As Galinhas do Có

By BatataFrita05

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Há muito tempo, nós imaginamos como poderia ser o fim do mundo. Apocalipse zumbi? Invasão alienígena? Um mete... More

Dedicatória
Notas da autora
Mapa, capas e asthetics
Capítulo II: As Galinhas do Có

Capítulo I: Galinhas Motoqueiras

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By BatataFrita05

Boa noite, este é o primeiro capítulo de AGDC e eu espero muito que gostem. É um livro que venho planejando por um tempo bem grande e que me trouxe muitas coisas boas. Me desculpem qualquer erro, ainda irei revisar novamente este capítulo. É isso, boa leitura para todos vocês.

O sol brilhava ao meio dia, como se fosse cegar qualquer um que o olhasse pelo mínimo de tempo possível, transmitindo um calor insuportável que chegava a estressar qualquer um. 
A paisagem era cercada por rochas e montanhas alaranjadas, colossais e de formações peculiares e variadas. A vegetação rasteira pelo solo de terra colorida, que ia do amarelo até o vermelho intenso. No meio da estrada, um grupo de galinhas motoqueiras — E sim, você não leu errado. Galinhas maiores do que o normal, com penas e tudo. — Andavam em suas motocicletas, usando jaquetas de couro, com seus óculos de piloto e capacetes, em uma velocidade considerável em meio a estrada vazia e desgastada. Logo na frente delas, uma galinha em especial parecia liderá-las. Suas penas eram de um belo marrom canela, diferente das outras ela usava um simples e estiloso óculos de sol, sua motocicleta era de um vermelho alaranjado e em sua jaqueta alguns bottons, um deles com as cores rosa, amarelo e azul, nesta ordem. Em seu braço esquerdo, uma cruz branca dentro de um zero cortado vermelho e acima do símbolo, estava escrito “No gods”. Já em seu braço esquerdo, apenas um bordado com a placa do antigo estado americano. A jaqueta também possuia algumas pequenas pedras pontudas e bolsos, sujos de poeira.

Após passarem rapidamente por uma placa um tanto quebrada, que continha uma estrela que parecia disparar as cores vermelho e amarelo em forma de listras, com a seguinte mensagem: "Deserto das Presas, seja bem-vindo!”, elas deixavam a região de Sarizona, entrando então no deserto conhecido pelas serpentes gigantes da região, e claro — Segundo vários animais. — Um dos melhores estabelecimentos de toda a Ilha de Sonatra, o Honey Bar. 
Carros abandonados, que eram usados pela antiga raça dominante da terra, os humanos, estavam totalmente tomados pela poeira e alguns deles pareciam ter plantas crescendo entre as suas rodas e janelas quebradas.
Conforme elas se aproximavam, o bar próximo ficava cada vez maior. Era um tanto quanto antigo, lembrando os antigos bares do velho oeste, marcados pelos famosos cowboys. Em letras alaranjadas e vermelhas, estava escrito “Honey Bar”. Uma placa ao lado tinha um Texugo com as vestes destes de um vaqueiro, segurando um pote de mel.
A galinha que liderava as outras, levantou uma de suas asas que em sua ponta, continham quatro penas grandes, que pareciam ter as mesmas funções dos dedos humanos. Ela fez um sinal para as outras três, que fizeram que sim com as cabeças e apenas entraram em uma fila, controlando a velocidade para que não batessem umas contra as outras. 
Em frente ao bar, tinha um pequeno estacionamento onde as vagas marcadas no chão eram quase que totalmente cobertas pela poeira trazida pelos ventos fortes. 
A galinha acelerou até o estacionamento, parando a motocicleta ao lado de um fusca velho e amarelo. As outras galinhas pararam em vagas ao lado oposto de sua líder. Ela tirou o capacete, o colocando no volante da motocicleta, e quando olhou para o carro, soltou um grande suspiro.

— Isso vai ser um saco. — Disse a misteriosa galinha, que ao apear da motocicleta, se dirigiu a uma das galinhas, que tinha uma penugem cinza, que se escurecia nas penas pontudas de suas asas e também na área próxima ao bico. 

— Ele está sempre aqui, quando estamos aqui. É impressionante! — Exclamou a galinha cinza. 

— Vamos só beber e vazar, sem brigas. — Disse a galinha da penugem marrom canela.

A galinha de óculos escuros fez um sinal com a cabeça, para que as outras três a seguissem para dentro do bar.

