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By catratonks

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๐˜๐„๐€๐‘ ๐…๐Ž๐”๐‘
๐˜๐Ÿ’: Quidditch World Cup
๐˜๐Ÿ’: The Triwizard Tournament
๐˜๐Ÿ’: The Four Champions
๐˜๐Ÿ’: Potter Stinks
๐˜๐Ÿ’: The First Task
๐˜๐Ÿ’: Will You Dance With Me?
๐˜๐Ÿ’: Yule Ball
๐˜๐Ÿ’: The Golden Egg
๐˜๐Ÿ’: The Second Task
๐˜๐Ÿ’: Truth Or Dare
๐˜๐Ÿ’: The Third Task
๐˜๐Ÿ’: Everything Changes
๐˜๐„๐€๐‘ ๐…๐ˆ๐•๐„
๐˜๐Ÿ“: Grimmauld Place
๐˜๐Ÿ“: The Silver Dress
๐˜๐Ÿ“: The Prank
๐˜๐Ÿ“: Dolores Umbridge
๐˜๐Ÿ“: Firefly Conversations
๐˜๐Ÿ“: Harry, My Harry
๐˜๐Ÿ“: The Astronomy Tower
๐˜๐Ÿ“: The High Inquisitor
๐˜๐Ÿ“: The Revenge
๐˜๐Ÿ“: The Reunion
๐˜๐Ÿ“: Midnight Talking
๐˜๐Ÿ“: Dumbledore's Army
๐˜๐Ÿ“: Weasley Is Our King
๐˜๐Ÿ“: Love Potion
๐˜๐Ÿ“: Nightmares
๐˜๐Ÿ“: Holly Jolly Christmas
๐˜๐Ÿ“: Maddie's Birthday Party
๐˜๐Ÿ“: Fireworks
๐˜๐Ÿ“: Draco Malfoy
๐˜๐Ÿ“: Honeycomb Butterflies
๐˜๐Ÿ“: Expecto Patronum
๐˜๐Ÿ“: The New Seeker
๐˜๐Ÿ“: Breakdown
๐˜๐Ÿ“: A Whole New Perspective
๐˜๐„๐€๐‘ ๐’๐ˆ๐—
๐˜๐Ÿ”: Horace Slughorn
๐˜๐Ÿ”: The Burrow
๐˜๐Ÿ”: Weasley's Wizard Wheezes
๐˜๐Ÿ”: August 11th
๐˜๐Ÿ”: Back to Hogwarts
๐˜๐Ÿ”: Amortentia
๐˜๐Ÿ”: The Quidditch Captain
๐˜๐Ÿ”: Draco?
๐˜๐Ÿ”: Falling Apart
๐˜๐Ÿ”: The Bookstore of Mysteries
๐˜๐Ÿ”: The Curse
๐˜๐Ÿ”: Slug Club
๐˜๐Ÿ”: Champagne Problems
๐˜๐Ÿ”: Dirty Little Secret
๐˜๐Ÿ”: Sign Of The Times
๐˜๐Ÿ”: Road Trip
๐˜๐Ÿ”: Whispers and Secrets
๐˜๐Ÿ”: Shopping Day
๐˜๐Ÿ”: Rufus Scrimgeour
๐˜๐Ÿ”: The Hunt
๐˜๐Ÿ”: Valentine's Day
๐˜๐Ÿ”: Quidditch Disaster
๐˜๐Ÿ”: Sixteenth Birthday
๐˜๐Ÿ”: Liquid Luck
๐˜๐Ÿ”: Sectumsempra
๐˜๐Ÿ”: The Cave
๐˜๐Ÿ”: What Starts, Ends
๐˜๐„๐€๐‘ ๐’๐„๐•๐„๐
๐˜๐Ÿ•: The Seven Potter's
๐˜๐Ÿ•: The Birthday Party
๐˜๐Ÿ•: The Wedding
๐˜๐Ÿ•: The Murderer
๐˜๐Ÿ•: September 1st
๐˜๐Ÿ•: The Sins Of Tragedy
๐˜๐Ÿ•: Body and Soul
๐˜๐Ÿ•: Slytherin's Locket
๐˜๐Ÿ•: The Depths Of Fall
๐˜๐Ÿ•: Breaking Hearts
๐˜๐Ÿ•: Godric's Hollow
๐˜๐Ÿ•: The Sword
๐˜๐Ÿ•: The Deathly Hallows
๐˜๐Ÿ•: Bellatrix's Vengeance
๐˜๐Ÿ•: Highs And Lows
๐˜๐Ÿ•: The Talk
๐˜๐Ÿ•: The Plan
๐˜๐Ÿ•: Knives? Sure!
๐˜๐Ÿ•: The Boy Who Lived
๐˜๐Ÿ•: When Nightmares Come to Life
๐˜๐Ÿ•: Blood And Bone
๐˜๐Ÿ•: Voids
๐˜๐Ÿ•: Death Comes
๐˜๐Ÿ•: Sunflowers
๐˜๐Ÿ•: Turning Page
๐˜๐Ÿ•: Intertwined Fates
๐€๐…๐“๐„๐‘ ๐“๐‡๐„ ๐–๐€๐‘
I. Surprises
II. Soft Kisses And Bad Dreams
III. Death's Lullaby
IV. WARNING: DANGER!
V. Hunting Season
VI. The Corner Of The Lost Souls
VII. The Letter
VIII. Sex On The Beach

๐˜๐Ÿ“: Happy New Year!

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By catratonks

A festa durou até as quatro da manhã, mas meus amigos e eu subimos um pouco antes. Por ser um aniversário de gala, não ouve os típicos parabéns de sempre, e tenho certeza de que Maddie virou a noite abrindo todos os presentes que recebera, provavelmente porque dormira até as cinco da tarde do dia seguinte. Quando nos reunimos para jantar no terraço, na parte de trás da casa, perguntei ocasionalmente se minha irmã não tinha conversado com Tonks antes da mulher voltar para a sede da Ordem da Fênix. Maddie não respondeu.

Aquilo definitivamente não podia significar coisa boa.

Os dias se transcorreram, e acabou que passamos o restante das nossas férias de fim de ano na casa de minha mãe e Dorcas, o que nos proporcionou várias tardes maratonando filmes e noites de festas do pijama intermináveis feitas por motivo algum. Num desses dias, em que estava frio demais até para ficar dormindo, vestimos nossas roupas de frio habituais e saímos para aproveitar os montes de neve que agora cobriam os jardins da propriedade (acredito que um feitiço tenha sido aplicado sobre a casa durante a festa de Maddie, para que os convidados ficassem à vontade e bem aquecidos, então não havia o menor indício que fosse do auge do inverno quando chegamos ali).

