O Limbo de Darko

By bangtan-ssi

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Darko; Com seus significados distintos, o nome fora dado a um único ser, este criado pelo senhor do céus e de... More

Notas do autor

Ad vitam aeternam

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By bangtan-ssi

#DarkoMoranguinho

Me sinto em uma queda constante. Em uma eterna batalha travada contra meu próprio ser.

Dor, esta que ao menos posso sentir, e mesmo assim, a vejo tão presente aqui. É a dor fantasma que almejei preencher de dor carnal. Dilacerar minha própria carne, sangrar até que não sobre nada. Morrer.

Ah...Morrer. Desejo tanto a morte e nem ela posso ter.
Deus não foi misericordioso o suficiente para me ceder os únicos direitos que os humanos tem: A vida e a morte.

Eu sou um vazio, uma rachadura na criação perfeita do Senhor. Uma aberração, concebida como um presente amaldiçoado à heresia dos anjos. Arcanjo Miguel, o braço direito de Deus e com olhos tão encantadores quanto o céu estrelado, e o outro por sua vez, atualmente atende por Diabo — Satã para os mais íntimos e antes de tudo, Lúcifer, estrela da manhã, o primogênito que perdeu tudo para alcançar a liberdade.

Enquanto ambos não desistirem desta vida pecaminosa, eu serei a eternidade que os amaldiçoa até que não sobre nada, roubando cada batida do coração que ainda lhes resta.

Me tornando imortal mesmo sem um coração para chamar de meu.

[...]

Estar no inferno era fácil. Pelo menos para mim costumava ser, mesmo com todas as almas presas nas paredes altas, gritando em agonia constante, e cada esquina, um penhascos de caída eterna. Existem níveis no reino de Lúcifer, os 6 ciclos, um mais horrendo do que o outro e fui tentado em cada um deles.

Com tentado, quero dizer quase morto.

Quase porque não posso morrer, não pelas mãos do diabo. Já fui jogado do penhasco infinito e fiquei lá por incontáveis dias, também fui colocado no último e mais cruel círculo, o inverno sem fim. Meu corpo sofreu as consequências de sair da quentura infernal e cair no frio abaixo de zero, mas foi como um sopro, não foi o suficiente para que meu corpo gangrena-se e assim minha existência se resumisse a nada.

Eu sou a maior frustração da vida do diabo, e sendo sincero, me divirto com isso. Ver aqueles olhos vermelhos brilhando em desespero, enquanto a cada respiração, uma parte de sua vida provém a mim. Provocá-lo até que seu limite seja extrapolado, do mesmo modo que ele fez comigo. No fim, não tenho nada a perder. Não tenho vida a ser tirada e nem alguém para tirarem de mim.

— Darko, aquele anjo que você ajudou esses meses... — Yoongi adentra a garagem — Está na porta, quer falar com você.

O anjo. Ainda me lembro do dia que o encontrei no jardim, foi uma surpresa e tanto. Meus olhos estava fixados em seu rosto, intrigados, para dizer o mínimo. Foi a primeira vez que vi uma criatura tão linda pisar por essas terras e acredito que também seja a última.

O agradeço com um aceno de cabeça. Nossa comunicação é curta e só nós entendemos o quanto esse pouco significa.

Ajeito minha jaqueta e encaro minha camiseta antes de prosseguir até a porta. Yoongi se joga no puff ao canto da garagem e alcança sua guitarra.

— Acha que a estampa irá assustar ele? — questiono e Min a analisa.

É um cemitério, com mãos saindo da terra e uma mulher com expressão horrorizada, a estampa é branca mas não deixa tudo menos explícito.

— Creio que ele já se acostumou, Darko — ele sorri e volta a atenção para sua guitarra.

Ok, é. Talvez Yoongi esteja certo. Nós moramos juntos há meses, temos intimidade o bastante, ele vê os pôsteres em minha parede e minhas camisetas nada implícitas o dia todo, não há com o que ficar pilhado.
Balanço a preocupação para longe e saio da garagem para o corredor, alguns passos e a porta está diante de mim.

Ajeito meus fios rebeldes para longe do meu rosto, consigo ver o azul desbotado das mechas.

