OUTSIDER

By Thsiol

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A jovem Lauren está prestes a ir presa, quando uma mulher mais velha e com excelentes condições lhe faz uma p... More

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By Thsiol

Olá, capetada que não me deixa.

Trazendo mais um capítulo para vocês, mas antes disso, queria deixar uns avisos:

1. Eu sou escritora, não médica. Então se tiver alguém da área da saúde lendo e percebendo que eu estou falando alguma besteira sobre o vício, doença, sintomas ou medicamentos citados, desconsidere KKKKKKK. Tô usando minha liberdade poética, então não tenham um avc ao me ver falando besteira.

2. Postei foto da "Camila de OUTSIDER" em um grupo do Facebook e algumas pessoas relataram que ela parecia ser bem mais velha do que 38 anos, mas vale ressaltar que eu editei as fotos pensando em alguns fatos:

- Camila é uma mulher que ficou anos em uma grave dependência, e isso acaba com a pele.

- Estresse também esgota uma pessoa e ela passou por muito.

Então, a por mais que a idade seja 38, os traços físicos a fazem parecer que tem 40, 42, 43. Ela definitivamente TEM um contraste de idade com a Lauren. Eu a fiz mais velha por conta disso. Eu queria e PRECISAVA dessa diferença.

Beijinhos, meus capetas.

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• POV CAMILA CABELLO

Lauren estava nua, enrolada em meus lençóis, com a cabeça apoiada em minha barriga enquanto dormia de forma profunda e confortável em meus braços. Eu a observava enquanto os movimentos das suas costas subiam e desciam conforme ela respirava tranquila.

Não tinha sono algum, então apreciá-la virou uma situação que naquele momento eu descobri amar fazer. No silêncio do quarto, apenas ouvindo o som do seu respirar contra minha pele.

Eu tinha pique para a noite inteira, como imaginei que seria. Mas, havia acabado de dar meia noite quando tivemos o nosso último momento do dia. Li em seus olhos o cansaço de um corpo sensível pelos vários orgasmos causados. Acariciei seu cabelo, com dó de quase ter tirado a alma do seu corpo. Investir na minha saúde por conta da minha doença crônica me deu também um bônus em muito apetite sexual; Eu acordava todos os dias as 6:00AM, respirava o sereno da madrugada enquanto relaxava ouvindo meu som favorito: o da cidade. Sinto que em outras vidas eu fui amante do verde, do campo, do som dos pássaros e do sol, no entanto nessa era um prazer acordar e ver a vida de mover depressa diante dos meus olhos. Carros, táxis, pessoas acelerando o passo por conta de seus compromissos. Ouvir o barulho da cidade era como uma meditação para mim. As 6:30AM eu me alongava, tomava um café da manhã bem leve e tomava algumas vitaminas em cápsulas para aguentar o tranco do dia. Ômega 3, um anti inflamatório natural para minhas dores, vitaminas de A a Z, e também cápsulas de guaraná em pó, importadas do Brasil. Um poderoso energético natural e consequentemente, uma fonte fortíssima de doses afrodisíacas.

Quanto mais eu transava, mais tinha energia para transar.

Eu seria julgada em dizer que me senti atraída por ela desde o primeiro dia? Claro, eu não seria doente em dizer que oferecer a mão para ajudá-la foi causado por essas motivações. Ela é um ser humano que precisa de carinho e cuidados também. No entanto não posso e tampouco tenho interesse em ocultar minhas vontades também. Ela é linda, atraente e interessante. Tem um jeito juvenil e divertido que muitas das vezes eu tenho que me controlar para não cair na gargalhada, e sempre quando eu me permito cair é um momento delicioso. Ela tem uns olhos intensos, verdes como uma lagoa misteriosa repleta de segredos e eu me tornaria sua confidente para conhecer cada detalhe deles. Lábios rosados que contrastavam de forma deliciosa naquela pele branca. Pequenas pintinhas na cara, quase imperceptíveis. A pele macia, sobrancelhas grossas que aumentavam sua atitude de menina rebelde.

Céus. Como eu queria que ela acordasse por mais uma horinha apenas. Era tudo o que eu precisava para dormir um pouco satisfeita.

Foram longas semanas a observando em silêncio após aquele beijo. Quando sua boca se encaixou na minha, conheci o céu e o inferno no mesmo instante. A parte física do seu beijo era celestial, doce. Me levava para as alturas. A emocional era quente como o inferno, parecia que ela esperava por aquele momento tanto quanto eu. Qualquer coisa após esse primeiro contato era mínima suficiente para eu imaginar a gente nessa cama, loucas, suadas, gemendo uma para a outra enquanto trocavamos olhares 

Quando sua mão segurava o copo de suco no café da manhã, eu imaginava seus dedos na curva da minha cintura. 

Quando suas mãos agarravam com autoridade uma maçã, minha mente viajava para o momento em que ela fosse tomar minha bunda com a mesma pegada.

Quando seus dedos giravam os botões do controle daquele vídeo game, eu me perguntava se ela tinha a mesma habilidade em me estimular enquanto me fodia por trás com o dildo.

Disposição ela teve até onde seu corpo permitiu, mas confesso que eu aguentava muito mais.

Muito mais.

Só não quero assustar a menina. Foi muita coisa rolando durante uma noite. Preciso pedir para Emma reforçar o café da manhã levá-la ao meu nutricionista para passar vitaminas adequadas para sua idade. Com urgência.

Toquei em sua nuca, fazendo ela se mexer de forma confortável na cama. Respirou tranquila, abriu os olhos por alguns segundos e voltou a dormir relaxada em meus braços. Afastei o cabelo que prendia a visão da parte traseira do seu pescoço. Observei a tatuagem da libélula, delicada, quase escondida. Fechei os olhos e me aproximei, sentindo seu cheiro.

Lauren tinha um cheiro suave naquela área. Livre de perfumes artificiais por conta do banho. O cheiro dela, cheiro de inocência camuflada de rebeldia. Eu via isso de longe.

Apenas uma menina. Ao menos, do meu quarto para fora. Aqui dentro ela vira uma linda mulher.

Se fecho meus olhos, ainda lembro da sensação desesperadora de pensar ter sido assaltada quando eu saía da reunião com o advogado para assinar a guarda compartilhada de Henry. Estava estressada, deprimida e tendo um dia péssimo. Nada pior do que quando o pai do seu filho, o homem que você julgou ser o mais doce do mundo um dia, te expõe de maneira cruel para o profissional responsável por decidir com quem ficaria nosso amor em comum. Mesmo se revelando o próprio diabo quando a raiva o consumia ou quando seu ego lhe era arrancado, eu sempre, sempre, mantive minhas dores com ele longe do nosso filho que não tem culpa em nada em ter pais problemáticos.

