A última noite

By julhakjkk

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Para Scarllet, sua vida deveria ser seguida à risca, com muitas expectativas a cumprir. Ao crescer cercada po... More

capítulo 1
capítulo 2
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 5
capítulo 6
capítulo 7
capítulo 8
capítulo 9
capítulo 10
capítulo 11
capítulo 12
capítulo 13
personagens <3
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 18
capítulo 19
capítulo 20
capítulo 21
capítulo 22
capítulo 23
capitulo 24
capítulo 25
capítulo 26
capítulo 27
capítulo 28
capítulo 29
capítulo 30
capítulo 31
capítulo 32
capítulo 33
capítulo 34
capítulo 35
capítulo 36
capítulo 37
capítulo 38
capitulo 39
capítulo 40
capítulo 41
capítulo 42
capítulo 43
capítulo 44
capítulo 45
capítulo 46
capítulo 47
capítulo 48
capítulo 50
capítulo 51
capítulo 52
capítulo 53
capítulo 54
capítulo 55
capitulo 56
capítulo 57
capítulo 58
capítulo 59
capítulo 60
capítulo 61 "what is a monster?"
capítulo 62 "truths"
capítulo 63 "incendiar"
capítulo 64 "após o incêndio."
capítulo 65 "personificação"

capítulo 49

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By julhakjkk

— Em um passado muito distante, eu mudaria todas as minhas ações. Não seria o que sou hoje, faria escolhas diferentes, só para ter a sorte de ter tido todas as minhas primeiras vezes com você.

— Se arrepende do seu passado? — pela forma que falou, estava perceptível.

— Em boa parte. — não via o rosto dele, mas dava pra perceber que ele estava falando a verdade. — Me arrependo de não ter tido a chance de estar assim com você antes.

— Eu não seria o tipo de garota que você colocaria os olhos. — falei quando acessei minhas poucas lembranças sobre a minha pré adolescência até aqui.

Eu era a garota reservada, prestativa e estudiosa. Todos os professores me adoravam, porque eu sabia como falar perto de adultos. Embora obtivesse tudo isso, eu era infeliz e padecia atrás das paredes do quarto. Chorava sem motivos, e me tornei o oposto do que era. Não recebia atenção de garotos, e nem de ninguém que tinha a minha idade. Não era bonita, não carregava esteriótipos das garotas a minha volta. Conclusão: Thomas, nunca repararia a minha presença, nem se me esforçasse.

— Você é um pouco burrinha. — Thomas soltou sem medo.

— Por quê? — me afasto um pouco para encará-lo e ele faz o mesmo. Sorri com seu comentário em relação a mim.

— Porque sou caidinho por você, desde a primeira vez que te vi. — estreitei os lábios, apenas capaz de olhar para ele, incrédula diante da sua revelação.

— Não seja tão mentiroso. — semicerrei os olhos, desconfiada e ele deu risada.

— Não estou mentindo, pêssego. A única pessoa que não colocaria os olhos em alguém, seria você.

— Duvido muito. Você nunca deu sinais que demonstrassem isso. Nem mesmo olhava pra mim.

As únicas lembranças que tenho de Thomas, são as que ele está rodeado de garotas, e sendo o centro das atenções. Quase nunca estava sozinho. Um garoto ocupado e que não liga pra ninguém.

— Fazia isso discretamente, mas você estava ocupada demais com a cara enfiada nos livros, e nunca percebia.

— Isso não é verdade. — assegurei com a voz baixa.

— Você sabe que é.

— Então, por quê não foi atrás de mim? — não foi uma pergunta planejada. Eu nunca perguntaria isso a ele. Mas acabei me pegando desprevenida ao desejar que ele estivesse comigo bem antes de tudo. Que tivéssemos todas as nossas primeiras vezes, juntos. Mas rapidamente me lembro que ele não é o tipo de cara que fica com apenas uma.

— Eu achava que odiava você, porque conseguia me irritar sem fazer nada sequer. Quando na verdade, eu só era fissurado demais.

Quando ouvi, rapidamente lembranças que jamais havia alcançando retornam para a caixa de memórias. Como se estivessem ali, guardadas há séculos, só a espera desse momento. Veio a minha visão, eu e Thomas, sendo arrastados mais uma vez pra diretoria, ou tendo conversas sérias com os professores, simplesmente porque não conseguíamos conviver juntos. Ele era intolerante e eu impaciente. Ele era provocador e eu explosiva. Ele me odiava, e eu não o suportava. Era ele. O garoto irritante que pegava no meu pé, em uma época específica do fundamental.

— O que eu fiz pra você me odiar tanto? — de fato, eu estava disposta a ouvir a verdadeira resposta. Pelo o que me lembro, as nossas intrigas, sempre vierem de sua parte, e nunca da minha.

— Nada, você só me fazia sentir raiva. Talvez porque havia me rejeitado muitas vezes, ou talvez, porque eu não conseguia não pensar em você.

— Era você... — sussurrei ainda desacreditada sobre aquelas lembranças estranhas.

Como não havia percebido antes? E mais importante, por quê essas memórias estavam apagadas?

— Agora que percebeu? — me pressionou contra seu corpo e eu fiz o mesmo. Não existia mais espaço algum entre nós.

— Você não mudou nada. — concluo. — Continua o mesmo arrogante, intolerante, prepotente, imprevisível, incoerente, detestável, e autoritário. — citei toda a lista de defeitos que havia dado a Thomas quando mais nova. Era disso que me lembrava dele. O garoto sem noção que conheci, e que desejava mais do que tudo, manter distância.

— Então, consegui mesmo chamar sua atenção. — falou como se estivesse orgulhoso de si mesmo.

— É, você conseguiu. Eu juro por Deus que nunca odiei alguém como odiei você.

Thomas riu, parecia ter adorado ouvir isso. Ele afastou meus braços que estavam em volta a suas costas, me arrastando para uma posição mais elevada. Uma posição que desse para que eu olhasse no fundo dos seus olhos. Me apoiei com os cotovelos, na grama fofa, e ao mesmo tempo irritante, por me dar uma sensação de coceira. Ele umedeceu o lábio inferior, mordendo um pouco. Segurou meu queixo, obrigando nossos rostos a ficarem um perto do outro. Fiquei nervosa.

— Ótimo, essa sempre foi a intenção. — falou como se fosse um segredo. A boca, tão próxima a minha. Nossas testas quase grudadas. Como eu queria beijá-lo, mas não podia.

— Só tínhamos onze anos e isso não era legal.

— Não ligo. Não me responsabilizo pelas merdas que fiz quando tinha onze anos. Eu gostava de te irritar e a culpa era toda sua. — à medida que meus olhos percorrem pelo rosto dele e param exatamente em sua boca, eu noto que estou evidenciando demais. Soa como se estivesse implorando para que ele me beijasse de vez.

— Está culpando a vítima? É, você sempre foi um babaca mesmo. — brinquei, mas aquilo era verdade.

— Você me deu a porra de um chute, arremessou livros em mim, me deu um tapa no rosto, e ainda por cima me ameaçou. Acha que é a vítima?

Fiquei boquiaberta diante do que ele acabou de falar. Ele não está mentindo, mas falando assim, faz com que eu me sinta uma descontrolada. Não deveria rir disso, mas acabei deixando escapar uma risadinha quando as imagens rolaram na minha cabeça.

— Me desculpe.

— O que você faria se tivesse a porra de uma faca na mão? Sua descontrolada.

Eu apontaria pra você.

— Nada. — olhei para baixo para não ter que rir. Thomas sabe que se eu tivesse uma faca, não hesitaria. — Mas só pra você saber, eu não arremessei livros em você. Nunca faria isso com os meus livros.

Tenho memórias vagas. Não consigo me lembrar tão bem, mas sei que nunca arremessaria livros em alguém.

Thomas sorri daquele jeito bonito, me observando. Quando esse momento acabasse, eu voltaria para a escola e iria ignorá-lo a todo custo. Por isso, meus olhos estão vidrados para ele. Como se fosse uma despedida, porque eu estava disposta a acabar com isso de vez. Por que tem que doer tanto? Por que tive que me apaixonar justo por ele?

— Eu tenho algo pra dar a você.

Mudei a posição, por já estar desconfortável com a grama machucando meus cotovelos. Ele demonstrou o que faz raramente. Demonstrou emoção nos olhos, e eu busquei desesperadamente especulações.

— Algo para me dar? — perguntei confusa ao mesmo tempo que estava curiosa.

A mão dele começa a tocar o meu pescoço. Apertei os olhos, arquejando pela boca. Não estava nos planos reagir assim com um toque tão bobo, mas eu de fato, senti a falta dele.

Thomas interrompe minha respiração quando chocou a sua boca a sua boca contra a minha, tão rápido que nem tive tempo para a próxima respiração. Rápido demais. A língua deslizou e minha rapidamente deu um jeito de se envolver. De repente, ele já está encima de mim, imobilizando o meu corpo contra a grama. Empurrando meus braços para longe, os segurando firme pelos pulsos.

— Linda, linda, linda. — murmurava entre o beijo.

Um gemido abafado escapou dos meus lábios, respirando fundo e sem forças para dar fim aquilo. Porque eu o queria mais do que tudo.

