𝗳𝗿𝗮𝗴𝗺𝗲𝗻𝘁𝗮𝗱𝗼𝘀

By starswithdreamsss

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Nos anos 90, a cidade tranquila de Millburn sofre com casos misteriosos de desaparecimentos. Enquanto isso, u... More

Observações e Personagens
Epígrafe
Insolúvel
1 - A criança sai da toca.
2 - No inferno, todos são iguais.
3 - Uma nova conhecida.
4 - Justiça.
5 - Intercalados
6 - As coisas estão para acontecer.

7 - A cidade que nunca dorme.

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By starswithdreamsss


A amena tarde de outono, monótona como os dias anteriormente incolores de Millburn, - com suas montanhas gélidas e distantes - ascendia no grupo de adolescentes o sabor do que seria a traquinagem. As bicicletas, os patins e os skates ralavam deixando suas marcas brancas pista abaixo da rua 46 em direção a casa do fanfarrão do Isaac James Harden; Ele era, para o grupo, um anti social subdesenvolvido. Mas, ao contrário do que se pode imaginar, esses não são os perpetradores. Isaac que era uma peça detestada dos dois lados.

Dentre os narrados, Elizabeth, Allison, Tonya, Joshua, Christopher e Thomas, podiam ser decifrados como o clube dos cinco que deu certo, com exceção de que não haviam apenas cinco desta raça maldita. De longe pareciam estereótipos, mas suas convicções diziam o contrário.

Dentro do círculo amigável dos colegas de escola, diziam que os perpetradores dominavam aquela parte da cidade, mas os perpetradores eram apenas outros adolescentes como eles - as vossas reputações, no entanto, azedas tal como gotejassem veneno. A quinta série do colégio possuía os pequenos destruidores; P.D. como uma gangue - ninguém os levava a sério, eram apenas crianças. Então haviam os mais velhos que se denominavam apenas destruidores, mas estes estavam no fundamental e perseguiam os mais novos que, era claro, considerados em uma mais baixa posição hierárquica. Os pirralhos dos destruidores no fundamental, entretanto, compreendiam que caras mais velhos mesmo eram os "perpetradores"; estavam no ensino médio, já fumavam, bebiam e trocavam saliva com as namoradas; talvez mais, como nos filmes adultos de VHS.

Estes, que prosseguiram o caminho do infame, não gostavam de se dominar nada. Seus títulos, todavia, menosprezavam o orgulho estampado tão estupendamente em suas posturas. Eram perdedores. Perdedores dos Perdedores. E não faziam nada que pudesse alterar o rótulo. De fato, tal denominação perdeu o significado com os anos, desde que o grupo de amigos não sofriam do bullying tirano que párias isoladas como Manners e Harden, e desde que eram considerados descolados por desafiarem as normas de recomendação para panelinhas, eram diferentes e estavam pouco se importando. Eles sabiam como ser evitados, e gostavam de ser temidos. Dos grupos, eram os únicos com que os Jocks não ousavam se meter.

Josh tinha um estilingue e uma pochete abastecida de ovos podres, seu skate era ornamentado de adesivos velhos assim como o material desgastado do objeto. Possuía seu costumeiro walkmen e ao contrário do que pensavam, a atitude "infantil" de andar de patins, skates e bicicletas se tratava meramente de um disfarce. Era mais prático quando não estavam de carro, para consumar uma fuga por exemplo, eles podiam se dividir e não se preocupariam em mudar constantemente a placa do carro. Na mente orgulhosa e distorcida de Joshua, aquele era o ponto alto do seu dia. Largar-se pela estrada agindo como um pirralho, ferindo propriedade alheia, perturbando a paz dos conterrâneos aposentados... vândalos, deleitavam-se do estresse alheio enquanto não recebiam o azar de pagar por isso.

Estava especialmente frenético no dia de hoje. Noite passada tentou atear fogo na casa de Zane Todd - Não de propósito - em uma das suas gozações com um isqueiro, um bolo, cortinas e galões de cerveja. Teve seu momento de reflexão quando inesperadamente vislumbrou o fogo engolir as preciosidades dos pais do pobre Zane Todd, armários, quadros caríssimos, máscaras religiosas, relógio de parede, tudo perto de ser devorado pelas chamas. Atrasou-se inclusive para se encontrar com os amigos no dia atual, em virtude dos sermões que seu padrasto lhe lançou antes de deixar a residência - Sermões estes ignorados, já que o moreno já obtinha planos de degradação para o dia. Joshua encontrou-se inconformado quanto ao acidente; era uma provocação ardilosa dos deuses sofrer consequências pelos seus atos involuntários ao invés dos que passava meses planejando, se essa desgraça tivesse que acontecer, desejou que não fosse nada exagerado, apenas o suficiente para trazer estragos ao filhinho de papai que lhe atirava provocações ao grupo, infelizmente os prejuízos saíram de seu bolso.

