IRISH EYES: O RECOMEÇO

By calliequeiroz

193K 4.9K 688

➤ SÉRIE EM ANDAMENTO Irish Eyes está passando por sua terceira edição, sendo reescrita para finalmente ser pu... More

𝐁𝐄𝐌-𝐕𝐈𝐍𝐃𝐎 𝐀𝐎 𝐂𝐀𝐋𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄𝐑𝐒𝐄!
𝐍Ã𝐎 𝐏𝐔𝐋𝐄 𝐎 𝐂𝐀𝐏Í𝐓𝐔𝐋𝐎
𝐀𝐋𝐄𝐑𝐓𝐀-𝐆𝐀𝐓𝐈𝐋𝐇𝐎
𝐒𝐈𝐍𝐎𝐏𝐒𝐄
𝐄𝐋𝐄𝐍𝐂𝐎 𝐅𝐄𝐌𝐈𝐍𝐈𝐍𝐎
𝐄𝐋𝐄𝐍𝐂𝐎 𝐌𝐀𝐒𝐂𝐔𝐋𝐈𝐍𝐎
𝐐𝐔𝐎𝐓𝐄𝐒
𝐒𝐏𝐎𝐓𝐈𝐅𝐘
𝐍𝐎𝐓𝐀 𝐃𝐀 𝐀𝐔𝐓𝐎𝐑𝐀
𝐂𝐀𝐋𝐄𝐁'𝐒 𝐉𝐎𝐑𝐍𝐀𝐋
𝐏𝐑Ó𝐋𝐎𝐆𝐎 - "𝑷𝒆𝒓𝒅𝒂"
𝐂𝐀𝐏Í𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒 - "𝑶 𝑴𝒖𝒓𝒐"
𝐂𝐀𝐏Í𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐓𝐑Ê𝐒 - "𝑶 𝑫𝒆𝒄𝒓𝒆𝒕𝒐"
𝐂𝐀𝐏Í𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐐𝐔𝐀𝐓𝐑𝐎 - "𝑶𝒃𝒔𝒆𝒔𝒔ã𝒐"
𝐂𝐀𝐏Í𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐂𝐈𝐍𝐂𝐎 - "#𝑻𝒉𝒆4𝑬𝒍𝒆𝒎𝒆𝒏𝒕𝒔: 𝑨 𝑴𝒂𝒏𝒉ã"
𝐒𝐇𝐎𝐑𝐓 𝐅𝐈𝐋𝐌 "𝐈𝐑𝐈𝐒𝐇 𝐄𝐘𝐄𝐒"
𝐁𝐀𝐈𝐗𝐄 𝐎 𝐖𝐀𝐋𝐋𝐏𝐀𝐏𝐄𝐑 𝐃𝐄 𝐈𝐑𝐈𝐒𝐇 𝐄𝐘𝐄𝐒
𝐀𝐂𝐎𝐌𝐏𝐀𝐍𝐇𝐄 𝐎 𝐒𝐓𝐀𝐓𝐔𝐒 𝐃𝐄 𝐑𝐄𝐄𝐒𝐂𝐑𝐈𝐓𝐀
𝐋𝐄𝐈𝐀 𝐀 𝐃𝐔𝐎𝐋𝐎𝐆𝐈𝐀 𝐁𝐑𝐎𝐊𝐄𝐍 𝐂𝐑𝐎𝐖𝐍 𝐍𝐀 𝐀𝐌𝐀𝐙𝐎𝐍
𝐋𝐄𝐈𝐀 𝐀 𝐅𝐀𝐍𝐅𝐈𝐂 "𝐒𝐇𝐀𝐃𝐎𝐖𝐒" 𝐃𝐄 𝐈𝐑𝐈𝐒𝐇 𝐄𝐘𝐄𝐒

𝐂𝐀𝐏Í𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐔𝐌 - "𝑫𝒆 𝒗𝒐𝒍𝒕𝒂 à 𝒗𝒊𝒅𝒂!"

9.5K 494 58
By calliequeiroz

NOTA CALLIE: Hey Irishers!!! Estamos de volta com o primeiro capítulo todo reformulado de Irish Eyes. Não deixem de comentar durante a leitura ou no final para que eu saiba o que estão achando da mudança. Deixem suas reações!!! Essa é uma versão beta, então o retorno de vocês é muito importante. Obrigada!! Até o próximo capítulo! xoxo, Callie.

☘☘☘☘

Um mês depois...

O último mês foi um pesadelo, um dos piores da minha vida. A morte de Alex foi a maior dor que já senti, mais ainda do que a dos meus pais. Provavelmente porque quando eles morreram eu era muito pequena. A verdade era que eu só estava de pé hoje, voltando à minha vida, por causa da minha família adotiva e meus amigos. Sem eles, não sei se eu teria sobrevivido a esse mês.

Essa foi a primeira semana que fui trabalhar. A primeira semana que fui capaz de sair de casa e ouvir as pessoas me darem os pêsames sem que eu sentisse meu coração sangrar como se o tivessem cortando de ponta a ponta.

Eu estava mais forte. Ainda doía muito, obviamente, mas eu estava forte o suficiente para aguentar e não desabar.

O trabalho estava me fazendo bem, ocupando a minha mente, mantendo-a ocupada.

Quando voltei de Paris decidi que a carreira de modelo já não me interessava como antes. Eu queria mais. Eu queria colocar em prática tudo o que aprendi em meus estudos e experiência no mundo da moda. Era hora de iniciar o meu sonho de viver dos meus designs. Eu seria uma das melhores estilistas de moda da América, esse era o meu objetivo, o único, e não iria falhar. Afinal, eu era uma Ackles, e nós não falhávamos. Quando decidíamos atingir uma meta, ela era atingida, simples assim.

Minha família vinha de uma longa linhagem de empresários, todos muito bem sucedidos, e eu não seria diferente. Seria uma das mulheres de negócios de maior do sucesso do país, e a maior no mundo da moda. Eu sabia que não seria fácil, no entanto. Além de ser uma área concorrida, não importa o quão poderosa é a sua família, ou o quão competente você é... ex-modelos não são respeitadas por seu cérebro, sua eficiência e talento, apenas pelo corpo. Existe um estúpido estereótipo de que modelos não são muito inteligentes. Apenas lindas bonecas em exposição. E nem vamos entrar no assunto "sexismo", porque mulheres no poder ainda não são igualmente respeitadas como os homens.

Eu mostraria a todos do que uma mulher é capaz.

E eu mostrei a todos.

Não foi fácil como eu sabia que não seria. Eu tinha o capital para começar o negócio, dinheiro não era problema, mas poucas pessoas acreditaram em mim, como já era de se esperar. Uns achavam que eu não passava de uma garota rica com um fundo fiduciário brincando de "negócios", outras pessoas me julgavam por minha idade. Não achavam que aos 23 anos eu seria capaz de dirigir uma empresa do porte que eu estava investindo. Outros achavam que eu não passava de um rostinho bonito e que deveria apenas desfilar na passarela e calar a minha boca. E, claro, tinham aqueles que me aconselhavam a contratar um homem com mais experiência para administrar a minha empresa, porque bem... eu sendo uma mulher não seria capaz. Não diziam abertamente, mas ficava subentendido em seus tons críticos e cheios de ironia e deboche.

A todos esses eu mostrei que estavam errados.

Em apenas dois anos e meio a ANGÉLIQUE *lê-se em francês* se tornou uma das maiores empresas de moda do país, e eu... Uma das maiores desenhistas. Assim como o planejado.

Agora que eu já era um êxito nacional, era hora de ampliar os horizontes.

Hora de dominar o mundo. - Não se assustem, eu posso ser implacável, ambiciosa e competitiva. Pensando bem, ter um pouco de cautela comigo talvez não seja uma má ideia.

A sede matriz da Angélique estava localizada em um edifício comercial na 5ª Avenida que herdei dos meus pais quando faleceram. O edifício foi desabitado para que a Angélique e a Saibh Enterprise — Os negócios de Tabitha — pudessem ser construídas. Grande parte do prédio foi designado e projetado para a Angélique boutique com nossos produtos à venda e as empresas da Saibh Enterprise como a revista, a agência de viagens — Saibh Travel Agency —, entre outros negócios. Além de restaurantes, cafeterias e outras parcerias. Nos andares mais altos ficavam os escritórios e produções. No lado leste estava a Angélique: os escritórios, todos os departamentos de funcionamento da empresa, mais o ateliê de costura, salão de desfile, etc. Apenas a fábrica de confecção ficava em outro lugar. O mesmo para a Saibh Enterprise, a Saibh Magazine & Editorial, com a única diferença que ela estava no lado oeste do prédio.

Ter Tabby trabalhando perto de mim estava sendo essencial para a minha saúde mental naquele momento. Tudo bem que às vezes ela me deixava louca com sua superproteção. No primeiro dia que voltei ao trabalho, ela me ligou de hora em hora para saber se eu estava bem, se já tinha comido, se eu estava viva ou se eu já tinha pulado pela janela *rolo os olhos*. Às vezes, Tabitha conseguia ser pior do que sua mãe, e quando eu disse isso a ela, a fresca fez uma careta, um draminha básico e então disse que não me importunaria mais - drama queen! -. Ela pensa que eu não notei a sua assistente me espionando e me seguindo todos os dias, o dia inteiro *rio*. Eu amo a minha melhor amiga. Ela é um pé no saco, mas eu a amo. Sem ela, eu não sobreviveria.

E falando em "não sobreviver"... Se tinha um responsável por hoje eu estar pronta para encarar a minha vida depois desse período negro, esse responsável era ele... Caleb Donoghue... E Alex. Sim, Alex. Toda vez que me sentia afundar em um abismo sem fim e sentia pena de mim mesma eu podia ouvi-lo em minha cabeça puto da vida dizendo: "Levante sua bunda daí agora e siga com a sua vida. Você não é fraca, Wings[1]!" - "Wings" era como Alex me chamava por causa do meu nome "Angel[2]". E Caleb, bem... Caleb era Caleb. Ele podia me ler apenas com uma mirada, e por isso, ele sabia exatamente o que eu precisava a todo momento. Se eu precisava de sua presença, se eu precisava ficar sozinha, se eu precisava de consolo, ou de seu olhar mortal e autoritário me puxando para cima, não me deixando cair.