Thomas abre as minhas pernas, e se posiciona entre elas. A saia que estava usando, possuía um tecido leve, porém acentuava-se bem no meu corpo, e eu quase tive certeza que dava pra ver o fundo da minha calcinha. Conclui isso, quando as mãos dele foram para minha coxa, arrastando o tecido da saia para cima.

— Pêssego. — sussurrou, mas sem impedir a sua boca de me beijar. — Diga que me odeia.

— Eu te odeio, Thomas. — falei verdadeiramente, porque eu de fato o odiava.

— Eu te odeio, porra.

Nossa respiração se tornou a mesma. Nossos batimentos cardíacos se alinharam. Ele se pressionava cada vez mais contra o meu corpo. Cansada de resistir, deixei meus dedos correrem para seus cabelos. Apertei, como se nunca tivesse feito isso.

— Preciso colocar logo a merda de um anel de noivado nesse seu dedo.

Meus movimentos se tornaram mais rápidos, pareciam acompanhar os dele. Se Thomas se ajoelhasse nesse instante, e me pedisse de fato em casamento, me pergunto se seria resistente o bastante para não aceitar.

Thomas partiu para a fivela do cinto, e em pouco tempo a arrancou. Meu corpo entra em estado de choque, no momento em que ele pega a minha mão e guia para a direção da cueca. Eu nem tive tempo para reagir, mas sem me dar conta, deixei que ele pressionasse. Me recordo de todas as sensações que senti, quando o toquei pela a primeira vez. A que me mais me causa uma onda enorme de nervosismo, é pensar que aquilo poderia me machucar, se ousasse transar com ele.

Ele beijou meu pescoço, enquanto eu sentia o pênis latejando na minha mão. Endurecido. Thomas queria que eu o tocasse, e levou a mão para guiar a minha. Mordendo meu pescoço, ele produzia gemidos baixos, e aquilo realmente me excitava. Não hesitou nem um pouco em adentrar sagazmente as mãos para dentro do moletom, indo na direção dos meus seios, os apertando sutilmente.

Mas logo me lembrei. Não deveria estar assim com ele. Não depois do que fez. Afastei minha mão, desviando o rosto da sua próxima ação para me beijar. Ele imobilizou- se, sem falar nada. Apenas me observando e deixando claro que já havia entendido.

— Não. Eu não quero. — tentei me afastar e fracassei terrivelmente.

Thomas olhou para o outro lado, e parecia decepcionado. Não comigo. Mas com ele. Se afastou de mim por si só, e eu pude me afastar também. Ajeitei minha saia, e os meus cabelos. Me sentindo culpada por ter deixado o ar meio tenso entre nós dois.

Ele ajeitou a calça, prendendo de volta o cinto. Abracei meus joelhos, sem querer olhar para ele.

— Não foi pra isso que viemos.

— É claro. — Thomas se deitou ao meu lado de novo. Respirou fundo, esperando que eu fizesse o mesmo que ele.

Meus olhos bateram direto na sua mão, tentando cobrir o volume que estava mais do que perceptível. Engoliu seco, mas preferi fingir que não vi. Deve ser horrível a frustração que está sentindo, porque de certa forma, também estou excitada, mas está fora de cogitação fazer o que estávamos prestes a fazer. Não iria cometer esse erro nunca mais. Porque a cada vez que exploramos o corpo um do outro, nasce uma relação mais forte que envolve não só o físico, como também o meu emocional.

Me deitei ao seu lado, tomando uma certa distância. Dando o espaço mínimo para nós. Ele se reencostou, observando de novo o céu. Parecia que nada havia acontecido. Mas o meu interior ainda se contorcia, implorando para que ele ficasse dentro de mim. O que era muito estranho, porque foi a primeira vez que estivesse tão sedenta por ele.

— Fui longe demais? — passou a respirar firmemente, e perguntou como se não houvesse incerteza. Ele sabia que sim.

Ignorei sua pergunta. Fechei os olhos antes de deixá-los refletir as dezenas de luzes brilhantes que preenchiam o céu.

— Nada de invadir meu espaço. Lembra? — só quando terminei a frase, me lembrei que deixei que tomasse essa iniciativa e só o impedi tarde demais.

Thomas me olhou descrente, e estava prestes a falar algo. Mas preferiu não declarar. Provavelmente iria jogar na minha cara sobre como o que eu disse carregava um ar de hipocrisia.

— Foi mal, Milles. — fingiu um falso arrependimento e se virou de vez para mim, se aproximando lentamente, e agora estamos quase tão grudados quanto antes.

Eu estava desejando sua boca de novo, e tentei disfarçar, mas mantive o olhar em seus lábios e ele fez o mesmo.

— Deveríamos estar observando as estrelas. — disse sem quebrar o contato com sua boca, e então ele sorriu daquele jeito bonito.

— Parece que a minha boca está mais atrativa que elas. Você não concorda, Milles? — a mão dele avançou lentamente para minha cintura, a apertando e seu sorriso mudou de bonito, para bonito e convencido.

Ai, meu Deus, porque tenho que olhar tanto para sua boca? Apertei os olhos, e me virei de volta para a direção do céu. Ele estava certo. A sua boca estava mais atrativa.

— Sabe, você acabou de impedir o nosso beijo, mas vejo que já está arrependida. — Thomas abandonou minha cintura e tocou o meu rosto. Deslizando os dedos pela bochecha, queixo, lábios. Tão concentrado enquanto fazia isso. A luz estava pouca, porém ainda assim, eu podia ver. A única parte preta do seu olho, ampliou.

— Não estou arrependida. — tirei sua mão de cima de mim e ele resistiu.

— Não é o que vejo. — fez o mesmo que antes. Chegou perto de novo, com o rosto quase grudado. Abri a boca para respirar e ele deu risadinha, extasiado. — Está resistindo, pêssego?

— Não. — me afastei e ele simplesmente ignora isso e se aproxima de novo. — Thomas, você...

— Eu tenho algo pra te dar. — a última vez que disse isso, me beijou.

— Pensei que já tivesse me dado. — me ergui, para ficar sentada.

— Não.

Afastei o rosto para não correr o risco de ser pega de surpresa. Ele enfiou a mão no bolso e eu acompanhei seu movimento. Enquanto a impulsionava contra o fundo, deixava a volume visível. Dava pra ver perfeitamente. Me castiguei por ter colocado os olhos justo ali, e logo me forcei a olhar para o outro lado. Por fim, ele finalmente arrancou de lá, um anel.

Thomas puxou a minha mão direita, antes de de a beijá-la.

— Um anel? — o que ele iria fazer? Tentei não ficar nervosa, mas foi assim que reagi.

Era um anel comum e ao mesmo tempo diferente. O mesmo anel que vi usando há alguns dias.

— Eu quero que use. Pelo menos por um tempo. — antes de atravessá-lo, analisou para ver quais dos meus dedos possuía mais espessura para que não ficasse tão largo. Os dedos dele, em comparação aos meus, eram grandes e compridos. Seria difícil que coubesse.

— Por que está me dando um anel?

Thomas deslizou até o último centímetro do meu dedo anelar. Ficou apenas um pouco folgado, mas coube. Ele beijou a minha mão de novo, porém um beijo mais longo. Meu coração disparou.

— Não é um anel de compromisso ou noivado. Até porque eu ainda vou pedir você em casamento. — ele começou a explicar, segurando firme a minha mão. Ao mesmo tempo que estava olhando fixamente para meus olhos. Evidência de que eu teria que prestar atenção do que estava me sendo dito.
— Estou cumprindo minha promessa. Escute, pêssego. Preciso que use esse anel, e não tire.

Ergui um pouco a mão para conseguir olhar. Diferente dos anéis que estava acostumada a ver, aquele era de prata e carregava alguns símbolos estranhos, com alguns nomes desconhecidos, também entalhados.

— Mas, por quê? Por que está me dando? — repeti a mesa pergunta que fiz.

— Porque eu quero que use. — a sua resposta não foi tão convincente e ele notou isso, mas ignorou a minha expressão de estranheza. Thomas acariciou o anel em meu dedo, o observando. — Não dê ele a ninguém, e não empreste. Ele é só seu. Entendido?

— Sim. — Thomas sorriu satisfeito com aquela simples resposta.

Evidenciei que ainda haviam dúvidas, e ele evidenciou pensar sobre assunto. Estava decidindo se me apresentaria uma explicação coerente.

— É um anel de família. Muito valioso porque vai passar a impressão de que você é — dá uma pausa. Fiz um sinal para que ele continuasse.

— Da sua família? — completei sem nem ao menos saber se ele se referia a isso.

— Não.

— Que trabalho para sua família? — tinha muitos palpites em relação.

— Que você é a minha futura esposa. — quando menos esperei, ele encostou a cabeça no meu colo, afundando o rosto na minha barriga. Fez um pouco de cócegas.

— Por que tenho que dar a impressão que sou sua futura esposa? Por que tenho que usar isso?

— Com um tempo você irá entender.

— Mas não é um anel de família? Eu não devo usar...

— Pertencia a mim, e agora pertence a você. — explicou como se fosse óbvio. Mas não era óbvio pra mim.

— Sua futura esposa? — Thomas puxou a minha mão, observando o anel, antes de beijar de novo.

— Mia moglie. — falou e só então percebi que aquele idioma era italiano.