— Oi anjo — abro a porta e sou o primeiro a cumprimentar.

Ele parece tão surpreso quanto da primeira vez que nos vimos. Seu rosto está mais saudável e ele veste um moletom preto — que provavelmente veio de meu guarda-roupa —, seus fios estão tão crescidos, que caem em cascata sobre os olhos e há cor em suas bochechas.

— Jungkook — meu nome soa diferente em sua voz — Desculpa interromper, mas, poderia me ajudar?

— Suas costas estão doendo novamente? — questiono com preocupação.

Perder as asas têm severas consequências, normalmente a dor fantasma perdura pelo tempo que o anjo sobreviver na terra. Normalmente, quando ele me procura, é para pedir que eu retire a dor infernal que a falta das asas fazem.

— Não — ele nega de imediato — É por outro motivo, é bobinho...

Suas mãos estão juntas em frente ao corpo, ele balança de um lado para o outro, enquanto o dourado de seus olhos brilha esperançoso.

Não sou capaz de segurar o sorriso, não com ele sendo fofo para caralho sem nem tentar. Ele sempre consegue isso, um sorriso meu.

— Use as palavras, gracinha — o incentivo, por algum motivo, suas bochechas se tornam carmim quase de imediato — No que posso te ajudar?

Sua expressão pensativa demora a sair, as orbes vagam pelo céu e caem sobre mim, como se ele tivesse obtido uma coragem súbita.

— É com aquele aparelho que lê as imagens, sabe? Eu acho que o quebrei quando tentei colocar uma fita — seus lábios curvaram-se para baixo.

— Você veio andando de casa até aqui para falar do vhs? — Meu tom não é rude, muito menos grosseiro, mas é perplexo — Seus pés não estão doendo, anjo? Se tivesse ligado, eu teria voltado na hora.

Ele suspira e abre a boca, nada é dito. Eu nego com a cabeça em grande incredulidade, às vezes sua disposição me assusta. Dou alguns passos para frente e estou do lado de fora, cara a cara com ele.

O contraste de nossas roupas é a primeira coisa que noto quando paro a seu lado e analiso nossos reflexos na lataria do carro. Enquanto eu estou com minha jaqueta de couro cheia de spikes, calça com patch's de bandas, uma camiseta bem estampada e coturnos pretos e de couro, ele se expressa de um modo mais neutro; moletom, uma calça pantalona e all-Star de plataforma.

— Tudo bem — alcanço a chave em minha jaqueta — Vamos para casa, Jimin.

Seus dentes são mostrados para mim, em um sorriso contente. Meu peito aperta conforme sua expressão  ilumina com entusiasmo. Radiante pra caralho.

Como um peito sem coração pode sentir-se parte do time dos que têm um?

[...]

Assim que estacionei o carro em frente a única casa vermelha da rua, o Querubim que estava ao meu lado, desceu às pressas e garantiu ser o primeiro a entrar. Estranho, normalmente nós entramos lado a lado.

— Mãe? — Chamei quando pisei na sala, e ela não demorou a aparecer.

— Chegou mais cedo, querido?

— Sim — respondi, conforme ela deixou um selar em minha testa — Onde está Jimin?

— Acabou de subir eufórico, deve estar em seu quarto, parece preparar algo para você — respondeu risonha, a cabeça movendo negação.

O fato de que Jimin chegou como um completo estranho e agora é o companheiro fiel de minha mãe para as atividades de casa, me deixa admirado. Minha mãe foi responsável por grande parte da evolução de desenvoltura do anjo, antes a comunicação era complicada e travada, hoje sempre o incentivamos a falar o máximo de palavras que surgirem em sua mente.

Agradeci a mais velha e subi as escadas, degrau por degrau o inexistente dentro de mim parecia querer ganhar vida.

Com a porta de frente para mim, dei duas batidas e a voz do anjo soou, com a resposta me cedendo permissão.

— O que está aprontando, anjo? — questionei quando a abertura revelou a figura baixa, parada ao centro do quarto.

Suas mãos estavam para trás do corpo, indicando que ele escondia algo ali. Seus olhos dourados brilharam conforme me aproximei dele.

— Fecha os olhos — sussurrou e eu o fiz.

