Meu Doce Anjo Devasso (Livro...

By leh_alves9

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As mentiras que sustentavam um relacionamento perfeito finalmente vem à tona e, ao descobrir que Jordan não é... More

💎 Epígrafe 💎
🎬 Sinopse/Booktrailer 🎬
Aesthetic
Prólogo
1. Depois da mentira
2. Não preciso de pena
3. Caindo por terra
5. Cara a cara
6. Uma boa companhia
7. Decepção
8. Caixa postal
9. Notícias Fortes
10. Um encontro improvável
11. Pequenas mentiras
12. Ciúmes?
13. Novas experiências
14. Noite intensa
15. "Anjo devasso"
16. Treino de boxe
17. Verdades jogadas
18. Novos desafios
19. Um dia diferente
20. De volta a rotina
21. Tirando a limpo
22. No calor da raiva
23. Problemas
24. Uma noite memorável
25. Chuva, Romance e Sexo
26. Você não é assim!
27. Deja-vu
28. Laços antigos
29. Sem perdão
30. Um pedido de desculpa
31. Noite quente
32. Sentimentos confusos
33. A gruta sagrada
34. Uma rosa para recordar
35. Confições
36. Jantar a dois
37. Noite intensa
38. Breve visita ao passado
39. Desentendimentos
40. De volta ao lar
41. Verdades incobertas
42. O peso da mentira
43. Detenção
44. Uma conversa difícil
45. Lidando com o ódio
46. Nunca foi amor
47. Festa na república
48. Momento desagradável
49. "Quinze"
50. Arrependimento implícito
51. Acerto de contas
52. Dúvidas e incertezas
53. Pedido de desculpa
54. Orgulho e rancor
55. Um estranho conhecido

4. Má notícia

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By leh_alves9

"Esse mundo pode te machucar, te cortar profundamente e deixar cicatrizes. As coisas desmoronam, mas nada quebra como um coração... – Nothing Breaks Like a Heart, Miley Cyrus feat. Mark Ronson."

A vida humana é tão frágil e passageira, quanto um sopro ao vento, e num piscar de olhos, o que conhecemos, acreditamos e seguimos com tanto empenho... Todos os nossos sonhos, e os milhões de futuros que imaginamos para nós mesmos, tudo pode acabar. Ser interrompido. O pior é que sabemos dos riscos, mas nunca estamos realmente preparados para perder. Nós ansiamos o amanhã com todas as forças, por mais difíceis que as coisas estejam. Não nos preocupamos com o hoje, porque esperamos resolver amanhã.

Mas nem sempre esse "amanhã" nos é dado para curar as feridas do dia anterior. No caminho para casa, fui informada de que Rose sofrera um terrível acidente, Emily me contou que o motorista bêbado de uma vã, perdeu o controle e bateu contra o ponto de ônibus onde ela estava sentada. Não deu tempo dela desviar totalmente, e foi arremessada cinco metros para fora da calçada. Ela estava agora no hospital, lutando para manter a própria vida.

Eu me sentia tão culpada por não ter ido atrás dela ontem, esclarecido as coisas e tentado ajudar. Era o que uma boa amiga teria feito, e talvez... Se não fossem aqueles malditos vídeos, e como me machucaram, talvez eu tivesse conseguido alcançá-la. Era para nos vermos no colégio em breve, mas agora... Os médicos não sabiam dizer se ela voltaria do coma. Emily chorou ao me contar, eu não sei se ela estava metida na brincadeira estúpida de Christian, mas acho que todas nos sentíamos culpadas por isso agora.

– Posso tentar voltar, se você precisar. – anunciou Jason, ao parar o carro numa das vagas daquele enorme estacionamento.

– Não, já tomei muito do seu tempo precioso, então só me deixa em paz e some. – me apressei a tirar o cinto de segurança, mas ao tentar abrir a porta do carro, Jason me puxou pelo braço – O que merda você...

