OUTSIDER

By Thsiol

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A jovem Lauren está prestes a ir presa, quando uma mulher mais velha e com excelentes condições lhe faz uma p... More

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By Thsiol

Tô passada, chocada!

Vocês gostaram mesmo do capítulo piloto, ein.

E estão sedentas por uma Camila de 38 bancando tudo pra vocês. Afinal, quem não? Vou deixar mais uma manipzinha pq essa coroa merece ser apreciada mais vezes.

Sei que não parece que tem muita diferença, e a intenção foi essa. Eu só amadureci alguns sinais.


Esse capítulo eu dedico a minha leitora linda EU_DEUS. Que foi a que mais me apoiou e atentou o caralho da porra do meu juízo pra eu postar essa buceta logo. ❤️🥰

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Quando eu abri meus olhos naquela manhã, minha mente demorou a entender que eu não estava naquele quartinho barato que meus amigos conseguiram para mim por apenas cinquenta dólares por mês. O lugar não tinha odor de mofo, tampouco a umidade que me fazia espirrar assim que abria os olhos. O ar era puro, o aroma era de limpeza e aquela cama definitivamente não era o colchão doado no qual eu tinha os piores pesadelos possíveis. Minhas costas até dormiam por eu não estar acostumada com algo daquele padrão.

Se continuasse assim eu iria me acostumar a uma vida de princesa. Uma princesa sem reino, mas ainda sim uma princesa. Com licença.

Me levantei de forma preguiçosa. Bocejei enquanto alongava meus braços. O pijama que a madame ricaça havia me dado tinha um tecido geladinho que foi responsável por me dar um sono dos deuses também. Um shortinho de seda egípcia e uma blusa de mangas com botões do mesmo tecido. Não que eu entendesse dessas frescuras, mas foi impossível não ler o rótulo da caixa que ela veio me entregar.

Eu nunca iria entender as razões que levam uma pessoa a comprar pijama de grife. Acho que eu não faria isso nem se fosse a mulher mais rica da terra.

Olhei no espelho em frente ao pequeno guarda-roupas que havia no quarto. Até minha face estava melhor. O banho ontem havia limpado todos os meus pecados como cidadã e julgo dizer que havia dado uma geral na minha ficha da polícia também. Também, era de se esperar visto que os produtos que ela havia me dado eram de marcas que eu nem sabia pronunciar. Até um pequeno vidro de perfume Camila deixou pra mim e tinha um cheiro delicioso de baunilha.

E por falar em cheiro maravilhoso, tudo começa pela boca. Ri sozinha ao caminhar para o banheiro e apanhei a pasta. Molhei a escova que havia vindo junto com kit de higiene básica que ela me deu e apliquei um pouco de creme dental, iniciando minha higiene bucal. Modéstia a parte, meu sorriso era a minha parte preferida em mim, mesmo que as pessoas só elogiassem os olhos verdes estampados na minha cara. Eu cuidava muito bem desses dentes. Antigamente foi motivo de muita piada e bullying, mas aprendi a amá-los com o tempo e isso começava com uma boa escovação para começar o dia e não ser responsável pelo assassinato de alguém por conta do meu hálito.

Enquanto a escova se movia de um lado para o outro em minha boca, eu percebi as gavetas embaixo da pia. Arqueei a sobrancelha, bastante curiosa.

Se aquele tecnicamente era o meu quarto, então tecnicamente eu poderia abrir as gavetas. Dei de ombros e abri a primeira. Não continha nada demais, apenas um vidro cheio de algodão, cotonetes, esparadrapos e absorventes. Kit de primeiros socorros também. Abri a segunda gaveta e as coisas começaram a melhorar. Alguns rolos de papéis higiênicos extras. Nada melhor do que não passar sufoco quando o rolo que estava no uso acabasse. Na terceira e última gaveta encontrei um pequeno secador e algumas escovas de cabelo. Eu me perguntava se havia isso em todo quarto de hóspedes. Vai ver que Camila é dona de uma rede de hotéis e por isso se preocupa com essas coisas. Se esse fosse o caso, talvez não fosse abuso da minha parte pedir um chocolate no travesseiro ou um serviço de café na cama.

Que seja!

Tecnicamente eu posso usar esse secador que está no banheiro técnico do meu quarto técnico.

Terminei a escovação e tirei a roupa, ansiosa para cair de cabeça naquele chuveiro gostoso. A ducha parecia massagear a minha pele. Ajustei no morno e entrei, fechando os olhos e soltando um gemido satisfatório. A água morna, corrente e relaxante não se comparava à água pingada e gelada que tinha no quarto da república compartilhada.

Usei e abusei dos produtos que Camila havia me dado. Eu não tinha lavado o cabelo no dia anterior por já estar tarde, mas dessa vez apliquei tanto produto que senti até minhas ideias se renovarem pela espuma massagear meu cérebro. Meu cabelo derreteu em minhas mãos, num sentido bom. Excelente, na verdade. Li o rótulo do shampoo, e não entendi metade dos ingredientes, mas o que deu pra compreender me dizia que era algo natural. O cheiro parecia de cereja, e era muito, muito bom. Se eu pudesse comer meus próprios fios, faria.

O banho foi tomado e bem aproveitado. Penteei meu cabelo antes de ligar o secador. Tenho que secar essa merda.