— Jungkook! — ele exclama com tom acusatório, quando nota meus olhos semi-abertos— Não vale abrir antes da hora.

Os fecho de verdade dessa vez, o sorriso ladino não deixa meu rosto, enquanto me pego esperançoso pelo que vem agora.

Não sou o tipo de cara que fica nervoso com surpresas, mas confesso que no momento eu estou nervoso pra caralho.

O que um anjo pode oferecer a um profano?

— 1...2...3— ele iniciou a contagem, ele segurou meu braço e estendeu minhas mãos, com as palmas para cima — Pode abrir.

Nem fodendo. Nem fodendo mesmo.

Um vhs de Edward mãos de tesoura está diante de mim. Um dos meus filmes favoritos e um dos vhs mais raros para quem coleciona.

— Anjo — murmurei, preso na incredulidade — Caralho.

Sei que o certo seria evitar palavrões na frente de seres celestiais, mas no momento, convém ao meu modo de expressão sincero.

— Você gostou..? — nossos olhares se encontraram e seus lábios estão entreabertos.

— Eu gostei muito, gracinha — minha boca aponta para cima e eu soube que o sorriso que seguiria seria sincero — Como você conseguiu?

— Eu fiz um amigo, ele é da vizinhança e estava doando algumas coisas — explicou — Eu fui ver uma caixa e ele estava lá, lembrei da gente na hora.

"Da gente" Porra.

Ele lembra. O primeiro filme que eu o apresentei foi este, nunca vi alguém admirar tanto uma história quanto ele, parecia mágica diante de seus olhos. A montanha russa que seguiu pelas mais de uma hora de filme foi um grande fascínio para mim; ele sorriu, ficou nervoso em algumas partes e chorou com o final, assim que descobriu que Kim e Edward nunca mais se viram.

Ouvi seu coração acelerando gradativamente, ele deu alguns passos, até que seu corpo colidisse com o meu.

Não é a primeira vez que nos abraçamos. Sei como nossos corpos se encaixam, onde devo deixar minhas mãos e que posso apoiar meu queixo sobre o topo de sua cabeça.

— Eu quem deveria agradecer — sua voz abafada ecoou em meu peito oco — Obrigado por ter me acolhido e ter me apresentado uma história tão incrível como a de Edward e Kim. Você foi como a Kim para mim, me ajudou a me adaptar em um mundo onde eu parecia um completo estranho.

Porra, como ele pode ser tão bom com as palavras?

Muito obrigado, mãe. Devo essa a você.

— Espero que consiga ouvir meu coração, ele também está grato.

Ele parece tão admirado. Como pode estar admirado como alguém como eu?

— Espero que algum dia você consiga ouvir o meu também — respondo, afetado— Acho que você seria a primeira pessoa com quem ele falaria.

Seus dígitos curtos param no local onde deveria estar meu coração e ele sussurra:

— Por favor, me escolha.

Há tanta verdade em sua voz. Seu calor completa a falta do meu e seu coração parece compartilhar das batidas comigo.

[...]

Meus amigos corromperam um anjo. Talvez não do modo que você esteja imaginando, porém continua  sendo uma forma de heresia.

Eu os apresentei a Jimin a poucos meses, Yoongi era o único que o conhecia até então, mas depois de muita insistência — Tanto da parte da minha banda quando da do anjo — eles por fim, se encontraram,

E as coisas não foram mais as mesmas desde então. O que antes não era normal se tornou um atípico extremo.

Jimin se descobriu, agora é um espírito livre. Seus  cabelos não são mais naturalmente loiros, há mechas vermelhas trazendo essa imagem despojada, que combinou para caralho com ele. Taehyung apresentou as roupas pretas e os spikes e Hoseok a maquiagem e os coturnos. Yoongi as bandas — o loirinho já tem até suas favoritas; Motionless in white, Black veil brides e claro a Hotel999.

Ele sempre está pra lá e pra cá, ouvindo alguma dessas bandas, enquanto organiza a bagunça que sempre fica em meu quarto. Ora ou outra o vejo balançando a cabeça enquanto limpa os baixos e guitarras que ficam pendurados na parede e cantarolando o metalcore com sua voz angelical.

