Isla Krakemburg
Depois de um mês eu acordei, desde a visita daquele homem eu piorei e meu quadro se agravou. Eu precisei de ajuda para respirar e passei a maior parte do tempo sedada.
Eu precisei levar um tempo até eu ter alta, tive que me recuperar e passar por um processo longo de reabilitação.
Nara, Cris e Morgan estavam o tempo todo aqui comigo. Eles revezavam os turnos para me fazer companhia. E como não é novidade, meus pais nem ligaram para perguntar se eu estava viva ou não.
A família Guerra também desapareceu, nenhum deles apareceu por aqui. Nem mesmo Octávio.
Também não sei porque eu deveria esperar que ele fizesse isso!
Mas o tempo foi se passando, a minha vida não parou, eu me formei na faculdade e entrei em uma escola de defesa pessoal. Agora eu trabalho de dia em uma empresa de advocacia e de noite no bar, eu gosto de lá então não quis sair.
Preciso juntar dinheiro o suficiente para sair da minha casa, então todo emprego é bem vindo agora. E ocupar meu tempo foi bom, me fez esquecer a existência dele.
Eu soube que ele foi embora, mas não sei para onde. Ninguém tem muitas informações pessoais por aqui, de certa forma, foi um alívio. Eu precisava de um pouco de paz, e perto dele isso era impossível.
Hoje eu estou em Los Angeles, é a primeira vez que eu viajo para outro lugar que não seja Boston. Eu vim a trabalho com um amigo, e eu estou tão animada para conhecer novos ares.
"Já fez os pedidos?"-Ele perguntou assim que entrou na cafeteria.
"Sim"-Respondi deixando uma nota sobre o balcão-"Por que demorou?"
"Estava difícil arrumar uma vaga, as ruas aqui são cheias"-Ele fez uma careta e eu ri-"Quer ficar aqui ou tomar no caminho?"
"Acho melhor a gente ir, não quero chegar atrasada"-Passo a mão por meus cabelos e o jogo por cima dos ombros.
"É sua primeira audiência como auxiliar, importante chegar no horário mesmo"-Sorriu colocando as mãos no bolso.
"Eu estou tão ansiosa"-Abri um sorriso enorme
"Vai dar tudo certo, relaxe"-Ele se aproximou beijando minha bochecha e eu corei.
"Aqui está, um Capuccino e um café"-A garçonete nos entrega os copos e pegamos.
"Grata!"-Respondi e saímos da cafeteria
"Ainda bem que o tribunal fica logo ali na esquina"-Ele dá um gole em seu café enquanto esperava o sinal abrir.
"Pode ir na frente, acho que eu esqueci meu celular em cima do balcão"Respondo vasculhando minha bolsa.-"Eu vou lá pegar, pode ir!"
Digo a ele e me viro voltando para a cafeteria, empurrei a porta e entrei. A garçonete de antes estava ali ainda, isso foi um alívio.
"Oi moça, acho que esqueci meu celular aqui"-Digo me apoiando no balcão-"Você por acaso o viu?"
"Ah, sim. Eu vi sim"-Ela respondeu com um sorriso-"Aquele moço ia lá levar para você"
Ela apontou para trás de mim e eu me virei. Naquele instante o chão se abriu sobre meus pés, um peso caiu sobre meus pulmões me impedindo de respirar.
Deus, meu coração vai saltar pela boca e todo meu corpo decair com o choque eu levei.
"Você tem um belo costume de perder o celular não é?"-Octávio balança o aparelho entre os dedos e se aproxima-"Já faz um tempo, não é? Isla!"
⛰️
A audiência terminou, e meu caderno de anotações estava em branco. Eu simplesmente não consegui focar em mais nada depois do que aconteceu mais cedo.
A minha mente estava parada ali, naquele momento.
Eu achei que tinha superado, mas estava enganada. Ver ele me abalou por inteira, me tirou o foco e fez eu me sentir como se tudo depois do acidente. Fosse apenas um momento vazio sem ele.
"O que aconteceu com você?"- Prince se aproximou-"Você não anotou nada!"
"Desculpa. Eu..."-Nem eu sabia o tinha de errado-"Acho que foi o nervosismo"
"Bom, amanhã temos outra. Então é melhor tomar um calmante, é necessário ter as anotações"-Ele diz me entregando um copo de água-"Vá para o hotel descansar, eu preciso resolver umas coisas. Nos encontramos amanhã"
"Ok. Me desculpe!"-Digo apreensiva-"Até mais!"
Me despeço dele e desço as escadas indo em direção a um táxi que estava ali. Ele tinha razão, não posso ficar dispersa. Não posso deixar o Octávio estragar isso também!
Entrei no carro e pedi ao motorista que me deixasse no hotel, e assim ele fez. Não era longe então cheguei rápido, eu o paguei e desci.