Meus pais costumam conversar em italiano. Conversam em muitas línguas, mas especificamente, em italiano. Não era tão difícil discernir.

— O que significa? — perguntei curiosa, ao mesmo tempo que ele apertava a minha mão.

— Minha esposa. — Thomas sorriu e eu senti uma ponta de malícia, no momento que levou minha mão para sua barriga. Descendo lentamente para o meio de suas pernas, e eu rapidamente recuei.

— Qual seu problema?

— Estou te desejando e isso está me enlouquecendo.

— Ah, é? Sinto muito você. — revirei os olhos. — Enquanto as minhas amigas?

— As suas amigas sairão amanhã cedo. — explicou entediado.

Sorri com aquela notícia. Isso era maravilhoso.

— Você enviou os advogados?

— Preciso que prometa, pêssego. — Thomas deixou de dar atenção a mim, para ajeitar a calça. Estava tentando esconder.

— Prometer o que?

— Que não irá tirar, perder, ou emprestar pra alguém.

Ele mudou o assunto rápido demais. Deu alguns sinais que aquela conversa não interessava pra ele.

— Qual o problema de emprestar pra alguém? — eu não tinha intenção de fazer isso, mas ouvir aquilo despertou curiosidade.

— Porque estou dando a você e não para outra pessoa.

Observei novamente o anel. Ele deveria ser mesmo valioso. Talvez Thomas estivesse colocando em minhas mãos, uma responsabilidade muito grande.

— Não acho que seja uma boa ideia. — tentei arrancar e ele agiu como se tivesse previsto isso. Nem mesmo pude encostar no meu dedo.

— É falta de educação recusar presentes. — engoli seco ao ver como ele estava sério, e o quanto a sua voz soou autoritária para mim.

— Você sabe que eu já tomei a minha decisão... — me referi a conservar a distância.

— Certo, Milles. Tente ficar longe de mim, mas use esse anel.

Assenti, não com o intuito de querer obedecê-lo, mas para dar um fim a isso. Eu ficaria com esse anel, e tomaria conta. Não sei o porquê de recebê-lo, mas aceitaria.

— Eu costumo perder as minhas coisas com frequência.

— Não tire do dedo.

— Está bem. Eu vou tentar não perder. — Eu disse, um pouco hesitante.

Pra ser sincera, eu só estava alertando a ele caso os acontecimentos futuros prossigam na perca disso. Embora não estivesse nos meus planos perder o presente dele.

Eu me lembrava que já havia visto aquele anel antes. Qual era o valor dele? Muito caro. Afinal, é um anel de família. A pergunta que me vem, é, por qual razão? Mas fechei os olhos, porque de repente, eu senti sono. Thomas também estava com os olhos fechados. Fiquei receosa de perguntar algo a mais, então a única coisa que fiz, foi observar o rosto dele. Mas ainda assim, havia uma série de coisas que eu queria perguntar.

Tentei não deixar tão explícito que estava olhando para ele,virando o rosto bruscamente para outra direção, quando ele se mexeu e abriu os olhos.

— Olhe para mim, pêssego. — disse ele para mim, em breve tranquilidade. Eu adorava ouvir sua voz, quando ele estava tranquilo.

Me direcionei para ele, e ele sorriu daquele jeito bonito.

— Você está com frio?

— Não. — enquanto estava obstruída, sem resistir à tentação de tocar o rosto dele.

Deslizei os dedos pelos cabelos. Thomas fechou de novo os olhos, relaxado.

— Você se parece muito com a sua mãe. — soltei de repente, quando fiquei percorrendo os olhos pelos traços do seu rosto. Eu estava procurando a oportunidade perfeita para dizer isso a ele.

Thomas pareceu desconfiado, e absorveu o que eu disse com estranheza.

— Desde quando você conhece a minha mãe? — franziu a testa.

— Eu a vi uma vez, na escola. — expliquei e ele não se convenceu. — Ela estava conversando com a diretora. O olhos, são os mesmos. Até mesmo o sorriso.

— É o que todo mundo diz. — abri um largo sorriso.

Como poderia ser possível duas pessoas serem tão parecidas? Certamente os poucos traços diferentes que tinham um do outro, Thomas havia herdado do pai.

— Quero que nosso filho se pareça com você. — ele disse após um tempo deixando o silêncio ressoar. Quase engasguei, só em pensar nessa possibilidade.

Me lembrei do meu sonho. Aliás, do meu pesadelo. Aquilo só havia me encorajado a recusar a dádiva de ter filhos.

— Filhos? — apertei os olhos incrédula. Não sabia se daria risada ou se manteria o espanto por ouvir algo assim saindo da boca dele.

— Sim.

— Você disse que não curtia esse lance de ser pai. — lembrei.

Thomas deu risada de mim. Ergueu os dedos, deixando que fizessem contato com os meus lábios.

— Não curto. Não sei se seria um bom pai. Mas se você quisesse ter filhos, eu aceitaria. — fez desenhos imaginários no meu pescoço. Thomas mordeu os lábios, me passando a sensação de que algo sujo havia perpassado a sua cabeça. Tive certeza quando ele puxou o meu queixo para baixo, fazendo menção a me beijar. Obviamente, eu revidei ao afastar o rosto.

— Se não vai ser um bom pai, por quê ter filhos? — perguntei curiosa. Aquele assunto realmente me parece interessante.

— Porque gosto da ideia de ter um filho com você. — virou a cabeça para a minha barriga.

— Péssima ideia. — pensei se terminaria a frase. Por um momento, descartei a ideia. Mas Thomas precisava ouvir. — Uma criança envolve responsabilidade. Se não está apto para ser um bom pai, é melhor que não tenha filhos.

— Você pode me ensinar a ser um bom pai. — me esquivei estreitando os olhos e não deixei dúvidas que aquela conversa estava me causando dezenas de especulações.

A começar pela forma que Thomas aborda, como se fosse um futuro previsto. Como se tivesse a certeza de que aquilo aconteceria. Ignorei, e voltei a dar atenção a ele.

— O seu pai parece ser bem legal, não é? Pelo o que ouvi da boca de Brandon. — inclinei as costas para trás, e acabei sentindo pontadas das dores de cólica. E isso me arrancou um murmuro baixo e doloroso.

Thomas reprimiu algo em seu rosto, que não pude identificar. Logo constatei que talvez tenha dito algo de errado para ele. Pela forma que pressionou a própria mandíbula.

— Ele é sim. — falou sem vontade.

— Brandon o chama de pai. — pela forma que falei, deu a entender que Thomas não sabia disso. Embora com certeza soubesse.

Fiquei imaginando. Talvez ele estivesse acostumado, mas a maioria dos filhos, tendem a não querer "dividir" os pais. Thomas parece lidar bem com isso. Nem demonstra se importar.

— Brandon daria a vida pelo papai dele. — Thomas resmungou.

É, possivelmente eu estava errada. Thomas tinha mesmo ciúmes, ou talvez fosse só sua indiferença com Brandon. Visivelmente, pela forma que falou, deu a entender que toquei em um assunto que não deveria ser tocado.

— Ele deve gostar muito do seu pai. Aliás, ele nunca teve um pai presente.

— Não só ele, como também Brian. — a voz de Thomas estava rouca, ao mesmo tempo que carregava o tom baixo, e uma mistura de frustração e aborrecimento.

— Isso, é legal. — enquanto prestava atenção nele, acariciei a grama para aliviar a tensão de me sentir estranha por ter citado o pai dele na conversa.

Soltei um suspiro alto, a fim de encerrar o assunto. Inclinando ainda mais o pescoço para trás, a brisa intermitente, fresca e suave do vento, me trouxe ânimo para que dormisse ali mesmo, na grama. Thomas não disse mais nada. Ele apenas ficou de olhos fechados, e imaginei mesmo que estava dormindo.

Aproveitei da situação, e acabei sorrindo quando comecei a acariciar o rosto dele. Deslizei as unhas em sua bochecha e brinquei um pouco dando leves batidinhas no nariz.

— Pêssego. — quase pulei de susto, e afastei os dedos, escondendo os dedos atrás de mim, na falsa ilusão de fingir que não estava despejando os traços do meu encantamento por ele, em seu rosto.

— Pensei que estivesse dormindo. — cochichei.

— Continua. — respondeu ele, também cochichando e mantendo os olhos fechados. Sua voz dava sinais de uma forte sonolência. Estava quase dormindo.

Segurei firme a relutância dos meus dedos para voltarem a acariciar o rosto dele. Esperei um tempo para que não ficasse tão na cara. Então, voltei a deslizar as unhas.

— Pêssego. — pronunciou de novo. Dei um sorrisinho, já que já estava acostumada que me chamasse assim.

— Sim?

— Por que tem que ser tão difícil? — escondi meu sorriso por pensar que ele abriria os olhos. Mas não passou de um susto.

Não sabia o que responder. Nem mesmo sabia sobre o quê ele estava falando.

— O quê? — perguntei confusa. A pele do rosto dele estava gelada, e suas bochechas carregavam uma mescla da cor rosa e vermelho.

— Por que não pude nutrir o que sentia por você, antes? Por que você teve que chegar justo quando me sinto um fodido de merda?

