No final da festa, eu já tinha acompanhado todo mundo até a porta. Cheguei a perguntar se a Ângela queria dormir em um dos quartos de hóspedes, mas ela negou falando que o Damon lhe daria uma carona até sua casa. Me sentindo cansada, fechei a porta e me encostei na madeira.
Respirei fundo e olhei em volta.
A sala estava uma bagunça, o que significa que vou ter que acordar bem cedo para arrumar.
Apaguei a luz e subi para o segundo andar. Encontrei o Bruno no quarto das gêmeas.
- Alexia não quer dormir. - ele falou, em um tom baixo porque Sophie seguia dormindo no berço ao lado.
Me aproximei da minha filha e vi que realmente ela não tinha a expressão de alguém que está com sono.
- Talvez apagar a luz resolva. - exclamei, sabendo que mesmo sem sono, Alexia acabaria dormindo.
Já estava muito tarde.
- Vou apagar então. - ele disse, e caminhou até o interruptor. - Você fica com ela? Vou tomar um banho.
- Claro, vai lá. - falei, e dei minha mão para minha filha segurar.
- Eu já volto. - prometeu.
Assim que ficamos sozinhas, olhei Alexia que estava deitada no berço.
- Tá vendo, você sujou tanto seu pai com doce que ele teve que trocar de blusa duas vezes em menos de uma hora. - exclamei.
Ela sorriu como se tivesse entendido.
- Por que você não dorme, em? Eu também estou cansada. - falei, sentindo vontade de deitar. - Posso contar uma história, que tal?
Sentindo que seu sorriso foi uma resposta, eu pensei em uma história.
- Não sou muito boa com histórias de princesas, mas vou tentar. - avisei, e um tempo depois eu já estava no final do conto. - ... Então a Branca de Neve jogou suas tranças e o príncipe subiu a torre encantada segurando o cabelo dela. Pera, acho que era a Fiona. Fiona é princesa, né? Desculpa, eu nunca me interessei por contos de fadas.
No entanto, quando olhei Alexia, vi que ela estava dormindo. Sorri satisfeita por ter dado certo.
Pois sou uma ótima contadora de histórias.
Sai em silêncio do quarto e deixei a porta encostada.
Quando cheguei em meu próprio quarto, notei que o Bruno ainda estava no banheiro, mas o chuveiro não estava ligado.
Sentei na cama e esperei ele voltar. O que aconteceu quase um minuto depois.
- Fiona é uma princesa, né? - perguntei, do nada.
Ele, que estava secando o cabelo com uma toalha, me olhou.
- Como assim? - estava confuso.
- A Fiona do Shrek. - respondi.
- Ah, sim. - falou, e se aproximou da cama. - Se o pai dela era rei, então ela é sim uma princesa. Por que está me perguntando isso?
- Eu estava contando uma história para a Alexia e falei que a Fiona jogou as tranças para fazer o príncipe subir a torre. - falei. - Mas acertei de primeira na Branca de Neve.
Ele franziu o cenho.
- Mas quem joga o cabelo é a Rapunzel, a Branca de Neve é a que morde a maçã envenenada. - disse. - Meu amor, você está com sono?
Suspirei.
- Eu estou. - senti vontade de rir. - É uma conversa sem sentido, né?
Levantei e aproveitando que meu marido estava de pé na minha frente, eu abracei ele. O fato dele estar sem camisa tornou a experiência melhor ainda. Bruno me abraçou de volta e deixou um beijo no topo da minha cabeça.
- Você acha que hoje foi legal? - perguntei, e me afastei um pouco para encarar seu rosto. - As meninas se divertiram e tudo.
- Foi perfeito. - garantiu, e segurou meu rosto deixando minha cabeça erguida.
Sabendo que ele estava fazendo aquilo para tomar controle do beijo que pretendia me dar futuramente, eu não tentei afastar sua mão.
- Vai passar amanhã com a gente? - perguntei, querendo ele em casa.
- Eu passei o dia inteiro com vocês hoje.
- E dai? Você pode fazer seu horário naquela empresa, não é nenhum sacrifício faltar alguns dias.
Ele sorriu.
- Você é muito mimada, sabia?
- Culpa sua. - o que não é mentira, já que ele faz tudo que peço.