O sol brilhava sem muita intensidade, e a neve branquinha afundava sob nossos pés. Fred e George jogaram-se no chão e começaram a esfregar as pernas e braços na terra, fazendo anjos de neve que mais pareciam gigantes dos antigos contos medievais.

— Aposto que o meu será maior que o seu — disse Fred para George, referindo-se à envergadura das "asas" de seus respectivos anjos de neve.

— Vocês dois tem literalmente a mesma altura! — disse Ron, abismado.

De longe, Ginny e eu os observávamos com um sorriso.

— Eles nunca vão amadurecer, vão?

— Acho difícil — disse Ginny, olhando para mim enquanto eu encarava Harry e Hermione, que do outro lado do jardim trabalhavam para montar um grande boneco de neve. Os olhos dele capturaram os meus, e Harry sorriu um pouquinho antes de voltar-se para aquela montanha de neve fofa e macia. Hermione caçoou dele, provavelmente dizendo que meu namorado era muito cadelinha ou algo do gênero. Não que estivesse mentindo. Ginny pigarreou: — Como estão as coisas entre vocês?

— Perdão?

— Você e Harry.

— Ah — voltei a olhar para ele, que agora posicionava a cabeça do boneco em seu devido lugar. — Estão ótimas, Harry é um amor.

— Ele parece amar muito você — disse ela, baixinho. — De verdade, dá para ver no jeito com o qual ele te olha. Às vezes confesso que tenho inveja.

Meu coração bateu mais forte. Não, não, não. Ela não podia estar falando que queria estar no meu lugar, não agora que Harry e eu finalmente fizemos as pazes; não podia.

— Como assim? — tentei me fazer de sonsa.

— Vocês se entendem — explicou ela. — Você o ama, e ele ama você. Queria que alguém sentisse pelo menos um terço disso por mim, algum dia.

Senti um peso no estômago.

— Mas você tem o Michael Corner, não tem? — disse eu, incerta. — Disse que gostava dele.

— É, mas não é para tanto — disse Ginny. — E não acho que ele vá querer algo sério a longo prazo, vive olhando furtivamente para Cho Chang.

— Sinto muito.

— Não sinta. Garotos são estúpidos, S/N, essa é uma coisa que você tem que ter em mente. Gostar de meninas é muito melhor.

Olhei de uma vez em seus olhos, surpresa. E pela primeira desde que eu me lembrava, talvez pela primeira vez na vida, Ginny
ficou um pouco vermelha e desviou sua atenção de meus olhos.

— Eu não sabia que você...

Eu não disse nada.

De longe, pude ver que Harry fazia os olhos do boneco com pequenas pedrinhas coloridas que achara pelo chão enquanto Hermione saía em busca de gravetos para fazer os braços. Ron se juntou a eles, e agora discutia com minha melhor amiga sobre alguma coisa que provavelmente era extremamente infantil e irrelevante aos olhos dela.

— Se não gosta dele do jeito que espera que gostem de você, o que está esperando? — perguntei. Não insisti no assunto de antes porque podia ser que Ginny não estivesse pronta para falar. — É por algum motivo bobo e idiota?

— É óbvio que é por um motivo bobo e idiota.

— Então, por quê?

Ginny mordeu os lábios.

— Michael é legal.

— Legal — disse eu, olhando para ela novamente. Ginny parecia que estava distante e perto ao mesmo tempo, como se os imãs dentro de si a empurrassem para longe quase que com a mesma intensidade que faziam permanecer. — Você já esteve apaixonada, Ginny?

Seu olhar seguinte foi tão penetrante que tive a sensação de que Ginny estava tentando ver através de mim. Confesso que fiquei um pouco intimidada.

— Só uma vez.

Bem nessa hora, Harry veio correndo em nossa direção com Hermione no seu encalço. Ambos se chocaram contra nossos corpos, e todos caímos no chão coberto de neve branca e macia. E é óbvio que Ron não podia perder a oportunidade, porque jogou-se sobre nós de propósito também.

— Terminamos nosso boneco de neve.

— Sério? — perguntei, e Harry me lançou um sorriso infantil, orgulhoso de seu trabalho. — E qual é o nome dele?

— Não seja boba, meu bem, não somos crianças para dar nomes a bonecos de neve.

— Que mentira! — disse Ron. — "O nome dele é Apollo, Ron, como o boneco de neve que S/A e eu fizemos quando tínhamos nove anos"...

— Dez — corrigiu Harry, agora sentado, mas vermelho até as orelhas.

— Apollo? — perguntei, surpresa. — Que bonitinho, Harry!

— Não conheço nenhum Harry.

— Hazz, eu quis dizer Hazz.

— Hm.

— Amor.

— Melhorou.

— Oi, amor, será que você não pode fazer brigadeiro para mim? Estou tão sozinha e triste, preciso de carinho — berrou Fred, aparecendo atrás de nós e fazendo uma imitação bizarra de dois amantes nada convencionais. — Acho que vou morrer, preciso de um beijo seu para me curar, ó céus!

Todos caíram na gargalhada. Até Harry e eu, que levantamos nossos dedos do meio simultaneamente e os mostramos ao garoto.

— Nossa, mas para quê tanta violência? — disse George, ao lado de Fred, levando a mão ao peito num gesto dramático. — Achei tóxico, vocês dois são muito radioativos. Tem certeza de que não são duas baratas que nasceram em Chernobyl?

Estreitei os olhos para ele, depois encarei Harry e Hermione, e Ron também; e ao mesmo tempo enchemos nossas mãos com punhados de neve (que caíam de tempos em tempos por causa das luvas de algodão), nos preparando para a guerra.

— Você é um homem morto, George Weasley — falei, me levantando.

— Ih, se fodeu — riu Fred. Fiz questão de mirar nele primeiro.

— Acho que não, ein — falei. Hermione já estava posicionada ao meu lado, estudando nossos adversários. — Vocês dois são batatinhas do mesmo pacote.

Fred começou a correr, e tropeçou nos próprios pés, caindo no chão. George gargalhou. Voltei-me para o gêmeo n° 2, e por um momento não pude diferenciá-los propriamente, mas não importava.

— Assustada, futura Sra. Potter? 

Meu sorriso cresceu.

— Bem que você queria.

E atirei a primeira bola.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Ainda naquele dia, quando o sol se pôs e estava muito escuro para enxergar qualquer coisa do lado de fora, voltamos para casa, tomamos banho e trocamos nossas roupas geladas por casacos e suéteres quentes e confortáveis. Isso também significava que tivemos que abandonar Apollo, e eu sinceramente esperava que os filhos do vizinho não o destruíssem como da última vez.