Estranhamente, para a sorte de Isaac, o não envolvido na conversa, essa tragédia lhe serviu para amenizar a quantidade absurda de seu DNA que teria sido encontrada na cena do crime e, se as labaredas fossem maiores, não teria de se preocupar com um corpo, pois já seria naturalmente cremado com a ajuda do inimigo de cabelos ondulados. Poderia ter queimado o corpo largado de Zane Todd juntamente de qualquer prova incriminatória de qual fosse o culpado de seu "assassinato".

— Eu soube que o Zane Todd morreu noite passada. — Christopher quebrou o gelo e Josh sentiu um frio correr pela espinha. Os parceiros que antes concentravam-se com tanta altivez nos sapatos, nos próprios problemas, ou na estrada que os levavam para a próxima vítima da pegadinha, pararam não muito bruscamente. Joshua irremediavelmente irritou-se perante a constatação inverossímil.

— Ele não morreu, não seja idiota.

— Qual é, Josh... eu acho que ele morreu.

— 'Qual é' o meu pau! — Gotículas de saliva respingaram de sua boca, subitamente alterado — Aquele filho da puta do Todd tem grana. Muita grana. Não vai ser uma faca encravada na barriga que vai o matar. — O garoto dos cachos negros não tinha certeza do que despertara tua ira, além de ter ajudado um possível assassino das redondezas. Era de conhecimento público o corpo robusto do platinado sendo levado no fim da festa com queimaduras de terceiro grau.

— Você vai ser culpado e tudo mais, por ter queimado ele vivo? — Tonya fez uma pergunta inocente, visto que o que ocorria com um do grupo se tornava parte do bando.

— É claro que não. Do que você tá falando?! — Ofendeu-se — Foi sem querer, o fogo só fez destruir as malditas provas do depravado que tentou matá-lo de verdade. Soube que ele foi furado e que eu saiba fogo não fura ninguém.

— Eu espero que ele morra... — Proferiu friamente Elizabeth, uma pontada de infantilidade sombreando seu semblante meninil. Estas palavras cruéis proferidas com frivolidade deixaram os colegas estarrecidos e, por resposta, pararam em seus veículos.

— Credo! — Tonya foi a primeira, que esmurrou o seu braço. — Qual é o seu problema? Não se deseja a morte!

— Tááá... — Prolongou infeliz — Mas eu sei que não fui a única que pensou nisso... ninguém gosta de Zane Todd. — As expressões não amenizaram senão a do próprio Josh, este, que estava irritado o suficiente com conflitos no próprio lar – ao assumir as consequências do incêndio para o pai –, para perder tempo irritando-se com o ódio de Elizabeth Marshall por um inútil. Se a polícia passasse a acreditar na sua parte no fogaréu ele estaria morto. — Vamos, não sejamos hipócritas.

— Liz, existe uma diferença entre pensar e dizer. Existem coisas que não dizemos, nunca. — Tonya detestava dar lições de moral – mas não deixava de o fazer. Sentia-se uma mulher de quarenta anos cuidando de uma creche, instalando código de moral ao constatar o óbvio para as criancinhas.

— Vocês são um bando de maricas. — Destilou a loira, ignorando qualquer regra de ética, e de maneira venenosa pedalou adiante. As crinas sedosas à princípio volitaram ante as costas, na estampa listrada da camiseta que dizia "Foda-se seu fodido" em cor de rosa. — Zane Todd desejaria a nossa morte, e eu estou pouco me fodendo se ele for de vez sentar no colo do diabo.

Thomas se retraiu incomodado, apesar de concordar em partes.

— Sinceramente, quem vocês acham que fez isso? — Christopher, com a boca cheia de batatinhas, decidiu se impor e questionar. O medo de ter um assassino entre eles, no ambiente estudantil, o arrepiava. — Quero dizer, quem tentou assassinar o Todd.

— Eu não sei. Mas Zane Todd não era alguém adorado. — A loira, Elizabeth, novamente com seus ares infantis e maldosos, replicou a questão. — Não por pessoas sensatas...

— Provavelmente alguém do próprio bando não aguentava mais ele. — Continuou Tonya.