Minha fala foi interrompida quando seus lábios se pressionaram contra os meus. Fiquei estática a primeiro momento, esperava tudo, qualquer coisa mesmo, menos isso. Ele passou a destra à minha nuca, agarrando firme os meus cabelos, enquanto desenhava meus lábios vagarosamente com a língua. Senti meu corpo relaxar à medida em que o doce sabor de hortelã se espalhava em minha boca, e pousei minhas mãos em seus ombros, correspondendo aquele beijo com a mesma intensidade.

Fechei os olhos e duas lágrimas rolaram pelo meu rosto, eu estava a beira de uma crise que pareceu reduzir drasticamente com aquele simples carinho. Nossas línguas se tocaram, fazendo todos os meus pelos eriçarem intensamente. Jason deu um leve puxão em meus cabelos e eu apertei seus ombros, deslizando minhas mãos em volta de seu pescoço. Rompemos com alguns selinhos molhados, e ele encostou a testa na minha, limpando minhas lágrimas delicadamente com os polegares.

– Desculpa. – pediu ele, em tom baixinho, e abri meus olhos, encarando os seus – Achei que se arrependeria de ontem quando se acordasse, não... Eu não quis ser um babaca. Foi mal, pequena.

– Se você tivesse perguntado, antes de sair me dando ordens para me vestir e vir embora, eu teria dito que não me arrependi. – acariciava os fios dourados de seus cabelos, sentindo aqueles olhos caramelados praticamente me engolirem – Não do que fizemos, mas talvez... Talvez pelos motivos que fizemos.

– Eu não entendi. – ele cerrou o cenho, e suspirei pesado.

– Eu estava com raiva do Jordan, na verdade ainda estou. Acabei usando você só pra descontar o que ele me fez sentir. – expliquei, da forma mais sincera que pude – Isso não foi certo, nem justo da minha parte.

– Bom, não é como se eu fosse a virgem Maria nessa história, Lizzie. – ele sorriu de canto, puxando o meu queixo só um pouquinho mais pra perto – Para a sua informação, até gostei de ser usado.

– Não seja idiota! – toquei carinhosamente em sua mão – Acho que preciso de um tempo, Jay, para colocar as coisas em ordem outra vez.

– Imaginei que diria isso. – ele acariciava minha bochecha delicadamente com o polegar – Só tenta não se culpar por ontem, tá legal? O que rolou entre a gente, foi divertido pra nós dois, é o que importa. E, quanto a sua amiga... Não tinha como ninguém prever um acidente.

– Ela vai ficar bem, não vai? – senti as lágrimas preencherem meus olhos novamente, lembrando de como Rose estava mal ontem.

– Eu... – Jason soltou a respiração com força – Realmente não sei, mas acho que você tem que entrar para descobrir, não é?

Ele me soltou, apontando com os olhos para a porta de entrada daquele hospital.

– É. – engoli em seco, ao olhar brevemente na mesma direção por cima do ombro.

– Você vai ficar bem? – suas sobrancelhas arquearam.

– Acho que vou sim, meus pais já estão a caminho agora. – ajeitei a mochila sobre o ombro – Obrigada mesmo, Jay.

– Qualquer coisa, é só me ligar, Liz, e eu juro que volto no mesmo segundo. Tá legal? – seu olhar parecia mesmo preocupado, e eu acho que aquilo era reconfortante nesse momento.

– Tá. Não se preocupe comigo. – forcei um sorriso, limpando as lágrimas nos cantos dos olhos antes de abrir a porta do carro – E se cuida.

– Até mais, pequena. – ele girou a chave na ignição, e eu logo desci.

Nos despedimos com acenos de mãos, até que eu me virei, seguindo em passos temerosos para dentro do hospital, era o mesmo onde Jordan havia sido internado. Mas, pelo que Emily me disse, Rose estava em uma ala diferente da dele e, dessa forma, eu não teria de vê-lo. Era melhor assim, eu não queria ter de lidar com tudo de uma só vez, pois eram muitas coisas, e bem pesadas.

