Dark Mind

By Bheccs

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Uma garota desperta na floresta, sem memória, sem nome, sem passado e sem ninguém em quem pode confiar. Ajuda... More

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Bônus
Data de Lançamento
Dedicatória
Prólogo
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By Bheccs

     Acordo com uma dor em meu peito. O suor frio toma meu corpo, tento me apoiar na cama, mas estou fraca. Os momentos com Wistic voltam com tudo e me forço a ficar de pé. Seguro na penteadeira e me olho no espelho. Minha pele está ainda mais pálida, fria e com as veias aparecendo. 

     Não me importo com nada, como se a necessidade de resolver as coisas fosse maior que minha sanidade. Como se minha mente sentisse o perigo se aproximando e eu tivesse que estar preparada. 

     — Damien — sussurro apoiando-me na parede do corredor. Meu corpo pesa como chumbo, minha mente gira, tudo me fazendo desejar morrer. Esse é o efeito colateral de ter retirado a alma do próprio corpo? 

     Dou três passos e caio. Minha respiração está entrecortada, urgente. 

     — O que faz aqui? — a voz feminina irrompeu o local calmo.

     A garota sentada na beira do lago levantou, com raiva. Uma pedra na mão. 

     — Deixe-me em paz, seja lá quem for você! — gritou, irritada por terem a atrapalhado. 

     — Sou Kayle. O que pensa que vai fazer com essa pedra? — Os cabelos curtos e coloridos voavam com o vento. 

     — Que tal te matar? Posso fazer isso em segundos, somente usando essa pedra — ameaçou a de cabelos longos, a rocha em mãos, o sorriso maligno, pronta para cumprir o que disse. 

     — Tente! — Kayle não se moveu quando Maeve jogou a pedra. Ela fechou os olhos com força. O impacto não chegou, abriu um olho de cada vez e se deparou com a outra rindo. Suspirou um pouco aliviada. — O que...

     — Na água — disse a interrompendo. — Gosto de jogar as pedras na água. Se jogasse em você sairia muito sangue e este lugar é belo demais para isso. — Estendeu três pedras, elas brilhavam com um tipo de pó, coloridas. A de cabelo curto as pegou. — Combinam com o cabelo. — Piscou e sentou novamente na margem. 

     Kayle se aproximou, sentando ao lado da demônio.

     — Você não recuou, não sei se é idiota ou corajosa. — A outra riu, a mais velha a olhou de soslaio. 

     — Talvez eu seja os dois. — As duas riram e jogaram as pedras no lago.

     — Gostei de você. Isso é raro. — Arqueou uma sobrancelha. — Aliás, sou Maeve. Sinto que seremos grandes amigas.

     Pisco. A lembrança, que um dia fora somente sombras nas chamas dançantes, agora finalmente está clara em minha mente. 

     — Ótimo, finalmente acordou. Pensei que estivesse morta, o que seria muito chato já que o culpado não seria eu. — A voz assombra minha mente. Tento sentar, os últimos acontecimentos voltando. Encaro Damien que parece confuso. Olho ao redor, estou deitada no sofá, na sala do piano. 

     — Damien — pronuncio, meu peito subindo e descendo, minha respiração normalizando e a adrenalina diminuindo. 

     — Está com algum problema com meu nome? É a segunda vez que me chama. — O olho confusa e o vampiro cruza os braços arqueando uma sobrancelha como se eu fosse uma desconhecida. — Estava aqui quando ouvi você me chamar, estava caída no corredor, em frente a porta do meu quarto. — Parece mais curioso do que acusatório. 

     — Preciso de um corpo — solto e o homem irrompe em gargalhadas. 

     — Antes eu não tinha certeza, mas agora sei que você é completamente louca. 

     — Estou falando sério. — Sento, a tontura me abatendo. Seguro a ânsia. — Preciso que traga um corpo, uma pessoa qualquer, mas viva. — Olho em suas íris cinzas. 

     — Maeve o que anda usando? — Ri se jogando no sofá e tenho vontade de quebrar seus ossos. — Veja, te encontro caída no corredor me chamando, depois de alguns minutos você acorda e pede um corpo. Acredite, de tudo isso o que mais estranho é o fato de vir até mim. — Faz uma careta, e eu o acompanho. Ele só foi o primeiro que me veio à cabeça. 

