Trocados

7

Um pequeno sorriso enfeitava o rosto de Hashirama enquanto ele organizava os poucos objetos que estavam espalhados por sua mesa.

O trabalho era pouco e seu dia estava tranquilo. Com sorte, poderia colocar um clone de madeira em seu lugar e passar a tarde com seus irmãos.

Estava um pouco preocupado com Tobirama...

Há alguns meses, notou que seu irmão mais novo não estava dormindo durante as noites. Ele disfarçava bem, mas Hashirama conseguia ver perfeitamente o quão exausto ele estava; fora as vezes que o pegou cochilando durante os dias.

Nos últimos dias, Tobirama se mostrou um pouco melhor. Além de estar dormindo mais, ele passava mais tempo com seus irmãos - ainda sorria abertamente ao se lembrar do dia em que os pegou brincando juntos na cozinha.

Mas em compensação, ele aparentava estar um pouco... triste. Muitas vezes, Hashirama o pegou olhando para a janela e suspirando.

Tobirama não tinha o costume de demonstrar o que estava sentindo. E vê-lo de tal forma era preocupante...

  - Entre - disse após ouvir as batidas da porta que interomperam seus pensamentos.

Ao ver Madara cruzar a porta, o coração do Senju se encheu de calor e felicidade; do jeito que sempre sentiu ao ver seu melhor amigo.

  - Está ocupado? - Ele perguntou direto, mas Hashirama não se importou. Já estava mais do que acostumado com o jeito dele.

  - Não não, pode vir - respondeu sorrindo, observando o Uchiha se aproximando da cadeira em frente a sua mesa.

Madara caminhou lentamente até a mobília e se sentou nela, colocando os documentos que trouxe encima da mesa.

  - O Izuna está estranho... - contou em um tom pensativo.

Hashirama o fitou curioso.

  - Oh? Por que acha isso?

  - Ele me massacrou no Shogi alguns dias atrás...

O Senju arregalou os olhos.

  - Não brinca?

Conhecia bem o gosto do amigo por aquele jogo extremamente complicado; também sabia o quão habilidoso ele era neste, e como ninguém nunca havia o derrotado antes.

  - É...

  - Mas é só por isso que você acha que ele está estranho?

Madara queria mais do que tudo responder que sim, mas estaria mentindo se o fizesse.

Não era difícil perceber que algo estava incomodando seu irmão profundamente. Ele estava mais afastado e, algumas vezes, o pegou agindo de uma forma estressada; fora os olhares cansados e as olheiras que ele tanto tentava disfarçar.

Sem contar as habilidades secretas que ele demonstrou ter...

  - Não. Ele mudou de um dia para o outro... - comentou pensativo. - Ele aprendeu a cozinhar e parou de xingar tanto; além de aparentemente se tornar um mestre do Shogi.

  - Nem tudo o que você citou é ruim - apontou o Senju.

Madara suspirou pesadamente, apoiando os braços na mesa.

  - Não é apenas isso - retrucou. - Ele também está afastado, parece cansado e se irrita com facilidade.

Sua preocupação aumentava à cada dia. Izuna e ele sempre tiveram o costume de contar um ao outro quando algo os incomodava; mas ultimamente, o mais novo parecia estar lhe escondendo algo.

  - O Tobirama também está um pouco diferente... - acrescentou o Senju. - Ele parece tão desanimado ultimamente.

Ao ouvir o nome do Senju mais novo, Madara fez uma careta.

  - Falando no seu irmão, você acredita que aquela praga teve a audácia de me abraçar alguns dias atrás? - Perguntou irritado.

Hashirama caiu da cadeira.

Literalmente.

  - O QUE!? - Perguntou abismado e um pouquinho (bem pouquinho) irritado ao mesmo tempo.

  - Aparentemente, Izuna o desafiou a fazer isso, mas eu ainda não consigo acreditar que ele teve a coragem - o Uchiha se defendeu, estranhando um pouco a leve irritação na voz de seu amigo. - Aquele maldito não sai mais da minha casa.

Hashirama quase caiu da cadeira de novo.

Tobirama estava mesmo saidinho esses dias. Então era na casa dos Uchihas que ele estava indo?

Mas por quê?

  - O Tobi têm te visitado tanto assim? - Sua voz tomou um tom enciumado e ele não sabia o por quê.

  - Não à mim, mas o meu irmão - respondeu, um tanto emburrado. - Os dois parecem estar trabalhando juntos em uma técnica nova ou algo do tipo. Apenas sei que não aguento mais ver a cara dele na minha casa.

