Lauren Anderson
Depois de colocar um pijama, apaguei a luz e deitei na cama.
Não conseguia parar de pensar no que o pai do Daniel conversaria com ele. Quer dizer, eles não tinham um bom relacionamento e se as coisas ficarem sérias.
Suspirei.
Me remexi na cama várias vezes, até encontrar uma posição confortável. Fechei meus olhos e não demorou muito para que o sono viesse. Estava quase adormecendo quando ouço leves batidas em minha janela.
Abri os olhos e olhei para a cortina que cobria a visão do outro lado.
Ouvi mais três toques e me sentei, assustada.
E se fosse um ladrão?
Não, que besteira. Que ladrão iria bater na minha janela?
Mais toques foram ouvidos até que eu tivesse a coragem de me levantar para olhar do que se tratava.
Respirei fundo, contei até três e puxei a cortina. Arregalei os olhos e abri a janela rapidamente.
- Daniel, o que você está fazendo aqui? - Perguntei incrédula ao vê-lo em cima da escada de ferro do meu pai.
- Oi, Lau... - Ele disse sem muito ânimo. - Será que eu posso entrar?
Olhei-o confusa pela sua aparição repentina. Graças a luz da lua que brilhava no céu estrelado atrás dele, pude ver sua expressão, mesmo que com pouca nitidez.
Soube nesse exato momento que a conversa não tinha acabado bem.
Dei espaço e o ajudei a entrar.
Seu olho machucado ainda estava roxo, mas tinha algo diferente neles. Estavam avermelhados e inchados, como se ele tivesse chorado há pouco tempo.
Meu coração apertou-se. Nunca achei que o veria assim. Daniel nunca demonstrou abertamente o que ele sentia, sempre guardava tudo para si.
- Você está bem? - Perguntei enquanto via ele sentar-se em minha cama com o olhar fixo no chão.
Ele não me respondeu, então sentei ao seu lado. Eu estava realmente preocupada, ele não parecia nada bem.
- O que aconteceu? - Perguntei com a esperança de que ele começasse a falar, mas ele continuou quieto.
Comecei a ficar nervosa.
Ele mexeu sua mão direita e pude ver que tinha um corte. Ainda sangrava, mas ele não parecia importar-se.
Engoli seco com o coração acelerado.
- Onde você se machucou? Como que você fez isso? - Me levantei e peguei a minha bolsa de primeiros socorros.
Ele continuou quieto até que eu voltasse. Peguei o álcool setenta e limpei o local do corte.
- Foi no bar. - Ele falou e o olhei de imediato.
Enfaixei sua mão e sentei ao seu lado novamente.
- Por que você estava bebendo? O que aconteceu? - Peguei em seu rosto e fiz com que ele olhasse em meus olhos.
- Meu pai quer que eu trabalhe nos sábados para compensar os dias que eu faltar por conta do trabalho de história. - Suspirou. - Eu tentei falar com ele que não sobraria tempo para estudar nem descansar, mas ele não liga.
Eu não sabia o que dizer.
Ele parecia tão cansado, tão exausto psicologicamente. Aquele Daniel, na minha frente, era totalmente diferente do garoto que eu costumava conhecer.
- Eu não aguento mais... - Ele murmurou. - Tudo que eu faço é para agradar a eles e nada é suficiente. Só lembram de mim quando veem que não estou cumprindo com os meus deveres. Faça isso, faça aquilo... - Desabafou enquanto olhava para o fundo do quarto.
Um bolo formou-se em minha garganta quando vi seus olhos marejarem.
Eu não conseguia imaginar o quanto devia ser ruim viver em uma casa em que você não recebe amor, carinho e atenção. Apenas ordens e reprovação.
- Eu não sou um filho, sou um servo. - Murmutou, por fim.
Me aproximei dele e o abracei. Ele não se moveu por alguns instantes, mas logo entregou-se ao meu abraço.
Mesmo com o cheiro horrível de álcool que queimava minhas narinas, não me afastei. Sei que ele precisava daquilo no momento, mesmo que provavelmente não se lembrasse de muita coisa pela manhã.
- Eu sinto muito por isso. - Sussurrei.
Ele balançou a cabeça e desvencilhou-se do meu abraço.
- Desculpa por invadir o seu quarto. - Ele disse olhando para o chão. - Eu estou um pouco bêbado.
Ri com o nariz.
- Tudo bem. Você pode me retribuir depois.
- Com um beijo. - Riu e eu o olhei incrédula.
- Quem disse que eu quero um beijo seu? - Fiz careta.
- Todas querem. - Deu de ombros, convencido.
Revirei os olhos, mas não pude deixar de gargalhar.
- Eu vou dormir aqui, está bem? - Ele disse e deitou-se na minha cama. - Olha, estrelas! - Disse admirado com as estrelas florescentes do meu teto.
E agora? Como eu ia levá-lo para casa?
