12 dias até minha morte

De faehrin

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Você já imaginou saber o dia de sua própria morte? É assim que começa a história de Lucas: um garoto de 16 an... Mais

Prólogo
Dia 1
Dia 2
Dia 3
Dia 3.5
Dia 4
Dia 5 ou algo assim
Dia 6
Domingo a noite.
Dia 7, noite.
Dia 8
Dia 9
Dia 10
Dia 11.
Dia 12.
Dia 13.

Dia 7

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De faehrin

Ah, bom dia...

Agora são 6:21 da manhã, dia 7 de 12.

Passei a madrugada toda acordado. Bem, eu sequer tentei dormir. Sono não é algo que vai me matar, pelo menos por enquanto!

Fiquei a madrugada inteira pensando no que fazer. Pensei em desistir, deixar para lá, só passar mais cinco dias trancado em casa e dizer que estou resfriado. Não deu, não acho que eu mesmo consiga me dar este privilégio.

E pensei em como resolver as coisas. Como eu iria conversar com a Letícia? Pedir desculpas por me esquentar e falar que ela tem más amizades (mesmo que eu ainda ache aqueles caras uma péssima influência) não iria fazer tudo voltar ao normal, eu precisava de algo mais!

Então, eu pensei, porque EU tenho de resolver isso?

ELA que quis controlar minhas amizades primeiro, ELA disse que eu iria morrer sem ninguém, ELA começou isso tudo. E garanto que ela nem sequer está tão preocupada quanto eu.

Afinal, cheguei a uma conclusão:

Iria deixar a Letícia de lado. Não importa, eu não preciso dela para morrer feliz. E não irei morrer sozinho, eu tenho meus pais, minha tia, e até tô começando a pensar se devo falar com a Sofia. Ela parece gente boa.

Enfim, consegui acertar as coisas na minha cabeça. Estou relativamente tranquilo. Ênfase em relativamente.

Com estes poucos momentos de calma que eu tenho, talvez eu consiga pensar em algo melhor. Vamos ver.

Aliás, caso você, leitor, queira uma boa recomendação para momentos de ansiedade, experimente provar chá de camomila. Li isso na internet e resolvi testar. Depois de 4 xícaras e 2 idas ao banheiro, realmente funcionou. Um pouco, mas funcionou!

Bem, voltando, já é de manhã, uma belíssima e estressante manhã de segunda feira. E às segundas-feiras vêm acompanhadas dos meus pais, doidos da cabeça, pulando e cantando Spice Girls. Admito, anima bastante uma manhã. Vocês deveriam tentar! Mas, dessa vez, eu acho que vou deixar passar...

Conhecendo meus pais, eles vão questionar minhas olheiras. Eu sempre tive esse problema! Sempre que não durmo direito, basta uma noite, surgem essas malditas coisas escuras sob meus olhos. E as de hoje estão bem acentuadas.

Para tentar evitar a pergunta, e muito mais a resposta, estarei pronto para a escola no momento que eles abrirem a porta. Assim, já tenho motivo para correr até a mesa de café e tentar ficar de cabeça baixa. Vamos ver no que vai dar!

Enfim, vou me arrumar, escovar os dentes e, sei lá, passar um perfume (não questione isso, é só para caso de eu mudar de ideia mais tarde...) e já volto. Vocês sequer vão perceber a passagem de tempo!

7:02 da manhã

Como eu disse, vocês nem perceberam! Nem duas linhas se passaram e já estou chegando à porta da escola, caminhando enquanto escrevo. Acho que tô virando profissional nisso! Será que é possível escrever correndo?

Be&¥+€m, aaawcho q\ey naaao

Por favor, só ignorem essa tentativa aí de cima. E não, não é possível.

Bem, ofegante e um tanto quanto ansioso (muito na verdade), finalmente cheguei à escola. É muito estranho pensar como 5 minutos para você, leitor, podem ser 50 para mim.

Ou o contrário, vai dizer que nunca pararam de ler algum livro para mexer no celular? Deus tá vendo hein?!

Dessa vez, resolvi colocar fones sem fio e viajar no mundo da música enquanto pego meu material, vai que assim eu evito pensar ou reparar em muitas coisas?

Enquanto eu andava pelos corredores, contando meus passos ou murmurando a letra de Freaks, em direção ao meu armário, percebi que a escola estava meio... esquisita?

Não que corredores vazios e quietos fossem esquisitos, mas era anormal. A aula estava prestes a começar e não tinha sequer uma alma penada andando por aí? Meu Deus, será que é feriado?

