crescent moon - Lua Nova

By Violetaever

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Depois que Kris se recupera do ataque de um vampiro que quase lhe tirou a vida, ela decide comemorar seu aniv... More

CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XIII
CAPÍTULO XIV
CAPÍTULO XV
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO XIX
CAPÍTULO FINAL
EPÍLOGO

CAPÍTULO XVII

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By Violetaever


Começamos a subida íngreme e a estrada ficou congestionada. À medida que seguíamos, os carros ficavam juntos demais para que Alice costurasse como louca por entre eles. Reduzimos a velocidade, quase parando, atrás de um pequeno Peugeot caramelo.

- Alice - disse, alarmada.

O relógio no painel parecia estar se acelerando.

- É a única maneira de entrar - ela tentou me tranquilizar. Mas sua voz era tensa demais para ser reconfortante.

Os carros continuavam a avançar, um de cada vez. O sol caía intensamente, parecendo já estar a pino.

Os carros se arrastaram um por um para a cidade. À medida que nos aproximávamos, pude ver carros estacionados dos dois lados da rua, as pessoas saindo para seguir a pé o restante do caminho. De início pensei que era só impaciência - algo que eu podia entender com facilidade. Mas depois chegamos a uma curva e pude ver o estacionamento lotado fora dos muros da cidade, a multidão passando pelos portões a pé. Ninguém tinha permissão para entrar de carro.

- Alice - sussurrei.

- Eu sei - disse ela. O rosto esculpido em gelo.

Agora que eu estava prestando atenção, e que nos arrastávamos bem devagar para perceber, vi que ventava muito. As pessoas que se espremiam pelo portão seguravam os chapéus e tiravam o cabelo do rosto. As roupas se inflavam em volta delas. Também percebi que a cor vermelha estava em tudo.

Camisetas vermelhas, chapéus vermelhos, bandeiras vermelhas pendendo como fitas compridas de cada lado do portão, chicoteando ao vento - enquanto eu olhava, o lenço vermelho brilhante que uma mulher prendera no cabelo soltou-se numa súbita rajada de vento. Girou no ar, acima dela, retorcendo-se como se estivesse vivo. Ela estendeu a mão, pulando, mas ele continuou a flutuar para o alto, um retalho cor de sangue contra os muros antigos e opacos.

- Kris. - Alice falou rapidamente numa voz feroz e baixa. - Não consigo ver o que o guarda aqui vai decidir agora... Se não der certo, você terá de ir sozinha. Vai ter de correr. Apenas vá perguntando pelo Palazzo dei Priori e corra na direção que lhe apontarem. Não se perca.

- Palazzo dei Priori, Palazzo dei Priori - repeti o nome várias vezes, tentando gravá-lo.

- Ou "A torre do relógio", se falarem sua língua. Vou dar a volta e tentar encontrar um lugar isolado atrás da cidade, onde possa pular o muro.

Eu assenti.

- Palazzo dei Priori.

- Edward estará sob o relógio da torre, no lado norte da praça. Há um beco estreito à direita, e ele estará ali, na sombra. Você precisa chamar a atenção dele antes que ele ande para o sol.

Assenti furiosamente.

Alice estava quase na frente da fila. Um homem de uniforme azul-marinho orientava o fluxo do trânsito, direcionando os carros para longe do estacionamento cheio. Estes manobravam e voltavam para encontrar uma vaga no acostamento da estrada. Então chegou a vez de Alice.

O homem uniformizado se movimentava preguiçosamente, desatento. Alice acelerou, passando por ele e indo para o portão. Ele gritou alguma coisa, mas ficou onde estava, acenando frenético para evitar que o carro seguinte seguisse nosso mau exemplo.

O homem no portão vestia um uniforme igual. À medida que nos aproximávamos dele, as hordas de turistas passavam, abarrotando as calçadas, olhando com curiosidade para o Porsche amarelo abusado e vibrante que Alice roubou.

O guarda foi para o meio da rua. Alice posicionou o carro com cuidado antes de parar. O sol batia em minha janela, e ela estava na sombra. Ela estendeu a mão depressa para trás do banco e pegou algo na bolsa.

O guarda contornou o carro com uma expressão irritada e bateu na janela com raiva.

Ela baixou a janela até a metade e eu o vi vacilar ao ver o rosto por trás do vidro escuro.