Bruno me beijou como eu estava esperando, e quando percebi, ele estava me levando em direção ao banheiro.
- Nem pensa nisso. Eu vou tomar banho, mas não com você. - falei, sabendo da sua intenção.
- Por que não?
- Porque você vai me fazer molhar o cabelo e eu estou com preguiça de ter que secar ele antes de dormir. - respondi.
- Podemos usar a banheira. - sugeriu.
- Ou... você pode esperar bonitinho aqui fora enquanto eu tomo banho. - falei.
- Não gostei dessa opção. - disse. - Mas vou deixar você escapar porque estou com fome.
- Sobrou muita coisa da festa.
Ele me soltou e eu aproveitei para entrar no banheiro.
- Vou dar uma olhada, qualquer coisa vou estar na cozinha.
Eu assenti fazendo ele sair do quarto.
Como meu marido não estava comigo, meu banho não demorou. Vesti o primeiro pijama que encontrei no closet e sai do quarto. Desci as escadas e achei o Bruno na cozinha. Reparando que ele estava mexendo na pia, me apoiei no balcão.
- Você falou sério sobre eu ser mimada? - petgutei, pensativa.
- Por mim seria mais. - respondeu, e vi que ele estava fazendo café.
- Tô falando sério. Eu vivia falando sobre ser independente e tal, mas olha minha vida.
Ele encheu uma xícara de café e colocou na minha frente.
- Você está feliz? - perguntou, e se apoiou no balcão para se inclinar na minha direção.
Eu não precisei pensar muito para responder.
- Eu estou. - falei, sendo sincera.
- Então o que importa o resto, meu amor?
Senti vontade de bater nele.
- Meu Deus, você sempre faz tudo parecer tão fácil.
- Alguns diriam que é uma qualidade. - exclamou, e acabou tomando um pouco do café.
- Eu digo que é privilégio.
- Nós dois temos conceitos diferentes sobre o que é privilégio. - falou.
- O que seria privilégio para você? - estava curiosa.
- Ter você pra começar... De preferência gemendo no meu ouvido.
Não segurei a risada.
- Como você consegue ser tão fofo e tão safado ao mesmo tempo?
Ele me deu um selinho e empurrou a xícara na minha direção.
- Toma um pouco.
- Acabei de escovar os dentes. - falei.
- Então prefere leite? - notando a expressão que eu fiz, ele sorriu. - Leite com café, Helena. Leite com café. Você quer? Depois eu que sou safado.
- Eu passo também. - exclamei, ainda sentindo vontade de rir. - Você deveria comer alguma coisa.
Olhei alguns potes que estavam com salgados e doces no balcão. Realmente sobrou muita coisa da festa. Peguei um docinho e ele era tão bonito que senti pena de comer. Parecia uma flor.
- Isso parece caro. - comentei.
E, conhecendo minha mãe, aqueles doces custaram uma fortuna.
Ficamos um pouco mais lá em baixo até que o Bruno falou que ia subir porque estava com sono. Segui ele e antes de entrar no quarto, conferi se as meninas estavam bem.
- Apaga a luz. - meu marido disse assim que entrei no quarto. - E vem logo que estou com frio.
- Agora meu trabalho é te esquentar? - questionei, e apaguei a luz.
- Sim, como uma boa esposa.
Ignorei o que ele falou e deitei ao seu lado. Antes que eu pudesse me cobrir, ele me puxou para perto e me abraçou.
- Eu também sou. - Bruno disso, um depois me deixando confusa.
- É o que?
- Feliz. Eu também sou. Então, de verdade, não se preocupa com o que os outros pensam ou deixam de pensar. O que importa no final é isso que temos, é nossa família.
Sabendo que ele estava certo, deitei minha cabeça em seu peito e fechei os olhos.
O dia tinha sido perfeito e eu sabia que isso ia se repetir muito na minha vida ainda. Afinal, eu escolhi certo quando deixei um garoto de 17 anos entrar no meu coração mesmo sabendo que amar é como pular de um precipício.
Você pode se machucar no final da queda, mas a experiência durante o salto é inexplicável e única.
Como prometido, aqui estou eu com mais um capítulo. Desculpa a demora meus amores.