Dei uma checada rápida no telefone, procurando por "datas especiais" e, não, não era feriado. Então por que raios a escola está tão vazia?

Acho que vou até o bloco do meu ano ver se está tudo bem, deve ter alguém por lá.

Algo me diz que deve ser alguma coisa que eu esqueci, mas eu juro que nem tenho ideia do que ser₩#×£=&#;'

9:31 da manhã

Meu deus, o que acabou de acontecer?

Você deve estar bem confuso né? Calma que eu já explico.

Estou dentro de um box no banheiro do auditório, sentado na privada e com os pés apoiados na porta, tirando uns "5 minutinhos" para atualizar tudo que posso.

Vamos lá:

No momento que eu escrevi aqueles rabiscos, na verdade eu tinha riscado o caderno.

Enquanto estava virando um dos corredores da escola, como eu disse, indo para meu bloco, eu acabo esbarrando em alguém.

E não foi uma simples esbarrada: foi cabeça com cabeça. Foi um choque e tanto, comecei a andar para trás, meio atordoado, e deixei a caneta e o diário caírem, ambos em lados diferentes.

Mesmo tontinho, balancei a cabeça e fui direto pegar o caderno, dizendo, para seja lá quem havia batido de frente comigo:

— Eita, desculpa, desculpa. — pegando o caderno, levanto a cabeça rapidamente para verificar quem é a pessoa e se está tudo certo — Tudo be...?

E agora, eu percebo que minha vida é, com ABSOLUTA certeza, um filme de romance.

— Ah, oi Lucas.

— Letícia.

Sim, era exatamente quem vocês pensaram. Eu bati de FRENTE com a única pessoa que eu não queria ter encontrado naquele momento.

E, admito, isso me deixou meio sem saber o quê fazer. Tudo que eu tinha planejado foi por água abaixo quando cruzamos os olhares mais uma vez. Sinceramente, por aqueles dois milésimos que encontrei seus olhos castanhos, que brilhavam em dourado por conta do sol da manhã, o tempo parecia ter parado. Tempo, meu maior inimigo em qualquer situação.

— Como foi o fim de semana? — Letícia perguntou, enquanto eu virava o rosto, fingindo que pretendia guardar o caderno na mochila.

Ainda de rosto virado, respondi:

— Cansativo. Aproveitou a casa de praia do seu amigo? — fiz questão de falar com um amigo em um tom mais baixo.

— Não muito. As coisas foram meio inesperadas.

— Que pena — nessa hora, quase digo "bom saber", mas achei melhor ficar quieto — Bem, vou indo, sabe por que todo mundo desapareceu?

— Ah, ok. Tem uma palestra no auditório, lembra? Sobre expectativas, algo assim. Tá todo mundo lá.

— Obrigado por avisar. — Agradeci, virei as costas e comecei a andar até o auditório.

Naquela hora, minha cabeça martelava com um milhão de ideias. Será que ir embora era a melhor escolha? Não seria melhor conversar com ela? Mas e se ela não quisesse?

Foi então que todos meus pensamentos sumiram.

— LUCAS! — Letícia gritou, alto suficiente para a escola toda escutar. Me virei de súbito, sem saber o quê iria acontecer — Eu senti sua falta lá. Me desculpa.

— Tá tudo bem — não estava — Você falou da boca pra fora — mas machucou.

— Não tá. Eu sei que não. Eu te conheço.

— Se não tá, por que não mandou nada durante o fim de semana? O arrependimento só vem quando você me vê? — Não queria ter sido tão agressivo, mas eu estava tão nervoso e desnorteado que sequer pensei duas vezes.

— Eu... achei que você não iria querer saber de mim. Desculpa...

— Eu sempre quero saber de você.

— Você sabe que eu não queria dizer aquilo de jeito nenhum!

— Mas disse.

— Eu estava nervosa, tudo bem? Toda aquela situação com o Gabriel me deixou estressada. Você parecia prestes a matar o menino! — Letícia gesticulava rápido, como se tentasse dizer mais do que conseguia.

— Ele foi um idiota, você mesma disse que seus pais ficaram furiosos! Queria que eu fizesse o quê, ficasse quieto parado? — Comecei a me exaltar, começando a falar mais alto.

— Eu queria que você tivesse me escutado! Eu consegui falar com aquele imbecil e fazer ele pedir desculpas! Se você ao menos tivesse parado para pensar! — Let também parecia com mais raiva, falando bem mais rápido que o normal.