Eu estava distraída quando minha bolsa foi tomada de minhas mãos e com o súbito susto, gritei. Apenas uma jovem de cabelos negros que passou por mim num "assalto" mais rápido que presenciei e sofri na vida. Estranhamente divertida, por não querer a bolsa em si. Estava certa, não cabia um mísero dólar ali, mas sua inocência desconhecia o valor da Armani, usada apenas para carregar meus remédios naquele dia. A pequena bolsa voou no rosto do policial. Ela só queria se defender. Demorei a processar tudo o que estava acontecendo e ao vê-la ali, indefesa e encurralada nas mãos dos agentes, algemada como o maior perigo visto na sociedade.

Soube que precisava fazer algo, ou logo o mundo estaria tendo uma segunda eu para demonizar.

Não há nada pior do que o olhar das pessoas quando descobrem suas fraquezas. Lembro de uma vez estar andando na rua, arrependida por ter virado a noite com a oxicodona e caminhei a pé para o centro de recuperação mais próximo. Minha maquiagem estava borrada, cabelo embaraçado e minha roupa social deplorável. Todos que passavam me olhavam com pena, dó, desgosto, nojo.

Eu encarei de pé a face de demônio que haviam me dado, no entanto ainda assim era doloroso.

Era um diamante aquela menina. Ainda sem forma, mas um diamante. Tenho olhos cirúrgicos para perceber isso nas pessoas, e Lauren é alguém especial mesmo que não saiba, sinta ou perceba isso. Mesmo que nas inúmeras vezes refira a si mesma como burra, tola, ignorante quando demora a aprender ou entender as coisas.

— Porra! — se levantou furiosa, chutando a cadeira e indo pra janela. Felizmente o vidro era temperado, caso contrário ela teria se machucado com estilhaços. — Eu não consigo entender como isso funciona. Que merda, que merda! Eles fazem parecer tão simples, mas não é. Esse caralho é complicado feito uma porra. Eu desisto, Camila. Eu desisto!

Respirei fundo e me levantei. Em momentos da minha vida eu reagi como ela. Caí e me reergui com mais cicatrizes. A terapia me ajudou a conter um pouco do demônio que havia adormecido dentro de mim.

— Lauren. — a chamei.

Vi seus ombros ficarem rígidos quando ela me ouviu chamar seu nome. Ela ainda estava de costas olhando alguma coisa no céu.

Apenas um comando errado no Photoshop foi o bastante para ativar sua ira. Apenas uma menina. Eu com vinte anos também reagia assim quando as coisas não davam certo como eu queria. Resquícios da adolescência apenas. Ctrl Z resolveria, no entanto parecia o fim do mundo para ela naquele momento. Ela se cobrava demais e eu tinha que ensinar que não havia necessidade de ser assim.

— Você errou. — eu disse.

— Eu sei que errei, Camila. — se virou impaciente. — E eu não posso nem culpar essa merda de computador, pois é um MacBook de última geração então definitivamente a burrice saiu de mim.

— Você errou algo que está praticando há apenas uma semana. Está tudo bem. Até nós que somos mais velhos nisto erramos as vezes. Você precisa pegar mais leve com você mesma.

— Eu não consigo. Não aceito erros, você está sendo paciente tentando me ensinar, o mínimo que eu deveria fazer era aprender essa porra.

— E você vai. — dei um passo à frente e segurei em suas mãos. — No seu tempo. Todo mundo tem um tempo para aprender alguma coisa. Eu tive o meu também. Sabe o que é difícil? Aprender a andar, a falar. Se você, Deus te livre, sofresse um acidente grave, e tivesse que reaprender a fazer tudo isso que faz com naturalidade, veria o quão difícil é. Isso é apenas bobagem. Se você errou, a gente conserta e faz outra vez. Venha, sente-se aqui e vamos voltar a trabalhar.

Olhando-a dormir eu pergunto a mim mesma quantas vezes na vida ela teve acesso a um lar seguro, a um acolhimento. Quando Henry nasceu, Lauren era apenas uma criança de sete anos que há dois havia ficado órfã por parte de mãe. Apesar dos pesares, das lutas, brigas, do meu vício, meu filho sempre teve a proteção minha e do seu pai acima de qualquer coisa nessa vida. Era irreal acreditar e engolir que muitas pessoas não tinham a mesma coisa.

Que Lauren não teve o mínimo que esperamos para viver seguros.

Daqui em diante ela teria. Eu me sentia conectada a ela, como se em outra vida ela tivesse sido minha proteção. Agora seria diferente.

Enquanto ela estiver disposta a ser ajudada, eu estarei por ela como ninguém esteve por mim um dia.

Precisei lutar sozinha dentro do meu vício. Um marido que nunca me apoiou no meu momento de fraqueza, apenas usava de suas palavras para me fazer sentir pior. Os amigos não culpo, tinham suas vidas e me ajudavam como podiam. A família complicada que fazia meu vício parecer um simples vício de açúcar que se resolveria com uma dieta.

Lembro-me de estar uma vez num estacionamento de um mercado. Com o bolso recheado de pílulas e dopada, enquanto ouvia a música alta do bar ao lado. Eu queria desistir ali. De mim mesma. Literalmente morrer. Se eu conseguisse, perfeito. Caso não, prometi a mim mesma que tentaria renascer toda vez que falhasse falo em diante.

Parei de ter medo das coisas quando me permiti errar.

Eu não morri aquela noite.

Eu renasci, sozinha.

No mesmo estacionamento com o pôr do sol mais belo no horizonte limitado daquela cidade tomada por prédios. Não foi fácil lutar contra minha cabeça, e admito que apenas uma companhia enquanto você aprende a andar outra vez, te faz sentir confiante. Eu não tive isso. Foi eu, por mim mesma.

Lauren não precisaria renascer sozinha.

POV OFF •

Eu estava acabada. 

Literalmente acabada.

Só tinha forças para me perguntar de onde aquela mulher havia tirado tanta energia.

Ainda sobre meu corpo, encaixada a mim, nossos sexos unidos e latejantes se recuperando juntos da sensação arrebatadora e forte. Camila estava quente, molhada, deslizando sobre minha carne pouco a pouco como se quisesse aproveitar os últimos momentos da deliciosa sensação.

— Acho que te devo um pedido de desculpas. — agarrou minha nuca, entrelaçando seus dedos aos meus fios. Selou nossos lábios e respirou fundo, permitindo que eu ouvisse um último gemido. — Você tem uma boceta deliciosa tão deliciosa que…— confessou num sussurro, próxima aos meus lábios. Eu adorava quando ela fazia isso. — Eu precisava sentí-la de todas as formas.