Ele também já foi em diversos shows comigo, não tem mais medo da plateia e sempre garante seu lugar na frente. É o primeiro a mostrar total apoio quando estamos no palco e tem o headbanging mais gracinha da multidão.

E é bom, é muito bom ter alguém que te apoie, que esteja na primeira fileira de todos os seus shows com um sorriso que ilumina qualquer sentimento ruim. Que curte o seu som e te abraça animado quando você desce do palco.

Eu não sabia que precisava de alguém assim, até encontrar ele.

— Essa foi a hotel999. Vocês foram incríveis e o show foi do caralho! — Taehyung exclama no microfone e a plateia vai à loucura.

Hoseok faz barulho na bateria e o show tem seu fim, fomos prestigiados por mais alguns segundos.

Sorrio orgulhoso. A todo fim de show, entendo mais e mais porque escolhi a vida no metal. É aqui que me sinto vivo.

Troco olhares com Jimin, ele ri, de um modo que suas bochechas quase sobrepõem seus olhos.

Porra, como ele é lindo.

Retiro meu baixo dos ombros e o entrego a Yoongi, que guarda os instrumentos com toda a paciência do mundo. Taehyung e Hoseok estão atendendo os fãs que se reuniram na lateral do palco.

A plateia já não está mais cheia, apenas algumas pessoas esparramadas pelos cantos e o anjo, que permanece diante do palco, a nossa espera.

Dou impulso com o corpo e pulo da plataforma, caindo perfeitamente em frente ao loirinho. Ele arregala os olhos, mas logo suaviza a expressão.

— Oi — murmuro, meu timbre mais grave que o normal.

— Oi — ele responde, a voz prestes a sumir— Vocês foram incríveis. Sempre são.

— Obrigado — curvei o tronco para ficar a sua altura — Já disse que você está lindo com essa camiseta?

A camiseta em questão é do Motionless in white. Um presente de Yoongi para ele.

Me pareceu certo dizer isso. Assim como tudo com ele está parecendo mais do que certo.

A tensão se forma no ar. As paredes do pub parecem diminuir ao nosso redor, trazendo nossos corpos para perto, como imãs.

O sangue acumula em suas bochechas e seus olhos brilham em dourado. Ele lubrifica os lábios e respira fundo.

— Poxa — ele dá um passo, deixando nossos rostos tão próximos que sinto nossos narizes encostarem — Já disse que você fica lindo no palco?

Porra, caralho, porra. Ele não pode me desconfigurar assim.

— Porra, anjo. Não faz isso — estou quase implorando.

— Darko — ele parece pensativo— Será que podemos...?

Deus, me perdoe por corromper um filho tão leal seu.

— Use as palavras, anjo.

Gosto da afirmação, de como elas soam de seus lábios. Se não existe afirmação, então não sou capaz de entregar o que suas entrelinhas tentam manifestar

— Será que podemos...— seu lábio inferior entra em atrito rápido com o meu — Um beijo, por favor?

Caralho.

— Uhum — concordo desnorteado— Aqui?

Não sei se estou seguindo a direção certa.

— Aqui — ele responde sem nem olhar ao redor, suas mãos sobem até estarem em minha nuca — Por favor.

É, estou sim.

O trago para perto com cuidado, nosso lábios se encontram e puta que pariu, é como ir para o céu mesmo estando longe de ser bem recebido por lá. Ele é bom no que faz, meus piercings trazem uma sensação diferente e espero que isso o agrade. Minha língua brinca com a sua e ouço um suspiro de aprovação de sua parte, seus dígitos fazem carinho em meu cabelo e eu não imaginava que iria gostar tanto dessa sensação. É como uma música, quase que perfeitamente mixada, o encaixe perfeito.

Algo em meu peito parece tomar forma, conforme o beijo intensifica, o que está se formando dentro de meu peito bate e os dígitos do loirinho caem até estarem parados sobre. Ele sorri dentre o ósculo e isso me desmonta a ponto de meus dedos falharem.

Ele já entendeu, que o coração que acabou de se formar é de fato dele.

E eu não esperava que fosse ser de mais ninguém.

—AE CARALHO! — Taehyung grita — EU SABIA!

