- Rafe Cameron -
A semana passa mais lenta do que jamais passou, parece que cada dia fica pior, eu me estresso a cada segundo, depois do trabalho fico na casa da Kiara mas quando volto para a mansão o mesmo ar pesado se instala em mim, quando eu subo para meu quarto as risadas de Grace ecoam por todo o corredor, a porta aberta do quarto deixando qualquer um ouvir as risadinhas dela e do pogue, eu fico na sala, mexendo em meu computador e ignorando o intruso em minha própria casa, vejo Grace e jj andando de um lado para o outro, saindo de casa juntos, voltando pela madrugada ainda com as mesmas risadinhas, os dias continuam da mesma forma, trombando com os dois na cozinha e sentindo o peso do ar nos esmagando enquanto preciso assistir a eles fazendo comida juntos enquanto encho minha garrafa de água, eu volto do serviço e consigo ver os dois no píer, sentados abraçados olhando o sol se pôr, ficando preso em meu quarto junto de kie tentando ignorar as vozes de todos os pogues na minha casa, rindo e conversando, minha irmã gêmea se divertindo como se fosse um deles, como se jamais tivesse sido uma Cameron, quando saio para trabalhar, ainda são sete da manhã e já dentro do meu carro saindo da casa eu os vejo sentados no telhado, o lugar que costumava ser meu e de minha irmã, apenas nossos, agora deles, trocando beijos e assistindo o nascer do sol até o ponto mais alto, remoendo cada palavra que aquele nojento confessou a mim, mais tarde minha irmã passando por mim, trocando rápido olhar antes de o cerrar, erguendo o queixo e levantando uma muralha contra mim, não somos gêmeos, ela não é um Cameron e parece que deixou de ser minha irmã pois jamais me senti excluído de tal forma.
Eu odeio aquele cara, ele é um pogue, um sem futuro que não irá agregar nada na vida da minha irmã, alguém que não tem família muito menos legado para se comparar a minha gêmea; uma Cameron. Eu os vejo a todo tempo, a forma que maybank sempre toca seu rosto e leva mechas de seu cabelo atrás da orelha para poder sussurrar qualquer coisa que faça Grace rir, a forma que ele a beija e a abraça como se da mesma forma que me confessou, ele a amasse. Não sei se é verdadeiro e eu odeio mais ainda o fato de parecer verdadeiro. Se for um teatro, ele é o melhor ator, porém eu não quero aceitar, não quero digerir o fato de que o cara que Grace me falou com tanto carinho sobre, é jj maybank, que provavelmente ela o ama na mesma intensidade que ele confessou a amar, ela parece feliz, parece gostar dele, ele parece feliz e realmente parece ser bom para os dois, mas não quero aceitar, por culpa desse garoto a minha única amiga passa por mim sem me digerir uma única palavra, não faço a mínima questão de me dar bem com um cara que me afasta minha própria gêmea.
— Por favor... se você não ao menos tentar, vocês nunca mais irão se falar — eu não me viro, continuo encarando a janela do meu quarto sem a mínima vontade de ouvir as palavras de kie
— Parece que ela está bem com está ideia. — eu digo, frio e firme como se não me importasse
— Você sabe que ela sente sua falta, ela já até mesmo assumiu. Todos nós vamos.. até wheezy vai. — kie insiste outra vez tocando meu braço com cuidado
— Eu não vou. — minha voz sai áspera, kie parece desistir
— Então eu fico aqui com você... podemos assistir aquele filme que n—
— Não. — eu a corto, recuando e me afastando — Quero ficar sozinho... vá com eles. Vá se divertir.
O silêncio pesa o ar do quarto, sem saber se vai ou fica, sei que a semana não foi fácil para kie, sei que ela deve estar sentindo a frieza toda que estou, eu sinto muito por ela, não queria a afetar desta forma, porém é minha irmã gêmea, a única que me restou depois de minha mãe e a única que esteve comigo, Kiara está aqui do meu lado mais jamais será Grace, não me resta ninguém, nem ao menos minha irmã gêmea.
Eu a ouço suspirar, logo antes de ouvir os passos saindo do quarto e me deixando só, a porta aberta permite ouvir as conversas no andar de baixo.
— Então vamos indo... — é Sarah, passos e mais passos antes que a porta da frente de casa se bata, todos eles saíram juntos, minhas irmãs e os pogues saindo junto como verdadeiros amigos restando apenas eu nesta casa fria.
O silêncio em toda a mansão e o mesmo silêncio que eu não ouvia em dez anos, o lugar frio, nada agradável, meu coração vazio sendo preenchido apenas por um dor tão forte que me faz desabar no chão, o mesmo silêncio que ouvi no dia em que minha mãe morreu, não há nada, nem ninguém, nem mesmo Grace...