Ao chegar à recepção, a moça me encaminhou à sala de espera, Emily e algumas outras meninas também estavam ali. Mais a frente, os pais de Rose conversavam com um médico. Então, eu resolvi indicar a ala onde estava para os meus pais, eles pareciam bem nervosos e preocupados quando liguei um pouco mais cedo, por conta do meu sumiço de ontem a noite.

– Rose ficaria feliz por vê-las aqui. – ouvi o soar da voz da Sra. Campbell e, ao olhar para frente, vi que Christine segurava em suas mãos – Essa equipe era tudo pra ela.

– A Rose é como uma irmãzinha mais nova pra mim. – a ruiva parecia mesmo emocionada – Eu sei que ela vai sair dessa.

– Uma encenação brilhante... – murmurou Emily, bem ao meu lado.

– O que disse? – franzi a testa, e ela me encarou, seus olhos estavam inchados e avermelhados.

– Agora você está sabendo do Christian, não é? – perguntou Emily, em tom baixo, e eu assenti – Depois do vídeo vazado com as fotos, Christine expulsou a Rose das Lioness por mensagens de texto. Essa vadia não teve nem a consideração de fingir se importar com o fato de que ela já estava mal.

– O quê? – cerrei os olhos, totalmente incrédula – Por que ela fez isso? E por que você não me contou o que estava acontecendo antes, Emy?

– Depois do Jordan ser atacado e parar no hospital no final de semana, acha mesmo que eu ia te encher com mais um problema? – ela arqueou as sobrancelhas, e eu bufei o ar pelo nariz.

Estava começando a entender a cronologia dos fatos.

– Mas é que... Nossa, estou me sentindo péssima. – abracei um de meus braços, e Emily assentiu.

– Eu ainda mais. Quando essa merda veio a tona, foi horrível. Tentei ajudar, mas perdi o controle, porque a Rose... Ela começou a me xingar, e passou dos limites, sabe? – ela fungou com o nariz, limpando as lágrimas com um lencinho – Eu não sabia daquilo, mas ela não queria me ouvir e começou acusando o Noah e a mim também.

Nesse instante, me lembrei de um dos vídeos que Marcus me mostrou pela noite, onde os meninos confirmavam as apostas. Noah e Jordan eram iguaizinhos a todos, mas a Emily nem sonhava. Ela ficaria tão arrasada se soubesse daquilo, eu sabia disso. Mesmo assim, não seria certo da minha parte esconder, ela merecia saber dessa merda toda.

– Ah, Emy... Eu sinto muito. – alcancei uma de suas mãos – Mas, para ser bem sincera, ontem o Marcus...

– Lizzie!? – minha fala foi interrompida ao ouvir a voz da minha mãe invadir a sala de espera – Ai, meu Deus, minha filha!

Assim que olhei para trás, dona Elisa avançou em minha direção, seus cabelos presos estavam um tanto desgrenhados, e haviam olheiras profundas ao redor dos olhos. Aquilo indicava que ela ao menos havia pregado o olho pela noite, o que me soou extremo. Quer dizer, eu já tinha dormido fora outras vezes, não era algo surreal. Não a ponto de deixá-la tão nervosa.

Quando a vi abrir os braços, rapidamente saltei da cadeira, me entregando a um abraço que ligeiramente me pareceu mais como um gesto protetor. Minutos depois, senti as lágrimas quentes da minha mãe molharem meu ombro. Eu estava completamente atônita com aquilo, o que faria ela chorar quando me visse? Tentei acalmá-la, mas seus braços apenas me apertaram um pouco mais.

– Chega, Elisa. Precisamos ter uma conversa bem séria com ela. – disse meu pai, indiferente comigo.