— Não me faz ficar com vontade outra vez. — implorei num fio de voz. — Por favor. Não ache que eu não quero, Camz. — meus olhos de fecharam. — Eu quero muito, só não aguento.

Eu precisaria começar a fazer alguns exercícios se fosse transar com ela outra vez. A conta não batia, era pra eu te dado conta e Camila literalmente acabou comigo num piscar de olhos.

— Ei, minha menina. — Senti seus dedos passarem por minha bochecha num carinho sútil. — Está tudo bem, certo? Vamos para o banheiro. Um banho e eu te deixo dormir tranquila. — meus olhos exaustos piscaram pra ela. A vi sorrir e estender a mão para mim. — Eu prometo. De verdade dessa vez.

Com muita força de contra vontade eu consegui tirar energia para levantar e ser guiada para o banheiro. Meu corpo estava agindo de forma automática, deixando ser cuidado por ela. Minhas pernas estavam trêmulas e fracas e eu temia que elas não me sustentassem. Só lembro de relaxar quando entramos outra vez na hidromassagem. Só meu corpo estava ali. 

Minha alma já tinha ido pra casa do caralho.

Senti uma espuma ser passada contra meu corpo e lembro de um cheiro bom invadir minhas narinas. Ela tocava meu rosto com a água morna também. Eu tentava manter os olhos abertos, mas era impossível. Metade de mim já estava dormindo.

— Pode se vestir e deitar. — ela falou após secar meu rosto com uma toalha macia. — Na minha cama. Você vai dormir comigo, baby.

Eu assenti. Talvez se eu estivesse menos sonolenta pudesse ter respondido algo legal, no entanto não consegui.

Caminhei até a cama e apenas me atirei sobre o colchão macio. Meus lábios estavam secos. Eu precisava beber água já que todo líquido do meu corpo parecia ter saído por minha boceta.

Quando senti suas curvas se acomodarem na cama, ao meu lado, tirei forças do inferno para falar.

— Estou com sede, Camz. — murmurei de olhos fechados.

— Imaginei que estaria. Não prefere se vestir primeiro?

Neguei de olhos fechados. Não tenho forças pra nada, demonia.

— Eu só preciso de água. — minhas palavras saíram soltas por meus lábios.

Espero que ela tenha entendido, caso não iria dormir desidratada mesmo.

Ouvi alguns barulhos no quarto e em seguida senti seu corpo voltar para a cama. Camila pediu que eu abrisse os lábios e senti um canudo de metal se encaixar entre meus dentes. Nem forças para sugar a água eu tinha. Lembro de contar cinco goles generosos. Afastei o canudo da boca usando o resto de energia que minha língua tinha e ela nada mais disse. 

Camila me puxou para seu colo segundos depois. Eu fui de forma automática e relaxei, sentindo o cheiro da sua pele contra meu rosto. Uma ótima forma de adormecer, eu diria.

Abri os olhos vagamente, percebendo o relógio digital em sua cabeceira. Ainda iria dar uma hora da manhã.

Eu precisava começar a fazer mais exercícios. Com urgência.

Que vergonha pra mim!

— No que está pensando?  — a voz dela me arrancou dos pensamentos enquanto eu encarava o monitor do computador.

Estava atrás de mim, no seu setor da agência de publicidade.

Acordar naquele dia havia sido uma missão quase impossível. Se ela gostava tanto de cama poderia ter se dado um dia de folga. A noite anterior deveria contar como hora extra.

— Em nada. — em tudo o que tinha acontecido na noite anterior. — Estava pensando em exatos nada. — me fiz de sonsa.

— Hum. — ela olhou para os lados e voltou a olhar para o monitor junto a mim enquanto se aproximava da minha orelha. — Então, acho que não fui boa o bastante ontem não é? Caso contrário, você estaria pensando no quão delicioso foi eu gozar em você, com você... Pra você.

Fechei os olhos com força ao ouvir aquilo. Diaba.

 — Foi minha parte favorita da noite, sabia? Sua boceta é tão quente e gostosa. Sentir ela deslizar contra a minha me deixou tão molhada. Acho que vou precisar trocar a calcinha no meio do expediente, pois essa já está encharcada.

— Não faça isso.

Minhas unhas arranharam o Mousepad. Implorei quase sem voz para que ela não continuasse com suas provocações. Primeiro que eu nem sequer tinha forças, segundo que estávamos no seu local de trabalho, e terceiro que eu já sentia algo descer em direção a minha calcinha e internamente torcia para estar menstruada. Isso me daria um dias de descanso a mais e outra: qualquer coisa para não estar excitada naquele momento.

— Então me diz, no que estava pensando, baby.

— É óbvio que estava pensando em você. — admiti, com voz firme. — Em nós, Camila. Satisfeita? Que inferno.

Ela soltou um riso próximo a mim. 

— Bom. Muito bom. — respirou de propósito contra minha orelha. — Não vejo a hora de repetir isso, minha menina.

— O que estão fazendo na frente desse monitor parado?

Ouvi a voz de Harry logo atrás de nós. Camila ergueu seu corpo e se virou para ele. Girei a cadeira e para encará-lo também.

— Estava auxiliando Lauren no Illustrator para que ela inicie o curso de design gráfico mais avançada. — respondeu com naturalidade, ajeitando o vestido preto em seu corpo.

Mulher mentirosa e gostosa da porra.

— Eu não estou matriculada num curso de design gráfico. — provoquei. — Não estou sabendo nada sobre isso, Camila.

Ela girou a cabeça lentamente para mim e sorriu de forma imperceptível, arqueando sua sobrancelha pra mim.

— Agora está. Precisamos de mais um social media aqui na agência. — voltou sua atenção para o outro funcionário. — O que aconteceu, Harry? Precisa de alguma coisa?

— Contrato assinado. — Harry entregou alguns papéis em suas mãos. — O dono do aplicativo novo parou de pensar nos prós e contras e nosso pacote o agradou, felizmente.

— Graças a Deus. Estava imaginando quanto tempo mais ele perderia pensando se valeria ou não investir em propagandas.

— E quando começamos?

— Hoje mesmo. Que sirva de exemplo para esse senhor: aqui na agência ninguém perde tempo com nada. Mãos à obra. Ah, após o almoço, é claro. Ninguém aqui é de ferro e Lauren certamente tem muita energia para repor.

— Que isso, o que você aprontou Lauren?

Arqueei a sobrancelha e olhei para Camila que estava atrás de Harry mordendo o cantinho dos seus lábios enquanto olhava para mim.

— Se eu te contasse teria que te matar.