     — Você é o mais propício para fazer isso. Nickolas é bonzinho demais, e Dominic não gosta de machucar inocentes. Você não se importa com quase ninguém, mata sem hesitar e é o mais forte entre os três. — O vampiro aproxima seu rosto. 

     — Esse elogio final é para me convencer? — Abre um sorriso de lado e dou de ombros. — Ótimo, fico aliviado em saber que fui a última opção. É estranho pensar em você pensando em mim. É nojento. — Reviro os olhos e arqueio uma sobrancelha. — O que ganho com isso? Não vejo nada me favorecendo. 

     — O mago, aquele que se envolveu com Wistic e Millen. — Seu corpo fica tenso, o maxilar trincado. 

     — O que tem ele? — pergunta rude, a costa ereta. 

     — Ele está de volta. 

     Seus olhos escurecem, totalmente raivoso. 

     — O que planeja? — Com raiva, sim. Surpreso, não. 

     — Vou transferir o espírito de Wistic para esse corpo. A bruxa nos ajudará a derrotar Millen, suspeita que o mago esteja com ela. — Seus olhos arregalados finalmente denunciam seus sentimentos. 

     — Como? Wistic? 

     — Conectei-me ao mundo espiritual. Damien, isso é urgente. Sinto que uma guerra se aproxima, e tenho certeza que vocês estão tão envolvidos quanto eu. — Ele não diz nada, o silêncio reina na sala. Seu olhar perdido. 

     — Algumas mulheres pedem flores e você um cadáver. — Revira os olhos e rio. 

     — Viva, Damien. Uma pessoa, viva — especifico e o vampiro assente desdenhando com um gesto. 

     — Certo. E enquanto faço isso, creio que vai contar aos outros o que nos espera. — Levanto juntamente com ele. 

     Meu corpo ainda não parece recuperado, mas não me importo. Isso é mais importante. 

    — Odeio lerdeza — ruge enquanto me pega no colo.

    — Eu não pedi para me esperar. — Bufo, querendo passar as mãos por seu pescoço e sufocá-lo. 

     — Pensei que fosse urgente — debocha, enquanto sai da sala a passos largos. 

     — Não sabe o tanto que te odeio! — Soco seu peito e ele trinca os dentes. 

     — E você não imagina o tamanho da minha fúria. — Passa pelos corredores e desce as escadas. 

     — Vamos, vampirinho, eu te derrotaria fácil em uma luta. Você morreria lentamente por minhas mãos, aproveitaria cada momento. — Cravo minhas unhas em sua pele e seu peito vibra com uma risada. 

     — Você não faz idéia de como é difícil me matar. 

     — Alguns meses atrás estava deitado em uma cama e eu quem salvei a sua vida. Eu sei como é fácil te matar. — Ele fecha a cara, o ódio direcionado na minha direção. Damien, até mais do que eu, odeia receber ajuda. 

     Chegamos na cozinha, os olhares arregalados em nossa direção. Elisa parece chocada e Nickolas incomodado, Dom parece satisfeito com a dor do mais novo. Partes da vingança contra a traição de Nick, ver o sofrimento dele e sorrir, aproveitando. 

     Saio do colo de Damien, a tontura atingindo meus sentidos. Apoio-me na mesa e Elisa hesita ao vir em minha direção.

     — Eu estou bem — dispenso a ajuda. — Mas nenhum de nós vai ficar se não tivermos essa conversa. — meu tom sério os pega de surpresa, inclusive Dominic que encarava Damien, confuso. 

     — Com toda certeza precisamos ter uma conversa — Nickolas se pronuncia, chateado. — Por exemplo, o prédio da prefeitura explodir! As notícias dizem que foi um vazamento de gás, a mesma desculpa que usaram quando o esconderijo dos caçadores pegou fogo. E estranhamente o fogo não queimou a floresta que estava perto e nem apagou quando os bombeiros jogaram água! Porque não era fogo comum! — Bate na mesa e Damien sorri.

     Não faço nada, fico o encarando.

     — Mentiu pra mim. Disse que ia treinar e foi matar pessoas! Junto com ele! — cospe as palavras, apontando para o irmão mais velho. 

     Elisa quieta me olha decepcionada e Dominic apenas observa, sem julgamentos, seus olhos âmbar apenas acompanhando o surto de Nickolas.

     Surto esse que eu até entendo, mas que odeio. 

