Enquanto Houver Sol...

By starvante_

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BRASILAU| TAEKOOK | +18 | shortfic Jeon Jungkook, estudante de medicina e residente no Brasil há quase dez an... More

Um amor nasce.
Nossos Olhares Vão se Encontrar.
Eu Vou Temer a Luz.
Eu Vou Fazer Você Ficar.
Eu Vou te Deixar Livre.

Nosso amor viverá.

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By starvante_

olá, dengos!

Antes de tudo, eu gostaria de agradecer pela paciência e por não desistirem dessa história. Nem todos sabem, mas minha rotina é bem pesada (trabalho e facul) e por isso eu demoro tanto para atualizar, então fico muito feliz que ainda há pessoas acompanhando esse pedacinho meu.

Queria pedir também pra vcs darem uma olhadinha no meu perfil aqui do wattpad, eu publiquei uma oneshot com os taekook maridinhos e ela é muito levinha e descontraída, tenho certeza de que vão gostar.

Enfim! Como eu disse no capítulo anterior, esse é o último. E eu to muito feliz de ter conseguido finalizar essa história.

Meu projeto inicial era fazer "enquanto houver sol" ser uma oneshot, mas acabei estendendo um pouco por achar que não ia conseguir criar esse formato em um capítulo único. (os pontos de vista, esses trechinhos que vem antes do capitulo, as "citações" de luz e escuridão, etc.)

Tendo isso em mente, queria dizer que essa história não é a mais desenvolvida do mundo, não aprofundei nos personagens e apesar de achar que daria uma puta história, eu quis focar apenas nos sentimentos que o Tae e o Jungkook tem um pelo outro, nas percepções do bêbado e nos pequenos gestos que fazem os taekook serem o que são.

Se o final desapontar alguém, peço perdão. O meu eu de hoje, está bem satisfeito com a história num todo e eu to bem orgulhosa de ter conseguido finaliza-lá sem desistir no meio do processo.

Talvez no futuro eu dê uma nova roupagem e aprofunde as questões mais delicadas que eu pincelei aqui, mas enquanto esse futuro não chega... Espero que vocês aproveitem o ultimo capítulo de enquanto houver sol, e se gostarem, deixem uma estrelinha e um comentário :)

Se quiserem, postem um trechinho ou algo que mais gostaram na história com a tag #EHSTK la no twitter, vou amar ler tudo!

sem mais delongas, bem-vindes ao desfecho de Enquanto Houver Sol...

[...]

É o fim.

E às vezes o fim é necessário. É graças ao fim que o recomeço existe, é graças a ele que há a possibilidade de olhar para o passado e perceber as burradas cometidas. É por causa do fim que os pensamentos de esperança nascem e o "como seria se..." começa a fazer parte da rotina.

E é por isso que algumas pessoas dizem que o fim é apenas o começo. Pois é a partir dele que uma nova história se conta quantas vezes forem necessárias, até que o fim seja o fim. 

*Isso é apenas um recomeço.

"Nos primeiros dias eu senti o coração arder em saudade. Chorei, esperneei e fui atrás de respostas. Hoje eu posso dizer que superei. Aceitei o fardo que as lágrimas trazem a cada ausência tua e a sina de sofrer a eterna espera de viver ao seu lado, por toda minha vida." — Luz.

[São Paulo, não era mais verão em 2017]

O ato de se permitir amar alguém, pode ser considerado o mais corajoso de um ser humano. Todos aqueles que já vivenciaram o gostinho do amor sabem disso.

Todos menos Tae, que insistia copiosamente para si mesmo que havia sido um covarde por fugir daquela forma. Ele bebeu incontáveis doses de cachaça no bar do Seu Manoel, e percebeu que o efeito do álcool não lhe atingia mais. A dor era muito maior.

Naquele dia ele chorou como nunca e sentiu cada percurso que as lágrimas faziam até chegar em suas bochechas. Naquele dia, ele finalmente soube o que era o amor. E como já temia, descobriu que o amor não era um conto de fadas colorido. O amor era assustador e forte, tão forte que causava feridas profundas demais no coração.

Tae permitiu que a tristeza lhe desse um abraço de boas vindas e adormeceu sentindo falta da sua Luz. Quando acordou, ao contrário do que desejava, percebeu que aquilo não era um pesadelo.