O rapaz de cabelos médios riu e ergueu as mãos, se retirando da sala para ir almoçar com seus outros colegas de trabalho.

Me levantei com os ossos das costas mais crocantes que uma barra de castanhas.

— Minhas amigas vão almoçar comigo hoje.

— Oh! — Camila exclamou, parecia surpresa. — Suas… amigas?

— Sim, você sabe. Aquelas que encontramos no shopping.

— Sei, não é difícil de esquecer da face de cada uma delas e de como me encararam. — ela pareceu ficar pensativa, longe daquele mundo. — E você vai agora?

— Sim. — olhei pela janela do prédio alto. — Inclusive, acabaram de chegar.

Camila olhou junto e recebeu um tchauzinho de Lucy. Arqueei a sobrancelha para aquela talarica dos infernos e ela entendeu meu recado para que parasse imediatamente. A mulher do meu lado envolveu meus ombros com as mãos e falou.

— Eu vou descer com você.

Saímos juntas, em silêncio. Do lado de fora da porta que dividia seu setor, apenas o elevador se abrindo. Entramos no mesmo pé, e nos viramos para a porta ao mesmo tempo. Movemos a mesma mão, e erguemos o mesmo dedo para apertamos o botão do térreo.

— Está me imitando ou inconscientemente sincronizada a mim?

Ela sorriu daquela forma irônica.

Eu te imitando… — resmunguei. — E por que não o contrário?

— Não. A voz da experiência aqui sou eu. — sorriu mais uma vez.

Demonia.

— Outra vez esse negócio de idade? Eu posso ter muita coisa para te ensinar também.

— Oh, e eu não duvido disso. — ela se aproximou, me encostando na parede fria e metálica. — E eu estarei com a mente aberta para ser ensinada.

Camila segurou em meu rosto, unindo nossos lábios e praticamente me roubando um beijo molhado. Respirei fundo quando ela se afastou, incendiada e fraca pelo contato das nossas bocas.

Não apenas a mente. — completou.

Foi tudo o que deu tempo de ouvir antes do elevador se abrir. Camila caminhou na frente e eu fiquei para trás, parada no sensor da porta. Minhas pernas e minha mente conversavam e se questionavam se sabiam os comandos básicos para dar alguns passos até a porta de vidro que dava para o lado externo. Eram só alguns passos e eu já estava tonta. E isso porque, havia sido apenas um beijo.

— Entra no carro, vadia. — Lucy disse quando enfim me viu. — Olá, Dona Camila. Como tem passado?

— Muito bem, obrigada.  — Camila dirigiu seu olhar para mim. — Não vá muito longe, Lauren. Lembre-se que o horário de almoço é de apenas uma hora e meia.

Colocou a mão no bolso da calça e retirou sua carteira. Me entregou duzentos dólares em notas e fechou minha mão sobre a grana.

— Compre alguma coisa para você, meu bem.

— Obrigada. — sorri sem jeito, guardando o dinheiro no bolso.

— Não me agradeça. — tocou meu ombro. — Não assim. — beijou minha bochecha de forma demorada e se afastou, dirigindo o olhar para minhas amigas. — Bom almoço, meninas.

Camila se dirigiu para a agência outra vez, deixando eu e as meninas sozinha do lado de fora. Entrei no carro calada, sentindo três pares de olhos sobre minha carne. E três labios exibindo sorrisos carregados de malícia.

— O que foi? — cruzei as pernas. — Por que estão me olhando dessa forma, caralho? Nunca me viram ou estão cegas? Vão na porra de um oculista.

— Perna cruzada mas, ao menos, temos dois palavrões sujos no meio de uma fala mal humorada. Ainda não perdemos a nossa menina. — Ally brincou.

— E porque me perderiam? — revirei os olhos. — Só porque eu não sento mais de pernas abertas e não uso mais jeans surrado com frequência, não quer dizer que eu não seja a mesma.

— Vestindo roupa de marca, trabalhando num lugar de gente bacana. — Lucy falou enquanto começou a dirigir. — Você está comendo a coroa gostosa, não está? Conta pra gente.

— Eu não vou te responder isso! — protestei, cruzando os braços.

Ela está. — as três responderam em um único som, quase cantarolando.

— Sortuda do caralho. Se me pegam fazendo merda é dez ou doze anos presa, no mínimo. E isso depois de um defensor público reduzir minha pena. — cruzou os braços e me olhou. — Lauren apronta, ganha uma sugar mama e rios de mimos.

— Eu não ganhei uma "sugar mama". — revirou os olhos.

Ganhou sim. — voltaram a responder juntas.

— Ela apenas tem medo que eu saia por aí roubando para comer, por isso me dá dinheiro. — expliquei mesmo sem saber se isso era verdade. — Sei lá, ou que eu sinta falta da adrenalina de correr da polícia e faça merda outra vez.

— Duzentos reais? Fora o cartão black liberado que eu fiquei sabendo que você tem?

— Ally! — bati na loira que esfregou o local.

— Desculpa. Escorregou. — ergueu ombros. — Você sabe que eu não sou fofoqueira, mas deslizou como sabão da minha língua. — respirei fundo. — Vai, o que tem de mal nisso? Vocês estão transando e isso é óbvio, ela é gata, bem educada e te mima com luxo.

Luxo! — Lucy comemorou tirando a mão do volante e erguendo para o céu.

Poder! — Vero fez o mesmo movimento.

— Falta a fama. — Ally me olhou. — Ela é famosa?

— É sim. A famosa coroa gostosa que todo mundo queria ter, inclusive eu. — Lucy voltou a falar, recebendo um olhar negativo de Verônica.

— Não. — revirei os olhos. — É sério, por que vocês mulheres que amam mulheres estão tratando mulheres como um pedaço de carne? Camila é muito mais do que aquele corpo, e principalmente muito mais do que as coisas materiais que me dá. Eu aceito, é claro. Não sou nenhuma idiota e esses duzentos reais ou o boleto do cartão sequer faz diferença pra ela, mas ela não se resume a um banco ambulante de bunda grande. Vocês já foram melhores, meninas.

— Olha ela falando bonito. — Vero continuou. — Estamos brincando, Lauren. No fundo tudo isso é inveja declarada de nós três. Você tirou a sorte grande. Está vivendo o sonho juvenil. Ao menos nos diga, está rolando algo entre vocês mesmo ou é zoeira da Allyson? Quase não nos vemos mais, é injusto que você não nos informe sobre suas aventuras.

Nisso Vero tinha razão. Fazia tempo que elas e eu não tínhamos aquela conversa franca que toda amizade precisa de vez em quando.

— A gente ficou ontem.