- Desculpe, só ônibus de turismo podem entrar na cidade hoje, senhorita - disse em inglês, com forte sotaque. Ele agora se desculpava, como se quisesse ter notícias melhores para a mulher incrivelmente bonita.

- É um tour particular - disse Alice, abrindo um sorriso sedutor. Ela estendeu a mão pela janela, para a luz do sol. Fiquei paralisada até perceber que ela usava luvas caramelo até o cotovelo. Alice pegou a mão dele, ainda levantada depois de bater na janela, e a puxou para o carro. Colocou algo na palma da mão e dobrou os dedos dele em volta.

O rosto do homem estava perplexo quando ele recolheu a mão e olhou o grosso rolo de notas que segurava. A de fora era de mil dólares.

- É alguma piada? - murmurou ele.

O sorriso de Alice era ofuscante.

- Só se você achar engraçado.

Ele a fitou, os olhos arregalados. Olhei nervosa para o relógio do painel. Se Edward mantivesse seus planos, só nos restavam cinco minutos.

- Estou com um pouquinho de pressa - sugeriu ela, ainda sorrindo.

O guarda piscou duas vezes, depois meteu o dinheiro no colete. Afastou-se um passo da janela e acenou para seguirmos. Nenhuma das pessoas que passavam pareceu perceber a troca silenciosa. Alice entrou na cidade e nós duas suspiramos de alívio.

A rua era muito estreita, pavimentada com pedras da mesma cor das construções marrom-canela desbotadas que escureciam a rua com sua sombra. Tinha a aparência de um beco. Bandeiras vermelhas decoravam as paredes a poucos metros umas das outras, voando no vento que assobiava pela rua estreita.

O caminho estava abarrotado e o tráfego a pé atrapalhava nosso progresso.

- Só um pouco mais - Alice me encorajou.

Ela dirigia arrancando apressada e parando de repente, e as pessoas na multidão agitavam os punhos para nós e diziam palavras de irritação que fiquei feliz por não entender.

Ela entrou numa viela que não devia ter sido feita para carros; pessoas chocadas tiveram de se espremer na soleira das portas enquanto passávamos de raspão.

Encontramos outra rua no final. As construções eram mais altas ali; elas se aproximavam no alto, de modo que nenhum sol tocava o pavimento - as bandeiras vermelhas que se agitavam de cada lado quase se encontravam. A multidão era mais compacta ali do que em qualquer outro lugar. Alice freou o carro. Abri minha porta antes que parássemos completamente.

Ela apontou para onde a rua se abria num trecho claro.

- Lá... Estamos na extremidade sul da praça. Atravesse correndo, para a direita do relógio da torre. Vou encontrar um caminho por trás...

Sua respiração parou de repente, e quando ela falou de novo a voz era um silvo.

- Eles estão em toda parte!

Fiquei onde estava, mas ela me empurrou para fora do carro.

- Esqueça eles. Você tem dois minutos. Vá, Kris, vá! - gritou, saindo do carro ao falar.

Não parei para ver Alice se misturar às sombras. Não parei para fechar a porta do carro. Empurrei uma mulher pesadona para fora do caminho e corri, de cabeça baixa, prestando pouca atenção a qualquer coisa que não fossem as pedras irregulares sob meus pés.

Ao sair da rua escura, o sol forte que batia na praça principal ofuscou minha visão. O vento sibilou em mim, fazendo meu cabelo voar para os olhos e me cegando ainda mais. Não admira que eu só tenha visto o muro de gente quando esbarrei nele.

Não havia caminho, nenhuma fresta entre os corpos espremidos. Empurrei-os furiosamente, lutando contra as mãos que me empurravam para trás. Ouvi exclamações de raiva e até de dor enquanto lutava para passar, mas nenhuma em uma língua que eu entendesse.

Os rostos eram um borrão de raiva e surpresa, cercados pelo vermelho onipresente. Uma loira fez cara feia para mim, o cachecol vermelho enrolado em seu pescoço parecia uma ferida horrenda. Uma criança, erguida nos ombros de um homem para ver por sobre a multidão, sorriu para mim, os lábios esticados sobre presas falsas de vampiro.

A multidão empurrava à minha volta, girando-me para o lado errado. Fiquei feliz porque o relógio era bem visível, ou nunca manteria o rumo certo.

Mas os dois ponteiros apontavam para o sol impiedoso e, embora eu me enfiasse violentamente entre a multidão, sabia que era tarde demais. Eu não estava nem na metade do caminho. Eu não conseguiria.