— E aquele Harden? — Thomas se intrometeu — Soube que eles tem uma richa pesada e na noite passada Todd andou dando uma lição nele. — As bicicletas, os patins e os skates continuavam, até Josh se atrasar um pouco, diminuindo a velocidade enquanto encarava o horizonte de casas, eles atravessavam a ponte de Broken Kruig.

— E, que tal... Eleanor Waldorf? — Atarantou-se Josh – proferindo seu nome alto e prolongadamente como se fosse de alguém importante – isso ao vislumbrar um pássaro e contemplar as montanhas gélidas onde ficava a propriedade de Gertrudes Donovan. Divagou se por aquelas horas não estaria deitada em sua cama, no quarto escuro fugindo da luz do sol e ouvindo ópera; um estereótipo que rondava Ambrose era que Eleanor era fã de clássicos de vampiros e sua inspiração de índole era o Edgar Allan Poe. Não poderia ser mais clichê.

Voltando para a realidade, Christopher riu nasalmente e, repentinamente, uma linha fina de sulco nasal escorreu enquanto comia. Ele rapidamente limpou para que Tonya não avistasse e ficasse com nojo.

— O quê? Eleanor Waldorf matou Zane Todd? — Piadista, gargalhou borbulhante o sarcástico Thomas.

— Não, idiota. — Arfou Joshua, franzindo impacientemente as sobrancelhas grossas. — Eleanor Waldorf ser nossa próxima vítima.

— Fala sério, a Waldorf? Seria mais divertido zoar uma parede. — Cuspiu Tonya. — Ela é meio maluca. — Não teve tempo de mencionar, mas via constantemente a criatura conversando com uma maçã, e quase nunca sorria para ninguém. A conversa do outro dia abriu simpatia por ela, o que atordoou a urgência em lhe pregar uma peça.

Assustou-a que Joshua Jackson pudesse sentir ainda mais tesão conhecendo de quem se tratava, praticamente salivava por ela no momento da conversa.

— Waldorf não é a que se meteu em uma briga entre Zane e o fracassado do sociopata? — Christopher perguntou. — Não podemos pregar peça em Eleanor porque já a convidamos para as cerimônias.

— Esqueçam a Waldorf. — Proferiu friamente Elizabeth.

— Mas por que não? — Relutou o adolescente de cabelos medianos. — Seria fodido! Ela é tão careta... — A pobre Eleanor Waldorf era vista como uma débil mental. Ela usufruía daquela expressão morna em seus olhos, parecia não haver vida dentro da carcaça de bela aparência jovial. Não era difícil desapaixonar no momento em que a via conversando com sua preferida maçã. Era louca. Alguns diziam que era melhor ela estar em um internato do que dividindo oxigênio com os de mente sã.

— Não sei, eu achei ela muito legal. — Comentou o de pele escura novamente.

— Não gosto de Eleanor. — Suspirou Allison, abrindo a boca em uma das raríssimas ocasiões. Os cabelos castanhos escuros cobriam parte da face, na franja de tamanho desmedido. — Ela é uma enferma, no início da semana me viu colhendo meus materiais no armário e se aproximou e sorriu pra mim. Eu sorri de volta e sabem o que ela fez? Me entregou um papel. Ela tinha me desenhado decapitada.

Tonya observou com espanto, soltando um "creeedo" no fim e Elizabeth sorriu fascinada.

Thomas não apresentou reação, as orbes negras semicerradas olhavam a varanda branca de uma das casas que passavam em frente. As ruas como sempre, limpas com suas gramas brilhantes.

— Podem guardar as suas queixas e juízos de caráter de Eleanor para amanhã, já convidamos ela para a tarde de iniciação. — A loira pedalou mais um pouco, cruzando no gramado e quase atropelando um gato, que saiu aos pulos. Christopher, no entanto, mantinha-se focado em Isaac. O desgraçado megalomaníaco.

— É, Josh. É muito melhor abolir com a mente do doente do James. Aquele pedaço de estrume pode explodir a qualquer instante. — Joshua apenas o encarou.

— Falando sério, agora. Aquele cara me dá sérias vibes de assassino em série. — O comentário de Elizabeth fez Allison rir. Expressava-se unicamente quando falavam com ela, preferia não expor as próprias opiniões pois não se julgava articulada o suficiente para defendê-las. — Eu não duvidaria se encontrassem esqueletos enterrados no jardim dele, ou corpos putrefatos no porão.

Ok... podemos parar de falar sobre pessoas mortas? — Tonya tentou fracassadamente cortar a conversação.