As três olharam para mim e sorriram.

— Viu? Só confirmou o que todo mundo sabia. — Ally pronunciou. — E como foi, hein? Acabou com ela?

Corei ao lembrar da verdade. Essa parte eu teria que falar pra tirar o peso da vergonha dos meus ombros.

Euqueestouacabada. — falei numa única frase.

— O que? — perguntaram juntas.

Respirei fundo e aumentei minha voz.

Eu que estou acabada, porra! Satisfeitas? Inferno.

— Lauren? — Vero me encarou.

— Não, sem essa de "Lauren". Aquela mulher não é uma pessoa. É uma máquina de orgasmos. Parece que quanto mais ela goza, mais ela sente tesão. Eu não tô acostumada com isso, tá bom? Parem de me julgar.

— Nossa senhora das calcinhas molhadas. Detalhes, Lauren. Preciso de detalhes. — Lucy continuou. — Você é a única a apreciar tudo aquilo. Tem diferença em transar com uma da nossa idade e uma mais velha?

— Ah, sabe como é… — eu não queria dar tantos detalhes.

— Não, não sei. Ao menos não com uma diferença gritante de idade.

— Camila é madura e vai direto ao ponto no que ela quer. — eu escolhia bem as palavras para não expor a Camz. — Não tem medo de ousar, ser ousada. Ela é espetacular, no entanto acabou comigo. 

— Estamos vendo, você está literalmente acabada.

— Acabada é um apelido suave. Ela me usou de todas as formas possíveis. — bocejei. — Fiz uma coisa que nunca-

Interompi minha própria fala, percebendo a língua grande que eu tinha. Eu deveria aproveitar o cansaço e calar a minha maldita boca também.

Que nunca…? — Ally pediu pra eu prosseguir. — Lauren, Lauren, Lauren… Não minta para mim, você sabe que não consegue.

— Eu não vou falar das coisas que Camila e eu fizemos, porra. — protestei cruzando os braços. — E foram muitas. É tudo o que vou dizer e vocês que se dêem por satisfeitas.

— Aposto que rolou 69. — Verônica sugeriu, rindo pra irritar.

Não!!!! — neguei rápido.

Porque não deu tempo, pensei.

— Ou ela foi totalmente passivinha. — Lucy provocou. — Isso sim seria fantástico. Coroa gostosa fode novinha a noite inteira o título do vídeo.

Muito menos isso. — mas adorei as partes em que eu fui, admito mesmo, foda-se. Ninguém para minhas contas.

Quero dizer, Camila paga então eu talvez só admitiria pra ela.

— Envolveu rabo? — Verônica gargalhou batendo palmas. — Estou brincando, Lauren. Não me mate.

Torci os lábios e abaixei a cabeça, coçando minha nuca. O silêncio que se instalou foi constrangedor. Ficar muda não foi a melhor opção, pois caí na mesma armadilha.

— Lauren? — Ally falou lentamente enquanto todas me olhavam em choque. — Você deu o-

Pelo amor de Deus, não, não e não, tá bom?

Eu praticamente gritei dentro do carro.

— Ela pediu, satisfeitas? Camila é uma mulher experiente como eu disse e não tem medo de nada. É isso que vocês queriam ouvir, caralho? Não me perguntem mais nada em relação a isso. Pois é, eu tive a honra de ter aquela obra de arte em forma de bunda apenas para mim ontem a noite. Que sapatões dos infernos!

— Uau… — Ally soltou após longos segundos em silêncio. — Eu não sou sapatão, mas aprendo mais com vocês do que com as hétero da minha turma.

— Além de ganhar uma coroa gostosa, rica e foguenta, Lauren ganhou um sexo anal na primeira foda. Que mundo injusto. — Lucy estacionou em frente a nossa lanchonete favorita.

O almoço foi tranquilo, e claro, elas tentaram tirar mais palavras da minha boca do que eu falei. Eu apenas contornava a situação, falando o básico. Primeiro, mesmo querendo compartilhar tudo eu queria preservar a intimidade de Camila por duas razões: Em respeito a ela e por que quem comia quieto, almoçava e jantava, e com ela eu tinha direito a repetir a sobremesa. Não seria insana em desperdiçar isso.

Consegui desfocar o holofote da fofoca para o meu lado, questionando a Lucy que carro era aquele na hora da volta.

— Eu comprei, gata. — respondeu dirigindo. — Acha que alguém me dá alguma coisa?

— Comprou como? Com que dinheiro? Até onde eu sei tu é mais fodida que eu.

— Na atual conjuntura eu realmente estou mais fodida que você e infelizmente não da forma que eu gostaria. — riu sozinha. — Mas não se preocupe, foi barato como uma caixa de bombons. É usado, e comprei com desconto de um cara que me devia um favor.

— É um bom carro. — olhei seu interior com mais atenção.

— Você anda de Audi com a coroa gostosa e está sendo modesta chamando meu carro popular de bom carro, no entanto vou aceitar seu elogio. — estacionou feito a cara dela na porta do prédio. — Está entregue, gatinha.

— Muito obrigada. Meninas, foi ótimo almoçar com vocês e muitos beijos. — respondi saindo do carro.

— Você bem que podia emprestar cem dólares pra gente, não? — Verônica colocou metade do corpo pra fora da janela. — Quem dá aos pobres doa pra Deus, não é assim Ally?

Vão se foder! — a baixinha disse enquanto digitava algo no celular. — Eu saí da igreja faz tempo e não quero lembrar desses tempos de repreensão.

— E pra que vocês precisam de cem dólares emprestados? — voltei a atenção para as meninas.

— Eu preciso. — Verônica se corrigiu. — Para resolver algumas coisas.

— Não se meta em problemas, por favor. — coloquei a mão no bolso emprestando os cem. — Que dia eu pego de volta?

— Ela ainda é a mesma. — Verônica riu enquanto olhava pro dólar em sua mão. — Amigos amigos, negócios à parte. Não se preocupe, quando eu tiver eu aviso.

— Estarei esperando sua ligação. — olhei pro meu relógio de pulso. — Merda, estou quase trinta minutos atrasada. Eu vou correr, beijos meninas.

Ouvi elas se despedirem de mim mas só escutava meus sapatos conta o concreto da escada que me dava acesso a portaria. Felizmente, dessa vez sem polícia na minha cola.

— Onde você estava?

Apenas uma mulher extremamente atraente, de trinta e oito anos que me olhava com uma expressão nada alegre no corredor da empresa.

— O elevador acabou de abrir, mulher. Pelo amor de Jesus. — sai da gigante caixa de metal e ela cruzou os braços e deu um passo na minha direção.