Desejei que Alice fugisse. Desejei que me visse de alguma sombra escura e soubesse que eu tinha falhado, assim poderia ir para casa, para Jasper.

Apurei os ouvidos, acima das exclamações de raiva, tentando ouvir o som da descoberta: o ofegar, talvez o grito, enquanto Edward entrava no campo de visão de alguém.

Mas houve uma brecha na multidão - pude ver uma bolha de espaço à frente. Empurrei com urgência naquela direção, sem perceber, até ferir as canelas nos tijolos, que era uma fonte quadrada e larga instalada no meio da praça.

Quase gritei de alívio quando mergulhei a perna na beira e corri com a água até os joelhos. Ela se espalhava ao meu redor enquanto eu atravessava a fonte.

Mesmo no sol, o vento era glacial e a água tornava o frio realmente doloroso. Mas a fonte era enorme; pude atravessar o centro da praça em segundos. Não parei quando cheguei à outra borda - usei o muro baixo como trampolim, atirando-me na multidão.

As pessoas agora se afastavam mais facilmente de mim, evitando a água gelada que se espalhava pingando de minhas roupas molhadas enquanto eu corria. Olhei o relógio de novo.

Um carrilhão grave e retumbante ecoou pela praça. Fez pulsarem as pedras sob meus pés. As crianças gritaram, tapando as orelhas. E comecei a gritar enquanto corria.

- Edward! - gritava, sabendo que era inútil. A multidão era ruidosa demais e minha voz estava fraca por causa do esforço. Mas eu não conseguia parar de gritar.

O relógio soou de novo. Passei correndo por uma criança nos braços da mãe - seu cabelo era quase branco no sol ofuscante.

Uma roda de homens altos, todos de blazer vermelho, me advertiu gritando quando irrompi por eles. O relógio soou novamente.

Do outro lado dos homens de blazer, havia uma brecha na multidão, um espaço entre os espectadores que vagavam a esmo à minha volta.

Meus olhos procuraram a passagem escura e estreita à direita do prédio quadrado e largo sob a torre. Eu não conseguia ver no nível da rua - ainda havia gente demais no caminho. O relógio soou outra vez.

Agora era difícil enxergar. Sem a multidão para bloquear o vento, ele açoitava meu rosto e ardia em meus olhos. Não tinha certeza se era esse o motivo de minhas lágrimas ou se era por causa da derrota, enquanto o relógio soava novamente.

Uma pequena família de quatro pessoas estava mais perto da entrada do beco. As duas meninas estavam de vestido vermelho, com fitas da mesma cor prendendo os cabelos escuros para trás. O pai não era alto. Parecia que eu podia ver algo brilhante nas sombras, pouco além de seu ombro.

Corri para eles. O relógio bateu e a menina menor apertou as mãos contra as orelhas.

A mais velha, que batia na cintura da mãe, abraçou-se à perna dela e olhou as sombras atrás deles. Enquanto eu observava, ela cutucou o cotovelo da mulher e apontou para a escuridão. O relógio bateu e agora eu estava muito perto.

Eu estava bastante perto para ouvir a voz aguda da menina. O pai me encarou surpreso quando abri caminho entre eles, gritando sem parar o nome de Edward.

A menina mais velha riu e fez um comentário para a mãe, gesticulando para as sombras de novo, impacientemente.

Eu me desviei do pai - ele tirou o bebê de meu caminho - e disparei para a fresta escura atrás deles, enquanto o relógio soava sobre minha cabeça.

- Edward, não! - gritei, mas minha voz se perdeu no rugido do carrilhão.

Agora eu podia vê-lo.

Edward estava de pé, imóvel como uma estátua, a apenas alguns metros da entrada do beco. Seus olhos estavam fechados, as olheiras de um roxo-escuro, os braços relaxados ao lado do corpo, a palma das mãos voltada para a frente.

Sua expressão estava muito tranquila, como se estivesse tendo sonhos agradáveis. A pele marmórea de seu peito estava à mostra - havia um pequeno monte de tecido branco a seus pés. A luz refletida pelo calçamento da praça brilhava fraca em sua pele.

O relógio bateu e ele deu um longo passo para a luz.

- Não! - gritei. - Edward, olhe para mim!

Ele não ouvia. Sorria de modo muito sutil.

Levantou o pé para dar o passo que o colocaria diretamente sob o sol.