Senti como se o mundo estivesse girando. Aquele seria mais uma daquelas conversas sem sentido. Mas dessa vez, eu estava disposta a entender a razão pela qual Thomas tenha dito isso.

— O que quer dizer com isso? — o pescoço dele, também estava gelado. Envolvi as mãos em volta, para que não sentisse tanto frio naquela região.

— Não passo de um maldito medroso.

— Do que você tem medo?

— Tenho medo do amor.

Mais uma vez, Thomas me surpreendeu. Ele estava quase entregue ao sono, e deduzi que por isso está falando dessa forma. Apesar disso, a voz dele me traz uma péssima melancolia que envolve, dor? Talvez seja só impressão. Talvez eu esteja errada. Mas aquela, era mais uma de suas revelações, e ele não é do tipo que sai por aí falando qualquer besteira.

O peso da sua frase me limitou a pensar, porque a única coisa que vinha à cabeça, era refletir em como o que Brandon disse fazia sentido nesse momento. Ele quer ser amado, mas não sabe como amar. Só então pude ter a certeza, de que realmente não o conhecia de verdade.

— Medo do amor? — elevei os olhos para o céu, em busca de uma pergunta que o fizesse me dar uma resposta significativa. — Por quê?

— Você é boazinha demais pra mim. — disse em um sussurro. Um sussurro baixo. Quase inaudível. Ele disse isso para si mesmo. — Brian está certo.

—Brian? — não fazia a mínima ideia do que estava falando. Por que mencionou o nome de Brian? — O que Brian disse a você?

— Eu não sei o que é amar, pêssego. Por isso magoei você. — ele enfim abriu os olhos. Com a luz fraca, proporcionada pela lua, pude ver aquele lindo verde. Mas estavam diferentes. De repente, resplandeciam a mim, a pequena sensação de que estavam emotivos.

Quando Thomas tocou a minha mão, junto ao seu pescoço, senti a pele elétrica, o corpo cálido. Mas o embate que aquela frase me causou, foi árduo.

— Isso não significa que não saiba o que é amar. — ignorei o fim da frase, simplesmente porque não tinha palavras convencionais.

Nossos olhares se cruzaram, como se estivessem interligados. Ele sentia o mesmo que eu? Sentia o estranho formigamento na mão, e aquela sublime concupiscência?

— Ninguém nunca me falou algo de bom em relação a isso. Só ouvi coisas ruins. — ele estava sendo sincero.

— Ninguém nunca me falou coisas boas sobre esse sentimento. Parece que estamos quites. — ri para desestabilizar o fardo de me lembrar das dezenas de coisas que ouvi. — O pouco que vi, foi em livros.

Meus pais me fizeram pensar por muito tempo que isso era besteira. Agora, que sinto na pele o que me foi proferido por anos, posso afirmar. O amor não é uma besteira. É infeliz e patético, mas não é besteira.

— Não passa de uma fantasia que as pessoas inventaram para encontrarem a tal razão da felicidade. Os livros que você lê, são uma mentira.

Me ofendi com o que ele disse. Eu poderia citar sobre os livros que ele lê. Afinal, quem gosta de assuntos que acrescentem no intelecto?

— Livros de romance servem de escapismo. Podem ser de certa forma, uma mentira. Mas dão a esperança de que o amor, talvez não seja a coisa tão horrível que costumava ouvir. Pra alguém que alega não conhecer o amor, você tem muitas opniões.

Falar isso foi arrebatador. Thomas não se mexeu e nem demonstrou reação ao que eu disse. Tudo ficou silencioso. O som uivante do vento emitiu, junto aos sons da noite. Era revigorante estar tão exposta à noite.

— Provei a você que seus livros são uma mentira? — Thomas perguntou, e pela primeira vez, eu vi que ele estava hesitante e pareceu arrependido em ter perguntado.

Suas ações são irredimíveis. De uma pessoa que não merece ser amada. Deveria confirmar? Deveria não reponder? Deveria mentir? Se sabia da resposta, por quê teve que perguntar?

— Em boa parte, sim. Mas não é nada que eu já não soubesse.

— Você está livre de mim. — Thomas dessa vez fez questão de me dar os seus olhos com toda à força que podia suportar. Ele sentiu dor, e isso refletiu. Não só em seus olhos, como também em tudo. — Faça o que quiser. Esqueça que eu existo e eu farei o mesmo com você. — embora ele quisesse que a frase fosse em tom elevado, sua voz ficou mais baixa. Thomas não queria ter dito isso, mas ele disse, mesmo que o machucasse. Eu senti o mesmo. — Pode ir, Milles.

— O quê?... — arquejei, com os olhos arregalados.

— Você não havia desistido de mim? Estou te dando espaço para fazer isso. — mesmo ouvindo isso sair de sua boca, eu quis me negar a assumir que fosse verdade. Ele não estava brincando, e eu me limitei a aceitar sua aceitação tão rápida.

— Sim... mas... por quê está fazendo isso? — eu quis saber.

— Porque eu te — ele mesmo se impediu. — Porque eu tenho sentimentos por você.

Isso praticamente resultou em todo o vislumbre dos acontecimentos em minha vida, graças a presença de Thomas. Ele havia relutado tanto, e agora estava dizendo isso. Eu deveria estar feliz. Poderia seguir minha vida, sem que ele viesse atrás de mim, e resultasse em uma recaída. Não havia como eu superar o que sinto por ele, se estiver comigo, assim como está agora. Mas não estou tão feliz assim. Feliz apenas, porque poderei matar esse sentimento, e triste porque sentiria sua falta.

— Então... terminou? — ainda não conseguia acreditar. — Isso não faz muito sentido. Por que mudou de ideia?

— Porque eu não sou a pessoa certa pra você. Eu não posso fazer você me perdoar, e você não pode gostar de mim como gostava antes.

Senti uma enorme pontada no peito. Como se tivesse levado um soco no estômago. Não tinha nenhuma intenção de estar perto dele, mas por quê isso tem que doer tanto? Desviei o olhar dele, inclinando a cabeça para o outro lado, a fim de disfarçar o enorme nó na garganta. Ele nem mesmo tinha coragem para olhar pra mim. Por que Thomas? Por que teve que voltar pra ela, justo quando nós dois estávamos começando entender um ao outro?

— Tem razão. — concordei quase sem voz. Inalo o ar devagar para não demonstrar.

Thomas levantou-se, se saindo do meu colo. Ele se afastou um pouco, e deitou-se. A partir de agora, olhou somente para o céu e nada mais. Ele solta um suspiro, e descansa a cabeça no chão, fechando os olhos. Agora, está agindo como se aquilo não o afetasse.

Acabou. Thomas agora será apenas um desconhecido. Seremos dois estranhos de novo. Essa seria a última noite que estaríamos juntos.

Deixei que o vento jogasse meu cabelo para o rosto. Silêncio ressoando. Nada além disso. O silêncio só foi interrompido, quando a grama rechinou, no momento em que me deitei. Estávamos há quase um metro de distância um do outro. Nossas mãos eram as únicas partes nossas, que não estavam tão longe. E sem querer, elas se tocaram.

Começou apenas com uma junção de dedos, e logo, as mãos estavam entrelaçadas. Olhamos um para o outro ao mesmo tempo. Thomas estava com o rosto relaxado, pensativo. Eu sabia no que ele estava pensando.

Fui puxada pela mão, para mais perto. Não resisti ao seu movimento. Na verdade, me aconcheguei em seu abraço. Escondi o rosto no peito dele, enquanto ele tocava o meu cabelo, me dando um beijo na testa. Fechei os olhos, sentindo o cheiro do perfume. Usufruindo da emoção de tê-lo perto. Aquela era a última vez.

Adormeci completamente. Quando acordei, fazia mais frio do que antes, e o dia estava raiando. Pequenas camadas de sol, e nenhum vestígio da chuva. Bocejei, ainda com sono. Thomas estava sentado, ao meu lado, observando o a grama. Mas logo percebeu que eu havia acordado.

Me reergui, com fortes dores nas costas. Esperei que ele me dissesse bom dia, como as outras vezes, mas ele não disse.

— Bom dia. — tomei a iniciativa.

— Bom dia. — ele respondeu.

Cobri os olhos com os dedos. A luz do sol fazia com que doessem.

— Temos que ir.

— Ir?

— Pra escola. Verônica pode sentir sua falta.

— Ah. — soltei inconscientemente, me levantando junto com ele.

Bati a minha roupa, para que a terra acumulada saísse. Acabei me lembrando do moletom dele, e tentei tirar para devolver. Thomas me impediu.

— Fique. Você ainda deve estar com frio.

— Eu vou devolver pra você.

— Não precisa. Fique com ele.

Balancei a cabeça, sem falar nada. Não estava em meus planos guardar suas lembranças, mas eu desejei ter.

Nós nos distanciamos do lugar, e adentramos para dentro daquele mar de árvores. Era diferente durante o dia. Aqui está um pouco escuro por falta da luz solar, e por isso faz com que o ar se torne mais úmido. Eu fiquei para trás, e percebi que Thomas fazia isso inconscientemente. Quando percebeu, me ofereceu sua mão. Tive receio de tocar, mas toquei. O resto do caminho foi silencioso, e já podíamos ver a casa.