— Regra número um, não é Jurema? — A galinha cinza abaixou os óculos de proteção, o deixando pendurado no pescoço como uma bandana.

— Não arrumar briga com nenhum pato religioso idiota, por mais idiota que ele seja. Eu conheço a regra, fui eu que fiz ela. — Respondeu a galinha marrom, do qual nome era Jurema. 

No bico de Jurema tinha uma rachadura, que era a marca registrada dela. E o rumor por trás daquela rachadura era o motivo pelo qual a maioria dos bichos da Ilha de Sonatra tinham um medinho dela. Talvez você queira ficar e saber melhor que história é essa aí, pois Jurema é meio insana. — Provavelmente a galinha mais doida que vocês irão conhecer. — E o que não falta são histórias dela para contar. 

— E você sempre é a primeira a quebrá-la. — Por mais que ela tivesse um bico no lugar de dentes, sua expressão parecia esboçar um pequeno sorriso. 

— Cala a boca, Dolores. — A galinha marrom a repreendeu, enquanto Dolores ria de sua companheira. 

Fora das motocicletas, era possível observar melhor aquele grupo curioso de amigas de pena. Eram galinhas normais, tirando o fato de terem o tamanho de crianças humanas, falarem, andarem em motocicletas e estarem vestindo jaquetas pretas, que logo atrás em suas costas tinha um grande desenho bordado e colorido em um formato de círculo, no qual havia uma galinha branca também vestida com uma jaqueta, que usava um óculos de sol, com chamas em suas lentes, como se ela observasse uma grande explosão, e no fundo um simples laranja vivo. Este desenho estava bordado na jaqueta de todas as galinhas, que agora entravam no bar.
Honey Bar também parecia ter uma estética rústica, como do lado de fora. Algumas mesas eram distribuídas pelo não tão grande estabelecimento, com uma mesa cheia de bolinhas coloridas e uma bola única que parecia um tanto peculiar, perto dela tinha uma escada que levava até onde o dono do estabelecimento ficava quando o fechava. 

Quando as galinhas entraram, logo dão de cara com Seu Zé, que tinha uma espiga de trigo na boca. Um texugo de pelagem preta e com pelos esbranquiçados que iam de suas costas até a sua cabeça, por cima dos pequenos olhos negros. Ele estava logo atrás da bancada, limpando alguns de seus queridos copos de vidro colorido, os segurando cuidadosamente com suas patas, que tinham garras bem afiadas. Apesar de sua aparência meiga, Seu Zé era doidinho da cabeça e tinha coragem até para peitar o povo de Aricotra, caso fizessem baderna em seu precioso e querido bar. Na frente da bancada, tinha alguns banquinhos, onde geralmente as galinhas se sentavam.
Elas caminharam até eles para se sentarem, foi aí que Jurema olhou para o lado e viu três patos sentados em uma mesa ao lado, rindo enquanto conversavam. Eram eles: Pato Frederico e seu grande grupo de amigos composto por dois patos: Marquinhos e Jairo.
Logo ao os ver, por mais que os óculos escuros não permitissem que vissem seus olhos amarelados, ela os revirava. 

As risadas cessaram e logo os três patos as olhavam de forma discreta. — Ou eles apenas achavam que estavam sendo discretos. — E disfarçaram os olhares. 
O papel de ator dos três era medíocre, pois as quatro galinhas já tinham percebido os olhares estranhos dês de quando eles as viram.

— Zé. — Jurema chamou a atenção do texugo. 

Seu Zé no mesmo instante olhou para elas sorrindo, elas estavam sentadas nos banquinhos em sua frente. O brilho no rosto do velho texugo logo foi sumindo, mudando a cara para um olhar de desdém e cansaço. Sem mover o rosto ele apenas olhou para os patos ao lado, com a mesma cara. 

Ele soltou uma pequena risadinha que mais parecia ser de desespero do que de alegria, começando então a secar os copos com mais velocidade, agora olhando para eles. 

— Não não não não não! — Exclamou o texugo. — Isso nunca dá certo! — Ele parecia tentar manter o controle. 

— Nós só viemos beber o seu famoso suco de cacto, Seu Zé. Viemos de longe somente para isso, o senhor não fará essa desfeita conosco, não é? — Jurema tentava o convencer de que não era preciso surtar. 