Eu me choquei contra ele com tanta intensidade que a força teria me atirado no chão se os braços dele não tivessem me agarrado e segurado. Perdi o fôlego e minha cabeça pendeu para trás.

Seus olhos escuros se abriram devagar enquanto o relógio soava novamente.

Ele olhou para mim numa surpresa muda.

- Incrível - disse ele, a voz cheia de admiração, um tanto divertida. - Carlisle tinha razão.

- Edward - tentei dizer, ofegante, mas minha voz não saía. - Você tem de voltar para a sombra. Tem de sair daqui!

Ele parecia bestificado. Sua mão afagou meu rosto com delicadeza. Ele não pareceu perceber que eu tentava obrigá-lo a voltar.

Eu podia estar empurrando as paredes do beco, a julgar pelo progresso que fazia. O relógio soou, mas ele não reagiu.

- Nem acredito em como foi rápido. Não senti nada... Eles são muito bons - refletiu ele, fechando outra vez os olhos e apertando os lábios contra meu cabelo. - A morte, que sugou todo o mel de teu doce hálito, não teve poder nenhum sobre tua beleza - murmurou ele, e reconheci a fala de Romeu junto ao túmulo. O relógio soou sua última badalada. - Você tem exatamente o mesmo cheiro de sempre - continuou. - Então talvez isso seja o inferno. Não me importo. Eu aceito.

Ai meu Deus! Ele acha que tá morto!

- Não estou morta - gritei. - Nem você! Bom, você já tá morto e vai morrer de novo se não sair daqui. Por favor, Edward, temos de sair daqui. Eles não devem estar longe!

Lutei em seus braços e sua testa se franziu de confusão.

- O que foi isso? - perguntou ele educadamente.

- Não estamos mortos seu idiota, ainda não! Mas temos de sair daqui antes que os Volturi...

A compreensão faiscou em seu rosto enquanto eu falava. Antes que eu pudesse terminar, ele de repente me puxou da beira da sombra e me girou sem esforço, pondo-me atrás dele, com as costas coladas à parede de tijolos, enquanto olhava o beco.

Seus braços se abriram, protetores, na minha frente.

Olhei por baixo de seu braço e vi duas formas negras destacadas no escuro.

- Saudações, cavalheiros - a voz de Edward era superficialmente calma e agradável. - Não acho que vou precisar de seus serviços hoje. Agradeceria muito, porém, se transmitisse minha gratidão a seus senhores.

- Não deveríamos ter esta conversa em um lugar mais apropriado? - sussurrou uma voz suave de forma ameaçadora.

- Não acredito que será necessário. - A voz de Edward agora era mais dura - Sei de suas instruções, Félix. Não quebrei nenhuma regra.

- Félix se referia apenas à proximidade do sol - disse a outra sombra num tom brando. Os dois estavam ocultos por mantos cinza até o chão que ondulavam ao vento. - Procuremos um abrigo melhor.

- Estarei bem atrás de vocês - disse Edward num tom seco. - Kris, por que não volta para a praça e desfruta do festival?

- Não, traga a garota - disse a primeira sombra, de algum modo imprimindo um tom faminto a seus sussurros.

- Acho que não. - A falsa civilidade desaparecerá. A voz de Edward era seca e gélida. Sua postura mudou minimamente e pude ver que ele se preparava para lutar.

Toquei a adaga em minha cintura, por sobre a blusa e mudei minha postura também.

- Félix - alertou a segunda sombra, mais razoável. - Aqui não. - Ele se virou para Edward. - Aro quer apenas falar com você de novo, se afinal decidiu não nos forçar a agir.

- Claro - concordou Edward. - Mas a menina fica livre.

- Temo que não seja possível - disse com pesar a sombra educada. - Temos regras a obedecer.

- Então eu temo que seja incapaz de aceitar o convite de Aro, Demetri.

- Está bem - rugiu Félix.

Meus olhos estavam se adaptando à sombra escura e pude ver que Félix era muito alto, grande e de ombros largos. Seu tamanho me lembrou Emmett.

- Aro ficará decepcionado - suspirou Demetri.

- Tenho certeza de que ele sobreviverá à decepção - falei pela primeira vez.

Félix e Demetri aproximaram-se sorrateiros da entrada do beco, separando-se um pouco para que pudessem atacar Edward dos dois lados. Eles pretendiam obrigá-lo a penetrar ainda mais no beco, para evitar uma cena.