Na verdade, a presença de Tobirama não o incomodava tanto assim, o que era realmente estranho. Sempre que se viam, o Senju não lhe olhava com ódio ou tentava iniciar uma discussão.

Fora o estranho modo educado em que ele esteve se comportando.

Já Hashirama, ficou bastante surpreso com as notícias. Tobirama não tinha o costume de dividir as técnicas dele com ninguém...

  - O Tobi sempre preferiu trabalhar nos jutsus dele sozinho, isso só pode significar uma coisa... - o Senju fez um pouco de suspense, analisando suas paranóias minuciosamente. - Eles devem estar namorando!

Dessa vez, foi Madara quem quase caiu da cadeira.

Certo, não havia motivos para tanto drama. No fundo de sua mente, também já havia pensado em tais possibilidades. Izuna estava mudado e, aparentemente, Tobirama também; os dois se viam frequentemente e, pelo pouco que pôde observar, não discutiam com muita frequência.

Se este fosse o caso, aceitaria, com um pouco de receio; por mais que se sentisse um pouco incomodado, afinal, aquele Senju nunca gostou dos Uchihas; mas talvez, ele tenha mudado suas visões. Se ele fazia seu irmão feliz, era tudo o que importava.

Entretanto, este não era o único problema. As mudanças de Izuna não foram todas boas; nos últimos dias, ele aparentava estar à ponto de desabar. E Madara sabia que Tobirama não tinha nada a ver com este comportamento em específico; era algo pessoal.

  - Não podemos ter certeza... - o Uchiha disse por fim.

Hashirama o encarou com um sorriso travesso.

  - E se dermos uma espiadinha neles? - Sugeriu animado.

Proposta tentadora...

  - Você não tem trabalho para fazer não? - Perguntou com os braços cruzados. Conhecia bem o hábito do amigo de cabular o trabalho vez ou outra.

  - Hoje está tranquilo, posso colocar um clone de madeira no meu lugar por algumas horas - explicou, se levantando da cadeira e indo em direção ao Uchiha. - Vamos, por favor?

Madara grunhiu baixo quando Hashirama começou a puxar seu braço, o forçando a se levantar da cadeira. Por mais infantil que tal ideia de seguir os dois soasse, o Uchiha sabia que cederia aos pedidos do amigo.

Por certa razão, não conseguia negar nada à Hashirama.

  - Seu irmão vai saber que estamos seguindo ele, os sensores dele vão nos entregar - apontou o Uchiha, enquanto se deixava ser arrastado pelo amigo até a porta.

  - Não se preocupe, eu criei uma técnica que vai conseguir esconder nosso chakra do Tobi por alguns minutos! - Informou com animação. - Nós só não podemos ficar muito perto deles.

Madara ergueu uma de suas sobrancelhas com a explicação do amigo.

  - Você criou essa técnica só para dar suas escapadas? - Perguntou rindo.

  - Err... Talvez...

O Uchiha até pensou em repreender o Senju, mas ele estava tão animado que resolveu por não o fazer. O sorriso de Hashirama era realmente encantador, e...

Espera, o que raios estava pensando?

  - Só vamos logo, eles devem estar na minha casa, como de costume - revirou os olhos ao dar a informação.

  - Nós realmente vamos!? Obrigado! - Hashirama agradeceu e abraçou Madara fortemente em seguida.

Por mais que já estivesse acostumado com o jeito exageradamente carinhoso de seu melhor amigo, seu coração sempre dava um sobressalto quando ele o abraçava.

  - T-Tá, chega, só vamos logo... - disse com a voz meio abafada, tentando empurrar o Senju para longe.

  - Vamos vamos, só me deixe criar um clone de madeira antes.

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Ao passar dos dias, Tobirama e Izuna caíram em uma similar rotina.

Durante as manhãs e boa parte das tardes, os dois trabalhariam em casa, organizando documentos e cuidando dos assuntos relacionados aos clãs - felizmente, não houveram muitas turbulências por estarem fazendo o trabalho um do outro.

No fim das tardes, os dois se encontrariam na casa do Uchiha - por insistência de Izuna - para trabalharem juntos na nova técnica Suiton de Tobirama. Também se encontravam com o pretexto de contar um ao outro como as coisas estavam indo.

Por conta disso, não restava muito tempo para Tobirama trabalhar na cura para as trocas. Exceto durante as noites; onde o Senju tirava proveito de sua falta de sono para se aprofundar em sua pesquisa. Apesar de não fazer isso todos os dias, seu corpo ainda tinha dificuldades para se recuperar do cansaço.

