Já fazia duas semanas de planos frustrados e nenhuma notícias de suas amigas. Gwen continuava indo ao prédio de Harry, mas ele havia sumido, as cortinas ficavam fechadas e parecia não haver ninguém morando lá. Enquanto os três saíram, Ned trabalhava no computador em ligação com Peter e Gwen terminava de desenhar um projeto melhorado da máquina do multiverso, sentando no quarto. Assim que terminou, ela passou as páginas e parou em um desenho que havia feito do que lembrava da casa de Harry nas poucas vezes que foi lá.
Com um pulo abrupto, os três entraram pela janela e Peter (TH) estava agarrado no ombro dos outros dois que deixaram ele sobre a cama.
— O que houve? — Gwen questionou, correndo até ele.
— Conseguimos entrar na Oscorp, elas não estavam lá — Peter (TM) explicou com frustração. — Encontramos uma armadilha ao invés disso, o Peter foi acertado por granadas do Duende Verde.
— Tudo bem, são só arranhões — Peter (TH) acalmou eles com um suspiro. — Eu só preciso da Gwen agora.
— Eu vou chamar o Ned — Peter (TM) avisou.
Gwen sabia o que aquilo significava, era ela que cuidava dos ferimentos, mesmo antes de saber que ele era o Homem-Aranha. Ela tirou os curativos da mochila e limpou com algodão os cortes no rosto dele.
O afastamento com Peter (AG) havia sido bom no final das contas, agora ela havia se aproximado mais do amigo e de Peter (TM), ele era como um irmão para ela.
— Peter! — Ned correu abraçar o amigo.
Gwen esperou que os dois conversassem e viu Peter (AG) olhar os desenhos no caderno dela em silêncio, então ela soltou os curativos ao ter uma ideia.
— Peter — ela chamou, sentando ao lado do amigo —, se a Mary Jane e a MJ não estão na Oscorp...
— Lá era o lugar mais provável — Ned observou.
— O apartamento do Harry — ela sugeriu. — Eu já estive lá duas vezes, tem mais três portas trancadas e uma delas tem fechaduras pesadas.
— Isso! — Peter (TM) concordou. — Ele nunca me deixou entrar naquela sala. Seria óbvio demais.
— Dessa vez eu vou junto — Gwen anunciou, se levantando.
— Gwen — Peter (TH) saiu da cama e foi até ela —, tenho medo que aconteça algo a você, eu já fui atingido por estilhaços de bomba...
— Se acontecer, você vai estar lá para me segurar, certo? — Ela sorriu sem mostrar os dentes.
Era o sentido aranha dando as caras, Gwen sabia que algo iria acontecer a ela, sentia isso, mas não podia simplesmente ficar escondida até que o mundo fosse um lugar seguro novamente. Peter (TM) abaixou a cabeça ao escutar aquilo, ele salvaria a Mary Jane sempre, enquanto Peter (TH) também tinha MJ para salvar.
— Sim — Peter (TH) respondeu. — Sempre.
— Mas — Gwen parou de sorrir —, se tiver que escolher entre salvar a mim e a MJ, escolha ela.
— Não posso escolher. — Ele negou. — Vocês são minhas amigas.
— Eu sei, mas preciso que escolha ela — repetiu. — Prometa.
— Não, Gwen...
Ned entendeu o que ela queria dizer e desviou o olhar, colocando a mão sobre a boca, enquanto Peter (AG) observava eles em silêncio. Ele não havia falado mais com ninguém além de Peter (TM), havia se fechado completamente e dizia só o básico.
— Prometa — ela pediu. — Preciso que prometa.
— Eu prometo — Peter (TH) falou com voz baixa após alguns segundos. — Mas isso não vai acontecer, não vou precisar escolher.
Gwen concordou com a cabeça e foi para o banheiro colocar o traje. Assim que ela voltou, viu Ned sentado na cama acessando as câmeras de segurança do prédio de Harry, enquanto os outros dois estavam se preparando e sentiu a falta de Peter (AG) ali.
— Gwen — Peter (TM) chamou, levando ela até um canto da quarto —, não acha que deveria falar com o Peter?
— Por quê?
— Eu não sei, ele anda estranho. Não conversa com a gente, não come... Ele não se abre comigo, talvez seja diferente com você.