Hermione e eu fomos até a cozinha a fim de preparar chocolate quente para todo mundo, colocando-o em fundas canecas de porcelana quando ainda estava fumegante, a fumaça espiralando no ar. Segurei a minha com uma das mãos e a de Harry com a outra. Quando entrei na sala e sentei-me à mesa de jantar com meu livro debaixo do braço, Harry desceu a enorme escadaria de vidro, dando uma olhada rápida para o piano de cauda que havia ali perto. Tenho que admitir, eu estava louca para experimentá-lo.

Harry, assim como eu, estava em seus pijamas e tinha seus cabelos molhados e ainda mais bagunçados que o habitual. Carregava um livro nas mãos, mas não pude ver qual era o título porque a capa não estava voltada mim. Sentou-se ao meu lado, aceitou a caneca de chocolate quente que lhe ofereci e agradeceu com um beijo em meus cabelos. Fiquei feliz por não me pressionar sobre o assunto do piano. Depois de tomar um gole de sua bebida, Harry colocou o livro sobre a mesa e o abriu na primeira página. Ergui a cabeça de minha leitura atual e dei uma olhada na dele.

— Que livro é esse? — perguntei, curiosa.

— Corte de Névoa e Fúria.

Quase engasguei com o chocolate que estava tomando.

— S-sério?

— Não fique brava, amor, mas acho que você guardou seus livros em meu malão por acidente, eu os achei lá ontem a noite — respondeu ele, meio sem jeito. — Virei a madrugada lendo o primeiro, mas só ia te contar quando terminasse porque queria conversar sobre os personagens com você sem parecer que não entendo nada do assunto, sendo que acabei me viciando, e, quando fui perceber, tinha lido umas quatrocentas páginas de uma vez só.

— Nossa, você lê muito rápido — dei uma risadinha nasalada. — Seu nome é Harry James Potter, ou Barry Allen?

— Quem?

— É o Flash, aquele super-herói que corre muito rápido — disse eu. Harry assentiu, e fez um sonoro "ahhh, sim, sei quem é". — Mas não se preocupe, pode ler. O que é meu também é seu.

— Sério mesmo? — perguntou ele, e pude ver que seus olhos brilharam de felicidade.

— Sério — ri. — Mas não vá ficar achando que sou depravada quando terminar, principalmente quando chegar no capítulo cinquenta e cinco.

— O que tem no capítulo cinquenta e cinco?

— Leia para descobrir.

Alguns minutos depois, Harry fechou o livro de uma vez e ficou encarando a parede. Tive que me esforçar muito para não rir. Dei uma olhada em que página ele estava, era a vinte e nove.

— Hmmm — falei, assentindo. — O primeiro hot a gente nunca esquece.

Nos entreolhamos e caímos na gargalhada.

— Bem, eu só não entendo como eles fizeram tanto em três páginas — disse eu quando nos recuperamos.

Harry chegou mais para perto, quase encostando nossos lábios, e murmurou:

— Eu também posso fazer muito em apenas três páginas — provocou ele. — Quanto tempo você acha que eu levo para...

Harry Potter!

Ele não se aguentou e começou a rir, beijando meus lábios com carinho em seguida e voltando-se para o livro logo depois. Apoiei meus pés em seu colo e continuei a ler também.

Foi um momento bem tranquilo, porque meus pais ficaram num dos andares de cima bebendo vinho e conversando em uma das varandas da casa enquanto até mesmo Fred e George mantiveram-se conversando baixinho num canto, provavelmente debatendo sobre a pegadinha dos fogos de artifício da qual eu participaria quando as aulas retornassem. Hermione também lia, assim como eu, e Ron muito discretamente fingia prestar atenção, mas percebi quando ele de vez em quando tirava os cabelos da morena de seu rosto e os colocava para trás da orelha da menina. Hermione fazia esforço para não corar.

O engraçado era que Ginny não deu as caras pelo resto da noite.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Bati na porta do quarto de Harry e entrei quando ele autorizou.

— Hermione está usando minha penteadeira, posso usar o espelho do seu banheiro, Hazz?

Mas Harry parou de raciocinar no momento em que me viu.

Era dia trinta e um de dezembro, e eu usava o vestido novo que minha mãe havia me dado de Natal. Ele era branco, curto, e colado ao corpo, com alças finas e um pequeno decote que fazia com que meus seios parecessem um pouquinho maiores, mas que não mostrava quase nada além de um pequeno volume na região logo abaixo de minha clavícula. Eu usava brincos finos prateados com brilhantes caindo em cascata e pequenos saltos da mesma cor, minhas unhas agora tingidas de branco com um feitiço que Remus me ensinara, mas que não fazia diferença alguma porque o homem sabia que eu não tinha permissão para usar magia fora da escola.

Fiquei parada na frente de Harry, segurando o estojinho de maquiagem que havia trazido. Ele ainda me encarava.

— Hazz, o espelho.

— Ah, sim, certo — disse Harry, saindo de seu transe. — O que tem ele?

O canto de meus lábios repuxou-se num sorriso fino. Fechei a porta atrás de mim.

— Posso usá-lo emprestado?

— Ah, claro, claro que pode.

Andei em passos firmes até o banheiro de Harry e coloquei meu estojinho sobre a bancada da pia; abri-o e tirei de lá um corretivo em forma de bastão. Peguei uma esponja laranja que eu tinha e comecei a espalhar parte do conteúdo em meu rosto. Atrás de mim, Harry observava meus movimentos através do espelho, seus braços cruzados como se estivesse pensando.

— Terminou o livro? — perguntei, agora aplicando umas gotas de base em meu queixo, testa e bochechas.

— Terminei.

— Qual é sua cena favorita?

— Aquela em que seu personagem favorito aparece pela primeira vez.

— Rhysand?

— É.

— Ele me lembra você, sabe — comentei. — Principalmente em questão de personalidade. Tem certeza de que não são irmãos?

— Bem, que eu saiba, não somos — nós dois rimos. Harry se aproximou e afastou meus cabelos para o lado com uma mão, firmando a outra em minha cintura. Começou a distribuir beijos na extensão de meu pescoço logo depois. — Não quer me apresentar a ele?

— Ainda não nos conhecemos pessoalmente, você sabe, ele é ocupado.

Enquanto espalhava a base pelo rosto, Harry foi beijando meu pescoço até minha orelha, mordiscando meu lóbulo com carinho. Depois segurou minhas mãos nas dele, de modo que a maquiagem não manchasse meu vestido, e distribuiu pequenos selinhos em meus lábios, dando-lhes pequenas mordidinhas também. Suspirei em sua boca, e minhas mãos foram imediatamente para seus cabelos escuros, envolvendo os fios negros e fazendo carinho enquanto Harry se ocupava em me beijar. Respirei contra sua boca. Harry abraçou minha cintura e, aos poucos, me virou de costas para o espelho, prensando-me contra a pia.