Quando saí do banheiro enrolada em um dos roupões, me assustei ao ver a roupa na qual eu cheguei dobrada, limpa e passada em cima da minha cama que estava arrumada. Olhei em volta e estava sozinha no quarto. Quando foi que alguém entrou para tirá-las e deixá-las outra vez e ainda teve o trabalho de esticar os lençóis?

Eu não fazia ideia, de qualquer forma fiz o sinal da cruz só para garantir. Aquela casa além de parecer não habituada, agora parecia mal assombrada.

Vesti a roupa. Minha calça preta, justa e rasgada parecia até outra. A camiseta do Ramones tinha a barra das mangas dobradas. A pessoa que havia feito isso era atenta aos detalhes. A ricaça tinha cara de que não lavava uma taça para compartilhar o vinho com Jesus, então eu tinha minhas dúvidas se ela foi a pessoa a fazer isso. Com certeza a segunda opção.

Voltei ao banheiro e apliquei um pouco do perfume. Agora eu parecia até gente. Meu estômago roncou alto enquanto eu me olhava no espelho. Espero que a dona tenha alguns ovos para eu fritar. Recusar comida por vergonha foi a pior decisão que eu cometi ontem ao chegar. Dormir com o estômago reclamando não é nada bom, ainda mais sabendo que era possível que eu estivesse numa casa com a geladeira recheada das coisas mais deliciosas do mundo.

Saí do quarto, encontrando aquele extenso corredor outra vez. Eu esperava não me perder. Siga a intuição, Lauren. Era só seguir a intuição. Eu virei na primeira porta onde meu coração bateu mais forte e percebi que estava na cozinha. Uma senhora elegante estava de costas, dando instruções a uma moça que cozinhava. Quando a senhora percebeu minha presença, sorriu e se aproximou de mim.

— Você deve ser a Lauren, amiga da Camila. — estendeu a mão para mim.

É, podemos dizer que sim… eu acho. Grandes amigas salvam as outras de irem para a cadeia.

— Sim, se não mudaram meu nome enquanto eu dormia eu continuo sendo a Lauren. — ela riu do meu comentário, o que me fez simpatizar com ela. — E a senhora, como se chama?

— Eu me chamo Emma. Sou a governanta da casa.

— Governanta? — eu jamais tinha ouvido aquele termo na vida. — E o que  faz exatamente?

— Eu cuido dessa casa como se fosse a minha. Guio os empregados da semana, separo as contas, cuido da lista de compras e quando posso ajudo nas tarefas também.

— Oh! — eu nem sabia que aquela profissão existia. — Interessante. Minha roupa está lavada. Foi você quem lavou ou ordenou alguém pra isso?

— Normalmente a lavadeira da casa faria isso, mas ela está de folga hoje e Camila me pediu para fazer. Há algo que não lhe agradou?

Bom… — como eu ia falar aquilo? — Nenhuma estranha lavou minha calcinha. Isso me envergonha um pouco, sendo bem sincera, mas vou deixar isso pra lá porque eu nem te conheço mas estamos bem íntimas agora.

Eu estava constrangida, no entanto aquela senhora parecia se divertir com a situação.

— Não se preocupe com isso. Esqueça essa vergonha, eu também sou mulher então tranquilize sua mente. Você é uma menina bem limpinha, se é o que está te preocupando.

Assenti constrangida e aliviada ao mesmo tempo, sabendo que toda vez que olhasse em seus olhos eu saberia que ela lavou minha calcinha. 

— Camila está te esperando na sala de jantar. É só atravessar essa porta e virar a primeira à esquerda.

Eu precisava lembrar de comprar um GPS para andar nessa cobertura colossal.

Dei meus passos, chegando à sala de jantar. Camila estava distraída com um iPad na mão, e só percebeu minha presença quando eu dei pequenos pigarros para ela tirar os olhos daquele troço.

— Lauren, bom dia. Estou feliz que tenha acordado. — sorriu educada e apagou a tela do aparelho. — Como passou a noite?

— Muito bem. — Me aproximei um pouco tímida. — Na verdade, foi a melhor noite que tive esse ano, dormi como uma pedra.

— Fico feliz em saber que está se sentindo confortável. — olhou para a mesa. — Se sente por favor, e coma. Você deve estar faminta. Não quis comer nada quando chegou.

Querer eu quis, dona. Eu estava com vergonha.

Olhei para a mesa e fiquei espantada pela quantidade de alimentos. Haviam três tipos de suco, café, leite, bolos, pães frescos, Donuts caseiros e até biscoitos. Sem contar as frutas, os frios e o creme de avelã e geleia de frutas.

— Não é melhor esperar as outras pessoas?

— Que outras pessoas…? — Camila arqueou a sobrancelha se mostrando confusa. — Certo, eu entendi que exagerei. Normalmente quando estou sozinha a mesa é bem menor.

Me sentei, concordando com o que ela falava. Peguei um copo e me servi com um suco de abacaxi com hortelã que parecia estar maravilhoso só de olhar. E não só parecia, como estava. O primeiro gole fez eu me sentir hidratada outra vez, parecia o gosto do céu em minha boca. Não lembro quando foi a última vez que eu provei um suco natural da fruta.

— Pedi para fazerem essa mesa especialmente para você, então não faça desfeita de nada e coma a vontade. Você vai precisar de energia para o que faremos daqui a pouco.