— Tudo bem — ela concordou. — Eu vou atrás dele e encontramos vocês no apartamento do Harry.
Gwen suspirou e saiu ao colocar a máscara. Ela tinha uma ideia de onde ele estaria e confirmou ao vê-lo sentado em uma das bases do Empire State.
— Peter — ela chamou, se aproximando.
Assim que a viu, ele limpou as lágrimas rapidamente e olhou para ela com susto.
— Eu já estou indo, só precisei tomar um pouco de ar — ele respondeu rapidamente, se levantando.
— Você estava chorando?
— Não, não. — Ele negou com a cabeça. — Foi só um cisco, o vento é forte aqui.
— Entendo. — Ela tirou a máscara, segurando com força o tecido nas duas mãos. — Eu achei que queria conversar, enfim eu vou ir com os outros para o apartamento.
— Só se quiser conversar.
— Empire State — ela comentou, olhando envolta.
Antes ela e Peter (AG) tinham tantos assuntos, agora era difícil iniciar uma conversa.
— É um dos meus lugares favoritos. Sempre venho aqui para pensar. Na minha realidade, quero dizer.
— O meu é a Estátua da Liberdade, gosto de ficar vendo a água lá embaixo.
— É a sua cara mesmo. — Ele sorriu. — Eu não sei mais o que dizer.
— Acho que podemos ser amigos, não é? — Ela perguntou. — Quer dizer, éramos amigos antes de tudo e já superamos isso.
Mentira, só fazia duas semanas. Pouco tempo para superar.
— Sim, você tem razão — concordou. — Eu só gostaria que me perdoasse.
— Eu perdoo. — Sorriu concordando. — Todos nós erramos nessa loucura de multiverso.
Peter (AG) sorriu e abraçou ela sem avisar. Gwen parou de sorrir assim que encostou o rosto no ombro dele.
— Vamos. — Ela se afastou, tirando o cabelo do rosto. — Eles vão nos encontrar no apartamento.
(•••)
Assim que adentraram no apartamento de Harry pela janela entreaberta, Peter (AG) e Gwen viram a sala silenciosa e vazia. Os outros Aranhas não haviam chegado, então eles resolveram verificar se não havia ninguém ali.
A porta com fechaduras pesadas estava trancada e pequenos ruídos saiam dela. Gwen tinha certeza que as amigas estavam lá e não esperou para empurrar a porta. Assim que ela se abriu por completo, arregalou os olhos ao ver o que acontecia: as duas estavam amarradas em cadeiras hospitalares, mas apenas MJ possuía cateteres inseridos em seus braços e Harry administrava o sangue que saia de suas veias.
Harry soltou a bolsa de sangue com susto assim que viu os dois e enfiou uma agulha no pescoço de MJ.
— Se derem mais um passo, eu juro que injeto todo esse veneno nela — ele ameaçou, apontando para eles.
— Harry, podemos conversar. — Peter (AG) ergueu as mãos.
— Eu nem conheço você! Os dois vieram aqui com essas fantasias ridículas e ainda acham que eu vou escutá-los?
— Uma troca — ele sugeriu. — Você não queria o Homem-Aranha?
— Eu prefiro atingir o coração do Homem-Aranha — Harry respondeu, então injetou o líquido verde em MJ.
— Não! — Gwen gritou, lançando uma teia contra ele.
Harry soltou a agulha e se desequilibrou ao ser pego de surpresa, então Gwen foi até ele enquanto Peter (AG) desamarrava MJ e Mary Jane. Gwen não viu nada a sua frente quando empurrou Harry contra a parede e precionou seu braço no pescoço dele.
— Ela vai morrer e ninguém vai poder fazer nada — ele disse com um sorriso.
Nesse momento, a janela se estilhaçou com um estrondo e jogando Gwen para o outro lado da sala, o Duende Verde entrou com seu planador e explodiu uma bomba. A fumaça era tanta que Gwen só via suas mãos a frente, mas Peter (AG) gritou para ela:
— Estou com a Mary Jane!
— E a MJ? — Ela gritou, se levantando.
Não houve resposta, ao invés disso a fumaça se dispersou com o vento da janela quebrada e Harry estava com um bisturi na mão, apontando para eles.