Por este motivo, se encontrou bocejando pela sétima vez naquela tarde.

  - O que precisamos resolver agora é a intangibilidade da técnica - colocou a mão sobre a boca enquanto falava, tentando cobrir sua sonolência. - Do modo que nada passe através dela.

Izuna rolou no tapete em que estava deitado e fitou o teto por alguns segundos, perdido em seus pensamentos. Ao contrário do que imaginou inicialmente, trabalhar com Tobirama não era de todo ruim; estar com ele lhe trazia uma estranha calmaria.

  - E se você mesclar o chakra de um modo mais aproximado? - Sugeriu, analisando com calma sua linha de pensamento. - Eu tenho a impressão de que isso tornaria a técnica mais difícil de ser derrubada.

  - E de que fontes você tirou esse fato? - O Senju perguntou curioso.

Izuna voltou seu olhar para o outro no recinto.

  - Confia - disse por fim.

Tobirama revirou os olhos. Izuna e sua mente criativa...

  - Nunca vi fonte mais confiável... - murmurou de uma forma sarcástica. - Mas faz sentido; a água se torna mais densa e viscosa quando suas moléculas estão mais próximas umas das outras, talvez isso também funcione com o chakra.

O sorriso que surgiu em seu rosto com a descoberta fez o coração de Izuna palpitar de repente. Tobirama realmente adorava aprender, era encantador...

Mas quando o Senju se deitou no tapete e começou a escrever, as madeixas negras se desprenderam do desajeitado coque que ele havia feito, permitindo Izuna à ver o desastre em que seus cabelos estavam.

Visivelmente embaraçados, desajeitados, com frizz para todo lado.

  - Tobirama...

  - O quê?

  - Quando foi a última vez que você lavou meu cabelo?

  - Eu não lavei.

  - ...

  - ...

  - COMO É QUE É!?

E a calmaria foi-se embora.

Após seu súbito grito - que quase fez o Senju rasgar a folha em que escrevia por causa do susto -, Izuna se levantou e foi até Tobirama, o puxando para que ele se sentasse.

  - Não grita - ele reclamou em um tom de voz calmo, estava com muito sono para discutir.

  - Como você não quer que eu grite!? - Ele exclamou, puxando as longas madeixas que agora pertenciam ao Senju. - Eu tenho até medo de contar os dias que estamos trocados e saber por quanto tempo você negligenciou meu cabelo...

  - Oito dias.

  - NÃO ERA PARA VOCÊ ME CONTAR! - Izuna gritou irritado. - Por que você fez isso com a minha vida?

Tobirama tentou se soltar do agarro do Uchiha, mas ele puxou seus cabelos para o manter no local.

  - Deixa de ser dramático, eu não lavei porque não tive tempo - não era exatamente uma mentira. - E paciência...

Izuna bufou irritado e se levantou, forçando o Senju a fazer o mesmo.

  - Vem. Nós vamos lavar ele agora.

  - Nós?

  - Sim. Nós.

  - Mas eu não quero.

  - Não interessa! Não vou deixar você transformar o meu cabelo em um ninho de ratos!

  - Me solta, seu ridículo!

  - Não, seu desleixado.

Os dois discutiram até chegarem no topo da escada, onde Izuna arrastava Tobirama até o quarto do Uchiha.

[...]

Enquanto isso...

  - Faça menos barulho, seu desastrado!

  - Ai, foi mal...

Por medo de chamar a atenção dos mais novos, quando Hashirama e Madara chegaram na casa do Uchiha, decidiram entrar por uma das janelas que dava acesso ao segundo andar.

E como esperado, Hashirama não sabia ser sutil e discreto em tal situação. Ele esbarrou os cotovelos nas trancas da janela, bateu a cabeça no topo, se entalou um pouco; e por fim, caiu no chão.

  - Você está bem? - O Uchiha perguntou em um tom preocupado ao ver o Senju se levantar do chão meio tonto.

  - Eu morri mas passo bem - disse ao colocar uma das mãos na testa. - Agora vamos achar aqueles dois.

Apesar da destreza, Madara não pôde deixar de sorrir ao presenciar o vergonhoso - e um tanto encantador - comportamento de seu amigo. Por mais que implicasse com ele às vezes, não queria de maneira alguma que ele mudasse.

Os dois seguiram juntos até o final do corredor, que dava acesso às escadas. Porém, cessaram os passos ao escutarem vozes se aproximando.