– Ora, não agora, Louis! – respondeu ela, ao rompermos o abraço.

– Não pode passar a mão na cabeça dela, o que essa garota nos fez passar ontem... – meu pai parecia bem zangado.

– Já disse que não é o momento certo pra isso. – sustentou minha mãe, ainda mais firme, e ele cerrou os punhos com força – Se não consegue se acalmar, apenas vá embora.

Ele arqueou as sobrancelhas, mas dona Elisa apenas ajeitou o cardigan sobre os ombros, antes de lhe dar as costas, entrelaçando um de seus braços ao meu. Ainda estava confusa quando nos distanciamos, mas o pai não insistiu em nos seguir.

– O que aconteceu? – franzi a testa, encarando minha mãe que agora servia um pouco d'água num copo – Por que o papai está tão nervoso?

– Você não deu notícias, Lizzie, foi isso que aconteceu. – seu tom de voz agora era severo – Onde passou a noite, com quem esteve?

– Dormi na casa da Emy, precisava esfriar a cabeça. – menti em parte, pois seria, no mínimo, embaraçoso contar a verdade – Ontem foi uma noite difícil, mãe.

– Para todos nós. – ela tomou um gole d'água, e segurou o copo com as duas mãos ao me encarar outra vez – Mas não minta para mim. Eu liguei para todas as suas amigas, Emily confirmou que você não estava lá.

– Eu pedi. – reforcei, tentando soar o mais confiável possível – Não estou mentindo, mãe. Só não queria falar com ninguém.

– Por quê? Você não é assim. O que acon...

– As visitas para Rose Campbell foram liberadas. – a voz de uma enfermeira interrompeu o que seria uma conversa difícil agora – A paciente está inconsciente, e pedimos para que não se aproximem do vidro. Apenas familiares dentro da sala. Me sigam.

– Mãe, será que...

– Claro. Vamos. – ela rapidamente terminou de tomar a água, se desfazendo do copo no lixo.

– Obrigada. – me apressei a secar as lágrimas que surgiam nos cantos dos olhos, e logo acompanhamos as outras garotas pelo corredor.

Emily seguia um pouco mais na frente, com Christine e Ashley, o que me fez suspirar pesado. Quase cometi um erro hoje, acho que todas já estavam abaladas demais para lidar com uma merda tão grande, quanto aquelas malditas apostas. Claro que elas mereciam saber, mas esse não era nem de longe o momento certo. Por isso, eu engoliria aquilo sozinha, pelo menos por enquanto.

Minha mãe segurava firme em meu braço, mas a cada passo que dávamos, eu sentia meus batimentos acelerarem mais e mais, como se meu coração estivesse prestes a sair pela boca. Ver Rose naquela situação, não seria nada fácil, e eu não tinha dúvidas disso. A enfermeira parou de frente a uma enorme janela, a qual ainda estava coberta por uma cortina escura. Ela se aproximou um pouco, e deu dois leves toques, depois recuou um passo para trás.

Quando as cortinas se abriram, eu rapidamente apertei o braço de minha mãe, que respondeu com uma suave carícia em minha mão, para que eu me acalmasse. O ardor das lágrimas subiu por minha garganta, até que elas alcançaram meus olhos. Atrás daquela janela, podemos ver Rose deitada completamente imóvel numa cama. Seus olhos estavam fechados, haviam fios interligados por quase todo o seu corpo, e um pequeno tubo que entrava por sua boca.

– Calma, querida. Sua amiga vai ficar bem, precisamos pensar positivo. – minha mãe sussurrou para que somente eu ouvisse.

No entanto, antes mesmo que eu pudesse responder, a porta do quarto de Rose se abriu, me apressei a limpar a lágrima que escorreu ao ver seus pais ali. Eles estavam tão abatidos, até mesmo a pequena Destiny carregava um semblante de dor, seus pequenos olhinhos estavam carregados de lágrimas e ela abraçava um quadro com toda força que tinha em seus bracinhos magricelas.