Pedro fazia um cafuné em seus fios bagunçados e o silêncio acomodava seus pensamentos confusos. Eles não trocaram uma única palavra desde que Pedro havia chegado — quase uma hora. Chim sabia que o amigo precisava chorar e viver sua dor, e só iria falar algo quando sentisse que era o momento certo.

Tae encarou Pedro por longos segundos com os olhos inchados e um sorriso trêmulo que se esforçava para se manter de pé.

Um consentimento silencioso para que Pedro pudesse falar tudo o que pensava. Sem filtros.

— Se você está esperando que eu te chame de covarde, é melhor desistir. — Pedro disse calmo enquanto seus dedos brincavam com os fios emaranhados de Tae. — E se está esperando que eu diga que está tudo bem fazer o que você fez, pode desistir também.

— Chim... — Tae sorriu e sentiu uma gotinha fina descer pelo cantinho de seu olho.

— Você não é covarde, mas poderia ter pensado melhor antes de fugir pela janela do banheiro.

— Foi pela janela do quarto do Rafael, eu não consegui passar pela janelinha do banheiro. — Tae sorriu.

— Que seja! — Pedro tinha uma expressão séria... — Eu estou orgulhoso de você. — ...que se desmanchou no momento em que ele proferiu aquelas palavras. Tão de repente quanto o sorriso ensolarado que surgiu em seus lábios. — E não adianta revirar os olhos pra mim. Me diz, qual foi o relacionamento mais longo que você já teve? — Pedro olhou inquisitivo para Tae. — Melhor! me diz qual foi a última vez que você se permitiu gostar de alguém? 

— Teve aquela vez... Com a Duda, lembra?

— Lembro... Inclusive lembro que a gente tinha quinze anos e você ainda fingia ser hétero por ter medo do seu padrasto. — Tae suspirou vencido pelos argumentos do amigo, e Pedro nem tinha apresentado todas as cartas que escondia. — Não estou dizendo que você não era verdadeiro com a Duda, mas você tem que admitir que o que experimentou com Jungkook foi completamente diferente, mais intenso.

— Eu sei.

— Não foi nada legal o que você fez, o Jungkook começou a chorar, sabia? — Tae sentia o peito apertar a medida que Pedro falava. — Ele provavelmente deve estar se sentindo muito culpado, assim como você está. — Tae suspirou. — Ele veio me pedir pra te falar que a intenção dele não era te forçar a nada.

— Mas ele não me forçou! Eu beijei ele porque eu quis! — outro suspiro. — Só que eu me apavorei e umas lembranças ruins começaram a me atormentar. — Tae colocou as mãos no rosto. — Eu não me arrependo. — O som da voz dele saia abafado, e trêmulo. Ele estava prestes a chorar novamente.

— Você devia dizer isso pra ele. — Pedro tirou gentilmente as mãos de Tae do rosto dele, e lhe ofereceu um olhar compreensivo.

— Não é tão fácil.

— Você já passou por tanta coisa, Tae. E tanta coisa eu nem faço ideia, porque você não me conta. — Pedro sorriu.

Apesar de serem amigos desde a infância, Tae tinha desenvolvido um péssimo hábito de esconder seus sentimentos e agir como se estivesse bem. Era difícil desvendar o que se passava naquele coração machucado, e Pedro sabia que Jungkook conseguia descobrir tudo o que Tae sentia só de olhar para ele.

Algo que ele nunca conseguiu, em anos de amizade.

— Cê sabe que eu sou muito indeciso e que não tenho muitas certezas na vida. — Tae concordou. — Mas, você merece demais ser amado e disso eu tenho certeza.

Tae fechou os olhos tentando impedir que as lágrimas voltassem a inundar seus sentidos. Para alguém que cresceu aprendendo que o amor era um sentimento que nunca faria parte da sua realidade, ouvir e acreditar naquelas palavras se tornava uma missão impossível.

— Você é uma pessoa que transborda amor e mais do que ninguém deve sentir tudo de bom que o mundo pode oferecer. — Pedro deu um beijo na testa de Tae. — Mas você precisa se permitir... E tenho certeza de que o Jungkook não vai sair do seu lado, mesmo quando parecer que tudo está dando errado.