Ir morar com ele realmente fez toda a diferença. Tanto para mim quanto para ele. Nós nos curamos juntos. "Curar" é um pouco demais, já que eu ainda me sentia como se algo dentro de mim estivesse quebrado, mas pelo menos eu já não estava fechada dentro de casa, em meu moletom, deitada o dia inteiro em silêncio, assistindo Netflix, ou Prime Video, ou Hulu, ou HBO Max, ou todos. Progresso, certo?

Eu sabia que minha presença ali também o acalmava. Caleb não dizia isso, mas eu podia sentir toda vez que ele me olhava, prática que ele exercia com muita frequência. Às vezes, ele chegava em casa no fim da tarde - nunca à noite. Ele sempre foi um cara de trabalhar até alta madrugada, de viajar frequentemente, até porque seu trabalho exigia isso, mas não desde que eu fui morar com ele. Ele até trabalhava de casa, muitas vezes, em seu escritório - se sentava em sua poltrona favorita na sala, ao meu lado, e assistia séries comigo. Ele não falava nada, apenas ficava ali, com seu copo de uísque na mão, olhando para a tela da tv enquanto eu continuava deitada no sofá encolhida e em silêncio - Acredite, Caleb não é um cara de séries. -. Palavras não eram necessárias, apenas a presença um do outro. Confesso que eu podia respirar melhor quando Caleb estava por perto. Era como se todo o peso em mim se desintegrasse, e eu pudesse finalmente relaxar. Por um tempo foi a única maneira de eu conseguir dormir, apenas quando ele estava por perto. Era como se meus demônios não pudessem me alcançar com ele ali.

Eu pensei que precisaria aturar a presença de Brittany com suas ironias e olhares mortais voltados para mim, mas ela nunca apareceu. Não perguntei ao Caleb sobre isso. Não sei se ele teve algo a ver ou se ela não queria me encontrar. Provavelmente os dois. Não que eu estivesse reclamando... Pelo contrário. Por mim, ela poderia desvanecer da face da Terra.

Estar tão perto de Caleb podia ser torturante algumas vezes - muitas vezes, na verdade -. Eu não podia tocá-lo da maneira que eu queria, e era difícil, esmagador, mas eu me contive, por hora, pelo menos. Eu estava dando tempo a ele para se acostumar com a minha presença. Eu também estava me acostumando com a dele. Nós moramos juntos grande parte de nossas vidas, mas não sozinhos. Isso tudo era novo para nós dois, e tentador, mas também, às vezes, demasiado. Como já expliquei, nosso relacionamento nunca foi convencional, lógico ou normal. Se você não acredita em forças místicas que vão além da realidade que conhecemos, então não entenderá o que é que sentimos um pelo outro. Mas não se sinta mal, a maioria das pessoas não podem entender. Acredite, nada sobre nós dois é normal.

Nossa atração era como magnetismo que nos puxava um para o outro, e lutar contra isso podia ser exaustivo. Por que fazíamos, então? Porque existiam forças muito mais poderosas do que nossas vontades, e não estávamos prontos para lidarmos com a intensidade dos nossos sentimentos sem acabarmos nos destruindo, ou destruindo outras pessoas no processo. Porque sabíamos muito bem que se nos entregássemos, todo esse sentimento explodiria como uma avalanche. Sem controle. E sem freios. E isso poderia ser... perigoso, para todos. A única vez que tomei a decisão de mandar tudo para os ares, ignorar as advertências da nossa família, e o pressionei, além do que ele conseguia lidar, acabei machucando a nós dois.

Eu não estava pronta na época.

Mas estou agora.

Caleb ainda não. Mas isso não queria dizer que eu não estava determinada a prepará-lo e acelerar o processo. A vó Eileen e a tia Sy me explicaram que os homens de nossas famílias que herdaram os "Olhos Irlandeses" tinham mais dificuldade em lidar com seus sentimentos e aceitá-lo porque seu instinto de proteção sempre se sobressaia ao seu desejo, então eu teria que fazê-lo me desejar mais do que ele necessitava me proteger.

Não seria nada fácil. Vocês não têm ideia de como superprotetor e possessivo um homem como o Caleb podia ser. Mas nada que eu não pudesse lidar. Eu só teria que ser mais cautelosa, paciente e... impossível de resistir. Apesar de eu saber que não existia outra mulher no mundo que Caleb se sentisse atraído, além de mim..., e isso inclui Brittany - Hmm... Me pergunto como o sexo entre eles deve ser, sendo que ele não sente nada por ela. Na verdade, eu não quero saber. Caleb não é o único com instintos perigosamente possessivos/assassinos -. Eu teria o que queria, o que era meu, de uma maneira ou de outra. Implacável, lembram? Já estabelecemos que esse é o meu território.

Já se passavam das 6pm e eu ainda estava fechada em meu escritório resolvendo inúmeras coisas para um o nosso desfile mais importe do ano.

A Angélique estava uma loucura naquela semana, pois, no próximo sábado, ou seja, no dia seguinte, aconteceria o Angélique Fashion Show - The 4Elements.

Diferentemente dos desfiles das outras estações, esse era um evento especial. Eu queria que a minha marca fosse reconhecida e respeitada por mais do que a moda. Eu queria trazer conhecimento e conscientização ao mundo, principalmente para as novas gerações, e tirar aquela visão de que o mundo da moda é superficial.

O tema escolhido por mim para aquele ano foi a sustentabilidade e conscientização ao meio-ambiente. O desfile seria grandioso, mais até do que o do ano anterior, com holograma 3d, performances musicais, de dança, encenações teatrais, etc. Sem contar na tecnologia, luzes e arte usada no cenário. Tudo com o foco na conscientização ecológica. As apresentações seriam dividas por temas. Os 4 elementos: Água, Terra, Fogo e Ar.

Eu gostava de inovações, questões sociais e tecnologia. Por isso, não economizei no investimento. Se você quer impactar o mundo, tem que investir. O desfile também seria um modo de arrecadação de fundos para ONGs ambientais e ajuda às pequenas empresas de energia - clean energy -, tecnologia, ciência e outras. Para isso, alguns empresários importantes - claro, aqueles conscientes e com mente aberta - foram convidados.

O desfile seria transmitido ao vivo via streaming no Youtube, Instagram, Facebook, Twitter, e na plataforma Prime Video da Amazon.

O evento foi um dos motivos principais de eu ter decidido voltar a trabalhar. O desfile não sairia sem mim, mesmo eu tendo funcionários extremamente competentes e qualificados que estavam trabalhando dia e noite, eficientemente, para deixar tudo pronto e perfeito. Ainda assim, algumas coisas apenas eu era capaz de resolver. E nada, nada poderia sair errado. Esse seria o meu primeiro passo para o sucesso mundial. O desfile já era o evento de moda mais aguardado da América, e eu sabia o sucesso que ele fez na Europa no ano anterior. Mas ainda não foi o suficiente. Dessa vez, eu atingiria o mundo. Para isso, além do streaming mundial e todo o trabalho incansável da minha equipe de marketing digital nas mídias sociais que já colocaram a hashtag #AngéliqueThe4Elements nos Top Trendings mundiais todos os dias na última semana, e as chamadas na televisão, Youtube, Instagram, etc., eu sabia que precisava de uma lista de convidados de peso. Quando eu digo de peso, não me refiro à celebridades. Me refiro à empresários mundialmente respeitados, aristocratas, e até mesmo membros da realeza, por que não? E nesse ponto, você vir de uma família poderosa, de dinheiro antigo, sangue nobre, sendo considerada parte da "realeza" americana, te abriam portas. Finalmente os incansáveis bailes e eventos chatos com pessoas chatas que tive que frequentar desde criança, me serviriam de alguma coisa. Aprendam, garotas... Se vocês querem ser empresárias de sucesso, o network é tudo!

Eu estava sendo muuuito ousada, eu sabia.

A Angélique era uma empresa de apenas 2 anos e meio de idade, praticamente um bebê. E eu era uma CEO de 25 anos de idade, também considerada um bebê para o cargo. Mas isso não era empecilho para mim, na verdade, era um desafio, e eu gostava de desafios - amar um homem como o Caleb já prova isso -. Eu não me importaria em entrar para a história como a empresária do mundo da moda mais nova a atingir o sucesso mundial, desbancando outros nomes poderosos como a minha maior concorrente, a Ayanna Keighley Designer. Não me importaria nem um pouco.

Mesmo sendo ousada e um pouco "louca", como meu estilista principal, Leon Clarke, me chamou quando contei meu projeto para o desfile daquele ano, eu também era bem pé no chão, e por isso, estava um pouco nervosa, confesso. Mas mais do que isso, eu estava ansiosa. E o melhor de tudo era que toda essa ansiedade, preparação e loucura no trabalho estava consumindo todo o meu dia, deixando-me com pouco tempo para lembrar do que eu não queria lembrar.

- Angelique, por favor, eu preciso que você aprove essa transferência bancária - pediu minha assistente Cassie Turner, colocando uma pasta sobre a minha mesa. - São para a Greer & Co.[3], as joias alugadas para o desfile.

Sentada em minha cadeira presidencial, recostei nela, descansando minhas costas e ergui o olhar até Cassie que estava parada na minha frente, do outro lado da mesa, com seu Ipad na mão.

- O departamento financeiro não deveria enviar direto para a CFO[4] aprovar? - perguntei.

- Eles enviaram. E ela já aprovou. Ainda assim, como é uma quantia muito alta, ela gostaria da sua aprovação.

Cruzei as pernas uma sobre a outra e balancei levemente a cadeira giratória de um lado para o outro.

- Tudo bem. Verei isso antes de ir embora.

Cassie assentiu com a cabeça.

- Mais alguma coisa? - perguntei.

Ela abaixou a cabeça e encarou o seu Ipad antes de começar a mexer nele.