Mas meu corpo congelou, e aquilo não tinha nada a ver com temperatura ambiental. E sim porque haviam quase cinco carros estacionados à frente da casa. Havia algumas pessoas, e eu apertei sem querer a mão de Thomas, quando vi Kirby, minha babá, vir praticamente correndo na minha direção.

— Scarllet! — gritou ela furiosa se aproximando.

Perdi o controle da respiração, arregalando os olhos. Como isso era possível? Como sabia que eu estava aqui?

Thomas fez com que eu ficasse um pouco atrás dele, batendo de frente com Kirby. Ela parou no mesmo instante, mas seus olhos ainda estavam vermelhos demonstrando raiva.

— Solte a mão dele, Scarllet. — falou sem se mexer. Os olhos centrados nas nossas mãos juntas.

Não a obedeci, e ela continuou. Respirando fundo, como se estivesse procurando calma.

— Solte a mão dele. — repetiu.
— Solte a mão dele, agora. Eu não vou repetir pra você.

Thomas a observou dos pés a cabeça, e Kirby pegou o olhar. Ele parou exatamente no meio de sua testa, e ela logo baixou a guarda. Engoliu seco, quase suando frio.

— Não me desobedeça, garota. — Kirby disse cautelosamente.

Ela não iria desistir, e a essa altura do campeonato, eu estava em uma condição desfavorável. Meu corpo ainda estava paralisado, pelo susto em vê-la, e minhas mãos tremiam. Soltei a mão dele, e Kirby nem ao menos deu tempo para que me distanciasse dele. Ela agarrou o meu braço e me arrastou para bem longe de Thomas. Me arrastou para a direção de um dos carros. Não conhecia o resto das pessoas, mas essa não era a minha maior preocupação. E sim, o que aconteceria comigo quando estivéssemos sozinhas. Não queria pensar nisso, mas a tensão nos meus músculos, fazia com que fosse inevitável. Antes de perder a visão de Thomas por completo, a única coisa que vi, foi sua expressão intimidadora. Ele estava com raiva, mas me observou até que eu sumisse.

Kirby abriu a porta do carro, e mandou que eu entrasse. Resisti a isso, porque não queria entrar.

— Você está muito encrencada, é melhor me obedecer, garota.

— Eu não quero sair daqui. — disse.

— Você vai. Vai voltar pra escola, de onde nunca deveria ter saído. — Kirby tentou à todo custo me fazer entrar, e quando viu que não conseguiria, fez a inútil tentativa de agarrar o meu braço de novo,

— Me solte! — gritei para ela irritada, afastando sua mão.

Ela perdeu a cor do rosto, surpresa. Piscou os olhos. Tinha plena consciência que eu odiava gritos e mesmo assim gritou.

— Entre nesse carro agora, ou vou ligar para a sua mãe.

THOMAS:

Foi impossível não sentir raiva de Kirby, e principalmente, pela forma que falou com Scarllet. Ela veio correndo até mim, e consequentemente, até um dos seguranças.

— O que você fez com ela, Thomas? — não foi capaz de aumentar o tom de voz e nem mesmo teve coragem de me tratar como tratou Scarllet. Ela sabe que não pode.

— Kirby, baixa a bola. — o segurança orientou para ela, mas ela não deu ouvidos.

— A Scarllet nunca aumentou o tom de voz comigo. Ela não é assim. — pequenas rugas de preocupação surgiram em seu rosto.

— Que que foi, Kirby? Tá com medinho da sua patroa? — ela analisou o meu rosto, e o que eu disse só a deixou mais preocupada. — Eu vou te dar um bom motivo pra você ter medo dela. — o segurança tocou o meu braço. — Quem você pensa que é? Perdeu a cabeça alterando o tom de voz, porra?

— Thomas, pare com isso. — eu senti ódio quando me tocou. Estava com ódio.

— Sabe de uma coisa? Quando eu assumir essa merda, a primeira coisa que eu vou fazer, vai ser me livrar de você. Eu espero de verdade, que saiba que essa porra não é justa com ela.

— Eu praticamente criei você.

— Não dou a mínima. — vi que Brian se aproximou. — Ela já tem dezessete anos.

— E está muito bem. Graças a isso, não a estragaram que nem fizeram com você.

— Teve depressão com dez anos de idade. O que te faz pensar que não estragaram ela?

— Vamos sair daqui, Collin. — Brian puxou meu braço.

— É melhor você tomar muito cuidado para o que vai dizer a ela sobre mim. — alertei antes de sair.

SCARLLET:

Fiquei aguardando Kirby no carro. Ela claramente estava irritada comigo. Mas esse fato, também não toma o meu direito de também me ver irritada com ela. Não podia acreditar que isso havia acontecido. Tudo que eu pensava, era a parte em que a vejo conversando com Thomas, fazendo um terrível interrogatório. Às vezes, Kirby pensa que possui um relacionamento materno comigo.

Logo, ela entrou no banco da frente. Ela iria dirigir. Não falou nada, mas estava claro que não queria falar comigo, através daquela feição embutida.

— Ele não é pra você. Fique longe, Scarllet. — foi o que disse, após ligar o carro.

— Como sabia que eu estava aqui? — cruzei os braços abraçando a barriga. Querendo ou não, as dores de cólica ainda não haviam passado.

— Eu não estou reconhecendo você. Quase foi presa por roubo, e ainda por cima te encontro com um garoto. No que está pensando? — Kirby pisou no acelerador do carro. — Coloca o cinto de segurança.

E de todos os meus pavores, Kirby só me fez ter certeza de que minhas atitudes eram vigiadas. Isso aconteceu ontem, como já sabia?

— Como sabe? — odiei a atmosfera plácida, porém nada leve que o carro adquiriu. Ele apenas prestou atenção na estrada.

— Não importa. Eu não quero mais que você desobedeça. Não vou contar a sua mãe, mas se você não andar na linha, não vou hesitar. Sabe que tudo que seus pais fazem é para o seu bem.

Desenvolvi ódio por isso. Ouvir isso fez minhas têmporas gritarem. Em vez de falar alguma coisa, encostei a cabeça na janela do carro, observando o que havia lá fora. Mas não estava tão centrada ao meu redor. Na verdade, meus pensamentos vagavam para bem longe.

— Scarllet, o que foi aquilo?

— Não foi nada.

— Eu entendo, querida. Quando somos jovens, temos a tendência de procurar o que é proibido. Mas Thomas não é o tipo de pessoa que se relaciona. Se você ficar muito tempo perto dele, ele irá te magoar.

Falou como se o conhecesse. Não por uma simples vidência, mas porque deu a entender, que ela o conhecia por convívio. O que era muito estranho, então resolvi pensar que isso foi apenas a primeira impressão.

— Por que está me falando isso? Por acaso o conhece? — Kirby esbugalhou os olhos, quase suando frio.

— Conheço. — respondeu receosa.

— Desde quando?

— A família dele, é conhecida dos seus pais. Não era muito difícil vê-lo.

— Só por por conta disso acha que o conhece? — concordava com ela. Thomas já havia me magoado dezenas de vezes, mas a incoerência desse assunto me deixou obstinada.

— Conheço o tipo dele. Ele veio de uma família de homens canalhas e assim como todo o resto, é um canalha. Se você for esperta, vai ficar longe.

— Espera, conhece a família dele tão bem a esse ponto? — apertou o volante, e começou a desesperar-se, inquieta.

Não gostei disso. Era um sinal para que eu ficasse desconfiada?

— Boatos.

— Boatos quase nunca são verdadeiros.

— Ele fica com mulheres mais velhas. — soltou e pela forma que proferiu, pareceu ter disparado, só para que eu não adentrasse no assunto. Jogou isso, porque sabia que eu esqueceria o resto, e focaria nessa parte.

— Como sabe?

— A esposa do primeiro ministro. Thomas teve um caso com ela, por quase um ano. Não foi só ela, foram várias. É a partir do histórico, que você conhece.

Odiei ouvir isso. E sabia que estava revelando, só para que tivesse ciúmes, e talvez assim me convenceria a ficar longe. Ela conseguiu. Não só pelo o choque de ouvir isso, mas agora estou atônita internamente.

— Quantos anos ela tem? — sabia sobre esse detalhe imperceptível, mas queria ter certeza.

— Eu não sei. Deve estar na casa dos trinta e oito a quarenta. Ela tem uma aparência jovem e é casada. — disparou o "casada" para que eu focasse nessa parte.

— Isso é pedofilia. — conclui.

— Você acha que ele se importa com isso?

— Como sabe de tantas coisas?

— Não me pergunte isso. — Kirby balançou a cabeça. — Deveria ter aproveitado quando tive a chance de educar aquele garoto. Mas agora, não tem jeito. Ele cresceu assim, e vai continuar.

— Isso não faz muito sentido.

— Cuidei dele, quando era mais novo. — confessou. — Ele não era assim. Thomas era amável. Mas de repente, o comportamento mudou.

— Espera? Você cuidou dele? Acabou de dizer que conhecia a família dele, mas porque eram conhecidos dos meus pais.

— Bom, não fiquei tempo demais para ter um vínculo com a família.

— Mas você não cuidou apenas de mim? Como é possível ter dois trabalhos ao mesmo tempo?

— Não se sinta tão importante. — ela brincou. — Eu sempre cuidei de você, mas às vezes, também tinha outros trabalhos.