Eu caio, fico caído no chão e me deixo chorar feito um grande bebezão, uma confusão entre tristeza e raiva porque Grace o escolheu, ela escolheu ele, ela preferiu ficar ao lado do garoto que nem se quer conhece direito do que ficar comigo, com o irmão gêmeo que sempre a protegeu e o único que fez questão de a tirar do inferno que foi presa. Não fiz querendo algo em troca, Grace é minha irmã gêmea e nos falando ou não, eu sempre irei a salvar, sem pensar duas vezes ficaria do seu lado, mas dói. Tudo queimada, arde e se destrói em meu peito porque minha irmã não é mais minha irmã, não é mais meu único ponto de paz muito menos minha amiga, ele é um pogue e mesmo assim ela o escolheu.
Eu fico no chão, respirando fundo e tentando não lembrar da morte de minha mãe, tentando ignorar a falta de Grace, tentando não remoer a mediocridade do meu pai e a distância de minhas irmãs. Sozinho. O choro passa, eu me levanto, lavo meu rosto, firmo minha expressão mentindo para mim mesmo que não deixei a dor me tomar e não acabei de desabar, desço as escadas, todos foram jogar boliche e comer pizza então mais uma vez nessa semana irei jantar sozinho.
Entro na cozinha, reviro os armários procurando algo para comer porém paro, notando em cima da bancada a carteira de Grace, segundos antes de ouvir a porta da frente se abrindo.
— Já volto! — é a voz de minha gêmea, deixando o barulho dos saltos ecoarem por toda a casa antes que ela invada a cozinha.
Ela para de correr e parece travar diante a porta, me encarando no mesmo tempo que o ar da cozinha pesa, silêncio tão grande que nos permite ouvir o barulho de nossa garganta engolindo seco o desconforto de estarmos sozinhos no mesmo ambiente, a mesma dor voltando para meu peito.
— Err.. — Grace da pequenos passos, pegando a carteira sobre a bancada e a levantando — Esqueci a carteira.
Ela não força um sorriso, apenas ficamos numa estranha troca de olhares antes de Grace dar meia volta em direção a porta da cozinha.
— Até quando vai continuar com isso...? — eu sigo firme, silêncio, apenas o lento movimento de Grace se virando e me encarando firmemente
— Até você aceitar ele... — sua expressão não treme, eu me sinto um mostro ao ver minha própria irmã gêmea levantando a guarda de tal forma contra mim
— Grace você está agindo feito uma criança. Uma pirralha mimada. É a minha casa. Você não pode me exilar desta forma e querer que eu conviva com esse cara. Você é tá sendo tão infantil, escolhendo ele dessa forma. EU SOU SEU IRMÃO! — eu me descontrolo e sei que Grace já notou tudo que eu tentei esconder nos últimos dias
— Rafe não adianta gritar comigo... — Grace sempre finge ser uma pacifista mesmo que na primeira oportunidade ela já esteja socando a cara de quem a confrontou — Eu estou com ele, ele irá sim continuar vivendo aqui e não me importo com sua opinião pois é isso que me faz bem. Jamais pedi para você ser amigo de jj mas você o deve o mínimo respeito, siga seu próprio conselho rafe, seja meu irmão, estou feliz, fique feliz por mim e aceite o garoto que eu estou.
