OUTSIDER

بواسطة Thsiol

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A jovem Lauren está prestes a ir presa, quando uma mulher mais velha e com excelentes condições lhe faz uma p... المزيد

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بواسطة Thsiol

Boa noite gente, voltei.

Dizendo oi, mas já me despedindo. Essa será minha última fanfic (pretendo ir pros livros físicos, então podem começar a me bancar).

Essa história aqui eu tive a ideia com muitas outras ideias misturadas.

Lauren é mais nova. Camila mais velha.

Uma fanfic que abordará SUGAR MAMA. Então, quem não curte, não leia ;)

As idades são bem distintas, então deixo as fotos. Manipulei a da Camila no Photoshop.

Sim, Camila é uma COROA bem gostosa.

Quem não gosta de diferença de idade, repito: não leia.

Enfim, vamos pra fic.

Quem quiser comentar no twitter, usa a Hastag: #OutsiderCS

Meu twitter/insta: @thaynasiol

Na mídia tem o trailer da fic.

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Quando meus pés entraram em atrito com o asfalto e meu rosto sentiu o ar gelado por conta da velocidade que minhas pernas alcançaram, pude perceber naquele instante que a escolha de entrar naquela padaria havia sido a pior do meu dia.

Eu conseguia ouvir as botas dos policiais se chocarem contra o chão, e cada vez eu sentia o cheiro deles mais perto de mim. Tomei um impulso, inalando todo oxigênio que podia estocar dentro dos meus pulmões enquanto mastigava o último pedaço de Donuts com creme de frutas vermelhas.

Cortei a primeira rua que vi, atraindo a atenção dos demais e costurando as pessoas para que esse movimento atrasasse um pouco os passos dos policiais.

E funcionou. Virei vagamente a cabeça percebendo que nossos corpos haviam se distanciado mais. Coisa um e coisa dois, eu os chamei mentalmente. Teria que ser ligeira, pois o primeiro era dono de um corpo atlético, mas se tudo fosse como estava nos meus planos, logo o coisa dois se cansaria, pois de longe dava para sentir o cheiro de açúcar de confeiteiro e uma vida nada ativa em relação a exercícios físicos.

O sinal fechou, permitindo que eu conseguisse atravessar em segurança a Avenida 27, a mais movimentada de Manhattan. Pulei um táxi amarelo, onde o dono do veículo me xingou aos berros pela marca que meus All Stars deixaram na lataria do veículo. Talvez isso o incentivasse a limpar o carro com mais frequência, pois pra ficar sujo precisava ficar muito limpo ainda.

A fachada de uma loja espelhada me deu a visão que eu tinha conseguido me afastar mais ainda, mas para o meu azar, minhas pernas me levaram para uma maldita rua sem saída. Travei meus pés no chão por instantes, olhando para o lado como um gato sorrateiro pensando na única escolha que eu teria. O policial coisa um estava se aproximando sozinho como previa, e foi então que eu percebi a madame totalmente a mercê do que acontecia ao seu redor, parada em frente seu Audi com uma cara nada alegre no telefone. Ela estava usando um vestido vermelho colado ao seu corpo, e à medida que eu me aproximava, notei que ela era alguns centímetros mais baixa, então seria como pegar doce de uma criança indefesa.

Peguei sua bolsa, atraindo uma atenção assustada de sua parte. Meu propósito não era assaltar a ricaça, e sim usar aquele material de tecido aveludado para ganhar mais tempo. Então eu fiz. A mulher gritou buscando ajuda do policial, é claro. Encostou na lataria do carro como se isso fosse a proteger de algum perigo. O policial coisa um gritou algumas ordens mas tudo o que fiz foi atirar a bolsa, mirando com maestria em seu rosto. Ele parou com o impacto, dando três passos para trás pelo peso que atingiu seu nariz, o que me deu dois segundos de risada pela cara inesperada que o imbecil de farda fez, mas minha alegria foi cortada pelos grandes braços que me agarraram por trás.

Olhei pra cima e bufei irritada por ver o coisa dois com uma cara orgulhosa, parecendo ter capturado o maior pedófilo procurado pela Interpol, no entanto o inútil só havia pego alguém que tinha saído de uma padaria sem pagar as rosquinhas.

