Misty (Girl's Love)

By LidFlower

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(Obra Em Andamento) Títulos da obra: Misty; Nebuloso. Autora: LidFlower. Gêneros: Drama, fantasia, romance, a... More

Aviso
1 - O azul dos olhos medonhos
2 - A maciez daqueles belos lábios
4 - Os padrões espiralados
5 - As criaturas da montanha
5.1 - Extra: As íris azuis na pele alva
6 - Bondade justificada
7 - A pele morena refletida sob a luz
8 - O brilho cintilante das estrelas
8.1 - Extra: Os traços negros como azeviche
9 - O sorriso da beleza
10 - O homem espalhafatoso
11 - Desenterrando memórias
12 - Lembranças
12.1 - Extra: Sacrifício
13 - Artefato
14 - Os brincos perolados
14.1 - Extra 4: Treinamento
15 - Luz e água
16 - A beleza da natureza
17 - Perseguição

3 - Vermelho como o vinho

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By LidFlower


Ela me encarava veementemente, com olhos obsessivos que continham uma profundeza impenetrável. Era medonho, vê-la lutar tão eloquentemente contra a barreira que nos separava, uma expressão doentia pairando em seu rosto, as unhas tornando-se cada vez mais sangrentas a cada soco fervoroso desferido contra a camada invisível que a impedia de me alcançar.

Pisquei em confusão, aquela criatura mórbida não se parecia com a mulher em minhas memórias, era selvagem e incontida, exatamente o oposto da mãe que me ensinou a sobreviver.

Estava escuro, muito escuro, minha vista deplorável não conseguia ir muito longe, e eu mal podia discernir o rosto familiar que me encarava com destemor. Sim, eu pensei, não houve engano, é realmente ela, concluí.

Desde a morte da minha mãe, me recusei a chorar, mesmo em momentos de desespero, preferia cravar as unhas em meus braços a permitir que aquelas lágrimas escorressem de meus olhos novamente, em vez disso, eu gostava de sentir a dor ardente e o sangue fluindo dos ferimentos causados pelas unhas em direção aos meus dedos. Mas neste momento, contra a minha vontade, senti as gotículas molhando minhas bochechas, impetuosas em sua trajetória.

Eu sabia, era angústia, apertando o meu peito, impedindo-me de respirar, roubando-me o ar que restou em meus pulmões, sabia o que significava, conhecia o desejo mais profundo de meu coração: revê-la.

Rever a mulher cuja vida havia sido perdida, a minha mãe, mas eu havia sido agraciada com aquela visão perturbadora, e não consegui evitar a dor que se alastrou como uma praga pelo meu corpo, fazendo-me encolher em posição fetal, causando-me tremores abrasadores. As lágrimas não paravam de deixar meus olhos, e embora eu os tenha fechado, não conseguia esquecer a cena da mulher enlouquecida com nada além de ódio e obsessão em seus olhos.

Não houve a usual gentileza, a tenacidade que confortava-me e trazia-me uma paz serena. Então, lembrei-me daquele dia, a conversa com o bardo, as marcas negras manchando os meus braços, abri os olhos e olhei para eles, e lá estavam elas, enredadas como os galhos de uma trepadeira ao redor dos meus braços, sobrepondo-se às cicatrizes que causei a mim mesma em meus momentos de desalento.

As memórias atingiram-me como um turbilhão, acumulando-se em minha mente e rapidamente levando-me à exaustão, levei as mãos contra a cabeça em um gesto desesperado, na vã tentativa de conter o impacto sobre mim. Mas o peso maciço continuava oprimindo-me impassivelmente, fazendo com que mais e mais lágrimas escorressem pelas minhas bochechas, senti-me fraca novamente, indefesa.

Na aflição do momento, tomei uma grande lufada de ar, e então, o peso me deixou. Com dificuldade, forcei-me a me acalmar, tentando respirar normalmente de novo, senti meu corpo frio, e um vento gelado soprando em meu rosto.

Minha cabeça ainda doía, mas o desespero havia ido embora, deixando apenas o alívio e a calmaria que me permiti sentir por um curto momento, então abri os olhos. Deparei-me com um rosto fino e delicado, envolto por cabelos longos e ainda molhados.

Estreitei os olhos, ainda atordoada, e por fim me dei conta de que estava deitada sobre o colo de alguém. Levantei-me abruptamente, esfregando as têmporas, e me afastei de quem quer que esteve me observando enquanto eu estava mergulhada em pesadelos.

Levei alguns segundos para processar o que tinha acontecido, senti meu corpo frio, e meus cabelos úmidos. Então os últimos acontecimentos vieram à tona em minha mente: as órbitas, a colina, as águas, a mulher.

Ergui a cabeça de repente para olhar para a mulher pálida vestida em roupas vermelhas como vinho, o luar que iluminava seu rosto tornava-a ainda mais pálida, eu não havia capturado muitos detalhes debaixo d'água, mas agora pude analisá-la mais atentamente: ela possuía feições delicadas e suaves, olhos negros, tal qual os cabelos emoldurando sua face, lábios rosados e ligeiramente carnudos, o mesmos que tocaram os meus sob os raios prateados da lua.