  - Eles estão subindo... - Madara sussurrou. - Devem estar indo para o quarto do Izuna.

  - Então vamos nos esconder!

O Uchiha se assustou quando Hashirama agarrou seu braço repentinamente, o arrastando rapidamente para o quarto de Izuna. Aquele desastrado quase o fez bater o rosto na parede quando cruzaram a porta às pressas.

Em meio ao desespero e o medo de serem pegos pelos mais novos, Hashirama só conseguiu pensar em uma solução: tacou Madara dentro do armário de Izuna e se enfiou lá dentro junto com ele, fechando a porta em seguida.

  - O-O que pensa que está fazendo!? - O Uchiha perguntou meio nervoso, havia batido as costas na madeira do armário com a força que fora jogado neste.

  - A gente precisava se esconder... - o Senju respondeu em voz baixa, tentando se ajeitar no pequeno espaço que lhe era proporcionado.

Madara prendeu a respiração quando sentiu o torso de Hashirama lhe pressionando contra a parede do armário. Estava estranhando profundamente todo aquele nervosismo que estava sentindo.

  - Não precisava ter me jogado aqui com toda aquela força... - reclamou emburrado.

Quase deu um pulo quando sentiu as mãos do Senju subindo por suas costas.

  - Desculpa! Machucou muito? - Ele perguntou em um tom carinhoso. - Quer um abraço pra sarar?

Madara reprimiu um grunhido quando seu rosto começou a esquentar. Aquele armário estava tão quente.

  - Não, seu idiota - respondeu apressado. - E faz silêncio que eles devem estar chegando.

Como se o destino quisesse lhe provar certo, a porta do quarto de Izuna se abriu repentinamente. Hashirama abriu uma pequena fresta da porta do armário para poder espionar os dois.

O armário de Izuna ficava em um canto afastado do quarto, por isso, não podiam escutar muito bem o que os dois estavam falando.

Mas ver, por outro lado...

  - O que o bruto do seu irmão pensa que está fazendo? - Madara se inclinou para frente e apoiou as mãos nas costas do Senju para poder olhar melhor o que acontecia do lado de fora.

Pelo pouco que conseguiam ver da distância em que estavam, Tobirama estava arrastando Izuna pelo quarto aos berros.

  - N-Não sei... - Hashirama respondeu meio nervoso, pois a respiração quente do Uchiha em seu pescoço estava lhe causando um estranho calor em seu corpo.

Os mais novos então seguiram aos gritos até o banheiro. Izuna entrou no cômodo de braços cruzados, já Tobirama, pareceu suspirar aliviado e seguiu o Uchiha para dentro.

  - Por que eles entraram juntos no banheiro? - O Senju perguntou inocentemente.

Já Madara, estava pensando em uma hipótese mais absurda do que a outra.

  - Prefiro não saber... - disse com falso desdenho, quando na verdade, estava curioso e receoso ao mesmo tempo.

...

Enquanto isso...

  - Francamente... - Izuna reclamou enquanto tentava retirar o elástico que prendia as longas e desajeitadas madeixas do Senju. - Você é uma negação.

Tobirama estreitou os olhos quando sentiu o elástico ser arrancado de seus cabelos de uma forma bruta.

  - Seja mais delicado! - Exclamou irritado.

Com as madeixas dele finalmente soltas, Izuna tentou passar os dedos entre elas. Como esperado, eles se agarraram na raiz.

Aquele maldito Senju arruinou seu cabelo.

  - Tira a roupa.

  - O quê!?

  - Tira logo a roupa, Tobirama! - Gritou em frustração. - Ou você quer ficar com o manto molhado?

Finalmente entendendo o que o Uchiha queria, o Senju cruzou os braços e se afastou dele.

  - Pode sair, eu lavo o cabelo sozinho...

  - Você não vai dar conta! - Teimou o Uchiha.

  - Eu não vou tirar a roupa na sua frente, seu ridículo.

  - É só o manto, e o corpo é meu, para que tanta vergonha!?

  - É estranho...

Com a paciência a ponto de se esgotar, Izuna empurrou o Senju para dentro do box do banheiro com força, fazendo ele bater as costas na parede.

  - Anda logo! Você não quer me ver irritado!

Tobirama engoliu seco ao escutar o tom de voz raivoso do Uchiha. Por mais que já estivesse se acostumando com a troca, era difícil não se assustar com aquela expressão furiosa em seu próprio rosto.

  - Certo...