— Eu sei, e é exatamente isso que me deixa apavorado. 

[...]

— Jungkook você não pode ficar deitado pra sempre! — Guilherme disse firme e impaciente.

Após a fuga de Tae, Jungkook afundou em uma mistura de culpa e vergonha. Ele se sentia o pior ser humano do mundo.

A cabeça confusa carregava os piores pensamentos e os mais bobos também. Jungkook chegou a pensar que Tae tinha fugido dele naquela noite porque ele beijava mal.

— Pega leve com ele, Gui. — Rafael disse baixinho.

— Rafael! Pelo amor de Deus! — Guilherme apontou para o volume embaixo da coberta. — Faz dois dias que ele não sai desse quarto! Nem pra comer, nem pra tomar banho. — Guilherme falava de forma ríspida, mas Rafa sabia que era a forma dele demonstrar sua preocupação. — Eu tô sentindo o fedor de cecê de longe!

— Eu sei, Gui. Eu também tô. — Rafael suspirou. — Mas, a gente não pode forçar ele, né?

— Me ajuda a levar ele pro banheiro, tá bem? Não suporto ver ele assim... — Guilherme estava sofrendo tanto quanto Jungkook.

Jungkook estava tão fraco que nem relutou quando os amigos tiraram o cobertor de cima dele. Os dois dias e meio que passou chorando incansavelmente sugaram todas as suas energias e levaram um pedacinho importante da sua alma.

— Jungkook, presta atenção. — Guilherme falou mais calmo. — Eu vou te dar um banho agora, ok? — Nenhuma resposta. Guilherme não esperava por uma. — E o Rafa vai fazer algo pra você comer, então por favor, colabore! Não quero ter que te levar pro hospital.

A chuva que caia do lado de fora do pequeno apartamento que Guilherme e Jungkook dividiam anunciava o fim do verão e transmitia uma melancolia indescritível à medida que as gotas grossas rasgavam o céu.

Chuvas de verão costumam ser devastadoras. Elas são tão repentinas que não há tempo para reagir.

Tae era como uma chuva de verão.

Ele inundou o coração de Jungkook subitamente e trouxe consigo uma ventania de emoções que se escondia atrás daquele sorriso retangular contagiante.

Tae era como uma chuva de verão.

E após bagunçar uma cidade inteira e confundir as constelações presas nos olhos de Jungkook, foi embora sem olhar para trás.

— Você acha que ele vai voltar? — Jungkook perguntou num sussurro. Ele já não tinha lágrimas mas, ainda sim sentia um bolo enorme agarrado nas paredes de sua garganta.

— Eu não sei. — Guilherme sentiu as palavras alfinetarem seu coração. — Ele seria muito bobo se não voltasse. — disse relutante, não queria dar falsas esperanças para o amigo.

— Dói tanto. — Jungkook falou enquanto Guilherme tirava a blusa que estava em seu corpo há quase três dias.

— Eu sei, mas você não pode continuar assim...

— Será que eu fiz alguma coisa errada? — Jungkook ignorou o conselho e continuou a se martirizar. — Eu beijo mal? Eu sou feio? O que caralhos aconteceu? — As lágrimas surgiram novamente embaçando os olhinhos tristes.

— Você não fez nada de errado. — Guilherme segurou o rosto de Jungkook e limpou as lágrimas que ameaçaram cair. — Você não beija mal e é o cara mais lindo que eu conheço. — Jungkook se assustou com a forma que Guilherme havia falado, nunca tinha sentido aquela certeza intensa vindo dos elogios do amigo.

Ou sempre ignorou e só agora se permitiu perceber.

Guilherme terminou de tirar a camisa e a bermuda de Jungkook e o conduziu para que ele pudesse se sentar na tampa do vaso sanitário.

Com a ajuda de uma ducha manual, Guilherme molhou os cabelos de Jungkook com cuidado — não queria deixar cair nenhuma gotinha de água nos olhos de jabuticaba que ele tanto gostava. Logo depois, pegou o vidrinho de shampoo infantil que Jungkook adorava usar e despejou na palma da mão.