Nenhuma luz refletida chegava à pele deles; estavam seguros dentro do manto.

Edward não se mexeu um centímetro. Estava condenando a si mesmo ao tentar me proteger.

De repente, Edward girou a cabeça para a escuridão do beco tomado pelo vento e Demetri e Félix fizeram o mesmo, em resposta a algum som ou movimento sutil demais para meus sentidos.

- Vamos nos comportar, sim? - sugeriu uma voz cadenciada. - Há senhoras presentes.

Alice colocou-se de maneira casual ao lado de Edward, numa atitude despreocupada. Não havia nenhum sinal de tensão disfarçada.

Ela parecia muito pequena e frágil. Seus bracinhos balançavam como os de uma criança.

E, no entanto, Demetri e Félix se endireitaram, os mantos oscilando um pouco enquanto uma rajada de vento se afunilava no beco. A expressão de Félix se tornou amarga. Ao que parecia, não lhes agradava ficar em mesmo número.

- Não estamos sós - ela advertiu.

Demetri olhou por sobre o ombro. A alguns metros na praça, a pequena família, com as meninas de vestido vermelho, nos observava. A mãe falava insistentemente com o marido, de olho em nos cinco. Ela virou o rosto quando Demetri encontrou seu olhar. O homem se afastou alguns passos para dentro da praça e deu um tapinha no ombro de um dos homens de blazer vermelho.

Demetri sacudiu a cabeça.

- Por favor, Edward, sejamos razoáveis - disse ele.

- Sejamos - concordou Edward. - E agora vamos sair discretamente, sem imprudências.

Demetri suspirou de frustração.

- Vamos ao menos discutir isso em particular.

Seis homens de vermelho se juntaram à família enquanto nos observavam com uma expressão ansiosa. Eu estava muito consciente da posição protetora de Edward, à minha frente - certa de que tinha sido isso que alarmou as pessoas. Queria gritar para que corressem.

Os dentes de Edward trincaram de forma audível.

- Não.

Félix sorriu.

- Basta.

A voz era alta, aguda, e veio de trás de nós.

Espiei por sobre o outro braço de Edward e vi uma forma pequena e escura vindo em nossa direção. Pelo modo como a silhueta ondulava, eu sabia que devia ser outro deles. Quem mais?

De início pensei que fosse um garoto. O recém-chegado era minúsculo como Alice, tinha cabelos castanhos-claros curtos e lisos. O corpo sob o manto - que era mais escuro, quase negro - era magro e andrógino. Mas o rosto era bonito demais para um menino. Os olhos grandes e os lábios cheios fariam um anjo de Botticelli parecer uma gárgula. Mesmo considerando as íris opacas e vermelhas.

Seu tamanho era tão insignificante que a reação ao seu aparecimento me confundiu. Félix e Demetri relaxaram de imediato, recuando de suas posições ofensivas para se juntarem novamente às sombras das paredes enormes.

Edward baixou os braços e também relaxou - mas de derrota.

- Jane - suspirou ele, em reconhecimento e resignação.

Alice cruzou os braços, com uma expressão impassível.

- Acompanhem-me - falou Jane de novo, a voz infantil e monótona. Ela deu as costas para nós e vagou em silêncio para o escuro.

Félix gesticulou para que fôssemos primeiro, com um sorriso falso; tive vontade de matá-lo ali mesmo.

Alice seguiu a pequena Jane de imediato. Edward passou o braço em minha cintura e me puxou para o lado dele. O beco descia um pouco à medida que se estreitava. Eu o encarei com perguntas frenéticas nos olhos, mas ele apenas sacudiu a cabeça. Embora eu não pudesse ouvir os outros atrás de nós, tinha certeza de que estavam ali.

- Bem, Alice - disse Edward de forma despreocupada enquanto andávamos. - Acho que não deveria me surpreender de ver você aqui.

- O erro foi meu - respondeu Alice no mesmo tom. - Era obrigação minha corrigi-lo.

- O que aconteceu? - A voz dele era educada, como se ele mal estivesse interessado. Imaginei que isso se devesse aos ouvidos atrás de nós.

- É uma longa história. - Os olhos de Alice bateram em mim e se desviaram. - Em resumo, ela pulou de um penhasco atrás de Victoria.