Com o rosto quente, levou suas mãos até o cordão que prendia o manto e o desfez lentamente, abrindo a veste e a deixando escorregar por seus ombros lentamente.

Era muito estranho estar se despindo na frente de si mesmo.

Já Izuna, sentiu um estranho formigamento na ponta de seus dedos ao presenciar a cena.

Engolindo o estranho e repentino nó que se formou em sua garganta, o Uchiha rumou até o box e ligou o chuveiro, quase molhando o Senju no processo.

  - Vamos, enfia a cabeça debaixo da água - ordenou.

Tobirama estava pronto para o fazer, mas cessou suas ações ao notar a temperatura desumana em que a água estava.

  - A água está muito fria, qual o seu problema!?

Izuna colocou a mão sobre a testa e respirou fundo. Por que Tobirama estava sendo tão difícil?

  - Porque só assim o frizz que você causou no meu cabelo vai embora.

  - Mas...

  - Enfia esse caralho logo! - Exclamou estressado, enfiando a cabeça do Senju de uma vez só embaixo do chuveiro.

Ele se debateu um pouco mas acabou por deixar o Uchiha fazer o que queria. A água fria que escorria por seus ombros estava lhe causando arrepios.

  - Viu só? Todo esse escândalo para nada - Izuna murmurou enquanto deslizava os dedos pelos cabelos.

  - O único que estava gritando aqui era você... - o Senju respondeu emburrado.

Izuna então retirou um frasco de shampoo do bolso, fazendo Tobirama erguer uma das sobrancelhas.

  - Esse shampoo é o da minha casa? - Perguntou curioso.

Izuna desviou o olhar para o lado, um tanto constrangido.

  - Sim, eu tive que pegar emprestado, esse shampoo é divino - explicou. - Eu trouxe ele comigo porque eu planejava te pedir para usar ele uma vez; quem diria que eu teria que te forçar...

  - Você não está me forçando a nada, estou aqui porque quero.

O Uchiha revirou os olhos.

  - Vai nessa - disse enquanto despejava uma generosa quantidade de shampoo nas mãos, as levando até os longos cabelos do Senju em seguida. - Você tem que começar massageando bem a raiz, depois você segue para as pontas, e...

Tobirama parou de prestar atenção no Uchiha depois da primeira frase. Estava aproveitando a estranhamente gostosa massagem que recebia.

  - ...Tobirama, você está me escutando?

  - Sinceramente? Não.

Izuna então lhe deu um forte tapa em suas costas desnudas, causando um forte estalo por conta da água que escorria no local. Tobirama sentiu o local arder, e suas pernas ficaram estranhamente bambas.

  - Então presta atenção, ou você quer que eu faça isso todos os dias?

O Senju negou com a cabeça, e então, passou a escutar as instruções do Uchiha com atenção.

E este era um dos vários motivos que o levaram a manter seus cabelos curtos. Era muita frescura...

  - Agora, vamos desembaraçar...

E foi aí que toda a calmaria se perdeu.

  - Ai!

  - Não reclame, você causou isso! - Exclamou o Uchiha, arrastando com força o pente entre os cabelos do Senju.

  - Vai com calma Izuna, está doendo!

  - Você aguenta! - Retrucou Izuna, desfazendo mais um dos diversos nós que embolava os cabelos alheios. - Nunca mais deixe meu cabelo chegar nesse estado.

  - Exagerado...

[...]

Enquanto os dois quase se matavam dentro do banheiro, Hashirama e Madara estavam escutando alguns gritos bastante sugestivo.

As vozes estavam baixas e abafadas por os mais novos estarem no banheiro; mas ainda assim, algumas frases puderam ser escutadas.

  - Seja mais delicado...

Hashirama e Madara se entreolharam.

  - Acho bom o maldito do seu irmão não estar machucando o Izuna... - o Uchiha sussurrou em um tom ameaçador.

Hashirama o olhou confuso, mas desistiu de falar quando mais vozes se fizeram presentes.

  - Tira a roupa logo, Tobirama.

Os mais velhos arregalaram os olhos.

  - Anda logo, você não quer me ver irritado.

  - Enfia esse caralho logo.

Madara recuou para trás e quase caiu, mas Hashirama segurou seus ombros à tempo e o estabilizou.

  - Madara... O que eles estão fazendo? - Perguntou confuso e com um pouco de medo.

O Uchiha levou o olhar para baixo tentando fugir do intrigante olhar de seu amigo.

  - Hashirama... Nem você é tão lerdo assim... - o Uchiha falou em voz baixa.

