Um mês depois
Estava com clima de chuva lá fora e Joaquim se despediu de sua mãe e seu irmão para ir ao trabalho.
- Tchau, mãe! - A beijou. Te amo.
- Até, meu filho, toma cuidado. Também te amo.
- Tchau, miúdo. - Passou a mão nos cabelos de Pedro Henrique.
Joaquim saiu para fora e ia dirigindo seu carro para chegar em seu trabalho e a chuva ficou mais forte, fazendo com que a estrada de terra ficasse escorregadia.
Raios e trovões eram ouvidos e o vento fazia as árvores se balançarem. Já estava quase chegando, mas uma árvore caiu na estrada, o que fez Joaquim esquivar o carro para o lado direito, perder o controle do veículo e cair no barranco.
Meia hora depois, um homem passava pela mesma estrada e freou a tempo de bater naquela árvore no chão. Desceu do carro e percebeu os rastros de roda e os seguiu até o barranco, assustando-se ao ver o carro de Joaquim capotado.
O homem desceu e encontrou Joaquim desacordado. Então, o carregou até seu carro e o levou até o hospital.
Quando a chuva passou mais um pouco, a mãe de Joaquim ouvia a rádio na cadeira de balanço e Pedro Henrique estava próximo à ela.
Ela ficou mais atenta quando deram uma notícia:
"As chuvas causaram muitos estragos. Além de deslizamentos, algumas árvores caíram na estrada e causou um acidente: Um homem foi encontrado com seu carro, caído em um barranco. Por sorte uma pessoa que passava pelo local, o resgatou e o levou ao hospital. A vítima foi reconhecida como Joaquim Silva, um médico do próprio hospital em que está internado agora"
Irene começou a chorar.
- Vamos, filho! Seu irmão sofreu um acidente! - Se preparou para ir.
- Meu irmão vai ficar bem? - Pedro Henrique estava assustado.
- Vai sim, vai sim.
Chegaram ao hospital e os enfermeiros disseram para eles esperarem até o amanhecer para poderem ver Joaquim.
- Eu sou a mãe dele! Por que não posso vê-lo?!
- Sinto muito, senhora mas vamos ter que examiná-lo. Precisa se acalmar, vamos cuidar de tudo.
- Como vou ficar calma, sabendo que meu filho está mal?!
Chegaram mais enfermeiros e tentaram tranquilizá-la.
Amanhece
Irene e Pedro Henrique puderam entrar na sala onde Joaquim estava.
- Filho... - Ela derramou lágrimas acariciando os cabelos dele. - O que vai acontecer com ele? - Perguntou do médico que estava ali com eles.
- Joaquim sofreu uma fratura no crânio, causando hemorragia interna mas que felizmente não o matou. Por outro lado, o deixou no estado de coma profundo e lamentavelmente não sabemos se ele vai acordar.
Isso os abalou muito e o levaram para casa, pois não tinha o que fazer. Joaquim estava imóvel e Pedro Henrique queria que ele acordasse.
- Joaquim? Está me ouvindo? - O chacoalhava. - Mãe, acha que ele vai acordar logo?
- Espero que sim. - Irene lhe consolava.
Os dois deram atenção à Joaquim em todo o tempo e os dias iam-se passando.
Irene não saia de seu lado e Pedro Henrique ia para a escola e quando retornava, ia passando direto para o quarto do irmão, para ver se ele já havia acordado.
Passaram-se os dias e Lúcia sentia falta de Joaquim, pois ele sempre ia vizitá-la ao menos duas vezes por semana.
- Será que aconteceu alguma coisa com ele?
Ela carregou seu gato, e conversou com ele:
- Ai, Floquinho... O Joaquim não veio mais me ver, estou começando a ficar preocupada.
Seu gatinho miou em seus braços.
Ela ouviu um barulho e assustou-se.
- Será que é ele?
Lúcia foi averiguar quem poderia ser mas ao abrir a porta, não havia ninguém.
Voltando-se para dentro, estranhou a situação. Ouviu de novo o barulho e vinha da porta dos fundos e até seu gato arranhava a porta com as unhas.
- Tem alguém ai?!
Aproximou-se com cuidado da porta e antes de abri-la, alguém a abriu com força, fazendo Lúcia gritar ao ver um homem alto, todo sujo e com cabelos e barba grandes. Lúcia começou a gritar de espanto.
- Calma Lúcia! Sou eu! - Ele tentou fazer com que ela parasse de gritar.
Ela o analisou bem e reconheceu quem era, mas ficou ainda mais assustada.
- Cri... Cristopher?!
Dito isto, desmaiou.
Ela foi abrindo os olhos devagar e pôs a mão na cabeça. Achava que aquilo tinha sido um sonho, mas quase desmaiou novamente quando viu aquele homem em pé.
- Ahh! Você de novo!
- Já disse que sou eu, seu marido!
Ela abraçou as pernas no sofá e disse:
- Mas você tinha morrido...
- Não, eu não morri!
- Mas... Eu recebi uma ligação dizendo que...
Ele se aproximou dela, que ainda estava assustada e pálida.
- Não tenha medo, querida. Eu posso explicar tudo.