— Os top models ainda estão no ateliê do Leon provando os designs para amanhã e fazendo os últimos ajustes. Somente a top model convidada, Summer Hastings, não está. Ela já veio fazer as provas no início da semana, pois tinha uma viagem de trabalho marcada para essa semana. Ela estará aqui amanhã de manhã para o ensaio final. — Cassie deu uma pausa enquanto lia suas anotações. — O palco já está quase todo montado. O Diretor de Cenário e o de Arte e Design avisou que apenas alguns detalhes precisarão ser montados no dia. — Ela deslizou seu dedo pela tela do iPad. — Deixe-me ver... Ah, além das celebridades e empresários que já tinham confirmado presença, outros confirmaram hoje. A realeza está em peso. — Ela brincou. — Alguns dos membros da família real britânica. A Princesa Eerika e o seu marido Sir Jacob Price. A Princesa Giuliana e o Príncipe Henryk também. O Rei Gabriel ainda não, parece que dependerá de alguns compromissos. Também confirmaram presença alguns membros da Família Real austríaca... A "realeza americana", como são chamados, não que precise de explicação, todo o mundo sabe quem os Steiner são... — Cassie soltou outro riso enquanto balbuciava. Eu sabia que ela era grande fã da Família Steiner, como toda a América, então ela estava extra animada com essa notícia.[5]


 — Deixe o assento do Rei Gabriel reservado mesmo sem sua confirmação.

— Certo. — Cassie fez uma anotação e continuou: — A equipe do ator Garrett Von Dohren também confirmou sua presença. O Senador e sua esposa, os pais da top model Summer Hastings, também confirmaram presença. E, por último, o empresário Apollo Haugen e seu irmão Tristan Haugen também confirmaram presença. Os outros convidados confirmados estão na lista que enviei para o seu e-mail... Ah, as cantoras Skye, Anabella Montefiori e o lendário rockstar Aaron Wearstler que fará uma collab com a banda Havoc[6] fizeram hoje a primeira passagem de som, amanhã à tarde eles voltam para o último ensaio. — Cassie pensou por um tempo, sua atenção em suas anotações. — Bem, acho que é isso. Está praticamente tudo pronto.

- E a imprensa? - perguntei.

- Tudo em ordem. Todos os jornalistas selecionados para estar no carpete vermelho já estão com suas credenciais. E backstage, a Saibh Magazine & Editorial tem exclusividade total, então, como você autorizou, a própria Tabitha Donoghue está tomando à frente.

- Se Tabitha está cuidando de tudo, não tenho com que me preocupar.

Cassie sorriu e assentiu.

Olhei para o relógio, só naquele momento, notando o quão tarde era.

- Você já pode ir, Cassie. Descanse bastante porque amanhã não teremos tempo nem para respirar direito.

Cassie soltou uma pequena risada.

- Eu sei. Já estou tomando vitaminas e suplementos o mês inteiro para aguentar a maratona de amanhã.

Eu ri.

- Sem querer me intrometer, mas você também deveria ir para casa descansar. Está trabalhando sem parar e, bem... - Ela parou o que ia falar, de repente.

Eu sabia o que ela diria. O que todos pensavam. Que eu era um total desastre emocional, e não estava forte o suficiente para aguentar toda a pressão.

Eles não estavam errados. Eu estava emocionalmente esgotada, mas eu aguentaria o que teria que aguentar. A adrenalina era a minha medicina temporária.

Cassie ficou um pouco sem graça por quase ter tocado no assunto "Alex". Todos ficavam.

- Não se preocupe, estou bem - respondi honestamente.

Cassie assentiu e mudou de assunto prontamente ao notar meu tom inflexível.

Com um sutil limpar de garganta ela falou:

- As flores que você me pediu para encomendar já chegaram.

Assenti em agradecimento.

- Obrigada, Cassie. Deixe sobre a sua mesa, eu pego quando for embora.

- Claro. Precisa de mim para mais alguma coisa?

- Não, pode ir descansar.

- Obrigada. Tenha uma boa noite, boss[7]. - Cassie sorriu amavelmente.

- Você também, Cass. Até amanhã.

Cassie, então, caminhou até a porta pivotante preta, toda trabalhada, com detalhes e puxador dourado, e saiu.

Meu escritório foi projetado e decorado por mim. A janela de vidro pegava toda a parede esquerda de um canto ao outro e do chão ao teto dando-me uma bela visão de Manhattan. Todo o escritório foi trabalhado nas cores branca, bege, preta e dourada. Ele era moderno, fashion e totalmente ao estilo Angelique Ackles. Um dos meus lugares preferidos para trabalhar em minhas criações. Eu amava sentar no sofá à noite, após o horário de expediente quando todos já tinham ido embora, abrir uma garrafa de vinho e derramá-lo na taça, colocar um pouco de música e trabalhar em meus desenhos enquanto contemplava a bela vista iluminada de Nova York. Criei alguns dos meus melhores designs assim nos últimos dois anos.

Eu esperava que em algum momento eu voltasse a me sentir inspirada, voltasse à minha rotina e a curtir os meus rituais. Porque, naquele momento, eu não sentia nada além de dormência. E quando me levantei e caminhei até a janela, eu não vi a beleza das luzes de Nova York. Eu só vi a escuridão da noite que cobria o céu.

Puxando uma respiração profunda, me virei, fui até o meu closet pegar minha bolsa e meu casaco, depois liguei para a recepção do prédio pedindo para prepararem o meu carro, e, então, desliguei as luzes do escritório e saí. O andar estava vazio e silencioso. E como todas as noites desde que voltei a trabalhar, segui meu novo ritual. Agarrei o lindo buquê de jacintos roxos sobre a mesa de Cassie - as flores preferidas da minha mãe, as mesmas flores que Alex costumava me dar em todas as ocasiões importantes da minha vida - e segui meu caminho até o elevador.

Após sair da empresa em meu Roll-Royce Wraith customizado roxo - meu bebê -, dirigi até o cemitério onde Alex foi enterrado. Todos os dias desde que voltei ao trabalho eu passava no cemitério antes de ir para casa e depositava o buquê de jacintos roxos sobre seu túmulo, me sentava na grama e lhe contava o meu dia.

Esse ritual me fazia sentir próxima a ele e ajudava a aliviar o aperto que sentia todo o dia em meu coração. Ao sair do cemitério a sensação era sempre a mesma: Paz, leveza, proteção e força. Eu realmente podia sentir sua presença. Podia senti-lo ali, me ouvindo e me ajudando a superar sua perda. Podia ser apenas a minha mente e meu coração tentando achar uma maneira de lidar com tudo, mas o que importava era que estava ajudando.

No momento em que abri a porta do meu carro, meu celular começou a tocar puxando-me de volta de meus pensamentos. Já imaginando que era Caleb checando se eu já estava perto de casa. - Ele fazia isso todos os dias quando eu demorava para chegar. Eu sabia o esforço que era para ele controlar seu instinto protetor. Eu podia visualizá-lo tenso e impaciente em casa, de mau humor, colocando seu autocontrole em ação, tentando a todo custo não me ligar porque ele sabia que eu trabalharia até tarde naquela semana por conta do desfile e depois ainda passaria no cemitério. Racionalmente, ele sabia que não tinha com o que se preocupar. Mas nosso relacionamento não era baseado em "razão" e "bom senso", acredite. Caleb sabia que eu estava bem - na medida do possível -, mas ainda assim ele tinha que checar por si mesmo. E sua paciência e o autocontrole tinham um limite. Aparentemente, o limite chegou.

Sorri em meio ao pensamento.

Enquanto o celular tocava, entrei no carro, coloquei minha bolsa no banco do passageiro e fechei a porta. Por último, abri minha bolsa e peguei o Iphone.

Para minha surpresa, não era Caleb.

O nome de Tabby iluminou na tela.

- Hey...

- Até que enfim! Onde você está? - a voz de Tabitha veio impaciente e autoritária.

Sério, ela estava pior que o Caleb, ultimamente.

- Em meu carro, saindo do cemitério. Estou indo para casa.

A ligação ficou silenciosa por alguns segundos, e eu sabia que ela estava pensando no que dizer a seguir. Eu não gostava que as pessoas me tratassem como se eu fosse quebrar a qualquer momento, que me tratassem como se eu fosse frágil e digna de pena. Entendo que não faziam isso por mal, sei que era compaixão. Ainda assim, eu não era feita de porcelana.

A única pessoa que não falava comigo como se eu fosse uma bonequinha frágil era Caleb. Ele continuava o mesmo. Ele sabia o que eu precisava porque ele me sentia. E mesmo que o corroesse por dentro ter que controlar seus impulsos superprotetores, ele se esforçava ao máximo para não me sufocar. E eu era grata por isso.

Aproveitei o breve silêncio de Tabby para conectar o Apple CarPlay com meu Iphone para transferir a chamada, e, então, dar partida no carro.

- Certo, você precisa de alguma coisa? - perguntou ela, suavizando a voz.

Fiz o contorno no estacionamento.

- Não, obrigada. Você já chegou na cobertura? - perguntei.

Tabitha iria jantar lá em casa. Era a Game Night[8] dos garotos. Caleb, Pogue, Reid, Tyler e Grant tinham uma dessas noites toda semana, cada semana em um dia diferente, tudo dependia de qual seria o melhor jogo da semana, e qual temporada estava no ar. basquete, football (americano), college football[9], hóquei, basebol, etc. Eles foram os típicos jocks[10] no colégio e faculdade, então já sabem... Esporte era lei, quase uma seita.

- Não, eu acabei de chegar em casa. Vou tomar um banho e já vou. Hey... Não deixem aqueles idiotas pedirem o jantar antes de eu chegar, senão, terminaremos nos enfiando em pizza, cerveja e Pringles a noite inteira. E se eu acordar inchada amanhã de tanto sódio no meu corpo, e meu vestido não fechar, irei cometer um assassinato. Deixe-os avisados, por favor. - A voz agressiva e letal de Tabitha me fez rir.

Entrei na avenida principal apenas para ficar parada no trânsito. *Argh* Dirigir em Nova York era um pesadelo. Pelo jeito, eu chegaria em casa para o café da manhã. - Caleb infartaria até lá, certeza!

- Do jeito que está esse trânsito, capaz de você chegar antes de mim - bufei. - De qualquer maneira, guarde suas armas, querida... Os meninos devem estar concentrados no jogo por mais uma hora e meia pelo menos, não vão nem lembrar que comida existe. Além disso, devem estar se entupindo de cerveja, uísque e se intoxicando com charutos.

- Aff, como eles são clichês - falou Tabby com tédio.

Eu ri.

Obaaa, o trânsito andou!!!

- Não posso discordar de você. - Buzinei para um idiota que me cortou. - Imbecil, se não sabe dirigir volte pra auto escola!!! - gritei de dentro do carro.