De repente, o barulho abafado de um tapa ecoou no local.

  - Vai com calma Izuna, está doendo.

  - Você aguenta.

Hashirama e Madara se entreolharam novamente, um repentino calor lhes subiu o rosto.

  - Acho que é o seu irmão que está machucando o Tobi... - o Senju mais velho murmurou envergonhado, sentindo o rosto queimar.

Constrangido, Madara concordou com ele. Ainda estava tentando processar tudo o que acabara de ouvir.

A luz que lhes era proporcionada era pouca, mas ainda assim, o suficiente para mostrar um ao outro o quão vermelhos seus rostos estavam. Madara desviou o olhar para o lado ao ver os curiosos olhos de Hashirama lhe observando.

Ele ainda estava segurando os seus ombros...

  - E-Eles estão saindo! - Alheio ao tormento interno do Uchiha, Hashirama exclamou ao ver Tobirama e Izuna deixando o banheiro.

O Uchiha saiu com os cabelos soltos e encharcados; não conseguia ver muito bem de onde estava, mas ele parecia um pouco irritado. Tobirama veio logo atrás, com as vestes superiores molhadas e uma expressão cansada em seu rosto.

  - Eles parecem... cansados... - Madara comentou em voz baixa, olhando com atenção Izuna se sentar na cama dele e Tobirama procurar algo na prateleira.

Tobirama então se sentou atrás de Izuna na cama, mexendo nos longos cabelos dele em seguida.

  - Que fofos... - Hashirama comentou com um sorriso no rosto.

Fofos?

  - Eu diria depravados... - retrucou o Uchiha com uma carranca. - Você tinha que nos esconder em um armário? Vamos ter que ficar aqui até que eles vão embora!

Além do intenso calor, ficar tão próximo de Hashirama estava deixando Madara bastante tenso. Eles estavam praticamente colados, conseguia sentir perfeitamente o peito do Senju subir e descer em cada respiração.

  - Eu fiz isso na hora do desespero - Hashirama tentou se defender, se ajeitando para tentar ficar mais confortável. - E então, como vai seu dia?

Madara trincou os dentes.

  - Como você acha que está indo?

[...]

Tobirama fechou os olhos ao sentir o delicado toque de Izuna em seus cabelos. Quem os visse agora, nem imaginaria que o Uchiha estava quase lhe arrancando as madeixas há poucos minutos atrás.

  - Promete que vai cuidar melhor dele? - O Uchiha perguntou em um tom de voz calmo, prendendo as longas madeixas delicadamente com o elástico.

O Senju revirou os olhos.

  - Quanto drama... - recebeu um leve puxão de cabelo. - Ai! Certo, certo, eu prometo.

Um breve arrepio correu seu corpo quando sentiu Izuna apoiar a cabeça em seu ombro. Virou a cabeça brevemente para trás e viu os fios albinos enterrados na manga de seu manto.

  - O que está fazendo? - Perguntou calmo. Sua proximidade com Izuna já não lhe incomodava tanto, apenas o deixava um pouco nervoso.

O Uchiha sorriu levemente com a pergunta do outro, fechando os olhos enquanto sentia o gostoso aroma do shampoo. Não soube de onde veio todo aquele comportamento carinhoso tão de repente, estava apenas... contente.

Tobirama estava aos poucos lhe mostrando um novo lado dele. Mais calmo, vívido, expressivo... Nunca pensou que o sério e recluso Senju poderia fazer tanto drama por causa de um simples pentear de cabelos.

Certo, talvez tenha exagerado um pouco, mas essa não era a questão.

  - Só descansando um pouco...

Tobirama soltou uma baixa risada sarcástica.

  - Descansando do quê? Eu fui o único que sofreu nessa situação - revidou emburrado.

Izuna riu baixinho e deslizou os dedos pelas costas dele. Desconhecido por ele, estava causando estranhos calafrios no outro.

  - Você acha que desembaraçar um cabelo desse tamanho é fácil? - Perguntou indignado, balançando os cabelos do Senju para dar ênfase em sua indagação.

Tobirama bufou, mas não acrescentou mais nada.

Os dois passaram longos minutos daquele jeito, próximos um do outro e descansando do exaustivo dia que tiveram. Nenhum queria admitir, mas estavam gostando de ficar assim.

Izuna então tomou uma decisão. Já que ele e Tobirama estavam mais próximos, queria mostrar ao Senju um de seus passatempos favoritos.

  - Tobirama.

  - Hm?

  - Você quer andar comigo pela aldeia?