Guilherme sorriu ao ler o rótulo da embalagem. — cheirinho de banana — Aquilo era TÃO a cara de Jungkook que chegava a ser piada.

Jungkook tinha uma personalidade doce e inocente que se chocava constantemente com sua aparência de homão. Guilherme sorriu mais uma vez e continuou a cuidar de Jungkook.

Seus dedos faziam uma massagem gostosa no couro cabeludo alheio transmitindo um alívio imenso para o corpo cansado de Jungkook. A Luz apenas fechou os olhos e sentiu a sensação de conforto lhe preencher da cabeça aos pés.

Após lavar os cabelos de Jungkook, Guilherme suspirou e se preparou para sair do banheiro.

— Acho que você consegue se lavar sozinho, né? —  Jungkook concordou. — Vou trocar os lençóis da sua cama e colocar roupas limpas pra você, ok?

— Obrigado. — Jungkook não estava agradecendo apenas por toda aquela preocupação, estava agradecendo por tudo o que Guilherme representava. Ele sabia disso e então sorriu tímido.

— Não demore muito, a conta de água está vindo muito cara. — Jungkook revirou os olhos e sorriu. Pela primeira vez em dois dias, ele sorriu de verdade.

A porta do banheiro se fechou e antes de ligar o chuveiro, Jungkook conseguiu ouvir Guilherme brigar com Rafael por ele ter feito apenas macarrão instantâneo.

Apesar da dor indescritível que ainda permanecia em cada osso do seu corpo, Jungkook se sentiu grato por ter pessoas tão incríveis na sua vida.

[...]

Havia se passado duas semanas desde o ocorrido. Sete dias que Jungkook procurava por Tae pelo campus com a mesma determinação da primeira vez. E sete dias que Tae faltava às aulas só para não ter que esbarrar com Jungkook pelos corredores.

A situação era triste de se ver — o olhar destemido de Jungkook e os olhos amedrontados de Tae fizeram os amigos dos dois se esforçarem ao máximo para ajudá-los. —  Mas, estava desgastante principalmente para Guilherme, que não conseguia esconder sua raiva ao falar de Tae —  o cara que tinha partido o coração do grande amor da sua vida.

Os amigos que viraram amigos, resolveram se encontrar e juntos lamentar o ocorrido.

— Eles se gostam muito, né? — Monica falou entristecida com aquela situação. Todos concordaram.

— Eles ficaram juntos por quanto tempo? Seis meses? — Rafael perguntou enquanto enchia seu copo de cerveja.

— Oito. — Guilherme e Pedro responderam juntos.

— Oito meses e eles nunca tinham dado um beijo? Parecia que eles eram crentes e escolheram esperar. — O comentário de Rafa arrancou gargalhadas de todos na mesa.

Além de Pedro e Monica, ninguém fazia ideia dos motivos de Tae para evitar contatos físicos com Jungkook. E mesmo não sabendo de todos os motivos, eles nunca julgaram Tae. Mas, eles sabiam que não poderiam esperar a mesma reação de outras pessoas, principalmente de Guilherme.

Desde que chegaram no barzinho e tocaram no assunto, o amigo de Jungkook não economizou nos comentários ácidos com um toque de mágoa. Pedro tentou ignorar todos, porque ele sabia da paixão não tão secreta de Guilherme por Jungkook, porém não conseguiu se segurar quando o comerciante do campus ultrapassou os limites.

— O Tae é um covarde. — Aquele foi o estopim que fez Pedro sair dos eixos.

— O que você disse? — Seus olhos estavam semicerrados, e suas mãos fechadas prontas para dar um soco.

— Seu amigo é um covarde, Pedro. — Guilherme sorriu. — E burro também. Como caralhos ele teve coragem de fazer isso com o Jungkook? — Rafael pediu para que ele parasse de falar. — O que eu falei de errado, Rafa? Ele é um covarde por ter feito o Jungkook se apaixonar e depois abandonar o menino como se ele fosse um objeto descartável.

O som oco das mãos pequenas de Pedro em contato com a boca de Guilherme veio antes de qualquer outra reação racional. E o clima descontraído foi se tornando cada vez mais sombrio e dolorido.