A vi sacudir a cabeça para os lados, enquanto sua mãe parecia tentar convencê-la de entrar naquele quarto. Em segundos, a pequena garotinha desabou num choro dolorido, ela se virou empurrando a Sra. Campbell, e saiu correndo para fora dali. Pouco depois, ela apontou no início daquele extenso corredor, e paralisou olhando nervosa de um lado para o outro.

– Volte aqui, Destiny Campbell! – a voz de sua mãe soou pesada, e ela tomou um susto.

– Eu não quero! – berrou a pequena, tornando a correr enquanto soluços lhe escapavam pelos lábios.

Algumas meninas precisaram se afastar para que ela não acabasse por tropeçar em seus pés. Em menos de dois segundos, a pequena Destiny desapareceu por aquele corredor, deixando um silêncio ensurdecedor entre todas nós. Era a primeira vez que eu a via, mas pelo que Rose contava, sabia que as duas eram bem próximas, apesar da mais nova ser muito traquina, e às vezes até chateá-la por mexer em suas coisas sem permissão.

– Não saia daqui, Lizzie. – disse minha mãe, chamando minha atenção – Acho que a Sra. Campbell precisa de uma palavra agora.

– Ah, sim. Tudo bem. – forcei um sorriso, e ela assentiu.

Antes de me soltar, dona Elisa depositou um beijinho carinhoso em minha testa, então seguiu em direção a mãe de Rose. Eu respirei fundo, dando uma boa olhada em volta, o clima era bem pesado entre todas as meninas ali, algumas até choravam em silêncio, com a cabeça apoiada nos ombros das outras, mas também não era pra menos. Dei um passo a frente, e minha atenção se direcionou ao final do corredor, por onde Destiny havia sumido.

Ninguém tinha ido atrás daquela pequena menininha triste e descontrolada, pois estavam mais preocupadas com a situação de Rose. Eu também estava, mas sabia que se ela pudesse pedir qualquer coisa, diria para irmos atrás de sua irmãzinha. Então, assenti para mim mesma, sabia que não podia ignorar aquilo e, antes de me afastar, dei uma rápida conferida na minha mãe, que estava sentada com a Sra. Campbell num banquinho mais afastado dali.

Sem que ninguém percebesse, eu segui na mesma direção que Destiny. No caminho, perguntei a duas enfermeiras se haviam visto uma menininha passar chorando e, por sorte, elas disseram que sim. Mas, infelizmente, indicaram que ela havia seguido para fora daquela ala, e eu teria agora de procurá-la por todo aquele hospital, pois simplesmente podia estar em qualquer lugar.

– Se acalme, filho. Lizzie está com a mãe dela agora. – reduzi o passo ao ouvir a voz de meu pai no corredor a frente – Está tudo bem, aquilo ontem só foi um susto.

– Eu preciso vê-la. – aquela voz rouca, carregada de angústia, me fez paralisar por completo.

– Querido, talvez seja melhor...

– Não, mãe. – Jordan interrompeu Susana – Eu já disse que só vou embora depois de falar com ela. A Liz deve estar triste, com medo, sozinha... Olha o que aconteceu, ela precisa de mim, eu posso sentir isso.

Apertei os punhos com força, sentindo a raiva me invadir outra vez. Como ele conseguia ser tão... Enganava todo mundo dando uma de bom moço, mas agora que eu conhecia sua verdadeira face, aquilo me soava tão sujo.

– Bom, se ele insiste tanto... – meu pai pareceu concordar – Venham comigo, vamos aguardá-las na sala de espera.