Tossi o suco sentindo um pouco do líquido entrar em meus pulmões. Camila me olhou assustada enquanto eu me recuperava da crise de tosse.

— Está tudo bem?

O que faremos daqui a pouco? — arqueei a sobrancelha, curiosa. 

Se eu tivesse que pagar essa estadia com a porta dos fundos eu sairia correndo pela mesma que entrei. Maldita quinta série que ainda habitava em mim e só aparecia nos piores momentos.

Compras? — ela respondeu em tom de pergunta, levando sua xícara de café na boca. — Já se esqueceu, Lauren? O que mais seria?

— Eu havia… — busquei as palavras. — Bom, eu tinha me esquecido disso 

— Tudo bem, é completamente normal. Ontem você acordou e não imaginaria que estaria aqui na casa de uma estranha, vou pegar leve. — seu tom de voz apesar de sério, no fundo tinha ar de quem se divertia. — Quero dizer, não quero que me veja como uma estranha e sim como uma amiga se preferir.

Concordei em silêncio e peguei um prato. Espero que ela não me ache uma morta de fome, embora eu seja. Peguei duas fatias de pão e recheei com queijo e presunto. Separei algumas frutas e começamos a comer juntas. Ela havia voltado sua atenção para seu iPad. Não dava para ver de onde eu estava, mas volta e meia digitava alguma coisa com a ponta dos dedos enquanto mastigava seus morangos. Ela deveria trabalhar em algo bem importante por estar tão concentrada na tela daquele aparelho de um centímetros de finura.

Hoje ela estava num visual mais despojado. Usava uma calça preta social da cor azul marinho, uma blusa branca que deixava à mostra sua barriga. Ela era uma mulher bem conservada para quem tinha trinta e oito. Ou talvez eu estivesse acabada demais para vinte.

— Desculpe. — ela percebeu que eu estava olhando para ela e apagou a tela do aparelho outra vez. — Eu normalmente considero refeições momentos sagrados e distrações assim não fazem parte do meu dia. Meu trabalho às vezes exige muito de mim e eu preciso fazer duas coisas ao mesmo tempo.

— Tudo bem, não se preocupe. — Não havia razões para que ela se explicasse para mim, afinal a casa era dela. — Desculpa a pergunta, mas com o que você trabalha?

— Eu trabalho com-

Quando ela ia completar a frase, o toque estridente do seu celular cortou sua fala e ela pediu "um instante" com as mãos. Olhou para a tela e deu um sorriso que fez com que seus olhos brilhassem.

Oi, meu amor. — se levantou, caminhando para longe, especificamente para a janela grande da sala de jantar. — Sim, eu disse que seu vôo seria pela parte da manhã, mas eu não poderia te buscar então remarquei para um pouco mais tarde. Eu sei que você está frustrado, querido. Não, eu entendo mas… — pude ouvi-la respirar fundo, mesmo de longe com seu tom de voz baixo. — Prometo te recompensar por isso, tudo bem? Está com saudades? É bom ouvir isso… Arrume suas coisas e aguarde, são apenas algumas horas até estarmos juntos. Tá bom, até mais tarde e não se esqueça do quanto eu amo você.

Eu não sabia se era certo ficar prestando atenção enquanto ela falava no telefone com o marido, e de fato não era, mas mesmo assim fiquei olhando. Ela estava de costas para mim, olhando para o horizonte na janela grande ao qual estava de frente. Seus ombros caíram quando a ligação foi desligada e pude jurar ouvir um suspiro escapar da sua boca. Quando ela se virou, notei que tinha os olhos brilhando, me arrisco dizer marejados. Eu entendia zero ou quase nada de casamentos já que minha única referência disso havia sido o fiasco dos meus pais, porém parecia que ela não estava muito feliz em seu matrimônio.

— Eu… — buscou ar antes de falar, pousando as mãos nas costas da cadeira que estava sentada. — Eu irei no meu quarto pegar meus cartões, termine de comer e em seguida sairemos tudo bem?

— Sim senhora.

Ela assentiu em silêncio e foi em direção ao seu quarto, me deixando sozinha naquela mesa farta. Me servi com um pouco de café com leite para dar uma energia extra. Há anos eu não sabia o que era fazer compras pois todas as minhas roupas eu pegava das minhas amigas então as chances de eu me cansar eram gigantescas. A madame falou pra eu ficar a vontade e assim eu fiz.

Pão com geleia de framboesa e manteiga e amendoim, com um fio de creme de avelã para dar aquela incrementada. Frutas com mel, e algumas castanhas trituradas. Deus, que ela continue servindo esse café digno de confeitaria de luxo. Eu fiz cada mistura que esperava que meu estômago não reclamasse no meio da rua.

— Podemos ir?

Ela chegou de repente e me olhou com sobrancelhas franzidas, talvez internamente se divertindo com a bagunça que eu tinha feito na mesa.

— Oh! — sorri sem graça. — Desculpa.

— Por que está me pedindo desculpas?

— Por… — bebi um pouco do suco de abacaxi, pois estava entalada com o pão, queijo e presunto. — Essa bagunça. Estava tudo delicioso e como você disse pra eu ficar a vontade…

Camila riu e passou a mão em seus cabelos, deixando o rosto mais livre. A bicha era linda, convenhamos.

— Não peça desculpas. Essa mesa costuma estar apenas com algumas torradas, frutas e café preto toda manhã e eu mal tenho tempo para aproveitar. É bom ver ela colorida e o fato de você não ter feito desfeita me deixa muito feliz.