— Você nunca mais fale assim do Tae. — Pedro apesar de estar completamente irritado, falava baixo. — Quem é você pra dizer qualquer coisa do meu amigo? — um riso de escárnio escapou pelos lábios de Chim. — Logo você, o cara que não teve coragem de se declarar pro melhor amigo. — Guilherme ficou surpreso com o último comentário.

— Chim... Já chega. — Monica suplicou.

— Não. — Protestou. — Ele não sabe nada do Tae, não faz a mínima ideia do que ele passou pra ser quem ele é hoje, eu não vou admitir esse cara vir falar merda. — Rafael entrou na frente de Guilherme, com medo do amigo apanhar de novo.

Você é um covarde, Guilherme. — Pedro continuou. — Sabe, apesar de todos os traumas do Tae, ele não desistiu fácil de tentar fazer o relacionamento dele e do Jungkook funcionar. Ele lutou até a última gota de suor cair, e você? — Chim tentou golpear Guilherme novamente, mas foi interrompido por Monica e Rafael. — Você nem sequer tentou. Preferiu jogar suas frustrações pra cima do Tae, do que admitir que você é o covarde dessa história.

Guilherme não disse nada. Seu coração batia forte e seus pensamentos maltratavam sua mente. Ele se sentou novamente e encheu o próprio copo com mais cerveja. Pedro sentiu seu sangue ferver com aquela cena, mas foi convencido a ir embora.

Rafael tentou falar com Guilherme, mas o amigo não respondia. Ele apenas olhava fixo para a garrafa a sua frente. Depois de meia hora sem respostas, Rafa foi embora e deixou Guilherme sozinho. Ele sentia que era o melhor a se fazer naquele momento.

Guilherme não teve coragem de se levantar daquela mesa e durante duas horas ele ficou imóvel repassando o que tinha falado. Quando assimilou tudo, começou a chorar descontroladamente.

Uma sensação horrível começou a dominar seus pensamentos e o sentimento de que não merecia o privilégio de ter Jungkook em sua vida, foi ficando cada vez mais forte.

Pedro estava certo?

Enquanto as lágrimas consumiam o coração de Guilherme, do outro lado da cidade a Luz tentava encontrar uma sombra muito conhecida por si.

Jungkook andava de cabeça baixa com os fones de ouvido no máximo. Já fazia vinte minutos que ele estava escutando a mesma música no repeat, era a música favorita de Tae.

Qualquer dia desses vou descer as ruas
Vou entrar nos bares, vou beber os mares
Pra criar coragem e te procurar.

Jungkook resolveu que iria revisitar todos os lugares que já havia ido com Tae, numa esperança inútil de encontrá-lo em algum deles. Foi ao lugar em que acamparam certa vez, depois ao parque onde aconteceu o momento Raul X Renato. E por último, e não menos importante, ao semáforo onde tinha visto Tae pela primeira vez.

Ele já estava cansado, mas a esperança ainda não tinha o abandonado. Jungkook atravessou aquela rua incontáveis vezes ouvindo o mesmo refrão de Zé Geraldo. Esperou o sinal ficar verde mais uma vez e quando se preparou para fazer a última travessia, sentiu um arrepio conhecido cutucar seu coração.

Jungkook parou no meio da faixa de pedestres e semicerrou os olhos na esperança de enxergar melhor a sombra parada no outro lado. Seus olhos foram se abrindo em câmera lenta e um sorriso de alívio cresceu em seus lábios.

Era ela, a sua Escuridão.

O tempo parou, tudo congelou ao redor e somente os dois coexistiam naquele universo que só eles habitavam.

Tae estava do mesmo jeito que estava na primeira vez que se encontrou com Jungkook. Usando um casaco preto e all stars surrados. Ele ainda não tinha visto Jungkook parado feito bobo no meio da rua, estava ocupado demais rolando a tela trincada do celular na esperança de encontrar uma música decente.

Jungkook estava um pouco diferente do primeiro dia do verão, mais cansado. Porém, ele ainda guardava em seu sorriso um calor aconchegante, o mesmo que fez Tae se sentir despido. E como no primeiro eclipse que uniu Luz e Escuridão, Tae não teve tempo de colocar os fones de ouvido novamente, pois uma voz muito mais convidativa gritou seu nome.