— Hazz — ele me deu um beijo. — Harry — outro beijo — , preciso... — e mais um — terminar de... — e outro — me maquiar!

— Não precisa não — disse ele contra meus lábios. — Você não precisa nem usar maquiagem, meu amor, porque já é bonita naturalmente.

— Hm, mas não sou uma Angelina Jolie da vida.

— Tem razão, você é melhor — ele pôs uma das mãos em minha cintura, e a outra em minha nuca, aprofundando o beijo mais, mais e mais. Eu estava à mercê de seus toques. Todos eles. — Já te disse que está maravilhosa hoje?

— Não, mas não me importo que diga quantas vezes quiser.

— Pois você está muito gostosa — disse ele, mordiscando meu lábio inferior de novo. — Mais que o normal.

Senti um arrepio estranho em minha barriga, um friozinho que ao mesmo tempo era quente e bom. Me afastei com vários selinhos, mas não queria parar de beijá-lo, ou de puxar seu cabelo enquanto Harry me explorava com a língua, ou de mordiscar seus lábios para vê-lo louco sob minhas mãos. Poderia ficar naquilo para sempre.

— O que deu em você hoje? — perguntei, divertida. Harry ficou um pouco vermelho. — Não que eu não tenha gostado, porque amei, quero dizer.

— Nada — respondeu ele, se afastando com relutância. Guardei a esponjinha que estava em minha mão e passei um pouco de rímel nos olhos. Harry me observou, como se tentasse captar cada detalhe. — Não posso elogiar minha namorada?

— Claro que pode. Você está muito bonito também — disse eu, olhando em seus olhos e beijando a pontinha do seu nariz. Guardei minhas maquiagens no estojinho depois. — Terminei. Vamos descer?

Desliguei a luz do banheiro e caminhei até a porta. Harry me seguiu, e ofereceu o braço num gesto de cavalheirismo.

— Vamos.

Eu sentira falta desses momentos — momentos nos quais não havia nada no mundo senão Harry e eu. Quero dizer, sempre fora assim, mas agora era diferente. Estávamos mais velhos, tínhamos mais responsabilidades, e todo o tempo que tínhamos juntos escorria por entre meus dedos como ouro líquido. Eu mal o percebia passar, e talvez fosse por isso que para mim um dia inteiro sem aquela válvula de escape era muito.

Parte de mim odiava isso: meu maior pesadelo sempre fora ter um namorado grudento que não respeitasse meu espaço e ficasse me desejando um bom dia e uma boa tarde a cada cinco segundos; mas parecia que Harry soubera exatamente como moldar meu coração de forma que o dele também coubesse em meu peito, como se os dois batessem em compasso num ritmo só.

Ele era a pessoa mais respeitosa que eu conhecia, e era gentil, e sabia quando e onde deveria parar. Talvez fosse esse um dos motivos pelos quais eu temia que, no futuro, nos transformássemos num daqueles casais que passaram tanto tempo juntos que acabavam cansando da companhia um do outro, cada um dormindo em seu respectivo lado da cama. Entretanto, olhando para o sorrisinho no canto da boca de Harry de pura satisfação ao apenas segurar minha mão, eu soube que não havia coisa mais improvável.

Descemos a escadaria de vidro e encontramos os outros, que já estavam lá embaixo, acomodados em volta da mesa e do extenso sofá. Me perguntei por que sempre éramos nós quem chegávamos por último, e concluí de que tínhamos que parar de nos beijar em horários que fossem pouco convencionais.

Mas qual seria a graça?, ouvi uma voz em minha cabeça. Congelei. Conhecia aquela voz muito bem, melhor que a palma da minha própria mão.

Encarei Harry. Desde quando ele sabia no que eu estava pensando?

Os outros pararam de conversar e me olharam de volta de onde estavam, como se esperassem que eu falasse. Senti uma pontada em minha cabeça, e Harry me amparou quando pisquei um milhão de vezes.

— Você está bem, S/N? — perguntou Hermione. Mamãe e Remus, que conversavam há alguns metros, pararam para ouvir. Meu pai bebeu um gole de vinho branco enquanto nos observava.

Aquilo não fazia sentido algum. Por que Harry raios a voz de Harry se propagaria dentro de meu cérebro? Eu só podia estar ficando louca, ou tão apaixonada que estava passando do limite de normalidade. Era em momentos como esse que eu começava a me perguntar se vivia numa bolha além da realidade, ou se talvez sofresse de um coma terminal porque as peças em minha mente tinham tamanhos diferentes e não se encaixavam e não faziam sentido.

— S/N? — a voz de Remus me acordou de meu transe. Todos olhavam para mim, agora, e Ron agitava uma das mãos diante de meus olhos para ver se eu estava enxergando. O pior é que não estava. Minha mente transcendeu estranhamente para uma nuvem de pensamentos firmes, obscuros, com apenas uma pequena esfera de luz iluminando-os propriamente. De algum modo, eu sabia que a luz provinha de mim, e de uma ideia recente que consistia num par de anéis moldados em borboletas que se encaixavam e transcendiam. Como um quebra-cabeça de milhões de pedacinhos que estavam espalhados e ao mesmo tempo juntos demais.

Pisquei, atordoada, e olhei nos olhos de Harry. De algum modo, ele pareceu ter sentido também.

— Como você fez isso? — sussurrei.

Ele apenas me encarou de volta, sem desviar o olhar.

— Por que falou em minha cabeça?

— S/N, Harry não abre a boca desde que chegou — murmurou Remus, preocupado. O homem se aproximou e mediu minha temperatura. — Você está meio gelada, tem certeza de que está bem?

— Estou, deixe disso.

— Será que não devemos levá-la ao St. Mungus? — perguntou papai, deixando a taça de lado. — Faz um tempo desde que S/N apresenta esses sintomas estranhos.

— Estou bem, já disse — desviei do toque deles e andei até o sofá. — Sério, só preciso me sentar um pouco. O mundo está girando.

— Bem, estamos num planeta, é óbvio que está girando — disse Ron.

— Ela quis dizer que está tonta, Ronald — disse Hermione enquanto revirava os olhos, me ajudando a chegar no sofá. Fred e George riram do irmão, e Ginny não tirou os olhos preocupados de mim por um momento sequer. — Vou fazer um chá para você.