Inegável a forma que quase tenho certeza que só está me enrolando. É difícil entender, quando ela mesma parece se contradizer. As palavras sem sentidos. Já senti isso antes. É repassado de pessoa pra pessoa. Não importa o quanto eu lute para ignorar, parece que todo mundo mente pra mim. E nem mesmo Thomas foi diferente.

— Legal. — suspirei na esperança de não tentar mais arrancar nada dela. Sei como termina.

— Prometa que irá ficar longe dele...

Fingi não ter ouvido. Não porque estaria perto dele, mas porque sentia raiva de toda aquela superproteção idiota. Por algum motivo, pensava que aquilo duraria para sempre e eu não sabia se aguentaria para sempre. Imaginava como seria daqui pra frente. Eu já havia acostumado, mas de certa forma, algo dentro de mim, quer trazer o descontrole para vir à tona.

— Scarllet?

— Eu quero voltar pra escola. — fechei os olhos, sentindo o aroma bom que vinha do moletom de Thomas.

Não queria conversar. Queria ficar na minha. Doía. Como doía. Eu nem mesmo tive a chance de me despedir dele. De qualquer forma, aquela era a despedida. Iria mandar todos os sentimentos para o ralo. Iria descartá-los. Mas tem alguma coisa. Algum tipo de magnetismo. O que me faz ter algo tão forte em relação a ele. Tão forte, ao ponto de passar por cima das ordens dos meus pais. De ignorar o resto do mundo, só para passar cinco minutos com ele.

Dormi o resto do caminho. Só acordei quando o carro estacionou em frente ao residencial. Aquilo não era proibido?

Verônica estava parada, me observando do lado de fora. Estava furiosa. Cocei os olhos, cansada e saí do carro.

— Onde estão as outras? — Verônica questionou.

— Acredito que já estão aqui. — Kirby respondeu. Elas se conheciam? Não demonstravam estranheza uma para a outra. — Se ainda não estão, irão chegar agora.

— Você está muito encrencada, mocinha. — Verônica me encarou perplexa. — Aliás, as quatro. A diretora vai querer ver vocês.

Minhas pernas quase cederam, e uma forte força de desmaio. Aquilo com certeza havia circulado demais. Verônica estava certa. Eu estou muito encrencada. Mordi a unha, subitamente dominada pelo nervosismo.

Elas me encurralaram de volta para o quarto, e me vi sendo obrigada a aguentar ouvir um prolongado sermão. Em trinta minutos, minhas amigas estavam aqui, e por mais que estivesse em meu quarto com o corpo trêmulo, ouvia a discussão de Verônica com Sam. A cada frase, uma resposta na ponta da língua. Deveriam assumir o erro, mas Sam não estava disposta a isso.

Os gritos de desaforo ecoavam pelos corredores. Me senti péssima pelas meninas que estavam dormindo. A essa altura, apostaria fielmente que ninguém ali ainda dormia, com a excessão apenas das garotas que estavam situadas no andar de cima.

— Pra diretoria, agora! — Verônica procurou paciência por muito tempo, mas explodiu de vez.
— As quatro! — esbravejou. — Scarllet, venha aqui.

Caminhei devagar até a direção daquela zona. Bati de frente com elas. Não estavam com uma feição boa, principalmente Samantha. Olívia, era a única que parecia mais calma. Fomos arrastadas até o prédio da direção, e não fomos tão bem recepcionadas pela diretora.

— Deixa eu adivinhar, está decepcionada? — Samantha fez careta nada convidativa para a diretora.

— Sentem- se, agora. — nós nos sentamos, trocando olhares. — Roubaram um cheque de trezentos mil dólares? Se hospedaram em um hotel de luxo e gastaram um absurdo em lojas? Sinceramente, não era o que eu esperava vindo das quatro.

— Nós não roubamos. — Samantha resmungou. — A gente só tinha pegado emprestado. Foi um mal entendido.

— E como conseguiram aquele dinheiro?

— Acabei de dizer.

— Eu quero a verdade.

— Essa é a verdade.

— Muito bem. Caso não saibam, quando estão fora da escola, e cometem esse tipo de erro, a escola assume a responsabilidade, pela irresponsabilidade de vocês. Não vou avisar aos seus pais, porque eu tenho que manter o meu emprego. Francamente, isso foi deplorável.

— Acabou, diretora? — Sam confrontou.

Eu não tinha muito o que dizer. Sabia que nós estávamos erradas, e não tínhamos direito de fala, apenas de escuta. Arcaríamos com às consequências, e Sam exibir seu desaforo, não ajudaria em nada.

— Não, não acabei. Se fosse uma moça educada, esperaria seu momento de fala. — a diretora não hesitou em resoondê-la. — O seu pai mandaria você para um convento se soubesse.

Sam deu risada, mas ela estava emburrada.

— Espero de verdade que não liguem para unhas feitas. — ela encostou a cabeça com o cotovelo, mas manteve a postura. — Cheguei à conclusão que tirar pontos não fará com que se arrependam. Por isso, vão trabalhar. E acreditem, não vou pegar leve com nenhuma de vocês.

— Maldito Collin. Filho da puta dedo duro. — Samantha ciciou. A diretora ouviu, mas preferiu ignorar.

— Vou dividir às quatro. Hilary ficará com Samantha e Olívia ficará com Scarllet. Vocês farão trabalhos comunitários por uma semana.

Ouvir aquilo, foi o suficiente para fazer minha cabeça latejar. Eu preferia qualquer coisa, até mesmo perder pontos, a ter que voltar a fazer aquilo.

— Hilary e Samantha ficarão com a limpeza das piscinas do residencial, com a limpeza do chão, dos banheiros não privados, com a limpeza da grama, da cozinha, lavarão todos os pratos do refeitório, todos os dias, e também ficarão suspensas das atividades extra curriculares. — à medida que ouvíamos, ficamos boquiabertas, e de olhos arregalados. Era muita coisa e exigia muito esforço.
— Enquanto Olívia e Scarllet, irão limpar todos os livros da biblioteca, todas às salas de aulas, às salas do prédio da condenação, irão pra lavanderia lavar roupa, e também ficarão responsáveis pelas limpezas dos quartos do residencial masculino. Alguma pergunta?

— É que... é possível fazer tudo isso em uma semana, todos os dias? — Olívia questionou ainda chocada.

— Foram rápidas em gastar uma quantia de dinheiro grande em pouquíssimo tempo. Aposto que também serão rápidas na limpeza.

— Isso não é justo. — Hilary disse.

— Ele tem dinheiro e nem sentiu falta. — Sam produziu um som de irritação.

— Não importa. Roubo é roubo. Ele foi gentil em enviar dois advogados pra vocês. Caso contrário, iriam ficar com o nome sujo. — a diretora tentou manter a calma. — Agora, já podem se retirar. Hoje mesmo começam.

— Espera. — Sam pressionou os lábios, olhando para baixo. — A Scarllet não tem culpa de nada. Ela tentou impedir, e nós fizemos isso pelas suas costas. A Olívia soube pouco tempo antes dela. Ela iria contar, mas eu e Hilary fizemos ela guardar segredo. Pode nos punir, mas deixei a Scarllet e Olívia fora disso.

A atitude de Samantha em dizer a verdade, me deixou um sentimento bom em relação a ela. Eu não queria pagar por algo que não fiz. Mas mesmo assim, sem que queira, uma culpa imensa e arrasadora me inunda. Surpreendentemente, preferi ficar em silêncio.

Eu e Olívia olhamos para ela ao mesmo tempo. A diretora suspirou, surpresa. Balançou a cabeça em silêncio, pensativa.

— Terei que punir a senhora Kingsley mesmo assim. Ela também descumpriu a regra. Deveria ter ficado em seu quarto, porque tem ordens pra isso. Serão todas punidas.

— Mas isso não é justo! — Sam excruciou.

— Saiam daqui, por favor. Já terminamos.

Nós nos levantamos, e caminhamos para fora. Samantha deixou todo o ódio que estava sentindo visivelmente.

— Ela tem que ser demitida.

— Sam, já chega. — Olívia encostou na parede.

— Como passou à noite? Para onde levaram você? — Hilary fez questão de perguntar.

Não sabia se deveria dizer a verdade ou não. Era uma história longa, e renderia muitos questionamentos, por isso optei por contar uma mentira.

— Me interrogaram no hotel, só isso. E eu tive que passar a noite lá. E como foi a noite de vocês? — enfiei as mãos nos bolsos enquanto imaginava pelo o que passaram na cadeia.

— Eles nos deixaram acordadas à noite inteira. Sentadas em cadeiras. Mas não nos mandaram pra cela.

— Bom, poderia ter sido pior. — dei de ombros e Olívia confirmou com a cabeça.

[...]

Mais tarde, naquele mesmo dia, eu arrumei o meu quarto, já que teria uma semana agitada. Precisava dormir, e desabei na cama. O meu sono se tornou turbulento, quando algumas imagens perambularam.

Eu e aquele mesmo garotinho, estávamos brincando na grama. Eu escolhia qual lacinho de cabelo combinava com a cor de seus olhos. Era péssima em combinações, mas tinha a intensa esperança que qualquer coisa combinaria. Afinal, ele era o meu principezinho. Qualquer coisa ficaria bem nele.