Ouvi a risada de Tabitha do outro lado da linha. Ela sabia o quanto eu odiava esse trânsito. Eu amava Nova York com toda a minha alma, afinal, minha família - imigrantes irlandeses - era uma das mais antigas e ajudaram a construir essa cidade desde 1800 e tralalá, mas em momentos de tráfego como esse, eu apenas sentia falta da Europa.

- Amiga, vou te deixar descarregar todo seu estresse nos péssimos motoristas da cidade e traumatizá-los para a vida. - Exagerada... *rolo os olhos* - Nos vemos daqui a pouco, beijinhos.

Tabby desligou a ligação - na minha cara, só pra constar.

Aprovei para enviar uma mensagem de texto para o Caleb.

Apertei o botão de comando de voz no volante.

- Siri, envie uma mensagem para o Caleb.

[1] Asas

[2] Anjo

[3] Empresa fictícia do ramo de joias. Fonte: Obra "Broken Crown" da autora Callie Queiroz.

[4] Chief Financial Officer (Chefe do Setor Financeiro)

[5] Personagens fictícios das obras da autora Callie Queiroz.

[6] Personagens fictícios das obras da autoraCallie Queiroz.

[7] Chefe.

[8] Noite de jogos.

[9] Futebol Universitário (Americano)

[10] Jock, um termo norte-americano para um atleta masculino estereotipado.

- Cadê a porra da defesa?? - gritou Reid, se levantando do sofá em um rompante e gesticulando com os braços na direção da TV.

Assistir ao New York Rangers jogar contra o New York Islanders com Tyler, Reid, Grant e Pogue era sempre um campo de guerra. Divertido, no entanto. Principalmente depois de um dia estressante no trabalho, e acredite, em nossa profissão, todo dia era um dia estressante. Hoje, porém, a sensação era um pouco diferente. Não apenas hoje. Toda Game Night no último mês. Alguém estava faltando. Alex. Não estava sendo fácil para nenhum de nós. Alex era um de nós. Família. Éramos todos irmãos. Mas tínhamos que seguir em frente. Por isso, não tocávamos no assunto "A". Em nosso campo de trabalho, estávamos sempre na linha de fogo, por isso não podíamos nos dar ao luxo de "sentir". Qualquer fraqueza podia custar nossas vidas, ou das pessoas que amávamos. Nós não tocávamos em seu nome, não porque o esquecemos, e sim porque não podíamos. Alex sabia muito bem como eram as coisas, e de onde ele estivesse, ele entenderia nossa "frieza" e "indiferença" perante a sua morte.

- Nãaaaaaooooo!!!!! - gritou Tyler, Grant e Reid, ao mesmo tempo.

- Yeeeeaahhhhh!!!! Goooooooooll!!! - gritou Pogue.

Sorri em comemoração ao gol dos Rangers em cima dos Islanders e tomei um gole de cerveja enquanto observava os outros em pé, Pogue provocando Tyler, Grant e Reid que os xingavam.

Estávamos na sala de tv da minha cobertura, assistindo a um jogo da NHL, tomando cerveja, comendo pizza e fumando charuto cubano. Era nossa rotina semanal há anos. Na verdade, desde o colégio - tirando a parte do charuto -. Na época, Angelique deu o nome de Game Night. A diferença era que naquela época, esse momento era apenas para diversão. Já agora, esse era o nosso único momento de paz. A única noite da semana que tirávamos para nos desligar de tudo, pelo menos quase tudo. Fomos treinados para nos mantermos 24h por dia em alerta, sempre atentos a tudo, sempre prontos para atacar, sempre procurando por ameaças, e apesar de sermos excepcionais no que fazíamos, em alguns dias era sufocante.

Perante a sociedade éramos agentes do Bureau[1]. A própria agência acreditava que trabalhávamos para eles. Mas a verdade era que trabalhávamos para uma divisão secreta do governo. Um programa de espionagem chamado IVY. Uma tão secreta que a maior parte do governo nem sabia que existia.


Eu me mexi impacientemente no sofá pela milionésima vez.

Estava tarde e Angelique ainda não tinha chegado.

Eu odiava quando ela chegava tarde em casa.

Essa merda me deixava irritado, preocupado, impaciente e paranoico, porque minha mente sempre me levava para os piores cenários possíveis. Com a morte de Alex, tudo piorou. Ele não morreu em um "acidente" de carro como quase todos pensavam. Seu carro foi sabotado. Ele tinha sido assassinado em retaliação por pessoas muito poderosas e perigosas. E tudo o que se passava em minha cabeça naquele momento era que eles poderiam estar atrás de Angelique e toda a minha família.

A morte de Alex foi um aviso. Um aviso de que eles estavam vindo por nós. Um por um. E que não descansariam até nos eliminar por completo.

Eu conhecia todos "eles" muito bem. Sabia como a mente "Dele" funcionava. Ele não nos atacaria diretamente. O ataque viria às pessoas próximas a nós. E só depois que nos destruíssem emocionalmente, tirando todas as pessoas que amávamos e acabassem com o sistema que nos criou, só então, eles viriam por nós. Quando digo "nós", me refiro a mim, Alex, Pogue, Reid, Grant e Tyler, os Maverick, time de elite da IVY.

Tudo isso porque nós seis éramos responsáveis pelo que aconteceu dois anos atrás. 

Assim que o carro de Alex explodiu bem diante de mim, recebi uma mensagem não rastreável no meu celular: "Um já foi, só faltam cinco".

Era um fato, eles viriam por nós. Mas antes eles viriam pelas nossas famílias e amigos. Eu e Alex sendo o foco principal. O ódio que Ele e toda a sua organização criminosa tinha por nós dois era imensurável. Por isso, eu sabia quem seria o seu alvo principal.

Angelique.

A pessoa que Alex e eu tínhamos em comum. A pessoa que mais amávamos no mundo.

Meu coração perdeu uma batida ao pensar que ele poderia colocar suas mãos na minha Angel. Minha pele esquentou de repente, e uma fúria se espalhou pelo meu corpo.

Ela poderia estar sendo vigiada naquele exato momento. E se algo acontecesse com ela, eu...

- Cale... Está tudo bem? - Meus pensamentos foram puxados de volta pela voz de Grant.

Pogue, Tyler e Reid estavam concentrados demais no jogo para notarem minha preocupação, mas não Grant. O filho da puta era como um gato. Nada passava por ele. O que me irritava na maioria das vezes.

O olhei confuso, com a testa franzida, não entendendo a sua pergunta.

- Sua mão... - explicou Grant apontando com a cabeça na direção da minha mão ao redor da garrafa de cerveja.

Eu apertava a garrafa com tanta força que os nós dos meus dedos estavam brancos. Ao perceber o que fazia, afrouxei o aperto antes que quebrasse o vidro e fizesse um estrago em minha mão.

- Sim - respondi enquanto pegava o charuto sobre o cinzeiro e dava uma tragada.

- Sério? Vai mentir pra mim? - ele arqueou a sobrancelha, me desafiando.

Esqueci de dizer que o idiota também era intrometido.

Eu o ignorei, tentando fazê-lo desistir, mas até parece que eu teria tanta sorte.

- Angelique ainda não chegou.

Grant ficou alguns segundos em silêncio.

Era algo que eu gostava no cara. Ele nunca julgava, ele não debochava. Ele apenas respondia em poucas palavras. O que era bom para mim, já que eu não era muito fã de conversa fiada.

- Amanhã é o grande dia dela, deve estar presa na empresa ou no trânsito.

- É o que tenho repetindo em minha cabeça pelas últimas duas horas - comentei, preocupado e pensativo.

Pogue, Tyler e Reid me olharam, de repente, ficando em silêncio por um tempo. Todos eles entenderam exatamente o que eu quis dizer.

- Angelique está presa no escritório ou no trânsito, só isso - repetiu Pogue convicto, me olhando firmemente.

Eu sabia o que ele estava fazendo. Tentando tirar as merdas criadas pela minha mente. O olhar profundo e sério de Pogue não suavizou até que eu assenti com a cabeça e o agradeci silenciosamente. Os olhos azuis intensos dele podiam fazer um grande sucesso com as mulheres - e alguns homens -, mas quando eles se transformavam, faziam muitos caras se mijarem nas calças. Presenciei em várias ocasiões.

Todos nós estávamos preocupados, eu sabia. Não apenas com Angelique, mas com nossas próprias famílias. Estávamos sendo resistentes, nos mantendo em foco como tinha que ser, mas sabíamos a tempestade que estava vindo em nossa direção. Como eu já expliquei, a morte de Alex foi um aviso. Um aviso que todos nós entendemos muito bem. Não que isso fosse nos enfraquecer. Pelo contrário. Em modo missão éramos perigosos. Agora em modo vingança éramos o pior pesadelo que um homem poderia ter. Eles mataram um dos nossos e estavam ameaçando nossas famílias. Eles que se preparassem, porque o inferno cairia sobre eles. A retaliação viria, e não seria bonita.

No momento, estávamos apenas esperando, deixando a poeira baixar, nos reagrupando, nos recuperando, porque quando atacássemos, não poderíamos falhar. Por isso tínhamos que estar sempre atentos, sempre prontos para um próximo ataque, porque eles sabiam que precisaríamos de tempo para contra-atacar , então esse era o momento certo para nos atingir.

Tentando descontrair o momento, porque, obviamente, não falaríamos sobre o "assunto" - tínhamos um código... não discutíamos nosso trabalho em casa, a não ser que fosse estritamente necessário - Tyler entrou na conversa fazendo com que todos prestassem atenção em mim:

- Pare de sufocar a garota, Cale.

Com um olhar categórico e fulminante respondi:

- Cuide da sua própria vida.

Reid riu alto.

- Angelique está bem grandinha para precisar de uma babá, Cale - acrescentou Pogue. - Além disso, não é como se ela tivesse sido criada como as outras garotas. Ela sabe se defender muito bem.

Com um olhar duro e estreito, virei minha atenção ao Pogue.

- Qual a parte do "Cuidem da porra da vida de vocês", ainda não entenderam? São mais de vinte anos repetindo a mesma coisa, está se tornando um pouco exaustivo.

Pogue soltou um de seus sorrisos de canto cheio de charme e sarcasmo, em todo o seu estilo James Bond, e tomou um gole de cerveja antes de voltar sua atenção ao jogo.