— Oh, então que bom que não está me achando uma desesperada morta. — ela fechou os olhos tentando não comigo. — Meu estômago está até alto, parece que eu estou grávida de uns três meses, mas você vai entender quando provar essa torrada com queijo e geleia de pimenta.

Peguei a torrada do meu prato e a ofereci a ela. No começo fez uma cara curiosa e quase relutou em pegar.

Queijo e geleia de pimenta? — arqueou as sobrancelhas. — Em todos os meus anos de vida nunca pensei em misturar isso. É bom?

— Confia em mim, é mais gostoso que sexo.

Camila arregalou os olhos e prendeu outro riso. Fiquei olhando em expectativa para seus lábios, vendo ela aproximar a torrada com um misto de receio e ansiedade. A boca carnuda se abriu levemente encaixando o pão com uma fatia de queijo branco e geleia de pimenta. Ouvi um longo barulho de algo crocante e ela fechou os olhos quando começou a mastigar. Gemeu baixo, apreciando o sabor daquilo que eu havia descoberto numa larica do caralho, e então levou a boca outra vez, dando outra mordida.

— Meu Deus… — ela murmurou abrindo os olhos vagamente. — Isso é realmente melhor que sexo.

— Eu não disse? — gargalhei. — Eu não quero ser uma abusada em pedir nada pois você já está me dando mais do que eu julgo merecer, mas por favor não deixe essa geleia de pimenta faltar.

Camila dessa vez riu em alto tom, pegando um guardanapo de pano e limpando os cantos dos lábios.

— Não se preocupe, quando eu passar na feira artesanal e comprarei o estoque, você acaba de me viciar também. — levou sua xícara até os lábios, dando o último gole no seu café. — Agora vamos, temos muitas lojas para ir.

Descemos juntas em seu elevador privado. O Audi A5 da cor preta estava no mesmo lugar que ela havia deitado no fim da tarde de ontem. Desbloqueou pela chave e entrou pela porta do motorista. Eu sentei ao seu lado em silêncio enquanto ela dirigia para a rua.

Ontem eu acordei faminta e me perguntando como eu tiraria dinheiro do inferno para me alimentar e hoje estou saindo de uma cobertura, que fica num condomínio de luxo, com um carro mais caro que meus dois rins e uma madame rica e gata, convenhamos, me levando para fazer compras.

Acho que meus dias de luta haviam chegado e eu aproveitaria cada minuto.

Ela dirigiu por algumas ruas e atravessou uma grande avenida que nos levou para o Manhattan West Shopping, nada mais nada menos que o shopping mais requintado da região. Eu não fazia ideia de que lugar aquela mulher tinha saído, só torcia para eu não acordar naquele quarto mofado quando o sonho estivesse na melhor parte.

Uau

Não pude deixar de falar quando sai do carro, olhando para o shopping a poucos metros de mim.

— Nunca veio aqui? — ela questionou ao meu lado quando começamos a caminhar.

— Eu nunca sequer senti o cheiro desse lugar. — ela riu do meu comentário.

— É um shopping como qualquer outro se você olhar bem.

— Não, não é. As pessoas estão parecendo que vão para um jantar de negócios, todas bem vestidas e elegantes. E eu com essa camisa furada. Não vão me deixar entrar.

— Vão. — olhou pra mim, bem confiante do que havia dito. — Estou aqui para cuidar de você.

Eu não sabia definir o efeito que aquela frase havia causado em mim. Bom, ruim, neutro… Nunca tive ninguém para ser minha fortaleza, mesmo que isso se aplicasse a um período temporário. Sempre fui sozinha. Me virei sozinha. E agora ela dizia que cuidaria de mim. E ela estava, realmente. No entanto, mesmo com seus cuidados eu ainda era olhada com desdém por alguns casais de ricaços que passavam por nós, por conta da diferença de roupas que vestimos. Uma coisa que eu jamais entenderia era as razões pelas quais as pessoas se sentiam superiores por usarem tecidos com grifes bordadas. Camila mantinha a pose séria enquanto caminhávamos, trocando olhares  com qualquer um que me fitasse atravessado. Olhando sempre na altura dos seus olhos, nem mais, nem menos.

Ela conseguia ser elegante até quando queria ser imponente.

— Tem umas roupas muito bregas aqui. — comentei olhando as vitrines. — Quem pagaria seis mil verdinhas num vestido feio desses? O pano parece que pinica até a bunda.

— Você achou feio? — parou do meu meu lado e encarou a peça. — Acho que ficaria lindo em você. Não num dia comum, é claro. Numa ocasião especial.

— Eu não sei. É muito simples, não tem nada de "especial" para custar tudo isso.

— Então me diga, odeia vestidos? Qual é o seu estilo? — ela quis saber.

— Não odeio vestidos. Apenas não sei como usá-los. Meu estilo é usar o que for confortável. E vestidos não me deixam livres como eu gosto de ser.

Camila levou a mão ao queixo, se afastou de mim por uns centímetros e me analisou minuciosamente enquanto murmurava consigo mesma. Aqueles olhos castanhos pareciam me ler como se eu fosse um código de barras.

— Despojado e informal.

Arqueei a sobrancelha.

O que?