Atravessei o saguão e entrei no elevador, me encostei na parede e suspirei fundo. A pressão sobre meu peito estava fazendo meu corpo inteiro doer. Eu não quero mais sentir isso, eu não quero sentir mais nada.
...
Começou a chover fortemente assim que a noite caiu e eu estava encurralada no meio da calçada. Pensei que dava para comprar algo no mercado que tinha ali em frente, mas me enganei.
"Que saco!"-Murmurei vendo a chuva bater no chão e respingar em mim.
Eu pensei em atravessar correndo, mas o movimento dos carros estava alto. Rendida ao fato que vou ficar aqui, eu me sentei em uma mureta que tinha ali
Meus olhos seguiam os carros que passavam e as pessoas que não se preocupavam com a chuva.
Cruzei meus braços sobre meus peitos, sentindo a brisa fria da chuva bater contra minha pele me fazendo tremer. Suspirei fundo e senti minhas pálpebras pesarem, por um instante fechei meus olhos cansados.
Meu corpo de um salto quando algo foi colocado sobre meus ombros.
Abri meus olhos e vi um casaco sobre mim e duas mãos os apoiando sobre meus braços. Quando levantei minha cabeça Octávio estava em pé ali, me olhando com seus belos olhos.
Meu coração saltou do peito e minhas pernas adormeceram.
Sem dizer nada ele se sentou ao meu lado, o seu cheiro invadiu minhas narinas e meu olhar se manteve sobre ele.
O silêncio dizendo mais que mil palavras.
Ele virou seu olhar para mim, nossos olhos se encontraram e ele parecia estar vendo até minha alma.
Eu não sabia o que dizer!
"Você está bonita!"-Ele quebra o silêncio.
"Obrigado!"-Respondo desviando meu olhar e solto a respiração presa em meus pulmões.
O silêncio voltou!
O seu casaco sobre mim aquecia minha pele. Estava confortável, mas ainda assim algo estava me incomodando.
"Eu senti a sua falta"-Ele diz quebrando o silêncio novamente.
Eu não respondo! Seu olhar sobre mim me deixa tensa.
Ele se levantou, colocou as mãos sobre os bolsos e se virou pronto para ir embora.
"Por que?"-Eu pergunto-"Por que você foi embora?"
Ele continuou parado de costas pra mim, ele virou apenas um pouco a cabeça mas não o suficiente para me olhar.
"Porque você merece ser feliz"-Ele diz-"E isso não é possível quando eu estou por perto"
Ele da mais dois passos
"Octávio"-O chamo-"Por que eu não consigo esquecer você? Me diz, por que?"
Ele não responde nada, seu olhar se mantém para frente.
"Você está enganada"-Ele diz-"Não se pode amar aquilo que te destrói"
O que ele quer dizer com isso?
"Olhe pra mim"-Eu digo mas ele não se vira-"Octávio, olhe pra mim".
Ele continuou estático no mesmo lugar. Meus olhos queimaram, as lágrimas apareceram sem exitar
"Você não pode fazer isso"-Minha voz sai quase em grito-"Não pode virar minha vida de cabeça para baixo, sumir e depois aparecer como se não fosse nada"
As lágrimas começaram a descer e um suspiro veio direto dos meus pulmões. Deus, que dor absurda é essa?
"Por favor, olhe pra mim"-Peço em um susurro-"Olhe nos meus olhos e diga o que isso foi. Porque eu preciso saber, se isso não passou de um jogo ou se algum dia foi verdeiro. Pelo menos uma parte"
"Foi apenas um jogo, Isla"-Sua voz sai em um tom grave.
Aquelas palavras entram como facas em meu peito.
"Isso não é possível"-Respondo dando um passo em sua direção-"Você disse, naquela noite. Que estava apaixonado por mim"
"Era mentira"-Ele me corta-"Disse apenas para ver se você desistiria da ideia de ir com Jason. Você não pode acreditar muito nas palavras de um homem, quando ele quer algo"
Meu peito se parte ao meio, meus ombros caem como se eu tivesse perdido toda as forças sobre cada músculo que eu possuo.
"Vire-se e olhe nos meus olhos"-Me aproximei-"Vamos. Diga isso me olhando nos olhos e então eu irei acreditar que isso é verdade"
Ele não o faz, seu corpo parece preso ao chão.
"Porque eu.... Octávio!"-Dou uma pausa-"Eu..estou apaixonada por você. E é exatamente isso que está me destruindo"
Mas então, ele não se virou. Ele saiu do transe em que estava e voltou a caminhar. Me deixando ali parada, como se tudo que eu tivesse dito fossem apenas palavras vazias.
Ele se foi, cruzando a esquina e sumindo das minhas vistas.
Levou meses para eu me reerguer de tudo que ele fez, mas apenas segundos para ele me destruir novamente.
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_Beijos da Isa_