Uma salva de palmas segue seus gritos e há vários pares de olhos com atenção total em nós.

Ótimo.

Jimin não consegue disfarçar a vergonha e tenta se esconder entre meu peito e a jaqueta de couro. Lanço um olhar para Tae e ele não parece nem um pouco incomodado, continua fazendo algazarra com a plateia.

Por dentro, eu estou exatamente igual a Taehyung; Animado para cacete.

— Quer tomar um soju? — sussurrei próximo ao seu ouvido.

Ele assentiu, deixando seu esconderijo improvisado e encarando o chão. Sutilmente levei minha mão até a sua e as entrelacei. Seu coração acelerou como quem acaba de correr quilômetros e ele elevou o olhar, estava surpreso e isso aqueceu uma parte dentro de mim.

— Gosto de quando nossas mãos estão juntas — sua voz oscilou.

— Então faremos mais disso — olhei para os dedos entrelaçados.

O anjo se mostrou contente com minha resposta.

— Podemos dar mais beijos também? — ele virou vermelho puro — Eu gostei...

Meu coração acelerou com o pensamento que invadiu minha mente após sua confissão. Essa sensação estranha de ter algo agonizando dentro de seu corpo, a cada palavra não esperada ditada por quem se gosta.

— Faremos mais disso também — brinquei com os piercings de minha boca e espero que ele não tenha notado meu nervosismo.

Jungkook, você está completamente fodido e apaixonado. Parabéns.

[...]

— Darko — sua cabeça descansa sobre meu peito desnudo.

— Hm? — murmurou sonolento.

— Sabe, se Deus me pedisse perdão e me aceitasse de volta no paraíso... — me sinto angustiado ao pensar na ideia — Eu não iria.

Ele não iria? Por que? Por mim?

— Por que? — Questiono e ele ergue o olhar.

Mantenho um carinho em suas costas, onde um dia lindas asas ocupavam espaço. Ele aprecia o carinho e suspira.

— Porque lá não tem você, não tem o edward e nem o bolo de morango da sua mãe. Lá também não neva, acredita? — ele ri baixinho e abobado — virou parte da minha rotina e eu não sei se saberia viver sem isso, entende?

— Entendo sim, gracinha — afasto os fios que estão em seu rosto e o admiro por mais um tempo.

Eu também não saberia viver sem você e as pequenas coisas que você me ensinou.

— Então você deixaria o céu para ficar nesse reino comigo? — tento confirmar novamente.

— Sem pensar duas vezes!

— Bom. Achei que teria que ir contra o céus pra te encontrar novamente.

— Eu sempre estarei aqui, Darko.

Meu coração remexe como um louco ao som de heavy metal e meu corpo todo congela.

— Mas se eu não for capaz de estar aqui amanhã ou num futuro próximo, prometo te encontrar.

— Fica tranquilo, gracinha, eu te encontro primeiro.

Levo meus dedos até sua bochecha e deixo um afago ali.

Gosto delas. Gosto de tudo nele.

— Lindo — sussurro, levando a conversa para outro rumo — Vermelho combina com você.

Me refiro às mechas em seu cabelo, agora pouco desbotadas. Quero enche-lo de elogios, mas nenhuma palavra parece suficiente para expressar tudo o que ele é.

— Sabia que eu pintei em homenagem aos seus olhos? — ele revelou, me deixando surpreso — Acho a cor verdadeira deles muito linda.

— Por que nunca me contou, uh? — o ajeitei sobre meu peitoral.

— Estava tímido, só isso — riu mais uma vez.

A risada dele me deixa louco.

— Achei que tínhamos passado dessa fase — franzi o cenho.

— Passamos sim — concordou, analisando minha mão com cuidado — Será que amanhã podemos pintar suas unhas de preto? Fica tão lindo!

Concordei abobado, enquanto ele ainda permanecia com os olhos bem presos nos meus dígitos.

— Tudo o que você quiser, anjo. Podemos ir até a lua, se me pedir.

— A lua? — ele pareceu surpreso — Poxa, mas ela tá tão longe. É impossível!

— Nada é impossível, anjo. Nada.

Para nós, era.

[...]