— Senta. — apontei o dedinho pra ele, ele me obedeceu.

Fiz uma amarração no cabelo dele, e prendi com o lacinho roxo. Recompensei com um beijinho na testa, por ele ser tão bonzinho.

— Os meus amigos estavam rindo de mim porque uso seus lacinhos. — Thomas cochichou.

— Qual o problema? Eles deveriam usar também. Aonde eles estão?

— Ali. — ele apontou com o dedo para a direção do escorregador.

Abri a boca com um sério murmuro assustado. Estavam torturando uma lagartinha. E estavam se divertindo enquanto assistiam seu sofrimento.

— Thomas, eles estão torturando uma lagartinha.

— E daí? — Thomas olhou para aquela direção e não demonstrou sentir pena da lagartinha. Fiquei furiosa com ele.

— E daí que eu não quero que ela seja torturada.

— Você vai ficar feliz se eles pararem? — questionou ele franzindo a testa. A resposta era óbvia.

— Sim. — sorri contente. — Vamos logo, antes que eles a matem.

Eu o acompanhei quando se levantou e caminhamos até eles.

— O que estão fazendo? — Thomas perguntou a eles, e foram interrompidos. — Para com isso.

— Eu quero a lagartinhos lá pra mim. — sussurrei para ele.

— Me dê a lagarta.

— Não. Eu encontrei ela. — um deles respondeu.

— E daí? Eu quero mesmo assim.

— Vou dar a você, porque é meu amigo. — ele pegou a lagartinha com os dedos, e eu entrei no caminho dele, e peguei para mim.

— Não podem fazer isso com os bichinhos. É muita maldade. — eu disse. — Obrigada. — dei de costas.

O ambiente mudou, e agora estou nos braços de alguém que não conheço, gritando, pelo nome de Thomas e ele grita pelo o meu.

— Não, eu quero ficar com ele. — tentei me soltar para ir para sua direção.

Chorei porque mamãe havia descoberto. Ela mandou que trouxessem seringas, e uma pessoa injetou em mim, enquanto me falava que tinha que relaxar, porque estava sonhando. Quando acordei, abri os olhos assustada, ouvindo gritos.

Thomas estava na minha frente, em pé, assustado e triste, com a minha mãe ao seu lado. Ele não podia me ver, e nem mamãe. Ele estava incapaz de se mexer, a respiração curta e sucinta. Olhos arregalados, apavorado cada vez que ouvia os gritos de uma mulher vindo de uma sala longe da luz.

— Está vendo, querido? Olha o que você fez. O seu pai me deu permissão para fazer isso. Assim poderá ser educado e pensará bem, antes de tomar qualquer decisão. — mamãe sussurrava no ouvido dele.

— Você está mentindo.

— Não está ouvindo os gritos dela? Quantas vezes tenho que repetir a mesma coisa, meu amor? Você matou Mare Vitaline. — mamãe abaixou-se sorrindo, olhando para ele.

Os gritos de desespero da mulher, começaram a me assustar. Eu queria sair daqui, queria que esse sonho acabasse. Mas o tempo congelou-se, e me vi no mesmo estado de Thomas.

— Olhe para sua frente, meu amor. — ela disse.

Virei a cabeça lentamente para lá, com medo e assustada. Foi quanto vi o corpo da mulher desbeiçada no chão. Os braços estão expostos a imensos cortes, sangue petrificado, e um olhar exageradamente branco, empalidecido. É uma visão horrenda. Os olhos de Thomas brilharam com lágrimas, enquanto chorava silenciosamente.

Mamãe sorria como se o peso daquilo não a assustasse. Ela estava completamente normal. Foi quando o cadáver rolou os olhos pedrados para mim e Thomas, e gritou: ASSASSINOS!

Acordei gritando, chorando, sem conseguir respirar. A espessuras dos lençóis deixaram meu corpo coberto de suor. Arremessei para longe, e corri o mais rápido que pude para o banheiro. Eu tinha esse mesmo pesadelo desde criança.

Com a visão embaçada, pelo excesso de tantas lágrimas que rolavam pelo meu rosto, eu sentia perfeitamente o campo magnético daquele pesadelo. As sensações, o frio que fazia, a dor que sentia. Peguei uma folha de papel higiênico, e a caneta que estava jogada sobre o chão.

Escrevi o mais rápido que podia, antes que esquecesse daquilo por completo, como foram todas às vezes.

Mare Vitalini. Escrevi, para que sabotasse o meu próprio cérebro. Ele iria apagar aquilo da minha cabeça o quanto antes.

Encontrei, o nome que tanto procurava. Eu havia esquecido após um tempo. O nome dessa mulher, que tanto habita nos meus pesadelos.

Encostei-me de volta na pia, com a hostil emoção de que iria morrer. Fazia um tempo desde que tive a última crise. Mas ela havia voltado. Desatei um grito, com a intensa dor. Desejei que estivesse morta. Procurei pela tesoura, qualquer coisa que aliviasse. Mas não havia nada.

Liguei a torneira, para observar a água sumir pelo ralo, enquanto expirava e inspirava. Fiz isso por muito tempo. As lágrimas desciam, mas eu estava mais calma. Só depois me dei conta que havia esquecido o nome dela, e havia esquecido quem era o garoto do sonho.

Peguei o papel higiênico, cujo continha aquele nome. Mare. Esse era o nome dela. De onde vinha aquele nome? Por que tão familiar? A minha cabeça havia criado para que me torturasse durante o sono, e depois excluísse completamente, para que na próxima noite eu pudesse sentir às mesmas coisas de novo?

[...]

Desci as escadas, correndo para o prédio da coordenação. Era quase 18:20 e eu não tinha muito tempo. Teria que correr.

— Boa noite. — eu disse para a recepcionista. — Então, eu preciso da sua ajuda. É pra um trabalho da escola.

— Como posso ajudar?

Peguei o papel do bolso, para checar. Eu havia decorado, e fazia de tudo para não esquecer. Estava imensamente presa a isso, e bolei uma boa forma de matar minha dúvida.

— Eu queria saber, se os alunos podem ter acesso aos registros dos antigos funcionários? É só uma pesquisa. Prometo que não irei fazer bagunça. — encostei as mãos no balcão, com o sorriso mais agradável que poderia oferecer.

— Bom, vá para a sala treze e converse com a garota que vai estar lá. Diga a ele que tem permissão, ela irá mostrar a você.

— Obrigada. — soltei um suspiro de alívio.

Bati na porta e recebi permissão para entrar. Me deparei com uma das alunas. Maddy Donavan. Um sorriso receptivo, insinua-se no rosto dela. Era estranho ver um aluno trabalhando para a escola. Provavelmente estava pelos pontos, ou havia cometido algo que irritou a diretora.

— Boa noite. A recepcionista disse que eu poderia pedir a sua ajuda. — fechei a porta e caminhei até a mesa que ela estava sentada. Ela deu atenção ao computador, mas depois retornou para mim.

— Como posso ajudar?

— Registro dos antigos funcionários. — endireitei o colarinho da minha blusa, antes de acrescentar:
— Trabalho da escola.

— Ah. Pode vir aqui. — puxou a cadeira. Fiquei agradecida por ter sido tão rápido assim.

Me sentei e ela abriu uma aba, no computador. Depois de alguns cliques, uma longa lista de nomes refletiu na tela branca do computador. Eram muitos.

— Bom, pelo o pouco que sei, estão separados por pastas de acordo com o ano de ingresso.

— Ano? — ai meu Deus. — Eu procuro por Mare Vitaline. Não sei em que ano trabalhou aqui.

— Posso fazer uma procura. Mas vai demorar um pouco. Tem tempo?

Eu não tinha tanto tempo assim. Tinha que correr para a biblioteca para limpar os livros. Mas não sairia daqui sem uma resposta.

— Tenho. — afirmei com a cabeça.

Maddy demorou cerca de quase dez minutos no computador. Eu apenas observava e torcia para que não estivesse tomando o tempo dela. Após isso, ela finalmente disse algo.

— Não há nenhum registo de um funcionário com esse nome.

— Droga. — sussurrei.

Minhas suspeitas estavam erradas. Maddy afasta a franja de fios pretos dos olhos. Ela notou meu desânimo.

— Por que não procurar no registro da escola de crianças? O primário?

De repente, uma luz. Fica há uma hora daqui, e apenas crianças de cinco a dez anos estudam lá. Foi lá que passei minha infância.

— Também temos os registros do fundamental.

— Procure no primário, por favor.

Maddy se concentrou. Ela estava disposta a me ajudar. Observei freneticamente aquela tela, torcendo para que desse certo.

— Aqui. — ela falou e meu rosto se iluminou. — Mare Vitaline. Trabalhou no instituto de crianças do Havey há dez anos atrás.

— Você tem uma foto? — perguntei esperançosa.

— Não. Há poucos dados sobre ela. O básico. Quando trabalhou como instrutora, tinha apenas vinte e sete anos de idade. Mas foi exonerada do cargo no final do ano.

— Por quê?!

— Aqui não diz. — observei a tela, acompanhado a leitura dela.

— Só isso? Eles não fazem um interrogatório antes de contratar alguém?

— Sim, mas curiosamente só tem isso. Não há mais nada.

— Talvez na escola em si, tenha algo a mais.