Corei e voltei meus olhos para a frente, procurando a sombra escura que não conseguia mais ver. Podia imaginar que agora ele estava ouvindo os pensamentos de Alice. Quase-afogamento, perseguição de vampiros, amigos lobisomens...

- Hmmm - disse Edward brevemente, e o tom despreocupado de sua voz sumiu.

Havia uma curva aberta para o beco, ainda descendo, então não enxerguei o final chegando até que alcançamos o paredão de tijolos plano, sem janelas. A pequenina Jane não estava em lugar nenhum que eu visse.

Alice não hesitou, não diminuiu o ritmo enquanto andava para a parede. Depois, com uma graça tranquila, ela deslizou para uma abertura na rua.

Parecia um ralo, afundado no ponto mais baixo do calçamento. Não o tinha notado até Alice desaparecer, mas a grade já estava puxada meio de lado. O buraco era pequeno e escuro.

Empaquei.

- Está tudo bem, Kris - disse Edward em voz baixa. - Alice vai pegar você.

Olhei o buraco, na dúvida. Imaginei que ele teria ido primeiro se Demetri e Félix não estivessem esperando, presunçosos e em silêncio, atrás de nós.

Eu me agachei, balançando as pernas na abertura estreita.

- Alice? - sussurrei.

- Estou bem aqui, Kris - garantiu-me ela.

Edward pegou meus pulsos - suas mãos pareciam pedras no inverno - e me abaixou na escuridão.

- Pronta? - perguntou ele.

- Largue-a - gritou Alice.

Fechei os olhos para não ver a escuridão, apertando-os de pavor, trancando a boca para não gritar. Edward me soltou.

Foi silencioso e curto. O ar passou por mim durante meio segundo e depois, com um sopro enquanto eu soltava o ar, os braços de Alice me pegaram.

Eu ia ficar com hematomas; os braços eram muito duros. Ela me colocou de pé.

No fundo havia pouca luz, mas não era escuro. A claridade que vinha do buraco proporcionava um brilho suave, refletindo-se úmida nas pedras sob meus pés. A luz desapareceu por um segundo e Edward era uma radiância branca e fraca ao meu lado.

Ele passou o braço em mim, segurando-me ao seu lado, e começou a me conduzir rapidamente para a frente.

O som da grade pesada deslizando pelo bueiro atrás de nós soou como um ponto final metálico.

A luz fraca da rua logo se perdeu na escuridão. O som de meus passos ecoava pelo espaço negro; parecia muito largo, mas eu não tinha certeza. Não houveram outros sons além de meu coração frenético e de meus pés nas pedras molhadas.

Edward me segurava com firmeza. Ele estendeu a mão livre para segurar meu rosto também, o polegar suave acompanhando meus lábios. De vez em quando, sentia seu rosto apertado contra meu cabelo.

Lembrei-me do meu mantra "Edward Cullen não existe " . Lembrei-me de todo o esforço que fiz nos últimos sete meses para torná-lo real.

Senti Edward estremecer ao meu lado; provavelmente lendo os meus pensamentos.

O caminho sob nossos pés continuava a descer, fazendo-nos penetrar mais fundo no chão, e isso me deixou claustrofóbica.

Eu não sabia de onde vinha a luz, mas ela lentamente transformou o negro em cinza-escuro. Estávamos em um túnel baixo, em arco. Faixas longas de uma água cor de ébano escorriam pelas pedras cinzentas, como se elas estivessem sangrando tinta.

Eu tremia e pensei que fosse de medo. Só quando meus dentes começaram a bater percebi que estava com frio. Minhas roupas ainda estavam molhadas e a temperatura sob a cidade era invernal. Como a pele de Edward.

Ele percebeu isso ao mesmo tempo que eu e me soltou.

Ótimo! Assim era melhor, sem toques, sem olhares! Estava ali para salvá- lo e não perdoá- lo.

No final do túnel havia uma grade - as barras de ferro estavam enferrujadas, mas eram grossas como meu braço. Uma porta pequena feita de barras mais finas entrelaçadas estava aberta.

Edward passou por ela e foi depressa para um espaço de pedra maior e mais iluminado.

A grade fechou com um cleng, seguido pelo estalo de uma tranca.

Do outro lado do espaço comprido havia uma porta de madeira pesada e baixa. Era muito grossa - pude perceber porque essa, também, estava aberta.

Passamos pela porta e eu olhei em volta surpresa, relaxando automaticamente. Ao meu lado, Edward se contraiu, a mandíbula trincada.

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