- Daniel, você não pode dormir aqui. Se meus pais descobrirem, eles me matam! - Ri.
- Como você pegou essas estrelas do céu? - Ele perguntou, me ignorando.
Gargalhei.
- São de mentira, seu idiota. - Me deitei ao seu lado.
Se ele saísse amanhã bem cedo, talvez, ninguém perceba.
- Ei... - Ele me chamou e eu o olhei. - Vai pra sua cama. - Ele me empurrou.
- Você que está na minha cama. - gargalhei.
- Invejosa. - Fez careta e virou de costas para mim.
Balancei a cabeça, rindo e em seguida ouvi sua respiração pesar ao meu lado. Tinha caído no sono.
Como que poderia alguém que eu desgostava tanto até três anos atrás, tornar-se alguém da qual gosto de ter a companhia?
Hoje, eu finalmente entendi: Daniel não era tão difícil de lidar, apenas precisava sentir-se acolhido por alguém.
Fiquei observando sua mansidão ao dormir por um tempo até sentir meus olhos pesarem.
Abri meus olhos com dificuldade. A claridade que vinha da janela e invadia todo o quarto me fez lembrar da noite de ontem. Olhei para o lado e lá estava ele, dormindo como um anjo. Me levantei devagar, peguei meu celular para ver a hora e me assustei. Sete e meia da manhã e meus pais acordavam as oito.
- Daniel! - Murmurei tentando acorda-lo. - Daniel, acorda, você precisa ir embora! - O cutuquei.
Cinco segundos depois ele abriu os olhos.
- Lauren? - Sua voz saiu rouca e um estranho arrepio percorreu minha espinha. - O que está fazendo no meu quarto? Ai, minha cabeça dói... - Massageou as temporas de olhos fechados.
Ri.
- Na verdade, você quem está no meu quarto. - Disse um pouco sem graça.
Ele olhou para mim com os olhos arregalados e sentou-se abruptamente, olhando as coisas ao seu redor.
- Eu... nós... O que eu estou fazendo aqui? - Ele perguntou atordoado.
Gargalhei.
- Depois da discussão com o seu pai, você foi para um bar, bebeu bastante e apareceu aqui na minha janela. - Expliquei e ele piscou, atônito. - Você não se lembra de nada?
- Só de ter entrado no bar. - Suspirou. - O que eu disse quando cheguei aqui? - Perguntou apreensivo.
- Você falou como se sentia. - Respondi e ele arregalou os olhos.
- C-como assim? - Gaguejou.
- Por causa da discussão, você estava muito mal e desabafou comigo. - Sorri sem graça.
Ele suspirou aliviado. Do que ele estava com tanto medo?
- Ah, entendi... - Sorriu torto. - Desculpa por isso. - Passou a mão no cabelo e suas bochechas pareciam um pouco coradas.
Confesso que lhe deu um charme a mais.
- Tudo bem. Fiquei feliz que você optou por pedir ajuda. - Sorri. - Guardar as coisas para si mesmo não faz bem.
Ele assentiu e olhou para sua mão.
- O que foi isso? - Ele perguntou sobre a faixa que estava enrolada nela.
- Você se machucou no bar, não falou como. - Ri.
- Acho que foi com uma garrafa, algo assim. Eu lembro de ter quebrado alguma coisa por causa da raiva. - Passou a mão na nuca.
Ficamos em silêncio por um momento e ele sorriu olhando para o quarto.
- O que foi? - Perguntei.
- Está exatamente como eu me lembrava. Até as estrelas continuam lá. - Apontou para o teto.
- Ontem você achou que elas eram de verdade. - Ri.
- Eu dei muito trabalho, né?! - Coçou a cabeça, constrangido.
- Até que não. Tirando o fato de que você achou que estava na sua cama e me empurrou para fora dela. - Gargalhei e ele me acompanhou.
- Obrigado. - Disse assim que paramos de rir. - Eu realmente estava esgotado. - Murmurou sem me olhar.
- Pode contar comigo. - Sorri e nossos olhares encontraram-se e custei a quebrar o contato. - Agora, vaza. Meus pais daqui a pouco acordam.
Empurrei-o da cama e ele levantou-se rindo.
- Delicada como uma mula. - Ironizou enquanto passava para o outro lado da janela.
- Não esqueça de trocar o curativo das mãos e colocar gelo no olho de novo. - Sussurrei enquanto ele descia as escadas. - Ah, compre um remédio para a ressaca, também. Você está com a cara péssima. - Ri e ele fez careta.
- Sim, senhora. - Zombou e eu revirei os olhos. Ele acenou e foi embora para casa.
Suspirei.
Foi por pouco.
Olá, olá!
Olha como eu nem demorei para postar um novo? A disciplina de milhões 😎
E aí, o que vocês acharam desse capítulo? Esses dois são uns piticos mesmo, né :3
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