— Zero preocupações para você, não é Jurema? — Ele já estava todo nervosinho. — Sabe o quanto viajei para catar outros copos como estes? — Sua voz rouca de idoso se tornou um pouco mais dramática. — Os humanos não estão mais aqui para fazer isso! — Ele guardou os copos em um canto da mesa. 

— Se o senhor sair cavando por aí vai achar vários desses, do jeito que os humanos adoravam jogar as coisas em qualquer lugar e deixar para lá. — Disse uma das galinhas, que tinha a penugem bege. 

— Você vai ficar cavando por todo o Deserto das Presas neste sol dos infernos? Acho que não, querida. — Seu Zé responde. 

— Tanto faz Seu Zé! Apenas nos sirva quatro copos de suco de cacto e eu trago até copos coloridos para você. — Jurema respondeu tentando cortar logo o assunto. 

— Co... coloridos? — Ele parecia um pouco mais animado, a ponto de esquecer por breves segundos a real situação.

— Vermelhos, azuis, verdes... — Jurema cruzou as asas.

— É... Enfim. — O texugo balançou a cabeça. — De qualquer jeito vocês vieram aqui para nada, os seus amiguinhos ali acabaram de pedir as últimas garrafas que eu tinha. — As galinhas no mesmo momento olharam juntas para a mesa dos patos, onde eles se deliciavam com a famosa bebida. — Mas ainda tenho Flores de Cacto fritas, coquetel de mel e o suco das famosas jabuticabas paraíso! — Ele disse alegre, mas logo viu o clima ao redor de seu estabelecimento ficando o menos leve possível. — Jurema? Dolores? — Ele as chamou, trocando o olhar rapidamente para as duas, que encaravam os patos com desdém. 

Um deles, de penugem branca, olhos pretos, um bico amarelado, que usava uma gravata borboleta laranja de pequenas listras de um amarelo alaranjado. Este era Pato Frederico, filho de Dona Gertrudes. — A velha louca, de acordo com Jurema. — E líder da Seita dos Patos. Eles não iam muito com a cara das galinhas não, principalmente com a de Jurema, que com cada tentativa que arranjavam para convertê-la pela palavra do Deus Quack, ela rebatia os zoando, o que os deixava irritados. Mas isso não é de agora não, essa rivalidade aí roda a Ilha de Sonatra há muito tempo.
Frederico virou um pouco a cabeça, dando uma pequena olhada para as quatro galinhas que olhavam para ele e seus amigos, como se quisessem pegar em seus pescoços. Ele demonstrava uma expressão de felicidade, claramente satisfeito por estarem se deliciando da famosa bebida de Seu Zé.
Aquilo sorriso deixou Jurema coçando de raiva.

— Ele está claramente rindo das nossas caras. — Disse Jurema baixinho para suas companheiras, sem tirar os olhos do pato que tanto desgostava. 

— Relaxa aí Jurema, nós podemos só ignorar a existência desses patos asquerosos e beber outra coisa. — Disse Dolores, colocando a asa sobre as costas da amiga. 

Pato Frederico colocou o canudo no bico, bebendo o suco de cacto, fazendo um barulho alto de propósito. 
Um dos olhos da galinha de penugem marrom parecia tremer um pouco, como se ela tivesse um tique. 

— Jurema. - Dolores novamente chamou a atenção da galinha.

Após alguns segundos o encarando, Jurema fecha os olhos por alguns instantes e respira fundo, os abrindo novamente e ajeitando no banco, olhando agora para Seu Zé, que só estava esperando uma grande confusão para fazer um barraco e os expulsar. 

— Eu vou querer o coquetel de mel. — Disse Jurema.

— É para já, minha patroa. — Respondeu Seu Zé, aliviado e preparando os drinks.

Apesar de um pouco incomodada pela audácia do pato, Jurema resolveu só tentar não quebrar a regra número 1. 

— Que deselegante vocês não nos cumprimentarem, irmãs. Mas que Deus Quack esteja com vocês e que as levem para o paraíso. — Disse Pato Frederico, que no momento não parecia querer converter ninguém, apenas perturbar a galinha que ele tanto detestava.

— Frederico, pelo amor de Deus Quack. — Disse Marquinhos, um pato de cabeça verde iridescente, com asas e a barriga acinzentada. Ele era um pouco mais alto que Frederico.

— Deixa ele, Marquinhos. — Rebateu Jairo dando um gole na bebida. Ele era um pato de penugem preta, baixinho demais para a sua espécie.