Eu sabia que ele estava me provocando para me distrair. O cara era irritante pra caralho, mas seus métodos geralmente funcionavam.

Pogue era do tipo de cara que gostava de viver no limite. Ele era ousado e sádico. Não tinha medo nenhum do perigo. Na verdade, quando sentia o perigo se aproximar, ele era o primeiro a correr em direção a ele. Mesmo o conhecendo a minha vida inteira, até hoje eu não sabia se ele era extremamente corajoso ou estúpido pra caralho. Minha teoria era que as duas opções estavam corretas.

De qualquer maneira, por conta desse desejo de morte que Pogue tinha, ele era o único com coragem o suficiente para se intrometer em meu relacionamento com Angelique. Acredite, ninguém o fazia. E essa ousadia dele o custou caro em várias ocasiões, pois por diversas vezes eu o soquei e me vinguei por ser meter no que não era da sua conta. Você pensaria que ele pararia depois de tanto sangrar... Pense de novo. Todas as vezes, ele apenas ria e fazia novamente.

- Um dia você acabará morto pelas mãos do seu melhor amigo, Pog - advertiu Reid, ainda rindo e negando com a cabeça.

- Eu sei. - Pogue me olhou e sorriu com diversão.

Neguei com a cabeça ao mesmo tempo em que soltava um riso incrédulo.

Sádico idiota!

- Como Angelique está lidando com... - perguntou Tyler do nada, aparentemente distraído, com sua atenção ainda presa no jogo.

Não foi necessário que terminasse a frase.

- Ela está... - pensei por um instante antes de responder - Ela está agindo como os Ackles agem em situações como essa - expliquei.

- Impenetrável. Silenciosa. Resiliente. Desligada. E com a adrenalina acima do normal? - perguntou Grant já sabendo a resposta.

- Exatamente - confirmei.

Um único riso sem humor rasgou a garganta de Tyler.

- Assim como Alex - ele recordou.

- E Liam - completou Pogue.

Liam Ackles era primo da Angel e Alex.

- Ela vai se recuperar - Reid afirmou. - A Angel apenas precisa de tempo. Perder os pais e agora o irmão... - Reid suspirou pesadamente - Cara... A verdade é que nem sei como ela está se mantendo em pé. Perder a todos dessa maneira... Confesso que a força dela é admirável e invejável. Eu estaria fora da minha mente.

- Ela não perdeu a todos. Ela tem a nós, os Donoghue e todos os outros membros da família Ackles. Sei que não poderemos suprir essas perdas, mas... o Super-Possessivo aí, poderá! - Tyler sorriu para mim com diversão - Caleb Donoghue é todo o mundo de Angelique Ackles. Cara, que responsabilidade, hein!! - provocou ele.

Eu o olhei com tédio.

- Eu nunca vou entender como uma garota tão perfeita como a Angel foi se apaixonar por um filho da puta frio e controlador como você - completou Tyler.

- Não é como se ela tivesse tido uma escolha. A coitada herdou essa maldição, ou melhor carma, que a obriga a amar o Caleb pelo resto da vida - zombou Pogue me dando o seu sorriso magnetizador. - Pobre garota!

Eu respondi com o meu olhar sombrio e afiado.

- É hoje que você leva um tiro na cara, Perry - anunciou Tyler.

Pogue riu.

Grant ignorou a merda dos dois que tinham feito de sua missão principal me aborrecer e voltou ao assunto principal.

- Eu sei que você está preocupado porque eles vão querer usar a Angelique para chegar até você. Mas você precisará manter a calma, cara. Você conhece a Angel melhor do que ninguém, e ela não gosta de ser controlada. E do jeito que você fica quando algo a ameaça... Porra, você acabará sufocando-a e matando todo mundo ao seu redor.

- Eu não quero controlá-la - bufei com indignação.

Dessa vez, até mesmo Grant riu.

- Caleb, você é o filho da puta mais controlador, possessivo, paranoico e neurótico que existe na face da Terra.

Rolei os olhos.

- Tudo bem, eu posso ser um pouco controlador, mas...

Pogue zombou com um riso debochado.

- Um pouco? Não seja modesto, Cale.

- Cale a boca, Pog - soltei rispidamente. - Angelique e eu... Nós sabemos lidar um com o outro.

- Pode até ser. Isso não quer dizer que não haverá danos colaterais. Você sabe o quão perigoso essa... "obsessão" que vocês têm um pelo outro pode ser. Vocês dois são como um vulcão em erupção, cara. E agora, com essas ameaças e Angelique morando com você. De verdade, me preocupa... - Grant soltou.

Meu olhar escureceu e se estreitou quando fixou-se em Grant.

Em um tom grave, sombrio e ameaçador, eu o adverti:

- Meu relacionamento com Angelique não é problema de nenhum de vocês. Então, não interfiram e guardem suas malditas opiniões para si mesmos. Caso contrário, vocês serão os primeiros a descobrir do que a minha "obsessão" é capaz. E acredite, um maldito vulcão em erupção não chega aos pés do dano que eu sou capaz causar.

Grant não moveu um músculo, apenas segurou o meu olhar inexpressivamente por alguns segundos. Um tempo depois se virou para os outros que estavam em silêncio.

- Vocês o provocam por horas e quando eu falo uma única coisa sou o primeiro sentenciado a morte? - Se dirigiu, indignado, aos outros.

Pogue, Tyler e Reid desataram a rir.

- A culpa é sua cara. Quem mandou chegar por último. Até parece que não o conhece. O Super-Controle do Caleb tem um limite, e o limite é: "Não se intrometa no seu relacionamento com a menina Angel" - recordou Tyler, dando de ombros.

Eu apenas ignorei a todos com desinteresse e voltei para o meu charuto.

- Parece que não serei eu a levar um tiro na cara essa noite... - ironizou Pogue com diversão na voz.

Grant bufou.

- Se quiser, eu posso atirar nesse seu sorriso irritante - Grant grunhiu aborrecido.

O sorriso de Pogue se alargou.

- Hey, não odeie o sorriso só porque você tem inveja dele, cara - Pogue deu de ombros, piscou para Grant e tomou um gole de cerveja.

Eu disse, o cara tem problemas.

- Filho da puta!! Tá cego?? - Reid gritou irritado encarando a televisão. - O imbecil ganha milhões e me erra um gol desses?!

Reid + Hóquei = Terceira Guerra Mundial.

- Cara, aceite... Os Rangers sempre serão melhores do que os Islanders. De boa, você deveria pensar seriamente em mudar de time - provocou Pogue.

- E você deveria calar a boca antes que eu enfie uma puck[2] na sua bunda - devolveu Reid, claramente puto.

Pogue sendo Pogue apenas sorriu.

Eu ri negando com a cabeça.

Apesar de sermos amigos a vida inteira e sermos muito parecidos em muitas coisas, quando a assunto era esporte o grupo era dividido. No caso do hóquei, o Tyler, Grant e Reid torciam para os New York Islanders enquanto Pogue, Alex e eu torcíamos para o New York Rangers. Por esse motivo - além do fato de todos nós sermos extremamente competitivos - toda Game Night, quando nossos times jogavam um contra o outro, era uma guerra. Foi sempre assim, 3 contra 3. E agora, pela primeira vez, estaríamos desfalcados, sendo 3 contra 2. Apenas Pogue e eu... Sem Alex.

Foi nesse mesmo instante que ouvi o elevador se abrir.

E naquele mesmo instante toda a tensão simplesmente desvaneceu em um passe de mágica, os meus músculos relaxaram, ao mesmo tempo em que meu coração aqueceu e acelerou gradualmente conforme eu ouvia o som dos saltos de Angel quicarem pela casa. Uma sensação de alívio, de segurança, de paz e de "lar", tomou conta de mim de repente.

Era assim todos os dias. Quando eu chegava e a via andando de um lado para o outro pela minha casa, ou quando ela chegava depois de mim e começava a mexer na geladeira procurando por seu Romanée-Conti, seu vinho preferido, porque sabia que eu tinha colocado uma garrafa para gelar para ela.

Era assustador a rotina que tínhamos criado em tão pouco tempo, e como tínhamos nos adaptado tão bem morando juntos. Era como se tivéssemos morado juntos por anos, e não estou falando de todos os anos em que moramos juntos na casa dos meus pais, mas sim como se tivéssemos juntos, sozinhos, na mesma casa, por anos. Tudo se encaixava tão perfeitamente bem, a sensação era tão boa que chegava a ser esmagadora - não de uma maneira ruim -, e era isso que me assustava, porque tudo parecia tão certo que estava se tornando uma necessidade para mim. Se passou apenas um mês, e eu já não conseguia me ver morando longe dela. Eu já estava começando a me preocupar com o que poderia acontecer daqui pra frente, porque de maneira nenhuma eu poderia ceder a essa nova sensação de "lar", de "pertencer" que estava me consumindo pouco a pouco. Eu não podia perder o foco. Eu tinha um alvo, um enorme alvo nas minhas costas, e Angelique era uma maldita distração. Um vício. Uma fixação.

Como eu sabia que ela faria, Angel abriu a geladeira e pegou a garrafa de vinho. Ouvi o tintilar das taças quando ela abriu o armário para pegar uma. Um pequeno sorriso se desenhou no canto da minha boca sem que eu percebesse. Por algum motivo eu me sentia orgulhoso por saber cada detalhe da sua rotina, em conhecê-la tão a fundo como ninguém a conhecia, nem mesmo ela. Claramente, eu passava mais tempo estudando-a do que deveria.

- O amor da sua vida chegou, Cale! Você já pode voltar a respirar - declarou Tyler com um sorriso sarcástico.

Eu o ignorei. Estava ocupado demais, concentrado demais, na minha menina.

Foi então que ela surgiu...

Ela apareceu na sala fazendo barulho com seus saltos malditamente sexy.

Às vezes eu odiava o quão bonita e sensual ela era.

Antes que meus olhos me traíssem, eu encarei a televisão, mas minha atenção continuava nela. Com um olhar de soslaio eu a vi caminhar até nós, até mim, concentrada em alguns papéis e segurando sua taça de vinho.

Como se ela pudesse sentir toda a energia que meu corpo exalava por ela, seus olhos se ergueram e pousaram em mim. Em resposta, o meu coração incendiou assim como o resto do meu corpo, em uma reação primitiva e tão natural para mim, como respirar. Foi assim, literalmente, desde o dia em que ela nasceu.

