sempre estudei em escolas públicas e em questão dos materiais meus pais se desdobraram em cartões de crédito para me darem o básico. A falta de planejamento para eles me terem custou muitas horas extras no trabalho e hoje eu sou o que sou: uma esquisitona fora do meio.

Meu telefone vibrou duas vezes enquanto eu girava a chave pra ligar o carro. Parei e dei atenção ao aparelho, percebendo se tratar de Verônica pedindo que eu a encontrasse num parque próximo para que ela me pagasse metade do que havia pego emprestado. Era caminho pra casa e eu não demoraria, apenas conversaria com ela e devolveria o carro em segurança pra Camila.

Errado. Pois além do dinheiro, minha amiga havia levado dois baseados muito bem bolados e fazia um tempão que eu não sabia qual era a sensação de fumar uma erva boa. Eu não era uma fumante diária, mas gostava da sensação uma vez ou outra.

— E quando você pretende me devolver o restante? — soltei a fumaça, sentindo os raios de sol na minha cara.

— Logo. Não se preocupe. Estou ajeitando umas merdas.

— Merdas suas? Eu posso te ajudar?

Ela negou, tragando seu cigarro.

— Fica tranquila. Tá tudo sobre controle, logo eu vou estar com o resto da sua grana.

— E onde comprou essa erva? É boa.

— Veio de algum país da América do Sul. — ela olhava o cigarro entre seus dedos. — Dá uma vibe mais leve, gostei. Ao menos para os dias que eu tenho coisas mais importantes pra fazer e não posso ficar chapada. Você vai poder fumar enquanto estiver trabalhando naquele prédio de gente bacana.

— É, sua cabeça é sempre a frente do tempo. — traguei mais, prendi e soltei. — Meus olhos estão vermelhos?

— Nenhum pouco.

— Me empresta seu óculos mesmo assim.

Ela tirou do rosto e me entregou. Abri o Instagram, escolhi um filtro aleatório e bati uma foto com muita fumaça. Sempre via ela e Lucy fazerem isso e agora era minha vez de entrar pro clube da selfie com o cigarrinho da paz.

Meu celular vibrou antes mesmo que eu pudesse colocá-lo dentro do bolso. Desbloqueei e percebi que a stalker Camila Cabello havia respondido o story, que por acaso eu também esqueci de ocultar pra ela.

E vamos de puxão de orelha.

Camila: Muito bonito. 🤔

Eu: Realmente, está muito bem bolado, parece industrial. 🥺😚

Camila: Quando você voltar, conversamos.

Merda.

Bloqueei a tela. Era melhor eu ficar calada do que provocar mais e depois não aguentar quando a ira de satã se virar contra mim.

— Já estão assim? Ela te controla e você late obedecendo? — Vero perguntou enquanto soltava sua fumaça.

— Camila não me controla.

— Essa é a verdade ou a verdade na qual você se força a acreditar? Tem uma diferença.

— Pra quem não sabe a diferença entre psicólogo e psiquiatra você está se mostrando analítica demais. Isso é convivência com a Brooke?

— Não. — riu. — Só não pude deixar de ler como sua mamãe fala com você.

— Não a chame assim.

— Sua "mamãe"? Por que, afinal, é isso que ela está parecendo. Idade para ser sua mãe ela tem.

— Verônica, eu vou ir embora agora porque ainda sou uma pessoa que se preocupa com nossa amizade e não quero perdê-la pro socar sua cara. — apaguei o cigarro e peguei a chave do carro no meu bolso. — Então antes que eu precise de um advogado e você de um cirurgião plástico e um dentista para realinhar os dentes da sua boca, é melhor que eu esteja bem longe.

— Vai lá, eu também preciso resolver minha vida. Nem todo mundo tem uma velha cheia da grana pra bancar. — piscou pra mim.

— Pois é, essa sorte é apenas minha. — devolvi a piscada e me virei.

O lado ruim dos vinte anos era sentir que minhas amizades numa hora de comportavam como adultas, e numa hora como adolescentes idiotas. Eu estava bem no meio disso, dessa balança de equilíbrio infernal. Ally era meu ponto mais adulto e raramente se deixava dominar pela adolescente interior, até porque era a mais velha do grupo. Já Vero e Lucy, por céus! Faziam questão de deixar a praga da adolescência vir à tona sempre que podiam.

Eu não sei se estava ficando velha ou mais séria, mas algumas brincadeiras delas já não me fazia rir como antes.

•••

Fome.

Aquela maconha não te derrubava com uma onda forte, mas te dava uma fome miserável e puta que pariu, nem comendo igual um bicho passava.

Assim que cheguei fui para a cozinha e devorei três bananas e ainda sim não foi o suficiente para matar parte da minha fome. Abri um dos armários, encontrando batatas Chips, chocolates suíços e algumas balas. O combo perfeito. Na geladeira, abri uma lata de energético e era tudo o que eu precisava para não sentir fome até a hora do jantar.

— Estava esperando você chegar. Atrapalho?

— Não. Claro que não. — me sentei em minha cama, colocando o pote de batatas Chips e energético entre minhas pernas. — Senta aí. O que você manda?

Camila colocou uma mecha do seu cabelo para trás da orelha e soltou um riso sutil, observando a bagunça entre meus lençóis antes de se sentar.

— Eu amava essas batatinhas quando tinha sua idade.

Olhei para as batatas espalhadas e estendi o pote pra ela.

— Então pega, mulher. Tem batata pra alimentar um batalhão aqui. Anda, pegue.