— Paraíso? — Jurema bebericou a bebida de cor dourada. — Pensava que já estava no inferno quando vi você aqui. — Ela se manteve séria.

Frederico a olhou indignado, Marquinhos colocou as penas de uma das asas sobre o rosto, já Jairo. Jairo queria era que o barraco rolasse solto.

— Depois que você ficar aqui quando o patocalipse acontecer, não venha ficar me gritando ao ver que fui para o paraíso com Deus Quack, sua galinha ingrata! — Frederico gritou.

Jurema instantaneamente começou a rir, ainda olhando para Seu Zé, que parecia estar puto, mas no fundo, com uma grande vontade de soltar uma risadinha.

— Você ainda tá nessa fantasia de pato sei lá o que. Na hora que você virar para mim e falar que está sendo levado pelo patão gigante, eu vou no mesmo instante procurar alguém que cuide de loucos. — As outras galinhas começaram a rir.

Frederico franziu o cenho, encarando com dureza. Jairo soltou uma pequena gargalhada, batendo a asa na mesa. Marquinhos no mesmo instante bateu na cabeça dele com uma das asas, o olhando com reprovação. No mesmo instante Jairo lembrou que já era um pato adulto e deveria manter a sua pose, ficando sério instantaneamente.

— Sua herege! Como ousa falar assim dele? Ele não é um patão gigante. — Falou Pato Frederico de forma raivosa, fazendo aspas com as penas. — Ele é o Deus Quack, nosso salvador. E que ele tenha misericórdia de você! — Sentado na mesa, ele a encarava.

Sem mexer a cabeça, Jurema o seguiu com os olhos, ainda imóvel e com um  olhar de cansaço. Seu óculos escorregou um pouco sobre seu bico, dando para ver que ela o olhava da cabeça até suas patas aquáticas. Jurema se virou para ele, ainda sentada no banco. A galinha voltou a olhar nos olhos do pato, mexendo um pouco a cabeça para o outro lado, colocando o canudo no bico e bebendo um pouco mais do coquetel.

— Não tem como ser herege de algo que você nem sequer acredita que exista, patinho. — Com sua voz, ela deu ênfase em patinho. — Para mim isso tudo não passa de uma história para fazer os filhotes serem obedientes, me poupe. — Jurema o encarou com desdém, se virando novamente para suas amigas que sorriam.

Frederico rapidamente se levantou da mesa, indo até ela com seu andar ainda mais desengonçado.
Antes que chegasse perto, no mesmo momento a galinha sai do banco, dando de cara com ele, o olhando irritada, como se quisesse saber o que ele pretendia fazer.

— O que foi... patinho? — Jurema tirou os óculos escuros, o entregando para uma das galinhas atrás dela, que apenas o pegou, não a interrompendo. — Ia tacar um de seus livros em mim para me converter? — Ela se aproxima dele, forçando o pato a andar cautelosamente para trás.

Ele a olha de cima para baixo e também para os lados, tendo dificuldade em manter o foco em seus olhos, devido ao nervosismo.

— Olha na minha cara enquanto eu estiver falando com você, eu em. — Jurema o repreendeu. — Vem todo com o bico empinado e agora não consegue nem olhar nos meus olhos? — Ela não desvia o olhar dele.

— Não me... não me chama de patinho, sua galinha estúpida. — Totalmente nervoso, ele a encara, pensando que iria no mesmo instante levar um soco.

Jurema agarra em sua gravata borboleta e a olha.

— Nossa, que fofo. — Ela diz de modo irônico, a puxando para ela. — Vê se não banca mais o debochadinho e bom samaritano para cima de mim não. Pare de me aporrinhar, que eu não tô com saco para isso não — Ele a encarava com os olhos arregalados.

— Olha só, se vocês não pararem com essa algazarra toda aí, vou colocar vocês para fora, nem que seja na marra. — Gritou Seu Zé. — Controla essa galinha doida aí, Dolores. — Ele olhou para a galinha de penugem cinza.

— Jurema, larga o Frederico logo, já deu. — Marquinhos se levanta um pouco preocupado e de modo calmo se aproxima. — Jurema o encara com um olhar descontrolado. 

— Eu não quero arrumar confusão com vocês não, larga ele sua louca. — Disse Jairo também se aproximando.

Jurema encara o pato de penugem preta.