— Onde. Você. Estava? — perguntou num tom autoritário, preocupado e pausado.

— Eu estava almoçando. — respondi devagar para que nenhuma palavra se perdesse no meio do caminho.

— Está atrasada.

— Eu sei, me desculpe. — coloquei minhas mãos para trás. — As meninas e eu perdemos a noção da hora. Sabe como é, conversa vem, conversa vai. Refil de refrigerante gratuito.

— Lauren. — a vi fechar os olhos e a medida que respirou, seus ombros foram caindo. — Eu estava andando de um lado para outro nesse corredor imenso imaginando que o pior tivesse acontecido. Cadê o seu celular?

— Está no bolso.

— Te liguei inúmeras vezes. Oh, já sei. Silencioso. O que conversamos sobre isso? Celular no silencioso apenas no ambiente de trabalho. A partir do momento em que você sai por essa porta, eu preciso que você deixe ele no alto para que eu não tenha uma crise ansiosa por não conseguir te encontrar.

Aquilo era sério?

— Calma, vamos lá. — ergui as mãos. — Eu não fiz nada de errado, apenas queria um momento agradável com as minhas amigas. Não precisa me dar bronca dessa forma, eu não sou criança e além disso você já tem um filho.

A questão aqui não é essa.

Ela gritou num sussurro. Olhando para os lados com a mão a cintura.

— Só porque eu paguei a sua fiança não significa que você esteja livre. Não pode sair por aí fazendo o que bem deseja, não se esqueça que o fato de ter sido liberada não anula sua ficha com as autoridades.

— Eu já disse que não fiz nada. — falei de forma pausada para que ela entendesse de uma vez. — Será que você pode focar no fato de que, eu estou aqui, viva, sem nenhum arranhão ou policial me acompanhando? Eu apenas me atrasei. Sim, eu saí quase em cima da hora da lanchonete, mas o trânsito dessa cidade está uma merda. Que perturbação!

— Certo. — respirou fundo outra vez. — Você tem razão. Eu me preocupei, foi apenas isso. Desculpe, Lau.

Sorri, me aproximando um pouco dela. Me atrevi a tocar seu rosto. Camila era alguns centímetros menor que eu, mesmo de salto. Me olhou com aqueles olhos castanhos amendoados como se fosse uma criança de olhos brilhantes.

— Eu aprecio sua preocupação, Camz. — agradeci. Não queria mostrar ingratidão também.

Era bom falar aquilo para sempre ser testemunha da mulher poderosa cair do salto com a face vermelha e desviar o olhar como uma criança.

— Vamos entrar, Lauren. — ela prendia o sorriso nos lábios. Seu rosto estava tão vermelho quanto o batom que usava. — Temos muito trabalho a ser feito.

Entramos juntas e sorri ao vê-la caminhar na frente e murmurar entre risos um "Camz".

Alguém tinha gostado do apelido.

•••

— O aplicativo Reflection foi criado para um público alvo pessoas na faixa de 18 a 55 anos que estão interessadas em conhecer alguém que tenha muitos pontos em comum com ela, quase um reflexo de um espelho mesmo, por isso o nome. — Camila estava de pé, explicando com uma apresentação impressa do autor do aplicativo.

— Eu não sei se ia querer conhecer alguém tão igual a mim. Sou adepta ao bom e velho "os opostos se atraem". — Halsey comentou enquanto rolava uma caneta em seus dedos. — Parece que estou namorando a mim mesma quando a pessoa tem muita coisa em comum.

— Os opostos não se atraem. Se estressam. — resmunguei enquanto fazia rabiscos aleatórios num bloco de notas. Senti os olhares pra mim e ergui a sobrancelha.

— Fala isso com base em alguma experiência? — Camila perguntou em tom profissional, mas sei olhar mostrava que ela estava curiosa também.

— Sim. — ergui os ombros, lembrando de águas passadas. — Eu já namorei por alguns meses uma menina que era totalmente o contrário de mim. Não deu muito certo. Tínhamos alguns pontos em comum, é claro, mas as diferenças foram mais forte. Eu só me estressei no fim das contas.

— Eu concordo com a Lauren, viu. A pessoa não precisa ser seu reflexo em si, mas escolher uma que tenha planos de futuro semelhantes ao seu, culturas, opiniões, ao menos anula um pouco do estresse.

— Voltando. — Camila bateu palma, atraindo nossa atenção outra vez. — Precisamos de uma campanha para as redes sociais. Sabemos que esse tipo de aplicativo não é muito bem aceito quando acontecem propagandas em canais de televisão aberta, por exemplo. E sendo bem sincera, nosso alcance é muito maior na internet. Juvenil, marcante e inovador. Esqueçam tudo o que vocês leram sobre o Tinder, principalmente o deslizar para esquerda ou direta. Precisamos de algo novo no Reflection. Hoje vamos reunir o máximo de ideias possíveis para começarmos a trabalhar. Temos o prazo de três meses. Parece uma longa data, mas não se enganem. Doze semanas passam voando.

Como eu não tinha uma função muito fixa ali, só fazia algo quando eles solicitavam ou precisavam de mim. Como hoje era o dia do "brainstorm", como gostavam de dizer, eu podia ficar no meu canto usando o computador de Camila. Volta e meia alguém falava alguma coisa, no entanto a maior parte do barulho era preenchido por silêncio e som do teclado ou tablet. Ninguém mais parecia usar caneta e papel para fazer suas anotações.

— Esse aplicativo é mesmo bom, admito. Consegui um match e aparentemente tenho um encontro mais tarde com um tal de… Paul. E funciona. É do mesmo ramo que eu, também tem um filho da mesma idade, só é uns anos mais velho.

Arqueei a sobrancelha, fazendo a cadeira rotativa girar lentamente em sua direção. Ela disse com todas as letras a palavra Match?

— E ele é bonito? — Louis quis saber. — Mostra a foto.

Camila virou a tela do celular e exibiu o homem de meia idade na tela do aplicativo de relacionamento com a animação escrito #Match, saltitando na tela. Não pude evitar revirar os olhos e girei a cadeira mais uma vez, abrindo os softwares de edição de foto, que detalhe, eu nem sequer sabia usar. Preguei os fones de ouvido em minhas orelhas, no entanto não conectei nenhuma música para ouvir a discografia da orquestra da palhaçada.

— É, é um velho bem bonito sendo sincero. — Louis riu. — Não acredito que você se cadastrou no aplicativo do nosso cliente, sua louca.

— E por qual razão eu não faria isso? — a olhei de soslaio. Ela tinha voltado a atenção para a tela do celular e cruzado as pernas. — Afinal, há anos eu sou divorciada e prometi a mim mesma fazer o que me desse vontade.