Seu instinto primário de fugir dominou seus sentidos por alguns segundos, mas ele sabia que Jungkook iria correr atrás de si, e que o alcançaria com muita facilidade.

Então só respirou fundo e... Respirou de novo. Não se sentia pronto ainda.

— Oi! — Jungkook chegou ao outro lado com um sorriso enorme no rosto. Tae se sentiu mais culpado ainda.

— Oi, Jungkookie! — Tae respondeu e logo em seguida percebeu o que tinha feito. Aquele apelido era tão íntimo que não parecia apropriado utilizá-lo após ele ter abandonado Jungkook.

Jungkook, por outro lado, gostou de saber que ainda existia uma parte sua com Tae. Nem tudo estava perdido.

— Eu te procurei a semana toda... — Jungkook estava agindo estranhamente "normal". Como se nada tivesse acontecido, como se Tae não tivesse feito nada demais, como se Jungkook o entendesse.

Desde a primeira vez que olhou nos olhos de Jungkook, Tae sentiu que aquele brilho que habitava as irís de Jungkook, poderiam facilmente destruir todas as paredes que construiu ao longo dos anos para se proteger.

— Desculpa... Eu achei melhor ficar um tempo longe.

— Sei... E o que você tá fazendo aqui? — Mentir era a única opção, mesmo os dois sabendo que Tae não era bom em mentir para Jungkook.

— Ah! Eu gosto de vir aqui ouvir música. — Jungkook fingiu acreditar naquela resposta.

— E cê tá ouvindo o quê? — Tae sorriu sem jeito e mostrou a tela do celular para ele. Tocava Metamorfose Ambulante, a música favorita de Jungkook. Os dois sorriram.

— Tá afim de tomar um açaí? — Jungkook fez um movimento engraçado com as sobrancelhas e Tae achou uma graça.

— A essa hora da noite? — Tae estava confuso com o que Jungkook pretendia.

— Acho que a gente precisa conversar, né? — A confusão deu lugar a ansiedade, mas Tae sabia que não poderia fugir por muito tempo.

[verão de 2019]

— Uma conversa sem muitas explicações e regada com pedidos de desculpas. — O bêbado disse. — A Escuridão não se sentia pronta para falar, apesar de saber que a Luz entenderia perfeitamente cada palavra que dissesse e que ela nunca julgaria suas ações.

— Mas ela simplesmente não conseguia. — O garçom complementou.

O bêbado confirmou com um aceno breve.

— A Luz insistiu em ajudá-la, disse que não viveria bem sem ter sua doce Escuridão ao seu lado, mas a Escuridão foi irredutível. Aquele era um processo que ela precisaria viver sozinha, entende? — O garçom negou.

— Ninguém consegue fazer nada sozinho, e pelo que eu me lembro a Escuridão já esteve sozinha por tempo demais. — O bêbado sorriu, lá no fundo ele pensava a mesma coisa. — Acho que está na hora dela deixar esse orgulho de lado e tentar ser feliz, poxa!

— Ela não está mais sozinha. — O garçom se surpreendeu, tinha perdido alguma parte da história enquanto atendia os clientes? — Apesar de não estar ao lado da Luz, elas não se separaram.

O garçom abriu a boca para comentar algo, mas foi interrompido quando um velho conhecido entrou pelas portas surradas do bar.

— O Seu Manoel tá ai? — O homem que entrou ofegante no estabelecimento, nem havia percebido a presença do bêbado a alguns bancos de distância. — Preciso contar uma coisa!!

— Boa tarde pra você também, garoto. — O garçom ignorou a pergunta. — Eu? Oh! Eu estou ótimo, obrigado por perguntar.

— Boa tarde, Luiz. — O homem se sentou. — Para de me chamar de garoto, eu tenho nome, sabia?  — O garçom revirou os olhos. — O Seu Manoel tá ai? — Repetiu a pergunta sorrindo atoa.

— Ele viajou com a família pra praia. — O garçom pegou um copo d'água e serviu ao homem. — É só com ele?

— Bom, eu queria contar quando ele estivesse aqui, mas acho que não tem problema você saber antes. — O garçom estava intrigado com tanto mistério. — Eu... Chamei ele pra sair.

