A Quarta Archeron | ᵃᶻʳⁱᵉˡ

By RaissaA_M

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No passado, eu fui um bebê abandonado no inverno mais violento das Terras Humanas, colocada em um cesto em fr... More

Notas • Galeria
Personagens
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 9

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By RaissaA_M

Como dito logo estava sendo feito. Eu me preparava para partir.

Sentada na cama, toquei a cicatriz avermelhada e retorcida que se estendia na minha costela até metade da coxa. Quando olhei para a cicatriz daquela mercenária, nunca imaginei que teria algo parecido, mas agora tenho, a marca horrenda que aquela besta deixou em minha perna com sua falsa cura. Talvez o machucado antes tivesse ficado apenas com as marcas das mordidas, mas agora, eu sempre teria isso. As veias negras que serpenteavem metade do meu corpo, arranhando minha costela e abraçando meu quadril, logo descendo por minha coxa. Respirei fundo ao sentir uma pontada de dor, era doloroso, mas suportável.

Sentada eu passei a camiseta branca por minha cabeça, subindo a calça e prendendo o cinto ao redor da cintura, puxei o casaco e o coloquei no corpo, em seguida calçando as botas. Eram as roupas de melhor qualidade que já tive, a riqueza tocava a costura e o tecido, flexível e maleável para meus movimentos, quente e resistente para enfrentar a floresta.

Eu me levantei, firmando o pé no chão, tomando ar nos pulmões para andar. Havia se passado uma semana, nesse tempo recebi um médico que me auxiliou em exercícios, apesar disso, acho que minha perna sempre será meio vacilante, mas, eu poderia finalmente partir e ir até a muralha.

Abri a porta para sair, sempre reparando no quão grandioso era a nossa nova casa. Pisando no piso limpo e brilhante, me esforcei para não mancar tanto enquanto descia as escadas, degrau por degrau, segurando o corrimão como se minha vida dependesse disso.

Nestha e Elain me esperavam na sala principal, paradas no fim da escada. Elain sorriu para mim, um sorriso tão doce e vívido que pensei nos motivos em que sempre sai para caçar; era por ela, por Feyre, por Nestha. Por esses sorrisos, que mesmo quase nunca sendo direcionado para mim, eram os meus motivos de vida, que me moviam.

— É tão bom ver você andando — ela disse me olhando. — Foi horrível vê-la tão pálida e debilitada na cama.

— Sinto muito pelo infortúnio. — Sorri em sua direção. — Mas como pode ver, nada facilmente me derruba.

Ela assentiu em concordância, abrindo a boca para continuar a falar.

— Podemos conversar? — Nestha perguntou, interrompendo Elain.

Tirei os olhos da minha irmã, que em poucos minutos estava do meu lado e logo virei o rosto para Nestha. Podia ver algo profundo em seus olhos, algo mais frio e distante, algo que ela não conseguia dizer e eu queria saber.

— Claro, Nestha — concordei.

Sem ficar incomodada, Elain se retirou. Nestha caminhou para um corredor sa casa, andei ao seu lado, ambas compartilhando a postura quieta e orgulhosa, iguais e diferentes de tantas maneiras. Ela abriu a porta do escritório e esperei ver Vittório na sala, mas ele não estava, como também não esteve em nenhum momento desde que acordei.

— Onde ele está? — Perguntei olhando em volta.

— Encontraram os quatro navios, ele foi em busca deles para analisar as riquezas que ainda devem ter.

Assenti, parando em frente a mesa longa de madeira escura, esperando que Nestha se sentasse na cadeira que deveria ser do dono da casa, porém, ela não o fez, somente parou ao meu lado depois de retirar uma coisa embrulhada de dentro se uma gaveta.

— O que é isso? — Perguntei quando ela me entregou.

— Apenas veja — respondeu e continuou: — Algo que lhe foi tirado.

Sem demora desfiz o cordão que mantinha o pano ao redor do objeto. A primeira coisa que vi foi o metal coberto por linhas de ouro, o cabo incrustado de pedras vermelhas, meus lábios tremeram quando a lamina chiou no ar, tão afiada quanto sempre me lembrei.

— Como conseguiu isso? — Minha voz era um sussurro arfante.

— O ferreiro a comprou. — Nestha deu de ombros. — Ele me vendeu por um bom preço agora que tinha ouro o suficiente para pagar.

A espada parecia intocada, sem marcas de uso ou de desgaste, Frederick, era o ferreiro da aldeia, ele me conhecia, afinal foi ele mesmo que fez essa espada para mim. O velho realmente a guardou... Guardou meu tesouro esperando por mim quando me reerguesse. Olhei para Nestha e quis a esmagar em um abraço, porém, dessa vez, fui recebida com um afastamento bruto.