O coisa um era atlético e poderia me perseguir por quilômetros sem que lhe faltasse ar, mas o coisa dois sabia usar a estratégia ao seu favor e puta que pariu, quem conhecia as vielas de Manhattan daquela forma?

— Acho que acabou pra você, garotinha. — O coisa dois disse. Ouvi as algemas prenderem meus pulsos e logo o coisa um se aproximou de mim. — Eu disse que daria certo. Manhattan tem muitos becos, parece um jogo de tabuleiro em formato de labirinto.

— Tá feliz pelo seu Xeque-Mate, grande filho da puta? — rosnei, virando meu rosto para ele.

— Se não quer adicionar mais uma delito em sua ficha, melhor parar por aqui. — o coisa um disse.

Logo ouvi o barulho que mais desprezava na face da terra. A sirene do carro da polícia. Eu não acreditava que depois de tudo iria presa por um pedaço de massa recheada com um buraco no meio. Se me contassem isso eu pelo menos teria ido assaltar um banco, seria menos vergonhoso.

— Dona, eu sinto muito pelo ocorrido. — a mulher se aproximou e o policial coisa um entregou a bolsa de veludo em suas mãos.

Era só ter um corpo atraente, uma vida visivelmente confortável que esses inúteis trancavam as pregas por não saber se estavam falando com uma dona rica que acabara de trair seu marido, ou com uma desembargadora poderosa. Patéticos.

— Tudo bem, não foi nada. — ela falou como se realmente não fosse. Quem via acreditava que ela não tinha gritado como uma hiena pelo susto que causei.

Tinha a voz suave e aveludada, porém bem confiante.

— Duas ocorrências em menos de dez minutos, mocinha. Acho que se a gente procurar aparece mais.

— Dois é uma porra!!!! — gritei no rosto do coisa dois. — Acha que essa bolsinha cabe algum mísero dólar? Não quis roubar essa senhora aí não, caralho. Era só pra afastar vocês, bando de urubus de farda, nacionalistas de merda.

Ohhhhh, não quis? É uma pena. Terá que explicar isso para as autoridades. Dona, terá que nos acompanhar por gentileza. Sentimos muito por todo esse transtorno e tentaremos ser o mais breve possível.

— Eu? — a voz suave da dama de vermelho perguntou. Ela ainda usava óculos escuros, mesmo naquele tempo nublado. — Não compreendo. Eu recuperei minha bolsa.

— A senhora foi testemunha. Precisaremos do seu depoimento e também poderá abrir um boletim de ocorrência sobre o furto ao qual foi vítima. Se contarmos com seu testemunho essa menina vai passar um bom tempo sossegada onde vai aprender a ser gente.

— Eu não roubei essa mulher. Vocês não vão adicionar isso na minha ficha, porra!

— Isso quem vai determinar são as palavras da dona…

— Camila Cabello.

Ela respondeu tirando seus óculos e nos observando de forma curiosa, de cima a baixo e com uma pitada de imponência. Era bonita, tinha os olhos grandes e amendoados, castanhos brilhantes e uma beleza latina de arrancar aplausos. Puta merda, ein…

— Essa jovem já está detida, senhora Cabello, no entanto sua palavra é válida para nos ajudar a mantê-la onde deve estar. A delegada Hamilton vai resolver tudo e te colocar no eixo.

A mulher e eu trocamos olhares silenciosos. Ela parecia pensativa, e então vi um sorriso sutil brotar em seus lábios. Ela mordeu a ponta do seu óculos escuro antes de colocá-lo de volta no rosto e concordou com a fala do policial.

Inferno!

Delegada Hamilton… — a madame dizia enquanto sorria de lado. — Eu vou à delegacia. — quando voltou a abrir a boca, falou essa merda que com certeza era a afirmação de que eu me foderia ainda mais. — Logo atrás, em meu carro.

Mordi meus lábios com força, controlando minha vontade de xingar aquela madame pomposa que usaria todos seus meios para me afundar na lama da prisão. Os policiais me levaram para a viatura, e eu a vi olhar mais uma vez para mim antes de entrar em seu carro que parecia ser lavado três vezes ao dia. Franzi minhas narinas, raivosa e senti o veículo se mover a caminho da delegacia de Manhattan.

E em poucos minutos, lá estava eu naquele caralho outra vez.

Tudo bem que eu não era nenhuma santa, mas precisavam me tratar como se eu fosse um perigo incontrolável para a sociedade?