— Você não me encara, porque não tem peito. — Jurema diz a ele com sutileza.

Na mesa do jogo de bolinhas coloridas, uma das bolas em especial começa a se mexer. Surpreendentemente, não se passava de um pequeno tatu-bola, que servia como a bola principal do jogo. O pequeno animal encarou os patos e as galinhas e não perdeu tempo, vazou de lá de cima, se escondendo em uma das mesas mais distantes.

— Você é uma galinha bem da arrogante em. — Disse Jairo que além de gostar de ver o circo pegar fogo, ele resolve apagar o incêndio com gasolina. — Tá achando que é porque você é líder de uma gangue, usa essas jaquetas maneiras aí e bota medo em uma galera por causa dessa sua rachadura meia boca, que eu vou ficar com medinho de tu? Pelo amor de Deus Quack, fica aí se segurando, quem não tem peito é você. — E foi neste exato momento que Jairo, o pato, assinou a sua morte.

— Você não meteu essa — Disse uma das galinhas, que tinha a penugem amarela.

— Você quer que eu diga de novo? — Jairo afrontou, erguendo as asas. — Você é que não tem peito, Jurema. Muito rumor e poucas ações! — Jairo chegou em um nível que nem parecia perceber o que estava dizendo.

Ele estava confiante e tão orgulhoso de ter desafiado uma das galinhas mais loucas de Sonatra, que nem percebeu o grande murro que ele levou no bico e que o deixou rapidamente jogado no chão, meio desnorteado.

— PAREM DE BRIGAR NO MEU BAR! — Gritou Seu Zé, mas ninguém o ouviu.

Jurema novamente quebrou a regra número 1 onde não deveria arrumar brigas com nenhum pato religioso idiota, por mais idiota que ele seja.
Naquele momento, começou a baderna. Dolores jogou Frederico no chão, quando Jairo se levantou, tentando se recompor, Jurema já tinha partido para cima dele, desviando de seus golpes sem técnica com muita facilidade.
O som de mesas e cadeiras sendo jogadas no chão, junto das garrafas quase vazias deixou o coração de Seu Zé em pedaços. O velho estava ficando doidinho com aquela algazarra toda.

— É MELHOR VOCÊS SAÍREM DO MEU BAR! — Novamente ninguém escutou.

A galinha de penugem bege, no momento da raiva pegou um dos copos da bancada, fazendo com que Seu Zé arregalasse os olhos, indo com as patas até o copo na tentativa falha e impedir que a galinha o pegasse. Ela jogou o copo contra Marquinhos, que por pouco desviou.
O som do copo se quebrando contra a parede e os cacos de vidro no chão fizeram com que Seu Zé colocasse as patas sobre a cabeça, com a boca aberta revelando seus dentes um tanto quanto afiados.

— MEU COPO! MEU COPINHO! Eu demorei tempos para achar ele! — Seu Zé se lamentou por perder um de seus preciosos copos. — NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO! DE NOVO NÃO! — Ele gritou com uma mistura de desespero, raiva, tristeza e dor.

— EU VOU FAZER VOCÊS PEGAREM ESSA RELIGIÃO INVASIVA DE VOCÊS E ENFIAREM EM UM LUGAR QUE VOCÊS NÃO IRÃO GOSTAR! — Gritou Jurema, que agora estava correndo atrás de Pato Frederico, que insistia em ficar atrás das mesas, tentando fugir ao máximo dela.

— Na nossa religião ensinamos o amor e a compaixão! — Disse Frederico tentando manter a acalmar.

— A única coisa que você me causa, seu patinho de andar esquisito. — Frederico a olhou incrédulo e com certo ódio. — É ter raiva só de ver essa sua carinha ridícula! — Ela grita com ele, enquanto os outros ainda brigavam.

— EU FALEI PARA VOCÊS, PARAREM, COM ESTA BRIGUINHA IDIOTA! — Ele gritou, falando cada palavra em pausas mais longas e indo até Dolores, que brigava com Jairo.

Seu Zé, como eu tinha dito antes, tinha uma aparência até que meiga — Até mexerem com o bar e principalmente com os copos dele— Ele tinha quase 1,70 de altura, um pouco mais alto que Jurema. Ele foi até Dolores e chutou a sua perna amarelada cheia de listras, a fazendo falhar o andar. No mesmo instante, Seu Zé meteu um tapa na cabeça de Dolores, a deixando desnorteada e logo em seguida pegou em sua jaqueta e a puxou, levando ela para trás. Cerrou os dentes e fez questão de mostrar o quão irado estava.
Dolores o olhou assustada por estar surpresa, pelo ataque ter vindo tão de repente.