Ela estava sentada sobre uma pedra, em meio ao amontoado de folhas secas das árvores nuas, os olhos direcionados a mim, captando cada sutil movimento meu, pude sentir a sua curiosidade. Me levantei com esforço, para instantaneamente cair no chão, minhas pernas estavam entorpecidas, talvez pelas coisas que ocorreram ultimamente. Respirei fundo, tomando fôlego para me sentar novamente e voltei a encarar a mulher, que nunca tirou os olhos de mim, ela então sorriu.

"Cansada?" Uma voz assustadoramente rouca deixou seus lábios, como se não tivessem pronunciado uma única palavra há meses, quem sabe anos. Ela estendeu a mão para acariciar meu rosto, suspeitosamente gentil, tentei afastá-la, ainda hesitante com sua presença, mas meu corpo estava fraco demais para resistir. Pude apenas observá-la se aproximar lentamente e trazer-me rente a si, repousando novamente minha cabeça em seu colo, traçando com os dedos finos os cabelos que cobriram meu rosto, colocando-os para trás.

Não saberia descrever o quanto ela se destacava em meio àquele cenário fúnebre, achei-a linda, mas também a temi. Não ousei deixar-me levar pelo deleite que senti ao vê-la, tampouco confiei nos atos gentis que me foram demonstrados, sua presença ali era indubitavelmente suspicaz. Fui embalada em um abraço terno e confortável, lutei comigo mesma para resistir ao sono que subitamente pesou em minhas pálpebras, perguntei-me se ela havia me enfeitiçado ou se era apenas o cansaço de um dia traumatizante.

Com o corpo ainda inerte e entorpecido, movi os olhos para longe, e pude avistar a beira do rio, a calmaria silenciosa das águas privando-me do agradável som das ondas, vi a água tocar graciosamente o solo vermelho como vinho, refletindo os raios lunares e o que pareciam ser correntes espalhadas por toda a beira.

Olhei para os braços que me envolviam, e por um momento senti mais do que apenas medo e desconfiança, fiquei surpresa, não haviam mais correntes prateadas circundando os braços da mulher, estavam agora livres, diferente de quando encontrei-a pela primeira vez. Minha visão escureceu lentamente enquanto eu adormecia em seu abraço.

Desta vez, não sonhei com nada, havia apenas um breu interminável, o tempo se passou rápido para mim, e em um piscar de olhos, despertei. Fui saudada pela ofuscante luz do sol, demorando um pouco para me acostumar com a claridade repentina.

Fiz uma careta, me sentando sobre o que parecia ser uma cama improvisada com folhas secas na entrada de uma caverna, de um lado, vi as árvores iluminadas pelo sol, e do outro, uma escuridão impenetrável, como se houvesse uma passagem a se explorar, mas não me atrevi a cogitar a possibilidade de percorrê-la. Olhei à minha volta, havia resquícios de uma fogueira a uma distância segura de mim, com galhos de árvore queimados e algumas brasas remanescentes exalando fios fracos de fumaça.

Respirei fundo enquanto verificava a situação do meu corpo, não havia mais dor, como se o dia anterior nunca tivesse ocorrido, os ferimentos haviam se curado e até a exaustão se fora, me sentia disposta novamente. Levantei-me e pus-me a caminhar em direção à saída da caverna, não gostava da sensação de articulações rijas, estar em movimento me trazia momentos raros de felicidade fugaz.

Caminhei por um tempo considerável, explorando a área ao redor da caverna, mas nunca me afastando demais, não queria me perder novamente e aquele lugar era o único ponto de referência que eu tinha.

Estiquei meus membros até que estivesse satisfeita, então voltei para a caverna e sentei-me novamente na cama de folhas, sem saber ao certo o que fazer em seguida.

Não me arrependia de ter vindo para cá, não tive escolha, este era meu último fio de esperança, e eu também havia notado uma ligeira mudança nas marcas em meus braços: sua coloração negra clareou um pouco, como se tivessem sido parcialmente apagadas, e eu não sentia mais a dor pungente nelas, isso era inédito. Ainda estava tentando me acostumar com não sentir dor ao olhar para as marcas quando um leve barulho tirou-me de meu devaneio.

Era ela novamente, a mulher envolta de mistério estava escorada na entrada da caverna, me encarando com um pequeno sorriso, com os braços cruzados e um galho fino quebrado em sua mão, parecia estar aqui a algum tempo, decidindo por chamar a minha atenção com o estalo do galho se quebrando. Olhei para ela, em dúvida sobre agradecê-la ou me manter na defensiva. Seu sorriso se alargou um pouco.

"Está melhor agora?" Desta vez, sua voz era mais suave, como se a rouquidão anterior nunca tivesse existido. O vestido vermelho estendia-se um pouco abaixo do joelho, e ela pareceria ainda mais elegante, se não fosse pelas mãos um pouco sujas de poeira e alguns pedaços de folha seca presos entre os fios de cabelo, ela notou o meu olhar em si e passou a mão pelos cabelos para retirar os pedaços de folha.

"Oh, perdoe-me por esta minha aparência pouco adequada, ainda estou me acostumando a estar em terra firme novamente. Mas, diga-me, de todos os lugares para visitar, por que aqui?" Senti a confusão estampada em sua face, mas não pude deixar de desconfiar, o sorriso continha uma sagacidade quase imperceptível, era suspeito, muito suspeito. Senti que não descobriria sobre ela nada que ela não permitisse.

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