- Por favor.
- Eu estava na guerra quando uma bomba, lançada pelo outro exército, explodiu. Vários dos meus companheiros morreram e muitos ficaram feridos e perderam alguma parte do corpo. - Abaixou a cabeça. Inclusive eu.
- O que?! - Lágrimas molhavam o rosto dela.
Cristopher então mostrou que havia perdido sua mão esquerda o que fez Lúcia pôr a mão à boca.
- Eu não queria fugir, queria lutar até o fim, mesmo que isso me custasse a vida. Mas eu lembrei de você e em meio aquele bombardeio que estávamos perdendo e eu caí desmaiado. Acordei em uma prisão e fiquei ali por vários dias, sofrendo nas mãos dos inimigos. Mas eu consegui escapar e quis voltar para casa, para ficar ao seu lado. Vaguei muitos lugares até chegar até aqui. Você não sabe o quanto eu sofri, mas valeu a pena, pois aqui estou eu de volta.
- Você passou por tudo isso pra ficar comigo novamente?
- E faria tudo de novo se fosse o caso, só para estar com você.
- Cristopher...
Depois de haverem conversado, Cristopher tomou seu banho, tirou a barba, vestiu uma roupa limpa e jantou com Lúcia.
- Eu estava com saudades da sua comida, meu amor.
- Obrigada. - Sorriu e o observou comer.
Ela analisou o braço dele, e ficou triste por ele ter perdido a mão.
- Vi que adotastes um gato.
- Ah, sim! O nome dele é Floquinho.
- Hum... Gatos são muito preguiçosos, prefiro cachorro.
Lúcia ficou um pouco triste, mas fingiu um sorriso.
Depois do jantar, Lúcia ainda estava pensativa. Cristopher vendo-a desse jeito, chegou perto e tocou seu rosto com sua mão direita.
- O que foi, meu amor?
- Não é nada, eu só... Fiquei triste com o que aconteceu com você.
- Ah! Mas isso não tem importância. O que importa é que estamos juntos.
Cristopher a beijou.
No dia seguinte... 🌄
Lúcia acordou e Cristopher não estava a seu lado. Ao descer as escadas, olhou para fora e viu Cristopher.
- Bom dia! - Lúcia lhe cumprimentou.
- Ah, bom dia, querida! - A abraçou.
- Dormiste bem?
- Sim.
- O que estais a fazer aqui fora?
- Só observando mesmo.
- Já tomastes café da manhã?
- Ainda não. Estava esperando acordares.
Lúcia sorriu para ele e entraram abraçados.
A convivência deles foi se tornando normal aos poucos, mas Lúcia ainda lembrava de Joaquim.
Pensando que ele a havia abandonado novamente, decidiu não mais pensar nele e passou mais tempo com Cristopher.
Lúcia descobriu que estava grávida novamente e isso foi uma alegria para ela e para Cristopher.
- Essa é a melhor notícia que tu poderias me dar! - Ele pulou de felicidade no jardim.
Cumprindo-se os meses de gestação de Lúcia, ela teve a criança: um lindo menino, o qual batizaram de João Miguel.
Lúcia estava muito feliz com seu filho, pois era tudo o que ela queria. As pessoas achavam seu neném muito lindo e alguns até diziam:
- Não se parece nada com o pai!
Lúcia deixou de sair com seu filho, por causa desses tipos de comentários.
Quatro anos depois...
- Já faz quatro anos que você está assim... - Irene falava com Joaquim, ainda em coma - Mas eu não vou perder as esperanças, meu filho.
Ela beija-o e o observa dormir.
- Como eu queria saber se tu ouves o que te digo. Ao menos um sinal...
Nesse instante, Joaquim move seu polegar, o que faz Irene assustar-se e encher-se de esperança.
- Joaquim?! Estás me ouvindo?
Mas Joaquim não mexe mais o dedo.
- Eu não vi errado, tu mexestes o dedo. Isso é um sinal de que estás acordando!
Pedro Henrique entra no quarto e pergunta:
- Como ele está?
Irene vira-se para ele com um sorriso e responde:
- O Joaquim ele... Mexeu o dedo!
- Tens certeza? - Pedro Henrique chega perto dele.
- Tenho! Eu estava a conversar com ele, quando pedi um sinal e ele mexeu o polegar!
Pedro Henrique ficou em dúvidas.
- Vai ver era um reflexo.
- Estás duvidando de mim que sou sua mãe?!
- Não é isso, é que às vezes imaginamos coisas.
- Ah! Não acredito que estás a me dizer isto! - Cruzou os braços.
- Melhor pararmos de falar nisso, não quero discutir com a senhora. - Beijou a mãe e se retirou.
- Ele pode não acreditar, mas eu acredito que tu me ouves, filho.
Pedro Henrique havia crescido e ajudava a mãe a fazer as coisas de casa.
Ele pôs os pratos na mesa e Irene serviu o almoço.
- Como foi na escola? - Irene pergunta.
- Muito bem. Como sempre. - Gabou-se por ser inteligente.
- Continue assim.