— Seu estilo. Despojado e informal. Você é adepta ao conforto e todos os seus benefícios. Não me leve a mal, eu amo tudo o que seja confortável, mas conforto não precisa ser o oposto de… pegar qualquer roupa no armário e se vestir. Tudo bem que isso também tem a ver com a idade.

— Você não acha que está querendo saber demais não? — cruzei os braços. — Nem sequer me conhece.

Ela voltou a encarar minha roupa com a mão do queixo.

— All Star é confortável e combina com quase tudo, mas não precisa ser usado em tudo que combina. Sua calça justa realça seu corpo, mas em algumas situações pode passar a imagem de uma adolescente de colegial, fase que você já passou há algum tempo. Camisa de banda, ótimo pra ficar em casa e assistir um filme ou ir para a praça com os amigos pra na volta sujar de sorvete, no entanto eu não usaria como um uniforme. Ler suas roupas é o bastante para que eu te conheça.

— Falou tudo isso pra no fim me chamar de cafona?

— Não lhe chamei de cafona, por favor não se ofenda. É só que… Há formas de ser despojada e informal sem estar aparentando que tem quinze anos. Se você fosse minha filha, aposto como ia ter uma placa de "não entre" na porta do seu quarto.

— Se eu tivesse uma mãe como você, que acha que roupa define alguma coisa, certamente. Então se algo acontecer comigo por eu usar um decote a culpa é minha por estar me vestindo com sensualidade?

Por favor. — pediu calma com as mãos. — Eu não quis dizer isso e peço desculpas se de alguma forma pareceu. Eu apenas quero dizer que nossas roupas são as nossas apresentações para o mundo de fora. Eu também amo calças rasgadas e coladas, um tênis básico e até mesmo uma camisa de banda, inclusive eu também amo Ramones, no entanto sei quando e como usar. Acredite, Lauren. Temos mais em comum do que você pensa. O fato de eu eu não usar jeans rasgados todos os dias não me faz uma louca por etiqueta da moda.

Torci os lábios. Ela parecia ter autoridade no assunto, e já que estava disposta a abrir o bolso, eu estaria disposta a abrir a mente e aceitar suas sugestões também.

— Tudo bem, e o que você recomenda pra mim? — Me dei por vencida.

— Bom, isso você precisa me dizer. Só sei que você tem vinte anos, gosta de rock e andar fora da lei, mas que tipo de impressão você quer passar as pessoas?

Cruzei meus braços pensando naquela pergunta. Eu cresci praticamente sozinha, portanto tudo o que eu sempre quis era passar uma autoridade de "Não mexa comigo que eu não mexo com você."

— Não sei, eu gosto de me sentir poderosa com minhas roupas. Não como uma madame ricaça que salva jovens da cadeia… Sem ofensas. — torci os lábios. — Gosto de me sentir ousada e alternativa. É, é isso.

— Isso é bom. Há muitas lojas que podem atender seu desejo. — sorriu pensativa. — Sei que você é jovem e que nossos gostos são muito descoincidentes, mas quero saber se você aceita sugestões. Vou respeitar sua personalidade assim como também incluir novos visuais para você, afinal nunca se sabe quando você precisará usar um vestido.

— Tudo bem, eu aceito. Só não quero me sentir uma velha.

— Tem alguma coisa contra mulheres mais velhas? — sua sobrancelha se arqueou num ponto alto quando ela fez essa pergunta.

Talvez eu devesse aprender a calar a porra da minha boca.

Não, eu definitivamente não tenho nada contra.

Eu estava perplexa com o preço daquelas roupas. Embora simples e com peças semelhantes em outra loja popular no centro de Manhattan, cada peça me fazia pensar em como esse mundo era desigual. Claro, eu não queria tirar o mérito da dona Camila por poder usufruir de um cartão de crédito sem ter que se preocupar com o boleto no fim do mês, mas havia outra parte minha que martelava que apenas uma peça daquela me alimentaria fácil por três meses.

Na primeira loja que ela me levou, deixou que eu escolhesse tudo. De primeira eu escolhi apenas um jeans rasgado que custava um rim, uma blusa branca de manga sem estampa que só pra olhar eu tinha que deixar o olho esquerdo como garantia, e um coturno com um salto pequeno que por céus… Ali deveria ser um par de pulmões. Ela insistiu para que eu pegasse mais, e mesmo sem graça fiz. Meus olhos brilharam na jaqueta de couro preta numa arara no meio da loja. Eu lembro de ter assistido Grease e me apaixonado por jaquetas de couro, mas nunca pude pagar por uma.

— Você sabe que pode pegar mais coisas, não sabe?

— Senhora, só aqui tem o suficiente para alimentar quatro famílias no Brooklin.

Camila riu, e negou com a cabeça.

— Não se preocupe, eu não sou uma ricaça fútil que só quer encher o guarda-roupa com artigos de luxo. Minha filantropia eu resolvo de outra forma. Agora venha, ficar nua não vai ajudar ninguém.

Ela me guiou pela loja e foi pegando várias camisas e colocando na caixa de acrílico preta. Blusas, calças de todos os estilos jovens, tênis.

Em seguida, fomos para uma loja mais formal e séria. Mesmo ela falando o quanto era importante ter peças como aquela no guarda-roupa, eu já tinha concordado de imediato por me simpatizar com boa parte. As roupas eram sim mais comportadas e formais, no entanto eram lindas também. Blusas sociais, blazers, calças de alfaiataria, mocassins. Acho que eu poderia me acostumar com isso.