     — Tenho certeza que essa conversa pode esperar. O que tenho para dizer é mais importante. — Arqueio uma sobrancelha. 

     Nickolas sorri triste, desvia o olhar e senta, negando com a cabeça, espantando pensamentos e até algumas lágrimas que vi em seus olhos. 

     Todos me olham esperando. Damien ao meu lado, ansioso para ver a reação de todos. Divertindo-se.

     — Wistic irá voltar — solto de uma vez. Dominic arregala os olhos e dá passos para trás. Nickolas levanta a cabeça em minha direção, a boca aberta, sem palavras. Elisa fica pálida, os olhos cheios de lágrimas. Prendo minha atenção nela. — A trarei de volta do mundo espiritual por um tempo, a colocando em um corpo com um feitiço de possessão. 

     — Isso é magia das trevas! E Wistic foi queimada! Pare com isso, Maeve! — Elisa grita chorando.

     Coloco a mão em seu ombro para acalmá-la, a senhora nega. 

     — Eu sou um demônio. Qualquer magia que eu use será levada de alguma forma para o lado obscuro, não é algo que eu possa evitar. Sei o porquê do seu medo desse tipo de magia, mas não vou sair do controle, Elisa. — Ela arregala os olhos, exasperada. — Damien e eu fomos até a prefeitura para buscar coisas as quais o conselho tirou de seres sobrenaturais, como se fosse propriedade deles. Achei arquivos falando de um caso que me chamou atenção, o caso Viens. Reconheci Elisa numa foto borrada e li as informações. Eu presto atenção em detalhes e foi fácil relacionar seu parentesco com Wistic. Achei o caderno de feitiços de Wistic, pura magia das trevas, e tinha exatamente o que eu precisava para descobrir completamente os planos de Millen.

     — O feitiço de conexão para o mundo espiritual — Dominic completa. 

     Elisa o encara. 

     — Era por isso que estava perguntando do meu livro de feitiços? Para ver feitiços de magia das trevas? Acha que eu tenho esses malditos feitiços registrados?! — se exalta a Dominic abaixa o olhar como se sentisse a decepção de Elisa o perfurar, como quando uma mãe briga com o filho.

     — Ele fez isso porque eu pedi — falo, ganhando a atenção da senhora. — Ouça, Elisa, magia das trevas envolve tudo o que é de origem maligna, mas não é por isso que quem a usa vai ser dominado. 

     — Basta uma mancha, Maeve, um pequeno traço de escuridão correndo em suas veias e você nunca mais será o mesmo. — As lágrimas escorrem por seu rosto e sorrio sarcástica.

     — Então deixe-me te dizer que esse pequeno traço é injetado em nossas veias assim que crescemos. Magia das trevas não vem só da morte, de sacrifícios e sangue. Vem de pequenas mentiras e pensamentos ruins, por menores que sejam. Acha que somente quem usa magia obscura é ruim? Essa magia se originou exatamente da maldade das pessoas, ela foi criada, é a representatividade do mal, e não o próprio. Ninguém é totalmente bom. Ninguém está a salvo do lado obscuro da vida, Elisa. — Meu interior queima, com raiva. 

     Estou cansada de ser chamada de cruel e de monstro por simplesmente ter coragem de carregar o título que todas as pessoas deveriam levar.

     O silêncio reina. Elisa senta na cadeira, finalmente disposta a ouvir. Damien está encostado no batente do cômodo, sério, evitando olhar para qualquer um. Dominic aperta os lábios, ainda desconfortável. Nickolas tem o azul de seus olhos tão turbulento como um mar durante a tempestade. 

     — Fiz a conexão, Wistic falou que tem alguém muito mais poderoso que Millen por trás de tudo, e que suspeita que "o mago" esteja envolvido. — A expressão deles é mais impactante que a de Damien. Dom fica tenso e Elisa tampa a boca com as duas mãos. Nickolas levanta abruptamente se apoiando na mesa, as veias aparecendo abaixo dos olhos. 

     — Ele não pode estar de volta! — Dominic exclama, apontando para o ar, as mãos gesticulando freneticamente, preocupado.

     — Ele não estava morto. O que esperava? Que fosse se mudar para um campo e aproveitar a paz? — Damien ri incrédulo, o tom raivoso disfarçado com deboche. 

     — Esperávamos que fosse nos deixar em paz depois de tudo! Não basta o que aconteceu?! — Nickolas grita.