- Mais tarde a Clarrisse irá vir aqui para estudarmos para a prova juntos. - Avisou.
- Nunca havia me falado dela.
- Ela entrou esse ano.
- Ah...
- É muito bonita.
- Hum... Gosta dela?
- O que? - Quase se engasgou com o suco. - Somos apenas colegas de classe, mãe!
- Sei...
Pedro Henrique ficou envergonhado.
Mais tarde, Clarrise veio para estudar com Pedro Henrique.
Irene a recebeu super bem e os deixou à vontade na sala.
- Gostei da sua casa. - Ela falou.
- Obrigado.
Retiraram os materiais da bolsa e começaram a estudar. Irene serviu um lanche para eles e deram uma pausa para lancharem.
- Filho, vou ter que dar uma saída. Vou comprar algumas coisas e já volto. Cuide de tudo pra mim, okay?
- Sim, mãe.
Continuaram a ler os livros de história e Clarisse perguntou onde era o banheiro.
- Fica por ali. - Pedro Henrique mostrou.
Ela se levantou e foi até lá. Mas passou pela porta do quarto de Joaquim e a abriu, achando que era o banheiro.
Ao se deparar com Joaquim, ela estranhou ele estar dormindo tão profundo e se aproximou dele. Ela vê que ele respira por um aparelho.
Pedro Henrique entra no quarto.
- Clarisse!
Ela toma um susto e pergunta curiosa:
- Ele é seu irmão?
- Sim.
- Por que ele dorme tanto?
- Clarisse, é melhor sairmos daqui.
- Primeiro me responda. - Cruzou os braços.
- Ah... Tudo bem. Meu irmão sofreu um acidente há um tempo atrás e por isso ficou assim...
- Poxa, que triste. Ele não sabe o que acontece em volta dele?
Pedro Henrique balança a cabeça em sinal de negativo.
- Me desculpe, eu não queria...
- Tudo bem. Não tinha como tu saberes, agora vamos voltar a estudar?
Clarisse olha para Joaquim e percebe que ele moveu a mão.
- Vistes isso?! - Pergunta de Pedro Henrique.
- O que?
- Ele moveu a mão!
Pedro Henrique olha para o irmão e não vê movimento algum além de sua barriga ao respirar.
- Ele havia mexido, eu vi! - Clarisse continuou a dizer enquanto saíram do quarto.
- Ainda não pude ver isso. Acho que ele não gosta de mostrar pra mim.
- Não fique triste. Um dia ele irá mexer o corpo todo e vai se levantar. Você vai ver.
- Obrigado pelo apoio.
- De nada.
Depois que ela foi ao banheiro e voltou, Pedro Henrique observava como ela lia em voz alta o livro.
Percebendo que Pedro Henrique estava distraído, chamou sua atenção.
- Estás entendendo o que estou a dizer?
- Claro! Continue.
- Ok. "Depois de vários conflitos..."
Ele continuou admirando-a.
- Pedro...?
- Eu?!
- Assim não dá! É melhor tu leres esta outra parte. - Deu o livro à ele.
Pedro Henrique começou a ler e depois de um tempo, Clarisse disse que já haviam estudado bastante e que só restava esperar seus pais virem buscá-la.
Pedro Henrique queria dizer à Clarrisse que gostava dela, mas quando ia tomando coragem sua mãe voltou.
- Cheguei! Como se comportaram?
- Normal. - Pedro Henrique respondeu.
- Já terminaram?
- De que?
- De estudar!
- Já sim, dona Irene. Só estou esperando meus pais virem me buscar. - Clarrise respondeu sorrindo.
Não demorou muito eles chegaram.
- Tchau Joaquim! Até amanhã na escola. E obrigada pelo lanche, dona Irene. - Ela se despediu.
- Tchau. - Ele respondeu tímido.
- Volte sempre, querida! - Irene disse-lhe.
Depois que ela se foi, Joaquim ficou pensando nela.
- Gostei dela. É bem educada. - Irene disse.
- Ah! Eu também.
Irene sorriu.
- Como amigo! - Se defendeu.
- Claro...
Irene já ia varrer, quando Pedro Henrique disse:
- Ela viu Joaquim se mexer.
Irene parou e guardou a vassoura.
- Ela entrou no quarto?!
- Mas foi por engano, ela estava procurando o banheiro e entrou lá sem querer...
- Disse que ela viu Joaquim se mexer? Como foi isso?
- Pelo que ela falou, ele mexeu a mão. Mas quando eu quis ver também ele não mexia.
- Sabe o que isso significa?
- O que?
- Que ele está melhorando!
- Sinto saudade dele. Costumávamos conversar bastante antes de dormir.
- Ah... eu também. - O abraçou e o beijou. - Em breve ele acordará.
Voltei com mais um capítulo novo!
Infelizmente Joaquim sofreu este grave acidente que o deixou em coma por muitos anos.
E quem aí ficou surpreso com a volta de Cristopher?
Cristopher não sabe de Joaquim e nem Lúcia sabe o que aconteceu com ele, mas acha que ele sabe que seu marido está vivo e por isso não a procurou mais.
Ela está muito feliz com seu filho e só isso importa para ela agora.