— Estamos em um buraco de merda, essa cidade é uma merda. Ao menos alguma notoriedade por crimes seria bom. — Joshua não pensou em demasia antes de externalizar essas palavras, estava carrancudo. O grupo somente tornou o olhar para sua figura, questionando-se sem expor o repúdio que transitou através da frase.

— Você é doido? — A menina moralista de pele escura foi a única que se impôs. — Não há nada de notório em crime.

— Claro que há, em que mundo você vive? Pessoas que cometem crimes hediondos têm mais fãs do que pessoas que fazem coisas importantes.

Christopher riu, concordando minimamente.

— Você só pode estar brincando. — Revirou os olhos — Se nossa cidade já é um esgoto, como você diz, como acha que vão passar a se importar mais com ela se houver um serial killer entre nós?! Não faz nenhum sentido. Sujaria a imagem que já não temos!

O jovem de cabelos ondulados esvoaçantes assemelhava-se a um termômetro a cada segundo que se passava. Deveria ter ficado em casa ao invés de sair com os amigos, cada mínimo acontecimento escalado o remoía as entranhas.

Foda-se a cidade! Você tem um ponto de vista muito coletivista. Se serviria para algo, seria para alertar aos adultos palermas dessa nação.

— Alertar? Você mesmo disse que as pessoas têm fascínio por morbidez. Seria capaz de entreter elas e só.

— Por que você tem que ser tão chata, Tonya?! — Revoltou-se largando a bicicleta e, surpreendendo parte do grupo que não esperava reação tão acalorada, impôs-se contra a menina de patins. Ela o encarou com ojeriza, gritando para se afastar e saltando da bicicleta. — Você deveria fazer um favor para nós, sua escrota. Por que não vai pra casa chorar porque sua querida Carmen não dá a mínima pra você?! E deixa os adultos tratarem de temas importantes!

O grupo, quando percebeu renascer a fúria, posicionou-se defensivamente. Tentando acalmá-lo.

— Ei, Josh... cara. — Iniciou Christopher. Elizabeth tinha o semblante entediado de sempre, meio que permitindo que saíssem da linha por alguns momentos.

CALE A BOCA, JOSH! — Gritou Blanchard para os sussurros comprometedores.

— Você sabe o que significa notório no dicionário? para o DICIONÁRIO não importa se é bom ou ruim, apenas se é conhecido! POR ISSO QUE É NOTÓRIO! — Aproximava-se da criatura de sexo feminino como um predador estulto.

Ei! Um passo pra trás! — Thomas empurrou-o para longe da pequena menina com os cotovelos.

Sua fisionomia o recordava dos anos 80. Os apetrechos coloridos. O pequeno elástico verde prendendo os cabelos crespos nos dois lados da cabeça, ao mesmo tempo, era respeitável com seu suéter amarelo e mochila quadrada. Os pais não faziam ideia da pequena menina demoníaca que vandalizava propriedades pela cidade com os amigos. Quando as confusões explodiam sobrava para todos menos para Tonya Blanchard. Era inteligente demais para saber quando deveria se retirar, contrário de Elizabeth, escancaradamente impulsiva. Mas Joshua não recuou, ele avançou para cima de Thomas assim como avançaria contra qualquer um que o encostasse, ele o esmurrou e o estalo da colisão ecoou à curta distância. Isso fez Christopher envergonhar-se, não se impôs pela garota que gostava e agora outro faria isso.

Gente! — A voz de altura mediana de Marshall não foi o suficiente para pará-los.

— Qual é o seu problema, Porra?! — Rosnou Thomas, entrelaçado com o braço forte ao redor do pescoço do cabeludo e esforçando-se para não machucar o colega de grupo. As outras figuras da gangue estavam quase que estáticas, largaram suas bicicletas e deslocaram-se ao redor da briga.

VÁ SE FODER, LIXO! — Cuspiu indignado em voz abafada pelas roupas de frio. Ele empurrou com os sapatos na direção oposta em que o corpo fazia e sucedeu a falhar as pernas de seu opositor, procedeu em cima da estatura mais forte por míseros segundos antes de saírem rolando até frente à residência de Isaac James Harden. Almejou socar o rosto de Thomas, mas a parcimônia de coleguismo não o permitiu. Sua feição era demasiada amiga para isso, o que lhe propiciava satisfação era empurrá-lo e deixá-lo humilhantemente no chão. Elizabeth, enquanto isso, estava vermelha de raiva.

"Bando de idiotas" Era unicamente o que pensava Marshall, tendo consciência de que a cerimônia voraz chamaria atenção de alguém que se interessasse o suficiente. O horário morno do pico da tarde, felizmente, assegurava não ter muita gente nas ruas.