Arregalei os olhos ao ouvir os seus passos, e rapidamente olhei em volta, procurando desesperada por um lugar para me enfiar. Não queria ter de olhar na cara de Jordan, e ainda precisava encontrar a pequena Destiny. Por sorte, havia um banheiro feminino naquele corredor, o qual me apressei a adentrar, se recostando na parede ao lado da porta. Pude escutar Jordan agradecer ao meu pai ao passarem por ali, e soltei minha respiração com força quando seus reflexos sumiram de vista pela pequena janelinha da porta.

Sacudi a cabeça para os lados, numa breve tentativa de me recompor, mas ao dar um passo a frente, ouvi um fungado de choro vindo de um dos box naquele banheiro. "Destiny!", rapidamente pensei, tratando de caminhar em silêncio na direção de onde o barulho vinha. Um leve sorriso surgiu em meus lábios ao avistar um pedaço de seu vestido para fora, o que indicava que ela estava sentada no chão. Com cuidado, puxei a porta que ao menos tinha sido trancada por dentro.

– E-está... – ela gaguejou, tentando secar as lágrimas com as costas das mãos – Está ocupado!

– Estou vendo, me desculpe. – assim que me ouviu, seus olhinhos marejados vieram em minha direção – Mas não posso ignorar o fato de que uma mocinha tão linda esteja tão triste e sozinha. Posso ficar aqui com você?

Pedi, e Destiny pareceu pensar um pouco, então negou com a cabeça.

– Minha mãe disse que eu não devo falar com estranhos. – ela respondeu baixinho, derramando mais lágrimas.

– Ah, bom... Sua mãe é uma mulher muito sábia. – me abaixei para encará-la de perto – Mas eu não sou uma estranha.

– Eu não conheço você. – Destiny se afastou um pouco, quando tentei tocar em seu rosto.

Estava assustada, e era compreensível já que nunca tínhamos nos visto antes. Contudo, o quadro em seu colo me chamou a atenção. Era uma foto do baile de primavera, com todas as Lioness reunidas aquela noite, onde tudo começou. No entanto, receio que havia sido rasgada, e depois remendada como um quebra cabeças de uma criança, junto aos vidros do quadro que também parecia ter sido quebrado. Forcei um sorriso para a menininha que me encarava esperando que eu dissesse algo, então tornei a olhar a foto.

– Veja só, eu estou aí. – apontei para mim mesma, entre Rose e Emily – Bem aqui, pertinho da sua irmã. Somos amigas.

– Espera... – a pequena arregalou os olhos, fitando bem o meu rosto – Você é a Liz? A melhor amiga da minha irmã?

Engoli em seco ao ouvir aquilo, Rose me considerava sua melhor amiga?

– Nossa, é você mesma. – um sorriso iluminou o rostinho angelical da pequena – Ela gosta tanto de você, e da Emily. Vocês duas sempre foram muito boazinhas com ela, era o que ela sempre dizia.

– Ah, eu... fico feliz. – forcei um sorriso, me sentando ao seu lado – Mas por que trouxe essa foto? Quer dizer, você queria entregar a ela, não é?

– Sim. Ela gosta muito dessa foto. – Destiny tocou carinhosamente aquele quadro – Mas foi minha culpa ter quebrado.

– Como assim? – franzi a testa, e ela respirou fundo, como se juntasse coragem para me explicar.

– É que ontem eu estava mexendo nas roupas da minha irmã, antes dela chegar do colégio. O vestido que ela usou no baile era tão lindo, eu queria provar e ver como ficava em mim. Só que ela chegou bem cedo, e ficou muito brava comigo, começou a gritar e arremessou esse quadro na porta quando saí correndo. – a vi coçar os olhinhos com as costas das mãos – Lá do meu quarto eu ouvi ela chorando, mas fiquei com medo de ir pedir desculpas.

Destiny fez uma pequena pausa, se impedindo de cair no choro, então eu passei um de meus braços por cima de seus ombros, puxando-a mais para junto de mim, para que tivesse confiança em continuar.