- Até que enfim algo bonito para embelezar essa sala - falou Tyler para Angel com sorriso brincalhão.

Angelique relutantemente tirou os olhos de mim - e eu me repreendi por amar o quão difícil era para ela se afastar de mim - e encarou Tyler. Imediatamente ela abriu um sorriso. Aquele sorriso perfeito que fazia o ambiente inteiro se iluminar.

- Vocês já se olharam no espelho ultimamente? - ela brincou.

Maldita voz.

Meu corpo tremulou ao ouvir sua voz. Seu timbre celestial era como o canto de uma sereia que me hipnotizava por completo me deixando completamente a sua mercê.

- Claro, constantemente. Precisando de mais um modelo para desfiar amanhã, é só me avisar. Mas já aviso que meu cachê é alto. - Tyler piscou e voltou sua atenção para o jogo quando os Islanders ameaçaram fazer um gol.

Angel riu revirando os olhos.

Grunhi baixo, aborrecido, ao ouvir sua risada.

Porra, pare com isso, garota!

- Tudo bem aí, Cale? - perguntou Grant com um sorriso divertido, se aproximando de mim e sussurrando para que só eu pudesse ouvir.

Eu o fuzilei com o olhei, fazendo-o sorrir mais ainda.

- Cale a boca - ordenei irritado.

Grant voltou para o seu lugar com um sorriso enorme. O idiota estava se divertindo com a minha tortura.

- Está tudo bem com vocês? - perguntou Angel olhando para mim e Grant.

Eu continuei em silêncio olhando para televisão.

- Está tudo ótimo, Angy - respondeu Grant com um sorriso largo e cretino.

Idiota.

Angelique deu mais alguns passos em minha direção e meus músculos subitamente trancaram.

- Wow... Cada dia que passa você está mais bonita, Angel. E esse estilo Girlboss é sexy pra caralho... - comentou Pogue correndo os olhos de cima para baixo pelo seu corpo.

Em um segundo minha atenção estava no jogo, no outro, meus olhos haviam escurecido e estavam presos em Pogue que me encarava com um sorriso enorme esperando por minha reação.

Masoquista do caralho!

- Você também não acha, Cale? - perguntou ele, nitidamente me provocando.

Meus olhos estavam tão frios que a temperatura do ambiente caiu.

Todos notaram.

Angelique, no entanto, não se importou. Ela estava tão acostumava com minhas reações que era tão natural para ela quanto era para mim.

- Sim, você também não acha, Cale? - perguntou Angelique, entrando na brincadeira de Pogue.

Filha da p...

Ouvi-a sorrir, divertida.

Dei-lhe apenas um olhar duro de soslaio e continuando em silêncio voltei a encarar a televisão. Era o melhor que eu fazia, ou senão a situação poderia se virar para dois caminhos. Ou eu arrebentaria a cara do Pogue até sangue cobrir todo o seu rosto, ou eu pegaria Angelique como um neandertal e a carregaria pelo ombro para o meu quarto e bateria no seu bonito traseiro, punindo-a por me deixar horas preocupado, por me provocar, por ser linda e sexy pra caralho, por ser ela. E sabe-se lá onde isso terminaria.

Eu era um fodido neurótico, possessivo doentio, eu sabia disso. Mas não era como se eu pudesse controlar esse maldito ciúme. Meu corpo formigava, minha respiração falhava de uma maneira que eu perdia a habilidade de raciocinar. Eu podia matar facilmente quando me sentia assim. Era uma merda. Mas eu não podia mudar. Estava em minha natureza.

- Bem, pela reação do Caleb acho que ele concorda com você, Pog - afirmou ela com um sorriso. - E muito obrigada pelo elogio. - Então, piscou para ele.

Não pisque para ele, porra!

Furioso, pela primeira vez, desde que ela chegou, eu a olhei diretamente.

E, porra...

Ela era linda.

Ela vestia um conjunto de três peças. Um top cropped com um corte "v", calça social de cintura alta e um blazer, tudo na cor branca - minha cor preferida nela -, e calçava stilettos pretos altos que deixavam suas pernas mais longas e perfeitas do que já eram. Metade do seu macio cabelo loiro estava preso no alto da cabeça dando um volume maior. A minha menina era toda uma CEO sexy pra caralho... Quando foi que isso aconteceu?

O brilho sobre o seu peito atraiu a minha atenção. Era um colar de ouro com o desenho de duas asas que mandei fazer para ela em seu último aniversário. A possessividade estrondou dentro de mim por vê-la usando algo meu, deixando minha pele em chamas.

Maldita seja.

Eu odiava que ela me fizesse sentir assim.

Angelique era a minha menina, a minha protegida, o meu anjo. Não foi feita para que eu desejasse fodê-la como um animal maldito. Mas, naquele momento, era exatamente isso que eu queria fazer. E, por mais que eu não quisesse aceitar, cada dia, esse desejo estava crescendo, se tornando uma necessidade. No passado, eu sempre pude me controlar, mas agora, eu sentia que meu autocontrole estava com data de expiração. E isso não podia acontecer.

Inferno.

Tudo em que eu podia pensar era em como seria tê-la inclinada sobre o braço desse sofá, com o seu traseiro bonito para o ar, enquanto eu batia dentro dela até drenar tudo de nós dois.

Eu era um filho da puta?

Sem dúvida nenhuma.

O grito de Pogue quebrou o feitiço em que eu me encontrava.

- Goooollll!!! - gritou Pogue, se levantando do sofá bruscamente e jogando as mãos para o ar.

Reid e Tyler bufaram irritados.

Eu estava tão absorto em Angelique que não a notei chegar até mim e parar ao meu lado. Quando me dei conta, ergui o olhar até ela. Os seus olhos cor de avelã brilhavam com diversão e presunção. Ela sabia o poder que tinha sobre mim, e isso só dificultava as coisas.

Angel deu um gole no seu vinho.

- Já terminou de me admirar? - Então perguntou.

Eu não a respondi, apenas dei-lhe o meu famoso olhar repreensor, o que apenas levou-a a rir.

Determinado a quebrar aquela corrente magnética com qual Angelique sempre me prendia, me virei para os caras e entrei no meio da discussão.

- Desista, Reid. Os Islanders nunca superarão os Rangers. - Dei-lhe um sorriso provocativo e traguei o meu charuto.

- Foda-se... - respondeu Reid me dando o dedo do meio.

Eu sorri provocativamente.

Nesse instante, o celular de Angelique tocou e ela se afastou para atender. Uns dois minutos depois, ela voltou. Sua expressão era séria.

- Está tudo bem? - perguntei enquanto ela caminhava de volta para mim.

Ao invés de sentar ao meu lado, Angel deu a volta no sofá e ficou atrás de mim.

Meus músculos se contraíram instintivamente.

Eu fixei meus olhos no jogo, procurando por algo para prender minha atenção.

- Está tudo bem. Contratempos com o desfile de amanhã - ela respondeu, se inclinando para baixo e me abraçando. Sua mão passou por cima do meu ombro. Eu traguei o charuto com mais força. A sua mão esquerda, que não estava segurando a taça, deslizou pelo meu peito, tocando a minha pele por dentro da camisa que tinha alguns botões abertos. Meu sangue ferveu e meu coração bateu tão rápido que pensei que fosse saltar para fora. Seu perfume invadiu minhas narinas até atingir o meu cérebro, me embriagando e nublando meus pensamentos.

Ela cheirava ao meu perfume preferido. Perfume que ela lançou pela sua marca Angélique para mim. Eu sabia disso porque ele tinha todas as essências que na noite do seu aniversário de dezoito anos eu descrevi como sendo o seu cheiro. Fragrância ambarado com centelhas de laranja fresca, jasmim e rosa. É assim que ela cheirava para mim. Minha droga particular.

Angel sabia que eu não tinha forças ou controle do meu corpo quando ela me tocava, e que eu não seria capaz de afastá-la. E para a minha desgraça, ela adorava me torturar. Por isso, não tardou para tudo piorar quando seus lábios caíram até o meu pescoço e pressionaram contra a minha pele. Eu segurei a respiração. Mas, ainda não satisfeita, Angelique fez todo o caminho de volta, roçando seus lábios macios pela minha pele até chegar ao meu ouvido.

- Oi, mo ghrá[3].

Meu coração se aqueceu ao ouvi-la dizer essas palavras. Eu não deveria gostar tanto quanto gostava, mas quando ela me chamava assim, tudo que eu queria era trazê-la para os meus braços, beijá-la e prendê-la ali para sempre.

Negando com a cabeça, tentando limpar o nevoeiro que cobria a minha mente, eu me concentrei no mantra que usei desde sempre para afastar esses pensamentos.

Ela é a minha menina.

Ela é a minha menina.

Ela é a minha menina.

Graças a todos os deuses, Reid chamou a atenção de Angelique fazendo-a desencostar os lábios da minha pele. Sua bochecha descansou no topo de minha cabeça, mas sua mão continuou em meu peito, acariciando-me, torturando-me.

Ela fazia isso de propósito.

Maldita seja você, Angelique Ackles!

Em momentos como esse, me dava uma imensa vontade de esganá-la, ou talvez espancá-la... ou talvez fodê-la.

Rosnei baixo, me recriminando mentalmente.

- Querida, Islanders ou Rangers? Faça a sua aposta - perguntou Reid, que continuava a discutir com Pogue, enquanto eu recebia a minha sessão de tortura.

- Eu sou uma Ackles, querido... Eu não aposto para perder, então certamente não aposto em perdedores. Rangers, claro! Você nunca vai me convencer a mudar de time.

Reid a olhou com tédio antes de rolar os olhos.

- Você é uma decepção, Angelique Ackles.

Pogue riu alto jogando a cabeça para trás.

Eu sorri, orgulhoso.

- Essa é a minha garota - declarei ao segurar sua mão que ainda estava em meu peito, puxando-a para a frente do sofá, até que se sentasse ao meu lado.

Só então eu pude voltar a respirar tranquilamente - quase.

- Você é uma puxa-saco do Trio Idiota - Reid a acusou.

- Que Trio Idiota? - Arqueei minha sobrancelha e o encarei.

- Como que Trio Idiota? Só existe um. Você, Pogue e... Alex.