A expressão desinteressada e costumeira do garçom deu lugar ao espanto acompanhado de olhos brilhantes de orgulho.

— Não foi nada fácil, sabe...

— Claro que sei, faz uns dois anos que você vem aqui, pede a mesma dose e chora como um cachorro abandonado.

O homem sorriu nostálgico, se lembrando da primeira vez que atravessou aquelas portas aos prantos por ter perdido seu grande amor. Sorriu mais ainda ao se recordar dos conselhos do Seu Manoel, e da forma calorosa que o dono do bar e Luiz o acolheram naquele dia.

— Me conta como isso aconteceu, Tae! — O bêbado sentiu um arrepio lhe percorrer após ouvir aquele nome.

— Minha psicóloga disse que eu poderia tentar falar com ele, aos poucos e sem pressa. — Tae sorriu. — Tem uma semana que eu cumprimento ele todos os dias na faculdade, e hoje eu tomei coragem pra chamar ele pra tomar um açaí. Foi a ultima coisa que fizemos antes de nos afastar.

— E o garoto aceitou? — O garçom se debruçou no balcão ansioso pela resposta.

— Não... — Luiz ficou genuinamente confuso, depois de tudo que já tinha escutado sobre aquele relacionamento, ficou surpreso pela rejeição.

— COMO NÃO?

— Ele está em semana de provas e aí já viu né...

— Mas gente, um açaí não vai fazer ele tirar zero, que absurdo! Me passa o endereço desse garoto eu vou lá. — Luiz tirou o avental da cintura simulando sua saída do bar.

— Relaxa! Ele remarcou pra semana que vem. — Tae disse entre risadas e logo depois um suspiro preencheu o ambiente. — Tô bem ansioso... E com medo também.

— Tae, o garoto te esperou por dois anos. — Luiz sorriu. — Parece até coisa de filme! E se ele fez isso é porque os sentimentos dele não mudaram.

Naquele momento, o bêbado deixou o bar silenciosamente. Ninguém percebeu sua saída nem as lágrimas que se acumulavam no cantinho dos seus olhos. E diferentemente de dois anos atrás quando chorou descontroladamente na mesa de um bar qualquer, Guilherme agora chorava de alívio.

Ele aprendeu com o tempo que a única pessoa que podia lidar com suas merdas mal resolvidas era ele mesmo. Entendeu com muita dificuldade que o que Jungkook sentia por Tae era muito maior do que ele imaginava que fosse, e no final desse processo, começou a invejar a coragem de Tae.

Tae deu um jeito de quebrar todas as correntes que lhe aprisionavam no seu passado doloroso. Depois de um mês tentando ignorar tudo o que viveu ao lado de Jungkook, ele percebeu que a dor de ficar sem Jungkook era muito maior do que imaginava. Ele não conseguia mais viver direito, não se alimentava, não saia de casa para se divertir. Ele estava voltando a ser aquela criança amedrontada de antes.

O bêbado olhou mais uma vez para a porta do bar antes de ir embora e sorriu. Sorriu porque finalmente soube que o grande amor da sua vida iria ter o amor que merece. Guilherme desceu a rua do bar e sumiu no meio da multidão que andava apressada, tão rápido quanto apareceu naquele bar.

Do lado de dentro do bar do Seu Manoel, Tae falava animado sobre como sentia saudades de olhar os olhinhos de jabuticaba de Jungkook de perto. Ele estava determinado a seguir em frente e mesmo se seus monstros voltassem a lhe perturbar, Tae não iria mais fugir. Estava cansado disso.

Ao contrário das outras vezes que entrou naquele bar — chorando e pedindo a dose de 51 de sempre — Tae sorria como nunca, o garçom nunca tinha visto um sorriso tão verdadeiro como aquele, um sorriso que iluminava todos os pontos sombrios do coração.

Luiz então lembrou do bêbado e da sua história maluca sobre Luz e Escuridão. E quando foi procurá-lo para apresentar Tae e ouvir o final da história, só encontrou um guardanapo meio amassado com uma única frase que resumia tudo o que Luiz tinha escutado naquela tarde. 

A Escuridão não é a ausência de Luz.

...

Espero poder me encontrar com vocês em breve! Até a próxima. 🌙

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