Ela disfarçou os olhos arregalados e respiração arfante.

— O que houve — minhas palavras não soaram como um pedido ou uma pergunta. Era apenas uma ordem dada friamente.

— Nada demais. — Nestha se afastou alisando o vestido como se estivesse sujo, a procura de limpar o tecido perfeito e intocado.

Engoli em seco observando, apertando mais forte a espada.

— Apenas me confirme se é o que estou pensando. — Inclinei a cabeça, olhando fundo nos olhos dela. — As palavras certas não precisam sair da sua boca, nada precisa ser dito, apenas confirme minhas suspeitas, Nestha.

Os olhos azuis acinzentados tempestuosos de Nestha se fecharam, como uma mágoa profunda e presente se enchendo, quando os abriu de novo. Então eu me vi naquele olhar, há anos atrás, a mágoa, raiva e o vazio.

— Você tinha razão — Foi a única coisa que Nestha disse.

"Ele vai querer te dobrar e quebrar você, até que todas as noites ele chegue em casa e seu único serviço seja trepar com ele."

Me afastei com passos lentos.

Não sei quando volto — virei de costas e fui até a porta. — E nem sei se voltarei, então não espere por mim.

•••

Três batidas não foram o suficiente, então, bati ou esmurrei a porta mais um pouco, sentindo o aborrecimento me atingir enquanto puxava o capuz para cobrir meu rosto gelado. Levantei o braço para bater mais uma vez, mas parei ao ouvir passos.

— Já vou! Já vou! Esses senhores não tem paciência — resmungou uma voz do outro lado.

Ergui o rosto quando a porta se abriu, encarando o único homem que vendia bons cavalos nesse lugar decadente, eram animais potentes e de raças, o homem tinha tanto dinheiro que conseguia viver sem problemas nesse lugar.

— Preciso de um cavalo — foi a única coisa que eu disse.

O homem assentiu, os olhos soberbos brilhando com a ideia de ganhar ainda mais moedas, mesmo que realmente não precisasse, ele arrumou seu casaco em volta de si, e saira para fora dizendo animadamente sobre as novas raças que já estavam na fase adulta e seriam bastante úteis para uma dama ter seus passeios, eu apenas o seguiu, ignorando o falatório desnecessário.

Ele me levou para a parte d trás da casa, onde tinha um estábulo feito para proteger os animais do frio intenso, assim que entrei pude perceber que aqueles cavalos provavelmente eram mais bem tratados que eu.

— Essa é Penélope — O homem apresentou orgulhoso parando em frente a uma baía. — É tão mansa que tenho certeza de que a senhorita não terá problemas em seus passeios.

Eu encarei o animal, não tão alto e nem robusto, olhos pretos e pelo cinzento brilhante, a crina trançada elegantemente por seus fios brancos, enquanto comia o feno. Deveria ser o suficiente...

Um barulho me chamou atenção, o relinchar bruto de um cavalo e o chute forte em madeira, olhei para o lado que vinha o barulho, analisando bem no fundo uma baia distante e maior que as outras, comportando um único cavalo.

De longe eu podia ver a pelagem escura e perigosa, o olhar profundo que de onde eu estava, parecia brilhar em vermelho mesmo que fossem castanhos, a crina era totalmente branca e incomum, quando me aproximei, percebi que era tão grande que minha cabeça nem chegava perto da sua.

— Quem é esse? — Perguntei encarando o animal.

O homem encolheu os ombros ao notar o meu interesse na enorme montaria que me encarava com a mesma intensidade.

— Ele é arredio, muito selvagem. Infelizmente não está a venda.

Não me importei quando me aproximei, provavelmente passando do limite de distância segura, os olhos escurecidos acompanhavam qualquer movimento meu, cada fôlego e cada bruma que escapava de minha boca.

Aproximei as costas de minha mão esquerda, a palma abaixada e dedos leves, dei um passo a frente e meu braço ultrapassou o portão.

— Por que ele é tão diferente dos outros? — Perguntei ainda sem me mover.

— Ele... Ele foi uma experiência com duas raças diferentes, o parto foi complicado e pelo tamanho não são muitos que se aproximaram e sairam com a mão inteira — ele disse com um tom agoniado, roendo as unhas.

Ergui o queixo, fechando levemente os olhos para encarar o orgulho daquele cavalo. Eu esperei, segundos e quase minutos, olhos ainda astutos e erguidos, o encarando, conhecendo e reconhecendo algo em seus olhares trocados. Eu quero esse. Ele como se ouvisse meus pensamentos, relinchou e bateu os cascos no chão, eu não me afastei, não abaixei a mão e não desviei o olhar ele então balançou a cabeça e se aproximou.