— A escola foi fechada há sete anos. — encarei ela perplexa. Com certeza estava mentindo.

— Não. Eu estudei lá há sete anos.

— Bom, a escola foi fechada. Assim como a escola do fundamental.

— O quê? Isso não é possível. — Maddy me lançou um olhar como se eu estivesse louca ou exagerando demais a situação. — Estudei lá há dois anos.

— Foi fechada há dois anos atrás. E essa também será, pelo o que me parece. Pelo o que me parece, só tem um ano de garantia ou bem menos.

Aquela conversa estava começando a me assustar. Por coincidência, todas elas fecharam justo no ano em que sai. Por um instante, minha respiração fica presa na garganta.

— Por que estão fechando as escolas? Isso vale para todas às redes que estão espalhadas pelo país?

— Os donos, irão fechar. Ninguém sabe o motivo. E sim, vale para todas os colégios do país.

Algo em mim alarma para que abra os olhos. Há algo de muito errado nisso. Mas o quê? Primeiro descubro que a mulher que passei anos tendo pesadelos, realmente existe e agora, descubro que estranhamente, todas as escolas que passei a vida inteira estudando, milagrosamente fecham. Isso não faz muito sentido.

— Você precisa de mais alguma coisa?

— Pode passar os arquivos para meu computador?

— Eu não sei. Isso não consiste na política das normas da escola. — Maddy negou com a cabeça.

— Ninguém precisa saber. Posso te oferecer algo em troca? — eu estava disposta a dar qualquer coisa.

Maddy baixou o olhar, extremante calma e serena.
— Tudo bem. Mas por favor, não conte a ninguém.

— Obrigada. — arranquei o notebook de dentro da mochila.

[...]

Eu estava trinta minutos atrasada. Mas eu não me importava, porque tinha todos os arquivos no meu notebook. Contemplava a ideia de esclarecer tudo. Olívia teria que me perdoar. Empurrei a porta de vidro da biblioteca, que à propósito estava fechada. O frio gélido causado pelo ar condicionado, levantou calafrios.

— Oi. — a minha voz ecoou. Havia tantas fileiras de estantes, que tive dificuldade para encontrar Olívia.

— Oi. — ouvi a voz dela vindo da parte superior. Estava no andar de cima.

Joguei minha mochila sobre uma das mesas e subi para me encontrar com ela. Ela estava limpando uma das estantes. Foi rápida. Pelo o que via, já havia limpado duas fileiras.

— Me desculpe, por não ter vindo antes.

— Tudo bem. — tranquilizou ela enquanto arrancava o poeira impregnada. — Nós não vamos conseguir terminar isso tão cedo mesmo.

— Enquanto Sam e Hilary? — peguei um pano para dar início ao trabalho.

— Ah, elas foram para o refeitório. Estão lavando os pratos.

Sem querer dei um risinho. Hilary odeia que suas unhas quebrem e lavar pratos, está imensamente fora da realidade pra ela.

— Hilary achou tudo isso uma humilhação. — Olívia deu risada, concentrada no que fazia.

— Não estou surpresa.

— Acho que depois disso, entre ficar chorando por um garoto dentro do quarto e sair pra me divertir, eu preferiria chorar.

— Digo o mesmo. — Olívia me observou ainda sorrindo. Fiquei intimidada por aquele olhar. Mas logo voltou a fazer o que fazia.

O tempo passou, e eu descobri em Olívia, uma amiga. Nunca tivemos a chance de debater sobre qualquer tipo de assunto. E justo hoje, descubro sobre seu fascínio por livros de história clássica. Estilo romeu e julieta. Ela também menciona sobre adorar cozinhar, fazer desenhos, e de vem em quando meditação.

Nossos gostos não são cem por cento parecidos, mas em boa parte, gostei de estar perto dela. Não a vejo mais como a garota pela qual me comparava, mas isso era inevitável. Agora a vejo como a garota legal e a minha nova amiga. Ela é do tipo de pessoa que você torce para que goste de você.

Já eram quase oito da noite, e o nosso tempo esgotou. Finalmente. Passou rápido e ao todo limpamos juntas duas estantes.

— Já deu nossa hora.

— É, vamos embora. Aqui dentro está congelando. — Olívia aqueceu as mãos esfregando uma contra a outra.

— Scarllet? — Olívia disse antes que desse o primeiro passa para sair.

— Sim?

— Obrigada por ter conversado por tanto tempo comigo. Eu estava me sentindo mal, e agora estou bem melhor. — eu corei. Ninguém nunca havia me dado essa visão.

— Obrigada você também por ter conversado comigo. — sorri verdadeiramente. Ela me abraçou.

Quando o abraço durou tempo suficiente, ela parou para me olhar. Nós trocamos olhares, antes que ela me beijasse de novo. Eu ainda estava me acostumando, com os lábios macios dela e o gosto de morango. Olívia me empurrou vagarosamente, gentilmente contra a estante de livros.

— Espera. — interrompi. — Tem câmeras aqui.

— Eles não ligam para olhar. — Olívia me beijou de novo.

As mãos dela tocaram suavemente meu rosto, e eu toquei o dela. Totalmente desacostumada a beijar outro alguém que não fosse Thomas. Aliás, era nele que pensava enquanto beijava Olívia. Era incontrolável não comparar o beijo.

Enfim nos afastamos, sorrindo uma pra outra.

— Que tal irmos pro campo? Vai ter um jogo. — Olívia disse com entusiasmo.

— Eu não sei.

— Ah, vamos... — fez vozinha melancólica. Me lembrei de Sam.

— Por que não? — comecei a cogitar. Eu não iria demorar, porque queria analisar aqueles arquivos.

Descemos e eu peguei a minha mochila. Sentamos na arquibancada, e havia uma boa quantidade de pessoas para assistir. Mas não uma quantidade monstruosa quanto a que participei pela primeira vez.

— Aí, Olívia! — uma voz gritou. Aquele era Dawin.

Droga. Meu coração disparou. Os amigos de Thomas estavam todos aqui. Todos eles, sem excessão. Procurei por ele, para ter certeza se já estava na hora de ir embora, mas inacreditavelmente, ele não estava.

— Aí cara, olha só o que temos aqui. — Dawin falou pra Brian, mas seu olhar dizia que havia falado para todos os seus amigos. — Quais são às chances disso acontecer? — logo percebi sobre estar falando de mim e Olívia sentadas perto uma da outra.

— Não enche. — Olívia falou pra ele revirando os olhos.

— Puta merda, essa é a hora pro Collin aparecer. Eu queria ver a cara dele. — Lucas deu risada. Como eram irritantes.

Brian foi o único que não riu, porque estava ocupado demais olhando pra mim e Olívia. Como se estivesse nos julgando, como seu soubesse de todos os nossos pecados.

Dawin abraçou Lucas, fingindo estar beijando o pescoço dele. A situação ficou ainda mais desconfortável, quando ele começou a gemer o nome de Thomas.

— Thomas... Ai meu Deus. Thomas... — Lucas começou a fingir estar dando uns amassos com Dawin. A mão de Dawin foram para a bunda de Luxas, dando um tapa, e ele gemeu de novo o nome de Thomas.

Olívia engoliu seco, entrando em estado rígido de nervosismo. E até eu fiquei, porque comecei a pensar sobre a ideia de terem me ouvido. Mas tratei de disfarçar, porque não queria alarmar suspeitas.

Lucas deu um selinho em Dawin, e assim como fez com Thomas, deu um tapa, com um sorrisinho provocativo.

— Aí, para com essa merda. — Eric reclamou amarrando a chuteira.

— Ah, qual foi? Também quer um beijo? Naquela noite você não reclamou, porra. — Lucas disse. — Aí Brian, você ouviu? Thomas...

Brian deu risada.

— É claro. A escola inteira ouviu. — falou instavelmente calmo. Meu mundo desabou. E pelo o que parece, o de Olívia também.

Então, nós duas estávamos mesmo na mesma situação. Fiquei com ciúmes, com raiva, e extremamente constrangida. Se saísse agora, deixaria claro que aquilo me afetou. Mas não dava para saber de qual das duas eles falavam. Me senti super mal, por me pegar desejando que fosse com Olívia. Como se tudo não pudesse piorar, Thomas surgiu. Ele caminhou até seus amigos, de chuteira e uniforme de futebol. Não me viu e nem viu Olívia.

———————————-

135k? MDS EU TÔ MUITO FELIZ!!! obrigada por tudo gente. sinto MUITO carinho por cada um que acompanha a fic e me incentiva a continuar.

eu tive que desativar as notificações enquanto terminava de escrever. 10k de notificações? eu n sei se tô triste ou feliz. pq gosto de ler todos os comentários e eu tô vendo que não vai ter como KKKK aaaa chorei. enfim, tô muito feliz. n tenho nem palavras pra dizer. choro, apenas.

depois daquele incidente com meu celular, que poucos acompanharam a luta KKK, ele ficou com o teclado bugado. aí é comum ter uma palavra errada, por erro de digitação ou pelo maior vilão que se chama meu corretor.

enfim, só isso mesmo. caso queiram fazer perguntas sobre a fic, podem me mandar mensagem a vontade. eu demoro de responder, pq é muito corrido. mas eu sempre respondo❤️

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