NÓS CHEGAMOS, DESGRAÇADOS! — Andou rápido, com o Skate de Christopher que não lhe foi útil para apartar o combate e bateu com ele nas costas do magrelo de cabelos médios. Principiadamente os dizeres aterrorizaram Joshua, que distanciou-se em tremenda velocidade, tocando e apoiando as mãos na grama verde, ergueu as luminárias nervosas em direção às janelas. Mas felizmente tudo estava bem. Os dois briguentos se encararam enquanto se limpavam.

— Você é um cuzão. — Tossiu o garoto negro.

— Eu sei. — Suspirou ofegante, ainda amigos. — Vamos começar.

Puxando o estilingue direcionou o primeiro ovo em direção à uma das janelas do primeiro andar da residência de Isaac James. Josh presumia que não seria suficiente para acalmá-lo. O sangue pulsava com deveras velocidade de modo que não adiantariam ovos ou tintas, ainda permaneceria irado. Ele tinha uma coleção de ovos podres que lhe serviam justamente para isso, incontáveis eram os momentos em que sua mãe gritava por sentir falta deles.

— Liz! Você tem certeza de que não tem ninguém em casa? — Indagou receosa, os finos pelos do braço belamente bronzeado percorrendo em arrepios.

— Vamos fazer isso rápido. E além do mais, o pai alcoólatra e a mãe retardada não devem estar em casa. Está silencioso demais. Não acha que já estariam quebrando as louças nesse horário? — Ergueu arrogante as sobrancelhas claras, acompanhada do lábio curvado em convencimento.

— Credo, você é má. — Sorriu a menina ao desdobrar das costas a arma de paintball.

O vidro estraçalhou junto da gosma melequenta do ovo de fedor exacerbado. Em um leve sobressalto que acordou o dilúvio dos pensamentos de Joshua sobre seus próprios pais. O fez largar seus "equipamentos" e, em um uivo de lobo que chama sua alcateia, pegou o taco de baseball e começou a quebrar tudo que passava pelos seus olhos. Incluindo as árvores e plantas cuidadosamente preservadas pela dona de casa.

Supôs ele que a graça desses instantes prazerosíssimos era o perigo iminente, a probabilidade de ser pego em algo embaraçoso, ser preso com a boca na botija e passar pela vergonha de ter uma passagem pela polícia. Essas sensações eram senão compensatórias de castigar os pais pelos anos de negligência emocional.

No momento em que tudo ocorria, o garoto asiático de dezessete anos encontrava-se deitado em seu quarto com o som razoável de Closer do NIN. Pensou estar sonhando quando ouviu barulhos abafados do lado de fora. Sua saliva babava o colchão, estirado de bruços por toda a cama na diagonal com Almas Mortas de Gogol largado aberto no carpete em alguma página aleatória. Uma garota dançava em sua frente, e sua figura peculiar parecia estar nas nuvens, ligeiramente desfocada. E então outra pancada e ela desapareceu; e o que pode ver foi o teto de seu aposento, exatamente como sempre foi.

Imaginou que seria na casa vizinha, aquelas crianças imbecis fantasiadas para a noite de doces e travessuras. Em Millburn, as comemorações duravam dias e até uma semana. Isso se dava ao fato de que os moradores eram muito aconchegados e por preguiça não gostavam de trocar enfeites de natal ou qualquer coisa que fosse. Na assembleia geral da cidade, o lider decidiu oficializar alguns feriados muito dispersos, podendo ser comemorados em três ou quatro dias.

"Danem-se" eles pensavam. Gritavam dentro de suas mentes criando justificativas contra as responsabilidades pelos seus atos. "Adultos são idiotas! E hipócritas! Não escondemos o que nós somos!" era quase o lema da gangue sem nome. Nomes eram bobos, coisa de criança e de primatas chamados atletas.

Os olhos avermelhados, cheios de remela, visualizaram a baderna, inclusive um ovo que explodiu no vidro bem na frente do seu rosto. Tal coisa fez com que os cacos esvoaçassem e seu corpo encolhesse para não sofrer as consequências. Havia sido o babaca do Joshua Jackson, somente este idiota não perceberia a sua sombra na janela, ou foi de propósito? Para cegá-lo. James não descobriria, sugou a saliva ruidosamente graças a pungente dor que um caco de vidro fez em seu rosto.

F-Filhos da puta!! — Engasgou com as próprias palavras. Em passos rápidos se dirigiu até a gaveta de meias, buscando uma de suas posses.

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