Isso tudo por conta de alguns Donuts recheados que pra falar a verdade nem estavam tão frescos assim. Pessoas roubam milhões nesse inferno de mundo e entram na delegacia com um tapete vermelho e centenas de paparazzis a sua espera, e se bobear saem pela mesma porta com aplausos e chuvas de arroz.

— Não precisa me puxar assim. — movi meu braço com violência, a algema me machucou ainda mais, o que me fez gemer de dor. — Ain… Não é sua mãe que está aqui, porra. Pra que colocar essa merda tão apertada assim?

O coisa um era mais abusado, metido a valente e com certeza lambia as botas de algum político da direita conservadora e se auto intitulava cidadão de bem. Me olhava como se eu fosse o que tinha sobrado da humanidade. Aquele cabelo loiro num corte militar me cheirava a moral e bons costumes.

Ranço.

Ele me dirigiu até a sala da delegada, que parecia chocada em me ver ali mais uma vez. Fui forçada a sentar na cadeira macia à frente da mesa e afundei minha bunda naquele estofado, caindo a ficha que novamente estava ali, na sala da delegada mais gata, séria e poderosa da cidade. E convenhamos, gostosa também.

Doutora Normani Hamilton.

— Lauren. — ela usou seu tom neutro e paciente para falar comigo. — Eu adoraria dizer que é bom te ver, no entanto não é. Se está aqui significa que novamente Manhattan teve o privilégio de ter você aprontando alguma coisa.

Espirrou álcool em gel em sua mão e estendeu para que eu apertasse.

Chacoalhei meus pulsos de forma sarcástica, fazendo as algemas fazerem um barulho irritante na sala. Olhei para o policial insuportável enquanto pronunciei em alto tom minhas palavras.

— Os políticos com foro privilegiado que agridem suas mulheres e desviam milhões para suas contas da Suíça também são algemados como animais, ou isso só é punição pra quem rouba pra não morrer de fome porque essa cidade de merda não dá assistência a todo mundo?

Normani arqueou a sobrancelha em negação. Não para mim, mas para o coisa um que estava bem atrás. Eu juro que minha vontade era de levantar e lhe dar um chute bem onde mais doía.

— Não acha que essas algemas estão apertadas demais, agente Charles?

— Doutora, a jovem foi agressiva e o agente Bruce teve que faz-

Não acha que essas algemas estão apertadas demais? — a mulher se levantou, repetindo a pergunta com mais autoridade.

Não pude deixar de trocar um olhar triunfal com o coisa um que descobri se chamar Charles. O inútil Charles. Cheio de pose na rua, mas tremia de medo quando o assunto era alguém superior. O homem arrancou as algemas do meu pulso, sob o olhar analítico da delegada. Esfreguei minha pele que estava ardendo por conta do atrito com o forte metal, e só então usei o álcool em gel que estava na mesa para higienizar minhas mãos e esterilizar os pequenos cortes que haviam sido causados.

— Bom… — ela se sentou, colocando seus óculos de grau e me encarando com seriedade. — O que foi que aconteceu hoje?

— Furto na Padaria da 27th Avenue, e roubo. No ato da fuga a meliante roubou a bolsa de uma senhora que teve o azar de estar no mesmo lugar que ela. Sabe como é, a velha história do lugar errado na hora errada.

— Eu já falei que não roubei a madame lá.

Isso eu posso esclarecer.

A própria entrou na sala acompanhada de uma policial loira e alta que era braço direito da delegada. Estar com frequência nessa delegacia me fez anotar esse detalhe e conhecer o rosto desses urubus.

Seu olhar focou no meu por alguns segundos, mesmo que de lado de maneira quase imperceptível. Os olhos da delegada se iluminaram em surpresa e felicidade, até que eu entendi que elas duas se conheciam pela madame ter aberto um sorriso genuíno.

Ou seja, se eu tinha me fodido agora eu tinha tomado no meu cu.

— Camila Cabello! — A delegada Kordei fez questão de sair da sua mesa e ir abraçar a moça. Revirei os olhos me afundando naquela cadeira de couro enquanto observava a baboseira à minha frente. — É você mesmo? Em carne e osso? Eu jurava que você tinha morrido, nunca mais deu notícias.

— Verifica se ela tá com batimentos pra depois não me acusarem de homicídio também. — bufei e cruzei as pernas, já cansada de todo aquele mimimi de velhas amigas.