     Elisa se afasta, apoiando-se na pia enquanto pega um copo d'água ao ver a expressão de puro ódio de Damien.

     — Ele voltou antes! Ele avisou que voltaria! Se os dois idiotas se acomodaram e pararam de se preocupar, a culpa não é de ninguém mais senão de vocês! Ele está de volta e dessa vez mais forte, com um exército de bruxos e uma feiticeira que foi aprendiz de uma Viens, a linhagem que um dia fora a mais poderosa de bruxas elementais da água! O que acham que vai acontecer? Uma linda reunião feliz onde todos sentam, tomam chá e falam do passado?! — Damien também se transforma, o tom elevado e assustador. 

     — Damien está certo — Dom fala, entre eles é o único que continua em sua forma humana e calmo. 

     — Pare de correr para Damien sempre que não sabe o que fazer! — Nickolas revira os olhos para o irmão que finalmente perde a calma, os olhos brilhando de raiva. 

     — E eu digo o mesmo para você com Elisa! — Nickolas sempre será aquele que tira Dominic do seu conforto, que o faz dizer e fazer coisas que ele abomina. Nickolas foi quem machucou Dominic, e mesmo sendo anos atrás, a traição não é algo fácil de esquecer. — Damien está certo, e você sabe, mas é mimado demais para admitir! Vamos, Nickolas! Corra contar para a querida mamãe! Conte para ver se dessa vez Damien não é morto! 

     Sei que a discussão saiu do controle quando Nickolas avança na direção de Dom e o joga sobre a mesa. 

     — Desgraçado! — grita revoltado. 

     Dominic é rápido para se recuperar e acertar o mais novo com um soco, e logo depois uma sequência desses. 

     Os dois estão caídos no chão, como dois lutadores, um prestes a perder a vida. 

     — Damien! Vão se matar! — Elisa grita para o vampiro que tinha os olhos tão negros que era impossível diferenciar as íris e pupilas. 

     Ele a olha de soslaio, os punhos fechados e a expressão tão fria que poderia congelar quem o olhasse. 

     — Um dia, você foi uma bruxa forte e determinada. Hoje é somente uma pessoa fraca que tem medo de revelar o verdadeiro poder por ter sofrido traumas. — O vampiro sorri cruel. — Quer saber, Elisa? Você julga a todos. Mas esquece que não é a única a passar por momentos difíceis. Não é só você que tem traumas. Todos nós temos história. Isso te choca? — pergunta frio e a senhora dá um passo para trás. 

     Damien vira a costa e antes de sair se pronuncia uma última vez. 

     — Não ache que tem o direito de se preocupar comigo quando fica claro que tem medo e que não me conhece, e muito menos me entende. Eu não sou mais o mesmo, Elisa.

     A mulher começa a chorar e reviro os olhos, por um momento desejando que tudo à minha volta exploda. 

     — Chega! — grita, o poder azul irradiando de suas mãos e separando os dois irmãos ensanguentados. — Chega os dois! Por favor! É muito para absorver! Ele está de volta! Vocês brigando! Uma possível guerra se aproximando! Minha filha voltará a vida! Por favor, parem! — Seus joelhos fraquejam e a seguro. 

     Dominic e Nickolas correm na direção da mulher, finalmente notando as coisas ao redor. 

     — Elisa... — Nick sussurra arrependido, as lágrimas escorrendo. Dominic tentar segurar o corpo fraco da mulher, mas faço uma careta para o sangue manchando suas roupas. 

     — Não sei se percebeu, mas ela está em um péssimo estado. Ficar perto de sangue não é uma coisa que a fará bem. — A pego no colo e Nickolas encara perplexo. — O fato de eu estar aqui há meses e vocês não se acostumarem com eu ser um demônio me deixa levemente preocupada. — Reviro os olhos revelando a ironia na frase. — Eu acho que tenho muito a entender. Afinal acho que não devo mais falar o mago e sim Ele.

     Os irmãos desviam os olhares e dou a costa, seguindo para as escadas com Elisa nos braços, agora desmaiada. 

     As coisas não serão nada fáceis daqui para frente. Acho que nunca foram.

     Tudo o que está ruim, pode piorar. Eu adoro esse ditado, e ele define essa história (e a vida da Maeve, coitada).

     Até o próximo♥️🌟

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