Por último e não menos importante, fomos a uma loja de lingeries. Era o que mais precisava sabendo que a que eu estava usando no momento era minha única peça disponível. Ela comprou um kit, uns quinze pares de lingerie. Achei um tremendo absurdo, mas ela argumentou dizendo que:

"Calcinha não é apenas uma peça que você veste para cobrir com outra. É sempre bom ter a calcinha certa para a ocasião certa."

Coitado do marido dessa mulher. Na segunda-feira, cueca cinza para combinar com o dia internacional da preguiça. Aos fins de semana uma cueca vermelha colada para tentar animar o sexo que deveria estar entediante. Será que nas quartas ele usava uma samba canção rosa?

— Isso foi muito, muito divertido mesmo. — eu caminhava ao seu lado na saída do shopping. — Você comprou tanta coisa e ainda me levou para almoçar. Nunca vou poder pagar por isso.

— Quando você puder pagar, faça por outra pessoa, não por mim. Se todo mundo que tem mais condições fizesse algo assim o mundo talvez estivesse mais leve.

— Eu concordo. — olhei as bolsas que eu carregava. — São tantas coisas. Tem tanto dinheiro dentro dessas sacolas. Jamais imaginei que teria roupas tão boas assim. Vou usar até elas criarem buracos pra valer cada centavo.

Camila riu.

— Aprenda uma coisa sobre o dinheiro desde já. Você o domina, não o contrário. É apenas uma nota de papel que vem e vai, e quando vem você precisa fazer um bom uso.

— É fácil pra você. — franzi minhas sobrancelhas. — No meu caso o dinheiro nunca vem e quando vem eu nem percebo quando vai.

— Vai vir quando eu te ensinar tudo o que eu sei. Te levarei para trabalhar comigo qualquer dia e você entenderá como o mundo funciona.

— Afinal, com o que você trabalha? Não me disse pela manhã pois seu celular tocou.

— Sim, realmente. — ela se lembrou. — Eu trabalho em uma-

— Lauren? — a voz familiar quando chegamos na área externa do shopping chamou minha atenção.

Lucy, Vero e Ally estavam juntas e se aproximaram às pressas quando me viram. Elas eram minhas melhores amigas.

— Hey, meninas. O que estão fazendo por aqui? — perguntei com um sorriso. Estava feliz por vê-las.

— Estamos procurando algum lugar barato pra comer. — Vero respondeu e olhou para a Camila, que estava parada atrás de mim. — É essa dona aí, é tua tia?

Franzi os lábios e olhei de soslaio para Camila que manteve a pose do seu corpo ereta.

— Não. Bom, essa é a Camila. — me virei para a madame que tinha um olhar analítico para as três. — Camila, essas são Ally, Lucy e Verônica. Minhas amigas.

— É um prazer conhecer vocês, meninas. — cumprimentou num tom neutro, porém educado.

— O prazer é todo meu, Camila. Acredite. — Lucy sorriu de lado e levou um empurrão sutil de Ally. Ela não mudaria nunca em querer flertar com quem visse pela frente.

— E por onde você passou a noite, Mila? — Ally perguntou com o olhar brilhante. — Fiquei preocupada, você nunca some sem dar notícias.

Eu estou… — tinha medo que elas entendessem tudo errado, então eu tentava buscar as palavras corretas para explicar minha situação. — Bom, aconteceram umas merdas, daí Camila está me… Camila e eu, é complicado…

— O que a Lauren está tentando dizer, é que ela está morando comigo. Na minha casa.

— Espera, e de onde vocês se conhecem? — Vero perguntou desconfiada. — Lauren nunca falou sobre você.

Camila arqueou sua sobrancelha e entreabriu os lábios, soltando uma risada seca.

— Então estamos num belo empate, jovem. Lauren também não me falou absolutamente nada sobre você.

Lucy e Ally riram bem atrás, tirando Verônica da pose.

— Isso é real mesmo? Você tipo assim, saiu para ir a padaria e não voltou. E quando te encontro você está morando com uma mulher que nenhuma das suas amigas viu na vida. — Lucy completou. — O que você mais esconde da gente?

— Não estou escondendo nada, caralho. Eu me meti em uma situação complicada. — respirei fundo, lembrando da péssima decisão do dia anterior. — Camila está me ajudando desde então.

É, estamos vendo como. — Verônica observou as bolsas que tínhamos em mãos. — Num passe de mágica você saiu de gata borralheira para princesa de contos de fada onde a fada madrinha é doce como açúcar.

— Podemos focar no fato que nossa amiga está bem, com vida e principalmente segura? Que bom que está bem, Mila. — Ally falou, se aproximando e me dando um abraço. — Não se esqueça da gente, viu? Seu quarto está te esperando do jeitinho que você deixou. Não sei que merda que você se meteu, mas eu te amo mesmo assim. Mesmo com medo as vezes.

Sorri, deixando um beijo na testa de Ally. Entre as três, ela era a que eu tinha mais afeto apesar de gostar igualmente de todas. Ela era carinhosa e se comportava como minha irmã mais velha.

— Obrigada, meninas. Eu preciso ir agora, mas pode deixar que eu não vou esquecer de vocês. E não esqueçam de mim por favor. Vocês são muito importantes para mim.