Respirei fundo e apoiei minha cabeça no encosto. Minutos atrás eu estava completamente bem, disposta, beijando meu namorado e passando maquiagem em meu rosto; e de repente tudo virou de pernas para o ar quando a voz de Harry quebrou cada pequena barreira mental feita de ferro dentro de minha cabeça e me destruiu enquanto me reduzia a pedacinhos tão pequenos que mais pareciam com nuvens de fumaça incandescente e pó. Foi como alimento, nutrindo aquela parte vazia de mim que ansiava por expressar sentimentos de todos os jeitos possíveis e nunca antes imaginados, como se ainda assim algo estivesse faltando; algo que ia muito além do preenchimento físico e psicológico que as cavidades de Harry forneciam a mim e se sobrepunham como se não quisessem largar umas às outras de jeito nenhum; como se meu corpo ansiasse pela fusão do cérebro e alma de Harry ao meu, como pensamentos lutando e serpenteando para transformar-se num só.

Enquanto esperava pelo chá que Hermione me prometera, pensei em cada uma das possibilidades que me assolavam e em um pouquinho mais. Harry e Ron se acomodaram no mesmo sofá que eu e trocaram não mais que seis palavras de pura cortesia e constrangimento.

Foi esse o momento que Maddie escolheu para entrar correndo pela porta da frente e pendurar o grosso casaco escuro no cabideiro que havia no saguão de entrada, desamassando o próprio cabelo com os dedos das mãos e verificando se suas roupas estavam no devido lugar. Decidi que era a hora perfeita para mudar de assunto — para falar sobre qualquer coisa, na verdade; para quebrar aquele silêncio mortal.

— Onde você estava?

O sorriso sarcástico de Maddie vascilou, e seus olhos brilharam como se pedissem por ajuda. Agora não, eles pareciam dizer. Imediatamente entendi que tinha feito merda.

— É, Meadowes, onde você estava? — perguntou papai a ela. Quase pude sentir o sangue de minha irmã congelando dentro do próprio corpo.

— Estava com um amigo.

— Um amigo.

— É.

Papai franziu as sobrancelhas.

— Fazendo...? — minha mãe fez questão de cobrir o rosto com as mãos, como se recusasse encarar aquele desastre em potencial.

— Nada demais, passeando de carro.

— De carro?

— Sim, você sabe, não podíamos aparatar porque ele é trouxa, seria bem estranho para ele descobrir de uma hora para a outra que existe magia...

— Você não tem amigos trouxas, Valeria.

— Não seja preconceituoso.

— Não estou sendo — disse papai. — Você evita entrar em contato com qualquer um que não seja do Mundo Mágico a não ser que seja extremamente necessário, desde que...

Maddie trincou os dentes, e papai parou imediatamente quando percebeu o que acabara de dizer. O que estava prestes a trazer à tona. Os olhos de minha irmã subitamente ficaram sem brilho algum, e ela não pareceu mais se importar com o fato de que seu batom estava meio borrado, ou que ainda havia fios em sua cabeça que não estavam em seu devido lugar.

— Desculpe, foi sem querer, eu não quis... — disse ele, mas as palavras se perderam quando papai deu alguns passos à frente e segurou os ombros de Maddie com as duas mãos. Ele sabia que aquela conversa era estritamente proibida entre qualquer um de nós. Maddie desviou de seu toque. — É sério, V. Me desculpe.

— Esqueça — disse minha irmã friamente. — Vou beber.

Admirei sua coragem, e fiquei mais surpresa ainda quando papai não contestou. Ele sempre bebia, mas não gostava que seguíssemos sua influência. Remus tampouco aprovava, mas saiu do meio para que Maddie andasse livremente até a adega que enfeitava o corredor principal do Hall de Entrada da casa de minha mãe.

Bem nessa hora, Hermione voltou com a xícara de chá que havia prometido e entregou-a a mim. Todos ficaram subitamente interessados em me observar enquanto espantei o calor excessivo da bebida com um sopro de vento e tomei gole.

Papai encarou Harry por alguns minutos. Talvez minutos demais. Harry mexeu-se desconfortavelmente no sofá e trocou um olhar rápido com Fred e George, que apenas franziram o cenho e acenaram discretamente com o queixo.

— Por que tem maquiagem no seu cabelo, Harry? — perguntou ele. Às vezes, a facilidade com a qual todos fingíamos que não sabíamos nada sobre o que estava acontecendo me assustava.

— Tem? — quis saber Harry, levando uma das mãos distraidamente até os cabelos e depois analisando-a. Era um pouco da base que estava em minhas mãos quando estávamos nos engolindo no banheiro.

— Tem.

Harry e eu trocamos olhares nervosos.

— Ele estava me ajudando a guardar minhas coisas, deve ter sujado o cabelo.

— E Harry carregou suas maquiagens com a cabeça, foi?

— Engraçado, né?

Papai abriu a boca para contra argumentar, mas minha mãe interveio.

— Sirius, vá falar com Maddie. Tente fazê-la se abrir, e não deixe-a encher a cara como da última vez — da última vez em que o assunto fora mencionado, meses atrás.

Ele nos olhou por mais alguns segundos.

Sirius.

— Estou indo, Lene.

Estar sozinha com meus amigos novamente foi um alívio. Bem, mamãe, Dorcas e Remus também estavam ali, só que voltaram a sentar-se diante da mesa da sala de estar enquanto trocavam palavras quase inaudíveis. Tomei outro gole da bebida em minha xícara.

— O que diabos acabou de acontecer? — perguntou Ginny, que ficara calada até agora.

— Não falamos sobre isso aqui, ou em canto nenhum — explicou Harry. — Nunca.

— Mas...

— Me desculpe, Ginny, mas ele tem razão — falei. Juro que não queria ser indelicada, mas deu para perceber que a menina ficou meio chateada. — Sério, por favor, não fique triste nem nada, mas realmente não podemos. Algumas coisas... Algumas coisas simplesmente precisam ser esquecidas.

Fred e George trocaram olhares com Ron e Hermione, e depois todos se voltaram para nós.

— Se serve de consolo, somos os únicos que sabemos — disse eu. — Nem Tonks faz ideia.

Ginny assentiu, e foi para perto dos gêmeos. Às vezes, eu me sentia mal por ela. Toda essa situação de ser mais a nova meio que parecia incomodá-la constantemente.

Harry voltou-se para mim, medindo minha temperatura assim como Remus fez. Coloquei a xícara vazia sobre a mesa.

— Sério, Harry, como você fez?

Ele sabia que eu estava falando sério, é tanto que não me corrigiu como quando dizia para eu chamá-lo de amor.

— Não faço ideia — admitiu. — Bem, mas você que começou.

— Eu?