— Eu estava irritado por que ele te deixou triste! E claro que ele pediu desculpas, depois de você aceitar ir pra casa dele com aquele bando de gorilas!

— Ele disse que iria mandar o maldito e-mail dizendo que foi um mal entendido se eu fosse naquela merda de casa! Só fiz o que eu consegui pensar para proteger a gente!

— Proteger a gente? Se tudo isso foi pela gente, por que você disse que eu iria morrer sozinho, Letícia? Sabe o tanto que a ideia de morrer me machuca? — agora, não era mais uma conversa em alto tom. Eu gritava, prestes a chorar.

— Você disse sobre a Sofia, nós não somos mais amigas! Eu fiquei irritada porque achei que você tivesse ido até ela! Não pensei no que estava dizendo! E, pelo amor de Deus, por que você é sempre tão sensível quando eu digo algo sobre morte?!

— POR QUE EU VOU MORRER, CARAMBA! EU VOU MORRER, NUNCA MAIS TE VER E PERDER O PRIVILÉGIO DE ESTAR CONTIGO, PORRA! — gritei, sem ao menos pensar no que tinha acabado de dizer.

Depois de dois segundos, percebi o que tinha dito. Tinha acabado de revelar o meu segredo, algo que tentei esconder durante a minha vida toda! Olhei primeiro para baixo, em seguida para Letícia, diretamente em seus olhos.

Ela estava pálida e boquiaberta, com os olhos congelados nos meus. Sua feição era de terror. Pela forma que eu disse tudo aquilo, ela sabia que era verdade. Agora, o amor da minha vida sabia que eu iria morrer, e logo.

Eu estava absurdamente inquieto. Minhas mãos tremiam muito, meu corpo suava um tanto mais que o necessário. Meu Deus eu precisava de algo, necessitava de uma resposta dela para tudo aquilo!

E essa resposta veio.

Em disparada, Letícia chegou até mim e me abraçou fortemente. Deixei a mochila cair de lado no mesmo segundo.

E então, mais uma daquelas explosões de sentimentos que eu tenho. Senti meu corpo todo explodir. O coração, que já batia freneticamente acompanhando o nervosismo, aumentava a frequência e parecia prestes a estourar. O sangue percorria, quente e rápido, por todo meu corpo. Minhas mãos, que antes estavam trêmulas, automaticamente retribuíram o abraço, segurando-a fortemente.

Não queria soltá-la. Nunca iria soltá-la. Ela estava lá, comigo, mais uma vez. Eu sentia seu perfume, o cheiro de seu shampoo, seu coração batendo rápido como o meu, o aperto de seus braços, o carinho que suas mãos faziam no meu cabelo, ouvia seu choro, os fungados de seu nariz, sentia as lágrimas caírem sobre meu peito. Eu a sentia! Eu estava, mais uma vez, vivo!

Comecei a chorar. Tentei, ao máximo, segurar e fazer o papel de "homem forte", por mais que isso seja bobagem. Acho que, se todos chorassem quando precisam, o mundo seria um lugar melhor. Foi com esse pensamento que finalmente me permiti ser sentimental com alguém, pelo menos uma vez. Chorei, como nunca havia chorado antes.

Ficamos, ali, abraçados, por um minuto, no mínimo. Não fazíamos mais nada, além de acariciar os cabelos e apertar, cada vez mais, os braços. Parecia que, ao soltá-la, ela iria embora. Jamais a veria novamente, e o sentimento de vazio continuaria como sempre esteve.

Fomos interrompidos por Seu Jeremias, um monitor da escola de cabelos enrolados e barba por fazer. Ele sempre era bem gentil e dócil, mas naquele momento poderia ter esperado um pouco mais para atrapalhar.

— Ei, garotada, a palestra já vai começar! Agilizem, senão fico sem meu emprego, haha! — disse delicadamente, percebendo que algo estava rolando.

Ambos soltamos um abraço ao mesmo tempo. Por mais que a sensação de nunca mais vê-la se aquele abraço acabasse ainda existisse, ela ainda estava ali. Ajoelhada, pegando a mochila que tinha derrubado, mas ali! Não deixaria nada nem ninguém tirar ela de perto de mim, nunca mais!

Catei minha mochila do chão e a acompanhei-a até o auditório. Fomos quietos, sem dizer sequer uma palavra. Às vezes, nossos olhares se encontravam, e um ou dois sorrisos nervosos apareceram pelo caminho, mas o clima estava bem pesado depois do que eu disse. Como eu iria, por Deus, explicar que vou morrer?