Sobre os olhos curiosos das minhas amigas, eu entrei no carro com Camila, que estava em completo silêncio. Aquele encontro havia sido constrangedor e eu esperava que ela não mudasse a imagem que estava tendo de mim por conta da atitude das meninas.

— Elas são muito amigas minhas. — tentei cortar o silêncio.

Ouvi uma curta risada nasal.

— Você quis dizer "ela", não é? Porque existem duas ali que podem ser suas colegas, mas amigas… ah, isso não.

Franzi as sobrancelhas. Confesso que estava me incomodando a forma que ela falava, como se pudesse escanear as pessoas e saber tudo sobre cada uma.

— Sobre quem está falando? — eu já desconfiava, mas mesmo assim perguntei.

— A loira baixinha. — me olhou por alguns segundos, concentrada no volante. — Ela é sua amiga. As outras duas eu não diria a mesma coisa.

— E você as conhece? — protestei. — A Ally só é mais carinhosa. Você não pode julgar quem quiser quando quiser.

— Não, mas a primeira impressão é a que fica. A loira pequena foi a única que demonstrou estar preocupada com você e apenas com você. As outras duas fizeram piadas em torno do que viram.

— É apenas o jeito delas. Você nunca foi jovem na sua vida?

— Oh, com certeza e por isso mesmo estou te aconselhando que filtre melhor suas amizades. Vai me agradecer por isso um dia. Nem todo mundo que anda contigo é seu amigo, Lauren.

— Eu não sei o que você pensa que viu, mas não pode julgar as pessoas por dois minutos de conversa. Talvez se você as conhecesse mais…

A vi apertar as mãos no voltante quando tomou a palavra.

— Lauren, eu não estou julgando ninguém. Não sou Deus, tampouco uma juíza para tal função. Apesar de nova, você é adulta e sabe o que faz, no entanto ainda não aprendeu que nem todo mundo que te abraça é seu amigo e é essa a tecla que eu estava tentando bater. Fique tranquila, tudo bem? Com o passar dos anos você aprende a selecionar melhor suas amizades.

— Você não sabe o que fala.

— E você não sabe o que vê. O que essas duas meninas fazem da vida?

Ah, merda…

— Ah, bom… — cruzei os braços. Esperava que ela não colocasse defeitos. —  Verônica largou a faculdade e agora trabalha por conta própria com Lucy que está quase trancando o curso também.

Vi suas sobrancelhas se erguerem pelo retrovisor e um som nasal indecifrável tomou conta do ambiente por milésimos de segundo.

— E a loirinha baixinha?

— Ally está quase terminando a faculdade de psicologia. — Entendi onde ela queria me levar. — Está medindo minhas amizades pelo grau acadêmico? Se alguém tem um diploma presta, se não tem é um demônio que deve ser extinguido da sociedade?

Não. — respondeu ofendida. — É apenas uma curiosidade. Quando eu estudava muitas pessoas eram completos imbecis. Estudos acadêmicos hoje em dia não são referência de nada. Podem ser apenas ignorantes com boas referências.

Aquela conversa estava me deixando mais confusa que o normal. E não precisavam de muito para me deixar confusa.

— Então eu continuo sem entender nada. — fui sincera.

— Lauren, apenas vamos mudar de assunto. Acho que eu falei demais e isso realmente não é o certo e eu peço desculpas, não sou desse jeito sempre. Mesmo assim, fique de olho aberto. Pode ter sido sim uma impressão errada, ainda assim um cuidado extra nunca é demais.

Eu nada mais disse, porém fiquei intrigada com aquela observação repentina que Vero e Lucy. Certo, eu conhecia Ally desde mais nova e ela conseguiu um quarto para mim na República da faculdade desde que minha situação apertou de forma drástica. Verônica e Lucy eu acabei conhecendo depois, e elas viraram amigas da minha baixinha também e mesmo com alguns vacilos tínhamos uma amizade bem equilibrada… Mesmo com altos e baixos.

Quando chegamos a casa de Camila, ela foi para o seu quarto diretamente para tomar um banho e se higienizar da rua. Ela parecia ser bem rígida com isso. Eu fiz o mesmo. O banho havia se tornado um dos melhores momentos de estar naquela casa e eu só estava vivendo lá por dois dias. Vesti uma das roupas que ela havia comprado pra mim. Um short de alfaiataria da cor verde militar com uma blusa branca de mangas curtas. Eu estava simples, confortável e ainda sim muito elegante. Era obrigada a concordar com ela. Nem sempre apenas o jeans é sinônimo de conforto e simplicidade.

Quando saí do quarto, encontrei na sala de estar Camila junto a delegada Hamilton e sua fiel braço direito. As três mulheres olharam pra mim de imediato, o que fez com que eu me sentisse muito sem jeito e sentimentalmente nua sob aqueles três olhares analíticos.

— Oh, desculpe. — pedi, com ânsia de querer sair logo dali e voltar no mesmo pé para meu quarto. — Não sabia que tinha visita, eu estarei no quarto de precisarem de alguma coi-

— Lauren, espere. A delegada Hamilton veio ver você.

Eu me virei com um sorriso amarelo, sob o olhar curioso da doutora-gata-Normani.

— Eu juro que dessa vez eu não fiz nada. — falei assim que consegui soltar o ar dos pulmões. — Eu só estava tomando banho e… foi pelo secador? Camila, ele estava no banheiro então eu achei que pudesse usar pois você disse pra eu me sentir à vontade ou, ou… e ah, essas roupas aqui eu ganhei de presente. Não saqueei nenhuma loja se é o que estão pensando.