Reid se calou imediatamente ao se dar conta que havia tocado no nome de Alex. Nenhum deles ainda sabia muito bem como abordar o tema "A" com Angelique. Eles ainda pisavam em ovos com ela, não querendo cutucar a ferida.

O olhar de Reid suavizou quando ele olhou para Angel.

- Me desculpe. Eu não queria... - Ele não soube como terminar a frase.

A expressão de Angel não mudou, nem sua linguagem corporal. Ela continuou olhando para Reid da mesma maneira que olhava segundos atrás como se nem ao menos tivesse ouvido o nome de Alex ser citado.

- Está tudo bem... - respondeu ela taxativa, um pouco ríspida e indiferente. - Tabitha está demorando - comentou então, mudando de assunto.

Nós cinco nos entreolhamos. Eu franzi a testa em um gesto que queria dizer: "Era disso eu estava falando", sobre quando eles me perguntaram como Angel estava lidando com a morte de Alex.

Quebrando o clima tenso que se criou na sala, eu dei continuidade ao comentário de Angel.

- Sim, ela está demorando. Assim como você demorou. Onde você estava? - perguntei seriamente em tom repreendedor.

Angelique me encarou e arqueou uma sobrancelha enquanto me dava aquele olhar de CEO autoritária dela.

Não funciona comigo, baby.

Eu devolvi o mesmo olhar inflexível.

Os quatro idiotas riram baixo divertidos.

- Desculpe, pai... Não sabia que tínhamos toque de recolher e que eu tinha horário para chegar em casa - debochou ela com sarcasmo. Sua feição atrevida e presunçosa.

Foda-se se vê-la me confrontar não me deixava duro.

Ainda assim, eu realmente estava irritado. Ela tinha me deixado preocupado, porra. E ficar preocupado, me deixava de mau humor.

- Guarde seu sarcasmo para outro momento, Angel. Estou falando sério. Você demorou. Fiquei preocupado - a repreendi.

Angel me olhou por alguns segundos, então quando percebeu minha real preocupação, suspirou e explicou:

- Eu te enviei uma mensagem avisando que estava ficando sem bateria e estava presa no trânsito.

Peguei o meu Iphone e abri a caixa de mensagens.

- Não tem mensagem nenhuma sua aqui - falei.

- Lógico que tem, eu enviei. Procure direito. - Eu respirei fundo. Ela além de folgada, tinha um talento nato para me tirar do sério.

Angel pegou o seu celular e o verificou.

Segundos depois ela abriu um sorriso travesso.

- Ops, foi mal, o envio falhou e eu não vi, estava dirigindo. - Ela, então, bateu na tela duas vezes e, logo em seguida, meu celular apitou avisando que tinha uma nova mensagem de Angelique na caixa de entrada.

- Prontinho, agora chegou!

Os caras riram alto. Todos eles. Incluindo Grant.

Seu sorriso cretino e maroto me desarmou. Eu queria gritar com ela por ter me deixado tão nervoso, tão preocupado, mas não consegui me conter e sorri, negando com a cabeça.

- Da próxima vez, apenas me ligue, por favor - pedi.

- Caleb, qual o seu problema? Você nunca foi de ficar controlando meus horários e me checando a todo momento.

Eu suspirei, não querendo entrar nesse assunto.

- Não que ele não quisesse, mas... - comentou Reid.

Com um olhar duro, ignorei seu comentário e voltei minha atenção para Angel que sorria divertida com a gracinha de Reid.

- Não morávamos juntos antes, agora moramos. Apenas me avise quando for chegar tarde. Não estou pedindo muito, estou?

Ela me observou por um tempo, e eu soube que estava tentando invadir os meus pensamentos e ler a minha maldita alma.

- Pare com isso - ordenei com um grunhido.

Angelique continuou me olhando, me estudando, daquele jeito que me deixava completamente nu para ela.

- Se você está preocupado comigo... Eu estou bem, Cale - ela afirmou. Eu não respondi. - E se você está apenas com saudade de mim, mo ghrá, tudo o que você tem que fazer é me ligar - Ela me provocou com um sorriso de falsa inocência.

Os quatro fofoqueiros intrometidos riam, se divertindo as minhas custas, mais interessados na nossa conversa do que no jogo.

Angelique era a única pessoa que me provocava além do limite. Eu nunca fui um cara de muita graça. Nunca gostei de brincadeiras estúpidas, conversa fiada ou provocações desnecessárias. Por isso, nunca deixei que ultrapassassem a linha. Quando eu tinha oito anos, um bully da escola que todos tinham medo, tentou me intimidar e roubar o meu lanche. Estávamos no playground. Eu o mandei me deixar em paz. Ele não quis me ouvir, então bati sua cabeça em um dos brinquedos de ferro. Ele acabou quebrando o nariz, tendo que fazer uma cirurgia. Eu fui suspenso por uma semana, mas também, ninguém nunca mais ousou mexer comigo. Mas ela... Ela fazia de mim o que queria porque sabia que era a única imune a minha violência e a minha indiferença. A única a quem eu cedia o controle. E desde o momento em que Angelique descobriu esse poder sobre mim, quando ainda era pequena, a minha vida se transformou em um inferno, porque ela não tinha um pingo de remorso em usar a minha única fraqueza contra mim. Ela mesma.

- Me certificarei de fazer isso, mo ghrá - enfatizei o termo afetuoso com o mesmo cinismo. - E tudo o que você tem que fazer, é pegar a porra do telefone e me ligar quando estiver saindo da empresa. - Minha voz caiu um tom. O meu olhar autoritário e ameaçador e o timbre duro e áspero na minha voz poderiam soar rude para quem estivesse vendo do lado de fora. No entanto, Angelique nem oscilou. Ela abriu um sorriso doce e inocente, nutrido por seu cinismo escuso.

Acredite, ela é irritantemente linda quando quer ser. E calculista como o inferno. Todos pensam que eu sou o calculista. Eu sou o perigo. Todos não podiam estar mais enganados. Angelique podia ser muito mais perigosa do que eu.

Uma vez, quando eu estava no último ano do colégio, ela viu a Kate Foster, a chefe das líderes de torcida, me dar um beijo surpresa logo depois de vencermos o último jogo da temporada. Angelique tinha apenas treze anos na época. Eu me lembro até hoje do seu olhar. Ela não se moveu, ela não fez um escândalo, ela não chorou, ela não brigou comigo. Ela não fez nada que uma adolescente normal da sua idade faria. Mas eu vi os seus olhos. Pareciam os de uma onça. Os seus lindos olhos avelã brilharam sombriamente enquanto ela encarava Kate por longos minutos como se estivesse estudando a sua presa. Eu corri até ela e tentei explicar que aquilo não tinha sido nada. Que eu não tinha nada com a garota. A resposta de Angel foi: "Está tudo bem", então ela sorriu para mim. Aquele sorriso com falsa inocência que eu conhecia muito bem. Naquele momento eu soube... Nada estava bem.

Eu conhecia Angelique como ninguém, por isso sabia que a possessividade que me consumia também a consumia. Mesmo que a nossa diferença de idade naquela época fosse grande, e eu não sentisse nada sexual por ela, a ligação estava lá. A necessidade. A certeza de que pertencíamos um ao outro era tão clara quanto o Sol. Ela era minha. E eu era dela. Eu a sentia tanto quanto ela me sentia. A herança dos Olhos Irlandeses era muito maior e muito mais forte do que qualquer outra coisa. Por conta disso, eu sabia que Angelique não deixaria aquilo passar.

Passaram-se semanas, e nada aconteceu. Até comecei a cogitar que talvez eu estivesse errado. Talvez, apenas talvez, ela tivesse esquecido. Foi então que chegando no colégio, eu ouvi o burburinho que corria pelos corredores. Kate Foster estava no hospital pois teve uma forte insolação. Aparentemente, ela sofreu um "acidente" na clínica de bronzeamento artificial. Eu nunca perguntei a Angel, não precisei. Eu sabia que ela, com a ajuda de suas amigas, provavelmente, minha irmã também, estavam por trás daquilo.

O que sentimos um pelo outro é algo que transcende a razão, as leis físicas, do homem, a natureza, a realidade, tudo. É sobrenatural, algo que ninguém além de nós e pessoas como nós poderão entender, porque somos os únicos a sentir essa energia que corre por nossas veias. E quanto mais os anos passam, mais nos conectamos. E quanto mais próximo chegamos um do outro, mais intenso a ligação, a necessidade, a codependência se torna.

É perigoso.

Extremamente perigoso.

E esse é um dos motivos pelo qual não posso deixar que meus desejos e minha obsessiva necessidade dela, aflorem. Nós acabaríamos destruindo a tudo e a todos ao nosso redor.

- Como você quiser, baby - Seu sorriso cresceu e seu olhar foi doce, até submisso - Cinicamente submisso. Não havia um osso submisso em seu corpo.

- Angy, pega leve com o cara. Ele estava doente porque você não chegava - disse Tyler.

- Caleb está sempre doente quando não estou perto dele, Ty - ela afirmou.

- Como ele sobreviveu todos esses anos em que você esteve em Paris é um mistério para mim - comentou Pogue.

- Me desculpe, mas hoje é o dia nacional do "Vamos encher a porra do saco do Caleb", e eu não estava sabendo? - perguntei com ironia, correndo o olhar por todos até terminar em Angelique.

- Todo dia é o dia nacional do "Vamos encher a porra do saco do Caleb", cara! Não estava sabendo? - provocou Reid com um sorriso.

- É mesmo? Que tal eu declarar hoje o dia nacional do "Vamos socar a cara do Galloway"? - perguntei sarcástico.

Angel riu.

- Isso aí não vai pegar, cara! Já olhou para mim? - Ele apontou para o seu rosto. - Ninguém vai querer ver esse rosto bonito todo inchado. Continue socando a cara do Pogue. Ele gosta.

Pogue rolou os olhos.

- Hey, ninguém vai socar ninguém. Podem parar com isso, porque se alguém aparecer no meu desfile amanhã com um arranhão, serei eu a deformar o rosto de vocês - advertiu Angel com o olhar fulminante e ameaçador que me lembrou o de Alex. - Amanhã tudo tem que sair perfeito! - enfatizou ela.