— Eu ficaria se talvez, esse único garoto não tivesse TIRADO A MINHA IRMÃ DE MIM! — berro, estou magoado, Grace não vai fazer me sentir pior do que já estou
— VOCÊ ME AFASTOU! Você ficou agindo feito criança ao invés de ficar feliz! Ele é literalmente o primeiro garoto que eu consigo me envolver e você prefere deixar a sua briga com ele acima da minha felicidade! Que tipo de irmão age assim? — estamos em uma guerra de olhares e eu não quero perder mesmo que eu sinta a sua razão
— Eu o aceitaria. Eu o aceitaria se você tivesse a mínima maturidade para isto. Mas não. Grace sempre sendo a mesma mimada de sempre. Me ignorando sem nem perguntar como eu estou, sem nem se importar com oque aconteceu comigo apenas por um garoto! Ele é "literalmente o primeiro garoto" que você consegue se envolver e foi o suficiente para você me jogar para escanteio! Eu insisti na kie porque você me incentivou! Eu estava com ela mais jamais deixei de me preocupar com você! Você sempre foi minha preocupação número um! Cuidava de você, me sentia mal em sair com ela e deixar você em casa, preferia ficar dormindo em uma poltrona dura de hospital do que ir ver a minha namorada porque você é a minha irmã gêmea, porque você é a minha única e melhor amiga e eu jamais deixaria de falar com você por causa de uma única garota, todas as minhas preocupações, Grace! TODAS ELAS! são sempre você! Como você sente, como você está, oque você quer, oque você precisa, trabalho feito um escravo naquela empresa apenas para poder te tirar desse lugar, te dou tudo oque quer, dormia com você todas as noites para você não ficar só, fiz de tudo! De TUDO! PORQUE VOCÊ É A MINHA IRMÃ! Você só precisou de um garoto, apenas de uma chance para me jogar de lado sem se importar em como EU ME SENTIA! — já me descontrolei, já estou berrando com os olhos marejados a ponto de novamente chorar feito um bebezão na frente de minha irmã, não quero chorar, não quero que Grace pense que isso é apenas um teatro para me fazer de vítima — Não é pelo fato de eu não gostar dele, eu nem me importo! Não ligo se ele é um pogue ou se eu não gostava dele antes! E lá no fundo, meio que gosto dele só pelo fato de você estar feliz, porque mais uma vez a minha única preocupação é você! Mas você me excluiu! Você me deixou de lado quando ele apareceu, sem se importar comigo mesmo sabendo que você É A ÚNICA PESSOA QUE EU TENHO! VOCÊ É A PORRA DE UMA EGOÍSTA E EU NUNCA FARIA ISSO COM VOCÊ!
Eu estou chorando, feito um bebê eu pressiono meus olhos para ignorar meu choro na tentativa de fazer ele se cessar. — Eu nunca teria feito isso com você...
Minha irmã me abraça, seus braços enrolando meu pescoço e me puxando para ela, eu continuo a chorar e a abraço de volta com medo de que ela me deixe para correr até aquele pogue.
— Eu sei que errei mas eu nunca te deixei sozinha... eu nunca te fiz sentir só e a única vez que você se sentiu sozinha eu fiz de tudo para te trazer de volta... eu não sou um irmão ruim... não sou. — choramingo, minha voz carregada por choro.
— Você não é um irmão ruim rafe... eu jamais disse isso. Só queria que nós dois tivéssemos lidado com isso de outra forma. Não estou te deixando de lado, jamais quis que pensasse assim, apenas não concordei com a forma que você lidou com aquilo tudo. Sempre fomos nós dois e brigarmos da forma que brigamos me deixou irritada, me desculpe irmão, do fundo de todo meu coração me perdoe, eu não quis que você se sentisse só... — eu escuto Grace falar sem afrouxar seu abraço. — Eu te amo rafe. Você sabe que não importa quem entre na minha vida... você sempre será o meu irmão, meu gêmeo, minha alma gêmea, somos os Cameron's...
— Não posso te proteger se você usar suas garras contra mim. — eu resmungo
— Eu jamais irei fazer aquilo de novo e estou completamente arrependida...
— Eu também estou. — confesso, jamais quis bater na minha própria irmã e senti a dor dela em mim.
— Quero acabar com esta briga rafe mas eu preciso que você o aceite... eu preciso que você minimamente tente conviver com ele. — Grace pede me fazendo suspirar e me afastar para olhar em seus olhos sem soltar sua mão
— Eu vou tentar... eu te amo, caramelo e não consigo mais conviver com esta briga. — confesso
— Caramelo... você é o único amor que eu tenho em minha vida. — minha irmã sorri e todo meu coração parece se acalmar como maré
— Ach..
— Grace, que demora para achar uma cart... ah... desculpa... — eu limpo meu rosto rapidamente não querendo que jj me veja tão sensível
— Já estava indo. Vamos? — minha irmã sorri como um convite
— Ah... não.. eu vou ficar aqui, podem ir... — digo, soltando as mãos de minha irmã e recuando
— Vamos logo. Kiara não vai tirar aquela cara de bode amarrado se você não for...— minha irmã puxa meu braço, me arrastando contra minha vontade.
Jj não diz uma única palavra, Grace apenas toma a chave de sua mão, eu entro na parte de trás da kombi do john b, Jj se sentando no banco ao lado de Grace que dirige a kombi, o ar pesado de um completo silêncio, é constrangedor estar sozinho na presença dos dois.
— Não precisam agir estranhos só porque estou junto... — digo, tentando não parecer grosseiro.
— Não estamos agindo estranho, estamos normal. — eu vejo minha irmã me mandando um sorrisinho pelo retrovisor.