Lentamente o ar quente de suas narinas tocou meus dedos frios e calejados, como se ainda quisesse me testar. Eu sabia que o vendedor logo tentaria interromper, por medo do grande problema que causaria se esse animal avançasse, mas eu queria esse. Outro passo, e agora não existia mais distância, minha mão estava inteira em seu rosto, alisando o polegar em sua pelagem escura e como se ele soubesse que poderia confiar em mim, fechou os olhos e andou mais para frente, o suficiente para que a cabeça saísse para fora do portão, e os olhos a centímetros de distância dos meus.

Com a mão livre, peguei as moedas de ouro no meu bolso, entregando ao vendedor.

— Ele tem um nome?

— Não. — O vendedor ainda contava as moedas. — Nunca imaginei que precisaria.

Assenti e voltei para o cavalo, ele tinha os olhos abertos me encarando.

— Deimos — eu o nomeio, gostando de como era bom nas minhas palavras.

Abri o trinco de sua baia, chegando perto o suficiente para tocar minha testa em seu focinho. Ele era meu.

— Você é meu — disse, e ele não demonstrou qualquer oposição. — Meu, de agora. Até a escuridão nos reivindicar.

•••

Ignorei os ruídos abafados e desesperados que escapavam de sua boca, continuando a passar a corda em seus tornozelos, ele gritou quando acabei o nó e me levantei, puxando a outra ponta para amarrar a Deimos. Certamente ele demoraria muito para morrer. Eu sorri, me abaixando ao seu lado, tocando as lágrimas quentes que escapavam de seus olhos suplicantes, o homem balançou a cabeça freneticamente; implorando por uma chance. Estalei os lábios negando, o som melodioso saindo de mim, levantei a mão e deixei um soco cair no maxilar de Tomas. Tomas Mandrey.

Ele gritou de novo, molhando todo o pano que estava amarrado em sua boca, contorcendo o corpo gelado na neve. Continuei e desci os olhos pelo corpo dele, parando no par de mãos amarradas. Não foi difícil pega-lo, ele estava confortável dormindo com uma prostituta barata em frente a lareira quente, o rosto aconchegado nos seios fartos da meretriz.

Ela estava acordada, o semblante frio e miserável quando entrei, ela ficou pálida como a morte ao me ver parada a porta. O afastei dela puxando o cabelo curto, chutando a parte de trás dos seus joelhos fracos e o derrubando no chão. A mulher não reagiu, mas estava assustada enquanto me assistia o espancar naquela sala decadente. Antes de partir, analisei a fartura em seu corpo, meus olhos se demorando em seu rosto, deixei moedas de ouro e então sai para fora arrastando Tomas.

Você viu algo aqui hoje? Perguntei, a espada no pescoço dele.

Ela negou com um sorriso ensaiado, colocando de volta o vestido como se nada estivesse acontecendo, um capuz cobria metade do meu rosto, ela provavelmente não sabia que eu era uma mulher. E se sabia, ela fingiu bem.

Não vi nada, meu senhor — respondeu. — Parti logo depois de ter terminado o serviço.

Um sorriso sombrio desenhou meu rosto quando a joguei algumas moedas e arrastei Tomas para fora, era um prostibulo barato e afastado das outras casas, portanto ninguém se importava com os gritos de Tomas, ninguém ao menos sabia que era ele gritando.

Respirei pesadamente e segurei as mãos juntas dele, apertando com força, ele chorou mais forte quando quebrei seus dedos. Me levantei e fui para o lado de Deimos, o cavalo não protestou quando prendi a corda a sua sela, ajeitei o arco preso na aljava cheia de flechas, conferindo as facas de caça em meu cinto e a espada que prendi na empunhadura. De costas para Tomas, coberta por uma longa capa escura e capuz, franzi o rosto com o esforço necessário quando finalmente montei.

Olhei por cima dos meus ombros, vendo Tomas ainda agonizando com seus gritos silenciosos.

Eu estava o matando. Eu, Elle Archeron arrastava Tomas para a morte, o tortutei e espanquei para distribuir dor. Não era um infortúnio, não foi um acidente ou acaso. Era eu, e eu era a causa da sua morte.

— Me escute bem antes de morrer — murmurei, eu sabia que ele me ouvia. — Ninguém. Ninguém mexe com uma Archeron e sai impune.

Bati a perna na lombar de Deimos, segurando as redeas quando ele correu, nos misturando com o vento.

Em alguns minutos, o silêncio me perseguiu e sangue marcou meu trajeto.

Vermelho marcava meu caminho.

Vou matar todos. Pensei deixando o corpo para trás. Ninguém as machuca.

Ninguém.

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