— Não, obrigada. — agradeceu gentilmente — Já fiz minhas refeições do dia. Na realidade até jantei. Estou voltando para as oito horas de jejum intermitente.

— Jejum? Ah, para. — disse com uma batata dentro da boca, mastigando. — Não acredito que você tem neura com seu peso. Uma batatinha só não faz mal.

— Não é sobre o peso, Lauren. É sobre o equilíbrio. Me manter em forma também é importante. Aproveita seus vinte anos muito bem, sim? Quando tiver enxergando os quarenta perto tudo vai começar a piorar. Tudo.

— Você me motiva a cometer suicídio com vinte e nove anos pra não correr riscos.

— Não seja boba! — gargalhou e acariciou meu pé, se sentando perto de mim. — Os trinta anos trazem muitos benefícios também. É uma idade de ouro, no entanto começamos a sentir os primeiros sintomas da velhice.

— Sabe quando você fica velha? Quando se força a se ver assim. Você é uma mulher madura, Camila. Apenas.

— Você vai entender minhas frases quando tiver minha idade… — seus olhos vagaram. — E céus, aí eu vou ter cinquenta e seis.

O único barulho que ouvimos no meu quarto era o som dos meus dentes acabando com o pote cilíndrico de batatas. Camila acariciava meu pé e parecia entretida nisso, pois se mostrou perdida por longos segundos até voltar seus castanhos pra mim.

— Vim conversar sobre seu Stories.

Franzi os lábios. Puta que pariu. Ela não havia esquecido.

— Vai brigar comigo?

— Lauren, não. — me tranquilizou. — Eu não tenho moral para brigar com ninguém sobre o assunto drogas, sejamos sinceras. Eu só não quero que você passe pelo o que eu passei.

— Você sabe que a maconha é natural, não é?

Ela arqueou a sobrancelha e riu.

— Assim como o mercúrio. Você consome mercúrio?

— Camz, não! — a mulher era muito radical nos seus exemplos. — Não tem nem comparação. E outra, a maconha ajuda muitas pessoas com câncer.

— Você nem sequer tem câncer, Lauren Michelle. Pelo amor de Deus, consegue se ouvir?

Camila cruzou os braços e me olhou incrédula. Nossa conversa havia virado um divertido debate para disputar quem tinha mais razão.

— Eu não gosto de nenhum tipo de droga, a não ser álcool. Tolero nicotina e estou tentando ser mente aberta em relação a maconha, mas… — respirou fundo. — Quero que tome cuidado e estude melhor o que está consumindo. Nem tudo que se encontra na natureza deve ser consumido por nós humanos e acredite, as maconhas medicinais certamente não são essas ervas desidratadas e prensadas que você fuma. Eu sei que não é mais uma droga ilegal; ao menos não aqui, mas ainda é uma droga e qualquer substância pode sim trazer riscos a saúde. Qualquer.

— Eu não fumo sempre.

— E eu não tomava morfina sempre, e aqui estou, dependente. Toda sexta feira tenho reunião com um grupo de apoio e pasme: é uma droga medicinal.

Respirei fundo. Eu sei que ela falava pro meu bem, mas parte de mim se sentia uma criança tendo que engolir regras e regras. Era apenas um cigarrinho. Não ia me matar.

— Não quero que pareça que estou tentando te controlar. Eu gosto de você, te aprecio. Quero apenas seu bem, minha menina.

Me acanhei ao ser chamada daquela forma outra vez. Abracei minhas pernas e observei Camila por entre elas. Não queria que ela viesse minha cara vermelha por ter sido chamada assim.

Inferno.

Ela mexe tanto com minha cabeça.

— Estamos entendidas? Apenas tome cuidado.

— Eu vou tomar, Camz. — sorri, na mesma posição.

Fechei meus olhos ao sentir sua mão delicada acariciar minha bochecha. Sua respiração quente e hálito de frutas frescas estavam sendo sentidos por mim, o que me mostrava que ela estava perto. Quando abri meus olhos, a encontrei com os olhos analíticos.

Camila se levantou, veio até a mim, tirou meu cabelo do rosto e me deu um beijo na testa. Se virou dando alguns passos, mas logo voltou atrás.

— Eu já ia me esquecendo.

Tirou do bolso de sua calça azul alguns papéis pequenos, do tamanho de um cartão de visitas. Branco, com letras em prata e em um relevo elegante.

— A agência vai realizar uma festa de salão. A temática é a cor branca. Você tem direito a quatro convites.

— Eu posso levar quem eu quiser? — peguei os convites animadas, lendo as informações impressas por ele. — Meu Deus, Camila. Isso vai ser muito divertido, faz anos que eu não piso numa festa de arromba.

— Festa de… — Camila pediu pausa com as mãos e tomou de volta sua postura. — Enfim, vai ser uma festa divertida. Pode usar meu cartão e comprar algo branco para você. De preferência um vestido. Os convidados tem que usar branco também, não se esqueça. Imagino que você vai levar suas… amigas, então não esqueça de lembrá-las desse detalhe.

— Você é o máximo! — levantei, abraçando ela. — E para quem são os seus convites?

— Você sabe, eu sou cercada de poucas pessoas então escolhi a dedo. Henry, Normani, Dinah e Paul.

Vai te fuder, porra!

Paul? O macho que ela conheceu naquele aplicativo de merda havia ganho um de seus convites para a festa onde ela trabalhava? Não. Não. Não. De maneira alguma, porque ela não usou o seu último convite para mim? Inferno, Camila. Você só tinha uma função.

Uma!!!!

Essa festa mal tinha começado e já tinha virado um enterro.

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Apostas para o próximo capítulo?

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