Por mais que Grace tente, o clima continua estranho, é completo silêncio os próximos minutos até Grace estacionar o carro em frente ao local. Uma lanchonete retrô com pistas de boliche, vários grupos de pessoas se divertindo e em um canto reservado, minhas irmãs junto dos pogues, revezando para jogarem boliche enquanto outros ficam sentados nos sofás de couro vermelho. Vejo sorrisinhos surgindo no rosto de todos, estavam cientes de minha briga com Grace então ja interpretaram bem o fato de estarmos andando lado a lado.
— Você veio. — Kiara sorri, se levantando e vindo até mim, me abraçando e me depositando um selinho
— Já é minha vez. — jj e minha irmã caminham até john b que está jogando
— Vem rafe. — minha irmã mais nova me chama e eu me sento ao lado de pope — Eu não consegui segurar a bola...
Wheezy reclama, quase emburrada me fazendo rir — Eu te ensino...
— É assim que se faz, seu merdinha! — eu vejo Grace comemorar enquanto ela e jj jogam, vai demorar muito para me acostumar a conviver com os dois juntos.
[...]
É estranho, estar com pogues como se eles fossem pessoas normais, rindo das bobeiras de pope e john b, admirando Sarah e Grace rindo juntas da minha namorada enquanto ensino minha irmã mais nova a segurar uma bola de boliche de forma correta e acertar seu alvo. Fico ao lado de wheezy, enquanto ela prepara uma postura correta para jogar à bola, eu viro meu olhar, vendo detalhadamente a forma que Grace ri enquanto jj limpa o canto de sua boca suja de ketchup, parece cena de comercial ruim, ele rouba um beijo dos lábios de minha irmã, Grace o devolve outro beijo em seguida recebendo um carinho em seu cabelo.
— Venham comer. — kie chama, wheezy joga, acertando todos os pinos, ela grita em comemoração me fazendo a agarrar e girar minha irmã mais nova em meus braços
— Você mandou muito bem! — eu comemoro, eu e minha irmã fazemos um toque e vamos nos sentar, junto de todos em bancos que dão a volta em uma única mesa repleta de pizzas de diversos sabores
— Eu consegui! — wheezy comemora
— Você mandou bem, mini Grace. Mas não vai ser melhor que eu... — Whezzy e jj entram em uma brincadeira de apostas que me irrita, preciso engolir a seco, se ele já vai roubar minha gêmea não precisava roubar minhas outras irmãs, Sarah e ele já são melhores amigos.
— Toma... seu sabor favorito. — Grace sorri me servindo um prato com uma fatia de pizza com muito cheddar, não consigo me fazer de durão, ela sempre me arranca um sorriso.
Depois que todos comemos, a maioria volta a jogar boliche, eu continuo sentado no banco admirando kie jogando até sentir minha sombra se arrastar até meu lado.
— Eu senti sua falta... — minha gêmea beija minha bochecha me fazendo revirar os olhos rindo pela doce Grace que ela assumiu — Meus garotões!
Minha irmã esmaga meu pescoço, me abraçando de um lado enquanto abraça jj do outro, me deixando furioso e incomodado com este abraço forçadamente em grupo
— Grace, para. — Eu reclamo, me afastando e a fuzilando com o olhar
— Me poupe rafe... você sabe que eu sou uma chata, vou colocar vocês dois nas situações mais constrangedoras possíveis só para vocês dois se tornarem amigos mais rápidos — Grace confessa, sorrindo esperta, me fazendo revirar os olhos
— Não vai rolar... — eu bufo virando meu rosto voltando a encarar os pogues jogando
— Seu irmão está com ciúmes... secretamente ele tem um crush em mim. — eu escuto jj sussurrando, Grace gargalha e eu viro meu rosto, meu olhar fuzilando o pogue que pressiona os lábios abafando uma risada
— Como você consegue ficar com esse cara? — eu reclamo me levantando e ouvindo minha gêmea rir
— A vai, ele é gostosão — Grace beija jj na minha frente, eu reviro os olhos, deixando os dois sozinhos e andando até minha garota. Segurando seu quadril enquanto ela se inclina para jogar à bola de boliche.
— Estou feliz que vocês se resolveram... — kie diz logo depois de acertar alguns dos pinos e se virar me abraçando
— Eu também... é bom não estar brigado com ela. — eu sorrio, recebendo felizmente seus beijos e vendo por cima do ombro de kie, minha irmã gêmea rindo abraçada do garoto loiro, não faço ideia de como conviver com jj mas realmente vejo minha irmã feliz e me parece suficiente desde que ele não a magoe, não estamos mais brigados e para mim é suficiente.
[...]
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