Chegamos ao auditório e nos sentamos em dois dos assentos restantes. O lugar estava lotado! Era bem construído, com vários setores de assentos, vermelhos e fofinhos, e um palco hollywoodiano, com cortinas vermelhas e várias luzes no palestrante.

O rapaz que estava dando a palestra, de terninho, cabelo curto e narigão, parecia que tinha muitos conhecimentos e ensinamentos que poderia me passar. Mas, francamente, pouco me importava o quê ele pretendia falar, eu só conseguia pensar naquele momento, naquele sentimento de explosão.

Em algumas de suas falas eu até prestava atenção, mas logo voltava a viajar no mundo das memórias. A Let, ao meu lado, parecia tão avoada quanto eu. De vez em quando, ambos fazíamos alguma piada sobre a palestra, mas foram poucos momentos. Ainda parecia estranho voltar ao normal do nada, por mais que eu quisesse muito.

Em dado momento, pensei em escrever tudo que havia acontecido no diário, para deixar atualizado com as memórias frescas, sabe? Ai, levantei, vim ao banheiro e aqui estou.

E, repito, meu Deus, o quê acabou de acontecer?

Agora que tudo está devidamente atualizado, acho que vou voltar para a palestra, antes que o povo desapareça, de novo.

Será que eu devo combinar com a Let de conversar com ela sobre hoje? Seria bom, né? Vou falar com ela depois da palestra.

12:02, horário de almoço.

Opa, e aí diário, demorei para voltar né?

Desculpe, mas a palestra acabou e não tive muito tempo para escrever.

Bem, depois da palestra, fui direto até a Let conversar sobre o quê aconteceu. Acho que ela tem direito de saber como eu sei que vou morrer (mesmo que nem eu saiba explicar) e por que só contei agora.

Ela parecia abalada, e disse que queria conversar sobre isso com mais calma, fora da escola.

— Ah, tudo bem, tá livre hoje depois das aulas de tarde?

— Depois, não, mas lá para às 19 horas sim. Tenho médico e um teste de inglês, eu acho.

— Saquei... Bom, eu acho que pode ser. Pode ser na sorveteria de sempre?

— Na verdade, eu queria ir em outro lugar. A gente se encontra na sorveteria e depois para lá. Pode ser?

— Ah pod...

— Okay então! — me interrompeu, gesticulando uma "pausa" com a mão direita — Nos vemos de noite, e acho melhor me explicar isso direito!

Depois disso, fomos direto ao nosso Bloco e assistimos às nossas aulas, algumas juntas, outras separadas.

Não consegui prestar atenção em nenhuma aula, ficava repassando todas as coisas que tinha dito, se havia feito algo errado, se tinha agido certo, tudo passava pela minha cabeça! Meu Deus, odeio pensar demais às vezes...

Não conversamos muito mais durante toda a tarde, apenas acenos de cabeça ou sorrisos envergonhados. Parecia que estávamos "forçando" alguma coisa. Sabe quando você se resolve com alguém e tudo que vocês falam depois parece algo para forçar uma volta ao que era antes? Bizarro...

Enfim, almocei na escola (período integral, eca), tive mais uma ou duas aulas, e liguei para meus pais, para me buscarem. Não aguentava mais ter aulas sem sentido e que só deixavam minha cabeça mais confusa tipo MEU DEUS!

Agora eu não sei mais se estamos perdoados, se a briga passou, se ainda tem briga, se eu estava errado e ela certa, ou o contrário, É AGONIANTE!

Fora que certos acontecimentos eu sequer entendi direito! Como assim ela só foi na viagem por conta "da gente", por que ela e a Sofia são brigadas, como as coisas se tornaram tudo isso ? AI MEU DEUS!

Vou encher a cara de chá de camomila e tentar dormir um pouco até às 18 horas, não suporto mais ficar acordado. Além de estar confuso e irritado com tudo isso, ainda tenho sono!

Vou escrever tudo que aconteceu depois de hoje a noite, tudo bem? Espero que, qualquer seja a pessoa que está lendo isto, seja a Let ou alguém que acabou encontrando por aí, saiba que eu sempre tento atualizar as coisas em tempo real hehe!

Me sinto muito escritor às vezes!

Enfim, vou dormir um pouco e descansar até a noite. Acho que ainda não bateu o real baque de que eu disse tudo aquilo. Ai Deus, eu disse tudo aquilo!

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