— Faz muito tempo que não nos vemos, eu sei, mas estou de volta à América. Os anos na Europa foram intensos, e eu preciso de um pouco de calmaria.

Que vida triste a burguesia tem. — resmunguei sozinha.

— Lauren, por favor não piore a sua situação. — a policial loira se aproximou de mim mas voltou a atenção para a delegada e sua amiga.

— Eu planejei te ligar, procurar saber de você, mas os planos se adiantaram um pouco mais. Como tem passado?

— Será que podem por favor deixar o assunto de madame pro chá da tarde? — pedi impaciente. — Eu nem sequer suporto mais sentir o cheiro desse lugar.

— Deveria ter pensado nisso antes de furtar e roubar. — a loira voltou a me repreender. — Menina, aquieta essa bunda nessa cadeira pois aqui você não está em condições de ditar as regras.

— Eu estava com fome, e outra, a tiazinha ali está com todos os pertences dela, ou seja, o ato não foi consumado pela lei caralho a quatro do ano que minha vó era virgem. — me levantei. — Então, se vocês querem ficar de fofoca eu não vou perder tempo aqui.

O braço do homem encaixou no meu ombro e me fez sentar com violência, batendo os quadris com força naquela poltrona.

— Por favor, não há necessidade de usarmos violência física. — a madame de vermelho disse, e a delegada voltou para seu lugar na cadeira. — Eu combinei de vir aqui para resolver de vez o que tenho para resolver, então por favor vamos tentar manter a calma.

— Resolveu cuspir antes de meter? Uau, como a sua presença alivia minha barra. Obrigada. — revirei os olhos.

A mulher sorriu modestamente com o canto dos lábios e acariciou as próprias mãos me encarando. Se posicionou do meu lado e encarou a delegada que estava sentada de frente para ela.

— Então, pelo o que eu entendi num momento de fuga a Lauren acabou pegando um pertence seu.

— Sim, isso é inegável. Essa pequena bolsa aqui, que na realidade uso como uma carteira. Não havia nada de valor nela, portanto eu não quero registrar queixa contra essa jovem. — apontou a mim com um gesto educado.

Oh.

Não pude deixar de me chocar com aquela fala repentina, assim como todos na sala.

— Meus pertences estão comigo, então não seria justo que meu depoimento a colocasse em maus lençóis.

A tal ricaça Camila me olhou outra vez enquanto rolava a aliança de prata em seus dedos. Sorriu de forma sutil, me fazendo cair em mim.

— Então eu não vou ser presa? — me levantei feliz. — Obrigada dona, até nunca mais delegada. Vocês nunca mais vão me ver aqui.

— Não tão rápido, Lauren. — a doutora Hamilton me cortou. — O fato da senhora Cabello não registrar uma queixa formal não anula o acontecimento na padaria. Eu aliviei muitas vezes as coisas para o seu lado. Fiz a minha parte, e não obtive reciprocidade de boas ações. Não seria justo, ou seria?

Respirei fundo. Agora a madame era o menor dos meus problemas naquele inferno de delegacia. Dessa vez meus dias serão tratados pelo sobrenome, um uniforme laranja e comidas horríveis de prisão.

— Te ajudamos como podíamos, Lauren. — a agente loira deu a volta e ficou do lado da delegada. — Infelizmente todos os recursos se esgotaram. Falamos da última vez que na próxima não haveria outra saída.

Eu tinha que olhar para o lado bom do inferno. Na penitenciária eu tinha três refeições diárias garantida 

— Certo. — concordei já cansada, confortando a mim mesma num abraço. — Sério, tanto faz. Me levem pra penitenciária mais próxima. Eu não ligo.

Não era o sonho americano, mas alternativas eu não tinha.

— A polícia sempre está preocupada em prender quem rouba pra comer mesmo. — Olhei para a madame. — Obrigada, tia. Pelo menos você fez sua boa ação do ano, vai poder contar isso nas reuniões chatas do escritório do seu marido.

— Arrumaremos um bom advogado para você, Lauren. Eu sinto muito, mas não há outra opção senão essa. — a doutora falava mas eu nem queria ouvir. — O máximo que eu consigo fazer, é não deixar te levarem para uma penitenciária de segurança máxima. Seria muita irresponsabilidade da minha parte colocar você num lugar onde a situação pode se agravar.