– Quando a Rose saiu, eu fui lá no quarto dela. Não sei por que ela fez isso, mas a foto já estava toda rasgada e ela cortou o vestido inteiro com a tesoura, sabe? – sua voz soou embargada pelo choro – Ela estava tão zangada comigo, eu acho que foi por isso que rasgou tudo.

– Ah, Destiny, eu sinto... Sinto muito. – limpei algumas lágrimas que rolavam pelo seu rosto.

– Eu consertei o quadro pra ela e colei a foto, deu um trabalhão, mas queria pedir desculpas da maneira certa. Até tentei remendar o vestido, mas a mamãe ficou uma fera quando me viu com a agulha, ela jogou tudo no lixo e me botou de castigo. Só consegui salvar o quadro, e fiquei esperando a Rose chegar. – ouvir aquilo fez meu coração se partir em mil pedacinhos – Mas foi ficando tarde, e ela não voltou. A culpa foi toda minha.

– Não. Não foi sua culpa. – abracei aquela pequena com força – Sua irmã não estava zangada com você, meu amor.

– Como... Como sabe? – a voz dela soou pesada pelo choro.

– Ora, porque ela falou para mim. – respondi ao rompermos o abraço, e peguei um lenço dentro da minha mochila, passando a secar as lágrimas dela – Rose me disse que amava muito você, e que queria pedir desculpas por ter gritado antes de sair para o jogo. Os Tigers ganharam, sabia? Ela ficou muito feliz, e disse que você era a melhor irmãzinha do mundo, que estava arrependida e que te amava muito.

– Ela disse? Disse mesmo? – Destiny arqueou as sobrancelhas, e eu assenti.

– Sim. Ela disse bem assim. – terminei de secar as lágrimas dela, acariciando o seu rostinho logo em seguida.

– Então, por que ela estava tão brava? – Destiny cruzou os braços, um tanto desconfiada.

– Ah, porque... Porque uma garota comprou o vestido que ela queria. Isso é muito chato, não é? – perguntei e a pequena assentiu, abrindo um leve sorrisinho.

– Sim, isso já aconteceu comigo, e foi logo a menina mais chata da turma, eu fiquei tão brava. – ela concordou, parecendo relaxar um pouquinho – Mas queria que a Rose também soubesse que é a melhor irmã do mundo.

– Bom, você pode dizer isso para a sua irmã quando ela acordar. – forcei um sorriso, tinha uma forte esperança de que Rose voltaria, ela não deixaria a gente assim.

– Você acha que ela vai? – os olhinhos de Destiny buscavam por consolo nos meus.

– É claro que sim. – apertei seu ombro – Mas nós temos que ter fé, e pedir ajuda ao papai do céu.

– Claro! Você é bem esperta, né? – ela se ergueu quase num pulo, e alcançou minhas mãos, me puxando apressada – Vem, a gente precisa falar com ele agora, mas não pode ser aqui no banheiro, é nojento e deve ser pecado.

Dei uma leve risadinha, concordando com a cabeça. A pequena Destiny estava mesmo bem motivada agora, ela me ajudou a levantar, e também apanhou minha mochila. Mas ao empurrar a porta do banheiro para fora, todo o meu corpo congelou e, num movimento involuntário eu puxei seu pequeno bracinho, fazendo-a me olhar confusa.

– O que foi, Liz, você não vem? – perguntou a pequena, sem entender a cena.

Então, Jordan que estava encostado na parede a frente, se apoiando em uma muleta, entreabriu os lábios para falar algo, mas desistiu quando eu fiz uma suave negação de cabeça, apontando para Destiny só com o olhar. Não sei ao certo se ele entendeu que eu não podia conversar agora, ou se a vergonha pelo que fez lhe caiu a cara, mas assentiu, desviando o olhar. Aquilo foi o suficiente para que eu retomasse os movimentos.

– Claro, vamos. – falei baixinho, e Destiny sorriu largo, me puxando pelo corredor.