— Fica paradinha no teu canto! — Ele gritou com Dolores e ao olhar para as outras duas galinhas e deixar os olhos estreitos, elas no mesmo instante ficaram quietas e se juntaram com Dolores, que não resolveu insistir.

— JUREMA, SUA GALINHA DE CABEÇA QUENTE! — Ele gritou, chamando a atenção da galinha que estava ocupada demais para prestar atenção nele.

Zé simplesmente pegou na gola da jaqueta dela e a virou para ele, a encarando profundamente.

— É melhor você meter o pé daqui, pois eu estou virado no ódio e se eu fizer o que estou pretendendo eu vou acabar destruindo ainda mais meu precioso bar! — Ele disse irritado. — Mete o pé daqui, todos vocês. Seus imbecis! — Ele gritou.

Jurema ia insistir, mas ao olhar para aquele texugo, ela viu que só iria arrumar confusão. Ela sabia que podia bater de frente com Seu Zé, mas aquela luta não tinha motivo nenhum e muito menos sentido. Ela sabia que ele estava certo.

- Certo, Seu Zé. — Ela se recompôs, ajeitando a jaqueta. — Eu peço desculpas pelo incômodo que causamos. — Disse Jurema, ainda eufórica.

— Desculpas não vão me servir de nada, nunca serviram que já vocês fazem sempre a mesma coisa.  — Ele disse ainda emburrado. — Uma de suas amiguinhas aí quebrou um copo meu. Você e os patos foram e derrubaram minhas cadeiras e mesas. Se vocês não arranjarem copos para mim, não precisam nem vir até Deserto das Presas, pois aqui vocês não pisam mais. —Ele disse sério, tentando não explodir de ódio.

Jurema não podia ficar indignada, ela sabia disso. Ela no lugar de Zé teria feito pior, e olha que ela sabe do que um texugo-do-mel é capaz, mesmo sendo velho.

— Eu vou procurar os copos coloridos que falei para o senhor, Zé. — As outras galinhas se aproximaram. — Dou a minha palavra. — Ela estende a asa.

— E a sua palavra vai valer de alguma coisa? — Ele rebate desconfiado.

— A partir do momento que dou a minha palavra ao senhor, ela vale mais do que o ouro valeu para os humanos um dia— Seu Zé às olha meio desconfiado e hesita por um tempo, a encarando. Mas decide apertar as penas da galinha e confiar nela.

— Eu quero de todas as cores que você encontrar. — Ele diz.

— Deixe comigo. — Jurema promete, demonstrando agora estar mais calma.

Seu Zé sorri para ela, depois soltando sua asa.

— Tá bom, agora suma do meu bar. — Ele diz de maneira rude novamente.

— Aí Zé, como o senhor é amargurado. — Disse Dolores.

— Amargurado o cacete, isso acabou de acontecer. Não deu tempo de perdoar vocês não. — Dolores acabou soltando uma pequena risada. Zé olha para os patos, que já estavam indo na direção da porta— Os bonitos acham que é só sair e tá tudo bem né, pois vocês podem ir voltando pra cá! — Ele os adverte. — Vocês vão me trazer aquelas tintas bonitas que sei que vocês têm lá e vão pintar as minhas cadeiras e mesas.

— Elas vão achar copinhos e nós vamos fazer e trazer tintas, para pintar tudo? — Pato Frederico o olhou incrédulo.

— Sim, e não adianta me olhar com essa carinha de nojo não, que se você pisar aqui sem o que te pedi, eu vou quebrar a sua cara. — O pato engoliu em seco. — Agora saiam do meu bar! — Ele gritou.

Ambos os dois grupos não questionaram e nem falaram nada, apenas saíram para fora do bar. Todos em um silêncio que matava até a alma.

°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Notas da autora🌈🐔

Esse capítulo foi pura confusão... nada de novo sobre a luz do sol, e Seu Zé sabe muito bem disso! Mas o que vocês acharam, qual foi a primeira impressão sobre o livro e os personagens? Já possuem alguém que gostaram de cara? Não deixem de deixar a estrelinha e comentar o que acharam, espero que estejam gostando. Até o próximo capítulo!

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