— Obrigada pela consideração, eu certamente irei orar por você à noite. — usei todo meu tom irônico e fui levantada pelo policial.

— Na verdade eu vim aqui para dizer que vou me responsabilizar por essa jovem. — a mulher de vermelho falou de repente.

O que?

Todos os presentes se expressaram em um único som, inclusive eu.

— Está claro que ela não oferece perigo algum. — cruzou os braços com elegância enquanto dava passos curtos pela sala da delegada. — Posso me responsabilizar por ela, para que evite ficar presa. Normani, sabe que eu sou uma grande admiradora do seu trabalho e respeito seu empenho, mas sejamos sinceras, prender uma jovem por pequenos furtos é praticamente implorar para que ela saia da cadeia pior do que entrou, sabendo como erguer e governar um cartel internacional de narcotráfico ainda que seja uma penitenciária responsável por baixos delitos. E não precisamos de outra traficante ou ladra na sociedade.

— E o que pretende fazer com ela, afinal? É quase uma sem futuro. — o coisa um disse, e eu engoli a vontade de levantar meu maior dedo para ele. — Não precisa ter esse trabalho, senhora Cabello. Sei que sua intenção é das melhores, no entanto isso apenas lhe trará um estresse ao longo prazo.

— Agente Charles, se me permite dizer, eu posso cuidar sozinha do que diz respeito às minhas decisões.

Após dar um corte no coisa um, ela voltou a me olhar com seus castanhos brilhantes. 

— Tenho certeza que se essa jovem aceitar a minha ajuda, não irá se arrepender disso. Isso é algo que cabe apenas a mim para oferecer e ela para aceitar.

Agora a madame queria ser minha mãe. Soltei uma risada curta e seca pois a piada era engraçada apesar de estúpida.

— Eu já me arrependi de ter pego sua bolsa. Olha pra minha cara, acha que preciso de alguma caridade ou algo assim? Está louca, se é o que pensa. Me deixa ir pra cadeia, vai pro seu SPA, pro yoga ou sei lá o que você faz pra torrar a grana do teu macho. — eu não queria ser vista como a boa ação de uma burguesa.

O coisa dois apontou para mim, com um ar de "Eu avisei."

Aquela mulher que queria aparentemente me adotar, caminhou em passos lentos em minha direção. Uma perna graciosa se movia para frente da outra enquanto seus olhos não descolavam do meu. Ela levemente abaixou, para que nossos rostos ficassem próximos.

— Tem residência fixa  e própria para prisão domiciliar, emprego ou qualquer forma de se manter sem se envolver em outra furada? — eu ia abrir a boca para lhe dar uma resposta antiquada, mas ela ergueu o dedo junto ao tom de voz e continuou. — Tem alguém nessa cidade com quem possa contar? Ah, é claro que não. O que você prefere, menina? Ficar sob minha responsabilidade ou ir para uma cela gelada e um colchão duro, comendo refeições que levam dias para serem digeridas? A escolha é toda sua. Você colhe, você planta. É a simples ciência da nossa história em sociedade, mas talvez seja insensato da minha parte exigir experiência de vida de uma menina que acabou de nascer. Olhe nos meus olhos agora e me diga, você tem plantado boas sementes em solos férteis? Olhe para o lugar que está, na frente de uma delegada que vai decidir seu destino que eu posso apostar, não será nada bom. Quer continuar roubando para ter o que comer e ser presa toda vez que for pega ou quer construir um futuro digno a partir de agora?

E-eu

Franzi as sobrancelhas e ela sorriu de forma convencida. Todos os presentes na sala esperavam por minha resposta, mas eu não conseguia formular nada naquele momento. Me sentia sem palavras.

— Não sou menor de idade. — tentei protestar para que ela percebesse que a ideia era absurda e talvez voltasse atrás.

— Eu não quero uma filha, Lauren. Adoção não é a questão aqui.

Se virou, olhando em volta como se estivesse esperando eu me decidir. Quando se virou outra vez em minha direção, seus cabelos voaram e caíram graciosamente por cima de seus ombros. Eram lisos e longos, com leves ondulações nas pontas.

— Eu estou te oferecendo uma oportunidade de ficar na minha casa e não ir presa. Pago a fiança, mas você terá que andar na linha a partir do momento que sair dessa delegacia comigo. Acho uma troca justa, com muitos benefícios e uma recolocação na sociedade.