Angelique era extremamente profissional em seu trabalho. Também ultra perfeccionista, competitiva e ambiciosa. Assim como eu. Não aceitávamos erros, por isso raramente os cometíamos. Os Ackles e Donoghue eram muito parecidos nesses aspectos, talvez por isso fossem tão próximos.

Eu sabia o que esse desfile significava para ela. Significava a expansão da sua marca para o mundo. E, nesse momento, principalmente, significava consistência e controle. Ela perdeu o chão com a morte de Alex, e fazer o desfile ser um êxito era sua maneira de recuperar um pouco do controle que ela perdeu. Se algo desse errado, ela desmoronaria. O trabalho a estava mantendo sana e firme, eu sabia disso porque eu era o único que conseguia sentir o seu coração, por isso sabia que ele havia sido remendado. E bastava apenas um puxão para ele voltar a sangrar.

Levei minha mão esquerda até a sua coxa e a apertei atraindo a sua atenção.

Angelique me olhou, seu olhar ainda duro como um animal arisco. Quando seus olhos pousaram no meu, ela de imediato despertou, levando-os a suavizarem.

- Amanhã tudo sairá perfeito. - Você é perfeita. Eu não disse em voz alta, mas ela ouviu mesmo assim, porque era assim que funcionava com a gente. Palavras não eram necessárias.

- Não se preocupe, Angy. Caleb está certo. Porra, estamos falando de Angelique Ackles, aquela que nunca tirou menos de um "A" na vida. E quando um professor ousou lhe dar um "B", bem... foi a primeira vez que um professor se mijou nas calças daquele jeito - recordou Pogue.

Os músculos de Angel suavizaram, e ela, por fim, riu.

- Que exagero! Isso não aconteceu. E você nem estava lá - ela contestou ainda rindo, já mais relaxada.

- Hey, até em Cambridge nós ouvimos sobre o professor que se mijou nas calças porque tentou dar um "B" para uma aluna - afirmou Grant brincando, também ajudando relaxá-la.

Na época em que Angelique estava no colégio, nós seis - nós cinco e Alex - estávamos na faculdade. Estudávamos na Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts.

Nada foi acordado quando Alex morreu, mas os quatro: Tyler, Reid, Pogue e Grant, tomaram para si o trabalho de substituir o papel de Alex. E, desde então, eles agiam com Angelique como seus irmãos mais velhos. Protetores, sempre preocupados com o seu bem-estar, e sempre tentando deixá-la feliz.

- Hey, estou ficando com fome. Onde está Tabitha? - questionou Tyler mudando de assunto.

- Ela me ligou quando eu estava vindo para casa. Achei que ela chegaria antes de mim. Ela deve estar presa no trânsito.

- Espere...Tabitha vai vir? - perguntou Grant com surpresa e assombro na voz.

Ele e minha irmã viviam em guerra. Era exaustivo.

Angelique deu-lhe um sorriso travesso.

- Hello, Terra chamando Grant! Eu perguntei se ela já tinha chegado assim que cheguei em casa - zombou Angel.

- Porra, Angel... Por que você faz isso comigo? - reclamou Grant.

- Eu? O que eu fiz? - perguntou ela.

- Convidou a filha do diabo para o Game Night - resmungou ele, aborrecido.

Angelique riu alto.

- Tabby é irmã do Caleb e minha melhor amiga. Ela não necessariamente precisa de convite, amigo!

Eu ignorei o chilique de Grant com tédio e procurei pela minha cerveja enquanto ouvia o blá-blá-blá "Odeio Tabitha".

Cansativo.

Porra.

A cerveja está quente.

Deixando-os falando, me levantei, fui até o barzinho no canto da sala e peguei outra cerveja no minibar. Quando voltei para o sofá, Grant já tinha voltado para o seu estado gélido e silencioso. Claramente aborrecido pois sua mandíbula estava tão contraída que parecia que ia trincar.

Angel agora falava.

- Odeio o trânsito infernal dessa cidade.

- Oh, querida, nós sabemos bem como você odeia trânsito. Aliás, todo mundo que já ficou parado no trânsito com você sabe porque a maioria deles já foi xingado - ironizou Pogue.

Angelique revirou os olhos.

Era verdade. Ela odiava trânsito. Tanto que xingos eram espalhados pelos carros ao redor dela, todas as vezes *rio ao recordar*.

- Também... Quem é louco o suficiente para comprar um carro e sair dirigindo por essa cidade? Nem lugar para estacionar é possível encontrar - questionou Reid.

- Como quem? Todos vocês - respondeu Angel com um riso incrédulo.

Tyler e Pogue riram.

Reid a olhou pensativo por um segundo, depois concordou com a cabeça.

Idiota.

- Oh, querida... Você tem que parar de se espelhar na gente. Não somos bons exemplos. Isso não faz bem pra você - afirmou Reid com uma piscadela.

- Oh, acredite... Eu sei bem disso - ironizou Angel com um sorriso.

- Você deveria contratar um motorista, Angel - eu falei.

Ela me olhou com uma sobrancelha erguida.

- Oi, prazer, Angelique Ackles - ela ironizou. - Você me conheceu hoje, por acaso? - debochou.

Ignorei sua petulância como sempre fazia e continuei:

- Eu sei que você gosta de dirigir, mas pelo menos não se cansaria tanto no trânsito. Além disso, seria mais seguro.

Ela me ouvia atentamente, com seus olhos profundos em mim, como se tivesse tentando desvendar algo.

- Vamos fingir que você não tem um motivo oculto para estar tão preocupado com a minha segurança, okay, mo ghrá?

Um sorriso de canto se desenhou em meus lábios. Ela era esperta pra caralho.

- Okay, então finja e arrume um maldito motorista - exigi.

Ela sorriu soberbamente para mim e provocativamente.

Porra, ela era sexy.

- Claro, amanhã mesmo farei isso, baby - disse ela ao se inclinar até mim e beijar a minha bochecha, então se levantar.

Eu ri internamente.

Claro que ela não iria fazer nada do que eu disse.

- Bom, meninos. Eu vou tomar um banho - e começou a caminhar, até que parou bruscamente, se virou e disse: - Ah, não peça o jantar até Tabby chegar porque ela ameaçou a vida de vocês caso comprem comida com muito sódio fazendo-a inchar e não caber no vestido amanhã. Só avisando.

Reid bufou irritado por estar com fome e não poder pedir a comida.

Só para esclarecer, o idiota tinha uma caixa de pizza na cara dele.

Angel, então, se virou para mim.

- E, Cale... Não mate ninguém enquanto eu estiver fora - ela pediu sorridente e divertida.

Eu não disse nada. Apenas a encarei inexpressivamente. Estava ocupado demais encarando os seus lindos olhos avelã.

Angel, então, piscou para mim e saiu da sala, deixando-me acompanhando seus quadris balançarem enquanto caminhava.

Até quando eu conseguia me controlar tendo ela tão perto?

Quando saí do meu estado de estupor e me virei para os caras na sala, peguei Reid com os olhos presos na bunda de Angel.

Uma fúria incontrolável tomou conta de mim.

Era uma porra doentia, mas eu me transformava em um animal descontrolado quando olhavam para Angelique com desejo. Ninguém tinha que ao menos olhá-la, sorrir para ela ou dirigir-lhe a palavra. Ela era minha, apenas minha. E, Reid, fez a escolha errada ao cobiçá-la. Eu tinha um puta de um autocontrole, mas certas coisas eu simplesmente não podia controlar... Homens cobiçando o que era meu estava no topo da lista.

Em um segundo, eu estava parado olhando para Reid que não notou meu olhar, e no segundo seguinte, eu tinha pego uma faca que estava em cima da mesa e tacado precisamente na direção do olho de Reid.

Ele tinha excepcionais reflexos. Foi treinado, por isso possuía habilidades que poucas pessoas no mundo possuíam, assim como todos nós. Por isso, não foi uma surpresa quando ele pegou a faca no ar, apenas poucos segundos antes de atingir o seu olho esquerdo.

- Porra, você enlouqueceu, Caleb? - Reid grunhiu. Seus olhos incendiando com fúria. Esse era o Reid agente, não o Reid descontraído que todos conheciam.

Todos ficaram imóveis e em silêncio de repente.

Eles me conheciam o suficiente para saberem que não era uma boa ideia me confrontar quando eu estava nesse... "estado".

Ignorando Reid e sua fúria, eu recostei minhas costas no sofá, peguei meu charuto e voltei a encarar a televisão inexpressivamente.

- Foi apenas um aviso. Não cobice o que não é seu - o adverti, os olhos presos na tela.

Reid, então entendeu que eu o peguei olhando para Angelique. Ele bufou, mas ficou quieto. Como eu disse, todos eles sabiam melhor do que me confrontar quando o assunto era Angel. Eu me transformava, e nada era capaz de me deter.

Essa garota ainda me faria cometer assassinatos e ir parar na cadeira elétrica.

De repente, do nada, ouço a gargalhada de Pogue ecoar pela sala.

- Ah, cara... Eu vivo dizendo, alguém ainda vai acabar morto em uma dessas Game Nights.

Internamente, rolei os olhos.

Como eu disse... Sádico.


𝓒𝓸𝓷𝓽𝓲𝓷𝓾𝓪...




[1] FBI.

[2] Disco de hóquei.

[3]"Meu amor" em gaélico irlandês (pronuncia-se 'graw')


Acompanhe o Status de Reescrita de Irish Eyes pelo canal do livro no Telegram.

Link na bio do perfil da autora.


Continue Reading

You'll Also Like

153K 16.9K 28
Camila é uma jovem que depois de terminar seu relacionamento, resolve curtir a vida sem se importar com nada e após uma louca noite de curtição, sua...
130K 9.6K 30
📍Sicília - Itália Gina Pellegrine é uma menina doce e inocente criada sob educação religiosa, que conquista os olhares de todos aonde quer que pass...
555K 56.2K 84
🚫DARK ROMANCE - HARÉM REVERSO🚫 ▪︎ Se você é sensível a esse conteúdo NÃO LEIA! Eu fugi dos meus companheiros. Eu lutei para que eu pudesse fica...
484K 18.2K 67
Imagines com os personagens de House Of The Dragon ☆ ᵃˢ ʰᶦˢᵗᵒʳᶦᵃˢ ˢᵃ̃ᵒ ᵈᵒ ᵗᵘᵐᵇˡʳ