O coração de Gwen parou ao ver que Peter (AG) segurava Mary Jane em seus braços, mas MJ e o Duende Verde haviam sumido com a bolsa de sangue.
— Aonde está o seu pai? — Ela questionou, tirando a máscara para conseguir respirar.
— Você acha mesmo que eu vou contar?
— Você vai — ela respondeu, indo até ele com os olhos repletos de raiva.
— Gwen — Peter (AG) chamou.
Assim que ela chegou perto, Harry desferiu um golpe com o bisturi e acertou o braço dela em cheio, mas a adrenalina no sangue era tanta que Gwen nem sentiu dor, apenas fechou suas mãos envolta do pescoço dele.
— A história não vai se repetir — ela disse com voz firme enquanto apertava o pescoço dele —, se não me disser para onde seu pai levou a MJ, eu juro que não vou hesitar em matar você e seu pai vai ser o próximo.
— Que irônico — Harry disse com dificuldade —, talvez a heroína não seja tão heroína assim.
— A sua variante matou a minha variante, talvez estar aqui não seja um acidente e sim a chance de mudar a história. Um acerto de contas.
Peter (AG) observava os dois em completo silêncio, enquanto Mary Jane começava a abrir os olhos.
— O que aconteceu? — Mary Jane questionou, segurando o pescoço de Peter (AG) para não cair.
— O Duende Verde levou a MJ, conseguimos salvar você — Peter (AG) respondeu.
— Aonde está o Peter? — Ela colocou os pés no chão, se sentando na cadeira com as mãos na cabeça.
— Me diga aonde o Duende está! — Gwen gritou.
— Não! — Harry respondeu. — Não vou trair meu pai!
— Seu pai deixou você aqui! — Ela bateu ele contra a parede novamente. — Ele nem se importou!
— Gwen, calma. — Mary Jane segurou o ombro dela. — Eu falo com ele.
Depois de alguns segundos, Gwen o soltou e deixou que a outra falasse com Harry. Ela sabia que Harry gostava de Mary Jane, então foi para perto da janela e olhou para o bisturi ainda preso em sua carne. Não havia cortado tão fundo, apenas a ponta afiada estava presa na pele.
— Gwen — Peter (AG) correu até ela, tirando a máscara para ver o ferimento —, vou te levar para o hospital, provavelmente vai precisar de pontos...
— Não — ela recusou, limpando o suor da testa. — Não posso perder tempo.
Ele colocou as mãos envolta do braço dela com cuidado e examinou com um cenho franzido.
— Como vamos tirar isso sem anestesia e esterilização? — Questionou.
Gwen não respondeu, apenas puxou o bisturi de seu braço de uma vez e fechou os olhos com força para conter a dor.
— Tudo bem — ela concordou com a cabeça —, já passou.
— Ainda está sangrando — ele disse com preocupação.
— Vai secar.
Peter (AG) desfez o cenho franzido e olhou para ela com um meio sorriso.
— O quê? — Ela questionou.
— É só que você é tão forte.
Gwen resistiu ao ímpeto de sorrir, ao invés disso balançou a cabeça e desviou o olhar.
— Eu digo onde eles estão e até ajudo a pegar eles — Harry falou após conversar com Mary Jane.
— Fácil assim? — Peter (AG) perguntou com desconfiança. — Você trairia seu pai?
— Ele tem me deixado fora das coisas há tempos e nem se importou comigo. Eu só quero uma coisa em troca.
— Eu sabia! — Peter (AG) apontou para ele. — Não vamos cair nessa.
— O quê? — Gwen perguntou.
— Seu sangue.
Peter (AG) arregalou os olhos ao escutar aquilo e negou com a cabeça.
— Não mesmo! — Ele respondeu.
— Para quê? — Gwen questionou.
— Eu não quero ficar com o rosto deformado — ele explicou. — Sei que seu sangue pode me curar.
— Era para isso que estava tirando sangue da MJ?
— Era um plano do meu pai, eu não sabia que o sangue de vocês era diferente. Eu tentei com o da MJ e não funcionou. Preciso de um mais forte, com mais modificações genéticas.
— Não — Peter (AG) se voltou para ela.— O Harry também pediu meu sangue. A história está se repetindo.
Gwen ficou em silêncio e colocou a mão sobre a boca, pensando na exigência de Harry.