— Você tem certeza, Camila? — a delegada perguntou. — Sei que você tem problemas demais e assumir algo dessa complexidade seria bem difícil.

— Normani está certa. Demos alguns suportes a Lauren e nada disso adiantou.

Elas sempre mandavam para abrigos que me expulsaram dias depois. Eu sempre voltava à etapa zero da merda da minha vida e tinha que dormir no quarto que minhas amigas conseguiram para mim na república.

A madame soltou uma risada seca como se fosse 'a' fodona.

— Por favor, meninas. Não subestimem minha capacidade. Vocês sabem das coisas difíceis que eu já passei, portanto não será uma jovem de… sei lá, dezoito anos? Que vai ressignificar a palavra dificuldade em minha vida.

— Eu tenho vinte, tá bom? — revirei os olhos. — E olha só, não precisa se preocupar comigo. Não vou ficar sendo uma bigorna em cima de uma de uma mulher de sei lá… quarenta anos?

Minha réplica fez ela caminhar decidida a minha frente, me olhando de forma profunda e pude jurar, sentida.

— Você adiantou dois anos do que era realmente necessário, mas não se preocupe, apesar de ofendida eu não vou mudar minha proposta por conta disso. O que me diz, Lauren? Quer continuar nesse ciclo repetitivo ou aceita a mudança de quem garante que você terá uma vida nova a partir do momento que sair por aquela porta?

Olhei para a delegada, para a sua parceira loira, para o policial insuportável ao meu lado e por último atravessei meu olhar na figura majestosa frente a mim. A forma como ela equilibrava seu corpo naquele salto, a maneira como me olhava com curiosidade. Eu podia jurar que ela estava implorando com a alma para que eu aceitasse.

No entanto, eu deveria fazer isso?

É óbvio que eu queria sair daquele ciclo infernal, mas que garantia ela poderia me dar sobre isso? Quem ela era? Uma boa samaritana que salvava jovens desviadas?

Tanto faz.

Cuspi as palavras. Era minha forma de dizer que concordava com aquilo tudo.

— Tudo é um não até que o sim seja óbvio.

Ela cruzou os braços e voltou a falar suave.

— Sei que pode me dar uma resposta mais clara que isso Lauren, afinal eu serei a pessoa a quitar sua fiança e te oferecer um futuro que uma cadeia não dará.

Eu odiava me sentir num beco sem saída. Essa mulher conseguiu fazer com que eu me sentisse uma pirralha com aquelas palavras cheias de razão.

— E você me garante que pode me dar um futuro? A troco de que?

A madame deu um riso modesto, e olhou de lado para a policial loira e a delegada.

— Você pode me agradecer depois que eu mudar sua vida. — sua mão pousou em sua cintura de forma elegante. — É a última vez que pergunto. Caso não aceite, eu não perco nada, o que não se iguala a sua situação, é claro. Você aceita vir para minha casa e dar adeus a esse presente tempestuoso ao qual está vivendo?

Tá, o que eu podia dizer? Talvez o meu orgulho quisesse cuspir palavras na cara daquela senhora rica e dizer para ela ir pro inferno com todo seu dinheiro ou doasse ao outro miserável que visse na rua. Só que, por outro lado, eu não era estúpida. Se eu aceitasse teria uma vida de princesa e saberia lá quantas portas abriram pra mim. Mesmo com orgulho, eu estava cansada de sempre depender de migalhas alheias para sobreviver, pois era isso o que eu fazia.

Sobrevivia.

Assim como meus amigos. Um bando de jovens que tiveram o azar de serem meros à margem da sociedade.

Eu tinha que aceitar a mudança em mim.

— Tudo bem, senhora Camila. Eu não faço ideia no que isso vai dar, mas aceito sua proposta disfarçada de adoção.

Ela concordou de olhos fechados e sorriu com os lábios prensados antes de se dirigir a delegada.

— Eu deposito o dinheiro da fiança agora mesmo e a partir disso, essa mocinha vira minha responsabilidade.

— Você está certa disso, não está? — a loira alta perguntou, mas olhou pra mim enquanto falava.

— Nunca estive tão certa, amiga.