— Seu casamento deve ter dado muito errado para você deixar aquele pedaço de mal caminho pedir o divórcio. — Keana fez uma observação enquanto escolhia alguns vídeos em seu notebook.

Deixei o ouvido mais aberto. Agora o assunto ia ficar mais interessante.

— Bom, ele pediu e eu não insisti. Quando um não quer, dois não brigam. Nossas testas já estavam bem enfeitadas também então manter um casamento não fazia mais sentido. Até me surpreendi por ele ser o primeiro a pedir.

Arqueei a sobrancelha. "Nossas testas"? No plural?

— Como assim nossas? — Harry riu, fazendo a pergunta que eu queria ter feito.

Obrigada, Harry. Obrigada.

— Chifre trocado não dói. — como? — Ele ama usar a metáfora de que vira o diabo pra conseguir o que quer ou defender o que ama. Eu só dei o par de chifres, vermelho ele ficou depois que descobriu que foi com uma de suas amantes na época.

Camila Kahlo Cabello. — Halsey gargalhou, fazendo um trocadilho.

— É uma das razões da Frida ser meu papel de parede. A mulher ainda disse que eu era muito melhor e ah, durava muito mais do que ele entre quatro paredes.

Respirei fundo, apertando o mouse entre minhas mãos. Um mouse da Apple era caro demais para eu quebrar.

— E como ele descobriu?

— Eu peguei a foto do contato dela e enviei pra ele, perguntando se conhecia. Como todo homem safado, negou de imediato. Disse que nunca havia visto mais loira. Em seguida, eu enviei um vídeo meu e dela, na sacada do motel. Sem roupas. Aos beijos.

A sala inteira pareceu comemorar. Menos eu, que me mostrava distraída e sentia meu peito queimar por dentro, como se estivesse inalando fumaça.

— Camila, quero ser como você quando eu crescer. — Harry comemorou.

— Que nada, não me orgulho tanto disso. Só finjo que sim na frente dele. Essa história acabou me igualando ao Tom, e é a última coisa que eu quero.

— Então, você é bissexual? — Halsey perguntou.

— Desde que nasci. Meus olhos brilharam ao ver o médico e a enfermeira.

— Isso é interessante. — Keana brincou, numa falsa provocação. — Sai com colegas de trabalho?

— Só se me prometer que não irá ficar obcecada por mim. — Camila devolveu, em um tom neutro que não me permitia saber se era brincadeira ou não. — Sabe como é, a família Issartel tem uma uma fama de grudar.

Todos riram, menos eu.

Não tinha nenhuma razão para rir naquela merda.

Eu fiquei em silêncio até às quatro horas da tarde, horário que a agência fechava. Camila por diversas vezes perguntou se eu estava bem e eu só concordava com a cabeça, em silêncio.

Alguns podem dizer que era infantilidade da minha parte, no entanto, não.

Eu só estava tentando entender o que estava acontecendo comigo naquele momento. Um chute no estômago era o que eu sentia emocionalmente. Uma raiva que fazia minhas mãos tremerem e a vontade colossal de quebrar todos os computadores daquela sala. Inferno.

Camila foi ao banheiro antes de sair. Eu não sabia se queria dividir um carro naquele silêncio com ela, então apenas desci na frente e chamei um Uber pelo celular, que pela graça de Deus estava na esquina e me pegou rápido.

Isso era Deus agindo para eu não parecer uma grossa tola dentro do carro dela.

Foi melhor assim.

Assim que cheguei, percebi que Henry estava estudando e me praguejei. Camila não costumava interromper quando ele e eu jogávamos, então eu torci para que o moleque estivesse com a cara enfiada na televisão com o volume nas alturas, no entanto não. Estava na mesa da sala, com uma pilha de livros nas mãos acompanhada de uma garota loira de franja que deveria ter sua idade.

Disse boa tarde e fui para a cozinha. Nem Emma estava naquela merda. Nenhum empregado, ninguém. Se eles tivessem algum animal de estimação como um cachorro, eu ficaria latindo pra ele numa tentativa de conversar com qualquer pessoa menos a dona da casa naquele momento.

— O que aconteceu?

No entanto, ela parecia estar bem decidida a conversar comigo. Inferno.

— Nada, por que? — me virei com um copo de abacaxi com hortelã nas mãos. Usei um tom neutro.

Hidratar acalmava o ódio.

— Tem certeza?

— Sim.

Camila encostou na bancada e respirou fundo.

— Olha, se você não quiser conversar, tudo bem. É óbvio que o seu nada é uma lista em ordem alfabética e cronológica de acontecimentos e fatores que te levaram a ficar com a cara emburrada, no entanto eu vou respeitar sua escolha de não me contar. Só não entendi a razão de você vir pra casa sem me esperar, e ainda por cima de carona com um estranho ao invés de vir comigo, uma pessoa que você conhece.

Respirei fundo imitando ela de propósito, atropelada pela quantidade de palavras que saíram daquela boca marcada pelo batom.

— Não aconteceu nada. Só quis te deixar mais livre para o encontro de mais tarde. — soltei metade da bomba e parte do meu peso nos ombros foi embora.

— Você não vai atrapalhar meu encontro de mais tarde. — cruzou os braços. — Arrisco dizer que é exatamente isso que está te incomodando, acertei?

Inferno!

— Óbvio que não, Camila. — me defendi, mesmo sabendo que era mentira. — Pelo amor de Deus, você pode sair com quem quiser. Aliás, nós duas podemos. Não é só porque transamos ontem que temos algum tipo de compromisso.

Suas narinas inflaram ao me ouvir falar isso. Ela quase caiu, mas permaneceu em seu salto.

Exatamente. É a mesma coisa que eu penso.

— E então? — dei um gole no suco e encarei ela.

Camila ergueu os ombros sem entender onde eu queria chegar e repetiu:

— E então?

— Eu vou para o meu quarto. — entreguei o copo vazio em suas mãos. — Vou tomar banho para me esterilizar da rua.

— Agradeço sua compreensão. Se precisar de mim, estarei no meu quarto. Na hidromassagem.

Revirei os olhos abrindo a porta do meu quarto e trancando em seguida.

Na hidromassagem. Tomando um banho longo e especial para sair com um macho de meia tigela que precisa de um aplicativo de merda para se envolver com uma mulher.

Patético.

Me deixe adivinhar. Primeiro, o jantar cafona num restaurante caro e sem sal do centro de Manhattan. Muito vinho branco, elogios, conversas de negócio e se tudo corresse bem até a sobremesa, continuariam na suíte presidencial de algum motel de luxo.