— Você — afirmou ele. — Escutei sua voz em minha cabeça também, mas só percebi o que aconteceu quando você falou. Responder foi involuntário. Não notou quando me chamou?

A sensação de Harry invadindo minha mente não fora ruim, pelo contrário; me acolheu de um jeito bom. Apenas fiquei muito assustada com a situação. E agora que ele dizia que eu falara em sua cabeça também, me perguntei se não era esse um dos motivos pelos quais Dumbledore solicitara minha presença em sua sala, quando Harry sonhou que Arthur havia sido atacado. Bem, quando nós sonhamos.

— Não.

O Sr. e a Sra. Weasley foram para casa quando a festa de Maddie acabou, e ouvi dizer que celebrariam o ano novo com Gui e Carlinhos, e certamente que não podiam ficar por causa das condições de saúde nas quais Arthur se encontrava. Então, a noite estava até que silenciosa, principalmente depois de todo aquele diálogo.

Depois, foi involuntário não pensar de novo em Dumbledore, e no motivo pelo qual ele estava me evitando, e no fato de que seus olhos nunca pairavam sobre mim...

Não. Aqueles eram pensamentos de Harry, não meus. Nos olhamos de novo, mais intensamente desta vez. Quase pude sentir seus globos oculares no lugar dos meus.

Aquele homem definitivamente estava escondendo alguma coisa de nós. Dumbledore, quero dizer. E eu tinha a estranha sensação de que tal coisa era muito maior e mais importante do que sequer podíamos imaginar, que era importante para nós. Para Harry, pelo menos, embora aquele brilho esverdeado por trás dos óculos redondos dissesse que essa conexão entre nós era mais crucial que quase qualquer outra coisa.

Também acho.

Olhei para Harry mais uma vez.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

NARRADORA ON

Maddie Valeria Meadowes pensava nas milhões de possibilidades de sua vida enquanto bebia whisky de fogo diretamente na garrafa quando Sirius apareceu. Normalmente, era alegre e tinha a capacidade de fazer os outros caírem na risada em questão de segundos, mas, às vezes, Maddie se perguntava se ainda valia a pena manter toda aquela escuridão oculta dentro de si apenas para tentar fazer parecer com que sua vida era um pouquinho de nada mais feliz.

Não que não fosse feliz, supunha.

Era sempre assim: estava bem, sorrindo e fazendo os outros sorrir, de vez em quando trabalhando numa missão que lhe distraía de seus problemas e beijando pessoas em festas aleatórias que frequentava com Tonks; mas, no fim, sempre recaía. Deixava-se lembrar do que lhe atormentava desde que não passava de uma criança, quando fizeram aquilo com ela; poucos meses depois de descobrir que era uma bruxa e dias antes de ser adotada por Marlene e Dorcas; e por vezes seus pensamentos eram tão mortais e silenciosos que Maddie achava que poderia morrer sufocada dentro deles a qualquer momento.

Aquele orfanato fora sua sentença de inferno pessoal, e o que fizeram com ela transformou-se em seu leito de morte pincelado por rosas vermelhas e marfim, porque quando as pétalas apodreciam sob a luz forte do sol acabavam se condensando num mar de sangue e desespero e gritos sufocantes e experimentos que lhe traziam espasmos elétricos e corrosivos mentais.

E sempre que Maddie não queria lembrar, bebia até esquecer o próprio nome.

Ela não se deu ao trabalho de olhar para cima quando Sirius pousou a taça de vinho sobre a mesa.

— Sinto muito — sussurrou Sirius.

Maddie não respondeu, e tomou mais um gole demorado, fechando os olhos ao sentir a queimação do álcool na garganta.

— Você realmente não deveria afogar as mágoas bebendo essa porcaria. Vai acabar te matando.

— Talvez seja essa a intenção.

A mulher fez menção de tomar outro longo gole, mas Sirius interceptou a garrafa de suas mãos.

Maddie respirou fundo, olhou para ele e desviou o olhar. Sentiu vontade de manter seus olhos fora do alcance de quem quisesse vê-los brilhando para o nada, e sentiu-se estúpida por querer chorar; mas as lágrimas não vinham. Na verdade, não vinham há bastante tempo. Por mais que fizesse esforço, Maddie nunca conseguia lembrar de quando fora a última vez que seus olhos derramaram água. Talvez estivesse ficando desidratada.

— Está tudo bem se quiser chorar, V.

Nem mesmo com essas palavras o lado sensível de seu interior tentou se pronunciar.

— Eu não choro.

— Pois devia. Chorar é humano, não há nada de errado com isso. Em se abrir para as pessoas que sabe que pode confiar.

Maddie ergueu seus olhos frios feito pedra e gelo e o encarou. Uma parte de Sirius nunca iria admitir, mas o olhar da mulher carregava uma fúria contida que, se um dia fosse liberada, então o mundo que conhecemos deixaria de ser mundo num piscar de olhos e explosões e fogos de artifício em processo de queimação.

— Então acho que não sou humana de qualquer jeito.

Sirius engoliu em seco.

— Sinto muito, V.

— Apenas esqueça.

Ficaram lá em silêncio por algum tempo, no qual Maddie acabou pegando a taça de Sirius e tomando o último gole. O homem fez muito esforço para não reclamar. Mudou de assunto:

— Então, quem era o garoto do carro?

— Você realmente deveria tentar parar de interferir na minha vida amorosa — riu Maddie. Foi o primeiro sorriso que deu em algum tempo, mas ainda assim um brilho sinistro iluminou seu olhar.

— Não estou interferindo.

— Mhum.

Outra pausa, dessa vez um pouco mais curta.

— O que você...?

— Acredite, vai ser melhor para nós dois se você nunca descobrir — disse Maddie. Sirius fechou a cara, recusando-se a entender a indireta da mulher. — Sério, Sirius, você tem que passar a aceitar certas coisas da vida. Essa sua preocupação boba um dia vai acabar te matando.

— Mas eu sou imortal, entende.

— Claro — disse Maddie, e Sirius notou quando aquela escuridão em seus olhos escondeu-se novamente, talvez envolvendo-a por completo, trancando-a dentro de si.

Maddie virou as costas para a adega e apoiou os cotovelos na mesa de madeira gasta que havia ali. Olhou em volta. Sua casa era estranha, sim; e sua família era mais bizarra e sem nexo ainda; mas Maddie não achava que teria conseguido chegar até onde estava se não fosse por eles.

— Sabe — disse ela, virando a cabeça para o lado e encarando aquele que não era seu pai biológico, mas era como se fosse. — Não sei se você notou, mas eles estão apaixonados. Perdidamente apaixonados. Acho que, em todos esses anos, nunca vi duas pessoas se olharem do jeito que eles fazem.