Eu fiquei naquela sala por mais alguns minutos observando todos os movimentos em silêncio. Com poucos cliques na tela do seu celular, a madame que se chamava Camila Cabello havia resolvido a minha parte financeira e querendo ou não, judicial também. Eu movia a cadeira de um lado para o outro observando ela assinar alguns termos de responsabilidade. Entendi que ir para a cadeia eu não iria, mas o fato de estar sob a sua responsabilidade me limitaria a algumas coisas.

Não era água de coco fresca e uma rede numa praia deserta em Cancun, mas só de não vestir um uniforme laranja, já estava valendo. Eu não combinava muito com essa cor.

Após se despedir de suas amigas, o barulho dos saltos da mulher a levou até a porta. A mesma abriu, olhou para mim e fez um sinal sutil com a cabeça para que eu passasse na frente dela.

Ri de forma seca e me levantei, passando por ela. Foi a primeira vez que senti seu perfume tão perto. Era apimentado e doce na medida certa. Devia vir num frasco pequeno e custar uma fortuna.

Caminhei para fora da delegacia, apreciando os últimos raios de sol daquele tempo nublado. Ouvi o som do seu salto me alcançar por trás e em seguida percebi seu corpo ao meu lado.

— Pronta para ir, Lauren? É assim que você se chama, não é?

O modo como ela pronunciava cada letra da frase me irritava um pouco, admito. Às vezes ela parecia a mulher do Google falando.

— Sim, mas vou logo avisando que não tenho nada em meu nome para te pagar e tudo de material que tenho é o que está no meu corpo agora. — As roupas que eu estava usando não valiam dois pães dormidos, mas era tudo o que eu tinha para oferecer.

— Não quero dinheiro algum. — sorriu, pela primeira vez de forma doce e não imponente. — E quanto as roupas… não se preocupe, algo em meu armário deve te servir por hoje. Amanhã iremos às compras.

C-compras?

Eu perguntei, mas Camila já estava caminhando para seu carro. 

Aquilo certamente era o melhor castigo do mundo.

•••

Fala sério!

Manhattan Palace era o lugar, espera, deixe-me falar melhor, era o fodido lugar onde a toda poderosa morava. Meus lábios estavam entreabertos vendo ela entrar em um dos, senão o mais caro condomínio de alto padrão da região. Eu entendia um total zero coisas de arquitetura, mas podia afirmar que aqueles prédios, decoração e cheiro de gente poderosa se ligavam diretamente a algo moderno e carregado de luxo.

— Pela sua cara vejo que gostou. — ela falou quando estacionou o carro. — Também tive a mesma reação quando vim aqui pela primeira vez.

— Antes de ser rica?

Ela riu baixinho, quase contida.

— Não. Antes de comprar há um mês.

— Oh. Isso é um pouco fora da minha realidade.

— Era. — corrigiu. — Não vou garantir que você alcance o ponto mais alto do mundo, mas te darei todas as ferramentas necessárias para isso. Cabe a você decidir como usá-las.

— Conseguiu tudo isso trabalhando com reparos? — arqueei a sobrancelha de maneira sarcástica.

— Digamos que um dos meus trabalhos é girar uma chave na vida das pessoas. — piscou pra mim. — Vamos subir, você deve estar cansada. Seu dia foi longo e eu também estou exausta.

Franzi os lábios, me rendendo a ordem direta daquela mulher que seria praticamente minha carcereira particular a partir de hoje. Zero reclamações, não entenda mal. Para o lugar onde eu iria ninguém me levaria para fazer compras.

Fomos em direção a uma pequena escada que nos levou a um elevador privado. A mulher apertou o último botão assim que entrou, fazendo que a porta se fechasse em nossa frente. O espaço era suficientemente grande, e ainda sim o cheiro do seu perfume conseguia vir com facilidade até mim. Parei para observá-la melhor enquanto sentia a máquina subir para o último andar.

Um pouco mais baixa que eu. Dona de um corpo de dar inveja, admito. O vestido se colava como uma segunda pele em sua carne e a cor lhe caía como uma luva. Contrastava de forma instigante com a pele dourada. O cabelo agora estava preso num coque despojado mas ainda sim elegante. Argolas pequenas e grossas, que qualquer ignorante reconhecia ser ouro. Salto preto com o solado vermelho. Eu já havia visto aquela marca em algumas vitrines e eles eram mais do que qualquer rastro de salário que tive em minha vida.