Considerando que ele era homem, e velho, as chances de aguentar a lareira que havia no meio daquelas pernas eram pequenas. Então Camila voltaria para casa assim que possível e as chances de um bloqueio no macho sem sal que aguentou uma rodada e meia, eram bem altas.

Inferno, inferno e inferno.

Por que ela não poderia apenas ficar em casa hoje?

Aliás, que merda eu estou pensando? Ela faz o que ela quiser.

Mas por que ela não faz o que quer comigo?

Mais uma vez, inferno.

•••

Eram por volta das uma da manhã quando eu acordei. Na realidade, me forcei a abrir os olhos e parar de mentir para mim mesma que estava dormindo. A inquietação tomava conta de todo meu corpo. Aquela cama confortável de repente havia virado uma tábua com pregos onde meu corpo não se encaixava de maneira alguma.

Eu não sabia se sentia raiva, angústia ou algum outro sentimento negativo em relação a tudo que tinha acontecido nas últimas horas do dia.

Camila de fato tomou seu banho, deu atenção ao filho e se arrumou demoradamente para um encontro. Estava bela, radiante, uma obra de arte de tão gostosa. Cabelo preso num belo coque, vestido de mangas longas, tamanho médio e um decote comportado. Um colar de brilhantes no pescoço.

Mulher linda da porra. E cheirosa. Ela parecia ter quebrado sua própria regra do perfume pois estava com um cheiro divino que marcou a casa inteira.

Respirei fundo, apertando meus próprios cabelos na raiz antes de me sentar na cama e acender o abajur. Bufei feito um touro para me acalmar.

Respira.

Respira.

Respira.

Levantei. Tinha sede, precisava beber água pois agora meu corpo era 70 por cento mau humor.

Cheguei à cozinha e enchi um copo no filtro. Gelada para acalmar a lava que havia se formado em meu peito. Ouvi a porta da sala se abrir enquanto eu dava o último gole.

Me movi silenciosa para a direção do barulho. A porta se fechou com força e os bips da fechadura eletrônica pareciam estar em looping. Quem quer que fosse, e eu esperava que fosse Camila, não estava acertando a senha de acesso. Um longo e irritante som após errar a senha.

Me aproximei, percebendo que as curvas presentes na porta eram dela. Felizmente ela havia chegado e felizmente, sozinha. Seus dedos continuaram a tentar digitar o código de acesso para trancar a casa. Ou ela estava bêbada ou havia caído em tentação outra vez para não acertar os números daquela forma.

Eu pedi a Deus que fosse a primeira opção. Apenas bêbada. Só bêbada.

— Camila? — a chamei, esperançosa em ouvir uma língua enrolada e um cheiro de vinho.

Ela se virou pra mim, ofegante, com uma face dolente.

— Dezesseis de dezembro. — disse num fio de voz.

— O que? — não sei se havia entendido.

— Digita a senha pra mim, Lau. 1612.

Quando suas mãos trêmulas tocaram o interruptor, alimentando com luz o ambiente eu percebi que algo ali estava muito errado. Seus braços estavam arranhados, com marcas vermelhas de unha e até alguns fios finos e superficiais de sangue. Me aproximei desesperada, buscando entender o que havia dado errado naquela noite.

— O que aconteceu? — toquei seus ombros. — Ele te feriu? Não diga que ele tocou em você sem seu consentimento senão eu o caço em qualquer buraco que tenha se escondido e vou pra cadeia com gosto por isso.

— Não. — negou com rapidez. Percebi que ela tinha os olhos molhados de lágrima. — Ele não fez nada. Ninguém fez.

Silenciei meus lábios esperando pelo mínimo de lógica naquilo tudo. Camila se apoiou em meus ombros, apertando minha carne. Segurei sua cintura pois o peso do seu corpo estava sobre minhas mãos. Digitei a senha, trancando a casa e ativando os alarmes de segurança.

A levei para o sofá, onde percebi que ela iniciou um choro baixo, cansado e até tímido. Parecia tentar se controlar para não desabar na minha frente. Seu corpo se desvencilhou do meu, caindo sobre o estofado.

Ela não estava bem. Isso era contra todas as regras dela de higiene.

— Eu preciso que você vá até o armário da cozinha e ache os comprimidos do rótulo azul. Rótulo azul, não se esqueça.

— Certo. — assenti. — Que remédios são esse e para que servem?

— Não é morfina. — respirou fundo. — Nem oxicodona. É o remédio que eu posso tomar.

Entreabri os lábios para perguntar, mas a resposta chegou antes.

— Sim. Eu estou numa crise crônica agora. Não sei o que aconteceu, eu só preciso dos meus remédios agora. — sua face se contorceu em uma nova onda de pranto. — Por favor, Lauren…

Assenti. Assustada, amedrontada e com vontade de abraçá-la. Beijei sua mão e tirei os saltos de seus pés, esticando bem suas pernas no sofá. Fui até a cozinha, abrindo com pressa todos os armários e pegando o remédio com rótulo azul. Haviam muitos vídeos e parecia ser de uma farmácia manipulada, pois a dose era bem forte. Enchi um copo com água e peguei um de seus canudos metálicos. Andei depressa para a sala. Ela usava a costa da mão para poder enxugar as lágrimas.

— Aqui está, Camz.

Com as mãos trêmulas, ela abriu um vidro e pegou duas cápsulas. Eu achei muito para as gramas de remédio, no entanto confiava que ela sabia o que estava fazendo. 

Ela tomou os remédios e respirou fundo inúmeras vezes, se controlando. Quando abriu os olhos, encontrou os meus amedrontados e preocupados com toda aquela situação. Eu não sabia se estava fazendo o certo em ficar ali parada, ou se deveria fazer mais.

— Fique calma. — pediu, quase num sussurro.

— Por que sua crise atacou?

Ela negou, dando mais um gole na água.

— Nunca saberei, minha menina. Às vezes eu estou bem e essa dor me pega de surpresa. A última crise que tive foi há três ou quatro meses, não me lembro.

— Eu posso fazer alguma coisa para te ajudar?

A minha pergunta pareceu ter dado um choque de surpresa nela. Em meio a dor, ainda conseguiu ter forças para sorrir. Camila estendeu a mão e quando coloquei a minha por cima, ela apertou num movimento de cumplicidade para que eu não a deixasse sozinha.

A mulher de muitas palavras estava com um olhar acanhado, lábios parados e em silêncio tentando dizer pra mim com aquele toque de mãos para que eu não a deixasse sozinha naquela noite. E eu não deixaria. 

Assim como um dia eu estava passando pelo inferno e ela estendeu sua mão, era minha vez de fazer o mesmo.

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Não sei quando eu volto, mas volto. ❤️

 


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