Não fomos muito longe, para ser exata, acho que demos uns dez passos até pararmos em frente a um banquinho, onde ela apoiou o quadro e se ajoelhou. Tentei não olhar para trás, pois sabia que Jordan ainda estava ali, eu podia até mesmo sentir o seu olhar em nossa direção. Mas, apenas me obriguei a se ajoelhar ao lado da pequena garotinha, que me olhava tão esperançosa.

– Muito bem, fecha os olhos, eu vou começar. – avisou ela, juntando as mãozinhas e fechando os olhos – Querido papai do céu, eu me chamo Destiny e essa moça bonita ao meu lado é a Liz. Ela é muito boazinha, assim como eu. Queremos pedir para o senhor dar uma ajudinha para minha irmã, Rose, acordar. Ela não é preguiçosa, e vai ficar muito chateada quando perceber que atrasou para o colégio hoje.

Uma leve risadinha me escapou, mas ela logo prosseguiu:

– Prometo que se ela acordar logo, eu vou comprar os docinhos favoritos dela, e trazer escondido para a mamãe não ver. – ela sorriu, respirando bem fundo – Também prometo que nunca mais vou deixar ela levar a culpa por uma travessura minha, e não vou mais mexer nas coisas dela. Talvez só nas maquiagens, porque a mamãe ainda não me deixa ter as minhas, e eu preciso estar na moda, já sou uma mocinha.

Rimos juntas, e meus olhos encheram de lágrimas, mas rapidamente as sequei com as costas das mãos para que Destiny não me visse chorar. Precisava ser forte, ou ela podia ficar triste de novo, e essa era a última coisa que eu queria.

– Bom, eu ainda não consegui me desculpar por vestir o vestido dela do baile, não fiz por mal, é que ele era tão bonito. – prosseguiu ela – Peço para que o senhor ajude ela a acordar, para que eu possa me explicar, e dizer para ela o quanto a amo. Rose é a melhor de todas as irmãs no mundo, e eu não sei o que seria de mim sem ela. Não demora, tá? Amém!

– Amém! – sorri fraco, contendo as lágrimas e Destiny me abraçou apertado, retribuí igualmente.

– A Rose tinha razão. Você é muito legal. – a pequenina rompeu o abraço e ficou de pé, limpando os joelhos.

– Obrigada, princesinha. Eu também acho que ela tinha razão, porque você é mesmo muito linda e fofa! – também fiquei de pé, limpando meus joelhos.

– Obrigada. Mas agora eu tenho que me desculpar com a mamãe. – ela olhou em direção a Jordan, arqueando uma sobrancelha antes de me encarar outra vez – E eu acho que aquele moço ali quer falar com você.

– Tudo bem. Você consegue encontrar sua mãe sozinha? – perguntei, e a vi assentir.

– Espero que venha ver a Rose mais vezes. – ela apanhou o quadro sobre o banquinho no mesmo segundo em que passei a mochila pelo ombro – Tchau, Liz!

Nos despedimos com outro abraço, e Destiny seguiu apressada pelo corredor, bem mais leve do que quando começamos a conversar no banheiro minutos atrás. Eu gostaria de me sentir assim também. Na verdade, eu desejava com todas as forças que isso fosse só um pesadelo. Queria acordar, ir para o colégio com Jordan, e dar de cara com o novo casal do J. Falls, Rose e Christian, ambos felizes, caminhando de mãos dadas pelos corredores. Era assim que devia ter sido.

– Você leva jeito com crianças... – aquela voz rouca me fez estremecer dos pés a cabeça.


[...]

💕. Aiai, esse Jason... O jeito que ele é cadelinha da Liz é diferente, né? kkkkkkkkk O acidende foi mesmo com a Rose, meninas 😢E esse final???? Ansiosas pelo próximo capítulo?? 👀

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💕. Não esqueçam do cronograma de postagem:

28/01/22 👉🏻 5° Capítulo

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