A porta abriu e Camila caminhou fazendo um sinal com o dedo para que eu a seguisse. Um extenso corredor de cores beges, com um chão de madeira polida. Ela digitou alguns números aleatórios na fechadura eletrônica e logo se ouviu um pequeno bip liberando a entrada.

Ela entrou e eu fiquei parada como uma estátua na porta. Se moveu para o pequeno bar móvel e se serviu de um dedo de licor. Quando percebeu que estava sozinha na gigantesca sala, olhou em minha direção arqueando a sobrancelha como se estivesse me questionando.

— Está esperando convite para entrar? É sua casa.

Não, não era. Eu nunca poderia viver em um lugar como aquele.

— Esse chão está limpo demais para os meus sapatos.

Camila deu o último gole na dose de licor e lambeu os lábios, apreciando os resquícios que sobraram. Deixou o copo de lado e caminhou daquela forma em minha direção.

— Peço que fique à vontade. Uma casa limpa e organizada é uma casa inabitável. — me deu espaço. — Entre, Lauren. Essa casa é sua agora.

Eu nada disse, apenas obedeci. Dei um passo para dentro e ela fechou a porta. Estar num lugar novo me fazia esquecer de como se comportar. Soltei a respiração que até então não percebi que estava prendendo. Minhas mãos suavam. Eu deveria dizer obrigada? Chamá-la pelo nome ou pelo pronome de tratamento?

Céus…

— Você está pálida. — observou. — Está com fome?

— Não. — menti. Eu estava morrendo de fome. — Estou bem.

— Quer se deitar? Preciso trabalhar de qualquer forma, então dormir pra mim só mais tarde. Creio que você queira tomar um banho e descansar.

Sim? Não? Eu nem sabia o que responder. Afirmei envergonhada e ela concordou em silêncio, fazendo aquele sinal com as mãos e pedindo para que eu a acompanhasse.

A casa era enorme, bem iluminada. Quero dizer, a cobertura. Tinha uma decoração marfim e parecia casa de boneca de tão organizada. Dava uma certa angústia ver tudo no mesmo lugar, pois realmente transmitia o sentimento que ninguém morava ali, mas poderia ser pelo fato dela ter se mudado há pouco tempo.

Após atravessarmos outro extenso corredor, ela abriu a porta do quarto que eu imaginava ser o de hóspedes. Tinha uma cama de solteiro, era grande e apesar da decoração ser neutra, era a coisa mais luxuosa que meus olhos já tiveram o prazer de ver. Só de saber que eu dormiria naquela cama minha vontade era de gritar e certamente meu corpo me agradecia muito.

— Fique à vontade. Esse é o lugar onde você vai ficar. É uma suíte, então você não precisa se preocupar em atravessar a casa para ir ao banheiro casa sinta vontade de madrugada. — ela caminhava pelo ambiente. Abriu a janela e deixou uma brisa gostosa entrar. — Eu vou tomar banho e trago um pijama para você passar o resto do dia.

— Seu marido não vai se incomodar em saber que você adotou uma mula velha pra sustentar?

Camila franziu os lábios tentando não rir do meu comentário.

— Lauren, eu não quero que você se preocupe com nada disso, tudo bem? Tampouco que se refira a si mesma dessa forma, de verdade. — cruzou seus braços. — Estou cuidando de você e ninguém a não ser eu mesma pode falar um 'a' sobre isso.

Ela tinha uma confiança grande em si mesma.

— Eu não quero ser o motivo para nenhum divórcio. Se der algum tipo de problema pode me liberar que eu continuo me virando e tentando não me meter em encrenca para a delegada não descobrir.

— Sabe de uma coisa? Reconheço algo promissor assim que meus olhos batem. E você tem algo especial. — sua mão tocou meu ombro, me deixando acanhada pelo toque quente de seus dedos em minha pele. — Eu trago seu pijama em alguns minutos. Fique à vontade, como eu disse a casa é sua.

Camila então se retirou, e foi o momento que eu pude realmente ficar à vontade.

Me jogando naquela cama que mais parecia uma nuvem.

Para quem ia dormir numa cela de prisão, eu estava bem demais.

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Aviso: Vou começar a trabalhar amanhã, mas felizmente tenho alguns capítulos prontos. Serão poucos, mas pretendo fazer uma história interessante. Então, espero que consigam ter paciência caso eu demore.

E ah, a história será narrada pela Lauren.

O que acharam?

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