— Quem?

— Harry e S/N.

O semblante de Sirius ficou subitamente alerta, tenso.

— Como você sabe? — perguntou ele. Por mais que quisesse a felicidade de sua filha e afilhado, Sirius não podia deixar de se preocupar. Ele amava Harry muito, até demais; mas S/N era sua filha, e Sirius não sabia se aguentaria ver sua garotinha de coração partido, caso acontecesse.

— Apenas sei — disse Maddie. Ela não era boba de dizer a Sirius que os dois estavam juntos, não mesmo. Queria apenas prepará-lo inconscientemente para o dia em que S/N se sentisse pronta para contar a verdade a ele, e esperava que Sirius não surtasse tanto quanto surtara com ela. — O jeito com o qual eles se olham... Nunca notou?

— Não — respondeu Sirius com sinceridade, mas agora ele não tinha tanta certeza assim. Talvez ele apenas estivesse cego.

— Bem, um dia eles vão acabar namorando, e...

— Nem me fale uma coisa dessas.

— ... e acho que você tem que estar pronto para quando esse dia chegar. Porque vai.

— Talvez eu descumpra meu papel como padrinho e faça alguma coisa com ele que me leve até Azkaban. É uma opção tentadora.

Maddie revirou os olhos e abraçou o homem de lado.

— Você não tem jeito — resmungou ela. — Vem, está quase na hora do jantar.

Saíram ao mesmo tempo da adega e juntaram-se à Marlene, Remus e Dorcas. S/N e Harry conversavam com os amigos quando aconteceu, e em nenhum momento falaram sobre a chegada eminente dos membros da família que faltavam. Era melhor assim, fingir que nada tinha acontecido.

Uma coisa, de fato, mudou: Sirius percebeu quando a filha trocou olhares e sorrisinhos bobos de vez em quando com Harry, e notou o modo como o afilhado ficava sem jeito quando ela o encarava de volta, talvez até intimidado. E, bem, Sirius sabia que Harry era um menino quieto e até mesmo tímido quando o assunto era garotas, mas também sabia que com S/N tudo sempre fora muito diferente. Que ela o fazia se soltar e ser uma pessoa melhor a cada dia. Que eles até formavam uma combinação interessante. Um belo casal.

Mas não que Sirius um dia fosse admitir.

NARRADORA OFF

— Ele não para de olhar para nós.

— Quem?

— Seu pai — disse Ron. — Acha que a bebida fez mal a ele? Não estou gostando nada de como está nos encarando.

— Deixe de besteira, Ronald, Sirius não está olhando para você — falou Hermione.

Virei a cabeça para meu pai, que agora conversava com Remus.

— Acho que você está vendo coisas, Ron.

— Quando você olhou ele desviou o olhar, né, S/N?! Ou você acha que ele ficaria te encarando nos olhos como se fosse um psicopata?

Fred deu batidinhas nas costas de Ron.

— Você precisa superar esse medo que tem do Sirius, irmãozinho. O cara é gente fina.

— Não tenho medo dele.

— Aham — cantarolou Ginny.

Hermione e eu rimos. Estiquei um pouco os braços, e estralei meus dedos também.

— Estou cansada — falei. — E com fome. Falta muito para meia-noite?

George checou o relógio.

— Falta — disse ele, simplesmente.

Fiz um gesto dramático e apoiei o queixo no ombro de Harry, abraçando-o por trás. Senti-o derreter sob minhas mãos.

— Sabe — disse Fred — , vidas solteiras também importam.

— Você não é solteiro, Fred.

— Não, mas tenho empatia pela sociedade e pelo cidadão, obrigado.

Harry e eu rimos. Aconcheguei-me mais a ele e dei um leve beijo em sua nuca. Suas pernas estremeceram quase imperceptivelmente sob meu toque, mas ninguém parece ter percebido exceto eu.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

À meia-noite, todos desejamos feliz ano novo! uns aos outros e fomos comer enquanto observávamos o brilhar dos fogos de artifício pela janela. Alfred estava de folga, então não pôde estar conosco naquele momento especial.

Não sei quanto tempo depois, Remus e minha mãe começaram a debater sobre uma conversa que Maddie ouvira na casa vizinha, antes de chegar; e, como os gêmeos e Ginny também pareciam distraídos durante uma partida épica de xadrez entre Ron e Hermione, Harry olhou para mim e indicou a varanda com a cabeça. Entendi antes que ele dissesse qualquer coisa.

As portas duplas feitas de vidro davam acesso à lateral do jardim, mas para chegarmos a ele tínhamos que passar pelos degrais de pedra da fachada. Harry sentou-se num deles comigo ao seu lado. Não no degrau de cima, ou no de baixo, mas no intermediário, nós dois na mesma patente. Como um igual, Maddie dissera. Harry queria alguém que reinasse ao seu lado, não um súdito que seguisse comandos e desejos intermináveis; como uma parte de mim antes insistia em dizer que Harry gostava de Cho Chang também. Hoje, meus olhos viam que era mentira.

De onde estávamos, não era possível que nos vissem; mas Harry manteve suas mãos em seu colo, respeitando meu espaço. Estava assim, meio hesitante, desde que me sentira em sua mente pela primeira vez.

— Está tudo bem? — perguntei cautelosamente.

Acima de nós, mais fogos de artifício estouraram no céu. Achei que não teriam mais fim.

— Está, só estou pensando.

Olhei bem para ele, mas Harry não queria me encarar de volta. Parte de mim sabia por quê.

Segurei-o pelos ombros delicadamente e baixei um pouco a cabeça para que nossos narizes ficassem nivelados no mesmo ponto. As esmeraldas brilhantes de tão verdes nos olhos de Harry me observaram com atenção.

— Você sabe que pode me contar tudo — não era uma pergunta, mas uma confirmação do que já era verdade. — No que está pensando, Harry?

O menino suspirou.

— Você sabe no que estou pensando — senti-o vasculhar minha mente. Eu não sabia como, nem por quê, mas gostava quando Harry olhava através de mim. Era como ter os músculos do cérebro relaxados também. — Voldemort. Se eu e ele temos uma espécie de ligação, e você e eu conseguimos falar e pensar dentro das mentes um do outro, quanto tempo acha que levaria para ele descobrir?

— Harry.

— Não quero que ele tire vantagens de você.

Minhas mãos apalparam seu rosto, e Harry ergueu um pouco a cabeça. A luz da lua iluminava sua face por completo, agora, fazendo com que pequenas sombras dançassem sobre ela quase que conforme a melodia entoada pelas caixas de som distantes ao longo da rua.