Banhado em pecado e destinado a perder tudo o que amo. Ódio corre por minhas veias, não há nada além dele.

— Onde ele tá, porra?! — Meu tom firme e minhas mãos em seu pescoço. Não me sinto eu mesmo— Responde.

O demônio a minha frente sorri, meu sangue borbulha e não poupo seu rosto quando defiro outro soco. Posso quebrar quantos ossos forem até que ele me de a resposta, não me importo, não no momento.

— Olha para você, tão desesperado por um anjinho — sua risada estridente, é como fogo em gasolina pra mim — Gosto de ver seu sofrimento, mas dessa vez não tenho nada haver.

Eu fui precipitado para caralho.

Meus coturnos vão de encontro com sua barriga, defiro chutes, ossos se partem e ele urra como um leão. Ele vai ao chão, fragilizado. Meus fios caem sobre meus olhos, minha respiração está pesada e posso me ouvir rosnar.

Mas porra, o que eu poderia fazer? Foram tantos anos na escuridão, acreditei que não teria volta.

— Certo — um riso amargo deixa minha garganta — Estou sendo razoável com você. Mesmo que não seja responsável pelo sumiço dele, deve saber quem está por trás.

Eu nunca deveria ter pensado que "não haveria um alguém para que tirassem de mim", talvez o universo teria sido menos cruel com a minha petulância cega.

Ele tosse, o sangue escuro respinga em minha calça. Agacho para ouvi-lo melhor e aproveito para acender um cigarro, busco meu isqueiro mas não o encontro, solto um grunhido e como mágica, em meu dedo indicador faço surgir uma pequena chama. Vejo o quão trêmulas minhas mãos estão.

Eu estou perdendo a linha e não posso. Se eu perder, irei desmoronar aqui mesmo, nesse terreno vazio, na frente de um demônio feio pra caralho e que com certeza Lúcifer tem acesso aos olhos. Cair aqui é sinônimo de vitória para o diabo, e eu não lhe darei esse gosto, por mais quebrado que eu esteja.

O universo mudou assim que nossas mãos tocaram naquele jardim, naquela hora.

— Fala — tombo a cabeça, apago a chama e trago a fumaça tóxica.

Meu olhos fervem em escarlate. Sinto a parte que tanto tento esconder me dominar por completo.

— Ele sumiu porque vocês concluíram a maldição de Lúcifer — ele tosse mais e dessa vez, sua voz está oscilante — O plano dele era esse, você se apaixonar pelo anjo. Ele acreditava que assim a maldição dele acabaria e passaria para você.

Sinto meu cenho franzir.

— Não fode — nego instantaneamente.

— Porém, por algum motivo, ela não passou para você — há desespero em sua entonação — Tentamos de tudo. O anjo sumiu, você perdeu seu coração, mas o rei prossegue perdendo a vida.

Filho da puta.

— Eu realmente não sei onde está o anjo, Darko — ele choraminga — Poupe minha vida e eu serei seu leal pelo resto da eternidade. Com a força que tens, poderemos dominar o inferno juntos.

Não seguro o riso sem humor, acabo com o cigarro e sopro a fumaça em sua direção.

— Onde está toda sua pose irreverente? — zombo.

Ele se curva e ajoelha perante a mim.

— Diga a Lúcifer — há soberba em meu olhar, ele me olha com atenção — Que nesse limbo, quem decide quando tudo acaba sou eu.

Meu peito vazio chora e há dor em minha voz.

— Se eu não puder ser feliz — jogo a bituca e me ponho de pé — Nós viveremos o mesmo inferno, de novo e de novo. Diga isso a ele, sim?

O demônio medroso concorda de imediato e se curva mais uma vez.

— Sim senhor — e assim, ele rasteja como uma cobra dentre a terra.

Onde quer que você esteja, gracinha, eu irei te encontrar primeiro.

❄️

E assim acaba o especial.

Espero de coração que tenham gostado. Eu ando em um bloqueio criativo absurdo, então minha escrita não está como de costume e confesso que não gostei muito do resultado final, enfim, espero que tenha dado para matar a saudade do Ji e do Darko.

Obrigado por tudo e amo muito vocês! ❤️

Com carinho, Liey.

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