— Lauren? Por favor, se acalme. — A delegada pediu, fazendo também um gesto com as mãos. — Só vim visitar a minha amiga da adolescência e saber como você tem se comportado. Não estou em função de trabalho aqui.

Ela tinha me visto ontem na delegacia. Me parecia muito cedo para querer monitorar meu comportamento, então fazia sentido que sua visita fosse só pra passar o olho em mim. Mesmo que eu tivesse pensado em fazer alguma besteira, ela nem sequer havia me dado tempo para pensar em concluir o ato.

— Agora me conte, está tudo bem? Tem se alimentado?

— Eu estou… bem. — respondi. — Tenho de tudo aqui.

— Vejo que tem roupas novas. Camila comprou para você? — a loira perguntou.

— Sim, fizemos algumas compras hoje. — olhei para mim mesma, observando as roupas em meu corpo. Não faria mal se eu pegasse um sol as vezes.

— Viu, amor. Eu disse que no fim ela ficaria bem.

Amor?

A delegada havia chamado a agente loira de "amor"?

— Vocês… — apontei para as duas um pouco confusa. — Meu Deus, vocês são um casal. — tudo pareceu de iluminar dentro de mim.

Eu era uma estúpida por não ter enxergado aquilo antes, puta que me pariu.

— Você não sabia que Normani e Dinah eram casadas? — Camila me perguntou incrédula e usando um tom divertido.

— Não. Eu já havia visto elas juntas nas minhas idas à delegacia, no entanto sei lá, achei que eram apenas amigas mesmo.

— E isso te incomoda de alguma forma? — a loira que eu descobri se chamar Dinah me perguntou na defensiva. — Duas mulheres apaixonadas, num relacionamento.

— Não. — logo a mim, quis rir. — É apenas uma surpresa mesmo. Deve ser osso trabalhar com sua esposa e ter que obedecer todas as ordens dela. 


— Oh, menina… Isso não é nenhum problema. — Dinah falou lentamente enquanto olhava de maneira suspeita para a esposa. — Mas não te julgo por não entender. É muito novinha, um dia aprende.

Eu odiava o fato de sempre me sentir uma adolescente quando interagia com elas. Elas eram apenas dezessete, dezoito anos mais velhas que eu, que diferença isso tinha? Eu sabia de muita coisa também.

— Certo, eu vou voltar para meu quarto que ganho mais. — informei revirando os olhos. — Não vou atrapalhar a reunião de vocês… Ah, Camila, será que eu posso pegar algo para comer na cozinha?

— Eu vou com você. — ela respondeu se levantando.

Assenti e ela caminhou em minha direção. Camila agora usava um vestido azul marinho com linhas de giz, pouco decotado, que ia até seu joelho. Entramos na cozinha juntas e ela olhou em volta verificando se tudo estava em ordem.

— Escute. — pediu minha atencão. — Você não precisa me pedir permissão para comer. Se está com fome, venha e se sirva o quanto achar necessário. Sinta-se à vontade.

— Eu estou tentando. — Coloquei as mãos no bolso do short, sem jeito por toda aquela liberdade. — Só que ainda sim fico com vergonha. Não quero que você pense que eu estou roubando ou algo assim.

— Você nunca mais vai precisar roubar pra comer, está me ouvindo? — sua mão tocou em meu ombro e seus olhos se mantiveram firmes nos meus. — Você pode comer tudo o que tiver nesta casa, quando tiver vontade.

Sorri agradecida, e faminta também.

— Obrigada, Camila.

— Não me agradeça, por favor. — pediu de forma carinhosa. — Eu vou sair, creio que estarei de volta na hora do jantar ou de tudo der certo, antes.

— Você vai me deixar aqui sozinha? — arregalei os olhos.

Só de pensar em mim naquela cobertura imensa completamente sozinha, a ideia me assustava pra um caralho.

— Você não está sozinha. Emma está no quarto, se precisar de alguma coisa não hesite em chamá-la. — ela pegou um copo no armário e colocou no filtro de água para enchê-lo. — Como eu disse, não vou demorar então não há razões para ter medo.

— E você vai sair com a delegada e a policial?

— Não. — respondeu depois de dar o primeiro gole em sua água. — Preciso buscar o Henry no aeroporto.

— Henry? Oh… — lembrei do telefonema mais cedo. — Desculpa a pergunta Camila, mas você já falou pro seu esposo que quando ele entrar por aquela porta haverá uma estranha dentro da casa dele? Não sei se isso vai agradar muito o cara não, viu. Não sou de arrumar problema pro relacionamento alheio e nem quero fazer isso outra vez.

Camila sorriu enquanto dava o último gole na água. Se aproximou da pia e lavou o copo com a bucha e o colocou para secar.

— Henry não é meu marido, Lauren. É meu filho.

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Só estou mimando vocês porque vocês me surpreenderam com a quantidade de visualização e comentários.

Estou muito grata por escrever essa última mini fic.

Não se preocupe, logo vocês poderão comprar livros físicos meus com casais de mulheres. 🏳️‍🌈

Ah, lembrando que agora eu estou trabalhando. Se eu demorar, não ameacem comer meu figado.

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Minhas redes sociais: @thaynasiol

Até breve ❤️

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