— Ninguém vai tirar vantagens de mim — falei. — Não vou deixar. Minha mente é de ferro, ouviu? Ninguém mais além de você tem permissão para entrar dentro dela e fazer de mim o que bem quiser. Estou segura, Harry. Segura com você em minha cabeça, e não importa o que diabos essa ligação seja, vamos passar por ela juntos.

— Mas se Voldemort quiser acessar sua mente através da minha como forma de transformá-la numa arma...

— Então vou mostrar a ele que não sou arma de ninguém.

Os olhos de Harry brilharam um pouco, de alguma forma.

— Tudo bem — ele sentiu minha respiração contra a sua. — Tudo bem, mas não me chame de Harry.

Ergui as sobrancelhas.

— Sei que gosta quando te chamo pelo apelido, mas por que isso agora? Harry é seu nome, meu amor. É um nome lindo demais.

Harry mordeu o lábio inferior para conter um meio sorriso envergonhado. Lindo.

— A maioria das pessoas me conhece como Harry Potter, O-Menino-Que-Sobreviveu, e nada mais — disse ele. — Não quero ser só isso, mesmo que às vezes sinta que é verdade. Mas quando você fala comigo usando aquelas palavras que só você pode usar, tudo fica bonito, certo. E sinto que sou importante de verdade, e não mais uma arma popular que as pessoas acham que vai ser usada contra Voldemort.

Meu coração bateu errado, em descompasso. Se Harry achava que era insignificante, mesmo com aquele coração de ouro que às vezes parecia que ninguém acreditava existir, no que eu me tornara?

Segurei seu rosto com mais firmeza, nunca deixando de lado a suavidade que unia nossos corpos. Às vezes, eu achava que, juntos, éramos imortais. O fogo que nossos corações espectrais produziam me fazia sentir tanto calor que o ar deixava de ser suficiente, e eu me esquecia de como respirar. Mas era bom, embora uma parte de mim soubesse que a brasa e o carvão ainda seriam nosso fim; era como se cantássemos e pintássemos e dançássemos dentro da mesma tela de algodão e marfim, sobre as mesmas milhões de cores de tinta que despontavam dos pincéis espalhados em nosso caminho e coloriam nossas mentes com devoção, os lápis e borrachas que formaram nossa história tingidos de violeta e embrulhados em cetim.

— Você é importante, tudo bem? Escute quando digo que sim — disse eu firmemente. — Mesmo sem todos aqueles títulos e responsabilidades e fatos pertencentes ao seu passado, você continua sendo suficiente. Pelo menos para mim, se isso significa alguma coisa — um sorriso contido se formou em meus lábios. — Para eles, você pode ser apenas O-Menino-Que-Sobreviveu; mas para mim é Harry. Meu Harry. E não me importa o quanto digam que sou idiota por pensar assim, ou pelo quanto eu ainda tenha que passar para que nossos caminhos continuem juntos e entrelaçados; se você pular de um precipício, Harry, então eu vou simplesmente te abraçar com força e pular também. Porque você é meu, e vou te proteger do mundo para sempre, sempre e sempre, até que chegue nosso fim.

Harry piscou.

— Seu?

Sorri.

— Meu — beijei seus lábios com suavidade, e pude jurar que senti seu coração bater um pouco mais forte. — Só meu.

Harry colocou as mãos sobre as minhas e me beijou de volta como se eu fosse uma âncora, e sua vida dependesse disso.

— Por quanto tempo acha que consegue fazer isso? — me referi aos pensamentos quando nos separamos minimamente. Queria saber se tínhamos um limite, ou se aquele laço era permanente e inevitável conforme a passagem do tempo.

— Não sei. Tenho tentado durante algumas horas, mas não acho que consigo controlar. Depende de quando você está me sentindo também.

— Eu sinto você o tempo todo.

— Bom — ele sorriu, e me beijou de novo. — Então vamos praticar.

Mais trilhões de fogos de artifício explodiram, e acho que alguma coisa dentro de mim também.

——————————————

notas da autora:

oioi gente, tudo bem?

mil perdões pela demora pra postar, mas com a volta às aulas mal tive tempo de conciliar a escrita com os estudos e a leitura... passei a maior parte da semana passada e dessa lendo compulsivamente, terminei corte de gelo e estrelas e agora estou lendo corte de chamas prateadas 😁 nunca li nada tão bom, sério-

vou tentar resumir a parte chata do quinto ano, que fala da umbridge e dos n.o.m.s e tal, porque preciso começar o sexto ano logo 🙏🙏 tô muito ansiosa para o que eu planejei !!

me indiquem livros, vou voltar a ser a leitora que era antes 😌 depois que eu terminar acotar, acho que vou ler alguns livros únicos, tipo "teto para dois" e etc, e a próxima série que vou começar vai ser estilhaça-me, eu acho, é um enemies to lovers:)

me mandem o instagram de vocês pra eu seguir!! eu colocaria o meu aqui, mas morro de medo de alguém que eu conheço descobrir que eu escrevo fanfic e sair espalhando a notícia, mas o meu user tem um "bela" no começo. podem me chamar na dm do wattpad pra isso, se quiserem.

fora a depressão diária porque o harry não existe, e o fato de que comecei a fantasiar sobre a casa e a filha que teríamos juntos, fiquei feliz porque tô começando a melhorar no vôlei dnv, eu tava tão ruim que nem o saque passava 🧐

acho que tô usando emoji demais né? cruz credo.

ah, tenho uma fofoca, meu professor foi pedido em casamento em istambul e até agora tô tentando descobrir quem é o noivo, mas ele é super na dele e nunca posta foto diretamente, e quando deu aula na quinta-feira estava sem aliança, acho que pra preservar a privacidade dele... eu super entendo, mas a parte curiosa de mim tá gritando em protesto ☠️☠️

amanhã tenho prova de redação, então não estou tão preocupada, mas alguém tinha que enfiar vergonha na minha cara sério, preciso estudar e fico lendo o dia todo 😁🙏 o pior é que provavelmente vou fazer a mesma coisa amanhã, mas tudo bem.

dia 4 de fevereiro é o grammys, e eu estava pensando em comentar sobre os prêmios e as roupas que os famosos vão usar nas notas do próximo capítulo, o que vocês acham? tô esperando por esse momento desde depois do met gala, que por sinal normalmente acontece em maio, mas como ano passado foi diferente não sei como vai ser esse ano. tô torcendo pra billie ganhar um troféu em happier than ever como melhor música do ano!!

acho que é isso, não tenho muita coisa pra falar, a não ser que eu comece a surtar com alguém sobre acotar e essa pessoa esteja disposta a me ouvir 💐 beeeeijo.

amo vocês, não esqueçam de votar e comentar 😁‼️

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